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DEFESA PRÉVIA

LEANDRO SANTOS CONCEICAO, brasileiro, RG: 10.052.045-60, CPF 025.515.415-14,


CHN: 02.565.693.210, Telefones: (71) 98723-4603, residente e domiciliado na Segunda
Travessa Domingos Rabelo, nº 179, Ribeira, Salvador/Ba, CEP: 40.421-700, tendo sido
autuado através do auto de infração em anexo, vem mui respeitosamente através do presente,
em conformidade com os arts. 280 e 281 do CTB, Resoluções 299/08 e 404/12 do
CONTRAN, Portarias n. 59/07 e 219/14, ambas do Departamento Nacional de Trânsito, da
Lei Federal 9.784/99, e CF/88, para interpor a presente Defesa contra referida autuação, com
o objetivo de proporcionar a oportunidade de exercitar meu legítimo direito de ampla defesa e
do exercício pleno do contraditório.

DO VEÍCULO
Hyundai HB20S 1.6, Placa: PLF 7921, registrado em Salvador/BA, RENAVAM:
01163578077.

DA INFRAÇÃO
Art. 277, § 3 c/c Art. 165, Auto de Infração: C012468695/BA, Data: 11/06/2022, Hora:
16h57min, Local: Rua Direta de Arembepe, em frente ao Condomínio Luar D, no Município
de Camaçari/BA.

FATOS E FUNDAMENTOS LEGAIS


O AIT C012468695 é nulo de pleno direito, à luz do parágrafo único do artigo 281 do CTB,
pela inobservância dos requisitos previstos na Resolução 404/12 do CONTRAN, no Art. 280
da CTB, e nas Portarias n. 59/07 e 219/14 do DENATRAN.

O CTB, em seu Artigo 281, afirma:

A autoridade de trânsito, na esfera da competência estabelecida neste Código e dentro de


sua circunscrição, julgará a consistência do auto de infração e aplicará a penalidade
cabível.
Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e seu registro julgado insubsistente:
I – se considerado inconsistente ou irregular;
II – se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida a notificação da autuação
(BRASIL, Código de Trânsito Brasileiro, 1997, art. 281)

Já a Resolução 404/12, em seu artigo 2º, nos informa:

Constatada a infração pela autoridade de trânsito ou por seu agente, ou ainda comprovada
sua ocorrência por aparelho eletrônico ou por equipamento audiovisual, reações químicas
ou qualquer outro meio tecnologicamente disponível, previamente regulamentado pelo
CONTRAN, será lavrado o Auto de Infração que deverá conter os dados mínimos
definidos pelo art. 280 do CTB e em regulamentação específica (BRASIL, Resolução
404, 2012, art. 2º).

Por sua vez, o Art. 280 do CTB determina quais sejam as informações necessárias que devem
constar para formalidade da lavratura da autuação, quais sejam:

Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito, lavrar-se-á auto de infração,


do qual constará:
I - tipificação da infração;
II - local, data e hora do cometimento da infração;
III - caracteres da placa de identificação do veículo, sua marca e espécie, e outros
elementos julgados necessários à sua identificação;
IV - o prontuário do condutor, sempre que possível;
V - identificação do órgão ou entidade e da autoridade ou agente autuador ou
equipamento que comprovar a infração;
VI - assinatura do infrator, sempre que possível, valendo esta como notificação do
cometimento da infração (BRASIL, Código de Trânsito Brasileiro, 1997, art. 280).

Ainda, a Portaria nº 59, do DENATRAN, estabelece “os campos de informações que deverão
constar do Auto de Infração, os campos facultativos e o preenchimento, para fins de
uniformização em todo o território nacional” (BRASIL. Portaria nº 59, 2007, art. 1º), descritas
em seu ANEXO II – PREENCHIMENTO DOS CAMPOS DO AUTO DE INFRAÇÃO:

A. IDENTIFICAÇÃO DA AUTUAÇÃO
105100 e C012468695/BA.

B. IDENTIFICAÇÃO DO VEÍCULO
PLF 7921, HYUNDAI/HB20S 1.6M COMF, PAS/AUTOMÓVEL. Brasil.

C. IDENTIFICAÇÃO DO CONDUTOR
Leandro Santos Conceição; CNH 05235328980, BA, 025.515.415-14.

D. IDENTIFICAÇÃO DO LOCAL, DATA E HORA DO COMETIMENTO DA


INFRAÇÃO.
Rua direta de Arembepe em frente ao condomínio luar D, 11/06/2022, 16h 57min, BA,
2905701 e Camaçari.

E. TIPIFICAÇÃO DA INFRAÇÃO
Código da infração 105100, da suposta infração cometida: Art. 165-A. Recusar-se a ser submetidos a
teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que permita certificar influência de álcool ou
outra substância psicoativa, na forma estabelecida pelo art. 277:
Infração - gravíssima;
Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses;
Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo, observado
o disposto no § 4º do art. 270,

Por volta das 17h00minh do dia 11/06/2022 na rua Direta de Arembepe, Camaçari houve uma
abordagem(Blitz), o agente solicitou a CNH e documento do veículo, pelo fato de ainda não ter o
documento impresso não pude apresentar o documento físico (pois o Detran informou que o
documento estava aprovado desde o dia 02/06/2022 só que ainda não estava impresso), porém já
disponível no aplicativo do Detran não tive como apresentar pois o aparelho celular estava sem carga
na bateria no instante da abordagem. O agente foi verificar nos sistema as informações passadas e logo
informou que não havia nenhuma informação referente ao explicado. Logo após solicitou que uma
pessoa habilitada viesse retirar o veiculo, ele foi atender outra solicitação e pediu para estacionar o
carro a uma distancia aproximada de 100m, em seguida voltou e falou que entregasse a chave do
veículo, pois o veículo seria removido devido ao licenciamento.
O veículo foi removido para o pátio de Camaçari. O agente atuador não solicitou em nenhum
momento teste de alcoolemia. Após me encaminhar ao pátio prisma Camaçari para informação do que
seria necessário para retirada do veículo, foi informado que teria que quitar todos os débitos que havia
no veículo, assim, foi identificado que havia outras multas que não foram esclarecidas no momento da
autuação, inclusive de alcoolemia.

F. IDENTIFICAÇÃO DA AUTORIDADE OU AGENTE AUTUADOR

Matrícula 30388372, Nome: CB PM Deivson Cerqueira Bonfim.

Houve irregularidades que ensejam a insubsistência do AIT em questão, haja vista que houve
INOBSERVÂNCIA ÀS FORMALIDADES EXIGIDAS PARA SUA LAVRATURA, conforme
descritas Art. 280 do CTB e na Portaria nº 59/07, como resta demonstrado a seguir:

a) Não houve a descrição correta e inequívoca da conduta infracional, conforme prevê a Portaria n o
59/07 do CONTRAN. Ao invés de descrever a infração cometida, ainda que “não necessariamente
usando os mesmos termos da tabela de códigos” (BRASIL. Portaria nº 59, 2007, Anexo II), o
agente autuador escreveu o Amparo Legal – 277 § 3º c/c 165 – impossibilitando que o infrator
saiba exatamente que infração teria cometido. É importante salientar que o AIT apresenta outros
códigos e descrições de infração, que poderiam ter servido como um modelo a ser seguido, mas
que foram ignorados pelo agente autuador;
Ora, resta evidenciado que o AIT em questão é NULO DE PLENO DIREITO e não está apto a gerar
efeitos como ato administrativo perfeito e acabado, haja vista a não observância das formalidades
exigidas para sua lavratura.

Não obstante, tomando-se por base o princípio da autotutela, a Administração Pública tem o poder e o
dever de controlar seus próprios atos, revendo-os e anulando-os quando houverem sido praticados com
alguma ilegalidade. A autotutela está expressa na Súmula n. 473 do STF:

Finalmente, conclui-se que, aos agentes de trânsito, cabe observar os preceitos da legislação, pois que
a sua inobservância, por si só, gera ilegalidade do ato administrativo e, consequentemente, caberá a
Administração Pública anulá-lo, sob pena de privilegiar o propósito arrecadatório em detrimento do
escopo educativo, bem como suprimir os princípios constitucionais que alicerçam os atos
administrativos, em especial, a legalidade e a motivação.
DO MÉRITO
O Art. 8º da Resolução nº 404 afirma que, “interposta a Defesa da Autuação, nos termos do §3º do art.
3º desta Resolução, caberá à autoridade competente apreciá-la, inclusive quanto ao mérito”. Assim,
pretende-se demonstrar que o comando compreendido no §3º do Art. 277 da Lei nº 9.503/97, não dá
azo à punição pela simples recusa do condutor em se submeter à medição de alcoolemia via
etilômetro, sem a suspeita de que este esteja infringindo o Art. 165 da mesma lei.
A Resolução 432/13 do CONTRAN, em seu Art. 3º, determina que a confirmação da alteração da
capacidade psicomotora devido à influência de álcool deve se dar por meio de, ao menos, um dos
procedimentos a seguir, os quais devem ser realizados no condutor do veículo:
I – exame de sangue;
II – exames realizados por laboratórios especializados, indicados pelo órgão ou entidade
de trânsito competente ou pela Polícia Judiciária, em caso de consumo de outras
substâncias psicoativas que determinem dependência;
III – teste em aparelho destinado à medição do teor alcoólico no ar alveolar (etilômetro);
IV – verificação dos sinais que indiquem a alteração da capacidade psicomotora do
condutor.
§ 1º Além do disposto nos incisos deste artigo, também poderão ser utilizados prova
testemunhal, imagem, vídeo ou qualquer outro meio de prova em direito admitido.
§ 2º Nos procedimentos de fiscalização deve-se priorizar a utilização do teste com
etilômetro (BRASIL, Resolução 432, 2013, art. 3º).

Por sua vez, o Art. 5º descreve como se dará a verificação dos sinais de alteração da capacidade
psicomotora a que se refere o inciso IV do Art. 3º:

I – exame clínico com laudo conclusivo e firmado por médico perito; ou


II – constatação, pelo agente da Autoridade de Trânsito, dos sinais de alteração da
capacidade psicomotora nos termos do Anexo II (BRASIL, Resolução 432, 2013, art. 5º).

Além disso, o § 1º do referido artigo determina que a confirmação dos sinais da alteração da
capacidade psicomotora deverá levar em consideração não apenas um único sinal, mas um conjunto de
sinais que comprovem a situação do condutor. Estes sinais, por sua vez, deverão ser descritos no auto
de infração, conforme reza o § 2º do mesmo artigo. O auto de infração, por sua vez, deverá conter um
mínimo de informações, indicadas no Anexo II, quais sejam:

VI. Sinais observados pelo agente fiscalizador:


a. Quanto à aparência, se o condutor apresenta:
i. Sonolência;
ii. Olhos vermelhos;
iii. Vômito;
iv. Soluços;
v. Desordem nas vestes;
vi. Odor de álcool no hálito.
b. Quanto à atitude, se o condutor apresenta:
i. Agressividade;
ii. Arrogância;
iii. Exaltação;
iv. Ironia;
v. Falante;
vi. Dispersão.
c. Quanto à orientação, se o condutor:
i. sabe onde está;
ii. sabe a data e a hora.
d. Quanto à memória, se o condutor:
i. sabe seu endereço;
ii. lembra dos atos cometidos;
e. Quanto à capacidade motora e verbal, se o condutor apresenta:
i. Dificuldade no equilíbrio;
ii. Fala alterada;

Por fim, o Art. 6º Art. Caracteriza a infração prevista no art. 165 do CTB por meio de:

I – exame de sangue que apresente qualquer concentração de álcool por litro de sangue;
II – teste de etilômetro com medição realizada igual ou superior a 0,05 miligrama de
álcool por litro de ar alveolar expirado (0,05 mg/L), descontado o erro máximo
admissível nos termos da “Tabela de Valores Referenciais para Etilômetro” constante no
Anexo I;
III – sinais de alteração da capacidade psicomotora obtidos na forma do art. 5º.
Parágrafo único. Serão aplicadas as penalidades e medidas administrativas previstas no
art. 165 do CTB ao condutor que recusar a se submeter a qualquer um dos procedimentos
previstos no art. 3º, sem prejuízo da incidência do crime previsto no art. 306 do CTB caso
o condutor apresente os sinais de alteração da capacidade psicomotora (BRASIL,
Resolução 432, 2013, art. 3º).

A partir da análise dos artigos acima, é possível afirmar-se, seguramente, que:

1. É patente a inconstitucionalidade do parágrafo terceiro do Art. 277, pois este atenta conta o
princípio constitucional da Nemo tenetur se detegere, ou seja, da obrigação de produzir-se prova
contra si;
2. A utilização do etilômetro é um dos procedimentos a serem realizados no condutor do veículo, e
se presta à confirmação da alteração da capacidade psicomotora devido à influência de álcool. Do
conceito de confirmação – demonstração da verdade ou da exatidão de afirmação, crença ou fato
precedente – depreende-se que esta advém da suspeita do agente autuador de que o condutor
encontra-se sob o efeito de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência.
Por sua vez, essa suspeita sucede a observação de uma série de sinais indicativos dessa alteração
(ou até mesmo a utilização de prova testemunhal, imagem, vídeo etc.), as quais devem estar
registradas no Auto de Infração;
3. É fundamental que o auto de infração explicite que a recusa do condutor em realizar o teste com
etilômetro não foi o único elemento motivador da autuação, mas que outras circunstâncias fizeram
o agente suspeitar da sobriedade do condutor e, assim, submetê-lo ao exame com o etilômetro.
4. O agente atuador não solicitou em nenhum momento teste de alcoolemia, pediu a CNH e
documento do carro, logo após solicitou uma pessoa habilitada para retirar o veiculo e pediu para
estacionar o carro a uma distancia de 100m, em seguida ele foi atender um chamado de outra
pessoa e quando voltou falou que entregasse a chave do veículo pois o veículo seria removido
devido ao licenciamento.

DO PEDIDO

Nobres julgadores, diante de todo o exposto requer o Defendente:

1- Que seja recebida a presente Defesa, pois preenche todos os requisitos de sua admissibilidade,
com cópia de documentos do defendente, de acordo com a Res. 299/08 do CONTRAN;
2- Que seja julgado o Auto INSUBSISTENTE, sendo DEFERIDA a presente Defesa, e por via de
consequência ARQUIVADO, conforme preceitua o art. 281, inciso I do CTB, uma vez que, como
ficou evidenciado, sua lavratura não respeitou o Art. 280 do CTB, a Resolução 404/12 do
CONTRAN nem a Portaria n. 59/07 do Departamento Nacional de Trânsito;
3- Na improvável hipótese do não arquivamento do Auto devido às falhas apontadas nesta defesa,
requer que seja julgado o mérito da questão e, da mesma forma, DEFERIDA a presente Defesa,
sendo ARQUIVADO o Auto.
4- De acordo com o Artigo 37 da Constituição Federal e Lei 9.784/00, a administração direta e
indireta de qualquer dos Poderes da União dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerem aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, motivação e
eficiência, caso não seja acatado o pedido, solicitamos um parecer por escrito do responsável com
decisão motivada e fundamentada sob pena de nulidade de todo este processo administrativo.

Salvador, 12 de julho de 2022.

LEANDRO SANTOS CONCEIÇÃO

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