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DOS FATOS E FUNDAMENTOS LEGAIS

No dia 28/01/2018, por volta das 21:20 horas, o recorrente foi autuado
como incurso no artigo 175 do CTB:

Art. 175. Utilizar-se de veículo para demonstrar ou exibir manobra perigosa,


mediante arrancada brusca, derrapagem ou frenagem com deslizamento ou
arrastamento de pneus:

Infração - gravíssima;

Penalidade - multa (dez vezes), suspensão do direito de dirigir e apreensão


do veículo;

Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação e


remoção do veículo.

Ela é comumente chamada de “direção perigosa” e ocorre quando o


condutor quer utilizar o veículo para se exibir na via pública; o que se pune é
a exibição da manobra perigosa não constituindo infração, portanto, a falta
de intenção.

Pela letra da Lei, são causas da infração o condutor exibir manobra


perigosa, mediante arrancada brusca, derrapagem ou frenagem com
deslizamento ou arrastamento de pneus.
Em análise mais profunda e técnica do artigo, podemos concluir que o
legislador, de forma ampla, tentou delimitar o que configuraria a infração.
Previu como objeto da infração a ação de exibir manobra perigosa.

Quando se referiu à arrancada brusca, já tivemos inúmeras infrações


registradas por um simples excesso de aceleração, que faz com que pneus
escapem, mas isto sem nenhum propósito de se exibir.

Então, nos casos de arrastamento de pneus, uma freada com pista molhada,
na manobra do desvio de buracos, na frenagem para evitar choques mais
bruscos entre o veículo e o buraco na pista, o que muitas vezes é suficiente
para que isto ocorra, porém, não teve o condutor a intenção de exibir
manobra perigosa.
Em ainda mais, em situações escrachadas, como a manobra conhecida
como cavalo de pau ou arrancadas onde haja derrapagem de pneus por um
longo trecho, não há como o Autuador saber o que pretende um condutor
com a manobra; se exibir ou apenas teve um descuido.
Contudo, o simples fato de cometer uma das ações que descrevi não significa
que tenha o motorista cometido à infração do artigo 175 do CTB,
primeiramente a intenção de “exibir” deve ser clara, e identificada pelo
agente autuante, ou seja, deve o agente descrever como chegou a sua
conclusão.
Além da intenção de exibir, é importante definir que deve a manobra gerar
alguma forma de perigo aos demais condutores, ou seja, gerar risco à
segurança do trânsito.
Certo é que deve ser punido àquele que comete grandes imprudências no
trânsito, mas deve ser atentado para detalhes que definam a intenção do
condutor com cada manobra, e isso deve ser anotado de forma clara, de
modo que o condutor não tenha seu direito de defesa prejudicado e a
administração pública se mostre mais eficiente, de modo à evitar
arbitrariedades.

Não se pode gerar um risco aos motoristas de que, por um simples descuido,
caso seu veículo tenha um sutil arrastamento de pneus por uma frenagem
ou quando passar por uma lombada ou desviar de buracos, isso possa gerar
uma infração.

Evidentemente o procedimento realizado pelos agentes que fizeram a


autuação macula totalmente a imposição de penalidade aplicada, pois, caso
tivessem certeza do procedimento adotado teriam retido a carteira de
motorista do condutor, medida administrativa que se impõe nesse
dispositivo de norma.

O Cetran/PR, em parecer sobre os desdobramentos do artigo 175 do Código


de Trânsito Brasileiro, entendeu que a penalidade prevista pelo artigo é
bastante prejudicial ao infrator, devendo, portanto, ser corretamente
discriminada pelo agente de trânsito. Segundo a Portaria 59 do
DENATRAN, em seu anexo IV, o artigo 175 do CTB possui três
desdobramentos:

1) Utilizar-se do veículo para demonstrar ou exibir manobra perigosa;

2) Utilizar-se do veículo para demonstrar ou exibir arrancada brusca;

3) Utilizar-se do veículo para demonstrar ou exibir derrapagem ou


frenagem.

Contudo, atualmente muitos autos de infração constam apenas a


denominação comum do art. 175 do CTB, não apontando qual foi o
desdobramento cometido.

Descreveu, ainda, o seguinte:

Destarte, para não mais ocorrer desconsideração de tantos autos de


infração, torna-se necessário um preenchimento mais qualificado que
aquele determinado pela Portaria 59 do DENATRAN; não sendo suficiente
apenas a informação sobre a tipificação da infração, mas também devendo
estar presente no campo de observações o conteúdo de qual das atitudes
previstas no supramencionado artigo foi cometida pelo infrator.

Pelo exposto, fica determinado pelo Conselho Estadual de Trânsito do


Paraná que seja orientado aos Agentes da Autoridade de Trânsito do Detran
para corretamente preencherem os autos de infração nos casos do art. 175,
do CTB, havendo preenchimento tanto do campo de tipificação da infração
como do campo de observações, indicando em qual dos desdobramentos do
artigo o infrator incorre.

Todavia, a Imposição de Penalidade não pode prosperar. O Código


Civil Brasileiro ensina no art. 166, inciso IV, que é nulo o negócio
jurídico quando não revestir a forma prescrita em lei. Assim, no
caso das autuações de trânsito, podemos dizer que se trata de um “negócio
jurídico” entre o Estado e o cidadão. Desta maneira, deve ser preenchido
todos os requisitos prescritos em Lei, sob pena de nulidade do ato
administrativo.
Assim sendo, ao autuar o cidadão, o Departamento de Trânsito deve
preencher corretamente o auto de infração, conforme prevê o
art. 280 do Código de Trânsito Brasileiro, in verbis:
Art. 280. Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito,
lavrar-se-á auto de infração, do qual constará:
I - tipificação da infração;
II - local, data e hora do cometimento da infração;

III - caracteres da placa de identificação do veículo, sua marca e espécie, e


outros elementos julgados necessários à sua identificação;

IV - o prontuário do condutor, sempre que possível;

V - identificação do órgão ou entidade e da autoridade ou agente autuador


ou equipamento que comprovar a infração;

VI - assinatura do infrator, sempre que possível, valendo esta como


notificação do cometimento da infração.

Neste sentido, vale destacar o posicionamento do Supremo Tribunal


Federal, esposado nas Súmulas 346 e 473: "A Administração pública pode
declarar a nulidade dos seus próprios atos" e "A Administração pode anular
seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque
deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os
casos, a apreciação judicial".
É latente que o AUTO em análise ficou vago, impreciso sobre o fato
ocorrido, sem informações que deixam claramente a manobra realizada para
imputação da penalidade, o que não pode se aceitar, uma vez que as
medidas do art. 175 do CTB são de gravidade extrema para o condutor, pois
se aplica uma penalidade de grande rigor, com multa altíssima, suspensão
de carteira, recolhimento de documento e apreensão do veículo, causando
grande impacto na vida do condutor.

Por estes motivos, pautado o agente público na estrita legalidade, deve este
Órgão julgador de trânsito, anular a NOTIFICAÇÃO DA AUTUAÇÃO DE
INFRAÇÃO DE TRÂNSITO em comento, pois eivada de vícios que a torna
ilegal, dela não se origina direitos.

DOS PEDIDOS

Nobres julgadores, diante de todo o exposto, venho requerer:

1. Que seja recebida a presente Defesa, em decorrência de sua


tempestividade e, pois, preenche todos os requisitos de sua
admissibilidade, com cópia de documentos citados nos autos;
2. Requer, igualmente, a nulidade da citação direcionada para outro
endereço, que não o prefaciado pelo recorrente.
3. Que seja DEFERIDA a presente Defesa, e por via de
consequência o cancelamento da multa imposta, conforme
preceitua o art. 281, inciso I do CTB;
4. De acordo com o Artigo 37 da Constituição Federal e
Lei 9.784/00, a administração direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios devem obedecer aos princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, motivação e eficiência,
sendo que, caso não seja acatado o pedido, solicito um parecer
por escrito do responsável com decisão motivada e
fundamentada sob pena de nulidade de todo este processo
administrativo;
5. Requer-se, finalmente, o efeito suspensivo propugnado no
artigo 285, parágrafo 3º do CTB (Lei n. 9.503/97), caso o
presente recurso não seja julgado em 30 dias, e da Lei Federal n.
9.784/99, que regulamenta o Processo Administrativo,
no parágrafo único do art. 61.
Nestes termos,

Pede deferimento.

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