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Aula 8 – Direito Civil – Da indenização

 Da indenização

Artigo 944 CC – A indenização mede-se pela extensão do dano. (Teoria alemã da diferença)
Parágrafo único – se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano,
poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.

O dever de reparar o dano material é medido pela extensão do prejuízo. No dano


extrapatrimonial (moral) é fixado por arbitramento judicial.

(Teoria alemã da diferença – differenz theorie) = faz uma comparação para verificar o
decréscimo sofrido – é indicada para o DANO PATRIMONIAL! Uma vez que nesse dano
sabemos efetivamente o valor do dano por meio do preço. É possível no dano material
retomar o estado quo ante. O dano patrimonial é quantificado patrimonialmente – objeto de
reparação civil. O artigo 944 foi construído para tratar do dano material.

Ao lado desse dano material que pode ser reparado, eu tenho que me lembrar do dano
extrapatrimonial, conhecido como dano moral. E deve-se lembrar que o ano moral não é
aferido economicamente em prima facie. São bens que não são economicamente aferíveis
porque são bens fora do comercio. Não posso dizer que o dano moral é reparável uma vez que
não se pode voltar ao status quo ante.

Enquanto o dano material é reparado (teoria da diferença), o dano moral é compensado. O


critério de aferição do dano moral é por meio de uma compensação!!

O critério a ser utilizado no dano extrapatrimonial é o sistema bifásico de arbitramento e esse


sistema bifásico de arbitramento, que é utilizado pelo Superior Tribunal de Justiça, considera
em primeiro lugar, na primeira fase, os precedentes do tribunal para fixação daquele valor em
casos semelhantes, na segunda fase vai analisar o caso concreto (agravantes e atenuantes),
levando em conta a função punitiva pedagógica.
Resp. 1.063.319- SP – Função punitivo pedagógica.
Parágrafo único – se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano,
poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.

Esse parágrafo único é uma exceção ao principio da restitutio in integrum ele deve ser visto
com reservas/interpretações restritas – a reparação civil é uma garantia fundamental, está lá
no artigo 5º, inciso V e X CF – e desde Roma antiga que vigora o principio imperador da
reparação civil, que é o principio da reparação integral chamado de restitutio in integrum – a
reparação tem que ser a mais ampla possível, o que esse paragrafo excepciona uma vez que
afirma que em certos casos em que o dano for grande mas a culpa for pequena o juiz deve, por
conta da culpa, reduzir a indenização, ora, essa letra fria do artigo 944 CC mitiga o principio da
restitutio in integrum, devendo ser interpretado restritivamente: em primeiro lugar para se
concluir que essa regra apenas se aplica a responsabilidade civil subjetiva e, em segundo lugar
para se entender que essa regra não merece interpretação analógica!
Essa redução equitativa tem caráter excepcional – a primeira coisa a se analisar aqui é o que
esta disposto no enunciado 475, CJF – a possibilidade dessa redução deve ser interpretada
restritivamente e é excepcional.
Veja também o enunciado 46, CJF - da primeira jornada.

 Culpa concorrente

Nesse caso, tanto a vitima, quanto o agente agressor atuaram de forma culposa, dolosa.
Imagine que José está dirigindo e olhando o celular ao mesmo tempo, José esta tendo uma
conduta culposa. Imagine que paralelamente a isso, João atravessa a rua fora da faixa de
segurança e desrespeitando o comando vermelho para o pedestre, o sinal estava vermelho
para João e, ainda assim, ele atravessou a rua. E diante essa situação, João é atropelado –
nessa situação estamos diante de culpa concorrente.

A culpa concorrente ocorre quando autor e vitima simultaneamente possuem uma


conduta culposa e colaboram para a ocorrência do evento danoso.

Em primeiro lugar, no direito civil NÃO HÁ COMPENSAÇÃO DE CULPA! Cada culpa será
levada em conta para aferir as responsabilidades!
Não existem compensações de culpas, de mo que cada um responderá na medida da sua
culpabilidade, pelo evento danoso que causar.
Art. 945 – se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua
indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a
do autor do dano.

O juiz deve considerar, então, a proporção da contribuição causal. A esse respeito há dois
enunciados das Jornadas de Direito Civil – enunciado 459 CJF – a conduta pode ser fator
atenunante; o segundo enunciado – enunciado 630, CJF – culpa não se compensam, mas
podem servir para diminuir a quantificação.

Jurisprudencia do STJ: Resp. 1.172.421/ SP e Resp. 1.808.079/PR defendendo a mesma


ideia qual seja: a concorrência da culpa vai impactar no quantum debeatur, ou seja, servirá
como atenuante para diminuir o valor da reparação civil – na pratica é essa a ideia.

 Obrigação indeterminada e critério de liquidação.

De pouca ocorrência em provas objetivas, notadamente por se tratar de tema mais afeto
ao processo civil, esta disciplinado no art. 946 CC.

Art. 946 CC – Se a obrigação for indeterminada, e não houver na lei ou no contrato


disposição ficando a indenização devida pelo inadimplente, apurar-se-á o valor das
perdas e danos na forma que a lei processual determinar.

Esse artigo diz que se o contrato é genérico, se na lei não há quantum debeatur, então o
critério para se aferir o valor é o critério da lei processual, liquidação por simples cálculos,
por arbitramento... é o processo civil que será aplicado!

Art. 947 CC – Se o devedor não puder cumprir a prestação na espécie ajustada,


substituir-se-á pelo seu valor, em moeda corrente.

A ideia de não realizar a prestação nos exatos termos pactuada é a ideia que atualmente
não agrada o direito brasileiro, muto menos a processualística. O magistrado vai tentar
adotar medidas processuais típicas ou atípicas para tentar obter o resultado útil do
processo. Então será astreintes, multas, mandados de fazer específicos... mas se a
prestação não for realizada converte-se em perdas e danos.
 Responsabilidade civil decorrente de homicídio:

Trata-se de importante previsão normativa que envolve o tema da pensão alimentícia


decorrente de ato ilícito, além de despesas com o funeral e o tema do dano intercorrente.
Assunto bem importante!!

O homicídio é um evento que gera uma sanção penal e uma sanção civil ressarcitória.
Precisa-se recordar que a responsabilidade civil é independente da penal. A
responsabilidade civil é autônoma e independente se comparada a criminal.

Art. 948 CC – No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras


reparações:
I – no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da
família;
II – na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta
a duração provável da vida da vítima.

Dano ricochete ou reflexo – art. 12, p.u., CC.

Obs.: O STJ entende que esse tipo de pensão alimentícia não autoriza a prisão civil do
inadimplente, não. Decisão do STJ do final de 2020 – a prisão alimentícia é exclusiva da
pensão decorrente da área de família e não pensão alimentícia decorrente de ato ilícito.

 Responsabilidade Civil decorrente de lesão ou ofensa à saúde:

O Código Civil brasileiro dispõe em seu artigo 949:

949 CC – No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido


das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até o fim da convalescença, além
de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.

Pode ser utilizada para situações jurídicas envolvendo erro médico. A gente sabe que a
responsabilidade do médico é subjetiva, inclusive tem fundamento no código de
defesa do consumidor. Mas esse artigo é muito amplo e pode ser aplicado a qualquer
lesão a saúde de outra pessoa por alguém, por exemplo, que não seja médico.
 Reponsabilidade Civil decorrente de incapacidade laboral:

A incapacidade para o trabalho pode ser absoluta, ou parcial. É disciplinada no artigo


950 do CC e autoriza a própria vítima a postular pensão alimentícia também:

A incapacidade laboral pode ser absoluta – de modo que o ofendido não tenha
condição de realizar nenhum trabalho – ou pode ser relativa – quando o incapacitado fica
inapto para realizar certos tipos de trabalho.

O fato é que, seja incapacidade laborativa absoluta ou relativa nós temos,


expressamente no artigo 950 CC uma previsão de pensionamento:

950 CC – Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu
ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das
despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão
correspondente à importância do trabalho pra que se inabilitou, ou de depreciação que ele
sofreu.

Pegadinha: Parágrafo único!Paragrafo único – autoriza a vítima a pedir que toda essa
pensão seja paga de uma so vez.

Parágrafo único – o prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e
paga de uma só vez.

Pela lei, se cair isso vc vai responder com a letra da lei! Mas lembre-se que a lei só diz isso para
incapacidade laborativa, não diz para homicídio!! Quando se vai para a doutrina – Enunciados
192 CJF e o Enunciado 381 CJF – e ao lado da jurisprudência percebemos que - Resp.
876.448/RJ ou Resp. 1.378.444/RJ – a doutrina e a jurisprudência irão flexibilizar a letra fria da
lei, para a doutrina e para a jurisprudência é possível que esse pagamento não se realize de
uma só vez tendo em vista a condição econômica do ofensor – se a condição econômica do
ofensor contra indicar que o pagamento se faça de uma só vez, tanto a doutrina quanto vao
admitir o parcelamento.
NA sua prova você marca o texto de lei. Masse perguntar o ponto de vista da doutrina, da
jurisprudencia você deve afirmar que apesar do pagamento se fazer de uma so vez, é possível
o parcelamento – tendo em visa a condição social do ofensor, a função social da empresa, a
função social da reparação civil.

Art. 951 CC – O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida
por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou
imperícia, causar a morte de paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para
o trabalho.
Enunciado 460 CJF, 5º jornada.

É muito interessante verificar que o direito brasileiro tem uma disciplina jurídica da posse que
transborda não só o direito pessossorio em si, como o direito civil em si. Veja: la no artigo
1.210 CC é dito que o possuidor tem direito de ser reintegrado na posse em caso de esbulho,
mantido na posse em caso de turbação e ser assegurado na posse em caso de ameaça. Mas,
curiosamente, isso também esta dito no direito processual civil – apartir do art. 554 do CPC se
tem o procedimento das ações possessórias, portanto, para se conhecer o tema da
responsabilidade civil é necessário que se entenda um pouco dessas questões.

Interditos possessórios são o que chamamos hoje de ações possessórias e essas ações
possessórias são dividias em 3 grupos: ação de reintegração, ação de manutenção e a terceira
é o denominado interdito proibitório.

Perda da posse = esbulho – ação adequada: reintegração

Esbulho, além de ilícito civil que gera a ação de reintegração na posse, é também um
tipo penal, é CRIME!

Turbação de posse = perturbação da posse - Ação adequada: manutenção

Não há perda da posse, ainda, tem-se apenas uma turbação – uma situação na qual
alguém perturba a posse.

Ameaça + prevenção – ação adequada: interdito proibitório


Quando eu sofro uma lesão possessória é possível que essa lesão não seja apenas a
invasão, ameaça de invasão, é possível que quando da invasão o invasor destrua a
residência, agrida o possuidor...se isso acontecer, além de se pedir a tutela
possessória, se pedirá a tutela indenizatória na mesma demanda e é para isso que
serve o artigo 952 CC – ára viabilizar a reparação civil.

Art. 952 – Havendo usurpação ou esbulho do alheio, além da restituição da coisa,


indenização consistirá em pagar o valor das suas deteriorações e o devido a titulo de
lucros cessantes; faltando a coisa, dever-se-á reembolsar o seu equivalente ao
prejudicado.

Paragrafo único – para se restituir o equivalente, quando não exista a própria coisa,
estimar-se-á ela pelo seu preço ordinário e pelo de afeição, contanto que este não se
avantaje àquele.

 Responsabilidade Civil por injuria, calúnia e difamação:

O artigo 5, inc. X e V, CF afirma que é inviolável a vida priva, a intimidade e a honra


das pessoas. Nós temos esse assunto assentado na constituição como uma garantia
fundamental, como um direito fundamental ao lado disto o CC disciplina artigo dos direitos da
personalidade.

Art. 953 CC - A indenização por injuria, difamação ou calúnia consistirá na reparação


do dano que delas resulte ao ofendido. – Tutela da Honra – dentro dessa perspectiva
a gente tem um regramento Art. 5, V e V CF , 11 a 21 CC, 953 CC.

Parágrafo único – Se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá ao juiz
fixar, equitativamente, o valor da indenização, na conformidade das circunstâncias
do caso.

O dano moral ocorrerá quando não for fácil demonstrar a quantificação do dano
material.

 Responsabilidade Civil decorrente de ofensa à liberdade pessoal


954 CC – A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no pagamento das perdas e
danos que sobrevierem ao ofendido, e se este não puder provar prejuízo, tem aplicação o
disposto no parágrafo único do artigo antecedente.

A legislação autoriza ao magistrado fixar dano moral quando não for possível a prova do
prejuízo material disto decorrente. Esse artigo é importante em casos de prisão ilegal e casos
de cárcere privado.

Paragrafo único – consideram-se ofensivos da liberdade pessoal:


I - Cárcere privado;
II – a prisão por queixa ou denuncia falsa e de má-fé;
III- a prisão ilegal.

Esse rol é meramente ilustrativo de modo que é juridicamente exemplificativo de modo que é
juridicamente possível outras situações que servem para pedido de reparação civil.

Importante recordar que o artigo 954 deve ser interpretado a luz da constituição federal
quando envolver prisão ilegal, prisão por queixa falsa ou liberdades públicas – utilize a lei
maior particularmente o artigo 37, paragrafo 6ºCF que trata da responsabilidade aquiliana.

Responsabilidade extracontratual/ aquiliana pelos atos de seus agentes e prepostos – art. 37


parágrafo 6º CF.

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