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OPINIÃO
1. Colocação do tema
O novo Código de Processo Civil realizou notáveis avanços ao disciplinar o instituto
da coisa julgada. O mais importante deles, sob o nosso ponto de vista, foi a
identificação de quatro espécies de coisa julgada.
Assim, tendo como critério o conteúdo da decisão judicial sobre o qual incidirá a
autoridade da coisa julgada, podemos classificá-la, segundo o novo CPC, em: a) coisa
julgada material (artigo 502 do CPC); b) coisa julgada formal (artigo 486, parágrafo 1º
do CPC); c) coisa julgada sobre questão prejudicial (artigo 503, parágrafos 1º e 2º do
CPC); e d) coisa julgada sobre tutela antecipada antecedente (artigo 304, parágrafo 5º
do CPC).
Com base nos referidos dispositivos legais, temos conceituado a coisa julgada como
uma “situação jurídica que se caracteriza pela proibição de repetição do exercício
da mesma atividade jurisdicional, sobre o mesmo objeto, pelas mesmas partes (e,
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excepcionalmente, por terceiros), em processos futuros (ou nas distintas fases dos
processos sincréticos: conhecimento e execução)”[1].
O valor protegido pela coisa julgada é, sem sombra de dúvida, a segurança jurídica,
um dos mais importantes princípios do Estado de Direito. Se, de um lado, a CF abre
as portas do Poder Judiciário para a apreciação de toda lesão ou ameaça de lesão aos
direitos subjetivos (artigo 5º inciso XXXV da CF), de outro lado proíbe, pelo instituto
da coisa julgada, que essa atividade seja exercida em duplicidade (artigo 5º XXXVI
da CF).
O mérito é o objeto do processo, sua questão principal, que será apresentada pelas
partes ao Estado-juiz para resolução. Na sua essência, é composto das “relações
jurídicas afirmadas pelas partes, das quais se extraem os direitos e deveres
subjetivos, com as respectivas pretensões e ações de direito material”[2]. Do ponto
de vista constitucional, corresponde à “lesão ou ameaça a direitos”, que será levada
à apreciação do Poder Judiciário (artigo 5º, XXXV da CF).
O fundamento legal desta nova situação jurídica é o artigo 486, parágrafo 1º do CPC.
Segundo esse dispositivo legal, a parte não poderá repropor a mesma ação, sem a
prévia “correção do vício que levou à sentença sem resolução do mérito”, se o
conteúdo desta decisão se referir às seguintes hipóteses: a) litispendência; c)
indeferimento da petição inicial; c) falta dos pressupostos processuais; d)
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Luiz Guilherme Marinoni nos fornece o seguinte exemplo: “Se na ação de alimentos
decidiu-se, com força de coisa julgada, que A é filho de B, condenando-se B a pagar
alimentos para A, não é possível que B proponha ação negatória para rediscutir a
questão da paternidade em face de A”[6]. Nesse caso, a questão relativa à
paternidade tem natureza prejudicial, na medida em que a concessão dos alimentos
depende lógica e necessariamente do conteúdo da decisão da questão prejudicial, ou
seja, o reconhecimento da paternidade.
Assim, de acordo com o artigo 503, parágrafo 1º e ss do CPC, a decisão que tenha por
conteúdo questão prejudicial também se sujeitará à autoridade da coisa julgada,
tornando-se imutável e indiscutível em processos futuros. Essa é uma grande
novidade técnica na ordem processual.
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Contudo, esse direito de rever a tutela antecipada antecedente tem limite de tempo
para ser exercido, a saber, “2 (dois) anos, contados da ciência da decisão que
extinguiu o processo” (artigo 304, parágrafo 5º do CPC). Esgotado esse prazo, surgirá
uma nova situação jurídica, que se caracteriza pela proibição de
repetição/reprodução do exercício da mesma atividade jurisdicional, sobre o
conteúdo da decisão que concedeu a tutela antecipada antecedente. Essa nova
situação jurídica constitui uma nova espécie de coisa julgada, pois imutabiliza e
torna indiscutível uma decisão cujo conteúdo é uma tutela antecipada antecedente.
Essa nova espécie de coisa julgada tem outra peculiaridade em relação às demais, na
medida em que, enquanto a regra geral fixa o momento do surgimento da coisa
julgada com o trânsito em julgado da decisão (artigo 502 do CPC), neste tipo de
procedimento a res iudicata se formará após o término do prazo de dois anos para a
propositura da ação judicial prevista no parágrafo 2º do artigo 304 do CPC.
Por fim, cumpre ressaltar que a parte inicial do parágrafo 6º, do artigo 304 do CPC,
ao afirmar que “a decisão que concede a tutela antecipada não fará coisa julgada”,
tem levado muitos estudiosos, equivocadamente, a negar a possibilidade de essa
decisão tornar-se imutável e indiscutível. Essa conclusão é inadmissível, porque,
com o término do prazo de dois anos para a propositura da ação prevista no artigo
304, parágrafo 2º, do CPC, a aludida tutela antecipada antecedente não poderá ser
objeto de nova tutela jurisdicional. Destarte, o enunciado do referido texto legal
deve ser interpretado de forma sistemática, para não contrariar a norma do
parágrafo 5º do artigo 304 do CPC.
7. Conclusão
Concluímos, pois, que o novo Código de Processo Civil disciplinou quatro espécies de
coisa julgada, que possuem como traço de identidade a proibição de repetição do
exercício da mesma atividade jurisdicional, sobre o mesmo objeto, pelas mesmas
partes (e, eventualmente, por terceiros), em processos futuros (e nas fases distintas
dos processos sincréticos: conhecimento e execução), mas se diferenciam em razão
do conteúdo da decisão judicial que se torna imutável e indiscutível. Essas situações
jurídicas processuais podem ser assim denominadas: a) coisa julgada material
(artigo 502 do CPC); b) coisa julgada formal (artigo 486, parágrafo 1º do CPC); c) coisa
julgada sobre questão prejudicial (artigo 503, parágrafos 1º e 2º do CPC); e d) coisa
julgada sobre tutela antecipada antecedente (artigo 304, parágrafo 5º do CPC).
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