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AO ILUSTRÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO DETRAN DO ESTADO DO

RIO DE JANEIRO

DEFESA PRÉVIA DO AUTO DE INFRAÇÃO C-38541362

Prezado senhor,

MARCELO FERREIRA DA SILVA, brasileiro, portador do RG nº.


201124260/DICRJ, e CPF nº. 105.322.117-74, residente à Rua Manoel Carvalho
Amorim, 23, Caju, Silva Jardim, 28820-000, condutor no momento da abordagem do
veículo FIAT/UNO MILLE ECONOMY, Placa LLS2801, RENAVAM 478298390 na
data da infração, vem respeitosamente requerer que a partir dos argumentos
apresentados, seja cancelado o auto, bem como a pontuação correspondente.

DA SINTESE DOS FATOS

O notificado conduzia o seu veículo cautelosamente pela Avenida


Getulio Vargas, a caminho de sua residência, dentro dos limites de velocidade permitida
na via e respeitando as normas de trânsito como o uso de cinto de segurança, após o
término da aula na academia onde é professor de artes marciais, quando foi
surpreendido pela equipe de fiscalização de trânsito, sendo submetido à realização de
teste de alcoolemia no equipamento etilômetro.

O requerente foi aconselhado de forma hostil pelo policial que o


abordou a não realizar o teste do bafômetro, devido à enorme desconfiança dos agentes
de que todos os condutores estariam sob a influência de álcool (procedimento esse que o
policial que o abordou repetiu com todos os condutores abordados pelo mesmo,
presenciado pelo requerente).

Com a sua negativa ao exame, mesmo não tendo ingerido qualquer


bebida alcoólica naquele dia, o agente de trânsito do DETRAN aplicou multa tipificada
no art. 277, paragrafo 3º c/c art. 165, ambos do código nacional de trânsito, tendo sido a
sua carteira nacional de habilitação retida no local, bem como o seu veículo que
posteriormente foi retirado do local por outro motorista devidamente habilitado.

Ressalta-se que o recorrente se negou a ASSOPRAR O


ETILOMETRO, todavia se dispôs a realizar o exame sanguíneo de alcoolemia, não
sendo este permitido pelos agentes de transito, razão pela qual, pelo principio
constitucional da presunção de inocência, não deve prevalecer a infração.

O requerente se surpreendeu ao ser infracionado, devido sua


afirmação ao policial de que não havia ingerido bebida alcoólica e o mesmo o coagir a
recusa, alegando que em qualquer índice de álcool no sangue o requerente seria
encaminhado a delegacia se baseando no art. 306 da lei nº 9.503 de 23 de setembro de
1997, onde prevê detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de
se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Informação
equivocada passada pelo policial, já que para se enquadrar no Art. 306 necessitaria que
a medição realizada excedesse a 0,33 mg/l.

Tal informação que ocasionou a negativa do requerente, no entanto,


diante da ausência do exame no aparelho pericial e também do exame de sangue, sem
ainda qualquer sinal claro de que o notificado estava sob efeito de álcool ou outra
substancia psicoativa, resta evidente que há vícios insanáveis presente naquela operação
rotineira, não devendo assim ocorrer penalidade administrativa ou sequer penal, como
será demonstrado a seguir.

DA INCONSTITUCIONALIDADE DA INFRAÇÃO

Em primeiro lugar, evidente é a contrariedade ao princípio da não


incriminação, aquele que tem até um provérbio latino que o designa desde os tempos
do direito romano (nemo tenetur se detegere), segundo o qual ninguém é obrigado a
produzir prova contra si mesmo e, no Brasil, é alçado à categoria de direito
fundamental (art. 5º, LXIII, CF) e de baliza do ordenamento jurídico pátrio .

Podemos observar que pela redação da infração fica conjugado o


abuso ao direito fundamental de cada cidadão, que cada motorista se encontra em
uma encruzilhada: ou se nega (tendo seu veículo e seu documento apreendidos, seu
direito de dirigir suspenso, além da multa, conforme o art.  165-A do CTB) ou se
submete (podendo responder pelo crime do art. 306 do CTB se, por exemplo, acabou
de fazer um bochecho com um enxaguante bucal com álcool).

DOS FUNDAMENTOS

Como falado anteriormente, o notificado não foi submetido a nenhum


ato pericial, sequer foi analisado pelos agentes de trânsito.

Nessa trilha, diz o art. 3º da resolução do CONTRAN nº 432/2013:

Art. 3º. A confirmação da alteração da capacidade


psicomotora em razão da influência de álcool ou de
outra substância psicoativa que determine
dependência dar-se-á por meio de, pelo menos, um
dos seguintes procedimentos a serem realizados no
condutor de veículo automotor:

I - exame de sangue;

II - exames realizados por laboratórios


especializados, indicados pelo órgão ou entidade de
trânsito competente ou pela Polícia Judiciária, em
caso de consumo de outras substâncias psicoativas
que determinem dependência;

III - teste em aparelho destinado à medição do teor


alcoólico no ar alveolar (etilômetro);

IV - verificação dos sinais que indiquem a alteração


da capacidade psicomotora do condutor.

§ 1º Além do disposto nos incisos deste artigo,


também poderão ser utilizados prova testemunhal,
imagem, vídeo ou qualquer outro meio de prova em
direito admitido.

O artigo 5º da mesma resolução é incisivo ao dizer que os agentes da


autoridade de transito, neste caso o agente do DETRAN, poderá constatar de sinais
claros de alteração da capacidade psicomotora que o condutor do veiculo apresentar e os
mesmos deverão ser especificados no auto de infração, vejamos:

Art. 5º. Os sinais de alteração da capacidade


psicomotora poderão ser verificados por:
 
I - exame clínico com laudo conclusivo e firmado
por médico perito; ou
 
II - constatação, pelo agente da Autoridade de
Trânsito, dos sinais de alteração da capacidade
psicomotora nos termos do Anexo II.
 
§ 1º Para confirmação da alteração da capacidade
psicomotora pelo agente da Autoridade de Trânsito,
deverá ser considerado não somente um sinal, mas
um conjunto de sinais que comprovem a situação do
condutor.
 
§ 2º Os sinais de alteração da capacidade
psicomotora de que trata o inciso II deverão ser
descritos no auto de infração ou em termo específico
que contenha as informações mínimas indicadas no
Anexo II, o qual deverá acompanhar o auto de
infração.
Percebe-se que a única menção do agente de transito quanto ao estado
físico, mental e psicológico, seria o “hálito etílico”. Porem o agente de transito de nem
sequer analisou ou conversou com o requerente antes do auto de infração estar
finalizado e lhe entregar. O agente não pode prever uma evidencia de alcoolemia.

Além do art. 5º acima, conforme o manual brasileiro de fiscalização


de transito, aprovado pela resolução n
º 371/2010 do CONTRAN:

“O agente de trânsito, ao presenciar o cometimento


da infração, lavrará o respectivo auto e aplicará as
medidas administrativas cabíveis, sendo vedada a
lavratura do AIT por solicitação de terceiros.”

O agente de transito apesar de presenciar a recusa ao teste do interior


da barraca da operação leis seca, onde além da distancia, separados dos abordados por
correntes, não teria como constatar qualquer hálito do requerente.

Crível nobre julgador que o agente de transito, ao atuar em


conformidade com a norma jurídica, teve inúmeras opções para cumpri-la e não
cumpriu.

Limitou-se a somente aplicar a multa e a medida administrativa ao


notificado sem observar o que a legislação de transito o manda fazer. Por isso, fica sob
suspeita a referida multa.

Note-se que o fato de não fazer o exame de sangue e o teste no


etilômetro não quer dizer que o condutor do veiculo esta de fato com a sua capacidade
psicomotora danificada.

Por esse motivo a resolução nº 423/13 veio para esclarecer e


determinar que o agente de transito DEVE VERIFICAR (caso contrario estaria
difamando o requerente) e descrever os sinais de alteração da capacidade psicomotora,
sob pena de estarmos violando o principio constitucional do devido processo legal e o
da presunção de inocência.

Assim vem entendendo o egrégio tribunal de justiça do nosso estado


sobre o assunto, vejamos:

“Apelação. Ato administrativo. Direito do transito. Aplicação das


sanções e medidas do art.165 do CTB (multa, suspensão do direito de dirigir e retenção
do veiculo) ao condutor que, alvo de fiscalização policial, recusou-se a submeter-se a
exame de alcoolemia, vulgarmente chamado de “teste do bafômetro”. A incidência do
$3º do art. 277 do código de transito brasileiro, o qual determina a aplicação dessas
penalidades ao condutor recalcitrante, estava limitada, antes do advento da lei nº
12.760/2012, à condição de estar ele “sob suspeita de dirigir sob a influência de álcool”.
Não podendo haver na lei expressão inútil ou inócua, essa clausula impunha à policial
de transito ônus de, no mínimo, relatar pormenorizadamente as razoes por que
suspeitava do condutor. Ainda que a referida suspeita envolve juízo consideravelmente
subjetivo, e portanto discricionário, dai não segue que possa ser infundada. Na mingua
de quaisquer elementos que permitam sequer indicar razoes que justificassem pesar
sobre o apelante a suspeita de embriaguez, o ato deve ser declarado nulo, porque
praticado fora dos limites que a lei atribui ao poder de policia de transito. Provimento do
recurso.”

Cumpre salientar ainda que o recorrente, de boa fé, entregou sua


carteira nacional de habilitação no momento da abordagem a fim de não haver mais
transtornos e resolver de pronto a situação.

Frise que a multa é indevida, já que a forma duvidosa do agente


analisar o estado alcoólico do requerente estava em desacordo com as normas
estabelecidas na lei.

Por todo exposto, não deve incorrer em medida administrativa de suspensão da


habilitação contida no artigo 165 do CTB.

ENDEREÇO INCOERENTE

Nota-se no auto de infração lavrado pelo agente de transito que o


condutor foi abordado na Rua Bernardo Vasconcellos nº 438, porém conforme imagem
abaixo, podemos constatar que a operação de fiscalização de Lei Seca estava montada
em frente a unidade do DETRAN-RJ desta cidade localizado na Avenida Getulio
Vargas, s/n esquina com a Rua Baster Pilar.
Analisando o Código de Trânsito Brasileiro, no seu art. 280, onde trata
dos requisitos e procedimentos a serem observados pelo agente de trânsito quando da
lavratura do auto de infração:

“Art. 280. Ocorrendo infração prevista na legislação


de trânsito, lavrar-se-á auto de infração, do qual
constará:

I - tipificação da infração;

II - local, data e hora do cometimento da infração;”

Podemos concluir que se tratando o endereço de uns dos requisitos


básicos do auto de infração, a lavratura de um auto com o endereço incorreta invalida o
mesmo e por fim prevê o seu cancelamento.

DOS PEDIDOS

Posto isso, requer:

Seja recebido o presente recurso para não imputar a penalidade


administrativa contida no art. 165 do CTB pela falta de comprovação de seu estado
alcoólico;

Seja o presente recurso julgado totalmente procedente, declarando o


auto de infração objeto da lide insubsistente, gerando assim a anulação e arquivamento
do mesmo e de suas penalidades, por medida da mais lídima e salutar justiça, uma vez
que não restou comprovado que o requerente estava sob efeito de álcool, e considerando
o descaso do agente ao indicar um sinal que o requerente não possuía no momento de
abordagem;

Caso não seja julgado em até 30 dias da data de seu protocolo, na


conformidade do art. 285, $ 3º do CTB, requer que seja atribuído efeito suspensivo,
abstendo-se de lançar qualquer restrição, inclusive para fins de licenciamento e
transferência, nos arquivos do órgão ou entidade executivo de transito responsável pelo
registro do veiculo até que a presente demanda seja julgada.
Nesses termos,

Pede deferimento.

Araruama, 18 de outubro de 2018.

MARCELO FERREIRA DA SILVA

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