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1. Introdução
Assim, nos termos do nº3 do artigo 493º-A, “no caso de lesão de animal de companhia de
que tenha provindo a morte, a privação de importante órgão ou membro ou a afetação
grave e permanente da sua capacidade de locomoção, o seu proprietário tem direito, nos
termos do nº 1 do artigo 496º, a indemnização adequada pelo desgosto ou sofrimento
moral em que tenha incorrido, em montante a ser fixado equitativamente pelo tribunal”.
Não se pense, contudo, que o novo preceito elimina as dificuldades a este nível, nem
sequer que silencia as vozes discordantes que, nesta matéria, se vinham pronunciando.
Por outro lado, dispõe-se, no artigo 493º-A, no seu nº1, que, “no caso de lesão de animal,
é o responsável obrigado a indemnizar o seu proprietário ou os indivíduos ou entidades
que tenham procedido ao seu socorro pelas despesas em que tenham incorrido para o seu
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O texto que agora se publica serviu de base à alocução proferida no I Curso de Pós-Graduação em Direito
da Responsabilidade Civil, organizado pelo Centro de Investigação em Direito Privado da Faculdade de
Direito da Universidade de Lisboa, sendo disponibilizado para apoio do estudo dos auditores do referido
curso. A nossa análise circunscrever-se-á à responsabilidade aquiliana.
2
Univ Coimbra, Instituto Jurídico da Faculdade de Direito de Coimbra, FDUC. Professora Associada.
Orcid: 0000-0003-0578-4249.
Significa isto que a norma oferece não só um critério de ajuizamento no que respeita aos
danos não patrimoniais, como também no que concerne aos danos patrimoniais, ou a
alguns deles, estabelecendo um paralelo com o disposto no artigo 495º CC, a propósito
da morte ou lesão grave de uma pessoa, numa solução que suscita muitas dúvidas (ou
mesmo críticas) quer do ponto de vista axiológico, quer do ponto de vista dogmático. Por
outro lado, o artigo em questão, no seu nº2, ao determinar que a indemnização é devida
mesmo que as despesas superem o valor monetário do animal, permite-nos fazer a ponte
para aspetos especificamente indemnizatórios, que se afastam da fundamentação da
responsabilidade.
O artigo 493º-A CC, não sendo imune a críticas, consagra uma disciplina especial em
matéria de danos causados a animais, não podendo, por isso, ser ignorado. Não obstante,
tem de ser articulado com o regime geral da responsabilidade civil: tal revela-se
imprescindível para se conformarem adequadamente as soluções a que aludimos, ao
mesmo tempo que nos permite compreender cabalmente o alcance das referidas críticas
que não podemos deixar de dirigir à norma em apreço.
Acompanhando a natureza dos danos que podem emergir diante de qualquer lesão de um
direito absoluto ou de um interesse legalmente protegido, enquanto projeções negativas
dessa mesma lesão na esfera jurídica concreta de um sujeito, orientaremos a nossa
exposição pela problemática dos danos patrimoniais e pela problemática dos danos não
patrimoniais.
2. Os danos patrimoniais
2.1. Os danos abrangidos e o problema da titularidade do direito à
indemnização
3
Cf. CARNELUTTI, Il danno e il reato, Padova, Cedam, 1929, 256 s., afirmando que o dano não atinge o
bem em si, mas a conexão da pessoa com o bem, ou seja, a relação existente entre um sujeito que tem uma
necessidade e o bem apto a satisfazê-la.
A partir dele conseguimos, de facto, saber em que medida é que o que a pessoa perdeu ou
aquilo que deixou de ganhar se inscreve ou não na esfera do direito cuja lesão já tinha
sido imputada a um determinado sujeito. Note-se que a perda de utilidades do bem se
poderá traduzir tanto no prejuízo diretamente sofrido pelo lesado (desvalorização do bem,
despesas que teve de efetuar para repor a utilidade do bem, ou reparando-o ou
encontrando uma alternativa que, momentaneamente ou não, satisfaça a mesma
utilidade4), como naquilo que deixou de ganhar, rememorando-se, portanto, a distinção
entre os danos emergentes e os lucros cessantes. Qualquer um deles pode ser
indemnizado, não se vislumbrando qualquer especificidade quando em causa esteja a
lesão de um animal.
Repare-se que, sendo o dano determinado em concreto e estando em causa quer animais
de companhia, quer animais utilizados como auxiliares do trabalho ou destinados à
exploração económica5, a constatação de qualquer uma das categorias de danos será
sempre variável em função das idiossincrasias do caso concreto6.
Dispõe, como referido, o preceito que, “no caso de lesão de animal, é o responsável
obrigado a indemnizar o seu proprietário ou os indivíduos ou entidades que tenham
procedido ao seu socorro pelas despesas em que tenham incorrido para o seu tratamento,
sem prejuízo de indemnização devida nos termos gerais”.
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Problema interessante pode ser equacionado em relação ao que se designa por despesas preventivas. Sobre
o ponto, cf. Mafalda Miranda BARBOSA, “Despesas preventivas”, Revista de Direito Comercial – Liber
Amicorum Pedro Pais de Vasconcelos, 2020, 639-684, e demais bibliografia aí citada.
5
Só o nº3 do artigo 493º-A/3 CC restringe o seu âmbito de aplicação aos animais de companhia.
6
Não era assim no quadro do direito romano. Na verdade, na Lex Aquilia estabelecia-se de modo invariável
o quantum indemnizatório: I – Quando alguém, com injúria, matar um escravo ou animal doméstico
quadrúpede, deve pagar ao dono o valor máximo que eles atingiram, esse ano, no mercado; II – O adstipular
que, enganando o stipulador, aceitasse o dinheiro deste deveria pagar-lhe outro tanto; III – Se alguém, com
injúria, provocar a um escravo, a uma escrava ou a um quadrúpede alheios outro dano, que não o da morte,
deve pagar, ao dono, o preço que a coisa em questão atingiria, nos trinta dias subsequentes.
Para tanto haveremos de ter em conta que o ilícito se desvela pelo resultado e que, por
isso mesmo, deverá ser ligado a um comportamento humano. Assim sendo, há que
distinguir, em termos indemnizatórios, a chamada causalidade fundamentadora da
responsabilidade da causalidade preenchedora da responsabilidade. A primeira liga a ação
à lesão do direito absoluto; a segunda liga a lesão do direito absoluto aos danos
subsequentes. Se nenhuma dúvida existe quanto à conexão entre a ação e o resultado 7,
7
Podem, em concreto, porém, colocar-se interessantes problemas imputacionais, que se reconduzem àquilo
que vai conhecido pela causalidade psicológica. Pense-se na hipótese de A, com o seu comportamento, ter
perturbado de tal modo B que o leva a cometer suicídio. Pode o resultado lesivo ser imputado a A?
Como sublinhámos anteriormente, para o cálculo da indemnização, deve ser feita uma
comparação entre o que o direito subjetivo absoluto possibilitaria e o que, de facto, ele
possibilita, uma vez lesado, levando-se a cabo um duplo juízo. Primeiro, há que saber se
a utilidade que o lesado invoca se integra ou não dentro das potencialidades inerentes ao
conteúdo do direito preterido; em segundo lugar, há que estabelecer uma subtração entre
o que o lesado teria, dispondo de tal utilidade, e o que tem agora. Para estabelecer a
subtração comparativa a que se alude, não temos de pensar numa qualquer situação,
dependente do curso virtual dos acontecimentos, mas antes olhar para o que em concreto
o direito potenciaria ao seu titular (fruto da recondução do seu interesse específico ao
núcleo de faculdades que compõem o seu conteúdo) e o que ele potencia. Isto quer dizer
que o titular do direito à vida que o vê ameaçado tem direito a ser indemnizado por todas
as despesas que leve a cabo para evitar ou tentar evitar essa lesão. Havendo um dever de
auxílio por parte de terceiros quando esteja em causa a potencial violação do direito à
vida ou à integridade física, não se estranha que aquela indemnização inclua também as
despesas suportadas por esses terceiros. No fundo, o direito à vida inclui também o direito
a uma conduta positiva por parte de terceiros e é isso que justifica o alargamento da tutela
aos interesses patrimoniais destes (que assim se substituem ao próprio titular).
Ora, este raciocínio não é transponível para a interpretação do aditado artigo 493º-A/1
CC. Não existindo um dever de agir por parte do terceiro relativamente ao objeto da
propriedade alheia (ainda que desclassificada como coisa), não é possível falar-se de uma
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No texto, tentamos justificar a solução (embora excecional) à luz do funcionamento da causalidade
preenchedora da responsabilidade. Importa, contudo, não esquecer que o artigo 495º CC pode encerrar
também problemas atinentes à causalidade fundamentadora da responsabilidade. Basta para tanto que o
terceiro que socorre o primeiro lesado sofra também ele uma lesão num direito absoluto.
Veja-se, ainda, a questão da integração no artigo 495º CC do ressarcimento pelos lucros cessantes. Sobre o
ponto, cf., com particular interesse, Carneiro da FRADA, “Danos económicos puros”, Forjar o Direito,
Almedina, Coimbra, 2015, 173, debatendo o problema de saber se se pode obter uma indemnização a
mulher que, em virtude do acidente que o marido sofreu, teve de fechar o estabelecimento comercial que
explora para dele cuidar e admitindo essa ressarcibilidade, na esteira da jurisprudência, alicerçando o seu
entendimento no dever legal de socorro e auxílio que existe entre os cônjuges. No fundo, a atuação da
mulher vem substituir um socorro que seria realizado por um terceiro e cujos custos poderiam sempre ser
imputados ao lesante. . Isto mostra que, como referido supra, o problema pode ser compreendido noutra
perspetiva, no seio da qual se pode tornar clara a questão dos danos puramente patrimoniais.
9
Sobre o ponto, cf. David MAGALHÃES, “A primazia da reconstituição natural sobre a indemnização por
equivalente: contributos jurídico-históricos para a análise do direito português”, Responsabilidade civil:
cinquenta anos em Portugal, 15 anos no Brasil, II, Instituto Jurídico, Universidade de Coimbra, Coimbra,
2018, 105 s.
10
David MAGALHÃES, “A primazia da reconstituição natural sobre a indemnização por equivalente:
contributos jurídico-históricos para a análise do direito português”, 108 s.
11
David MAGALHÃES, “A primazia da reconstituição natural sobre a indemnização por equivalente:
contributos jurídico-históricos para a análise do direito português”, 110.
12
Sobre o ponto, cf. Menezes CORDEIRO, Tratado de direito civil, VII, Almedina, Coimbra, 2020, 724.
Veja-se, igualmente, Maria da Graça TRIGO, Responsabilidade civil – temas especiais, UCE, 2015, 42-3,
enunciando – a propósito da danificação de um veículo automóvel – diferentes formas de indemnização: a)
condenação a remover pessoalmente o dano causado ao veículo; b) condenação a pagar a um terceiro, que
não o lesado, as despesas de reparação; c) condenação a entregar ao lesado uma quantia pecuniária para
que este suporte os custos da reparação já efetuada; d) condenação a entregar ao lesado uma quantia
pecuniária para que este suporte os custos da reparação, a efetuar no futuro; e) condenação a entregar ao
lesado um veículo equivalente; d) condenação a entregar ao lesado uma quantia pecuniária para que este
adquira um veículo equivalente. Segundo a autora, as três primeiras hipóteses corresponderiam a formas de
reparação natural.
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Cf. Menezes CORDEIRO, Tratado de direito civil, VII, 725.
14
Menezes CORDEIRO, Tratado de direito civil, VII, 725, sublinha que nestas hipóteses nada impede que
haja lugar a uma indemnização específica e que, nos danos remanescentes, haja uma “entrega pecuniária
compensatória”. Esta parece, aliás, ser a solução que melhor se coaduna com a intencionalidade normativa
da norma, que dá prevalência à reconstituição in natura.
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Sobre o ponto, cf., inter alia, Júlio GOMES, “Custo das reparações, valor venal ou valor de substituição.
Anotação ao acórdão STJ 27/2/2003”, Cadernos de Direito Privado, nº3, 2003, 55 s.; Maria da Graça
TRIGO, Responsabilidade civil, 42 s.
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Dando conta disto mesmo e das dificuldades que a partir daí surgiam, cf., numa importante análise da
evolução jurisprudencial na matéria, Maria da Graça TRIGO, Responsabilidade civil, 45 s.
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Evidenciando isto mesmo e considerando que em causa podia estar uma verdadeira forma de
expropriação privada, cf. Maria da Graça TRIGO, Responsabilidade civil, 48. Falando também de uma ideia
de expropriação, cf. JÚLIO Gomes, “Custo das reparações, valor venal”, 58.
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Cf. Maria da Graça TRIGO, Responsabilidade civil, 49 s., considerando que se devem convocar diversos
fatores como o estado de conservação, eventuais beneficiações, custos próprios de procura e aquisição de
um veículo de substituição, custos adicionais se a substituição tiver sido feita com urgência, desvantagens
que resultam de não ser possível encontrar um veículo idêntico (por exemplo, o consumo superior de
combustível).
Particularmente importante a este ensejo é o DL nº291/2007, que estabelece qual o valor venal e os critérios
de determinação da perda total do veículo. Sobre a questão de saber se as regras do diploma vinculam ou
não a jurisprudência, cf. Maria da Graça TRIGO, Responsabilidade civil, 49 s.
19
David MAGALHÃES, “A primazia da reconstituição natural sobre a indemnização por equivalente:
contributos jurídico-históricos para a análise do direito português”, 110
20
David MAGALHÃES, “A primazia da reconstituição natural sobre a indemnização por equivalente:
contributos jurídico-históricos para a análise do direito português”, 110.
21
Cf., a este propósito, Cunha GONÇALVES, Tratado de Direito Civil em Comentário ao Código Civil
Português, vol. XII, cit., 422 s. (diz-nos Cunha Gonçalves, a propósito da discussão que teria lugar em
França, que “a indemnização do dano moral será o meio de provocar, a cada passo, um chuveiro de ações,
porque é impossível limitar a esfera dos sofrimentos causados por uma morte; além dos descendentes e
ascendentes, podem alegar a sua dor o cônjuge ou o noivo, os colaterais, os afins, os afilhados, os
note on Hoge Raad, Judgmente of 22 February 2002 – On compensation for psychiatric injury and
emotional distress suffered by close relatives”, European Review of Private Law, 3/2003, 433-441; Gaëlle
MEILHAC-REDON, “French Case note on Hoge Raad, Judgmente of 22 February 2002 – On compensation
for psychiatric injury and emotional distress suffered by close relatives”, European Review of Private Law,
3/2003, 441-448; Katarzyna MICHALOWSKA, “Polish Case note on Hoge Raad, Judgmente of 22 February
2002 – On compensation for psychiatric injury and emotional distress suffered by close relatives”,
European Review of Private Law, 3/2003, 472-476; Barbara PASA, “Italian Case note on Hoge Raad,
Judgmente of 22 February 2002 – On compensation for psychiatric injury and emotional distress suffered
by close relatives”, European Review of Private Law, 3/2003, 448-460; Arianna PRETTO, “English Case
note on Hoge Raad, Judgmente of 22 February 2002 – On compensation for psychiatric injury and
emotional distress suffered by close relatives”, European Review of Private Law, 3/2003, 425-432; Horst
ZINNEN, “Belgian Case note on Hoge Raad, Judgmente of 22 February 2002 – On compensation for
psychiatric injury and emotional distress suffered by close relatives”, European Review of Private Law,
3/2003, 412-424.
Veja-se, igualmente, BRÜGGEMEIER, Haftungsrecht, Struktur, Prinzipen, Schutzbereich zur Europäisierung
des Privatrechts, Springer, Berlin, Heidelberg, New York, 2006, 76 s.; DEUTSCH, Allgemeines
Haftungsrecht, 2. völlig neugestaltete end erw. Aufl., Carl Heymanns Köln, Berlin, Bonn, München, 1996,
384 s.; Michael JONES, “Liability for Psychiatric Ilness – more principle, less subtlety?”, 4 Web Journal of
Current Legal Issues, 1995, 4 (www.webjcli.ncl.ac.uk/article4/jones4.html); Ramanan RAJENDRAN, “Told
nervous shock: has the pendulum swung in favour of recovery by television viewers?”, Deakin Law Review,
31, 2004 (www.ausflit.edu.au/journals/DeakinLRev/2004/31.html); Paolo FORCHIELLI, Il rapporto di
causalità nell’illecito civile, CEDAM, Padova, 1960, 128 s., n. 2
Para uma análise da jurisprudência estrangeira sobre a matéria, vide, inter alia, os precedentes Victorian
Railways Commissioners v. Coultas (1888); Alcock v. Chief Constable of South Yorkshire Police (1992);
Page v. Smith (1996) [cf. www.publications.parliament.uk/palld199899/djudgmt/jd981203/white01.htm
No tocante ao ordenamento jurídico italiano, vigora o artigo 2059º CC, nos termos do qual só há
ressarcimento dos danos não patrimoniais nas hipóteses previstas na lei, designadamente – e por força da
previsão do Código Penal – quando o ilícito envolva o cometimento de um crime. A restrição legal acaba
por ser contornada pelo labor da jurisprudência e da doutrina que, autonomizando algumas categorias de
danos e considerando que as mesmas não configuram danos morais, embora sejam danos extrapatrimoniais,
permite que elas escapem à limitação do artigo 2059º CC. Em causa estariam os danos que implicassem a
lesão de bens jurídicos protegidos ao nível da constituição, que seriam assim acolhidos pelo artigo 2043º
CC, como danos injustos. Assim, por exemplo, o dano biológico, o dano existencial e, para o que nos
interessa nesta reflexão, o dano de afeição. Cf., a este propósito, P. ZIVIZ, “Bene affetivamente relevante e
risarcimento del dano”, Responsabilità civile e previdenza, LXVI, nº3, 2001, 672 s.
26
Antunes Varela e Almeida Costa entendem que estão em causa dois requisitos: gravidade, merecimento
da tutela do direito; Maria Manuel Veloso elege como requisito único a gravidade – cf. Antunes VARELA,
Das obrigações em geral, I, Almedina, Coimbra, 2003, 606; Maria Manuel VELOSO, “Danos não
patrimoniais”, 501; Almeida COSTA, Direito das Obrigações, 12ª edição, Almedina, Coimbra, 2009, 602
s.,
27
Antunes VARELA, Das obrigações em geral, 606; Maria Manuel VELOSO, “Danos não patrimoniais”, 505
s. (considerando que os tribunais têm em conta fatores subjetivos como a doença, a idade, a debilidade,
etc.).
28
Não existe, portanto, uma perfeita continuidade entre a natureza do direito violado e a natureza dos danos
que emergem. O caráter patrimonial ou não patrimonial se afere em relação ao dano propriamente dito e
não em relação à natureza do direito ou interesse lesado. Quer isto dizer que o direito lesado pode ser de
natureza patrimonial e o dano que resulta ser não patrimonial; sendo o inverso igualmente verdadeiro. A
lesão da integridade física pode gerar um dano de tipo patrimonial, a par de danos não patrimoniais; a lesão
do direito de propriedade pode dar ocasião a um dano não patrimonial (em virtude da ligação afetiva que o
proprietário tinha com a coisa, por exemplo). O dado pode explicar-se por o direito ou interesse legalmente
protegido integrarem no seu âmbito interesses/situações vantajosas de tipo patrimonial, moral e espiritual.
Sobre o ponto, cf. Menezes CORDEIRO, Tratado II/III, 513; Antunes VARELA, Das obrigações, 603; Pinto
MONTEIRO, “Sobre a reparação dos danos morais”, 17 s.; Menezes LEITÃO, “A reparação de danos
emergentes de acidentes de trabalho”, Temas Laborais, Estudos e pareceres, Almedina, Coimbra, 2006,
32.
A este propósito convém, no entanto, tecer alguns esclarecimentos adicionais.
Em primeiro lugar, a posição que apresentamos em texto parece não ser unânime. Ainda que os autores
aceitem que a partir da lesão de direitos de natureza pessoal podem surgir danos patrimoniais, parecem ligar
insofismavelmente a existência de danos não patrimoniais à preterição de posições subjetivas de natureza
pessoal. Sobre o ponto, cf. Antunes VARELA, Das obrigações, I, 601 s.; Maria Manuel VELOSO, “Danos
não patrimoniais”, 499; Almeida COSTA, Direito das Obrigações, 602 s. Por outro lado, partindo da
diferenciação entre os danos não patrimoniais e os danos morais, patenteiam-se dúvidas na doutrina acerca
da possibilidade de se indemnizarem os segundos por referência às lesões de direitos patrimoniais. Em
causa estaria o chamado dano de afeição, de que trataremos em texto.
In fine, sublinhe-se que a possibilidade de o dano não patrimonial resultar da lesão de um direito avaliável
em dinheiro resulta do facto de este poder integrar no seu conteúdo interesses de natureza pessoal e a
possibilidade de o dano patrimonial resultar da lesão de um direito de natureza pessoal resulta do facto de
este poder ter um conteúdo de destinação suscetível de aproveitamento económico.
29
Sobre o ponto, cf. Sandra PASSINHAS, Propriedade e personalidade no direito civil português, Coimbra,
2016
30
Cf. Pinto MONTEIRO, “Sobre a reparação dos danos morais”, 17 s.; Maria Manuel VELOSO, “Danos não
patrimoniais”, 498; Almeida COSTA, Direito das Obrigações, 601, n.1
31
Livro III, título 86, § 16
32
Cf. Filipe Albuquerque MATOS, “A compensação do dano não patrimonial do proprietário por morte de
animal de estimação, anotação ao Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 19 de fevereiro de 2015”,
Revista de Legislação e de Jurisprudência, 144.º, n.º 3993, 493 s. Do autor, veja-se, igualmente,
Responsabilidade Civil por Ofensa ao Crédito ou ao Bom Nome, Almedina, Coimbra, 2011, 569 s.
Em sentido, igualmente, crítico, por referência ao ordenamento jurídico francês, cf. TUNC, “Obligations et
contrats spéciaux – Obligations em général et responsabilité civile”, Revue Trimestrielle de Droit Civil, 61,
1962, 317 s.
33
Para outras considerações acerca da responsabilidade civil por lesão de um animal, cf. Filipe Albuquerque
MATOS/Mafalda Miranda BARBOSA, O novo estatuto jurídico dos animais, Gestlegal, 2018, 119 s. (de notar
que, na obra em questão, se sublinham as divergências dos autores no que respeita ao dano de afeição).
Sobre o dano de afeição no direito português mais antigo, cf., numa perspetiva crítica da categoria (admitida
ao nível das ordenações filipinas), Cunha GONÇALVES, Tratado de Direito Civil em comentário ao Código
Civil Português, XIII, Coimbra Editora, Coimbra, 1939, 530 s.
34
Cf. Recueil Dalloz, 1962, 199 s. Cf., igualmente, Recueil Dalloz, 1963, 92 s. (caso de um cão que foi
morto na sequência de um ataque de um pastor alemão, cada um pertencendo a uma pessoa diferente).
35
Cf. Vera CAMILO, Dano de apego relativo a animais, Coimbra, 2015, 54 s.
36
Cf. Cass. Sez. Un. 11 nov. 2008
37
Cf. Vera CAMILO, Dano de apego relativo a animais, 76.
38
Para uma listagem da jurisprudência relevante nesta matéria, cf. Carlos MARINHO, Os animais e a
jurisprudência dos tribunais – palestra proferida na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra em
19 de abril de 2018 (http://www.trl.mj.pt/PDF/animais_jurisprudencia-carlos_marinho.pdf)
39
Proc. nº 1813/12.6TBPNF.P1, relator Aristides Rodrigues de Almeida. Cf. a este propósito, Carlos
MARINHO, Os animais e a jurisprudência dos tribunais, 2.
40
Proc. nº3091/15.6T8GDM.P1, relator Manuel Domingos Fernandes
41
Proc. nº1775/04.3.TBPBL.C1
42
Proc. nº05B1629, relator Lucas Coelho. Cf. Carlos MARINHO, Os animais e a jurisprudência dos
tribunais, 5.
43
Proc. nº23105/19.0T8LSB.L1-2, relatora Laurinda Gemas
Outro problema suscitado pela remissão do artigo 493ºA/3 para o artigo 496º CC prende-
se com a questão de saber se a indemnização pode ser atribuída a um terceiro que, não
sendo proprietário do animal, estabeleceu com ele uma importante relação afetiva.
A dúvida levanta-se pelo facto de, no caso de morte da pessoa, o artigo 496º/2 e 3 CC
admitir a possibilidade da compensação dos danos não patrimoniais sofridos pelos
familiares sobrevivos46.
44
Sobre a questão e as diversas perspetivas de compreensão dessa função punitiva, cf. Mafalda Miranda
BARBOSA, “Reflexões em torno da responsabilidade civil: teleologia e teleonomologia em debate”, Boletim
da Faculdade de Direito, 81, 2005, 511 s.
45
Sobre o ponto, cf. Filipe Albuquerque MATOS/Mafalda Miranda BARBOSA, O novo estatuto jurídico dos
animais, Gestlegal, 2018, 161 s. Sublinhem-se, contudo, as nossas divergências de pensamento
relativamente ao nosso coautor no tocante ao específico problema da compensação dos danos não
patrimoniais e ao problema da compensação do dano de afeição.
46
A remissão para o citado preceito suscita ainda outros temores a Filipe Albuquerque Matos. O autor
considera que o artigo 496º CC não viabiliza, por não se poder abrir a porta à indemnização de danos
reflexos, a compensação dos danos experimentados por um terceiro, na sequência de uma grave ofensa à
integridade física de um sujeito, pelo que, com a solução propugnada pelo novo artigo 493º-A CC, pode-se
temer que este preceito venha reforçar as razões justificativas da admissibilidade de compensação por danos
não patrimoniais nos termos do artigo 496º, nº4, na sequência de um facto lesivo que provoque a tal
incapacidade corporal grave do animal. Cf. Filipe Albuquerque MATOS/Mafalda Miranda BARBOSA, O
novo estatuto jurídico dos animais, 165. Como nessa mesma obra tivemos oportunidade de sublinhar, em
dissenso com o autor, não cremos que este posicionamento seja aceitável, desde logo porque nenhuma
objeção encontramos para que, por via do artigo 496º CC não possam ser indemnizados os danos sofridos
pelos familiares ali elencados, pela ordem nele estabelecido, em caso de lesão grave da integridade física
da pessoa. Em primeiro lugar, há boas razões para ver nestes danos não patrimoniais danos diretos e não
reflexos; em segundo lugar, a analogia que preside a qualquer ato de realização do direito justifica-o; em
Nos trabalhos preparatórios do Código Civil, Vaz Serra considerava que, “no caso de
morte de uma pessoa, pode ser concedida aos parentes, afins ou cônjuge dessa pessoa
satisfação pelo dano não patrimonial que a morte dela lhes causou, desde que quanto
àqueles, pela proximidade do parentesco ou afinidade, seja de presumir que tivessem pelo
falecido uma afeição que justifique a mesma satisfação. Esta é de excluir se se mostrar
que os referidos cônjuges, parentes ou afins não tinham a dita afeição”. Como alternativa,
era pensável que, “no caso de morte de uma pessoa, podem as pessoas da família dela
exigir a satisfação do dano não patrimonial a elas causado. Essas pessoas são, em
conjunto, o cônjuge e os descendentes, observando-se, quanto a estes, a precedência da
lei sucessória (…). O direito de satisfação destas pessoas supõe a existência de laços
afetivos que o justifiquem, e as regras da precedência podem ser alteradas quando as
circunstâncias do cado o impuserem”47. Designadamente, pode reconhecer-se o direito à
satisfação a outros parentes, a afins ou a estranhos, desde que essas pessoas estivessem
ligadas à vítima de modo a constituírem uma família com ela48. No seu articulado – artigo
759º/4 – o insigne civilista dispunha que “o direito de satisfação por danos não
patrimoniais causados à vítima transmite-se aos herdeiros desta, mesmo que o facto lesivo
tenha causado a sua morte e esta tenha sido instantânea”. O nº2 do artigo 476º da 1ª
revisão ministerial consagraria a mesma solução: “o direito de satisfação por danos não
patrimoniais causados à vítima transmite-se aos herdeiros desta, ainda que o facto lesivo
tenha causado a sua morte imediata”. Com a 2ª revisão ministerial, o nº2 do artigo 498º
consagra que, por morte da vítima, o direito à indemnização por danos não patrimoniais
cabe aos familiares49. Note-se que, como referido anteriormente, Antunes Varela parte da
patrimoniais, quando o facto lesivo tivesse causado a morte imediata da vítima”. Por outro lado, “enquanto
o nº3 do artigo 476º da 1ª revisão ministerial do projeto (…) se limitava a conceder aos familiares da vítima
a indemnização dos danos morais que elas próprias houvessem sofrido com a perda da vida do seu cônjuge
ou parente, o nº2 do artigo 498º saído da 2ª revisão ministerial passou a dizer (…) que (…) o direito à
indemnização por danos não patrimoniais cabe aos ditos familiares, sem distinguir, nessa atribuição, entre
os danos morais sofridos pela própria vítima e os causados aos seus parentes ou ao seu cônjuge”.
50
Menezes CORDEIRO, Tratado de direito civil, VII, 518.
51
Menezes CORDEIRO, Tratado de direito civil, VII, 519.
52
No mesmo sentido, cf. Menezes CORDEIRO, Tratado de direito civil, VII, 519: “uma criança é abandonada
pelos pais, sendo recolhida e criada pelos avós; pessoas imputáveis matam-na; o desgosto é, todo, dos avós;
vai-se atribuir uma indemnização aos pais? Porque não aos avós, se é esse (e é!) o espírito da lei?”
Note-se que os autores apontam para o preceito uma intencionalidade restritiva. Para além das referências
bibliográficas já inseridas supra, cf., a este propósito, Ac. TC 86/2007, cujo relator foi Paulo Mota Pinto.
Pode aí ler-se que a “morte de uma pessoa é um evento que é suscetível de causar danos não patrimoniais
a um círculo alargado de pessoas. E pode também concordar-se com a conveniência em evitar que o lesante
por mera culpa se veja assoberbado por pretensões indemnizatórias deduzidas por um número ilimitado de
pessoas. Por estas razões, compreende-se que no n.º 2 do artigo 496º o legislador se tenha preocupado em
enumerar o círculo de pessoas cujos danos não patrimoniais, causados pela morte da vítima, são atendíveis,
e que se tenha mesmo preocupado em dividir tais pessoas em três grupos (primeiro, o cônjuge não separado
judicialmente de pessoas e bens e os filhos ou outros descendentes; “na falta destes”, os pais ou outros
ascendentes; e, “por último”, os irmãos ou sobrinhos que os representem). Isto, aliás, diversamente do que
acontecia no anteprojeto do articulado relativo ao direito das obrigações, para o Código Civil de 1966, o
qual previa, no seu artigo 759º, n.º3, que no caso de morte de uma pessoa, “quando as circunstâncias o
impuserem, pode reconhecer-se direito de satisfação a outros parentes, a afins ou estranhos à família, desde
que tais pessoas estivessem ligadas à vítima de maneira a constituírem de facto família dela”. Não obstante,
admite que “sob a perspetiva do fundamento para o reconhecimento da compensação – que reside,
obviamente, na verificação da dor e do sofrimento por causa do falecimento da vítima, e na justeza de uma
compensação por tais danos –, não se vê como possa relevar a existência de um vínculo matrimonial, em
lugar apenas de uma convivência em união estável e duradoura com outra pessoa, em condições análogas
às dos cônjuges, para excluir completamente a atendibilidade dos padecimentos sofridos por esta. Estes não
são, na verdade, nem qualitativa, nem quantitativamente menos merecedores da tutela do direito por não
existir um vínculo matrimonial”. Posto isto, “não se divisando, pois, fundamento razoável na exclusão da
ressarcibilidade dos danos não patrimoniais sofridos por quem vivia em união de facto com a vítima,
chegar-se-ia, por esta via, a uma conclusão de inconstitucionalidade, por violação do princípio da
igualdade, consagrado no artigo 13º da Constituição”. E ainda que se considere que o vínculo matrimonial
determina soluções diferentes, “há-de, porém, necessariamente interrogar-se sobre a existência de uma
justificação atendível para a solução de excluir de plano e em abstrato todos e quaisquer danos não
patrimoniais sofridos pessoalmente por quem convivia com a vítima de um homicídio doloso em condições
análogas às dos cônjuges”. Depois de considerar que não há uma obrigação constitucional para tratar de
modo absolutamente igual aqueles que estão unidos pelo matrimónio e aqueles que não estão
(designadamente para se salvaguardar o direito a não estar casado), o TC considera que é necessário
ponderar “a ratio da delimitação, pelo n.º 2 do artigo 496.º, dos titulares de um direito a uma
“indemnização” (compensação ou “satisfação”) por danos não patrimoniais por morte da vítima, e em
particular no que toca ao problema da exclusão daqueles que de facto, tendo em conta as circunstâncias do
caso, eram mais próximos desta” e alerta que o problema é muito anterior a qualquer questão que pudesse
ter sido colocada pela união de facto. E conclui que “a norma do artigo 496.º, n.º 2, do Código Civil, na
parte em que exclui o direito a indemnização por danos não patrimoniais da pessoa que vivia em união de
facto com a vítima mortal de acidente de viação resultante de culpa exclusiva de outrem, não viola nem o
princípio da igualdade nem o artigo 36.º, n.º 1, da Constituição conjugado com o princípio da
proporcionalidade, parâmetros constitucionais invocados pelo recorrente (já que nada mais se pode retirar,
no sentido da inconstitucionalidade, da invocação da “conceção constitucional de família vertida no
art.º67.º, n.º 1 da Constituição”, que não tenha já sido considerado na fundamentação que antecede)”.
O problema no tocante ao unido de facto perde sentido com a introdução do novo nº3 do artigo 496º CC.
Importa sublinhar, in fine, que o TC se pronuncia acerca da conformidade da norma com os preceitos
constitucionais. O facto de decidir pela não inconstitucionalidade da norma não significa que, fora deste
quadro de pensamento, a solução não possa ser a da extensão teleológica do preceito. Ou seja, ainda que
não imposto pela Constituição, tal pode ser determinado pela intencionalidade própria do direito civil.
54
Alguns esclarecimentos adicionais se impõem a este propósito. Em primeiro lugar, urge referir que a
culpa não terá de se referir ao dano concreto, bem como não terá de se referir à concreta violação do direito.
Na verdade, como a outro ensejo tivemos oportunidade de sublinhar, a culpa tem como ponto de referência
uma esfera de responsabilidade/risco que se erige a partir da preterição de deveres de cuidado que unem o
sujeito aos seus semelhantes. Será a partir dela que se lançam as bases para a formulação de um juízo
imputacional objetivo (outrora perspetivado sob a égide da causalidade). Para lá de critérios concretos de
recondução do dano lesão à esfera edificada, importará desde logo saber se a violação do direito se integra
como uma das possíveis (não improváveis, embora não necessariamente prováveis) consequências da
conduta do agente. É a esta primeira inquirição que o preceito em análise parece vir dar resposta. Para
outros desenvolvimentos acerca deste modo de perspetivar a questão imputacional, cf. Mafalda Miranda
BARBOSA, Do nexo de causalidade ao nexo de imputação. Contributo para a compreensão da natureza
binária e personalística do requisito causal ao nível da responsabilidade civil extracontratual, Princípia,
2013, 897 s.
55
Cf. Vaz SERRA, “Reparação do dano não patrimonial”, 99
56
Em apelo da doutrina fixada pelo Bundesgerischtshof, pode ler-se no acórdão que “o dano psíquico tem
de ser grave” e que “tem de ser compreensível face ao motivo e tem que existir entre quem o sofre e o
lesado uma relação pessoal especial”. Mais se sustenta que “o dano tem de ter atingido a pessoa na sua
saúde de modo nítido; tem de ter ultrapassado claramente o normalmente sofrido por outras pessoas
colocadas na mesma situação, sendo excluído se corresponder ao normal risco da vida em virtude de
envolvimento nos acontecimentos do mundo”.
Preste-se, no entanto, particular atenção a alguns votos de vencido, designadamente ao de Maria Pizarro
Beleza. Sustenta a conselheira que deverá haver indemnização, no caso, por se constatar a lesão direta e
grave de um direito da autora, nos termos do artigo 483º/1 e 496º/1 CC: direito ao desenvolvimento da
personalidade, especialmente no contexto dos efeitos pessoais do casamento. A sua posição não é isolada.
Outros foram os conselheiros que sustentaram que não poderia haver lugar a uma indemnização por não se
ressarcirem os danos reflexos ou indiretos fora dos casos previstos nos artigos 495º e 496º CC.
Ainda que se pudesse entender a remissão como uma forma de resolução, por via
legislativa, de um problema imputacional, à semelhança do que sucede ao nível dos
comportamentos que causem a morte (ou, acrescentamos, a lesão grave da integridade
física) de uma pessoa, sempre teríamos de encontrar um ponto de ancoragem da ilicitude
polarizada nesse terceiro, não bastando a invocação de um qualquer sofrimento.
57
Pode estar em causa a titularidade de um bem da personalidade ou, em alternativa, de um direito pessoal
de gozo ao qual seja estendida a tutela possessória, inclusivamente as regras ressarcitórias.