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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

FACULDADE DE DIREITO

DIREITO PROCESSUAL PENAL II

2º TVC- Sentença, Nulidades e Recursos

Trabalho apresentado ao Prof. Cristiano Alvares


Valladares do Lago por Rosana Magna Vieira
Santos, discente do 9º período do curso de
Direito da Universidade Federal de Juiz de Fora,
sob o número de matrícula 201604130, como
parte dos requisitos necessários à aprovação na
disciplina Direito Processual Penal II.

Juiz de Fora
15 de julho de 2023
1- "SENTENÇA CONDENATÓRIA"

Sentença condenatória é aquela proferida por Juiz de Direito, que impõe ao agente
uma reprimenda a ser cumprida, depois de reconhecida a autoria e materialidade do(s)
crime(s) que lhe foi imputado pela acusação - Ministério Público, aplicando-lhe, então, a lei
penal. Imprescindível para essa condenação é o juízo de certeza, isto é, a necessidade de
provas robustas da autoria e materialidade do delito. Não pode o agente ser condenado
baseado em mera conjecturas, em provas frágeis, isto leva à absolvição (CPP, art. 386). A
verdade sobre os fatos é necessária e exigida para fundamentar uma condenação, dúvidas
geram a absolvição do réu, à luz do princípio in dubio pro reo.
Ao proferir a sentença, o Magistrado fará, então, o exame das provas produzidas sob
o crivo do contraditório e ampla defesa, e das demais produzidas até tal momento
processual, e chegará ao veredito, que deve ser devidamente fundamentado, sob pena de
nulidade, à luz do que está no art. 93, inc. IX, da CF/88. Deverá, também, obedecer, além
dos requisitos formais do art. 381 do CPP, os que estão no art. 387 do mesmo codex, ou
seja, (i) mencionará as circunstâncias agravantes ou atenuantes definidas no Código Penal
e cuja existência reconhecer; (ii) mencionará as outras circunstâncias apuradas e tudo o
mais que deva ser levado em conta na aplicação da pena; (iii) aplicará as penas de acordo
com essas conclusões; (iv) fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela
infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido; (v) atenderá, quanto à aplicação
provisória de interdições de direitos e medidas de segurança, ao disposto no Título XI do CP
(“Da Aplicação Provisória de Interdições de Direitos e Medidas de Segurança”); e (iv)
determinará se a sentença deverá ser publicada na íntegra ou em resumo e designará o
jornal em que será feita a publicação.
Mais do que isso, deverá observar o que está no art. 68 do CP, quer dizer, para
aplicar a pena, realizará a dosimetria, que é dividida em três fases, para, assim, alcançar a
pena-definitiva. Na primeira, a pena-base é fixada dentre as cominadas do crime,
observando o que consta do art. 59 do CP, ou seja, será fixada após exame da
culpabilidade; antecedentes; conduta social; personalidade do agente; motivos;
circunstâncias e conseqüências do crime, e, por fim, do comportamento da vítima. Na
segunda fase, passa o Magistrado à aplicação das atenuantes e agravantes de pena (CP,
arts. 61 a 66), se presentes, fixando, aí, a pena-provisória. Por fim, passa-se à terceira fase,
na qual são aplicadas, também se presentes, as causas de aumento e diminuição. Está aí,
então, o efeito penal primário da sentença, ou seja, a aplicação da pena.
Depois disso, passa-se à fixação do regime inicial para o cumprimento de pena,
atendendo o que prevê o art. 33 do CP, e se estiver o agente preso, o que está no art. 387, §
2º, do CPP. Em seguida, se presentes os requisitos do art. 44 do CP, substitui-se a pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos. Pode, também, ser suspensa, se presentes
os pressupostos do art. 77 do CP.
Feito isso, passa-se à análise da concessão do direito do agente de recorrer em
liberdade, mantendo-se, ou não, a prisão preventiva decretada no curso do processo (CPP,
art. 312), pode, ainda, se presentes os requisitos e pressupostos, ser ela decretada, à
necessidade do caso. Se preso o agente, é determinada a expedição da guia de
recolhimento provisória, se solto, por óbvio, necessidade não há. Por fim, analisa-se as
considerações finais, isto é, a condenação nas custas processuais (CPP, arts. 804 e 805),
destinação de eventuais materiais apreendidos e reparação de danos causados pela
infração ao ofendido (CPP, art. 387, inc. IV).
Consequente ao efeito penal primário, é o secundário, quer dizer, o efeito que terá
essa condenação penal no agente, tanto no âmbito penal, como, por exemplo, a
reincidência, quanto no âmbito extrapenal. Os efeitos extrapenais, divididos em genéricos
e específicos, estão elencados nos arts. 91 e 92 do CP.
Os genéricos, que estão no art. 91 do CP, advém da sentença de forma direta e são
automáticos, e dizem respeito a (i) tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado
pelo crime, vinculado à esfera cível e perfazendo título executivo judicial, e (ii) a perda em
favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé, dos instrumentos do
crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção
constitua fato ilícito; e/ou do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua
proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso, trata-se, portanto, do confisco.
Os específicos, por sua vez, estão no art. 92 do CP, e devem ser declarados,
motivadamente, pelo Magistrado no momento da prolação da sentença, à necessidade e
adequação ao caso concreto, e são subdivididos em três: (i) a perda de cargo, função
pública ou mandato eletivo, desde que presentes os requisitos elencados nas alíneas ‘a’ e
‘b’ do inciso; (ii) a incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela
nos crimes dolosos sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular
do mesmo poder familiar, contra filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado ou
curatelado, e (iii) a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a
prática de crime doloso. Eles estão previstos, também, em legislação penal extravagante e
na CF/88 - suspensão dos direitos políticos.

2- "NULIDADE RELATIVA"

Nulidade é o vício que contamina determinado ato processual, praticado sem a


observância da forma prevista em lei, podendo invalidar o ato ou o processo, no todo ou em
parte.
Nulidades absolutas são aquelas que devem ser proclamadas pelo magistrado, de
ofício ou a requerimento de qualquer das partes, pois violam normas de interesse público,
como, por exemplo, um interrogatório realizado sem a presença de defensor.
Importante lembrar da Súmula no 160 do STF, segundo a qual é nulo o
reconhecimento de nulidade não arguida pela acusação em desfavor do acusado.
Já as nulidades relativas são aquelas que somente serão reconhecidas caso
arguidas pela parte interessada, demonstrando o prejuízo sofrido pela inobservância da
formalidade legal prevista para ato realizado.
Se o ato, ainda que produzido de forma irregular, atingiu a sua finalidade, inexiste
razão para anulá-lo (art. 563 do CPP). Exige‑se que tenha a parte prejudicada pela nulidade
interesse no seu reconhecimento. Logo, não pode ser ela a geradora do defeito (CPP, art.
565).
As nulidades relativas, porque podem ser sanadas, inclusive pela preclusão, têm
prazo para sua arguição. Fixa o art. 571 do CPP as seguintes regras: a) as da instrução
criminal dos processos da competência do júri, até as alegações finais (art. 411, § 4.º, CPP);
b) as da instrução criminal dos procedimentos comuns, até as alegações finais (arts. 403 e
534, CPP); c) as ocorridas após a pronúncia, logo depois de anunciado o julgamento em
plenário e apregoadas as partes (art. 463, CPP); d) as da instrução criminal de processo de
competência originária dos tribunais, até as alegações finais; e) as verificadas após a
decisão de primeira instância, nas razões de recurso (usa se a preliminar para isso) ou logo
após de anunciado o julgamento do recurso e apregoadas as partes (faz-se oralmente à
câmara ou turma julgadora); f) as do julgamento em plenário do Júri, em audiência ou em
sessão do tribunal, logo depois de ocorrerem (cuida-se de preclusão instantânea, caso não
alegada de pronto).
Não há mais o prazo previsto no art. 571, IV, pois não mais se utiliza o disposto no
capítulo das medidas de segurança, inaplicáveis aos imputáveis atualmente.
Ressalte-se que, ao fazer o questionamento das nulidades em memoriais, deve a
parte valer-se da preliminar, isto é, um destaque na petição, anterior à discussão do mérito
da causa. Dessa forma, se o juiz a acolher, nem avalia o mérito, determinando o refazimento
dos atos falhos.
Além disso, temos que convalidar significa restabelecer a validade. Assim, quando
houver algum vício – nulidade relativa – que possa ser sanado ou superado pela falta de
pedido da parte interessada para o seu reconhecimento, dá-se por convalidada a nulidade.
A preclusão – que é a falta de alegação no tempo oportuno – é motivo de validação
do defeito contido em determinado ato processual. Estabelece o art. 571 do CPP, os
momentos para a alegação das nulidades, após os quais, quando relativas, serão
consideradas sanadas.
O trânsito em julgado da sentença pode levar, ainda, à impossibilidade de
reconhecimento das nulidades. Quando condenatória a decisão, não havendo revisão em
favor da sociedade, o princípio é absoluto. Entretanto, no caso da defesa, há a possibilidade
de ajuizamento de revisão criminal ou de habeas corpus, desde que se trate de nulidade
absoluta. Além da preclusão, há possibilidade de se convalidar a nulidade, quando o ato
processual viciado atingir a sua finalidade, como se pode ver no art. 570 do CPP.
As regras básicas para sanar os defeitos das nulidades relativas são as seguintes:
a) se não forem levantadas em tempo oportuno, conforme prazos estipulados no art. 571 do
CPP; b) se o ato processual for praticado de outra forma e, ainda assim, atingir o seu fim; c)
se a parte, ainda que tacitamente, aceitar seus efeitos (art. 572, CPP).
A renovação ou retificação do ato anulado, caso não possa ser corrigido ou superada
a sua falha, é consequência natural da decretação da nulidade. Se o vício não foi
consertado na forma prevista no Código de Processo Penal, é preciso que o juiz considere
nulo o realizado e determine a sua renovação (quando se pratica novamente o ato) ou a sua
retificação (quando se conserta o que estava errado), nos termos do art. 573.

3- "PRESSUPOSTOS RECURSAIS" e "JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE"

Pressupostos recursais são os requisitos de admissibilidade que o recurso deve


possuir, são divididos em pressupostos objetivos (atinentes ao recurso em si) e subjetivos
(referentes às partes).
Em se tratando dos pressupostos objetivos ou extrínsecos, temos: a) cabimento
e adequação, em que o recurso deve estar previsto em lei (taxatividade), demais disso, não
basta que o recurso esteja previsto em lei, porque é premente que seja adequado à decisão
que se deseja impugnar. Esse pressuposto confere lógica ao sistema recursal e decorre do
princípio da taxatividade. Cada decisão, em regra, só comporta um recurso, em face da
aplicação do princípio da unirrecorribilidade das decisões (supra). O recurso, ainda que
inadequado, pode ser recebido e conhecido pelo princípio da fungibilidade, sendo exceção à
adequação. Assim, a interposição equivocada de um recurso pelo outro não impede o seu
conhecimento, desde que oferecido dentro do prazo correto e contanto que não haja má-fé
do recorrente; b) regularidade formal, em que o art. 578 do CPP estabelece a forma
segundo a qual o recurso deve ser interposto. São formalidades legais para o recurso ser
recebido. A apelação, o recurso em sentido estrito e o protesto por novo júri podem ser
interpostos por petição ou termo nos autos. Os demais recursos devem ser interpostos por
petição. Outra formalidade essencial é a motivação (razões), sem a qual se opera nulidade.
A acusação deve apresentar as razões em virtude do princípio da indisponibilidade (art. 576
do CPP). Quanto à defesa, o não oferecimento de razões importaria em prejuízo à ampla
defesa. Por isso, a apresentação tardia das razões importa em mera irregularidade. Essa
regra tem uma exceção: o protesto por novo júri dispensa razões, ou seja, basta a simples
interposição; c) tempestividade, em que o recurso deve ser interposto no prazo legal. Os
prazos começam a correr a partir do primeiro dia útil após a intimação, e, conforme prevê a
Súmula n° 310 do Supremo Tribunal Federal: “quando a intimação tiver lugar na sexta-feira,
ou a publicação com efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na
segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro
dia útil que se seguir”. d) ausência de fatos impeditivos do direito de recorrer, que são
aqueles que impedem a interposição do recurso ou seu recebimento, quais sejam: renúncia
e não recolhimento à prisão nos casos previstos em lei (art. 594 e art. 408, § 2º, ambos do
CPP); e) ausência de fatos extintivos do direito de recorrer, que são fatos
supervenientes à interposição do recurso, quais sejam: desistência (ato de disposição,
porém sempre posterior à interposição do recurso) e deserção (ato de abandonar o recurso.
Equivale à desistência tácita ou presumida).
No que diz respeito aos pressupostos subjetivos ou intrínsecos, temos: a)
legitimidade, que refere-se às partes legítimas para interposição do recurso, quais sejam,
Ministério Público, assistente, querelante, réu ou seu defensor (art. 577 do CPP). Devem ser
intimados o réu e seu defensor, iniciando-se o prazo após a última intimação; b) interesse
jurídico, em que o interesse deriva da sucumbência. A sucumbência ocorre sempre que a
parte teve frustrada alguma expectativa legítima. Estabelece o parágrafo único do art. 577
do CPP: “não se admitirá, entretanto, recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou
modificação da decisão”.
Não obstante, o juízo de admissibilidade é a verificação pelo juiz, mediante a
presença dos pressupostos recursais, objetivos e subjetivos, se referindo, portanto, a
análise da existência dos referidos pressupostos, sendo feito ora pelo juiz de primeiro grau,
ora pelos juízes de segunda instância, verificando se o recurso é cabível; adequado;
tempestivo; se preenche os requisitos formais; se não existem fatos impeditivos ou extintivos
do recurso; se o recorrente tem legitimidade e interesse, etc. Destarte, se o juízo verificar
todos os pressupostos, conhecerá o recurso, do contrário, deixará de conhecê-lo alegando
qual o pressuposto faltante.
Nesse ínterim, faz-se mister ressaltar que as regras aplicáveis para que se faça o
juízo de admissibilidade são aquelas vigente ao tempo de interposição do recurso a ser
analisado, tempus regit actum, ainda que posteriormente sejam revogadas: se o recurso foi
interposto tempestivamente, independentemente de revogação da lei, esta lhe será
aplicada.
Finalmente, cabe-nos discutir quais os recursos cabíveis a serem interpostos contra
a decisão que promover o juízo de admissibilidade. Destarte, em relação à decisão tomada
em sede de primeiro grau de jurisdição, que deixe de conhecer o recurso inicialmente
interposto ou lhe negue seguimento, cabendo Recurso em Sentido Estrito (RESE), nos
termos do artigo 581, inciso XV, quando o juiz deixe de receber uma apelação, respeitando o
prazo de 5 dias; e, deixando de conhecer quaisquer outras espécies de recurso, caberá
Carta Testemunhável, conforme artigos 639 e seguintes, todos do Código de Processo
Penal.Já em segundo grau de jurisdição também caberá recurso contra a decisão que deixar
de conhecer o primeiro instrumento interposto. Deixando o juízo, por exemplo, de admitir
Recurso Especial e Recurso Extraordinário, caberá contra supra referida decisão de
inadmissão, o recurso de Agravo de Instrumento, destinando-se ao Supremo Tribunal de
Justiça ou ao Supremo Tribunal Federal.
A despeito disso, há de se falar do princípio da fungibilidade, estabelecido e regrado
pelo artigo 579 do CPP, o qual permite ao juiz, em seu juízo de admissibilidade, a
possibilidade de conhecer recurso inadequado como se adequado fosse, desde que seja
constatado a inexistência de má-fé, de erro grosseiro e que seja tempestivo em relação ao
prazo do recurso que seria correto. Sendo aplicável o princípio, o juiz imprimirá o
procedimento do recurso que seria o correto. Outrossim, a autora Ada Pellegrini trás um
novo requisito, não fomentado pelo restante da doutrina, de modo a não caber o Princípio
da Fungibilidade quando os recursos tiverem natureza jurídica diversa, sendo um deles, por
exemplo, administrativo e o outro judicial.

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