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Justiça Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

11/11/2020

Número: 1023553-06.2019.4.01.3500
Classe: AÇÃO CIVIL PÚBLICA CÍVEL
Órgão julgador: 6ª Vara Federal Cível da SJGO
Última distribuição : 06/12/2019
Valor da causa: R$ 10.000,00
Assuntos: Transporte Rodoviário
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
Ministério Público Federal (Procuradoria) (AUTOR)
UNIÃO FEDERAL (RÉU)
AGENCIA NACIONAL DE TRANSPORTES TERRESTRES -
ANTT (RÉU)
ASSOCIACAO NACIONAL DAS EMPRESAS DE GUSTAVO LOPES DE SOUZA (ADVOGADO)
TRANSPORTE RODOVIARIO DE PASSAGEIROS - ANATRIP
(ASSISTENTE)
ASSOCIACAO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE MARIA ZULEIKA DE OLIVEIRA ROCHA (ADVOGADO)
TRANSPORTE TERRESTRE DE PASSAGEIROS ALDE DA COSTA SANTOS JUNIOR (ADVOGADO)
(ASSISTENTE) JOAO PAULO MORAES ALMEIDA (ADVOGADO)
Ministério Público Federal (Procuradoria) (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
36492 29/10/2020 15:05 Decisão Decisão
1377
PODER JUDICIÁRIO - JUSTIÇA FEDERAL
6ª Vara da SJGO

PROCESSO: 1023553-06.2019.4.01.3500 CLASSE: AÇÃO CIVIL PÚBLICA CÍVEL (65) AUTOR: MINISTÉRIO
PÚBLICO FEDERAL (PROCURADORIA) RÉU: UNIÃO FEDERAL, AGENCIA NACIONAL DE TRANSPORTES
TERRESTRES - ANTT

DECISÃO

Cuida-se de Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público Federal, visando, em sede de
liminar, a suspensão de normas estabelecidas pelos Decretos 3.691/2000 (art. 1º), 9.921/2019 (arts. 39 e 40) e
8.537/2015 (art. 13), a fim de assegurar a concessão de passe livre às pessoas com deficiência, às pessoas
idosas e aos jovens de baixa renda em todos os veículos destinados ao transporte rodoviário interestadual,
independentemente da categoria do serviço ofertado. Subsidiariamente, pede a suspensão do art. 33 da
Resolução n.º 4.770/2015 da ANTT, para os fins de se estabelecer a frequência mínima de um linha por dia,
em cada mercado, para a oferta do serviço convencional.

Petição da AGU, pugnando pela manifestação prévia das requeridas para a formação da
convicção acerca da pretensão liminar (ID 137838393).

A apreciação do pedido de liminar foi remetida para depois da apresentação de resposta pelas
partes requeridas (ID 137294356).

Manifestação da ANTT (ID 166400855) com apresentação de contestação (ID 176614361).

Liminar deferida (ID 207595369), com notícia de interposição de agravo pela ANTT (ID
217518395).

MPF apresentou impugnação à contestação da ANTT (ID 217163352).

A Associação Nacional das Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiros – ANATRIP


requereu sua admissão no feito na qualidade de amicus curiae (ID 219490930), com o qual anuiu o MPF (ID
222908867), o que foi deferido pelo juízo (ID 237553972).

Pedido de reconsideração pela ANTT com reiteração da notícia de interposição de agravo e


juntada de documentos (ID 221419924).

Requerimento de admissão no feito na qualidade de assistentes litisconsorciais da parte

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requerida: Expresso Satélite Norte Ltda (222818380); Associação Brasileira das Empresas de Transporte
Terrestre de Passageiros - ABRATI (ID 225921894); Empresa Gontijo de Transporte Ltda (ID 228998453); e
Viação Ouro e Prata S/A (ID232077868). Juntaram documentos e requereram a reconsideração da decisão que
deferiu os efeitos da antecipação da tutela. A empresa Viação Ouro e Prata S/A apresentou contestação.

Indeferimento pelo TRF/1ª Região do pedido de atribuição de efeito suspensivo ao agravo


interposto pela ANTT (ID 225123858).

Manifestação favorável da AGU ao ingresso das empresas como litisconsortes (ID 240901939).
Pede a revogação da decisão liminar e a suspensão do feito em razão da ordem de sobrestamento no território
nacional de todos os processos que tratem da matéria versada no RE 1.101.937/SP, que teve repercussão
geral reconhecida pelo STF (Tema 1075).

Embargos de declaração opostos pela Viação Ouro e Prata S/A (ID 243325892).

ANTT suscita a ocorrência de litispendência com o processo n.º 5033938-68.2018.4.04.7000,


em trâmite na 3ª Vara Federal da Seção Judiciária do Paraná (ID 244806910).

A Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros – ABRATI


informa a suspensão dos efeitos da tutela deferida neste Juízo por força de decisão proferida pelo STJ na
Suspensão de Liminar de nº 2719/GO (2020/0113451-0) (ID 245095348).

Parecer do MPF opinando pelo deferimento do pedido de inclusão no feito como litisconsortes
apenas as empresas ANATRIP e ABRATI (ID 245996855).

Defesa da AGU protocolada no ID 248981900. Sustenta, em preliminar, sua ilegitimidade


passiva. No mérito pugna pela improcedência dos pedidos. Manifesta concordância com o ingresso das
empresas na qualidade de litisconsortes (ID 248981934).

Em petição registrada em 17/08/2020, a AGU defende a extinção do processo sem o julgamento


do mérito em virtude de litispendência ou, subsidiariamente, a reunião da presente ação com a ACP nº
5050906-04.2017.4.04.7100/RS, mediante o declínio de competência para o juízo da 5ª Vara Federal da Seção
Judiciária do Rio Grande do Sul ou, em caso negativo, reitera a suspensão do feito até a deliberação final do
STF no RE 1.101.937/SP (ID 305600882).

Petição do MPF defendendo a competência da Justiça Federal, sua legitimidade ativa e a


procedência dos pedidos (ID 305600883).

Requerimento de expedição de ofício à Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT


formulado pela ANATRIP, na qualidade de amicus curiare, para fins de ciência acerca da decisão proferida pelo
STJ na Suspensão de Liminar de nº 2719/GO (ID 357871352), o que restou deferido pelo Juízo (IDs
360937122 e 360989148).

Manifestação do MPF relativa às arguições de litispendência e conexão, bem como dos


embargos opostos pela Viação Ouro e Prata S/A (ID 363256459).

É o relato do necessário.

Decido.

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A questão posta nos autos refere-se à legalidade dos decretos regulamentares que tratam do
desconto/gratuidade nos serviços de transportes coletivos interestaduais em relação aos idosos, às pessoas
com deficiência e aos jovens de baixa renda.

Passo à análise das questões suscitadas pelas partes.

Da Litispendência ou conexão

A litispendência caracteriza-se quando há identidade de partes, de causa de pedir e de pedido


entre duas ações que ainda se encontram pendentes de julgamento definitivo de mérito, conforme previsto nos
§§ 1º a 3º do art. 337 do CPC.

Tanto a ANTT quanto a AGU mencionaram a existência de demandas referente ao assunto ora
tratado, em trâmite nas Seções Judiciárias do Paraná e do Rio Grande do Sul.

Contudo, não merece ser acolhida a alegação de litispendência e tampouco de conexão.

Da leitura das peças iniciais das ações indicadas, extrai-se o seguinte:

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No tocante à ação coletiva em trâmite na 3ª Vara da SJPR (n.º 5033938-68.2018.4.04.7000),
embora haja coincidência de objeto com o presente feito[1], consoante informação registrada no ID 364888558,
o Juízo daquela demanda acolheu a emenda à inicial do MPF e delimitou a abrangência de seu pedido às
linhas de transporte interestadual de passageiros cuja origem ou destino sejam no Estado do Paraná, razão
pela qual não há falar em litispendência.

Da mesma forma em relação ao processo n.º 5050906-04.2017.4.04.7100 (RS). Observa-se que


a pretensão formulada naqueles autos visa beneficiar as pessoas idosas [Decreto 5.934/2006 (art. 3º, § 1º, I e
art. 4º, §único, incisos I e II), posteriormente revogado pelo Decreto 9.921/2019] e portadoras de deficiência
[Decreto 3.691/2000 (art. 1º)]. Ou seja, além de não abranger os jovens de baixa renda [Decreto 8.537/2015
(art. 13)], não engloba requerimento subsidiário relativo à frequência mínima de oferta de viagens rodoviárias
interestaduais pelo serviço convencionar, como ocorre no presente caso (pedido mais amplo), motivo pelo qual
devem ser rejeitadas as alegações de litispendência ou conexão.

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Ademais, de acordo com o art. 16 da Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) “A sentença civil
fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for
julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra
ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova”.

Dos Embargos de Declaração da Viação Ouro e Prata S/A

Do despacho ID 237553972, a empresa Viação Ouro e Prata S/A opôs embargos de declaração
sob a justificativa de incorrer em omissão ao deixar de apreciar seu pedido de ingresso no feito na condição de
litisconsorte passiva, formulado na petição ID 232077868.

Conforme restou consignado na deliberação embargada, os pedidos de formação de


litisconsórcio passivo das empresas Expresso Satélite Norte Ltda (222818380); Gontijo de Transporte Ltda (ID
228998453) e Viação Ouro e Prata S/A (ID232077868), bem como da Associação Brasileira das Empresas de
Transporte Terrestre de Passageiros - ABRATI (ID 225921894), seriam apreciados pelo Juízo tão logo que
apresentadas as manifestações do MPF, da AGU e da ANTT acerca da questão, o que será feito no tópico a
seguir.

Assim, inexistente o vício alegado pela parte embargante, a rejeição dos embargos é medida
que se impõe.

Do Litisconsórcio Passivo

Sobre o litisconsórcio necessário, o CPC dispõe que ele decorre de imposição legal ou da
natureza da relação jurídica controvertida (art. 114), bem como que ao autor cumpre requerer a citação de
todos que devam ser litisconsortes, dentro do prazo que lhe for assinalado, sob pena de extinção do processo
(§ único do art. 115), vez que “A sentença de mérito quando proferida sem a integração do contraditório será
nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação a todos que deveriam ter integrado o processo” e “ineficaz,
nos outros casos, apenas para os que não foram citados” (art. 115, I e II).

No caso concreto, além de inexistir previsão legal que determine a formação do litisconsórcio
passivo necessário entre a ANTT e a AGU e as empresas privadas que atuam no ramo de transporte
interestadual de passageiros, tampouco a relação jurídica controvertida [legalidade ou não dos atos normativos
da União e/ou ANTT pertinentes ao exercício de suas atribuições regulatórias para fins de concretização e
operacionalização do exercício do direito das pessoas com deficiência, dos idosos e dos jovens de baixa renda
à gratuidade no transporte coletivo interestadual de passageiros] exige, para fins de eficácia da sentença, que
todas elas sejam citadas. Isso porque, a competência para editar atos normativos ou regulamentares é da
Administração Pública direta ou indireta.

E, ainda que a solução da controvérsia delineada na presente ação coletiva opere efeitos
perante terceiros – tais como as referidas empresas -, tem-se que eles podem ser objeto de ação própria,
consideradas as peculiaridades de cada entidade envolvida.

Não obstante, é cabível o ingresso da Associação Brasileira das Empresas de Transporte


Terrestre de Passageiros – ABRATI e da Associação Nacional das Empresas de Transporte Rodoviário de
Passageiros – ANATRIP para atuarem como assistente litisconsorcial (arts. 119 e 124 do CPC)[2], por

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manterem relação jurídica com a ANTT e, também, serem atingidas, direta ou indiretamente, pelos efeitos da
sentença futura.

Tal conclusão decorre do fato de que ambas associações tem atribuição para defender os
interesses de todas as empresas brasileiras de transporte terrestre/rodoviário de passageiros a ela associadas,
conforme disposição constante de seus próprios estatutos [art. 4º, “f” (ID 225921900, pág. 03) e art. 4º, “I” (ID
219490932, pág. 02)] e das autorizações pertinentes (IDs 219490935 e 225921912).

Nesse sentido, posicionou-se o STF, ao julgar o RE 573.232/SC. Na ocasião firmou


entendimento de que a atuação das associações não enseja substituição processual, mas representação
específica; ou seja, deverá ser chancelada por ata de assembleia ou autorização individual para que seja
considerada autorizada.

Nesse contexto, uma vez que as empresas Gontijo de Transporte Ltda e Viação Ouro e Prata
S/A são associadas à ABRATI (ID 225921920) e a Expresso Satélite Norte Ltda à ANATRIP (ID 222818380),
impõe-se o indeferimento dos pedidos de intervenção assistencial formulados (IDs 228998453,
ID232077868 e 222818380.

Diante da manifestação favorável do MPF (ID 245996855), retifique-se a autuação para constar
as associações ABRATI e ANATRIP no polo passivo da lide, na qualidade de assistentes litisconsorcial, nos
termos dos arts. 119 e 124 do CPC, cuja citação de pronto determino.

Da Legitimidade da União Federal

No que tange à legitimidade passiva da União, repara-se que, embora o MPF tenha suscitado a
ilegalidade dos decretos por exorbitância do poder regulamentar e, subsidiariamente, a suspensão do art. 33 da
Resolução n.º 4.770/2015 da ANTT, para os fins de se estabelecer a frequência mínima de um linha por dia,
em cada mercado, para a oferta do serviço convencional, não deduziu nenhuma pretensão em face do ente
federal, razão pela qual acolho a preliminar levantada e, em consequência, determino sua exclusão do feito.

Retifique-se a autuação.

Da Suspensão do feito

É cabível o sobrestamento do feito por força do decidido pelo STF no RE 1.101.937/SP, em que
se discute a constitucionalidade do art. 16 da Lei nº 7.347/1985, pois a matéria aqui tratada [concessão da
gratuidade tarifária do transporte público interestadual às pessoas com deficiência, idosos e aos jovens de
baixa renda, independente do mercado e em frequência mínima diária], poderá ser prejudicada pela definição
do alcance das sentenças prolatadas em ações civis públicas, objeto do citado recurso com repercussão geral
(Tema 1075). Pedido deferido.

Intimem-se.

Citem-se as associações ABRATI e ANATRIP.

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Apresentada a defesa, intimem-se as partes para réplica.

Em seguida, não havendo questões a serem deliberadas, cumpra-se a ordem de suspensão da


tramitação do feito até ulterior decisão do STF em sentido diverso.

Retifique-se a autuação.

(data e assinatura eletrônicas).

<<<assinado digitalmente>>>
Paulo Ernane Moreira Barros
Juiz Federal

[1] Decreto n.º 5.934/2006 foi revogado pelo Decreto n.º 9.921/2019.

[2] Art. 119. Pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente
interessado em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para
assisti-la.

Parágrafo único. A assistência será admitida em qualquer procedimento e em todos os graus de


jurisdição, recebendo o assistente o processo no estado em que se encontre.

[...]

Art. 124. Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente sempre que a sentença influir
na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido.

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