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RESUMO
O presente artigo pretende fazer uma reflexão na perspectiva dos artigos 295 e 297 do Código Penal (CP),
tentando fazer uma análise sobre o regime jurídico dos crimes de insolvência , de modo a perceber qual o regime
jurídico aplicável aos crimes cometidos no âmbito insolvência . Nesta senda de ideia, a questão primordial é saber qual
é aplicabilidade dos arts. 295 e 297 do CP. Esta questão é acentuada pelo facto de que do ponto de vista local
(moçambicano), parece não existirem duvidas, que os crimes insolvências, são regulados tanto pelo código penal, bem
como por um regime específico que é o REJIREC (Regime Jurídico da Insolvência e da recuperação de Empresários
comerciais), onde por um lado, o REJIREC alterou a terminologia falência para insolvência, abandonando a
classificação culposa e fraudulenta, trazendo assim crimes insolvências em espécie, e por outro lado o CP volta a
trazer os crimes de insolvência e falência (culposa e fraudulenta), fazendo a destrinça destes em função da qualidade
subjectiva - onde a falência seria aplicável ao empresário comercial e a insolvência ao não empresário comercial,
suscitando assim dúvidas em saber com base em que regime jurídico os devedores poderão serão responsabilizados.
Como mecanismo conducente à concretização do presente artigo, adoptamos a pesquisa documental e os métodos:
indutivo e hermenêutico. Ilidimos assim, que o quadro instituído dificulta o chamamento dos devedores a responderem
pela prática dos crimes insolvências. Essa análise consumou-se graças a visão de alguns ordenamentos jurídicos que,
nessa matéria encontram-se num estágio mais avançados. Nisso somos defensores, da revisão do respectivo diploma
legal, de modo adequa-lo a realidade actual, uma vez que nem sempre a construção do tipo é clara, conduzindo
inclusivamente a interpretações díspares que em nada contribuem para a necessária c erteza e confiança exigida na
aplicação da lei penal - maxime para o princípio da legalidade.
Sumário:
Introdução
O presente artigo pretende fazer uma reflexão na perspectiva dos artigos 295 e 297 do
Código Penal (CP), tentando fazer uma análise sobre o regime jurídico dos crimes de
insolvência, de modo a perceber qual o regime jurídico aplicável no âmbito dos crimes
insolvências. Esta abordagem parte do pressuposto de, ao longo dos últimos tempos, o país ter
1 Licenciada
em Direito, e Mestranda em Direito Fiscal - Faculdade de Direito da Universidade Católica de
Moçambique. Email: tehssinmohamed@gmail.com
vindo a ser assolado por fenómenos de insolvência, sem se falar da pandemia (covid-19), que esta
afectando significativamente a economia mundial, culminando o Estado de emergência, podendo
assim levar a insolvência de várias empresas, chamando-se a colação, a necessidade de intervenção
do direito, mormente do direito penal, como forma de reprimir condutas desvaliosas no contexto
criminal. O código penal tendo algumas lacunas, impõe ao leitor um esforço acrescido de
interpretação e articulação com as normas hoje vigentes. Aqui a reflexão cinge-se nos arts 295º e
297 º do CP, na tentativa de perceber qual é aplicabilidade desta norma.
Esta questão é acentuada pelo facto de que do ponto de vista local (moçambicano), os crimes
insolvências, são regulados tanto pelo código penal, bem como por um regime específico que é o
REJIREC (Regime Jurídico da Insolvência e da recuperação de Empresários comerciais), onde por
um lado, o REJIREC alterou a terminologia falência para insolvência, aplicável quer aos
empresários comerciais quer a não empresários comerciais, abandonando a classificação culposa
e fraudulenta, e por outro lado o CP volta a trazer os crimes de insolvência e falência (culposa e
fraudulenta), fazendo a destrinça destes em função da qualidade subjectiva, suscitando assim
dúvidas em saber com base em que regime jurídico os devedores poderão ser responsabilizados.
A presente abordagem tem como objectivo geral, fazer uma análise sobre o regime jurídico
dos crimes de insolvência, com o intuito de perceber qual o regime jurídico aplicável no âmbito
dos crimes insolvências. Neste sentido, temos como objectivos específicos: Observar o
desenvolvimento do regime jurídico da insolvência no ordenamento jurídico moçambicano,
analisar os elementos do crime de insolvência, e perceber os princípios inerentes aos crimes
insolvências.
O termo falência vem do latim fallere que significa falir.2 Conforme Ibraimo Abudo, a
falência é o estado de impotência económica do devedor comerciante, que se exterioriza
tipicamente pela impossibilidade em que ele se encontra de cumprir pontualmente as suas
obrigações mercantis ou não mercantis.3
Segundo Leitão, insolvência vem do latim solvere, que significa pagar, resolver.4 A
insolvência consiste na impossibilidade de cumprimento de obrigações vencidas, por parte de
empresários comerciais.5
P.15
5 Art.º 1 do Decreto-lei nº 1/2013 de 4 de Julho.
6 LEITÃO, Luís Teles de Menezes, Direito da insolvência, 6º ed., Coimbra, Editora: Almedina, 2015, P.48.
7 FERNANDES, Luís Manuel Teles de Meneses, o código da insolvência e da Recuperação de empresas na evolução
do regime da falência no direito português, Quid juris, Lisboa, 2009, P.43.
8 KALIL, Marcus Vinícius Alcântara Kalil, A evolução das falências e insolvências no Direito Português, Revista
de Direito Comercial, obtido em: www.revistadedireitocomercial.com , acesso aos: 02.02.2020, pelas: 10:00, P.343.
No antigo código penal este crime era designado quebra (referindo-se a falência), constava
do titulo V: Dos crimes contra a propriedade, capitulo II, sob título: das quebras, burlas e
outras defraudações, na secção I – quebras, nos artºs 447 e 449 do CP (Código Penal). Sendo esta
classificada em culposa e fraudulenta (constava no art.º 447 do CP) e a insolvência (constava do
art.º 449). 9
Segundo o Prof. Abdul Carimo, o processo de falência deixou de ser referência no novo código
comercial. Portanto enquanto o antigo código comercial centrava as suas preocupações no acto de
comércio, o novo no novo código comercial centra-se na empresa comercial, tendo passado o acto
de comércio para segundo plano. 14
P.348
12 Alterações do CPC (aprovadas pelo DL nº 1/2005 de 27 de Dezembro e pelo DL nº1/2009 de 24 de Abril)
13 A par destas duas categorias de insolvência o legislador criou uma outra categoria: a “insolvência causal” (art.
1275.º do CPC). Esta nova categoria não era, contudo, passível de uma sanção penal, dado a verificação de situação
de insolvência não depender de culpa do devedor.
14
ISSA, Abdul Carimo, Regime Jurídico Da Insolvência e Da Recuperação de empresários Comerciais, CTA,
Moçambique, 2013, P.20
Este diploma legal veio revogar os artigos 1122 a 1325 do Código do Processo Civil (art.º
3 do Decreto-Lei nº1/2013 de 4 de Julho), alterando a terminologia falência para insolvência,
pondo termo à dicotomia entre os ditos “comerciantes” e “não comerciantes”. Quer isto dizer, as
novas descrições típicas dos crimes deixam de contemplar a referência à qualidade de
“comerciante”, sendo este aplicado tanto a empresários comerciais quer a não empresários
comerciais, cfr art.º 1 do RGIREC. Os arts 167 e ss, a classificação dos crimes insolvências e as
respectivas molduras penais, designadamente os crimes de: fraude a credores, falsas informações
ou declarações; disposição, dissipação ou oneração ilícita de bens; apresentação ou reclamação
de créditos falsos ou simulados; falta de escrituração mercantil e desobediência.15
Elaborou-se o seguinte quadro comparativo que visa fazer corresponder, os arts referentes
ao crime falimentar da LF brasileira aos crimes insolvências do RJIREC.
Moçambique Brasil
“Crimes insolvenciais” “Crimes Falimentares” Semelhanças
art.º 167 “Fraude a credores” art.º 168 “fraude a credores” Prática de acto fraudulento que
resulta prejuízo aos credores, em
benefício próprio ou de terceiros.
art.º 168 “Falsas informações art.º 171 “indução ao erro” Prestação informações falsas, com o
ou declarações” fim de induzir a erro o juiz, o
Ministério Público, os credores.
Quanto ao CP português17 , os CI constam do capítulo IV, art.º 227 “insolvência dolosa”; art.º
228 “insolvência negligente” e 229 “favorecimento de credores”, e quanto ao CP moçambicano,
estes crimes constam do capítulo II “falências, burlas e outras defraudações”, secção I - falências
nos seus arts 295 “falência ou insolvência fraudulenta e culposa” e 297 “insolvência” do CP
moçambicano18 .
Semelhanças Diferenças
Enquanto o CP português, apresenta de forma
Ambos versam sobre os mesmos crimes: no CP precisa a descrição do tipo legal de crime, o CP
português sob designação: dolosa e negligente, moçambicano não traz a descrição do tipo legal de
enquanto no CP moçambicano temos a insolvência crime, incorrendo assim a violação do princípio da
culposa – que corresponde a insolvência negligente legalidade.
e insolvência fraudulenta – que corresponde a O CP português versa sobre os crimes:
insolvência dolosa. “favorecimento de credores”19 no seu art.º 229, e
por sua vez o CP moçambicano não versa sobre
este crime.
RJIREC sob epígrafe “Disposição, dissipação ou oneração ilícita de bens”, sendo que em ambos temos como aspecto
comum: o facto do devedor visar favorecer certos credores em prejuízo de outros.
Moldura penal:
✓ Os crimes insolvências são aferidos com base CP português - Insolvência dolosa - Pena de
em dois elementos dolo e negligência. prisão até 3 anos ou com pena de multa - art.º 227;
✓ Nota -se em ambos o uso da expressão– e insolvência negligente- pena de prisão até 1 ano
“falência”. ou com pena de multa até 120 dias, art.º 228.
CP moçambicano – penaliza a insolvência
fraudulenta duas vezes: com pena de prisão maior
de dois a oito anos (art.º 295) e pena de prisão de
três meses a dois anos (art.º 297)
Recorrendo aos ensinamentos de Figueiredo Dias o conceito de “bem jurídico” deve ser
entendido no sentido de conservação de um determinado estado, objecto ou bem que, por si só,
seja socialmente relevante e, como tal, carecido de tutela jurídica. 20 A Doutrina não é unânime
quanto ao bem jurídico protegido pelos crimes insolvências. Para o Prof. Pedro Caeiro, Saragoça
Da Matta, Sá Pereira/Alexandre Lafayette e Pinto De Albuquerque, consideram que o bem jurídico
tutelado pelos crimes insolvenciais é o património do credor, globalmente considerado. 21
Todavia, Fernanda Palma, Menezes Leitão e Nuno Silva Vieira defendem que a realidade tutelável
é a “economia de crédito” ou até a “economia em geral”. 22 Enquanto, Eduardo Correia, Leal
Henriques, Simas Santos e Maia Gonçalves defendem que o bem jurídico dos crimes insolvências
é o interesse público de “confiança nas relações comerciais”. 23
20 COSTA, Ana Isabel Varela, A Responsabilidade Penal Dos administradores nos crimes insolvenciais: em
especial, na insolvência negligente, Dissertação de Mestrado Profissionalizante,obtido em:
www.fd.lisboa.ucp.pt/research, acesso aos: 28.02.2017, P.21
21 COSTA, Ana Isabel Varela, Opr. Cit, P.22
22 COSTA, Ana Isabel Varela, Opr. Cit, P.24
23 Ibidem, P.25
24 Como o próprio art.º1 do regime jurídico da insolvência e da recuperação de empresários comerciais, dispõe como
objectivo deste regime, viabilizar a superação da situação de impossibilidade de cumprimento de obrigações vencidas
por parte dos empresários comerciais de modo a permitir a manutenção da fonte de produtora de emprego dos
trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo assim o estímulo e a preservação da actividade económica e
asu função social.
b. O Agente do Crime
Deve-se determinar o devedor para que se possa delimitar o agente do crime. Por devedor
entende-se, por todo aquele que se encontre adstrito a um dever de prestar algo, a favor do seu
credor. 25
Tipo objectivo
No que concerne ao tipo objectivo, a descrição do tipo feita pelo código penal dita que
“aqueles casos previstos no código comercial forem considerados autores do crime de falência
ou insolência fraudulenta, serão punidos com pena de prisão maior de dois a oito anos ”, e nos
CP dispões que se a falência for culposa, a pena será de prisão, conforme o nº1 e 2 do art.º295.
c. Punibilidade
O crime de insolvência fraudulenta é punido com pena de prisão maior de dois a oito anos,
pelo que, se a insolvência for culposa, a pena será de prisão, não havendo disposição em contrário
e atenta a sua moldura penal abstracta, não é punível a título de tentativa.
Segundo o Prof. José Augusto, a lei penal em branco é a lei que depende de outro acto
normativo para que tenha sentido, uma vez que seu conteúdo é incompleto. 26 Conforme a prof.
Teresa Pizaro, o principio da legalidade significa que a lei penal não pode ser aplicada
retroactivamente, e por outro lado que as leis incriminadoras não podem ser interpretadas
extensivamente e nem podem ser preenchidas suas lacunas por analogia.27
Este princípio também denominado por princípio da subsidiariedade do direito penal, dita
que o direito penal só deve aparecer e funcionar quando não chegarem outros ramos (por exemplo
Conforme a prof. Teresa Belesa, de acordo com este princípio, ninguém pode ser julgado
mais do que uma vez pela pratica do mesmo crime.29 Este princípio encontra consagração
constitucional nos termos do art.º59 da CRM.
Esta secção apresenta os dados e provenientes da pesquisa, a luz do marco teórico, recorrendo
a técnica de categorização com enfoque comparativo. Temos assim como categorias definidas:
28 Idem, p.44
29
30Lei 11.101/2005
31Cfr. RAMON, Marcello Caio, FERREIRA, Barrod, Et al, os crimes falimentares na legislação actual e no projecto
do novo código penal: uma análise desde a perspectiva do direito penal mínimo, Brasil, P.2
de gestão empresarial, passa a reprimir actos específicos, ou seja, passa a punir os actos
individualmente32 , facto este que também pode-se observar na análise do RJIREC, que também
traz o regime da insolvência, disposições penais, e os respectivos procedimentos e quanto aos
crimes temos varias condutas incriminadas nos termos dos arts 167 e ss e respectivas molduras
penais. O prof. Oliveira citado por Bárbara, ressalta que as modalidades criminosas previstas na
LF são dolosas, diferentemente da divisão entre crimes falimentares dolosos e culposos, feitos pela
antiga Lei.33 Desta feita, sendo que os crimes dispostos no RJIREC inspirado na LF, também traz
crimes dolosos, tal como podemos confrontar com a descrição do tipo, nos arts 167ss do RJIREC.
• Princípio da legalidade
No que concerne aos crimes insolvências, tanto o CP bem como o Código comercial, para
o qual o legislador submete, não explicam em que termos, podemos considerar alguém, como autor
destes crimes, isto é, o legislador submeteu a descrição do tipo à um vazio jurídico, incorrendo
assim a violação grave do princípio da legalidade - “nullum crimen sine lege nulla poena sine
lege”, que segundo o prof. Américo Taipa, este princípio apela: a existência da lei formal “nullum
crime sine lege scripta”; a proibição de atribuir eficácia retroactiva “nullum crime sine lege
praevia”, a proibição de aplicação analógica “nullum crime sine lege stricta”, e exigência de
determinabilidade da conduta punível, “nullum crime sine lege certa” que consubstancia-se numa
O crime de insolvência é duplamente punido pelo CP, ou seja, no art.º 295 é punido a
insolvência fraudulenta, com uma pena de prisão maior de 2 a 8 anos. Por seu turno no art.º 297
do CP também é punido o devedor que, propositadamente constituir-se em insolvência, mas neste
caso a pena aplicar é a de prisão simples (que pelo conteúdo apresentado trata-se insolvência
fraudulenta). Conforme a prof. Teresa Beleza, ninguém pode ser julgado mais do que uma vez
pela pratica do mesmo crime. Este princípio encontra consagração constitucional nos termos do
art.º 59 da CRM. Logo este artigo é inconstitucional, pois viola o princípio de ne bis in idem.
38 SOUSA, Elísio de Direito Penal Moçambicano, Escolar Editora, Maputo, 2012, P.45
esse o intuito do legislador, não se entende então por quê o CP, vem regular novamente esta matéria
voltando a trazer a classificação anteriormente abandonada.
No que concerne ao tipo objectivo, a descrição do tipo o art.º 295 do CP dispõe: “aqueles que
nos casos previstos no código comercial forem considerados autores do crime de falência ou
insolvência fraudulenta, serão punidos com pena de prisão maior de dois a oito anos”. Claramente
podemos perceber que o C.P não faz a descrição do tipo de forma mais precisa possível, faz tão-
somente uma remissão ao Ccom. Por fim, quanto a punibilidade- como vimos anteriormente,
temos uma dupla punição da insolvência fraudulenta, portanto a violação do princípio de ne bis in
idem, quanto a insolvência culposa, era suposto que estivesse descrito no artigo 297, todavia este
art.º apresenta o conteúdo ou a descrição do que seja o crime de insolvência fraudulenta.
39 Idem
40 COSTA, Ana Isabel Varela, Opr. Cit., P.14
41 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto Lei nº1/2013 de 4 de Julho, aprova o Regime jurídico da insolvência
Deparámo-nos com uma construção do crime de insolvência que, desd e logo, levanta dúvidas
sobre quando estaríamos diante do crime de insolvência fraudulenta e culposa, uma vez que o tipo
legal de crime não se encontra descrito de forma precisa possível, atendendo ainda que o CP,
remete a sua descrição à um vazio jurídico. Os crimes ora mencionados, ainda deixam dúvidas
pois trazem o grave problema de dupla punição do crime de insolvência fraudulenta, incorrendo
na grave violação do principio non bis in idem. O que, a entender-se como tal, conduz a resultados
inaceitáveis de uma perspectiva político-criminal, ou seja, o legislador estaria a “punir mais do
que devia”, atendendo que estes crimes já se encontram tutelados pelo RJIREC, ou seja tanto a
nível penal, bem como civil, não sendo necessária a regulamentação pelo CP- o direito penal deve
recuar e só intervir em último caso o que significa que o direito penal só intervém se, se mostrar
eficaz nas suas medidas.43 máxime para o principio da mínima intervenção do Estado.
RECOMENDAÇÕES
Em face do exposto resulta claro que, de uma perspectiva de jure condendo, os crimes
insolvências, exigem uma rápida intervenção do legislador, no sentido de preencher as lacunas
existentes. Por um lado, poder-se ia apelar a intervenção do legislador, para melhor descrever o
tipo legal de crime, evitando a violação dos princípios da legalidade, non bis in idem e o da mínima
intervenção do Estado, todavia dado que estes já se encontram regulados pelo RJIREC- que traz
os crimes de insolvência dolosa- apelar-se ia que o legislador deixa-se de regular estes crimes em
43 SOUSA, Elísio de Direito Penal Moçambicano, Escolar Editora, Maputo, 2012, P.45
face do CP, uma vez que estes já são regulados pelo RJIREC, ou então que seguir-se a tendência
da Lei portuguesa no sentido do CP trazer os crimes e o RJIREC trazer tão-somente sanções civis,
tal como atualmente também se pretende fazer ao nível da lei brasileira.
Quanto a insolvência negligente- será que não carece tutela penal? Atendendo que desta
também deriva a insolvência, a sua regulamentação abre desde logo uma margem de liberdade
para os comportamentos de incúria, podendo desta advir um sentimento de impunidade por parte
da população em geral, apelando se assim ao fim das penas de prevenção geral-procurando desde
logo evitar estas condutas.
Bibliografia
1. Legislação
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da República,
1º série, nº51 de 22 de Dezembro
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei de revisão do código penal (Lei nº 35/2014 de 31 de
Dezembro), aprova o Código Penal.
LEITÃO, Luís Manuel Teles de Meneses, Direito das Obrigações, Vol. II, 8ªed., Editora:
Almedina, Coimbra, 2011.
LEITÃO, Luís Teles de Menezes, Direito da insolvência, 6º ed., Coimbra, Editora: Almedina,
2015.
NIARDI, George, Direito empresarial, editora: Pearson, Brasil, 2012.
RAMON, Marcello Caio, FERREIRA, Barrod, Et al, os crimes falimentares na legislação actual
e no projecto do novo código penal: uma análise desde a perspectiva do direito penal mínimo,
Brasil, P.2
SOUSA, Elísio de Direito Penal Moçambicano, Escolar Editora, Maputo, 2012.
3. Internet
BUBLITZ, Bárbara Grigorieff, crimes falimentares, obtido em: jusbrasil.com.br, acesso aos:
12.02.18, pelas 15:00.
COSTA, Ana Isabel Varela, A Responsabilidade Penal Dos administradores nos crimes
insolvenciais: em especial, na insolvência negligente, Dissertação de Mestrado, obtido em:
http//:www.fd.lisboa.ucp.pt, acesso aos: 28.02.2017, pelas: 08:00.
KALIL, Marcus Vinícius Alcântara Kalil, A evolução das falências e insolvências no Direito
Português, Revista de Direito Comercial, obtido em: www.revistadedireitocomercial.com, acesso
aos: 02.02.2020, pelas: 10:00.
SILVA, José Augusto de Paula Silva, o que se entende por lei penal em branco, obtido em:
ifg.jusbrasil.com.br, acesso aos: 01.03.2018, pelas: 09:33.