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UNIPAM – CENTRO UNIVERSITÁRIO DE PATOS DE MINAS - FADIPA –

FACULDADE DE DIREITO DE PATOS DE MINAS – PROCESSO PENAL Il

PROFESSOR: Paulo Henrique Rodrigues Moreira E-mail: paulohrm@unipam.edu.br

Conteúdo: Artigos 63 – 250 do CPPB

01- AÇÃO CIVIL EX DELICTO – EXECUÇÃO CIVIL


02- JURISDIÇÃO
03- COMPETÊNCIA
04- QUESTÕES PREJUDICIAIS E PROCESSOS INCIDENTES
05- PROVAS

DISTRIBUIÇÃO DE PONTOS:

3 TRABALHOS – 15 pontos cada

2 PROVAS –PROVA 1: 15 PONTOS. PROVA COLEGIADA: 20 PONTOS

Da Ação Civil –

Um dos efeitos da sentença penal condenatória transitada em julgado é tornar certa a obrigação
de indenizar.

Ação civil ex delicto é a ação ajuizada pelo ofendido, na esfera cível, objetivando a obtenção da
indenização devida pelo dano eventualmente produzido pelo crime. Tanto dano material ou
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moral. Sendo cumuláveis as indenizações conforme preceito da súmula 37 STJ.

De acordo com o preceito do artigo 63 CPPB2, a sentença condenatória transitada em julgado


constitui título executivo para a esfera cível.

Já não se discutirá no âmbito cível se a indenização é devida ou não. Será discutido, tão
somente, seu montante.

São legitimados para pleito da execução deste título executivo o ofendido, seu representante
legal ou seus herdeiros.
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Sum 37 “SÃO CUMULAVEIS AS INDENIZAÇÕES POR DANO MATERIAL E DANO MORAL ORIUNDOS DO MESMO
FATO.”

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Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito
da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.

Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo valor fixado nos
termos do inciso iv do caput do art. 387 deste Código sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente
sofrido.

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Se advém perdão judicial, não seria possível o ajuizamento da respectiva ação conforme
súmula 18 STJ3 –

Após legislação alterativa do CPPB em 2008, ficou determinado que o juiz ao prolatar sentença
penal condenatória, arbitre valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido (art. 387, IV, CPP4).

Dessa forma, esse valor mínimo já poderá ser executado, independentemente de liquidação do
julgado, pois o juiz fixou o valor.

Ocorre que no artigo mencionado acima, faz menção ao “valor mínimo”, isto significa que terá
duas partes distintas nessa condenação penal:

01- Uma parte líquida, com valor já previamente estabelecido e que pode ser executado de
imediato.
02- Outra parte que estará pendente de liquidação para que se possa executar no juízo cível.

Isso se depreende do art. 63 parágrafo único. Nesse sentido, pode o juiz condenar penalmente o
réu e fixar, por exemplo, o valor mínimo de 10 mil reais. Com o trânsito em julgado desta
condenação, o ofendido poderia ajuizar ação civil ex delicto, ou seja, a execução deste título
executivo na esfera cível, no que se refere ao valo de 10 mil reais, sem prejuízo de procurar
liquidar o restante do valor devido, para que, posteriormente, execute a segunda parte da
condenação.

Importante destacar que, no que tange ao ressarcimento dos danos causados foi incluído os
parágrafos 4º e 5º ao artigo 9º5 da lei 11.340/06 que trazem elementos importantes.
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A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito
condenatório.

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Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:

IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos
pelo ofendido; (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

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§ 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, violência física, sexual ou psicológica e dano moral ou patrimonial
a mulher fica obrigado a ressarcir todos os danos causados, inclusive ressarcir ao Sistema Único de Saúde (SUS), de
acordo com a tabela SUS, os custos relativos aos serviços de saúde prestados para o total tratamento das vítimas em
situação de violência doméstica e familiar, recolhidos os recursos assim arrecadados ao Fundo de Saúde do ente
federado responsável pelas unidades de saúde que prestarem os serviços. (Vide Lei nº 13.871, de
2019) (Vigência)

§ 5º Os dispositivos de segurança destinados ao uso em caso de perigo iminente e disponibilizados para o


monitoramento das vítimas de violência doméstica ou familiar amparadas por medidas protetivas terão seus custos
ressarcidos pelo agressor. (Vide Lei nº 13.871, de 2019)

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No que se refere a possibilidade de ocorrência de revisão criminal julgada procedente,
desconstituindo a condenação do réu, haverá também a desconstituição do título executivo
judicial.

Portanto, se a execução ainda não tiver se iniciado, já não poderá se iniciar; porém caso esteja
em andamento, deverá o juiz da vara cível extingui-la, com fundamento da inexistência do título
executivo; por fim, caso a execução já tenha se encerrado, caberá ao réu cuja condenação penal
foi revisada o direito de reaver o que pagou na execução cível.

A ação no juízo cível pode ser proposta contra o próprio autor do crime ou contra o responsável
cível (art. 64 CPP6). O código civil em seu art. 9327, enumera os responsáveis pela reparação
civil.

O ofendido não precisa aguardar o encerramento da ação penal para haver a indenização que
acredita fazer jus. Poderá, querendo, ajuizar a ação civil para reconhecimento desta indenização.

A vantagem de aguardar a condenação penal é que já não haverá a necessidade de se


demonstrar a existência do fato nem do dano (que estarão demonstrados na sentença penal).
Contudo, poderá o juiz da ação civil suspendê-la até o julgamento definitivo da sentença penal.
(art. 64 par. único).

Como visto, a condenação penal transitada em julgado fará coisa julgada na esfera cível, já não
havendo necessidade de se rediscutir materialidade e autoria. Entretanto, a sentença
absolutória nem sempre possuirá o condão de ensejar a coisa julgada.

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Art. 64. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo
cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil. (Vide Lei nº 5.970, de 1973)

Parágrafo único. Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta, até o julgamento definitivo
daquela.

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Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;

II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir,
ou em razão dele;

IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de
educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;

V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.

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O artigo 658 CPPB preceitua as situações que fazem coisa julgada no cível. Portanto, a
absolvição com fundamento nas excludentes de ilicitude fará coisa julgada na esfera cível.

É preciso chamar a atenção para as exceções ao artigo 65 CPPB, ou seja, para hipóteses em
que a absolvição penal com fundamento na excludente de ilicitude não irá afastar a
responsabilização civil. Isto ocorrerá em três casos:

a) Quando o prejudicado não for o responsável pela situação de perigo que gerou o estado de
necessidade (estado de necessidade agressivo). Ex.: para fugir do pitbull raivoso que corre
em sua direção, Tio Gui quebra o vidro da casa de Tio Gabi para se abrigar. Haverá a
absolvição pelo crime de dano, mas Tio Gabi terá direito a indenização na esfera cível.
b) Se o autor agiu acobertado pela legítima defesa putativa. Neste caso, não haverá
condenação penal, mas a vítima (ou seus herdeiros) terão direito a indenização cível.
c) Se o agente causou danos a terceiros, em decorrência de erro na execução (aberratio ictus).
Ex.: atira, em legítima defesa, mas erra o tiro e atinge inocente. Não haverá condenação
penal, mas o inocente faz jus à indenização.

Também fará coisa material na esfera cível a decisão que reconhecer a inexistência material do
fato ou da autoria / participação. Noutro sentido, a absolvição penal não impedirá o ajuizamento da
ação civil indenizatória quando não estiver categoricamente demonstrada inexistência material do
fato (art. 669, CPPB).

Em síntese, podemos afirmar que não produzem coisa julgada na esfera cível:

a) Absolvição por não estar provada a existência do fato (art. 38610, II, CPP)

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Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de
necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

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Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não tiver
sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato.

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Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:

I - estar provada a inexistência do fato;

II - não haver prova da existência do fato;

III - não constituir o fato infração penal;

IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; (Redação dada pela Lei nº 11.690, de
2008)
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b) Absolvição por não constituir o fato infração penal (art. 386, III e art. 6711, III CPPB)
c) Absolvição por não haver prova suficiente de ter o réu concorrido para a infração penal (art.
386, V, CPPB).
d) Absolvição por excludentes de culpabilidade (art. 386, VI CPPB)
e) Absolvição por insuficiência de provas (art. 386, VII CPPB)
f) Despacho de arquivamento do inquérito policial ou peças de informação (art. 67, I CPPB)
g) Decisão que julgar extinta a punibilidade (art. 67, II, CPPB)

Finalmente o artigo 6812 dispõe da situação do hipossuficiente, a rigor a atribuição de intentar


a ação de reparação civil da pessoa pobre já não cabe mais ao MP, mas, sim, à Defensoria
Pública. Porém a atuação do MP é legítima, nos Estados que ainda não possuem Def. Pub.
(RE, 147.776/SP).

Desse modo, a pessoa ofendida pode adotar as seguintes estratégias:

a) ART. 6313, CPPB – Aguardar o trânsito em julgado da sentença condenatória criminal, que
certifica a obrigação de indenizar (art. 91 14, I CP), sendo verdadeiro título executivo judicial
(art. 515, VI CPC). De posse do título, promoverá a execução na esfera cível.

V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; (Redação dada pela Lei nº 11.690, de
2008)

VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art.
28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; (Redação dada pela Lei
nº 11.690, de 2008)

VII – não existir prova suficiente para a condenação. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

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Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil:

III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime.

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Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1o e 2o), a execução da sentença
condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público.

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Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para
o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.

Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo valor
fixado nos termos do inciso iv do caput do art. 387 deste Código sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano
efetivamente sofrido.

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Art. 91 - São efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
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b) ART. 64, CPPB - Se não desejar aguardar o trânsito em julgado da decisão criminal,
poderá de imediato ingressar com ação civil de conhecimento, pleiteando a justa
indenização.

O rol de legitimados para execução é amplo, englobando a vítima (pessoa física ou jurídica);
representante legal (ocorrendo incapacidade da vítima); e havendo morte ou declaração judicial
de ausência do ofendido, seus herdeiros poderão promovê-la. No polo passivo da execução irá
figurar o réu do processo criminal. O responsável civil pelos danos não pode figurar no polo
passivo da execução, já que não foi réu na demanda criminal. Ex.: se motorista de uma empresa
de ônibus atropela culposamente alguém, a execução do título condenatório para ressarcimento
no cível terá no polo passivo o réu da demanda criminal, e não o empregador.

Lembrando, conforme afirmado antes que o art. 387, IV, CPPB fixa um valor mínimo na
sentença. Sendo esse valor fixado na sentença título passível de imediata execução.

Quando entrar com ação autônoma (art. 64 CPPB), terá como vantagem no polo passivo da ação
de conhecimento cível poderá figurar não só o causador dos danos, mas também o responsável
civil.

No intuito de evitar decisões contraditórias, admite-se a suspensão da ação cível, aguardando –


se o desfecho do processo criminal. Tem prevalecido o entendimento que a suspensão da
demanda cível é facultativa. O Tempo de suspensão não poderá exceder ao prazo de um ano,
por aplicação do artigo 315 §2º15 CPC.

Reforçando os dizeres do artigo 66 que preceitua sobre a sentença absolutória. Os fundamentos


da sentença absolutória estão listados no art. 386 do CPPB e boa parte deles não obsta a ação
civil ex delicto, pois o dever de indenizar pode permanecer, mesmo havendo a absolvição
criminal.

Veremos cada um a seguir:

I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;

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Art. 315. Se o conhecimento do mérito depender de verificação da existência de fato delituoso, o juiz pode
determinar a suspensão do processo até que se pronuncie a justiça criminal.

§ 1º Se a ação penal não for proposta no prazo de 3 (três) meses, contado da intimação do ato de suspensão,
cessará o efeito desse, incumbindo ao juiz cível examinar incidentemente a questão prévia.

§ 2º Proposta a ação penal, o processo ficará suspenso pelo prazo máximo de 1 (um) ano, ao final do qual aplicar-
se-á o disposto na parte final do § 1º.

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1- Estar provada a inexistência do fato : se o fato não ocorreu, não há de se falar em prejuízo,
trancando – se as portas do cível para eventual indenização – (art. 66, in fine, CPPB);
2- Não haver prova da existência do fato : a deficiência probatória levará a absolvição criminal,
afinal, in dúbio pro reo. Não obstante, é possível que na esfera cível ocorra a devida
demonstração do fato delituoso, admitindo-se a respectiva ação indenizatória;
3- Não constituir o fato infração penal: é possível que a conduta praticada não caracterize
infração penal, mas subsista como ilícito civil, levando ao dever de indenizar (art. 186 16 CC);
4- Estar provado que o réu não concorreu para o delito : havendo prova categórica da
negativa de autoria, não há de se falar em indenização por parte daquele que foi réu no
processo penal.
5- Não haver prova de ter o réu contribuído para a infração penal : a deficiência probatória
no processo criminal não impede a propositura da ação civil indenizatória; pois lá pode haver
melhor sorte quanto a demonstração do ocorrido;
6- Presença de excludente de ilicitude, culpabilidade, ou fundada dúvida sobre sua
existência: como visto antes (art. 65 CPPB), as excludentes de ilicitude, de regra inibem a
ação civil ex delicto, ressalvadas as hipóteses em que o dever de indenizar permanece. As
excludentes de culpabilidade (dirimentes), não impedem, de regra a indenização. Assim, a
dúvida sobre a existência das excludentes (de ilicitude ou culpabilidade) levará a absolvição,
mas não obsta o dever de indenizar.
7- Não existir prova suficiente para a condenação: a debilidade probatória na instrução
criminal não impede a ação civil indenizatória, que pode eventualmente superar esta
deficiência.

Corroborando ao art. 66, o artigo 67 17 do CPPB traz outras hipóteses em que a deliberação do juiz
criminal não impedirá a ação civil.

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Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

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Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil:

I - o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação;

II - a decisão que julgar extinta a punibilidade;

III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime.

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1- Arquivamento do I.P. tem natureza eminentemente administrativa, e surgindo novas provas,
admite-se propositura da denúncia (súmula 52418 STF)
2- As hipóteses de extinção de punibilidade estão listadas no art. 10719 do CP. A declaração
de qualquer delas é feita em decisão definitiva, apta a coisa julgada material. Todavia, o
reconhecimento da impossibilidade de punir não afasta o dever de indenizar em razão das
consequências da conduta praticada.
3- Mesmo não caracterizando ilícito penal, é possível que o fato imputado ao réu permaneça
como ilícito civil, dando dever de indenizar.

2- DA JURISDIÇÃO E 3 - COMPETENCIA:

Jurisdição é o dever – poder de aplicar a lei ao caso concreto, na expectativa da resolução do caso
penal, a competência é a identificação da distribuição deste poder, ou seja, a quantidade de poder
conferida a um juiz tribunal por delimitação legal.

Jurisdição “é a função atribuída a terceiro imparcial para (a) de realizar o Direito de modo
imperativo (b) e criativo (reconstrutivo) (c) reconhecendo / efetivando / protegendo situações
jurídicas (d) concretamente deduzidas (e) em decisão insuscetível de controle externo (f) e com
aptidão para tornar-se indiscutível” (DIDIER JUNIOR, 2019).

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Enunciado
Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser
iniciada, sem novas provas.

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Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - pela morte do agente;

II - pela anistia, graça ou indulto;

III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;

IV - pela prescrição, decadência ou perempção;

V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;

VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;

VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)

VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)

IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

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Para concretizar o “Direito” exige-se um órgão supra partes, imperativo e que tenha elementos para
solução dos conflitos, maximizando a pacificação social, em decisão apta à imitabilidade pela coisa
julgada.

O termo jurisdictio, que significa a ação de DIZER O DIREITO, concentrada em regra no Poder
Judiciário, sem prejuízo da atuação de outros órgãos, como acontece na jurisdição política, feita pelo
legislativo, quando aprecia, em certos casos, dos crimes de responsabilidade. (art. 51, I 20 CFRB).

São princípios que regem a jurisdição:

a) INVESTIDURA: é a condição de magistrado, que atua como consectário lógico para exercício
da função. Caso contrário, ato praticado é inexistente.
b) INDELEGABILIDADE: a atividade jurisdicional decorre de imperativo legal, não sendo
admitida a transferência da incumbência por ato discricionário do juiz e/ou tribunal. Entretanto,
excepcionalmente, admite-se a delegação por intermédio das precatórias, rogatórias e cartas
de ordem como ferramentas de colaboração entre órgãos jurisdicionais. Para Guilherme
Nucci, haveria delegação, e não propriamente de jurisdição, afinal todos os juízes, em última
análise, possuem jurisdição (aplicação da lei ao caso concreto).
c) JUIZ NATURAL: É o legítimo exercício jurisdicional, assegurado constitucionalmente (art. 5º
LIII21 CFRB), vedando-se, por conseguinte, juízo ou tribunal de exceção. (art. 5º XXXVII 22
CFRB).
d) INAFASTABILIDADE: nenhuma lei ou ato do governo poderá afastar do poder judiciário a
apreciação de lesão ou ameaça de direito (art. 5º, XXXV23, CFRB).
e) INEVITABILIDADE / IRRECUSABILIDADE: A submissão à jurisdição independe da vontade
das partes, sendo impositiva. É ato de poder.

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Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:

I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como
os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza
conexos com aqueles;

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LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

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XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;

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XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

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f) CORRELAÇÃO / REFLEXÃO / OU RELATIVIDADE: A atividade jurisdicional encontra-se
delimitada pela imputação da inicial acusatória, pois ao juiz não é permitido julgar ultra, citra
ou extra petita (além, aquém ou destoante do que lhe foi pedido). Para garantir a coerência do
julgamento, as ferramentas da mutatio e emendatio libelli encontram-se a disposição do
magistrado.

1) EMENDATIO LIBELLI: Permite que na sentença sejam corrigidos eventuais equívocos


quanto ao enquadramento típico dado aos fatos na inicial acusatória (art. 38324 CPPB)
2) MUTATIO LIBELLI: Se os fatos narrados na denúncia são distintos daqueles realmente
ocorridos, o que é revelado pela instituição, deve o juiz abrir vistas ao MP, para que
promova o aditamento da inicial acusatória, reenquadrando assim o conteúdo da
imputação. Em seguida haverá a manifestação da defesa, cabendo ao magistrado retomar
o feito para julgamento (art. 38425 CPPB).

 SÃO CARACTERÍSITCAS DA JURISDIÇÃO:

A) INÉRCIA: a atividade jurisdicional depende de provocação, afinal, dentro do sistema


acusatório, há nítida separação de atividades, cabendo ao órgão acusador provocar o
judiciário, por meio do exercício do direito de ação. Excepcionalmente, em favor da liberdade,

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Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição
jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave.

§ 1o Se, em conseqüência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão


condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei.

§ 2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados os autos.

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Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em conseqüência
de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério
Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o
processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.

§ 1o Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste Código.

§ 2o Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de
qualquer das partes, designará dia e hora para continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, novo
interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento.

§ 3o Aplicam-se as disposições dos §§ 1o e 2o do art. 383 ao caput deste artigo.

§ 4o Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de 5 (cinco) dias, ficando o
juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento.

§ 5o Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá.

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o habeas corpus pode ser concedido ex officio pelos juízes e / ou tribunais (art. 654, §2º 26,
CPPB).
B) SUBSTITUTIVIDADE: Monopolizando o jus puniendi, o Estado acaba concentrando a
responsabilidade de resolver os casos penais, substituindo a atuação das partes, já que a
autotutela, de regra, foi banida, e fazer justiça com as próprias mãos caracteriza crime contra
a administração da justiça.
C) LIDE: A lide, conforme Carnelutti, é o conflito de interesses qualificado pela pretensão
resistida (ou desatendida). No processo penal, não se deve falar, a rigor, em lide, afinal, não
há propriamente conflito de interesses, afinal defesa e acusação possuem o mesmo objetivo,
que é o justo provimento jurisdicional (tem quem sustente contrária versão). MP não é
exclusivo órgão de acusação, passando a exercer, também, a função de fiscal do
ordenamento jurídico e guardião da sociedade.
D) ATUAÇÃO DO DIREITO: o exercício jurisdicional busca legitimar a justa aplicação da lei,
impondo-se
E) IMUTABILIDADE: Com o trânsito em julgado, preclusos os recursos, a decisão irá revestir-se
da imutabilidade pela coisa julgada material. Em medida excepcional, admite-se a
reversibilidade de tal situação, nas hipóteses de cabimento da revisão criminal, e por eventual
uso do HC havendo os requisitos pertinentes.

Quanto a competência: para a sua determinação, adotaremos os seguintes critérios, que


serão distribuídos, mais a frente, nos incisos de cada artigo em comento;

A) COMPETÊNCIA MATERIAL: tem como característica base o caso penal concreto, estando
assim organizada:

A.1) Competência material ratione materiae: nos permite identificar qual Justiça
competente, seja ela a justiça comum estadual (residual) ou federal (arts. 108 e 109,
CFRB); e a justiça especializada, abrangendo a JUSTIÇA MILITAR (que aprecia apenas as
infrações militares, art.124 CFRB), ou JUSTIÇA ELEITORAL, que tem competência para
julgamento das infrações eleitorais e das infrações comuns conexas. Há doutrinadores que
colocam a justiça do trabalho como especial.

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Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como
pelo Ministério Público.

§ 2o Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando no curso
de processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal.

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A.2) Competência material ratione loci: para saber qual juízo territorialmente competente
devemos saber e atender a seguinte sequência lógica: inicialmente, identificar o local da
consumação do delito; não se sabendo, a competência territorial é definida pelo domicílio ou
residência do réu; por fim, como critério residual aos dois anteriores teremos a prevenção,
que é sinônimo de antecipação, leia se, juiz prevento é aquele que primeiro pratica um ato do
processo (recebimento da inicial acusatória), ou aquele que ainda na fase de IP pratica
medidas cautelares que se referem ao futuro do processo. Ex.: busca e apreensão domiciliar,
interceptação telefônica etc.

A.3) Competência material ratione personae: é o denominado foro “privilegiado” ou foro por
prerrogativa de função, estabelecido em razão da importância do papel desempenhado por
determinada autoridade, o que normalmente é estabelecido na CFRB ou Constituição
Estadual.

B) COMPETENCIA FUNCIONAL: é estabelecida por uma distribuição de tarefas dentro de


determinada persecução penal, vejamos:

B.1) Competência funcional pelas fases do processo: teremos juízos distintos para
presidir etapas diversas da persecução penal, como um juiz responsável pela instrução e
julgamento, pois o juiz que instrui é aquele que deve julgar (até acabar suspensão do juiz de
garantias), e outro magistrado competente para a fase das execuções. Ou no júri, com um juiz
presidindo a primeira fase do procedimento (sumário da culpa), e outro competente para
presidir o plenário de julgamento; Vale lembrar que juiz das garantias está ainda suspenso.
Desde 2020.

B.2) Competência funcional pelo objeto do juízo: a divisão de tarefas ocorre em face do
conteúdo do julgamento. É o que ocorre no júri, já que os jurados têm competência para
apreciar os quesitos que lhes serão formulados, ao passo que o juiz presidente tem
competência para proferir sentença, vinculado ao teor da votação dos quesitos.

B.3) Competência funcional pelos graus de jurisdição: é a verticalização da competência,


seja em razão de interposição de recursos, ou de ações que podem tramitar originariamente
nos tribunais, como habeas corpus, o mandado de segurança e a revisão criminal.

COMPETENCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.

A competência da justiça federal está prevista no artigo 10927 da CFRB.

27
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou
de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da
12
A) CRIMES POLÍTICOS (art. 109, IV)

Segundo Paulo Rangel, crimes políticos são “aqueles dirigidos subjetiva e objetivamente,
de modo imediato, contra o Estado como unidade orgânica das instituições políticas e
sociais”.

São crimes contra a segurança nacional e a ordem política e social e estavão previstos na
lei 7.170/83, que foi revogada pela lei LEI Nº 14.197, DE 1º DE SETEMBRO DE 202128

B) CRIMES PRATICADOS EM DETRIMENTO DE BENS, SERVIÇOS OU INTERESSES DA


UNIÃO, SUAS ENTIDADES AUTÁRQUICAS E EMPRESAS PÚBLICAS (art. 109, IV).

Exclui-se da competência da Justiça Federal o processamento e julgamento das


contravenções penais e das infrações penais da alçada da Justiça Miliar e da Justiça
Eleitoral. Também está excluída a apreciação dos crimes em detrimento de sociedades de

Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou
de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da
Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado
tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)

VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a
ordem econômico-financeira;

VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de
autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;

IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar;

X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o


"exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a
respectiva opção, e à naturalização;

XI - a disputa sobre direitos indígenas.

28
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14197.htm#art4
Acrescenta o Título XII na Parte Especial do Decreto-Lei nº
2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), relativo
aos crimes contra o Estado Democrático de Direito; e
revoga a Lei nº 7.170, de 14 de dezembro de 1983 (Lei de
Segurança Nacional), e dispositivo do Decreto-Lei nº
3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções
Penais).

13
economia mista como o Banco do Brasil (sumula 42 STJ 29). A Justiça Federal julgará
casos envolvendo apenas as empresas públicas, como a CEF e ECT.

Se tiverem fundações públicas de Direito Público quando forem federais, por serem
espécies de autarquias, os crimes praticados em detrimento de seus bens serão
processados na JF.

Conforme súmula 12230 do STJ, assim pouco importa saber qual é o crime mais grave ou
qual a quantidade de crimes estaduais, se houver crime federal envolvido, haverá
atração da competência da justiça federal, não aplicando a regra do 78, II31 CPPB.

De igual sorte, o crime praticado por funcionário público federal no exercício da função
ou em razão dela atrairá a competência da justiça federal conforme exposto na SUM
14732 do STJ.

A súmula 16533 do STJ embora se refira a crime de falso testemunho, o mesmo


entendimento pode ser utilizado para qualquer crime que ocorra no bojo de um processo
trabalhista (coação no curso do processo, exploração de prestígio, fraude processual,
desacato etc.), pois a Justiça do Trabalho não possui competência penal.

No que tange ao crime praticado por prefeito municipal envolvendo verbas oriundas da
UNIÃO, devemos diferenciar suas situações, expostas nas sumulas 20834 e 20935 do STJ.

29
SÚMULA Nº 42 Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de
economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.
30
SUM 122 STJ - Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência
federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal.

31
Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras:

Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria:

a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave;

b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas penas forem de igual
gravidade;

c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos;

32
SÚMULA 147 - COMPETE A JUSTIÇA FEDERAL PROCESSAR E JULGAR OS CRIMES PRATICADOS CONTRA
FUNCIONARIO PUBLICO FEDERAL, QUANDO RELACIONADOS COM O EXERCICIO DA FUNÇÃO.
33
Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso testemunho cometido no processo trabalhista.
34
Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas
perante órgão federal.
35
Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio
municipal.
14
Por fim, a lei 13260/2016, que regulamenta o inciso XLIII do artigo 5º da CFRB,
disciplinando o terrorismo, prevê em seu art. 1136 que os crimes nela inseridos são
analisados pela PF em sede de IP na Justiça Federal.

C) CRIMES PREVISTOS EM TRATADOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS, QUANDO


INICIADA A EXECUÇÃO NO PAÍS, O RESULTADO TENHA OU DEVESSE TER
OCORRIDO NO ESTRANGEIRO, OU RECIPROCAMENTE (art. 109, V CFRB).

É imprescindível que transcendam a fronteira de dois ou mais Estados Nacionais, ou seja,


é necessário seu caráter internacional. Exemplos: tráfico transnacional de drogas (arts. 33
e seguintes da lei 11343/2006), tráfico internacional de pessoas (art. 149 A, §1º, CP),
tráfico internacional de crianças ou adolescentes (art. 239, lei 8069/1990) entre outros.

Finalmente a súmula 52837 STJ fala sobre tráfico transnacional praticado via postal.

D) CAUSAS RELATIVAS A GRAVES VIOLAÇÕES A DIREITOS HUMANOS (ART. 109 V-


A)

Previsto no artigo 109 § 5º da CFRB, um incidente processual de deslocamento de


competência, suscitado pelo Procurador Geral da República perante o STJ, em qualquer fase
da persecução penal. Ainda que tenha iniciado na Justiça Estadual, pode o PGR pugnar pelo
deslocamento da competência. Federalização contra os direitos humanos.

Também é imprescindível que haja um crime que atente violentamente contra um direito
humano previsto em tratado ou convenção de que o Brasil seja parte, além disso, que seja
demonstrada a inefetividade do Juízo estadual (motivo negado pelo STJ, do pedido
formulado pelo PGR para federalizar o processo envolvendo a morte de DOROTHY STANG).

E) CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO (ART. 109, VI)

Serão julgados pela JF se houver ofensa à coletividade de trabalhadores, por exemplo


categoria profissional. Se for direito individual será estadual.

F) CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO OU CONTRA A ORDEM ECONÔMICO –


FINANCEIRA, NOS CASOS DETERMINADOS NA LEI (ART. 109, VI)

36
Art. 11. Para todos os efeitos legais, considera-se que os crimes previstos nesta Lei são praticados contra o interesse
da União, cabendo à Polícia Federal a investigação criminal, em sede de inquérito policial, e à Justiça Federal o seu
processamento e julgamento, nos termos do inciso IV do art. 109 da Constituição Federal .

37
Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida do exterior pela via postal processar e julgar o
crime de tráfico internacional.
15
Imprescindível que a lei ordinária tipifique prevendo a competência do Juízo Federal.

Nesse caso contra o sistema financeiro a lei 7.492/1986 em seu artigo 2638, informa a
competência da JF.

No que se refere aos crimes contra a ordem econômico-financeiro, todavia, à mingua de


regulamentação expressa da matéria, entende-se pela competência da JF, apenas, quando
os crimes forem praticados em detrimento de bens serviços ou interesses da União, suas
autarquias ou empresas públicas, fazendo com que a questão seja tratada, portanto, à luz do
quanto disposto no art. 109, VI, CF

G) COMPETE À JUSTIÇA FEDERAL JULGAR O “HABEAS CORPUS” E MANDADO DE


SEGURANÇA EM MATÉRIA CRIMINAL DE SUA COMPETÊNCIA OU QUANDO O
CONSTRANGIMENTO PROVIER DE AUTORIDADE CUJOS ATOS NÃO ESTEJAM
SUJEITOS A OUTRA JURISDIÇÃO (ART. 109, VII)
H) CRIMES COMETIDOS A BORDO DE AERONAVES OU DE NAVIOS, RESSALVADA A
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR (ART. 109, IX).

Navios são embarcações de grande porte e que estejam aptas a realizar viagens
internacionais.

No que toca às aeronaves, seu porte e autonomia são irrelevantes para se definir a
competência da JF. Além disso, haverá a competência da JF ainda que a aeronave se
encontre em solo.

I) CRIMES DE INGRESSO OU PERMANÊNCIA IRREGULAR DE ESTRANGEIRO (ART.


109, X)

É oportuno lembrar que a conduta de ingressar ou permanecer ilegalmente no país, em si


mesma, não é tipificada pela lei penal, tendo apenas, natureza de infração administrativa.
Apenas serão apreciadas pela JF as infrações penais perpetradas para a obtenção do
ingresso ou permanência irregular na República Federativa do Brasil.

J) DISPUTAS SOBRE DIREITOS INDÍGENAS (ART. 109, XI)

38
Art. 26. A ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será promovida pelo Ministério Público Federal, perante a
Justiça Federal.

16
Demandas criminais que versem sobre direitos indígenas só serão perpetradas pela JF em
havendo afetação da coletividade indígena. Por esta razão, dispõe o enunciado da súmula
14039 STJ.

K) COMPETÊNCIA TERRITORIAL DA JUSTIÇA FEDERAL:

Os crimes federais praticados nas comarcas que não forem sede de Vara Federal serão
julgados pela Justiça Estadual, desde que haja previsão legal expressa neste sentido.
Recursos serão endereçados aos TRF’s. Ocorre que não há previsão legal nesse sentido,
contemplando essa conjectura. Por essa razão, no processo penal, não existe exercício de
jurisdição federal por magistrado estadual.

COMPETÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA –

1- COMPETÊNCIA ABSOLUTA:

De forma simples, é absoluta a hipótese de competência que não admite prorrogação, isto é,
deverá o processo ser remetido ao juiz natural determinado por normas constitucionais ou
legais, sob pena de nulidade.

2- COMPETÊNCIA RELATIVA:

Em síntese, é relativa à hipótese de competência que admite prorrogação, ou seja, se não


invocada a tempo a incompetência relativa, reputar-se- á competente o juízo que está
conduzindo o feito, não se admitindo, depois, nenhuma alegação de nulidade

QUADRO COMPARATIVO:

COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA


Prepondera o interesse público Prepondera o interesse das partes
Não pode ser modificada; é improrrogável Pode ser modificada; é prorrogável
A inobservância gera nulidade absoluta A inobservância gera nulidade relativa

39
Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima.
17
Pode ser arguida a qualquer tempo Deve ser arguida oportunamente
Pode ser reconhecida de ofício pelo juiz Pode ser reconhecida de ofício pelo juiz
Utiliza – se a exceção ou outro meio Utiliza – se a exceção ou outro meio
Ex.: matéria, pessoa e funcional Ex.: território (ratione loci), distribuição,
prevenção; conexão e continência

Teorias territoriais:

Quando analisamos o artigo 7040 do CPPB é possível perceber três teorias territoriais para
determinação da competência ratione loci, é o que se passa a analisar:

1- A primeira é a teoria do resultado (art.70, caput, primeira parte). Através dela, o juiz
territorialmente competente é aquele que exerce funções na comarca em que se
consumar a infração. Essa é a principal regra de determinação da competência territorial.
2- A segunda é a teoria da ação (art. 70 caput, parte final), em que o juiz territorialmente
competente é aquele atuante no local em que realizou o último ato de execução. Essa
teoria é adotada nas seguintes hipóteses:

2.1- IMPO, determinando a competência territorial dos juizados especiais criminais (art.
6341 9.099);

2.2 – Nos crimes tentados, leia-se, não consumados por circunstâncias alheias à vontade
do agente (art. 14, II CP)

40
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de
tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

§ 1o Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será
determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução.

§ 2o Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em
que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado.

§ 3o Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a
infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.

§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), quando
praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado
ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será definida pelo local do
domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção. (Incluído
pela Lei nº 14.155, de 2021)

41
Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal.

18
2.3 – Por disposição jurisprudencial, no homicídio doloso, de acordo com STJ, a
realização do júri no local da ação seria mais adequado para a colheita de provas e para
satisfação à sociedade vitimada pelo delito.

3- A terceira teoria é da UBIQUIDADE, ou teoria híbrida, que abarca tanto o local da ação
quanto o do resultado (§§ 1º e 2º do artigo 70 CPPB). Ela tem aplicação específica aos
crimes a distância, que são os crimes que se iniciam no Brasil e o resultado ocorre no
estrangeiro, ou que a ação se inicia no estrangeiro e o resultado, ainda que parcialmente,
ocorre ou deveria ocorrer no Brasil. Nessas hipóteses, a competência brasileira será
determinada pelo local no território nacional em que projetar a ação ou o resultado.

Importa destacar a seguinte questão complementar: Havendo confusão territorial entre


duas ou mais comarcas, por inexatidão das respectivas divisas, ou quando a infração se
consuma justamente nos limites entre ambas, o primeiro juiz que receber a denúncia ou
que ainda na fase de investigação tomar medidas cautelares referentes ao futuro processo
é o competente, ou seja, firma se á pela prevenção.

Súmulas STJ: 528; 200; 151; 48 (LER EM CASA)

A continuidade delitiva42 é uma ficção delitiva assegurada no código penal. Por ela, se
várias infrações da mesma natureza forem praticadas em circunstâncias similares de
tempo, espaço e modus operandi, as infrações subsequentes serão tidas como
continuidade da primeira, como se fossem uma só (art. 71 43 CPPB). Por essa razão,
havendo continuidade delitiva em que a (s) conduta (s) se estenda (m) por mais de uma
comarca, a competência será fixada pela prevenção.

Por sua vez, havendo crime permanente4445, como a consumação se protrai no tempo,
havendo a extensão por mais de uma comarca, como no sequestro em que o cativeiro
oscila entre diversas cidades até a vítima ser liberada, a competência será definida pela
prevenção.

42
https://jus.com.br/artigos/14457/crime-continuado-distincoes

43
Art. 71. Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições,
a competência firmar-se-á pela prevenção.

44
De antemão, o crime permanente é aquele que sua prática se estica no tempo, isto é, sua prática é prolongada. Um
exemplo de crime permanente é o sequestro e o cárcere privado (art. 148, CP).

45
https://bonafide.digital/blog/crime-continuado-habitual-ou-permanente/
19
Se as teorias territoriais não resolverem a definição da competência, o domicílio ou
residência do réu funcionarão como critério subsidiário46 (actor sequitur forum rei).

O domicílio é o local em que o agente estabelece sua residência com ânimo de


definitividade. Subsidiariamente, engloba o local em que exerce suas ocupações habituais
(a referência de seus negócios), ou o local onde é encontrado. Já a residência é a morada
sem ânimo definitivo.

Não se sabendo o local da consumação do crime, e não havendo domicílio ou residência,


ou sendo ignorado o paradeiro do infrator, a competência é definida pela prevenção. Isto
é: o juiz que primeiro praticar um ato do processo, ou na fase de IP adotar medidas
cautelares.

Situações especiais:

a) Se desconhecido o local da consumação, e tendo o réu mais de um domicílio ou


residência, qualquer deles se prestará para definir a competência territorial,
resolvendo -se pela prevenção.
b) Havendo vários réus com domicílios diversos, a competência também será firmada
pela prevenção;
c) O domicílio da vítima não é legalmente considerado para definir a competência
territorial em matéria criminal, nem mesmo no âmbito da violência doméstica contra
mulher.

A discricionariedade conferida ao querelante conforme preceito do artigo 73 47 CPPB,


não é aplicada à ação provada subsidiária da pública. Nestas, sabendo-se o lugar da
consumação, não há variabilidade. Por sua vez, frise-se que o domicílio da vítima não
é levado em conta para definição da competência territorial.

46
Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do
réu.

§ 1o Se o réu tiver mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela prevenção.

§ 2o Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será competente o juiz que primeiro tomar
conhecimento do fato.

47
Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou da residência
do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.

20
Uma vez definida qual justiça competente (se comum, ou especializada), e o foro
competente (aspecto territorial), será preciso definir o “JUÍZO COMPETENTE”, que
nada mais é do que identificar o órgão que irá apreciar o delito.

Assim, nas comarcas em que há apenas um juiz, este tem competência plena, não
tendo maiores problemas. Entretanto, em locais havendo vários juízes com
competência plena na mesma comarca (juízes igualmente competentes), a definição
resolve-se pela DISTRIBUIÇÃO (art 75 CPPB).

Será possível que a competência entre juízes não seja coincidente, em face do que
dispõe a lei de organização judiciária de cada Estado, especificando-se juízes
competentes para apreciar determinada gama de delitos (competência pela natureza
da infração48). Os crimes dolosos contra a vida, por sua natureza, irão a júri, por
disposição do art. 5º XXXVIII, d, CF.

É uma competência pela natureza da infração estabelecida na própria CF. É também o


que ocorre com as infrações de menor potencial ofensivo – IMPO – (crimes com pena
máxima de até dois anos e contravenções penais), que por sua natureza, vão aos
juizados especiais criminais. (artigo 9849, I, CF c/c art. 6050 9.099/95).

48
Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização judiciária, salvo a
competência privativa do Tribunal do Júri.

§ 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos arts. 121, §§ 1º e 2º, 122, parágrafo
único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal, consumados ou tentados. (Redação dada pela Lei nº 263, de
23.2.1948)

§ 2o Se, iniciado o processo perante um juiz, houver desclassificação para infração da competência de outro, a
este será remetido o processo, salvo se mais graduada for a jurisdição do primeiro, que, em tal caso, terá sua
competência prorrogada.

§ 3o Se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra atribuída à competência de juiz singular, observar-
se-á o disposto no art. 410; mas, se a desclassificação for feita pelo próprio Tribunal do Júri, a seu presidente caberá
proferir a sentença (art. 492, § 2o).

49
Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:

I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o
julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo,
mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento
de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;

50
Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a
conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de
conexão e continência. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006)
21
Situações especiais:

a) DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO: Havendo deflagração do processo perante


determinado juiz, se o delito for desclassificado, opera-se a remessa ao juízo
competente, notadamente se a competência é ratione materiae (absoluta),
inexistindo a possibilidade de prorrogação, típica do critério de competência relativa
(territorial). Todavia, se o juiz onde tramitava o processo é mais graduado, por
disposição do art. 74§ 2º CPPB, não haverá a remessa, operando-se a prorrogação
da competência. Entendemos que tal dispositivo não é aplicável à competência
ratione materiae, pois esta, não admite prorrogação, sob pena de nulidade absoluta
do processo.
b) DESCLASSIFICAÇÃO NO JÚRI: havendo desclassificação ao final da primeira
fase do rito escalonado do júri (judicium acusationis) para crime não doloso contra
a vida, deverá o magistrado promover a remessa ao juízo competente, à disposição
de quem ficará o réu eventualmente preso (art. 419 51 CPPB). Porém, com a
desclassificação no plenário, feita pelo conselho de sentença (jurados), competirá
ao juiz presidente do júri (monocraticamente) proferir decisão, por critério de
economia processual, aplicando a lei ao caso concreto (art. 492 §1º, CPPB 52). Tal
desclassificação pode ser de duas naturezas:

b.1) DESCLASSIFICAÇÃO PRÓPRIA: não há indicação para qual delito ocorreu a


desclassificação

b.2) DESCLASSIFICAÇÃO IMPRÓPRIA: Já é identificada a infração fruto da


respectiva desclassificação.

Se a desclassificação em plenário for para IMPO, deve o juiz presidente aplicar os


artigos 69 e seguintes da lei 9.099/1995, assegurando -se a oferta dos institutos

Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação
das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos danos
civis. (Incluído pela Lei nº 11.313, de 2006)

51
Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso dos referidos
no § 1o do art. 74 deste Código e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja.

52
Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença que:

§ 1o Se houver desclassificação da infração para outra, de competência do juiz singular, ao presidente do Tribunal
do Júri caberá proferir sentença em seguida, aplicando-se, quando o delito resultante da nova tipificação for considerado
pela lei como infração penal de menor potencial ofensivo, o disposto nos arts. 69 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de
setembro de 1995.

22
despenalizadores como a composição civil, transação penal e suspensão
condicional do processo.

Ler em casa: súmulas vinculantes 36 e 45; súmulas do STF: 721, 603, 522, 498,
SÚMULAS DO STJ – 376, 172, 165, 147, 140, 107, 104, 75, 73, 62, 53, 48, 42, 38.

Novo conteúdo aulas 15 e 16/09/2022

No artigo 7653 e seguintes vem preceituando sobre determinação de competência por


conexão.

Conexão é a interligação entre duas ou mais infrações, e por essa razão, devem ser julgadas
em um só processo. São diversas as vantagens da reunião: economia processual, celeridade,
além de evitar decisões contraditórias.

É possível afirmar que a conexão é fator de modificação da competência. O fundamento é


que crimes e / ou criminosos que poderiam ser processados perante juízos distintos, serão
julgados em conjunto, havendo verdadeiro deslocamento para junção em um só feito. São
três as espécies de conexão. Vejamos em que situações elas se apresentam:

A primeira modalidade de conexão é a INTERSUBJETIVA (inc. I), pois exige, além da


ocorrência de duas ou mais infrações, que estas tenham sido praticadas por duas ou mais
pessoas. Por sua vez, a conexão intersubjetiva comporta a seguinte tripartição:

a) CONEXÃO INTERSUBJETIVA POR SIMULTANEIDADE – o vínculo entre as infrações é


estabelecido pela similitude de tempo e de espaço. Ex.: numa passeata na Av. Getúlio
Vargas, os manifestantes, sem prévio acordo, começam a depredar lojas e vias públicas.
O vínculo temporal e espacial permite a oferta da denúncia única, imputando cada crime
ao respectivo responsável;
b) CONEXÃO INTERSUBJETIVA CONCURSAL – O liame subjetivo é decisivo, já que os
agentes estão em concurso, de maneira que o processo é único, abarcando todos os

53
Art. 76. A competência será determinada pela conexão:

I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas
reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as
outras;

II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir
impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;

III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra
infração.

23
delitos praticados. Ex.: integrantes de facção criminosa, previamente combinados,
incendeiam vários ônibus, em bairros e horários distintos, para paralisar uma cidade;
c) CONEXÃO INTERSUBJETIVA POR RECIPROCIDADE – Teremos dois ou mais delitos,
praticados por duas ou mais pessoas, que investem umas contra as outras. Ex.: lesões
corporais recíprocas ocorridas numa briga de rua. Vale ressaltar que a rixa não caracteriza
a conexão intersubjetiva por reciprocidade, já que o delito é único, e a conexão exige ao
menos duas infrações.

A segunda modalidade (inc. II) trata da conexão lógica, teleológica ou finalista. É


perceptível a intenção de lucro ou o objetivo de aproveitar-se da situação. Por esse
motivo, uma infração é praticada para facilitar, ocultar, conseguir impunidade ou vantagem
em relação a outra. Ex.: estuprador que mata a testemunha do delito. Em razão do vínculo
entre os crimes, devem ser julgados em processo único.

A CONEXÃO PROBATÓRIA OU INSTRUMENTAL (inc. III) caracteriza se pela influência


direta que a prova de uma infração (ou de suas circunstancias) exerce na demonstração
de outro delito. Ex.: comprovação do tráfico de drogas antecedente para demonstração da
lavagem de dinheiro subsequente.

Ler sumula 704 STF –

Na continência (art. 7754 CPPB) é decisivo o critério de unicidade que justifica a reunião
do mesmo processo de duas ou mais pessoas que concorreram para realização de delito
único, ou quando duas ou mais infrações são praticadas através de uma conduta
apenas. Desta forma, apresenta-se na seguinte classificação:

a) CONTINÊNCIA POR CUMULAÇÃO SUBJETIVA: Teremos um só delito, praticado por


duas ou mais pessoas, que por essa razão, serão julgados em conjunto (inc. I, art. 77
CPP);
b) CONTINÊNCIA POR CUMULAÇÃO OBJETIVA: existe uma conduta apenas, que
provoca dois ou mais resultados lesivos, configurando concurso formal de delitos, que
serão reunidos em um só processo (inc. II, art. 77, CPP). A referência feita no

54
Art. 77. A competência será determinada pela continência quando:

I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração;

II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1o, 53, segunda parte, e 54 do Código
Penal.

24
dispositivo aos artigos 51,53, e 54 do CP, atualmente corresponde aos artigos 70,73 e
74 CP.

A questão do foro prevalente contida no artigo 78 55 CPPB coloca que é aquele que concentra o
julgamento de todas as infrações e / ou todos os infratores nas hipóteses de conexão e continência.
O julgamento unificado imprime celeridade processual e evita decisões contraditórias, sendo
essencial encontrar qual juiz ou tribunal que será responsável pelo julgamento. Veremos as regras
dadas pelo art. 78 CPPB.

a) JUSTIÇA ESPECIAL (militar ou eleitora) X JUSTIÇA COMUM (estadual ou federal)

Havendo conexão entre crime de competência da justiça especializada e outro de


competência da comum, prevalecerá a primeira, que apreciará todas as infrações (art. 78,
inc., IV, CPP).

Entretanto é necessário destacar algumas peculiaridades:

A1) existindo conexão entre crime militar e infração que compete a qualquer outra
justiça, a separação de processos é obrigatória, pois a justiça militar tem atribuição restrita
para julgar as infrações desta natureza (art. 9º e 10º do CPM). Importante destacar os
seguintes entendimentos consolidados nas súmulas do STJ.

Ler súmulas: 6, 53, 75, 78, 90 STJ.

A2) Se crime federal é conexo com outro estadual, ambos serão julgados na justiça federal,
de acordo com enunciado da súmula 122 STJ.

55
Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes
regras:

I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do
júri;

Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria:

a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave;

b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas penas forem de
igual gravidade;

c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos;

III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação;

IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.

25
A3) Havendo conexão entre infração eleitoral e outra comum, estadual ou federal, é
necessário fazer a seguinte distinção: sendo a infração comum estadual, reuniremos o feito
na justiça eleitoral. Todavia, sendo a infração comum federal, para que sejam respeitadas as
regras de fixação de competência constitucional, impõe-se a separação de processos.

Caso ocorra a atração por continência, por ter unidade de conduta, de forma que a reunião
de processos pela continência passa a ser obrigatória, para o fim de preservar a unidade de
jurisdição, de modo a impedir decisões judiciais conflitantes sobre um processo de mesmo
comportamento.

B) JÚRI X JURISDIÇÃO COMUM:

O JÚRI tem competência mínima para apreciar os crimes dolosos contra a vida. Desta forma, se o
crime doloso contra a vida é conexo com infração de outra natureza, também pertence à justiça
comum, ambos irão à júri (art. 78, I CPP). Importante destacar:

1- A conexão entre crime doloso contra a vida e crime de competência da justiça militar ou
eleitoral ocasiona a separação obrigatória de processos;
2- Se o crime doloso contra a vida é conexo com crime comum federal, ambos irão a júri, a ser
realizado na justiça federal.

C) JURISDIÇÃO DE MAIOR HIERAQUIA X JURISDIÇAO DE MENOR HIERARQUIA

Havendo concorrência entre órgãos de hierarquia distinta, prevalecerá o mais graduado (art. 78, III
CPPB). A regra ganha destaque quando a infração envolve autoridade que goze de foro por
prerrogativa de função, permitindo – se que o cidadão comum seja julgado originariamente perante o
tribunal em que seu comparsa desfruta da prerrogativa. Ex.: Deputado Federal envolvido em
lavagem de dinheiro juntamente com empresário do ramo automobilístico (continência por
cumulação subjetiva). Ambos serão julgados no STF, que é o órgão originariamente competente
para julgar o Deputado Federal, e que por consequência, também julgará o empresário. Importa
salientar que:

1- De acordo com STF, a atração dos demais comparsas ao tribunal mais graduado não ofende
ao princípio do juiz natural, da ampla defesa ou do devido processo legal, sendo uma
decorrência lógica as regras de conexão e / ou continência (súmula 704 STF). Na ação penal
470 “mensalão” teve de certa maneira uma mitigação as autoridades com foro por
prerrogativa foram perante o Tribunal, ao passo que as pessoas comuns acompanharam a
persecução penal se desenvolver no juízo de 1º grau, com a separação facultativa de
processos.

26
2- Se o crime praticado é doloso contra a vida, a doutrina majoritária entende que a autoridade
que goza de foro por prerrogativa previsto na CF será julgada no respectivo tribunal de
origem, ao passo que o comparsa que não possui foro funcional será levado à júri, por força
do art. 5º XXXVIII CF, operando a separação obrigatória.

D) JURISDIÇÕES DE HIERARQUIA SIMILAR CONCORRENDO

É possível que o conflito se estabeleça entre juízes ou entre tribunais de mesma hierarquia. Ex.:
conexão entre roubo consumado na Bahia e receptação consumada em BH, inaugurando
concorrência entre juízo estadual baiano e mineiro. Esse conflito será resolvido da seguinte
forma (art. 78, II).

1- Prevalecerá o órgão competente para julgar o crime mais grave (pena privativa de liberdade
em abstrato). No exemplo acima o juízo baiano prevalece, e julgará não só o roubo, como
também a receptação;
2- Se as infrações possuem a mesma gravidade, prevalecerá o órgão atuante no local da
consumação do maior número de delitos.
3- Por sua vez, se os crimes envolvidos possuem a mesma gravidade e são em igual número
por comarca, a prevalência será definida pela prevenção.

Ver súmulas – STJ – 122; 90; 78; 75; 53; 6

A reunião processual (art. 7956 CPPB) em razão das regras de conexão e ou continência
celeridade processual, e evita a subsistência de decisões contraditórias. Todavia, tais regras,
instituídas no CPPB (arts. 76 e 77) não podem desconsiderar a competência estabelecida na
CF. Por outro lado, nem sempre a reunião trará vantagens almejadas pelo julgador, de sorte
que existem situações em que a separação processual é imposta pela lei. Vejamos:

56
Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo:

I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;

II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.

§ 1o Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum co-réu, sobrevier o caso previsto
no art. 152.

§ 2o A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver co-réu foragido que não possa ser julgado à
revelia, ou ocorrer a hipótese do art. 461.

27
a) Jurisdição comum concorrendo com a militar: como a Justiça Militar tem competência
restrita para apreciação das infrações militares (art. 12457 CF), na conexão entre crime
comum e militar, impõem-se a separação dos processos. Por sua vez, se um militar e um
civil praticam delito militar (continência por cumulação subjetiva), teremos

a.1) se o crime é da alçada da Justiça Militar Federal, teremos processo único, pois a
justiça castrense federal julga civil que incorra em delito militar.

a.2) sendo crime militar estadual, resta separação obrigatória de processos, pois a Justiça
Militar estadual não julga civil (súmula 53 STJ)

b) Jurisdição comum concorrendo com a Justiça da Infância e da Juventude: como


o menor de 18 anos é absolutamente inimputável (art. 228 CF), no concurso com maior de
idade, impõe-se a separação, já que o menor é passível das medidas socioeducativas
estabelecidas no ECA (art. 104, 8069/1990).

c) Superveniência de doença mental: se a inimputabilidade sobrevém durante a


persecução penal, para aquele que a época do delito era imputável o processo será
suspenso, aguardando que o infrator recobre a sanidade, pois só assim poderá exercitar,
efetivamente, o contraditório e ampla defesa. O processo, quanto aos demais réus,
seguirá o curso regular, promovendo-se a separação incidental. Já se a inimputabilidade
existia desde a prática do delito, não haverá desmembramento, seguindo-se com
processo único, pois ao doente mental deve ser aplicada medida e segurança.

d) Revelia: o fato de haver revelia de um dos réus não importa na separação de


processos. É que, havendo citação pessoal ou por hora certa, o processo seguirá com a
nomeação do defensor dativo. Entretanto, se um dos réus for citado por edital e não
comparecer para defender-se respondendo aos termos da acusação, o processo será
suspenso, assim como o prazo prescricional, todavia prosseguindo com os demais
delinquentes (art. 36658, CPP).

No júri, sendo o crime inafiançável, o réu obrigatoriamente seria intimado pessoalmente da


pronúncia, e o processo não prosseguiria enquanto o ato não fosse cumprido. No júri

57
Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.

Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar.

58
Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o
curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se
for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.
28
portanto o não comparecimento de um dos corréus à sessão plenária de julgamento
poderá trazer consequências distintas, vejamos:

D1) se o réu ausente estava solto, será julgado à revelia, mantendo – se a unidade
processual

D2) se o corréu preso não foi conduzido pela autoridade, julgamento quanto a ele será
adiado, se for conveniente julgar o réu presente, em consequente desmembramento
processual. Réu preso pode pedir ausência do julgamento (art. 45759, §2º CPPB).

E) Recusa dos Jurados: conforme artigo 469 60§1º CPPB

Item novo -06/10/2022

Facultativamente, por deliberação devidamente motivada por decisão judicial, pode


desmembramento, nas seguintes situações:

A) INFRAÇÕES PRATICADAS EM CIRCUNSTÂNCIAS TEMPORAIS E ESPACIAIS


DISTINTAS: pois pode trazer inconvenientes inclusive na colheita probatória, assim o juiz
deve analisar tais circunstâncias decidindo o que é melhor para a condução do processo.
B) EXCESSIVO NÚMERO DE RÉUS COM SITUAÇÃO PRISIONAL DIVERSA: Para evitar
dilações indevidas na duração da prisão cautelar, o que pode levar ao relaxamento da prisão,
faculta-se o desmembramento, instruindo separadamente os processos entre réus presos e
soltos.
C) DEMAIS SITUAÇÕES RELEVANTES: utilizando de interpretação analógica, admite o
legislador que em outras situações possa o juiz desmembrar.

COMPETENCIA PELA PRERROGATIVA DE FUNÇÃO61:

59
Art. 457. O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado solto, do assistente ou do
advogado do querelante, que tiver sido regularmente intimado.

§ 2o Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será adiado para o primeiro dia desimpedido da mesma
reunião, salvo se houver pedido de dispensa de comparecimento subscrito por ele e seu defensor.

60
Art. 469. Se forem 2 (dois) ou mais os acusados, as recusas poderão ser feitas por um só defensor.

§ 1o A separação dos julgamentos somente ocorrerá se, em razão das recusas, não for obtido o número mínimo
de 7 (sete) jurados para compor o Conselho de Sentença.

61
Art. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça,
dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, relativamente às pessoas que
devam responder perante eles por crimes comuns e de responsabilidade.
29
Foro por prerrogativa de função, também chamado de foro privilegiado é o estabelecido em razão da
importância do papel desempenhado por determinada autoridade. Em regra, é fixado pela
Constituição Federal e Constituição Estadual. É a consagração da competência material ratione
personae (art. 69 CPPB).

Em consonância com a CF/88, podemos apreciar a competência dos Tribunais para o julgamento de
autoridades públicas, de acordo com o Poder ao qual se vincula, da seguinte forma:

a) SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (ART. 102, CF/88);


b) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (ART. 105, CF/88);
c) TRIBUNAIS DE JUSTIÇA;
d) TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS (ART. 108 CF/88)

A importância do foro por prerrogativa de função é tão grande que ele excepciona a
competência do tribunal do júri, para o processamento e julgamento dos crimes dolosos
contra a vida. Portanto, se um prefeito praticar um homicídio, no curso do seu mandato
eletivo, deverá ser julgado pelo Tribunal de Justiça de seu Estado e não pelo tribunal do júri
(mas e a nova delimitação do STF quanto as delimitações do foro por prerrogativa??
Barroso). Cuidado com súmula 72162 STF no mesmo sentido súmula vinculante 45, por
exemplo para vice-governador.

A exceção da verdade63 é instrumento de defesa do qual pode se valer o réu, previsto


expressamente no código penal para os crimes de calúnia (art. 138, §3º CP 64) e de
difamação, quando praticado em detrimento de funcionário público em razão de suas funções
(art. 139 p único65). Quando oposta à exceção da verdade, se o querelante tiver foro por

62
A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido
exclusivamente pela constituição estadual.

63
Art. 85. Nos processos por crime contra a honra, em que forem querelantes as pessoas que a Constituição sujeita à
jurisdição do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelação, àquele ou a estes caberá o julgamento, quando
oposta e admitida a exceção da verdade.

64
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:

Exceção da verdade

§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:

I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;

II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141;

III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
30
prerrogativa de função, o processo deve ser remetido para o Tribunal respectivo, pois a ele
compete o julgamento desta exceção.

A razão é simples: quando oposta, a situação se inverte, pois agora, paira dúvida sobre a
autoridade (que supostamente era vítima), se ela praticou ou não o ato que lhe foi atribuído.

QUADRO SINÓPTICO DE COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO:

FUNÇÃO ESPÉCIE DE INFRAÇÃO ÓRGÃO JURISDICIONAL


COMPETENTE
PRESIDENTE DA 1- CRIME COMUM 1- STF (CF ART. 102,
REPÚBLICA 2- CRIME DE I, B)
RESPONSABILIDADE 2- SENADO
FEDERAL – (ART.
52, I)

VICE - PRESIDENTE 1- CRIME COMUM 1- STF (CF ART. 102,


2- CRIME DE I, B)
RESPONSABILIDADE 2- SENADO FEDERAL
– (ART. 52, I)

DEPUTADOS FEDERAIS 1- CRIME COMUM 1- STF – (CF, ART.


E SENADORES 2- CRIME DE 102, I, b)
RESPONSABILIDADE 2- RESPECTIVA
CASA
LEGISLATIVA

MINISTROS DO STF 1- CRIME COMUM 1- STF (CF, art. 102, I,


2- CRIME DE B)
RESPONSABILIDADE 2- SENADO
FEDERAL (CF, art.

65
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Exceção da verdade

Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa
ao exercício de suas funções.

31
52, II)

PROCURADOR GERAL 1- CRIME COMUM 1- STF – (CF, art. 102,


DA REPÚBLICA 2- CRIME DE I, b)
RESPONSABILIDADE 2- SENADO
FEDERAL (CF, art.
52, II)

MEMBROS DO CNJ / 1- CRIME COMUM 1- DEPENDE DO


CNMP 2- CRIME DE CARGO DE
RESPONSABILIDADE ORIGEM
2- SENADO
FEDERAL (CF, art.
52, II)

MINISTROS DE ESTADO / 1- CRIME COMUM 1- STF (CF, art. 102, I,


COMANDANTES DA 2- CRIMES DE c)
MARINHA, EXÉRCITO E RESPONSABILIDADE 2- STF (CF, art. 102, I,
AERONÁUTICA 3- CRIME DE c)
RESPONSABILIDADE 3- Senado Federal
CONEXO COM (CF, art. 52, I)
PRESIDENTE

ADVOGADO GERAL DA 1- CRIME COMUM 1- STF (CF, art. 102, I,


UNIÃO 2- CRIME DE b)
RESPONSABILIDADE 2- SENADO (CF, art.
52, II)

MEMBROS DOS CRIME COMUM / CRIME STF (CF, art. 102, I, C)


TRIBUNAIS SUPERIORES DE
(STJ, TSE, STM, TST), RESPONSABILIDADE
TRIBUNAL DE CONTAS
DA UNIÃO / CHEFES DE
MISSÃO DIPLOMÁTICA
DE CARÁTER
PERMANENTE
GOVERNADOR DE 1- CRIME COMUM 1- STJ (CF, art. 105, I,
ESTADO 2- CRIME DE a)
RESPONSABILIDAD
32
E 2- Tribunal Especial
(lei 1079/50, art. 78)

VICE - GOVERNADOR CRIME COMUM / DE DEPENDE DA


RESPONSABILIDADE CONSTITUIÇÃO
ESTADUAL (EM REGRA
TJ)
DESEMBARGADORES CRIME COMUM / DE STJ (CF, art. 105, I a)
DOS TRIBUNAIS DE RESPONSABILIDADE
JUSTIÇA
DESEMBARGADORES CRIME COMUM / DE STJ (CF, art. 105, I, a)
FEDERAIS (MEMBROS RESPONSABILIDADE
DOS TRF’S), MEMBROS
DOS TRE / TRT
MEMBROS DOS CRIME COMUM/ DE STJ (CF, art. 105 I, a)
TRIBUNAIS DE CONTAS RESPONSABILIDADE
DOS ESTADOS, DF, /
CONSELHOS OU
TRIBUNAIS DE CONTAS
DOS MUNICÍPIOS
MEMBROS DO MPU (que CRIME COMUM / DE STJ (CF, art. 105, I a)
oficiam perante tribunais) RESPONSABILIDADE
DEPUTADOS ESTADUAIS 1- CRIME COMUM 1- DEPENDE DA
2- CRIME DE CONST ESTADUAL
RESPONSABILIDADE (REGRA TJ)
3- CRIME FEDERAL 2- ASSEMBLEIA
4- CRIME ELEITORAL LEGISLATIVA
3- TRF
4- TRE

JUÍZES FEDERAIS, 1- CRIME COMUM / DE 1- TRF (CF, art. 108, I,


INCLUÍDOS OS DA RESPONSABILIDADE a)
JUSTIÇA MILITAR E DA 2- CRIME ELEITORAL 2- TRE
JUSTIÇA DO TRABALHO

33
MEMBROS DO MPU 1- CRIME COMUM / DE 1- TRF (CF, art. 108, I,
(MPM, MPT, MPDFT, MPF) RESPONSABILIDADE a)
QUE ATUAM NA 1º 2- CRIME ELEITORAL 2- TRE
INSTANCIA
JUÍZES ESTADUAIS, DF 1- CRIME COMUM / DE 1- TJ (CF, art. 96, III)
(inclusive Juízes de RESPONSABILIDADE 2- TRE
Direito do Juízo Militar e 2- CRIME ELEITORAL
membros dos Tribunais
de Justiça Militar)
PROCURADOR GERAL 1- CRIME COMUM 1- TJ (CF, art. 96. III)
DE JUSTIÇA 2- CRIME DE 2- Poder Legislativo
RESPONSABILIDADE Estadual ou DF
3- CRIME DE (CF, art. 128 §4º)
RESPONSABILIDADE 3- TRIBUNAL
CONEXO COM ESPECIAL
GOVERNADOR DE 4- TRE
ESTADO
4- CRIME ELEITORAL

MEMBROS DO MP 1- CRIME COMUM / DE 1- TJ (CF, art. 96, III)


(PROMOTORES E RESPONSABILIDADE 2- TRE
PROCURADORES DE 2- CRIME ELEITORAL
JUSTIÇA)
PREFEITOS 1- CRIME COMUM 1- TJ (CF, art. 29 X)
2- CRIME DE 2- CÂMARA DE
RESPONSABILIDADE VEREADORES
3- CRIME FEDERAL (CF, art. 31)
4- CRIME ELEITORAL 3- TRF
4- TRE

Exercícios de fixação antes da prova (14/10/2022):

No dia 04 de outubro de 2020, João foi vítima do crime de lesão corporal grave, tendo sido Mário o
autor do mencionado crime. Após a investigação, os elementos de informação foram remetidos para o
Ministério Público, o qual ofereceu denúncia em desfavor de Mário pela prática do crime de lesão
corporal grave. Mario não foi beneficiado com a proposta de suspensão condicional do processo, uma
vez que não preenchia os requisitos legais estabelecidos no art. 89, da Lei nº. 9.099/1995. Durante a
tramitação da ação penal, foi confirmado que Mario se encontrava no exercício do trabalho que lhe
competia quando praticou o crime, fato inclusive declarado pelo réu no interrogatório. Ao final da
instrução criminal, Mario veio a ser condenado pela prática do crime de lesão corporal grave, sendo-
lhe aplicada a pena privativa de liberdade de 04 (quatro) anos de reclusão. Não houve a fixação de
34
valor mínimo para a reparação dos danos causados pelo crime, tendo em vista que as partes não
provocaram o juízo processante neste sentido. As partes não interpuseram recurso, razão pela qual,
foi certificado o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Levando em consideração as
informações apresentadas, assinale a alternativa correta acerca da ação civil ex delicto:

Alternativas
A João não poderia ajuizar ação civil de reparação de danos antes do trânsito em julgado da sentença penal
condenatória, uma vez que inexiste previsão legal para o ajuizamento de ação civil de conhecimento
objetivando o ressarcimento dos danos sofridos, quando existe ação penal em tramitação.
B A sentença penal condenatória transitada em julgado não torna certa a obrigação de Mario indenizar João
em virtude do dano causado pelo crime.
C Se o magistrado tivesse reconhecido que Mario agiu amparado pela causa excludente de ilicitude do
estado de necessidade defensivo, a sentença penal absolutória não faria coisa julgada na esfera cível.
D A declaração por sentença da prescrição da pretensão executória impossibilita o ajuizamento da ação
civil ex delicto que tem a sentença penal condenatória irrecorrível como título executivo.
E O empregador (responsável civil) de Mário não possui legitimidade passiva para a execução ex delicto.

GAB E - A) João não poderia ajuizar ação civil de reparação de danos antes do trânsito em julgado da
sentença penal condenatória, uma vez que inexiste previsão legal para o ajuizamento de ação civil de
conhecimento objetivando o ressarcimento dos danos sofridos, quando existe ação penal em
tramitação.

ERRADO: é possível conforme o art. 64. De acordo com este artigo, a ação para ressarcimento do dano
poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil. É a
denominada ação civil ex delicto (que é diferente da execução ex delicto).

B) A sentença penal condenatória transitada em julgado não torna certa a obrigação de Mario
indenizar João em virtude do dano causado pelo crime.

ERRADO: torna certa sim. Além do art. 63, tem-se o art. 515, V, do CPC. Apesar de, no caso, o Juiz não ter
determinado o valor mínimo da lesão, há, sim, uma certeza quanto à obrigação, ou seja, existe a obrigação
(an debeatur) apesar de não se ter o quanto se deve (quantum debeatur).

C) Se o magistrado tivesse reconhecido que Mario agiu amparado pela causa excludente de ilicitude
do estado de necessidade defensivo, a sentença penal absolutória não faria coisa julgada na esfera
cível.

ERRADO: o estado de necessidade defensivo faz coisa julgada no cível. É diferente do estado de
necessidade agressivo (aquele que atinge terceiros que nada tenham a ver com o ato que ocasionou o
estado de necessidade), neste a sentença não faz coisa julgada no cível (o terceiro, que é prejudicado, não
figura no processo penal, logo, ele pode buscar a reparação).

D) A declaração por sentença da prescrição da pretensão executória impossibilita o ajuizamento da


ação civil ex delicto que tem a sentença penal condenatória irrecorrível como título executivo.

ERRADO: a prescrição é causa de extinção da punibilidade, somente operando efeitos na esfera penal e
processual penal, para fins cíveis não interfere no dever de reparação do dano. (art. 67, II, do CPP: Art.
67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil: II - a decisão que julgar extinta a punibilidade)

E) O empregador (responsável civil) de Mário não possui legitimidade passiva para a execução ex
delicto.

CERTO! Conforme o art. 64, reproduzido na letra A acima, será cabível a ação civil de reparação decorrente
do ilícito penal em face do responsável cível.

Assinale a alternativa CORRETA. Impede o ajuizamento da ação civil para reparação do dano causado
por crime:
Alternativas
35
A O acórdão que reconhece a inexistência material do fato.
B O despacho de arquivamento do inquérito policial.
C A decisão que julga extinta a punibilidade.
D A sentença que decide que o fato não constitui crime.

GAB – A Art. 386, I, CPP: "O juiz absolvirá o réu (...) desde que reconheça estar provada a inexistência do
fato.

"Se ficar demonstrado categoricamente a inexistência do fato, não há de se falar em responsabilidade penal,
logo a absolvição é obrigatória, mas também estará ilidida a responsabilidade civil, afinal, se a infração
inexistiu, não houve dano (art. 66. CPP).

A absolvição com este fundamento tranca as portas da esfera cível, fazendo coisa julgada".

(Nestor Távora, Curso de Direito Processual Penal, 2012, pg. 234).

PP / Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta
quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato.

Impede a propositura de ação civil indenizatória a decisão penal que


Alternativas
A arquivar o inquérito policial.
B julgar extinta a punibilidade do agente.
C reconhecer a inexistência material do fato.
D absolver o réu em razão de o fato imputado não constituir crime
E absolver o réu em razão de não existir prova suficiente para sua condenação.

Gabarito: C! Artigos do CPP:

[CPP] Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta
quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato.

Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil:

[LETRA A] I - o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação;

[LETRA B] II - a decisão que julgar extinta a punibilidade;

[LETRA D] III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime.

[LETRA E] "Revelaram Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar (Curso de Direito Processual Penal, 7a
edição, pág. 751) que “quando a absolvição ocorrer em face de insuficiência de provas(não haver proca da
existência do fato ou não existir prova suficiente para a condenação” ou de atipicidade(não constituir o fato
infração penal), o resultado no âmbito criminal não faz coisa julgada na esfera civil e administrativa. Para que
haja condenação criminal é necessário que se tenha juízo de certeza, em grau distinto do que se dá nas
demais esferas. Desse modo, em caso de se verificar julgamento que se lastreou em hipótese que se
assimile à insuficiência de provas ou à inexistência de provas, não ficam o Estado ou o ofendido impedidos
de recorrerem às vias cíveis”. (Fonte: https://jus.com.br/artigos/70374/absolvicao-por-falta-de-provas).

Questão duplicada, igual à questão no Q1120094.

Se algum colega encontrar algum erro no meu comentário, por favor, avisem por mensagem para que eu
corrija ou apague, para evitar prejudicar os demais colegas. Obrigada e bons estudos.

36
Márcia, domiciliada na cidade de Caruaru, foi vítima de estelionato mediante transferência de valores
em agência de banco privado do município de Maceió, estado de Alagoas. Concluído o inquérito
policial e havendo justa causa para a ação penal, a denúncia deverá ser oferecida pelo Órgão do
Ministério Público
Alternativas
A estadual de Caruaru.
B que recebeu a representação da vítima.
C estadual de Maceió.
D federal de Caruaru.
E federal de Maceió.

Resposta letra (a ) - De acordo com a nova redação 70 § 4 º CPP:

 § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão
de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de
valores, a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de
vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)

A., residente em Xapuri-AC, praticou injúria contra B., residente em Cruzeiro do Sul – AC, local em
que tomou conhecimento das ofensas, que ocorreram por via de aplicativo de mensagens diretas da
Internet. O servidor de Internet de ambos está sediado na capital do estado, Rio Branco, e, conforme
apurado, a mensagem foi enviada diretamente, não tendo sido feita por nenhum meio de divulgação
pública.
Nesse caso, a competência para julgar o ato delituoso será a justiça
Alternativas
A federal, em Cruzeiro do Sul – AC.
B federal, em Rio Branco – AC.
C estadual, em Xapuri – AC.
D estadual, em Cruzeiro do Sul – AC.
E estadual, em Rio Branco – AC.
Gabarito: Letra D, em Cruzeiro do Sul/AC.

O crime de injúria praticado pela internet por mensagens privadas, as quais somente o autor e o
destinatário têm acesso ao seu conteúdo, consuma-se no local em que a vítima tomou conhecimento
do conteúdo ofensivo. STJ. 3ª Seção. CC 184.269-PB, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 09/02/2022 (Info
724).

 INJÚRIA POR MEIO DE PUBLICAÇÃO PÚBLICA NA INTERNET --> Competente o juízo do


LOCAL DE ONDE PARTIRAM as mensagens injuriosas. (RHC 77.692/BA, 5ª Turma do STJ, j.
10/10/2017).

 INJÚRIA POR MEIO DE MENSAGEM ENVIADA EM CHAT PRIVADO NA INTERNET - Competente


o juízo do LOCAL ONDE A VÍTIMA TOMOU CONHECIMENTO das mensagens injuriosas. STJ. 3ª
Seção. CC 184.269-PB, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 09/02/2022 (Info 724).

Obs: Competência da Justiça Federal: A competência somente seria da Justiça Federal se o crime
tivesse ofendido bens, serviços ou interesses da União ou esteja previsto em tratado ou convenção
internacional em que o Brasil se comprometeu a combater, como por exemplo, mensagens que veiculassem
pornografia infantil, racismo, xenofobia, dentre outros, conforme preceitua o art. 109, incisos IV e V, da
Constituição Federal.
37
Considerando os dispositivos legais e constitucionais que regem o processo penal e a jurisprudência
atualizada dos Tribunais Superiores, as afirmativas a seguir estão corretas, à exceção de uma.
Assinale-a.
Alternativas
A Compete aos tribunais de justiça estaduais processar e julgar os delitos comuns, apenas os relacionados
com o cargo, praticados por Promotores de Justiça.
B É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à
representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra do servidor público em razão do
exercício de suas funções.
C Segundo o Código de Processo Penal, a lei processual penal admite interpretação extensiva e aplicação
analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais do direito.
D Considere que um crime de estupro fora praticado a bordo de uma embarcação mercantil brasileira
fundeada no porto Mudra, na Índia. Mesmo sendo o autor do delito e a vítima de nacionalidade brasileira, não
será aplicada a lei processual penal do Brasil por se considerar, no caso, que o delito fora cometido em solo
estrangeiro.

GABARITO LETRA A

(A) INCORRETA Compete aos tribunais de justiça estaduais processar e julgar os delitos comuns, não
relacionados com o cargo, em tese praticados por Promotores de Justiça. STJ. 3ª Seção. CC 177.100-CE,
Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 08/09/2021 (Info 708).

(B) CORRETA. STF Súmula nº 714: É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do
Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de
servidor público em razão do exercício de suas funções.

(C) CORRETA CPP - Art. 3 o A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica,
bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.

(D) CORRETA A situação narrada não se enquadra nas hipóteses de extraterritorialidade do art. 89 do CPP,
pois, embora se trate de embarcação nacional, ela está situada em solo estrangeiro, e não em alto-mar ou em
solo brasileiro. Assim, a jurisdição brasileira não tem competência neste caso. CPP - Art. 89. Os crimes
cometidos em qualquer embarcação nas águas territoriais da República, ou nos rios e lagos fronteiriços, bem
como a bordo de embarcações nacionais, em alto-mar, serão processados e julgados pela justiça do primeiro
porto brasileiro em que tocar a embarcação, após o crime, ou, quando se afastar do País, pela do último em
que houver tocado.

A Corte Especial do STJ, no julgamento da QO na APN 878/DF reconheceu sua competência para julgar
Desembargadores acusados da prática de crimes com ou sem relação ao cargo, não identificando simetria
com o precedente do STF. Naquela oportunidade, firmou-se a compreensão de que se Desembargadores
fossem julgados por Juízo de Primeiro Grau vinculado ao Tribunal ao qual ambos pertencem, criar-se-ia, em
alguma medida, um embaraço ao Juiz de carreira responsável pelo julgamento do feito. Em resumo, o STJ
apontou discrímen relativamente aos magistrados para manter interpretação ampla quanto ao foro por
prerrogativa de função, aplicável para crimes com ou sem relação com o cargo , com fundamento na
necessidade de o julgador desempenhar suas atividades judicantes de forma imparcial.

Nesse contexto, considerando que a previsão da prerrogativa de foro da Magistratura e do Ministério


Público encontra-se descrita no mesmo dispositivo constitucional (art. 96, III, da CF/88), seria
desarrazoado conferir-lhes tratamento diferenciado. STJ. 3ª Seção. CC 177.100-CE, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 08/09/2021 (Info 708).

Art. 96, III, CF: III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e
Territórios, bem como os membros do Ministério Público , nos crimes comuns e de responsabilidade,
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.

38
Info 708: compete aos tribunais de justiça estaduais processar e julgar os delitos comuns, NÃO
relacionados com o cargo, em tese praticados por promotores de Justiça

Uma pessoa foi sequestrada no estado do Tocantins, onde ela residia, e levada até a Bolívia presa
dentro do porta-malas de um carro. Durante o trajeto, a vítima começou a sofrer as primeiras lesões
corporais, o que durou até quando saíram do território nacional, passando pelo estado do Mato
Grosso, e entraram na Bolívia, onde a vítima morreu. O corpo foi encontrado e a perícia comprovou
que as múltiplas lesões corporais sofridas ao longo do trajeto foram a causa da morte.

Considerando-se essa situação hipotética, é correto afirmar que, de acordo com as regras da
legislação processual penal brasileira, a competência pelo lugar da infração será

Alternativas
A da Bolívia, visto que foi o local onde se deu a consumação do crime.
B do Tocantins, visto que foi onde começou a execução do crime.
C do Tocantins, visto que é o local onde a vítima residia.
D da Bolívia, visto que foi o local onde o corpo foi encontrado.
E do Mato Grosso, visto que foi o local onde foi praticado o último ato de execução do crime no Brasil.

GAB E

CPP, Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no
caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

§ 1 Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência
será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução.

Segundo orientação firmada pelo Supremo Tribunal Federal, no caso de situações envolvendo
agentes com prerrogativa de foro e outros agentes:
Alternativas
A se derivadas de serendipidade de primeiro grau, é possível a separação em primeira instância, com
encaminhamento apenas dos detentores de foro para a competência originária;
B se derivadas de encontro fortuito de prova de segundo grau, devem ser encaminhadas na sua integralidade
à competência originária, que decidirá sobre a cisão;
C a cisão do processo pode ser deliberada pelo juízo de primeiro grau, ad referendum do tribunal
competente, que detém a palavra final sobre a competência;
D a determinação do desmembramento é orientada pela discricionariedade do tribunal competente, bem
como pela quantidade de agentes imputados;
E quando a cisão por si só implique prejuízo ao seu esclarecimento, não é facultado o desmembramento do
processo.

Letra "E" - CORRETA.

Cabe apenas ao próprio tribunal ao qual toca o foro por prerrogativa de função promover, sempre que
possível, o desmembramento de inquérito e peças de investigação correspondentes, para manter sob sua
jurisdição, em regra, apenas o que envolva autoridade com prerrogativa de foro, segundo as circunstâncias
de cada caso (INQ 3.515 AgR, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, DJe de
14.3.2014), RESSALVADAS as situações em que os fatos se revelem de tal forma imbricados que
a cisão por si só implique prejuízo a seu esclarecimento (AP 853, Rel. Min. ROSA WEBER, DJe de
22.5.2014).

Serendipidade é o encontro fortuito de provas, ela pode ser de primeiro ou de segundo grau.

39
1) Serendipidade de primeiro grau: os encontros fortuitos de provas são de fatos conexos ou continentes com
os fatos objeto da investigação, razão pela qual a prova produzida pode ser valorada pelo juiz.

2) Serendipidade de segundo grau: os encontros fortuitos de provas não são conexos ou não existe
continência com os fatos objeto investigação, de modo que a prova produzida vale como “notitia criminis”.

NOVO CONTEÚDO 27/10

DAS QUESTÕES E PROCESSOS INCIDENTES:

Questões prejudiciais são matérias ligadas ao mérito da causa, e que devem ser resolvidas
antecipadamente para que o juiz possa apreciar o fato principal imputado ao réu. Seria um
antecedente lógico jurídico do qual depende a própria existência do delito.

Se diferencia das preliminares, afinal estas tratam de matéria processual. Já as prejudiciais podem
ou não ser apreciadas pelo juiz criminal.

Podem ser HOMOGÊNEA (Comuns ou Imperfeitas – que versam sobre matéria do mesmo ramo do
direito, por exemplo exceção da verdade nos crimes de calunia), ou HETEROGENEA (jurisdicional
ou perfeita - crime de bigamia).

Também podem ser obrigatórias (art. 9266 CPPB), sendo séria e fundada impõe a suspensão do
processo criminal. Na facultativa, fica ao arbítrio judicial, (art. 9367 CPPB).

Ademais podem ser devolutivas em que a prejudicial será resolvida na esfera extrapenal, ou seja,
devolve-se a matéria para discussão na esfera cível. (art. 92 CPPB). Nesse caso pode ter oitiva de
urgência, na esfera penal enquanto o processo se resolve na esfera cível.

A suspensão do art. 92 é obrigatória, enquanto a do art. 93 é facultativa.

66
Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o juiz repute séria
e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a
controvérsia dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição das testemunhas e de
outras provas de natureza urgente.

Parágrafo único. Se for o crime de ação pública, o Ministério Público, quando necessário, promoverá a ação civil
ou prosseguirá na que tiver sido iniciada, com a citação dos interessados.

67
Art. 93. Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão sobre questão diversa da
prevista no artigo anterior, da competência do juízo cível, e se neste houver sido proposta ação para resolvê-la, o juiz
criminal poderá, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja prova a lei civil limite,
suspender o curso do processo, após a inquirição das testemunhas e realização das outras provas de natureza urgente.

§ 1o O juiz marcará o prazo da suspensão, que poderá ser razoavelmente prorrogado, se a demora não for
imputável à parte. Expirado o prazo, sem que o juiz cível tenha proferido decisão, o juiz criminal fará prosseguir o
processo, retomando sua competência para resolver, de fato e de direito, toda a matéria da acusação ou da defesa.

§ 2o Do despacho que denegar a suspensão não caberá recurso.

§ 3o Suspenso o processo, e tratando-se de crime de ação pública, incumbirá ao Ministério Público intervir
imediatamente na causa cível, para o fim de promover-lhe o rápido andamento.
40
DAS EXCEÇÕES:

É o próprio direito processual de defesa, uma maneira indireta de defesa, que abre oportunidade a
discussão sobre a ausência das condições da ação e ou pressupostos processuais. É procedimento
incidental que combate o exercício da ação. São denominadas objeções ou impedimentos
processuais

Modalidades de exceção:

1- Exceção de suspeição: - as hipóteses de suspeição (capítulo sobre sujeitos


processuais), estão enumeradas no art. 25468 CPPB e comprometem a imparcialidade
do julgador. Além dos magistrados, pode suscitar a suspeição dos membros do MP,
jurados, funcionários e auxiliares da justiça, intérpretes e peritos, DELPOL? mas este
deve declarar-se suspeito afastando se da investigação (art. 107 CPPB). Pode ser
arguida por qualquer das partes, além de poder ser reconhecida de ofício pelo
magistrado. Se juiz reconhecer a suspeição, deve sobrestar o feito e fazer remessa,
ao substituto legal. Caso não reconheça, deverá ordenar sua autuação e oferecer
resposta no prazo de 03 dias, expirado o prazo, deve o juiz remeter os autos ao
tribunal competente para dirimir a controvérsia, em 24 horas. Se a suspeição recair
sobre membro do MP, o juiz decidirá depois de ouvi-lo, se recair sobre peritos
intérpretes e servidores do poder judiciário, deve o juiz decidir, de plano. Finalmente a
suspeição de jurados deve ser suscitada oralmente perante o juiz presidente do
tribunal do júri. A exceção de suspeição, em qualquer caso, precederá qualquer outra.
A decisão de reconhecimento de suspeição é irrecorrível, a doutrina admite HC ou MS.
2- Exceção de incompetência: deve ser proposta junto ao juiz da causa e autuada em
apartado, após ouvir a parte contrária, o juiz decidirá. Reconhecida a incompetência,
caberá RESE. Julgada improcedente será irrecorrível admitindo HC.
3- Exceção de litispendência – ocorre quando há mais de uma ação penal tramitando,
com a mesma causa de pedir, e as mesmas partes (pois no processo penal, o pedido
será sempre o de imposição de sanção penal). Litispendência não se convalesce,
razão pela qual pode ser suscitada a qualquer tempo e, até mesmo, ser reconhecida
de ofício pelo juiz. Deve ser oposta junto ao juiz da causa e autuada em apartado.

68
Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes:

I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;

II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo
caráter criminoso haja controvérsia;

III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou
responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes;

IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;

V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;

Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.


41
Deve decidir após a oitiva da parte contrária. Se reconhecida pelo juiz, a decisão
caberá RESE, se reconhecida de ofício, no bojo do processo principal, será apelação
(art. 593, II CPPB). Se rejeitada é irrecorrível, admitindo HC.
4- Exceção de ilegitimidade de parte – (ad causam, ad precessum). Pode ser arguida a
qualquer tempo, por escrito ou verbalmente. Após a oitiva da parte contrária, o juiz
decidirá. Se dor ad causam enseja a nulidade de todo processo. Se for ad processum é
passível de convalidar, com ratificação dos atos (art. 568 69 CPPB). Quando julgada
procedente desafia RESE, se não reconhecida pode ter HC.
5- Exceção de coisa julgada - ocorre quando a ação em curso versa sobre matéria
decidida definitivamente em ação penal anterior. Quando arguida o juiz determinará a
autuação em apartado. Após ouvir a parte contrária. Se procedente cabe RESE.
Comporta HC quando denegada. Se no bojo do processo principal, será apelação (art.
593, II CPPB).

DO INCIDENTE DE FALSIDADE 70

Os documentos, de regra podem ser levados aos autos ao longo de toda a persecução penal,
funcionando como mais um meio de prova.

Na eventualidade de desconfiança do documento levado aos autos, seja por eventual falsidade
material (na confecção do documento), ou ideológica (de conteúdo), há previsão de instauração do
procedimento incidental, para que se apure o fato, para que seja desentranhado ou permaneça no
processo. Em caso de falsidade grosseira, pode de ofício o juiz declará-la. Entretanto, na dúvida,
segue-se o procedimento abaixo:

a) ARGUIÇÃO POR ESCRITO – A petição pode ser apresentada por qualquer das partes,
inclusive por quem acostou o documento sem saber que era falso. Se por procurador, é
imprescindível poderes especiais (art. 14671 CPPB)

69
Art. 568. A nulidade por ilegitimidade do representante da parte poderá ser a todo tempo sanada, mediante
ratificação dos atos processuais.

70
Art. 145. Argüida, por escrito, a falsidade de documento constante dos autos, o juiz observará o seguinte
processo:

I - mandará autuar em apartado a impugnação, e em seguida ouvirá a parte contrária, que, no prazo de 48 horas,
oferecerá resposta;

II - assinará o prazo de três dias, sucessivamente, a cada uma das partes, para prova de suas alegações;

III - conclusos os autos, poderá ordenar as diligências que entender necessárias;

IV - se reconhecida a falsidade por decisão irrecorrível, mandará desentranhar o documento e remetê-lo, com os
autos do processo incidente, ao Ministério Público.

71
Art. 146. A argüição de falsidade, feita por procurador, exige poderes especiais.

42
b) ATUAÇÃO EM APARTADO: Como os demais procedimentos incidentais, serve para não
tumultuar o processo principal.
c) NOTIFICAÇÃO DA PARTE CONTRÁRIA, PARA QUE EM 48H SE MANIFESTE: mesmo que
a parte contrária concorde o juiz não se vincula, pois, o objetivo é aferir a idoneidade
documental.
d) AS PARTES, NA SEQUÊNCIA, DISPOEM DE 3 DIAS SUCESSIVOS PARA INDICAR
PROVAS DAS ALEGAÇÕES, NO INTUITO DE QUE O INCIDENTE SEJA INSTRUIDO:
cabe ao juiz, tendo os autos conclusos, deliberar sobre os requerimentos, podendo
determinar diligencias que entenda cabíveis, notadamente a perícia documental.
e) DA DECISÃO QUE DECLARA OU NÃO A FALSIDADE DOCUMENTAL CABE RESE
(ART.581, XVIII, CPPB): provido o pedido e preclusa a decisão pelo esgotamento das vias
recursais, os autos, desentranhados, serão remetidos ao MP para verificar plausibilidade de
delito de elaboração de documento falso

DA INSANIDADE MENTAL DO ACUSADO:

IMPUTÁVEL é aquele que tem condições de entender o caráter ilícito do fato e de se comportar de
acordo com esse entendimento (art. 26 CP).

Incidente de insanidade é procedimento que tem por objetivo aferir a saúde mental do imputado,
sempre que exista dúvida fundada acerca de sua real capacidade de entender e querer. A seguir os
principais aspectos procedimentais:

a) LEGITIMIDADE: somente o juiz poderá autorizar a instauração do incidente (cláusula de


reserva jurisdicional), admitindo, inclusive, instauração de ofício. Podem provocar o
magistrado tanto o MP (como parte ou fiscal da lei), o defensor, curador (quando tiver
interdição no cível), ascendentes, descendentes, irmãos e o cônjuge do imputado, devendo
ser incluído o (a) companheiro (a). não foi contemplado o assistente de acusação e o
DELPOL pode representar ao juiz.
b) Baixada a portaria, forma-se -à autos apartados, nomeando curador para acompanhar o
procedimento, nada impede que seja o próprio advogado, um parente. A instauração do
incidente implica na suspensão do processo (crise de instancia), sem influir na evolução do
prazo prescricional. Se determinado na fase de investigação, o IP não será paralisado.
c) Sendo o perito oficial, atuará individualmente. Caso contrário serão dois peritos nomeados
para realização do exame (não oficiais), dispondo de 45 dias para fazer (art. 150 § 1º CPPB).
Os quesitos podem ser apresentados pelo juiz, pela acusação e defesa.
d) Concluído o exame, com elaboração do laudo, será acostado ao processo principal. Se
realizado durante a fase de IP e tendo o MP se convencido, pode indicar absolvição
imprópria. (art. 386, p único CPPB)

Se a conclusão era pela inimputabilidade à época dos fatos (art. 26 CP), processo prossegue com
intervenção do curador na expectativa de aplicar medida de segurança. Se for semi-imputabilidade
conforme possibilidade do artigo 319 CPPB medida cautelar de caráter pessoal (internação
provisória)
43
Sendo a inimputabilidade superveniente ao fato criminoso, o processo fica paralisado (crise de
instancia) aguardando que o agente recobre a sanidade, pois assim poderá exercer efetivamente o
contraditório e a ampla defesa (art. 15272 CPPB). Enquanto isso o prazo prescricional flui normal
durante a suspensão.

Nessa suspensão do artigo 152 poderá ter colheita de provas de natureza urgente. Recobrada a
sanidade o processo volta a correr, com ampla possibilidade de manifestação sobre as provas já
colhidas.

CONTEUDO NOVO 10/11/2022

DA PROVA

SISTEMAS DE VALORAÇÃO DA PROVA: Existem três sistemas de valoração da prova.

1- SISTEMA DA CERTEZA JUDICIAL OU ÍNTIMA CONVICÇÃO : O juiz é livre para decidir, sem
a necessidade de motivar, e pela visível dificuldade de controle, pode valer-se do que não
está nos autos. É, de regra, afastado do nosso ordenamento, subsistindo no tribunal do júri,
afinal, o jurado – considerado juiz leigo decide sem fundamentar. (art. 5º XXXVIII, CF).
2- SISTEMA DA CERTEZA LEGISLATIVA OU PROVA TARIFADA : a lei preestabelece o valor
de cada prova, cabendo ao juiz ajustar a decisão ao regramento normativo. O magistrado é
despido da análise crítica, e a lei pode inclusive indicar a prova necessária para demonstrar
determinado fato. O art. 158 CPPB é um resquício desse sistema. Pois exige o exame corpo
de delito para demonstrar a materialidade nas infrações que deixam vestígios, admitindo em
caso de omissão que seja suprida com a utilização da prova testemunhal (art. 167 CPPB).
3- SISTEMA DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO OU PERSUASÃO RACIONAL : Existe
liberdade judicial para decidir, respeitando – se a necessária motivação, à luz daquilo que foi
trazido aos autos do processo. É o sistema reinante no Brasil. A Liberdade na apreciação das
provas implica reconhecer que não há hierarquia probatória, pois é o juiz quem dirá qual a
importância de cada prova produzida no processo (instrução processual). Não pode o
magistrado embasar a sentença apenas em elementos colhidos na fase de inquérito, já que
este é essencialmente inquisitivo.

CONCEITO DE PROVA:

Prova é tudo aquilo que será utilizado para contribuir na formação do convencimento do órgão
julgador. Poderá ser entendida nos seguintes sentidos:

72
Art. 152. Se se verificar que a doença mental sobreveio à infração o processo continuará suspenso até que o
acusado se restabeleça, observado o § 2o do art. 149.

§ 1o O juiz poderá, nesse caso, ordenar a internação do acusado em manicômio judiciário ou em outro
estabelecimento adequado.

§ 2o O processo retomará o seu curso, desde que se restabeleça o acusado, ficando-lhe assegurada a faculdade
de reinquirir as testemunhas que houverem prestado depoimento sem a sua presença.
44
1) Como ato de provar (instrução probatória)
2) O meio para provar: os instrumentos para a demonstração da verdade
3) O resultado obtido com a análise do material probatório, isto é, o efeito ou o resultado da
demonstração daquilo que se alega.

FINALIDADE:

A finalidade é o resultado da ação de provar, ou melhor, é aquilo que se consegue incutir na


formação do convencimento do julgador, seja para a obtenção do provimento final do processo
(condenação ou absolvição), na adoção de medidas cautelares (pessoais ou reais), assim como na
deliberação de tantas outras questões durante a persecução penal.

NATUREZA JURÍDICA:

A prova está ligada ao direito de ação e ao exercício da defesa, sendo, portanto, um direito
fundamental, indissociável da inafastabilidade material ou substancial da jurisdição. Para
comprovação dos fatos alegados.

DESTINATÁRIOS:

A) IMEDIATO: é a pessoa responsável pelo provimento almejado, leia- se, o magistrado.


B) MEDIATO: São as partes, pois convencidas quanto ao que ficou demonstrado, tendem a
aceitar o provimento jurisdicional.

OBJETO:

A) DA PROVA: Fatos relevantes, isto é, os acontecimentos levados ao juiz para que emita um
juízo de valor.
B) DE PROVA; Fatos pertinentes à prestação jurisdicional a ser efetivada, pois existem
determinadas questões que prescindem de comprovação.

Não são objetos de prova:

A) DIREITO NACIONAL: (iura novit cúria73, da mihi factum dabo tibi jus)74 – CUIDADO, pois
Direitos estadual, municipal, estrangeiro e consuetudinário necessitam ser provados quanto à
sua existência, vigência e eficácia.
B) FATOS NOTÓRIOS OU VERDADE SABIDA : são aqueles de conhecimento de parcela
significativa da população medianamente informada. Ex: feriados nacionais. CUIDADO: Ao
contrário do que ocorre no processo civil, no processo penal os fatos incontroverso carecem
de demonstração.

73
não se faz necessário provar em juízo a existência da norma jurídica invocada, pois se parte do pressuposto de que
o juiz conhece o direito ( iura novit curia ).
74
Dá-me o fato, darei a ti a justiça. Hoje, dá-me o fato, dar-te-ei o direito.
45
C) EVIDENTES: são aqueles que autodemonstram, por sua evidência. Ex.: de acordo com o
parágrafo único do art. 162 CPP75.
D) PRESUNÇÃO: É a observação de um fato que nos permite fazer uma conclusão em razão do
que normalmente acontece. Jure et de juris, juris tantum (absoluta e relativa).

MEIOS DE PROVA:

CONCEITO: Ferramentas ou instrumentos jurídicos utilizados para que a prova seja produzida e
levada ao conhecimento do julgador.

CLASSIFICAÇÃO DAS PROVAS QUANTO AOS MEIOS EMPREGADOS:

PROVAS NOMINADAS: são aquelas cujos meios de produção estão previstos em lei (legislação
especial, ou CPPB artigos 158 a 250)

PROVAS INOMINADAS: são aquelas cujos meios de produção não estão previstos em lei, o que
não afeta sua licitude.

SERENDIPIDADE:

Significa fazer descobertas relevantes ao caso. Em matéria de processo penal é o encontro casual
de provas. No caso de interceptação telefônica ocorrerá quando esta é decretada para a
investigação de determinado crime e, no decorrer das conversas captadas, é descoberto outro
crime. Podemos citar o exemplo em que se decreta a interceptação telefônica para produção de
prova no crime de tráfico (art. 33, 11343/2006) e, no decorrer das conversas, descobre-se que os
criminosos “lavam” (art. 1º 9,613/1998) dinheiro proveniente do tráfico. (requisitos da interceptação
estão legais)

Essa descoberta pode ser utilizada? E se o novo crime descoberto não fosse o de lavagem, mas sim
algum em relação ao qual a pena máxima não fosse de reclusão?

Entendimento prevalente adota o critério da existência de conexão76 entre o crime para o qual se
decretou e o crime descoberto. Se houver conexão entre eles não há dúvidas de que a interceptação
pode, sim, ser utilizada. Independe se o novo crime é punido com reclusão ou detenção.

Contudo, se o crime descoberto não possui qualquer tipo de conexão com o crime que se investiga,
esta interceptação não pode ser usada como elemento de prova, mas pode ser usada como notitia
criminis. EX.: mesma interceptação para tráfico e depois descobre homicídio. (não poderá ser usada
como meio de prova).

75
(AUTÓPSIA:)Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando não
houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não houver
necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante.

76
Termo conexão aqui é utilizado de maneira não totalmente semelhante da conexão (competência)
46
Essa exigência de relação de conexão se faz necessária em relação às infrações pretéritas. Dessa
forma, se no curso da interceptação é descoberto o planejamento de um crime que ainda está por
ocorrer, a interceptação poderia ser usada como meio de prova, ainda que não houvesse conexão
entre eles. 77

É possível a seguinte classificação:

a) SERENDIPIDADE SUBJETIVA: interceptação revela o envolvimento de outros agentes no


delito apurado, sendo aceita como prova em face de todos. Se envolver autoridade com foro
por prerrogativa? DEPOL deve interromper a execução da medida, juiz deve abrir vistas ao
MP, para que requeira a medida ao órgão judiciário competente (elementos informativos
podem ser remetidos ao tribunal competente).
b) SERENDIPIDADE OBJETIVA: interceptação aponta a ocorrência de outras infrações, além
daquela objeto da medida, teremos a seguinte questão:

b.1) serendipidade objetiva de primeiro grau: há conexão entre o crime apurado e o


casualmente descoberto, tendo amplo aproveitamento.

b.2) serendipidade objetiva de segundo grau: não existe relação de conexão entre as
infrações. Interceptação servirá como noticia de fato, instaurando futura investigação.

Novo - A vedação quanto às provas ilícitas está consagrada no art. 5º, LVI da CF/88. Pela doutrina,
faz se a distinção entre provas ilícitas que são aquelas que violam o direito material (CP, legislação
penal extravagante e princípios constitucionais penais) e ilegítimas, que desatendem o direito
processual (CPP, legislação processual extravagante e princípios processuais constitucionais).
Entretanto, não se faz tal distinção na legislação, de sorte que as provas ilícitas são entendidas
como aquelas obtidas em violação às normas constitucionais e infraconstitucionais, englobando- se
os princípios.

Questão importante decidida pelo STJ envolve a devassa das informações contidas em whatsapp,
obtidas diretamente pela polícia apreendido no flagrante, sem prévia autorização judicial78.

Importa destacar que o STF tem admitido a possibilidade de emprego de provas ilícitas em benefício
do réu (pro reo), por força do princípio da proporcionalidade, mas não tem admitido (pro societate),
ou seja, em benefício da acusação.

A teoria dos frutos da arvore envenenada ou da prova ilícita por derivação, que até então
encontrava assento apenas na jurisprudência, passa a ter respaldo legal. As provas que decorrem
de uma ilícita também terão tal status, em verdadeira contaminação em cadeia. Porém é necessário
lembrar que:

a) Havendo um plexo de provas no processo e inexistindo interligação entre elas, não há que se
falar em contaminação. Assim, a existência de provas absolutamente independentes da
77
STJ -HC 69.552/PR
78
STJ – RHC 51.531/RO
47
ilícita imprime conformidade ao processo. A prova ilícita deve ser desentranhada, e o
processo estará convalidado em razão das provas lícitas que não possuem nexo com a prova
contaminada.
b) Se as provas derivadas no caso concreto, objetivamente seriam descobertas de outra
maneira idônea, não há de se falar em contaminação, pois a ilicitude pretérita não foi decisiva.
É o que se tem por teoria da descoberta inevitável. 79

A consequência da declaração da ilicitude da prova é inusitada, pois não resta dúvida do seu
desentranhamento. Todavia, a imediata destruição não é a melhor saída, como eventualmente a
prova ilícita pode ser usada em favor do réu, a destruição precipitada logo após preclusa a
decisão judicial pode prejudicar a defesa. 80Melhor decisão é deixar em sigilo no cartório até
trânsito em julgado, logo após juiz decidirá pela remessa ao MP, para averiguar justa causa ou
determinar a destruição.

A decisão quanto a declaração de ilicitude é irrecorrível, cabendo HC ou MS, conforme o caso.

O § 5º está suspenso pelas ADI’s 6298, 6299,6300 e 6305 que seria a comprovação da teoria da
contaminação do entendimento (também chamada da dissonância cognitiva).

É fundamental distinguir corpo de delito, que são os vestígios deixados pela infração (sua
materialidade), do exame de corpo de delito, que é a perícia que tem por objeto os vestígios
deixados pelo crime. Importa fazer a seguinte classificação:

1) Delitos não transeuntes (delicta facti pemanentis): são aqueles que deixam vestígios
materiais.
2) Delitos transeuntes (delicta facti transeuntis): se caracterizam pela inexistência de vestígios.

O artigo 15881 é resquício do sistema da prova tarifada, pois exige, para a demonstração da
materialidade, a elaboração da perícia, sob pena de nulidade, ressalvada a utilização da prova
testemunhal de forma subsidiária, para demonstração do ocorrido.

O exame direto é aquele em que os peritos dispõem dos vestígios para a análise. A percepção
ocorre sem intermediários. Já no exame indireto os peritos utilizam elementos acessórios para
elaboração do laudo, como fotografias, prontuários médicos, dentre outros. Vale lembrar, que

79
Art. 157 § 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da
investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.
80
§ 3o Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado
às partes acompanhar o incidente.

81
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo
supri-lo a confissão do acusado.

Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime que envolva: (Incluído
dada pela Lei nº 13.721, de 2018)

I - violência doméstica e familiar contra mulher; (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018)

II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência. (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018)
48
não sendo possível a elaboração do exame direto ou indireto, a confissão peremptoriamente não
servirá para demonstrar a materialidade, restando a utilização de prova testemunhal (art. 167
CPPB82).

O exame é verdadeira condição de procedibilidade, sem a qual a inicial será rejeitada, como
ocorre nos crimes contra a propriedade imaterial que deixam vestígios (art. 525CPPB 83)84 e na lei
de drogas artigo 50 § 1º 11343/2006.

Importante destacar a prioridade na realização de exame contida no parágrafo único 85 do artigo


158 CPPB.

82
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá
suprir-lhe a falta.

83
Art. 525. No caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa ou a denúncia não será recebida se não for instruída com o exame
pericial dos objetos que constituam o corpo de delito.

84
Súmula 574 - STJ: Para a configuração do delito de violação de direito autoral e a comprovação de sua materialidade, é suficiente
a perícia realizada por amostragem do produto apreendido, nos aspectos externo do material, e é desnecessária a identificação dos
titulares dos direitos autorais violados ou daqueles que os representem.

85
Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime que envolva: (Incluído
dada pela Lei nº 13.721, de 2018)

I - violência doméstica e familiar contra mulher; II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.

49
Os peritos oficiais contidos no art. 15986 CPPB são aqueles concursados, integrantes dos
quadros do funcionalismo público. A escolaridade mínima exigida para ser perito é o nível
superior completo.

É importante destacar quanto ao tratamento normativo técnico do perito a seguir:

1- Os peritos não oficiais são aqueles de confiança da autoridade, sendo que não integram os
quadros da polícia técnica. De preferência, devem ter especialidade na área da perícia a ser
realizada, mas tal requisito não é essencial. Exige-se imparcialidade, de forma que as
hipóteses de suspeição e impedimento são aplicáveis aqui também (art. 280 CPPB).
2- Os peritos não oficiais também são chamados de juramentados, pois prestam compromisso
de bem e fielmente desempenhar o seu mister (art. 179 CPPB87) .
3- Os quesitos são as indagações direcionadas aos peritos e que devem ser respondidas
quando da elaboração do laudo pericial. A apresentação de quesitos é mera faculdade dos
legitimados, entretanto, conferir oportunidade para apresentá-los é de rigor. Inclusive na fase

86
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma de curso
superior. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior
preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do
exame. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 2o Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo. (Redação
dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação
de quesitos e indicação de assistente técnico. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos
peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia: (Incluído pela Lei nº 11.690, de
2008)

I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde que o mandado de
intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias,
podendo apresentar as respostas em laudo complementar; (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em
audiência. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 6o Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será disponibilizado no ambiente do
órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a
sua conservação. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 7o Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, poder-se-á designar a
atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente técnico. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

87
Art. 179. No caso do § 1o do art. 159, o escrivão lavrará o auto respectivo, que será assinado pelos peritos e, se presente ao
exame, também pela autoridade.

Parágrafo único. No caso do art. 160, parágrafo único, o laudo, que poderá ser datilografado, será subscrito e rubricado em
suas folhas por todos os peritos.

50
de inquérito. É possível, também, aos legitimados indicar assistente técnico na fase
processual, dando parecer técnico.
4- O assistente não interfere na elaboração do laudo oficial. Admitido a atuar após a conclusão
do laudo oficial.
5- Após a elaboração do laudo oficial, é possível que ainda subsistam dúvidas, de sorte que os
legitimados apontados poderão requerer a oitiva dos peritos para que prestem
esclarecimentos na AIJ. Os peritos devem ser intimados com antecedência mínima de 10
dias, momento em que serão informados da matéria a ser esclarecida e os quesitos. Nada
impede que apresentem resposta em laudo complementar o que não substitui o
comparecimento em audiência
6- O assistente terá mais do que o laudo oficial para analisar, permite-se que tenha acesso ao
material objeto da perícia em todos ambientes de acesso aos vestígios.
7- A perícia complexa é aquela que exige domínio em mais de uma especialidade. Como nem
sempre o mesmo perito é habilitado a atuar em mais de uma área, admite-se a intervenção de
mais de um perito oficial, assim como pela parte de mais de um assistente técnico, sendo que
atuará nos limites de sua especialidade.

Ver também, antes da prova, artigos:

Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as circunstâncias da
infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas
declarações.

§ 1o Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o ofendido poderá ser
conduzido à presença da autoridade

§ 2o O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do acusado da
prisão, à designação de data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mantenham ou
modifiquem

§ 3o As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no endereço por ele indicado, admitindo-se, por
opção do ofendido, o uso de meio eletrônico

§ 4o Antes do início da audiência e durante a sua realização, será reservado espaço separado para o
ofendido

§ 5o Se o juiz entender necessário, poderá encaminhar o ofendido para atendimento multidisciplinar,


especialmente nas áreas psicossocial, de assistência jurídica e de saúde, a expensas do ofensor ou do
Estado

§ 6o O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada, honra e


imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos
e outras informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de
comunicação.

Art. 220. As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por velhice, de comparecer para depor, serão
inquiridas onde estiverem.
51
Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á pela
seguinte forma:

I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser
reconhecida;

Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com
ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la;

III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de
intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a
autoridade providenciará para que esta não veja aquela;

IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa
chamada para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.

Parágrafo único. O disposto no no III deste artigo não terá aplicação na fase da instrução criminal ou
em plenário de julgamento.

Art. 238. Os documentos originais, juntos a processo findo, quando não exista motivo relevante que
justifique a sua conservação nos autos, poderão, mediante requerimento, e ouvido o Ministério Público,
ser entregues à parte que os produziu, ficando traslado nos autos.

NOVO CONTEÚDO

A busca é a procura, por quem de direito, com finalidade de encontrar pessoas e objetos. Apreensão
é medida que segue a busca. Pode haver apreensão sem busca, nas hipóteses em que o objeto é
encontrado ou alguém encontra e entrega a autoridade, lavrando-se auto de exibição e apreensão.

Importante destacar que a busca e apreensão pode ocorrer antes da instauração do IP, durante sua
realização, na fase de instrução criminal, na fase recursal (art. 616, CPPB) e, até mesmo, durante a
execução da pena.

A lei prevê dois tipos de busca e apreensão a DOMICILIAR e a PESSOAL. Quanto a primeira, a
busca devem ser compatibilizada com a garantia constitucional da inviolabilidade do domicílio (art.
5º, XI, CF/88), viabilizando – se o cumprimento do mandato de busca e apreensão à luz do
permissivo constitucional.

52
A busca pessoal pressupõe fundada suspeita justificando a adoção da medida. Sem ela, a diligência
pode representar manifesto arbítrio caracterizando abuso de autoridade conforme artigo 240 88
CPPB.

Quanto a cartas abertas não existe vedação, mas cartas lacradas existe vedação. Entretanto o STF,
se manifesta que excepcionalmente a administração penitenciária pode proceder a interceptação da
correspondência (HC 70.814/SP);

Existe uma parte não recepcionada no artigo 24189 CPPB. Além do mais to termo casa
compreende:

a) qualquer compartimento habitado

b) aposento ocupado de habitação coletiva

c) compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. Como por
exemplo quarto de hotel (STF RHC 90,376)

Quanto ao advogado o EOAB em seu artigo 7º, II assegura a inviolabilidade do escritório ou local de
trabalho restrita ao exercício profissional, e quando figurado como réu.

O art. 244 CPPB traz elementos para realização da busca pessoal. Em síntese as hipóteses de
busca pessoal em que se dispensa a expedição de mandato são:

88
Art. 240. A busca será domiciliar ou pessoal.

§ 1o Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem, para:

a) prender criminosos;

b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;

c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou contrafeitos;

d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituoso;

e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;

f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu
conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;

g) apreender pessoas vítimas de crimes;

h) colher qualquer elemento de convicção.

§ 2o Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita de que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos
mencionados nas letras b a f e letra h do parágrafo anterior.

89
Art. 241. Quando a própria autoridade policial ou judiciária não a realizar pessoalmente, a busca domiciliar deverá ser
precedida da expedição de mandado.
53
a) PRISÃO: com a prisão, cessa a inviolabilidade pessoal, razão pela qual o preso pode ser
revistado independentemente de mandado judicial específico.

b) quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos
ou papéis que constituam corpo de delito. Tema polêmico atualmente no STJ

c) quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar. As pessoas que estão na
residencia podem ser revistadas. Com razoabilidade.

Tem rito específico conforme demonstrado no artigo 245 CPPB90.

Importante destacar que não se considera como casa; (hospedaria, estalagem, habitaçao coletiva
aberta, casas de jogos, bingos clubes)

JULGADOS IMPORTANTES:

FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO Supostos crimes funcionais foram praticados durante o
exercício da função Vice-Governador, tendo o investigado, posteriormente, assumido o cargo de
Governador: competência do STJ

EMENTA - Compete ao Superior Tribunal de Justiça, para os fins preconizados pela regra do
foro por prerrogativa de função, processar e julgar governador em exercício que deixou o
cargo de vice-governador durante o mesmo mandato, quando os fatos imputados digam

90
Art. 245. As buscas domiciliares serão executadas de dia, salvo se o morador consentir que se realizem à noite, e, antes de
penetrarem na casa, os executores mostrarão e lerão o mandado ao morador, ou a quem o represente, intimando-o, em seguida, a
abrir a porta.

§ 1o Se a própria autoridade der a busca, declarará previamente sua qualidade e o objeto da diligência.

§ 2o Em caso de desobediência, será arrombada a porta e forçada a entrada.

§ 3o Recalcitrando o morador, será permitido o emprego de força contra coisas existentes no interior da casa, para o descobrimento
do que se procura.

§ 4o Observar-se-á o disposto nos §§ 2o e 3o, quando ausentes os moradores, devendo, neste caso, ser intimado a assistir à
diligência qualquer vizinho, se houver e estiver presente.

§ 5o Se é determinada a pessoa ou coisa que se vai procurar, o morador será intimado a mostrá-la.

§ 6o Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, será imediatamente apreendida e posta sob custódia da autoridade ou de seus
agentes.

§ 7o Finda a diligência, os executores lavrarão auto circunstanciado, assinando-o com duas testemunhas presenciais, sem prejuízo
do disposto no § 4o.

54
respeito ao exercício das funções no âmbito do Poder Executivo estadual. STJ. Corte
Especial. QO no AgRg na APn 973-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Rel. para acórdão Min.
Luis Felipe Salomão, julgado em 3/5/2023 (Info 775).

DECISÃO DO STF RESTRINGINDO O FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO Em maio de


2018, o STF decidiu restringir o foro por prerrogativa de função dos Deputados Federais e
Senadores. O art. 53, § 1º e o art. 102, I, “b”, da CF/88 preveem que, em caso de crimes comuns, os
Deputados Federais e os Senadores serão julgados pelo STF. Ocorre que o Supremo conferiu uma
interpretação restritiva a esses dispositivos e afirmou o seguinte: O foro por prerrogativa de função
aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções
desempenhadas. STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018
(Info 900).

Em outras palavras, os Deputados Federais e Senadores somente serão julgados pelo STF se: • o
crime tiver sido praticado durante o exercício do mandato de parlamentar federal; e • se estiver
relacionado com essa função.

O entendimento que restringe o foro por prerrogativa de função vale para outras hipóteses de foro
privilegiado ou apenas para os Deputados Federais e Senadores? Vale para outros casos de foro
por prerrogativa de função. Foi o que decidiu o próprio STF no julgamento do Inq 4703 QO/DF, Rel.
Min. Luiz Fux, julgado em 12/06/2018, no qual afirmou que o entendimento vale também para
Ministros de Estado.

O STJ também decidiu que a restrição do foro deve alcançar Governadores e Conselheiros dos
Tribunais de Contas estaduais. Explico. O art. 105, I, “a”, da CF/88 prevê que compete ao STJ julgar
os crimes praticados por Governadores de Estado e por Conselheiros dos Tribunais de Contas dos
Estados: Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente:
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de
responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal,
os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais
Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais
de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;

A Corte Especial do STJ, seguindo o mesmo raciocínio do STF, limitou a amplitude do art. 105, I, “a”,
da CF/88 e decidiu que: O foro por prerrogativa de função no caso de Governadores e Conselheiros
de Tribunais de Contas dos Estados deve ficar restrito aos fatos ocorridos durante o exercício do
cargo e em razão deste. Assim, o STJ é competente para julgar os crimes praticados pelos
Governadores e pelos Conselheiros de Tribunais de Contas somente se estes delitos tiverem sido
praticados durante o exercício do cargo e em razão deste. STJ. Corte Especial. APn 857/DF, Rel.
para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 20/06/2018. STJ. Corte Especial. APn
866/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/06/2018.

O STJ disse o seguinte: • O STF, ao analisar o art. 102, I, da CF/88 decidiu restringir o foro por
prerrogativa de função para Deputados Federais e Senadores. Em seguida, restringiu também para
55
Ministros de Estado. A partir dessa restrição, tais autoridades somente poderão ter foro no STF em
caso de crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas.
• Diante dessa decisão do STF, eu (STJ) também irei restringir o foro por prerrogativa de função
para as autoridades que estão listadas no art. 105, I, “a”, da CF/88, aplicando o mesmo raciocínio.

• O fato de a regra de competência estar prevista no texto constitucional (art. 105 da CF/88) não
pode representar óbice à análise, por este STJ, de sua própria competência, sob pena de se
inviabilizar, nos casos como o dos autos, o exercício deste poder-dever básico de todo órgão
julgador, impedindo o imprescindível exame deste importante pressuposto de admissibilidade do
provimento jurisdicional. Em palavras mais simples, a restrição da competência do art. 105 da CF/88
passa por uma nova intepretação do texto constitucional. A função precípua de interpretação à
Constituição Federal é do STF. No entanto, eu (STJ), assim como todo e qualquer magistrado,
também tenho a prerrogativa de interpretar as normas jurídicas, inclusive a Constituição da
República.

• Além disso, todo juiz é competente para analisar a sua própria competência (“kompetenz-
kompetenz”), de forma que eu (STJ) posso interpretar o art. 105 da CF/88 para dizer se sou ou não
competente para julgar determinada autoridade, podendo, assim, adotar a mesma restrição
construída pelo STF.

• O foro especial no âmbito penal é prerrogativa destinada a assegurar a independência e o livre


exercício de determinados cargos e funções de especial importância, isto é, não se trata de privilégio
pessoal. O princípio republicano é condição essencial de existência do Estado de Direito e impõe a
supressão dos privilégios, devendo ser afastados da interpretação constitucional os princípios e
regras contrários à igualdade.

• O art. 105, I, “a”, da CF/88 consubstancia exceção à regra geral de competência, de modo que,
partindo se do pressuposto de que a Constituição é una, sem regras contraditórias, deve ser
realizada a interpretação restritiva das exceções, com base na análise sistemática e teleológica da
norma.

• As mesmas razões fundamentais (a mesma ratio decidendi) que levaram o STF, ao interpretar o
art. 102, I, “b” e “c”, da CF/88, a restringir as hipóteses de foro por prerrogativa de função devem ser
também aplicadas ao art. 105, I, “a”.

• Assim, é de se conferir ao art. 105, I, “a”, da CF/88, o mesmo sentido e alcance atribuído pelo STF
ao art. 102, I, “b” e “c”, restringindo-se, desse modo, as hipóteses de foro por prerrogativa de função
perante o STJ àquelas em que o crime for praticado em razão e durante o exercício do cargo ou
função.

As hipóteses de foro por prerrogativa de função perante o STJ restringem-se àquelas em que o
crime for praticado em razão e durante o exercício do cargo ou função.

56
STJ. Corte Especial. AgRg na APn 866-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/06/2018
(Info 630). Isso que foi explicado acima é a regra geral. Vejamos agora uma situação peculiar
enfrentada pelo STJ.

HIPÓTESE NA QUAL OS FATOS FORAM PRATICADOS DURANTE O EXERCÍCIO DO CARGO


DE VICEGOVERNADOR, TENDO ELE, POSTERIORMENTE, ASSUMIDO O CARGO DE
GOVERNADOR: COMPETÊNCIA DO STJ

A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte:

Nas eleições de 2018, Wilson Witzel foi eleito Governador do Estado do Rio de Janeiro. Cláudio
Castro estava na chapa eleita como Vice-Governador. No exercício da função de Vice-Governador,
Cláudio Castro teria, em tese, praticado crimes contra a Administração Pública. Foi instaurado
inquérito para apurar esses supostos crimes. Esse inquérito foi instaurado sob a supervisão do STJ?
NÃO. Isso porque compete ao STJ julgar apenas os Governadores do Estado (art. 105, I, “a”, da
CF/88). Não há previsão para que o STJ julgue os Vice-Governadores. Então, no caso concreto, o
inquérito em desfavor de Cláudio Castro foi instaurado sob a supervisão do Tribunal de Justiça do
Rio de Janeiro considerando que a Constituição Estadual fluminense prevê que compete ao TJ
julgar os crimes cometidos pelo Vice-Governador

Cláudio Castro sucedeu Wilson Witzel. Em 30/04/2021, Wilson Witzel foi condenado por crime de
responsabilidade, recebendo como sanções a perda do cargo de Governador e a suspensão dos
seus direitos políticos.

Em consequência disso, em 01/05/2021, Cláudio Castro tomou posse como Governador do Estado,
sucedendo o antigo titular. Vale ressaltar que, nesta data, a investigação promovida em desfavor de
Cláudio Castro ainda não havia sido concluída, não tendo sido oferecida denúncia contra ele.

A partir desse fato, instalou-se uma dúvida sobre a competência para processar a investigação em
curso contra Cláudio Castro:

• enquanto vice-governador, Cláudio Castro tinha foro por prerrogativa de função do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro;

• ao suceder a Wilson Witzel, o foro competente para julgar Cláudio Castro passou a ser o STJ.

Vale ressaltar, contudo, que os fatos investigados teriam sido praticados anteriormente, enquanto
Cláudio Castro ainda ocupava o cargo de vice-governador. Enfim, de quem é a competência: juízo
de 1ª instância, TJ/RJ ou STJ? Do STJ. O julgamento da AP 937 QO no STF tratou exclusivamente
de parlamentares federais e em situação específica. O caso concreto aqui analisado, ou seja, fatos
criminosos supostamente praticados por vice-governador à época, atualmente Governador do
Estado, não foi solucionada pelo apontado paradigma. Logo, não se pode dizer que a decisão do
STF na AP 937 QO sirva como padrão decisório para a presente situação.

57
Os fatos pelos quais Cláudio Castro está sendo investigado estão intrinsecamente relacionados
ao exercício das funções, não necessariamente de Vice-Governador, mas sim de integrante da
cúpula do Poder Público estadual. O Vice-Governador, supostamente, teria praticado atos no
exercício de suas funções, com inobservância dos deveres funcionais, em troca de supostas
vantagens indevidas, caracterizada a relação de causalidade entre o crime imputado e o exercício
do cargo.

Nesse contexto, o fato de ter assumido a condição de Governador, no mesmo mandato, revela
identidade de investidura funcional para os escopos preconizados pela regra do foro por prerrogativa
de função, outorgada ratione muneris, não sendo configurada espécie alguma de privilégio em favor
do cidadão, mas obséquio às funções exercidas.

Dessa forma, cabe ao STJ a análise do bem jurídico tutelado e a definição da competência na
hipótese, sob pena de ofensa à estrutura hierarquizada da Jurisdição e à própria racionalidade do
Sistema de Justiça.

Em suma: Compete ao Superior Tribunal de Justiça, para os fins preconizados pela regra do foro
por prerrogativa de função, processar e julgar governador em exercício que deixou o cargo de vice-
governador durante o mesmo mandato, quando os fatos imputados digam respeito ao exercício das
funções no âmbito do Poder Executivo estadual. STJ. Corte Especial. QO no AgRg na APn 973-RJ,
Rel. Min. Benedito Gonçalves, Rel. para acórdão Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/5/2023
(Info 775).

CUIDADO:

– NÃO CONFUNDIR COM ESSE OUTRO ENTENDIMENTO

STJ não é competente para julgar crime praticado por Governador no exercício do mandato se o
agente deixou o cargo e atualmente voltou a ser Governador por força de uma nova eleição O
STJ é incompetente para julgar crime praticado durante mandato anterior de Governador, ainda
que atualmente ocupe referido cargo por força de nova eleição.

Ex: João praticou o crime em 2010, quando era Governador; em 2011 foi eleito Senador; em
2019 assumiu novamente como Governador; esse crime praticado em 2010 será julgado em 1ª
instância (e não pelo STJ). Como o foro por prerrogativa de função exige contemporaneidade e
pertinência temática entre os fatos em apuração e o exercício da função pública, o término de
um determinado mandato acarreta, por si só, a cessação do foro por prerrogativa de função em
relação ao ato praticado nesse intervalo. STJ. Corte Especial QO na APn 874-DF, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2019 (Info 649).

58
PROVAS Desde que respeitadas as exigências legais, o reconhecimento de pessoas é uma prova
válida e pode ser utilizada para condenação; isso não significa, contudo, que, em todo e qualquer
caso, o reconhecimento da vítima seja prova cabal e irrefutável

O reconhecimento positivo, que respeite as exigências legais, portanto, é válido, mas não tem força
probante absoluta, de sorte que não pode induzir, por si só, à certeza da autoria delitiva, em razão
de sua fragilidade epistêmica. O reconhecimento de pessoas que obedece às disposições legais não
prepondera sobre quaisquer outros meios de prova (confissão, testemunha, perícia, acareação); ao
contrário, deve ser valorado como os demais. A confirmação, em juízo, do reconhecimento
fotográfico extrajudicial, por si só, não torna o ato seguro e isento de erros involuntários. É
importante lembrar que, uma vez que a testemunha ou a vítima reconhece alguém como o autor do
delito, há tendência, por um viés de confirmação, a repetir a mesma resposta em reconhecimentos
futuros, pois sua memória estará mais ativa e predisposta a tanto. STJ. 3ª Seção. HC 769.783-RJ,
Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 10/5/2023 (Info 775).

Imagine a seguinte situação adaptada:

No dia 27 de julho de 2019, Renata, ao estacionar seu carro, foi abordada por um homem que,
empunhando arma de fogo, anunciou um assalto. O sujeito determinou que a vítima deixasse o
veículo, assumindo o controle do automóvel e fugindo em direção ignorada.

Renata foi imediatamente até uma Delegacia de Polícia reportar o roubo. Na ocasião, ela descreveu
o homem como “jovem, pardo, com cavanhaque e magro”.

Em 12 de agosto de 2019, cerca de 15 dias após o fato, a vítima foi chamada novamente na
Delegacia e, nesta segunda ocasião, descreveu o autor do roubo como sendo um homem negro. O
escrivão mostrou um álbum fotográfico e a vítima reconheceu João da Silva como sendo o autor do
crime.

João da Silva foi denunciado. Em Juízo, a vítima foi levada a sala própria de reconhecimento, na
qual havia quatro pessoas, dentre elas João da Silva. A vítima apontou João da Silva como sendo o
autor do delito. O acusado, na ocasião do seu interrogatório, negou a autoria delitiva. João da Silva
foi condenado pelo crime de roubo qualificado.

O réu interpôs recurso de apelação alegando a insuficiência probatória porque a condenação foi
baseada apenas na palavra da vítima. O TJ/RJ manteve a sentença. A defesa impetrou habeas
corpus ao STJ alegando, em síntese, que não restou demostrada a autoria delitiva, uma vez que o
reconhecimento fotográfico é considerado de frágil valor probante, ainda que ratificado em juízo,
bem como que o reconhecimento pessoal, embora tenha o seu valor, não é absoluto para,
isoladamente, autorizar uma condenação criminal, pois a vítima já estaria convencida da identidade
de seu suposto roubador.

Aduziu que o testemunho da vítima, único fundamento para a condenação do paciente, não foi
preciso e harmonioso para tornar o reconhecimento feito na fase inquisitorial regular e válido, eis que
59
mudou o teor de sua declaração inicial e cerca de 15 dias depois apresentou mais características do
agente do que havia feito no dia dos fatos.

O STJ concordou com os argumentos da defesa? O réu foi absolvido?

SIM. Desde que respeitadas as exigências legais, o reconhecimento de pessoas é uma prova válida
e pode ser valorado pelo Julgador para fins de condenação. Isso não significa, contudo, que, em
todo e qualquer caso, a afirmação do ofendido de que identifica determinada pessoa como o agente
do crime seja prova cabal e irrefutável. Do contrário, a função dos órgãos de Estado encarregados
da investigação e da acusação (Polícia e Ministério Público) seria relegada a segundo plano.

O Magistrado, por sua vez, estaria reduzido à função homologatória da acusação formalizada pelo
ofendido. Assim, podemos dizer que o reconhecimento positivo, que respeite as exigências legais “é
válido, sem, todavia, força probante absoluta, de sorte que não pode induzir, por si só, à certeza da
autoria delitiva, em razão de sua fragilidade epistêmica” (HC 712.781/RJ, Rel. Ministro Rogerio
Schietti).

Há diferentes graus de confiabilidade de um reconhecimento. Se decorrido curto lapso temporal


entre o crime e o ato e se a descrição do suspeito é precisa, isenta de contradições e de alterações
com o passar do tempo - o que não ocorre no caso em tela - a prova, de fato, merece maior
prestígio. No entanto, em algumas hipóteses o reconhecimento deve ser valorado com maior
cautela, como, por exemplo, nos casos em que já decorrido muito tempo desde a prática do delito,
quando há contradições na descrição declarada pela vítima e até mesmo na situação em que esse
relato porventura não venha a corresponder às reais características físicas do suspeito apontado. A
confirmação, em juízo, do reconhecimento fotográfico extrajudicial, por si só, não torna o ato seguro
e isento de erros involuntários, pois “uma vez que a testemunha ou a vítima reconhece alguém como
o autor do delito, há tendência, por um viés de confirmação, a repetir a mesma resposta em
reconhecimentos futuros, pois sua memória estará mais ativa e predisposta a tanto” (STJ. 6ª Turma.
HC 712.781/RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 15/3/2022).

No caso concreto, as provas produzidas nos autos revelam que:

i) a condenação do paciente foi baseada tão somente no depoimento da vítima e nos


reconhecimentos realizados na fase extrajudicial e em juízo;

ii) não foram ouvidas outras testemunhas de acusação;

iii) a res furtiva não foi apreendida em poder do acusado; e

iv) o réu negou a imputação que lhe foi dirigida.

Diante desse cenário, percebe-se que as graves incongruências no reconhecimento do paciente não
podem ser sanadas mesmo porque não há outras provas em desfavor do condenado. Desse modo,
considerando que o decreto condenatório está amparado tão somente nos reconhecimentos

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formalizados pela vítima e, ainda, as divergências e inconsistências na referida prova, aferíveis de
plano, conclui-se que há dúvida razoável a respeito da autoria delitiva, razão pela qual é
necessário adotar a regra de julgamento que decorre da máxima in dubio pro reo, tendo em vista
que o ônus de provar a imputação recai sobre a acusação.

Em suma: O reconhecimento de pessoas que obedece às disposições legais não prepondera sobre
quaisquer outros meios de prova (confissão, testemunha, perícia, acareação); ao contrário, deve ser
valorado como os demais. STJ. 3ª Seção. HC 769.783-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
10/5/2023 (Info 775).

Outro caso:

Só se pode entrar na casa de alguém sem o consentimento do morador nas seguintes hipóteses:
Durante o DIA Durante a NOITE

• Em caso de flagrante delito; • Em caso de flagrante delito;

• Em caso de desastre; • Em caso de desastre;

• Para prestar socorro; • Para prestar socorro.

• Para cumprir determinação judicial (ex: busca e apreensão;


cumprimento de prisão preventiva).

Assim, guarde isso: não se pode invadir a casa de alguém durante a noite para cumprir ordem judicial.

Flagrante delito
Vimos acima que, havendo flagrante delito, é possível ingressar na casa mesmo sem consentimento do morador,
seja de dia ou de noite.

Um exemplo comum no cotidiano é o caso do tráfico de drogas. Diversos verbos do art. 33 da Lei nº 11.343/2006
fazem com que este delito seja permanente:
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em
depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Assim, se a casa do traficante funciona como boca-de-fumo, onde ele armazena e vende drogas, a todo momento
estará ocorrendo o crime, considerando que ele está praticando os verbos “ter em depósito” e “guardar”.

Diante disso, havendo suspeitas de que existe droga em determinada casa, será possível que os policiais
invadam a residência mesmo sem ordem judicial e ainda que contra o consentimento do morador?
SIM. No entanto, no caso concreto, devem existir fundadas razões que indiquem que ali está sendo cometido um
crime (flagrante delito). Essas razões que motivaram a invasão forçada deverão ser posteriormente expostas pela
autoridade, sob pena de ela responder nos âmbitos disciplinar, civil e penal. Além disso, os atos praticados
poderão ser anulados.

O STF possui uma tese fixada sobre o tema:

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A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada
em fundadas razões, devidamente justificadas “a posteriori”, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de
flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade
dos atos praticados.

STF. Plenário. RE 603616/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e 5/11/2015 (repercussão geral – Tema
280) (Info 806).

O STJ também possui alguns julgados a respeito do assunto:

O ingresso regular da polícia no domicílio, sem autorização judicial, em caso de flagrante delito, para que seja
válido, necessita que haja fundadas razões (justa causa) que sinalizem a ocorrência de crime no interior da
residência.

A mera intuição acerca de eventual traficância praticada pelo agente, embora pudesse autorizar abordagem policial
em via pública para averiguação, não configura, por si só, justa causa a autorizar o ingresso em seu domicílio, sem
o seu consentimento e sem determinação judicial.

STJ. 6ª Turma. REsp 1574681-RS, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 20/4/2017 (Info 606).

Assim, para legitimar-se o ingresso em domicílio alheio, é necessário tenha a autoridade policial fundadas razões
para acreditar, com lastro em circunstâncias objetivas, no atual ou iminente cometimento de crime no local onde a
diligência vai ser cumprida.

X- imagine a seguinte situação hipotética:


Os policiais estavam fazendo uma ronda de rotina no bairro.

O cão farejador que acompanhava os policiais sinalizou que havia droga na entrada de uma das casas.

Além disso, neste mesmo instante, conforme narraram os policiais, um indivíduo saiu da casa e, ao ser indagado
pela polícia, teria confessado que comprou e consumiu drogas no local.

Os policiais tocaram a campainha e foram atendidos por Pedro, morador da residência.

Segundo o depoimento policial, Pedro permitiu voluntariamente que os agentes entrassem na casa, com o cão
farejador, a fim de procurar drogas.

Dentro da residência, a polícia encontrou maconha e cocaína, além de uma balança de precisão.

Pedro foi denunciado por tráfico de drogas.

Não houve comprovação documental de que ocorreu autorização voluntária para o ingresso no domicílio.

O réu foi condenado.

A defesa impetrou habeas corpus alegando que todas as provas obtidas foram ilegais porque obtidas mediante
ofensa à garantia constitucional de inviolabilidade de domicílio.

O STJ concordou com o pedido da defesa?


SIM.

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Em uma caso semelhante a esse, a 6ª Turma do STJ anulou as provas obtidas mediante busca e apreensão
domiciliar, bem como as provas delas decorrentes, e, em consequência, absolveu o réu.

Prova do consentimento
O STJ tem decidido que:

Na hipótese de suspeita de crime em flagrante, exige-se, em termos de standard probatório para ingresso no
domicílio do suspeito sem mandado judicial, a existência de fundadas razões (justa causa), aferidas de modo
objetivo e devidamente justificadas, de maneira a indicar que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito.

O tráfico ilícito de entorpecentes, em que pese ser classificado como crime de natureza permanente, nem sempre
autoriza a entrada sem mandado no domicílio onde supostamente se encontra a droga. Apenas será permitido o
ingresso em situações de urgência, quando se concluir que do atraso decorrente da obtenção de mandado judicial
se possa objetiva e concretamente inferir que a prova do crime (ou a própria droga) será destruída ou ocultada.

O consentimento do morador, para validar o ingresso de agentes estatais em sua casa e a busca e apreensão de
objetos relacionados ao crime, precisa ser voluntário e livre de qualquer tipo de constrangimento ou coação.

A prova da legalidade e da voluntariedade do consentimento para o ingresso na residência do suspeito incumbe,


em caso de dúvida, ao Estado, e deve ser feita com declaração assinada pela pessoa que autorizou o ingresso
domiciliar, indicando-se, sempre que possível, testemunhas do ato. Em todo caso, a operação deve ser registrada
em áudio-vídeo e preservada tal prova enquanto durar o processo.

A violação a essas regras e condições legais e constitucionais para o ingresso no domicílio alheio resulta na
ilicitude das provas obtidas em decorrência da medida, bem como das demais provas que dela decorrerem em
relação de causalidade, sem prejuízo de eventual responsabilização penal do(s) agente(s) público(s) que tenha(m)
realizado a diligência.

STJ. 5ª Turma. HC 616584/RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 30/03/2021.


STJ. 6ª Turma. HC 598051/SP, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 02/03/2021 (Info 687).

No caso, não houve comprovação documental de que ocorreu a autorização voluntária e livre de coação para o
ingresso no domicílio. Além disso, a palavra dos agentes policiais acerca da suposta autorização não encontrou
respaldo em nenhum outro elemento probatório, sendo certo que no depoimento extrajudicial do acusado não
houve registro sobre o seu consentimento.

Mera sinalização do cão farejador não é suficiente para confirmar que havia flagrante delito
A mera sinalização do cão de faro, seguida da abordagem de um suposto usuário – que não foi ouvido em juízo –
saindo do local, desacompanhada de qualquer outra diligência investigativa ou outro elemento concreto indicando
a necessidade de imediata ação policial naquele momento, não justifica, por si só, a dispensa do mandado judicial
para o ingresso em domicílio.

Em suma:
A mera sinalização do cão de faro, seguida de abordagem a suposto usuário saindo do local,
desacompanhada de qualquer outra diligência investigativa ou outro elemento concreto indicando a
necessidade de imediata ação policial, não justifica a dispensa do mandado judicial para o ingresso em
domicílio.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 729.836-MS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/4/2023 (Info 774).

OUTRO- Julgado importante

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O depoimento testemunhal indireto não possui a capacidade necessária para sustentar uma acusação e
justificar a instauração do processo penal, sendo imprescindível a presença de outros elementos
probatórios substanciais.
STJ. 5ª Turma. AREsp 2.290.314-SE, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/5/2023 (Info 776).

Imagine a seguinte situação adaptada:


Foi encontrado, em um manguezal, o corpo de um adolescente, vítima de homicídio causado por disparos de arma
de fogo.

João reconheceu o corpo como sendo de seu filho Tiago, então com 17 anos de idade.

O pai informou aos policiais que lá estavam que Gonzaga, um homem que vive no mesmo bairro, lhe disse que o
autor do homicídio foi “Tuiuiú”, traficante do local, e que o motivo seria uma briga por drogas.

No curso do inquérito instaurado, foram produzidos os seguintes elementos informativos (“provas”):

- Tuiuiú era o apelido de Camilo da Silva, que já havia sido indiciado anteriormente em razão de porte ilegal de
arma de fogo;

- Em depoimento prestado à autoridade policial, Maria, avó da vítima, disse que, na véspera da data em que o
corpo foi encontrado, um homem desconhecido esteve em frente à sua casa e noticiou que Tiago havia sido
assassinado por Tuiuiú e que seu corpo havia sido deixado no “chiqueiro”. A avó informou, ainda, que Tiago
traficava para Tuiuiú, mas que dois meses antes do homicídio, havia brigado com o seu antigo “chefe”; e

- Disque Denúncia recebeu a informação anônima de que “Tuiuiú” seria o autor do homicídio;

Diante dos elementos produzidos, a autoridade policial concluiu o inquérito com o indiciamento de Camilo da Silva
(“Tuiuiú”).

O Ministério Público ofereceu denúncia contra Camilo da Silva, imputando-lhe a prática do crime de homicídio
qualificado.

O juiz rejeitou a denúncia por ausência de justa causa (art. 395, III, do CPP).

De acordo com a decisão:

- Infere-se que as testemunhas e declarante ouvidas não presenciaram o delito investigado, tampouco afirmaram
haverem sido os investigados os autores do crime em tela, tendo apenas se limitado a fazer comentários de que
souberam dos fatos por ouvir dizer de terceiros não identificados, não se afigurando, portanto, suficientes tais
elementos para o recebimento da denúncia;

- A pessoa citada pelo genitor da vítima (Gonzaga) não fora localizada;

- Diante do exposto, como inexistem em relação a esse crime indícios suficientes de autoria, inviável o recebimento
da denúncia, dada a ausência de justa causa.

Para o STJ, foi acertada a decisão do magistrado que rejeitou a denúncia?

SIM.

Espécies de testemunha

As testemunhas podem ser classificadas de acordo com vários critérios. Um deles é o seguinte:

a) Testemunha DIRETA: é aquela que presenciou os fatos. Também chamada de testemunha visual.

b) Testemunha INDIRETA: é aquela que não presenciou os fatos, mas apenas ouviu falar sobre eles. É também
chamada de testemunha auricular ou testemunha de “ouvir dizer” (hearsay rule).

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Testemunha de ouvir dizer (hearsay rule)
A testemunha de ouvir dizer não deve ter grande força probatória. Conforme explica o Min. Rogério Schietti
Cruz:

“A razão do repúdio a esse tipo de testemunho se deve ao fato de que, além de ser um depoimento pouco
confiável, visto que os relatos se alteram quando passam de boca a boca, o acusado não tem como refutar,
com eficácia, o que o depoente afirma sem indicar a fonte direta da informação trazida a juízo.”

A prova testemunhal indireta possui validade e relevância na formação do convencimento judicial, desde
que corroborada por outros elementos probatórios
O testemunho indireto é conhecido também como testemunha auricular ou de auditus, e seu depoimento não está
excluído do sistema probatório brasileiro, podendo ser valorado a critério do julgador.
No ordenamento jurídico pátrio, não há previsão legal específica para a testemunha “de ouvir dizer”, uma vez que
não há distinção entre testemunhas diretas e indiretas. Ao contrário, a legislação penal brasileira determina que o
depoimento testemunhal será admitido sempre que for relevante para a decisão. Dessa forma, diferentemente dos
sistemas da commow law, as restrições probatórias relacionadas ao ouvir dizer não se aplicam no Brasil, sendo,
em regra, admissível como meio probatório.
No julgamento do REsp 1.387.883/MG, a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça proferiu decisão que afirma
a legalidade da prova testemunhal indireta, reconhecendo sua suficiência para embasar uma sentença
condenatória, uma vez que tal modalidade de prova é admitida pela legislação em vigor e sua valoração fica a
cargo do julgador. O referido julgado tratava de um crime de estupro, no qual a vítima somente confirmou a autoria
do fato durante o seu depoimento perante as autoridades policiais. Além disso, havia duas testemunhas que
relataram ter ouvido diretamente da própria vítima que ela teria sido vítima de estupro pelo acusado. O acórdão
ficou assim ementado:

(...) 1. Estando a condenação amparada em outras provas, além das colhidas na fase inquisitorial, não há falar em
violação do artigo 155 do Código de Processo Penal.

2. "A legislação em vigor admite como prova tanto a testemunha que narra o que presenciou, como aquela que
ouviu. A valoração a ser dada a essa prova é critério judicial, motivo pelo qual não há qualquer ilegalidade na prova
testemunhal indireta."

(HC 265.842/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Rel. p/ Acórdão Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA
TURMA, julgado em 16/08/2016, DJe 01/09/2016).

3. A prova testemunhal, mesmo que indireta (ouviu da vítima o relato), produzida em juízo, mediante o contraditório
e a ampla defesa, que, de maneira coerente e harmônica, ratifica o depoimento da vítima na fase inquisitorial, é
suficiente para a condenação.

4. Agravo regimental não provido.

STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.387.883/MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 19/10/2017.

Considerando esse contexto fático, juntamente com as demais provas constantes nos autos, como o exame de
corpo de delito, a Quinta Turma desta Corte concluiu que a autoria do delito estava demonstrada. A partir dessa
decisão, fica evidente que a prova testemunhal indireta possui validade e relevância na formação do
convencimento judicial, desde que corroborada por outros elementos probatórios.

Não é cabível a pronúncia fundada exclusivamente em testemunhos indiretos de “ouvir dizer”


No âmbito do procedimento do Tribunal do Júri, o Superior Tribunal de Justiça tem firmado entendimento relevante
em relação aos testemunhos baseados em “ouvir dizer”. Por exemplo, no julgamento do REsp 1.674.198/MG, de
relatoria do Ministro Rogério Schietti Cruz, decidiu-se que a pronúncia baseada unicamente em depoimentos
indiretos é inadmissível, dada a precariedade desse tipo de prova.

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Em suma, os relatos indiretos e baseados em ouvir dizer não são elementos suficientes para garantir a viabilidade
acusatória, sendo necessário que existam outros elementos probatórios robustos para embasar uma acusação
consistente. Portanto, na análise, deve-se considerar a fragilidade dos depoimentos baseados em ouvir dizer na
formação de um juízo acusatório.

Muito embora a análise aprofundada dos elementos probatórios seja feita somente pelo Tribunal do Júri, não se
pode admitir, em um Estado Democrático de Direito, a pronúncia baseada, exclusivamente, em testemunho
indireto (por ouvir dizer) como prova idônea de per si, para submeter alguém a julgamento pelo Tribunal Popular.

STJ. 5ª Turma. HC 673.138-PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 14/09/2021 (Info 709).

STJ. 6ª Turma. REsp 1649663/MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 14/09/2021.

Veja como o tema já foi cobrado em prova:

ý (Juiz de Direito TJBA/2019 CEBRASPE) Em decorrência do princípio do in dubio pro societate, o testemunho por
ouvir dizer produzido na fase inquisitorial é suficiente para a decisão de pronúncia. (errado)

Voltando ao caso concreto


No caso concreto, o juiz entendeu que não havia justa causa para o exercício da ação penal porque não existiam
elementos probatórios suficientes nos autos que respaldassem a acusação formalizada pelo Ministério Público.
Isso porque a acusação era baseada unicamente no testemunho indireto. Em sua essência, trata-se da carência
de indícios que apontem a ocorrência de um delito e a participação do acusado na sua prática.

A rejeição da denúncia, nesse caso, mostra-se como uma questão de interesse processual.

Se a persecução penal é destinada ao fracasso desde o início (pois nenhuma das provas apresentadas pela
acusação é suficiente para sustentar uma pronúncia ou condenação, e não há indicação de que outras provas
serão produzidas durante a instrução), não há razão para iniciar o processo.

Assim, caso a acusação tenha como intenção apenas repetir o testemunho indireto, a ação penal se mostra sem
perspectivas de sucesso desde o início. Nesse contexto, prosseguir com o processo torna-se apenas um ato de
assédio processual contra o acusado.

OUTRO CASO:

A expedição de mandado de busca e apreensão de menor não autoriza o ingresso no domicílio e a


realização de varredura no local.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 2.009.839-MG, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 9/5/2023 (Info 776).
Imagine a seguinte situação hipotética:
Pedro, 17 anos, foi sentenciado a cumprir medida socioeducativa de prestação de serviços à comunidade.
Ele iniciou o cumprimento, no entanto, uma semana depois, deixou de comparecer sem qualquer justificativa.
O magistrado foi informado e determinou a expedição de mandado de busca e apreensão com o objetivo de fazer
com que o adolescente fosse conduzido ao juízo para uma audiência de apresentação e justificativa.
Vale ressaltar que, nesta data, o adolescente já havia completado 18 anos.
Os policiais foram cumprir o mandado de busca e apreensão na casa indicada como sendo a residência de Pedro.
Ao chegarem no local, foram recebidos por ele.
Os policiais explicaram o objetivo do mandado e ingressaram na casa.
A guarnição policial escutou o som de um rádio comunicador que estava em cima de uma televisão.

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Indagado a respeito, Pedro confessou que possuía envolvimento com o tráfico de drogas exercendo a função de
“olheiro” das “bocas de fumo” do bairro, anunciando para os traficantes, via rádio, quando policiais chegavam no
local.
Realizadas buscas na residência, os militares localizaram na gaveta do quarto um cigarro de maconha, uma base
para carregador de rádio comunicador e uma bateria reserva para o mesmo tipo de rádio.
Pedro foi condenado por porte de drogas para consumo próprio (art. 28 da Lei nº 11.343/2006) e pelo delito do art.
37 da Lei nº 11.343/2006:

Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática de qualquer dos
crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º , e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa.

O réu interpôs recurso de apelação alegando a ilicitude das provas obtidas, em razão do ingresso dos policiais
militares na residência do réu sem o devido mandado de busca e apreensão.
O Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais negou provimento ao recurso da defesa.
Irresignada, a defesa interpôs recurso especial alegando, em síntese, a nulidade da prova obtida mediante
violação de domicílio, considerando que o mandado de busca e apreensão tinha como finalidade a apreensão e
apresentação do adolescente na delegacia competente e posteriormente ao magistrado e não autorização judicial
para busca e apreensão em sua residência.

O STJ concordou com os argumentos da defesa?


SIM.
O Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento do RE 603.616/RO, submetido à sistemática da
repercussão geral (Tema 280/STF), firmou o entendimento de que:

A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada
em fundadas razões, devidamente justificadas “a posteriori”, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de
flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade
dos atos praticados.

STF. Plenário. RE 603616/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e 5/11/2015 (repercussão geral – Tema
280) (Info 806).

No caso, policiais militares, em cumprimento a um mandado judicial expedido para busca e apreensão de menor,
se deslocaram juntamente com a Polícia Civil para o endereço informado no mandado. Chegando ao imóvel, a
equipe policial foi recebida pelo denunciado, que foi informado do motivo da presença policial. Logo em seguida,
quando os agentes começaram a entrar na residência, a equipe policial escutou o som de um dispositivo de
comunicação que estava em cima de uma televisão, sendo facilmente visualizado.

Para o STJ, não havia “fundadas razões” que levassem à conclusão de que no interior da residência estava
sendo praticado algum crime. Em outras palavras, antes de os policiais entrarem na casa, eles não sabiam nem
tinham “fundadas razões” para achar que ali estava sendo cometido algum crime. Logo, não poderiam ter
ingressado no domicílio do réu.

Vale ressaltar, ainda, que que a expedição de mandado de busca e apreensão de menor não autoriza o ingresso
no domicílio. O art. 283, § 2º, do CPP determina, expressamente, que em cumprimento de mandado de prisão – ou
busca e apreensão de menor, como no caso em tela –, “[a] prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a
qualquer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do domicílio”, o que demonstra a ilegalidade da
presente diligência porquanto os próprios agentes policiais informaram que perceberam a presença do rádio
comunicador quando já estavam dentro da residência.

Ressalte-se, por fim, que o STJ fixou as seguintes teses sobre o tema:

1) Na hipótese de suspeita de crime em flagrante, exige-se, em termos de standard probatório para ingresso no
domicílio do suspeito sem mandado judicial, a existência de fundadas razões (justa causa), aferidas de modo
objetivo e devidamente justificadas, de maneira a indicar que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito.

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2) O tráfico ilícito de entorpecentes, em que pese ser classificado como crime de natureza permanente, nem
sempre autoriza a entrada sem mandado no domicílio onde supostamente se encontra a droga. Apenas será
permitido o ingresso em situações de urgência, quando se concluir que do atraso decorrente da obtenção de
mandado judicial se possa objetiva e concretamente inferir que a prova do crime (ou a própria droga) será
destruída ou ocultada.

3) O consentimento do morador, para validar o ingresso de agentes estatais em sua casa e a busca e apreensão
de objetos relacionados ao crime, precisa ser voluntário e livre de qualquer tipo de constrangimento ou coação.

4) A prova da legalidade e da voluntariedade do consentimento para o ingresso na residência do suspeito incumbe,


em caso de dúvida, ao Estado, e deve ser feita com declaração assinada pela pessoa que autorizou o ingresso
domiciliar, indicando-se, sempre que possível, testemunhas do ato. Em todo caso, a operação deve ser registrada
em áudio-vídeo e preservada tal prova enquanto durar o processo.

5) A violação a essas regras e condições legais e constitucionais para o ingresso no domicílio alheio resulta na
ilicitude das provas obtidas em decorrência da medida, bem como das demais provas que dela decorrerem em
relação de causalidade, sem prejuízo de eventual responsabilização penal do(s) agente(s) público(s) que tenha(m)
realizado a diligência.

STJ. 5ª Turma. HC 616584/RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 30/03/2021.


STJ. 6ª Turma. HC 598051/SP, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 02/03/2021 (Info 687).

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