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Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

PJe - Processo Judicial Eletrônico

04/03/2021

Número: 0755919-49.2019.8.07.0016
Classe: CUMPRIMENTO DE SENTENÇA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA
Órgão julgador: 2º Juizado Especial da Fazenda Pública do DF
Última distribuição : 07/11/2019
Valor da causa: R$ 1.915,38
Processo referência: 0755919-49.2019.8.07.0016
Assuntos: Valor da Execução / Cálculo / Atualização
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
ADRIANO FERREIRA DE JESUS (REQUERENTE)
ANDERSON GOMES RODRIGUES DE SOUSA (ADVOGADO)
DEPARTAMENTO DE ESTRADA DE RODAGEM DO
DISTRITO FEDERAL - DER (REQUERIDO)
DEPARTAMENTO DE TRANSITO DO DISTRITO FEDERAL
(REQUERIDO)

Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
59465378 17/03/2020 Sentença Sentença
13:14
Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

2JEFAZPUB
2º Juizado Especial da Fazenda Pública do DF

Número do processo: 0755919-49.2019.8.07.0016


Classe judicial: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436)
AUTOR: ADRIANO FERREIRA DE JESUS
RÉU: DEPARTAMENTO DE TRANSITO DO DISTRITO FEDERAL, DEPARTAMENTO DE
ESTRADA DE RODAGEM DO DISTRITO FEDERAL - DER

SENTENÇA

Trata-se de Ação Anulatória de Ato Administrativo, sob o rito dos Juizados Especiais, proposta por
ADRIANO FERREIRA DE JESUS em desfavor do DEPARTAMENTO DE TRANSITO DO DISTRITO
FEDERAL - DETRAN/DF E DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM DO DISTRITO
FEDERAL – DER/DF, tendo como objeto a anulação da infração de trânsito definida no art. 165 do Código
de Trânsito Brasileiro: Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que
permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa.
Dispensado o relatório (artigo 38, da Lei 9.099/95).
DECIDO.
O feito comporta julgamento antecipado (art. 355, I, do Código de Processo Civil).
Presentes os pressupostos processuais e condições da ação, passo ao mérito.
A controvérsia da demanda se subsume à verificação de regularidade do Auto de Infração nº Y0001115623,
o qual aplicou a penalidade no art. 165 do Código de Trânsito Brasileiro à parte Autora, sob a alegação de
que esta se recusou a realizar o teste do etilômetro.
O mencionado diploma legal prevê que a penalidade prevista no art. 165 pode ser aplicada em casos de
recusa do condutor a se submeter aos exames, na forma do art. 277, a seguir transcrito:
Art. 277. O condutor de veículo automotor envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo de
fiscalização de trânsito poderá ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que, por
meios técnicos ou científicos, na forma disciplinada pelo Contran, permita certificar influência de álcool ou
outra substância psicoativa que determine dependência. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)
(...)
§ 2o A infração prevista no art. 165 também poderá ser caracterizada mediante imagem, vídeo, constatação
de sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora ou
produção de quaisquer outras provas em direito admitidas. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)
§ 3o Serão aplicadas as penalidades e medidas administrativas estabelecidas no art. 165 deste Código ao
condutor que se recusar a se submeter a qualquer dos procedimentos previstos no caput deste
artigo. (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)
Ainda, o art. 280, § 2º, prevê que “a infração deverá ser comprovada por declaração da autoridade ou do
agente da autoridade de trânsito, por aparelho eletrônico ou por equipamento audiovisual, reações químicas
ou qualquer outro meio tecnologicamente disponível, previamente regulamentado pelo CONTRAN.”
No caso em tela, verifica-se, a inexistência de documento ou laudo que caracterize a aplicação da infração
prevista no art. 165 do Código de Trânsito Brasileiro, que deve ser procedido pelo agente de trânsito nos
casos de recusa do condutor do veículo ao exame de etilômetro, ou, ao menos, uma declaração do agente
autuador que ateste a situação de torpor da parte Autora.
Ora, é dever do agente de trânsito, verificando o estado de embriaguez, registrar a ocorrência de forma
circunstanciada, a fim de que o ato administrativo por ele exarado goze dos atributos de presunção de
legitimidade e veracidade e ganhe altitude suficiente a suprir o laudo de alcoolemia (art. 277 do CTB e arts
3º, inciso IV, e 5º, inciso II, da Resolução CONTRAN nº 432/2013).
Não se presta a circunstanciar o estado de embriaguez de condutor que se recusou a realizar o teste do
etilômetro o auto de infração que se limita a mencionar aquela recusa, sem detalhar especificadamente as
reais condições do condutor, ainda mais quando se considera que a Resolução 432/2013, do CONTRAN,

Número do documento: 20031713141787600000056837246


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Assinado eletronicamente por: CARMEN NICEA NOGUEIRA BITTENCOURT - 17/03/2020 13:14:18 Num. 59465378 - Pág. 1
prevê 23 sinais de embriaguez, supletivos do teste de alcoolemia. No caso em exame, o agente de trânsito
limitou-se a tipificar a infração e não fazendo juntar relatório de constatação do estado de embriaguez (ID
40354797 - Pág. 17).
Nesse sentido, é entendimento das e. Turmas Recursais:
JUIZADO ESPECIAL. FAZENDA PÚBLICA. AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO ADMINISTRATIVO.
TESTE DO BAFÔMETRO. RECUSA. AUSÊNCIA DE EXAME DE ALCOOLEMIA. CONSTATAÇÃO
DE EMBRIAGUEZ POR OUTROS MEIOS. FATO ANTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI 13.821/2016.
NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO. 1. Trata-se de recurso interposto contra sentença que anulou o
auto de infração S002.595077 e os efeitos dele decorrentes, uma vez que nele não foram descritas
características do condutor pelo agente público, no Auto de Infração supracitado, ID 9449934 - p. 5 e 6, e
tampouco foi lavrado Auto de Constatação de Condução de Veículo, sob Influência de Álcool que
descrevessem sinais de embriaguez do condutor. 2. A configuração da infração de trânsito prevista no art.
165 do Código de Trânsito Brasileiro (dirigir sob a influência de álcool) prescinde do teste de alcoolemia,
desde que o agente de trânsito certifique o estado de embriaguez por outros meios de prova (art. 277 do
CTB). 3. O recorrente sustenta que a recusa à submissão ao teste do bafômetro constitui infração autônoma,
a qual dispensa a necessidade de indicação de sinais de embriaguez. Com efeito, o art. 165-A do CTB prevê
a infração administrativa autônoma consistente na recusa à submissão ao exame de alcoolemia. No entanto,
a autuação do recorrido ocorreu em 04/06/2016 (ID 9449934), antes da inclusão do art. 165-A, do CTB, pela
Lei 13.281/2016, publicada em 04/05/2016, com previsão de início de vigência após 180 dias. Assim, a
previsão de infração administrativa autônoma, quando da recusa à realização do teste do bafômetro, ainda
não estava em vigor, devendo o fato ser examinado de acordo com a legislação então vigente à época. Ora, o
Código de Trânsito brasileiro previa, em seu art. 277, a caracterização da infração administrativa para o caso
de recusa do condutor em realizar o teste, desde que certificada a embriaguez, pelo agente de trânsito, por
meio de outras provas. O anexo da Resolução CONTRAN n. 206/2006 prevê 23 sinais de embriaguez,
supletivos do teste de alcoolemia. Entretanto, nenhum desses sinais restou consignado no auto de infração.
4. Com efeito, o Auto de Infração foi lavrado em desconformidade com as disposições legais então vigentes,
sendo, pois, nulo, bem como todos os seus efeitos decorrentes. 5. RECURSO CONHECIDO e NÃO
PROVIDO. Sentença mantida. Condeno a parte recorrente ao pagamento de custas processuais e honorários
advocatícios, estes fixados em 10% sobre o valor da causa. 6. A ementa servirá de acórdão, conforme art. 46
da Lei n. 9.099/95.
(Acórdão n.1188822, 07190136020198070016, Relator: SONÍRIA ROCHA CAMPOS D'ASSUNÇÃO
Primeira Turma Recursal, Data de Julgamento: 25/07/2019, Publicado no DJE: 06/08/2019. Pág.: Sem
Página Cadastrada.)
Quanto à possibilidade de anulação do auto de infração devido ausência da dupla notificação, o Superior
Tribunal de Justiça cristalizou entendimento no enunciado sumular n. 312: “no processo administrativo para
imposição de multa de trânsito, são necessárias as notificações da autuação e da aplicação da pena
decorrente da infração”.
O CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO - CONTRAN, com vistas a uniformizar o procedimento
administrativo de lavratura do auto de infração, expediu a Resolução 149/2003, que estabelece que devem
ser enviadas aos supostos infratores duas notificações: uma de autuação, na qual deve constar o prazo para
impugnação, e outra de notificação da penalidade em caso de não acolhimento da defesa. Vale transcrever a
disciplina acerca da obrigatoriedade da notificação de autuação:
Art. 3º. À exceção do disposto no § 5º do artigo anterior, após a verificação da regularidade do Auto de
Infração, a autoridade de trânsito expedirá, no prazo máximo de 30 (trinta) dias contados da data do
cometimento da infração, a Notificação da Autuação dirigida ao proprietário do veículo, na qual deverão
constar, no mínimo, os dados definidos no art. 280 do CTB e em regulamentação específica.
§ 1º. Quando utilizada a remessa postal, a expedição se caracterizará pela entrega da Notificação da
Autuação pelo órgão ou entidade de trânsito à empresa responsável por seu envio.
§ 2º. Da Notificação da Autuação constará a data do término do prazo para a apresentação da Defesa da
Autuação pelo proprietário do veículo ou pelo condutor infrator devidamente identificado, que não será
inferior a 15 (quinze) dias, contados a partir da data da notificação da autuação.
§ 3º. A notificação da autuação, nos termos do § 4º do artigo anterior, não exime o órgão ou entidade de
trânsito da expedição de aviso informando ao proprietário do veículo os dados da autuação e do condutor
identificado.
O tema também está devidamente regulado no art. 282, § 4º do Código de Trânsito Brasileiro:

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Art. 282. Aplicada a penalidade, será expedida notificação ao proprietário do veículo ou ao infrator, por
remessa postal ou por qualquer outro meio tecnológico hábil, que assegure a ciência da imposição da
penalidade.
§ 4º Da notificação deverá constar a data do término do prazo para apresentação de recurso pelo responsável
pela infração, que não será inferior a trinta dias contados da data da notificação da penalidade.
Impõe-se o arquivamento do auto de infração, conforme inciso II do parágrafo único do artigo 281 do CTB:
Art. 281 (...)
Parágrafo único: O auto de infração será arquivado e seu registro julgado insubsistente:
I - se considerado inconsistente ou irregular;
II – se, no prazo máximo de 30 dias, não for expedida a notificação da autuação.
No caso em concreto, necessário apurar se a dupla notificação da infração ocorreu nos termos legais.
No caso em análise, o requerido não demonstrou nos autos ter enviado a notificação da penalidade ao
endereço registral do requerente, não comprovando que houve a dupla notificação, é de se reconhecer que
houve ofensa ao direito de ampla defesa e de contraditório assegurado ao condutor.
Dessa forma, ausente requisito para fundamentar a suposta infração praticada, verifica-se que o ato
administrativo impugnado possui vício formal insanável, tornando-o nulo.
Todavia, deixo de determinar o ressarcimento do valor correspondente à infração, tendo em vista que não há
nos autos comprovante de seu pagamento.
Ante o exposto, resolvo o mérito com fulcro no art. 487, I, do Código de Processo Civil e JULGO
PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido apenas para declarar a nulidade do Auto de Infração de
Trânsito de nº Y001115623 e dos efeitos dele decorrente, em especial, a exclusão de eventual pontuação
inserida no prontuário do autor pertinente à infração de trânsito prevista no art. 165 do CTB.
Sem custas ou honorários, na forma do artigo 55, caput, da Lei 9.099/95.
Não havendo outros requerimentos, após o trânsito em julgado, arquivem-se os autos com as cautelas de
estilo.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

BRASÍLIA, DF, 16 de março de 2020 19:13:57.

CARMEN NICEA NOGUEIRA BITTENCOURT


Juíza de Direito

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