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Direito Empresarial IV

Faculdade de Direito da UFMG


Professor: Marcelo Féres
Ana Clara Pereira Oliveira
2017/1º - Diurno

Unidade I: Introdução à Disciplina


• Falência: é um microssitema legislativo. Se trata, em linhas gerais, da
expropriação dos bens do empresário (devedor) para quitar suas dívidas perante
seus credores. Do ponto de vista processual, é uma execução concursal, na qual
há concurso de credores, que serão pagos de acordo com a hierarquia
estabelecida em lei. Ressalta-se que ocorre o vencimento antecipado dos títulos
de crédito no caso de falência. Além disso, no caso de não ter escrituração, o
empresário responderá por crime falimentar.
• Concurso de credores: regido pelo princípio do par conditio creditorum, no qual
cada credor deve receber de forma igual em sua classe de créditos.
• Histórico: a maioria dos autores defende que a falência nasce na idade média, em
conjunto com o direito comercial consuetudinário. À época, principalmente na
Itália da idade média, a falência se equiparava muitas vezes à morte e a "banca"
dos devedores podia ser destruída, como forma de exclusão deles do mercado. Os
comerciantes, à época, eram judeus perseguidos, ciganos e outros grupos
excluídos da sociedade. Devido à falta de proteção do estado, foi sendo criado
um direito paralelo entre os comerciantes, para que eles pudessem sobreviver no
meio. No Brasil, destacam-se o Decreto-lei 7661/45 e o Código comercial de
1850, como legislações originárias da matéria. Nesse âmbito a falência era
vinculada aos atos de comércio e ao comerciante, subsistindo as concordatas, que
podiam ser dilatórias, remuneratórias ou mistas, que o professor considera como
um "calote autorizado". Além disso, a concordata podia ser suspensiva (após a
falência) ou preventiva (antes da falência).

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Unidade II: Lei 11.101/05
• Aspectos gerais: trata melhor da falência da empresa propriamente dita, e não da
pessoa natural como as leis anteriores, se adequando ao Código Civil de 2002.
Ademais, a nova lei traz diversos elementos processuais. A lei trata também da
recuperação, sendo esta sempre preventiva, independente de ser judicial ou extra
judicial. A vontade dos credores, nesse caso, é relevante, diferente do que ocorria
nas antigas concordatas. Atualmente, apresenta-se o plano de recuperação, a ser
discutido com os credores para que negociações sejam feitas afim de evitar a
falência.
• Aplicação: tal lei apenas se aplica aos processos ajuizados após sua entrada em
vigência (art. 192 da lei 11.101/05). Assim, ainda existem muitos processos
tramitando em consonância com o Decreto-lei 7.661/45. Importante regra de
transição é que mesmo no caso dos processos regidos pelo decreto, não será
admitida concordata suspensiva.
• Artigos iniciais (disposições gerais):
- Artigo 1º: a lei se aplica a empresários e sociedades empresárias. Pode-se dizer
que existem dois sistemas paralelos, um deles para os empresários, regido pela
Lei 11.101/05 e outro para o caso de insolvência civil, regido pelo CPC/73, por
força das regras transitórias do NCPC.
- Artigo 2º: trata daqueles que não se sujeitam à lei. Em geral são pessoas que
seriam consideradas empresárias, mas que a legislação optou por excluir, como
por exemplo, empresas públicas e sociedades de economia mista, instituições
financeiras e outros.
- Artigo 3º: tal artigo trata do foro competente, definindo que a competência
será a do foro do principal estabelecimento do devedor. Atenção, diferencia-se
da regra geral do CPC, a qual define que, havendo vários estabelecimentos, o
foro poderá ser o do local de qualquer deles. Nesse caso a competência será
absoluta, em relação à matéria. Observação: existem em Belo Horizonte 4
varas empresariais, mas na maioria das comarcas elas não existem. Ademais,
ressalta-se, a competência para tratar de falências nunca será da Justiça
Federal.

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Unidade III: Pressupostos da Falência

Pressuposto Subjetivo + Pressuposto Objetivo + Pressuposto Formal = Falência

(1) Pressuposto subjetivo: segundo o artigo 1º da lei de falências, apenas os


empresários e as sociedades empresárias estão sujeitas à falência e à
recuperação, excluindo a sociedade simples. Já o segundo artigo da lei
determina os excluídos do âmbito da falência, ou seja, aqueles que mesmo
exercendo atividades econômicas de modo empresarial são excluídos por opção
do legislador.
- Revisão: tipos societários

(2) Pressuposto objetivo: insolvência do devedor.


- Insolvência Econômica vs. Insolvência Presumida: na insolvência civil
exige-se que o patrimônio seja efetivamente deficitário, caracterizando a
chamada insolvência econômica. Lado outro, para a insolvência empresarial,

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não é necessário investigar se há patrimônio deficitário, podendo ser a falência
inclusive superavitária. Esta é chamada insolvência presumida.
- Sistemas da Lei de Falência:
a. Impontualidade injustificada (art. 94, I, LF): nesse caso, é essencial que
haja título(s) de crédito que tenham sido protestados. O protesto é
necessário pois serve como meio de prova para reforçar a caracterização da
inadimplência. A lei anterior exigia um protesto especial para falência,
porém, atualmente não há lei que regule um tipo especial de protesto.
Assim, a jurisprudência se manifestou no sentido de exigir que a intimação
do protesto para fins falimentares seja firmada pelo representante legal do
devedor (súm. 361, STJ). Há também, conforme a lei, a necessidade de um
valor mínimo para a dívida de 40 salários mínimos, que atualmente chegaria
a cerca de 39 mil reais. Tal valor deve ser aferido na data de requerimento
da falência.

(Lei 11.101/05) Art. 94. I - sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento,
obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma
ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência;

b. Execução frustrada (art. 94, II, LF): ocorre quando na fase de execução
ou no processo de execução, o devedor não toma as providências
necessárias, independente o valor devido. Alguns autores sustentam que o
valor estabelecido no inciso I (40 salários mínimos ou mais) também é
exigido para esse inciso, porém não há tal disposição no inciso II. A prova a
ser feita é a juntada da certidão de inteiro teor do processo.

(Lei 11.101/05) Art. 94. II - executado por qualquer quantia líquida, não paga, não
deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal;

c. Atos falimentares (art. 94, III, LF): condutas que exteriorizam estado de
insolvência. As várias hipóteses estão descritas nas alíneas do inciso III. Na
prática existem poucos casos de pedido de falência por atos falimentares,
principalmente pela dificuldade de provas e a incerteza do provimento da
falência, associada ao risco da condenação por requerimento doloso, que
será visto à frente.
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(3) Pressuposto formal: sentença declaratória de falência.

- Natureza da "sentença": apesar do nome sentença, tem natureza de decisão


interlocutória, haja vista que o juiz continua a prestar atos jurisdicionais no
processo. Por conseguinte, da decisão que declara a falência cabe agravo de
instrumento. Além disso, tem natureza constitutiva, como requisito formal da
falência. A sentença irá estabelecer uma série de medidas, segundo o artigo 99
da LF, como a definição do termo legal, a indicação de um administrador
judicial, a intimação das Fazendas Públicas, comunicação da falência à Junta
Comercial e outros. Porém, no caso de não decretação da falência
(improcedência do pedido), será de fato sentença, a ser desafiada por apelação
(art. 100, LF).
- Condenação por Requerimento Doloso (art. 101 da LF): enseja perdas e
danos, que será liquidada nos moldes do Código Civil.

Unidade IV: Processo de falência


(1) Fase pré falimentar:

a. Petição Inicial:
- Foro competente: verificar se é vara única ou, no caso de múltiplas varas,
verificar qual das varas empresariais trata de falências;
- Instrução da inicial: título executivo e instrumento de protesto ou, no caso
de atos falimentares, devem ser juntadas provas suficientes para comprovar
tais atos. No caso da falência ser requerida por credor empresário deve ser
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juntada ainda certidão atualizada demonstrando regularidade do seu
registro perante a Junta Comercial;
- Eventual pedido de desconsideração da pessoa jurídica
- Valor da causa: usualmente é dado o valor do título ou crédito que se busca
satisfazer.
b. Resposta do devedor:
- Preliminares de contestação: exemplos são a alegação de incompetência do
juízo, ilegitimidade de parte e outros;
- Contestação em si: o artigo 96 da Lei de Falências, em resposta ao artigo 94,
traz rol exemplificativo das hipóteses que impedem a decretação da falência.
Dessa forma, entende-se que o dispositivo traz argumentos de mérito contra
a decretação da falência.
- Depósito elisivo de falência (art. 981, parágrafo único, LF): caso haja
depósito do valor do crédito, a falência não será decretada. Assim, caso o
juiz não entenda que seja caso de falência, acolhendo a contestação, o
dinheiro irá retornar ao devedor. Lado outro, caso o juiz se convença da
falência, ela não será decretada devido ao depósito elisivo, e o(s) credor(es)
poderão levantar o montante.
- Pedido de recuperação: o processo de falência será sobrestado, caso seja
deferido esse pedido.
c. Sentença que decreta falência:
- Desafia agravo de instrumento (artigo 100 da LF) e a natureza processual é
de decisão interlocutória, pois não encerra a atuação do juiz no caso.
→ Atenção: da sentença que rejeita o pedido: cabe apelação e poderá haver
condenação do(s) autor(es) por requerimento doloso de falência.
- Natureza constitutiva do estado de falência;
- Elementos específicos da sentença: fixação do termo legal da falência,
intimação das fazendas públicas a depender do âmbito territorial de ação da
empresa, nomeação de administrador judicial, determinação do lacre do
estabelecimento para evitar a dilapidação do patrimônio (se necessário) e
outros;

1 (Lei 11.101/05) Art. 98. Citado, o devedor poderá apresentar contestação no prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. Nos pedidos baseados nos incisos I e II do caput do art. 94 desta Lei, o devedor poderá, no prazo da
contestação, depositar o valor correspondente ao total do crédito, acrescido de correção monetária, juros e honorários
advocatícios, hipótese em que a falência não será decretada e, caso julgado procedente o pedido de falência, o juiz ordenará o
levantamento do valor pelo autor.
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- Intimação do Ministério Público: não participa de todos os atos, mas apenas
dos atos que a lei determina sua participação. Porém, se houver latente
interesse coletivo, como usualmente ocorre em ações de falência, o MP
poderá intervir com base nas regras gerais do processo civil. Assim, a
ausência do MP na fase pré-falimentar não gera nulidade.
• Legitimados a requerer à falência (art. 97, LF):
a. Qualquer credor (art. 97, IV, LF);
b. Cotista ou acionista do devedor (art. 97, III, LF): hipótese bastante
complicada, pois a legislação não prevê hipótese em que o sócio possa
requerer a falência da sociedade. Além disso, a doutrina também discute
qual sócio seria legitimado para promover o pedido e falência. Essa hipótese
pode estar prevista no contrato social da empresa, mas não é comum, por
isso, não é muito vista na prática. Ademais, há outros mecanismos para o
sócio exercer seu direito de retirada, como por meio da dissolução total ou
parcial;
c. Cônjuge sobrevivente, herdeiro do devedor ou inventariante (art. 97, II,
LF): falência de espólio, se aplica apenas aos casos em que o devedor era
empresário individual. Se o de cujus era apenas sócio, não incorre nessa
hipótese, haja vista que a pessoa jurídica não se confunde com a pessoa dos
sócios nesse caso. Os bens serão arrecadados e passarão pelo processo da
falência, suspendendo o processo de inventário (art. 125, LF2). Se sobrarem
bens, estes retornarão para os sucessores, seguidas as regras aplicáveis pelo
direito civil. O prazo para essa decretação é de um ano após a morte do
devedor, inteligência do artigo 96, § 1º da LF.
d. O próprio devedor (art. 97, I C/C 105/107, LF):
→ Nomenclatura: também chamada de autofalência, porém, essa
nomenclatura é criticada, pois não basta que o devedor se auto-declare, é
necessária a sentença declaratória para decretação da falência. A legislação
chama esse processo de "falência requerida pelo próprio devedor" e a
doutrina também dá o nome de "confissão de falência".
→ Pressuposto Subjetivo: sociedade empresária ou empresário.

2LF: Art. 125. Na falência do espólio, ficará suspenso o processo de inventário, cabendo ao administrador judicial a realização de
atos pendentes em relação aos direitos e obrigações da massa falida.
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→ Pressuposto Objetivo: crise econômico-financeira e impossibilidade de
se recuperar por outros meios, como a solução de mercado, a recuperação
extrajudicial ou a recuperação judicial.
→ Pressuposto Formal: sentença declaratória de falência.
→ Inicial e documentos que a instruem: artigo 105, LF3 . Não estando a
petição em termos, o juiz pedirá a emenda da inicial, mas se todos os
documentos necessários estiverem presentes será decretada a falência.
→ S/A: havendo urgência, os administradores, com autorização do
acionista controlador, podem requerer a falência antes mesmo da
deliberação em assembleia.
→ Desistência do autor: é possível antes da sentença, não precisando ser
ao menos fundamentada. Se tiver sido citado o credor, deverá ter a
anuência deste.
→ Sentença declaratória e seus recursos: cabe agravo de instrumento se
houver indeferimento, mas se o juiz encerrar o processo, caberá apelação;
→ Retratação: após a decretação da falência, não é possível revogação
dessa decisão.
(2) Falência propriamente dita:
• Órgãos da falência:
a. Juiz: o juiz de direito (justiça estadual) irá presidir o processo. Critica-se na
doutrina a formação dos juízes que presidem o processo de falência, pois
muitas vezes os juízes não possuem aptidão técnica para tratar casos do
gênero, que envolvem conhecimento econômico e contábil. Há projeto de
resolução do TJ para criação de câmaras especializadas em Belo Horizonte
para tratar exclusivamente de casos empresariais. Note-se que no estado de
São Paulo já existe órgão especializado.

3 LF: Art. 105. O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos requisitos para pleitear sua recuperação
judicial deverá requerer ao juízo sua falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial,
acompanhadas dos seguintes documentos:
I - demonstrações contábeis referentes aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido,
confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: a) balanço
patrimonial; b) demonstração de resultados acumulados; c) demonstração do resultado desde o último exercício social; d)
relatório do fluxo de caixa;
II - relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação dos respectivos créditos;
III - relação dos bens e direitos que compõem o ativo, com a respectiva estimativa de valor e documentos comprobatórios de
propriedade;
IV - prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em vigor ou, se não houver, a indicação de todos os sócios, seus
endereços e a relação de seus bens pessoais;
V - os livros obrigatórios e documentos contábeis que lhe forem exigidos por lei;
VI - relação de seus administradores nos últimos 5 (cinco) anos, com os respectivos endereços, suas funções e participação
societária.
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b. Administrador judicial (art. 21/25 da LF): o administrador pode atuar na
falência bem como na recuperação judicial, que será estudada
posteriormente. No caso das falências, ele se comporta como auxiliar do
juiz. O administrador será escolhido pelo juiz e poderá até mesmo ser
pessoa jurídica, nos termos do parágrafo único do art. 21, LF.
Preferencialmente deverá ser um advogado, economista ou administrador
por formação, mas não é obrigatório que seja. O administrador será
representante da massa falida (comunhão dos interesses envolvidos no
processo de falência), podendo até mesmo ajuizar ação em seu favor. No
que diz respeito à remuneração do(a) administrador(a), será crédito
extraconcursal, ou seja, não entra no concurso de credores. O(a)
administrador(a) poderá também ser substituído ou destituído, sendo que a
destituição é sanção gravosa, que deverá ser motivada. No caso da
substituição, o indivíduo receberá proporcionalmente pelo tempo
trabalhado, mas no caso de destituição-sanção, o indivíduo deverá devolver
o que lhe foi pago e ele será impedido de ser administrador nos próximos 5
anos. Ademais, o(a) administrador(a) está sujeito(a) a responsabilização,
nos termos da lei.
c. Assembléia geral de credores (art. 35/46, LF): órgão deliberativo de
matérias de interesse dos credores, em consonância com o artigo 35, II da
LF. Sempre existirá no processo de falência.
d. Comitê de credores (art. 26/30, LF): tem função consultiva e fiscalizatória
e é de criação facultativa, usualmente adotado quando há um grande
número de credores. Deve contar com pelo menos um representante de
cada classe de credores.
e. Ministério Público: irá atuar nos momentos em que a lei determina,
principalmente na seara penal, nos casos de crimes falimentares, que são de
ação penal pública incondicionada.
• Efeitos da Falência:
a. Sobre o devedor (art. 102/104 da LF):
- Inabilitação (art. 102, LF4): o empresário fica inabilitado para o exercício
da atividade empresarial desde a decretação da falência, o que tem natureza

4 LF: Art. 102. O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial a partir da decretação da falência e até a
sentença que extingue suas obrigações, respeitado o disposto no § 1º do art. 181 desta Lei. Parágrafo único. Findo o período de
inabilitação, o falido poderá requerer ao juiz da falência que proceda à respectiva anotação em seu registro.
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de pena para o devedor. Essa proibição também engloba funções de
administração ou sócio de sociedade, mesmo que seja outra. Desobedecida
pelo indivíduo essa disposição, haverá incidência em crime falimentar,
segundo o artigo 176, LF. Essa proibição será vigente até a sentença que
extingue suas obrigações, nos termos do artigo 181, §1º, LF, que será
posteriormente estudado.
- Desapossamento e direitos do devedor (art. 103, LF5): haverá a perda,
por parte do devedor, do direito de administração de seu bens. Alguns
autores clássicos inclusive consideravam esse efeito e o efeito como uma
redução da capacidade civil. Por outro lado, autores mais modernos
abandonaram essa teoria, justificando esse efeito pela necessidade de
arrecadação dos bens, como uma medida processual, com vistas a viabilizar
o andamento do processo de falência. O desapossamento ira subsistir até o
encerramento do processo de falência. O parágrafo único traz alguns
direitos do falido, os quais sejam, fiscalizar o processo de falência e intervir
em processos que envolvam a massa falida, como assistente. Isso, pois, ainda
não houve a expropriação dos bens do falido e estes ainda são de sua
propriedade.
- Deveres do falido (art. 104, LF): o artigo 104 traz longo rol de deveres do
falido, que, em geral, tem como objetivo o bom andamento do processo de
falência . Antes da CF/88 era possível à prisão administrativa do falido que
não cumprisse seus deveres. Com o advento da CF/88, esse tipo de prisão
não foi recepcionada e a doutrina e jurisprudência passaram a penalizar o
descumprimento dos deveres do falido como crime de desobediência, nos
termos do art. 330 do Código Penal. Essa previsão foi incorporada ao
parágrafo único do art. 104, LF e para muitos é um novo crime, chamado
"desobediência falimentar" por ser crime próprio, diferente da disposição
geral do art. 330 do CP. Essa divergência, se o crime dera falimentar ou não,
porém, pode trazer diferentes efeitos do ponto de vista da falência,
necessitando clarificação.

5 LF: Art. 103. Desde a decretação da falência ou do seqüestro, o devedor perde o direito de administrar os seus bens ou deles
dispor. Parágrafo único. O falido poderá, contudo, fiscalizar a administração da falência, requerer as providências necessárias
para a conservação de seus direitos ou dos bens arrecadados e intervir nos processos em que a massa falida seja parte ou
interessada, requerendo o que for de direito e interpondo os recursos cabíveis.
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b. Sobre a sociedade (art. 80 e ss.):
- Representação por administradores ou liquidantes: os administradores e
liquidantes não sofrerão com a inabilitação nem com o desapossamento, mas
apenas a pessoa jurídica da sociedade, que, na prática, deverá cessar suas
atividades. Porém, aqueles que estiverem representando a empresa no
processo de falência se equiparam à empresa no caso dos deveres previstos
no artigo 104, LF.
- Sócio com responsabilidade ilimitada: nesses casos os sócios também serão
considerados falidos, estando sujeitos ao desapossamento, inabilitação e aos
deveres dos falidos. Haverá litisconsórcio passivo necessário do sócio com a
empresa.
- Sócio com responsabilidade limitada: em princípio, não sofrem efeitos com
a declaração da falência, não estão sujeitos ao desapossamento ou à
inabilitação. Eventualmente, poderá ser apurada a responsabilidade de sócio
com responsabilidade limitada, administradores e controladores, conforme
disposição do art. 82, LF6. No NCPC, o procedimento a ser adotado é o do
incidente de desconsideração da personalidade jurídica (NCPC, art.
133/137), podendo ser este pedido desde a petição inicial.
- Extensão dos efeitos da falência (ou da quebra): seria a ampliação dos
efeitos da falência a sócios e outras sociedades componentes do mesmo
grupo empresarial da empresa falida. Não há previsão legal para essa
extensão, mas há consolidada construção jurisprudencial acerca do tema,
que é amplamente aceita pelos tribunais superiores. Normalmente se
fundamenta em casos de fraude contra credores e é feita em substituição à
desconsideração da personalidade jurídica. Atualmente, com o advento do
NCPC, doutrinadores defendem que a extensão também deve ser feita por
meio do incidente de desconsideração da personalidade jurídica.

6LF: Art. 82. A responsabilidade pessoal dos sócios de responsabilidade limitada, dos controladores e dos administradores da
sociedade falida, estabelecida nas respectivas leis, será apurada no próprio juízo da falência, independentemente da realização do
ativo e da prova da sua insuficiência para cobrir o passivo, observado o procedimento ordinário previsto no Código de Processo
Civil. § 1º - Prescreverá em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado da sentença de encerramento da falência, a ação de
responsabilização prevista no caput deste artigo. § 2º - O juiz poderá, de ofício ou mediante requerimento das partes interessadas,
ordenar a indisponibilidade de bens particulares dos réus, em quantidade compatível com o dano provocado, até o julgamento da
ação de responsabilização
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c. Sobre os bens do devedor (art. 108 a 114, LF):
- Novidade da lei atual: desnecessidade do Ministério Público de assistir o
processo. Assim, o devedor poderá acompanhar o administrador para a
realização da arrecadação.
- Formação da massa falida objetiva - patrimônio falimentar: por definição,
massa falida é a comunhão de todos os interesses (bens e direitos do falido).
Atenção ao fato de que a massa falida não tem personalidade jurídica,
embora seja uma entidade subjetiva, a qual pode fazer fazer parte de
negócios e figurar em lides. A massa falida é composta da parcela objetiva,
que corresponde ao ativo, ou seja, ao conjunto de bens que serão
arrecadados no processo de falência, e da parcela subjetiva, que corresponde
ao conjunto dos credores admitidos no processo de falência.
- Arrecadação e posse de bens: decorre da disposição do art. 103, LF7. A
arrecadação é ato de constrição, o qual recai sobre tudo, sendo mais amplo
que a penhora. Ela é feita pelo administrador judicial, o qual se investe na
função ao assinar um termo de compromisso de aceitação para desenvolver
a atividade de administrador judicial. Uma de suas atuações mais relevante é
arrecadar os bens (art. 108, caput, LF8) para aumentar o ativo do
empresário ou sociedade e, assim, possibilitar o pagamento das dívidas aos
credores. Ressalta-se que os bens arrecadados serão os de propriedade do
falido, bem como aqueles que estiverem em sua posse, como é o caso de bens
adquiridos por alienação fiduciária.
- Arrecadação de bens já penhorados (art. 108, §3º, LF9) e de bens
impenhoráveis (art. 108, §4º da LF10): no caso de bens já penhorados, será
emitida carta precatória para que o bem seja entregue para a massa falida,
devendo o credor se habilitar então no processo de falência. Na hipótese de

7 LF: Art. 103. Desde a decretação da falência ou do seqüestro, o devedor perde o direito de administrar os seus bens ou deles
dispor. Parágrafo único. O falido poderá, contudo, fiscalizar a administração da falência, requerer as providências necessárias
para a conservação de seus direitos ou dos bens arrecadados e intervir nos processos em que a massa falida seja parte ou
interessada, requerendo o que for de direito e interpondo os recursos cabíveis.
8 LF. Art. 108. Ato contínuo à assinatura do termo de compromisso, o administrador judicial efetuará a arrecadação dos bens e
documentos e a avaliação dos bens, separadamente ou em bloco, no local em que se encontrem, requerendo ao juiz, para esses
fins, as medidas necessárias. (...)
9 LF: Art. 108 (...) § 3º - O produto dos bens penhorados ou por outra forma apreendidos entrará para a massa, cumprindo ao
juiz deprecar, a requerimento do administrador judicial, às autoridades competentes, determinando sua entrega.
10 LF: Art. 108 (...) § 4º - Não serão arrecadados os bens absolutamente impenhoráveis.
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concurso de penhoras, será priorizada a mais antiga. Apesar disso, a
arrecadação terá prioridade em face da falência.
- Lacre do estabelecimento: previsão do artigo 109 da Lei de Falências11 que
determina o lacre quando for identificado risco para a arrecadação ou
preservação de bens da massa falida.
- Auto de arrecadação (art. 110 da LF): o auto é composto pelo inventário e
pelo respectivo laudo de avaliação dos bens, e terá assinatura do
administrador judicial, do falido ou de seus representantes. Sua função é
documental.
- Depositário dos bens: conforme disposição do artigo 108, §1º da LF12, o
administrador judicial poderá guardar os bens ou determinar outra pessoa
para ser depositário, podendo até mesmo o falido o sê-lo.
- Possibilidade de adjudicação de bens pelos credores (art. 111, LF13):
consiste na utilização do bem penhorado (ou dos componentes da massa
falida) como pagamento da dívida. Ressalta-se que deverá ser observada a
ordem dos credores e o limite da avaliação do bem. A autorização para tanto
deverá ser concedida pelo juiz.
- Possibilidade de venda antecipada de bens perecíveis ou deterioráveis: o
dever do administrador judicial é a busca pela otimização dos ativos,
evitando, por exemplo, a perda de bens. Com efeito, o artigo 113 da Lei de
Falências14 traz a possibilidade de venda antecipada de bens perecíveis ou
deterioráveis, devendo ser dada autorização judicial bem como ser ouvido o
falido em 48 horas.

11LF: Art. 109. O estabelecimento será lacrado sempre que houver risco para a execução da etapa de arrecadação ou para a
preservação dos bens da massa falida ou dos interesses dos credores.
12LF: Art. 108. (...) § 1º - Os bens arrecadados ficarão sob a guarda do administrador judicial ou de pessoa por ele escolhida, sob
responsabilidade daquele, podendo o falido ou qualquer de seus representantes ser nomeado depositário dos bens.
13 LF: Art. 111. O juiz poderá autorizar os credores, de forma individual ou coletiva, em razão dos custos e no interesse da massa
falida, a adquirir ou adjudicar, de imediato, os bens arrecadados, pelo valor da avaliação, atendida a regra de classificação e
preferência entre eles, ouvido o Comitê
14LF: Art. 113. Os bens perecíveis, deterioráveis, sujeitos à considerável desvalorização ou que sejam de conservação arriscada
ou dispendiosa, poderão ser vendidos antecipadamente, após a arrecadação e a avaliação, mediante autorização judicial, ouvidos o
Comitê e o falido no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
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- Possibilidade de aluguel ou outros contratos sobre os bens arrecadados: o
artigo 114 da LF15 autoriza que bens arrecadados sejam objeto de contratos
que produzam renda para a massa falida, como o contrato de aluguel. Para
que essa hipótese ocorra, deverá ser autorizada pelo comitê.
- A eventualidade de não serem encontrados bens do devedor: a lei não traz
respostas concretas nessa hipótese. O NCPC autoriza a suspensão do
processo para que se procure por bens, mas se não for obtido êxito, poderá
vir a ser extinto, restando aos credores a execução individual.
d. Sobre certos atos do falido:
- Antiga lei de falências: previa a ação revocatória, uma espécie de ação
pauliana. Ela se desdobrava em duas ações revocatórias, a objetiva e a
subjetiva. A primeira era independente do ânimo dos agentes de fraudar
credores, mas apenas se preocupava com seus efeitos, havendo previsão de
um rol específico. Lado outro, para a segunda, deveria ser feita prova acerca
da intenção dos agentes. A nova legislação transformou a ação revocatória
objetiva nos chamados "atos ineficazes perante a massa", sendo
desnecessária ação para esse caso, enquanto a revocatória subjetiva passou a
ser a única hipótese de revocatória.

15LF: Art. 114. O administrador judicial poderá alugar ou celebrar outro contrato referente aos bens da massa falida, com o
objetivo de produzir renda para a massa falida, mediante autorização do Comitê. § 1º - O contrato disposto no caput deste artigo
não gera direito de preferência na compra e não pode importar disposição total ou parcial dos bens. § 2º - O bem objeto da
contratação poderá ser alienado a qualquer tempo, independentemente do prazo contratado, rescindindo-se, sem direito a multa,
o contrato realizado, salvo se houver anuência do adquirente.
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- Termo legal da falência (art. 99, II, LF): é fixado pela sentença
declaratória de falência. O termo, segundo a lei, será fixado retroagindo até
90 dias contados do pedido de falência. O período compreendido entre o
pedido de falência e a sentença é chamado pela lei de termo legal de falência.
Porém, alguns autores questionam essa nomenclatura, pois tecnicamente o
termo deveria ser uma data. Assim, a data fixada em concreto na retroação
seria chamada de termo legal e o referido período receberia o nome de
suspeito ou de suspeição, no qual deverá haver investigação acerca dos atos
do falido.

(LF) Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras determinações:
(...) II - fixará o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de 90 (noventa)
dias contados do pedido de falência, do pedido de recuperação judicial ou do 1º (primeiro)
protesto por falta de pagamento, excluindo-se, para esta finalidade, os protestos que
tenham sido cancelados;

- Atos ineficazes perante a massa (art. 129, LF): o artigo 129 da LF traz em
seus incisos atos que são considerados ineficazes realizados pelo falido,
independente do ânimo de fraudar credores. Interessante observar que tais
atos guardam semelhanças com os atos falimentares, anteriormente
estudados, o que demonstra repudio do sistema a tais atos. Os atos
ineficazes podem ser decretados de ofício, sendo desnecessária propositura
de ação, o que gera maior celeridade nesse processo.
- A ação revocatória na atual LF (art. 130 a 138): a ação revocatória é uma
ação pauliana específica da lei de falências. Ela atua no plano da validade.
➢ Requisitos:
(1) Intenção de prejudicar os credores;
(2) Conluio fraudulento;
(3) Efetivo prejuízo da massa.
➢ Respeito aos atos realizados em recuperação judicial anterior: não
é possível entrar contra atos realizados em sede de recuperação
judicial. Isso, pois, terá o ato sido praticado com autorização dos
credores e autorização judicial;
➢ Prazo para propositura: 3 anos contados da decretação da falência
(prazo decadencial). A maior parte da doutrina entende ser esse prazo
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válido também para aplicar a sistemática dos atos ineficazes perante a
massa, já que a Lei de Falências é silente nesse ponto.
➢ Legitimados: administrador judicial, credores e Ministério Público;
➢ Rito: comum do NCPC (art. 134, LF16 );
➢ Sentença: deverá reconduzir as partes ao status quo. O recurso que a
desafiará será a apelação;
➢ Possibilidade de medidas cautelares: em consonância ao previsto
pelo NCPC.
e. Dos pedidos de restituição (art. 85/93, LF):
- Função (art. 8517, LF): subtrair do âmbito da massa falida bens que não são
de propriedade do falido, delimitando a massa falida objetiva (equação entre
arrecadação e o pedido de restituição). Nesse âmbito, o terceiro proprietário
irá buscar reaver o bem arrecadado em sede de falência que a ele pertence, e
não à massa. Assim, sua função primordial é tutelar o direito de
propriedade. Porém, existem outras situações em que a lei admite a
restituição e são equiparadas à tutela da propriedade, nesse caso específico.
- Natureza: alguns autores acreditam ser esse pedido uma ação
reinvindicatória específica da falência, enquanto outros acreditam ser
embargos de terceiro específicos da falência.
- Preferência de crédito: o pedido de restituição é o primeiro na ordem de
pagamento, antes mesmo dos credores extraconcursais, isso, pois, o dinheiro
arrecadado efetivamente não pertence ao devedor, então não haveria sentido
usar esse dinheiro para quitar as dívidas do devedor falido. A única verba
que irá preterir o pedido de restituição será a hipótese do art. 151, LF, dos
créditos trabalhistas estritamente salariais, por estes terem natureza
alimentar, como será visto adiante.
- Arrecadação em dinheiro (hipóteses do art. 86, LF): o art. 86 determina
as três hipóteses em que caberá a restituição em dinheiro. O inciso I traz a
hipótese de a coisa não mais existir ao tempo do pedido, devendo o
indivíduo receber o valor da avaliação do bem ou o preço pago, na hipótese

16LF: Art. 134. A ação revocatória correrá perante o juízo da falência e obedecerá ao procedimento ordinário previsto na Lei no
5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil
17LF: Art. 85. O proprietário de bem arrecadado no processo de falência ou que se encontre em poder do devedor na data da
decretação da falência poderá pedir sua restituição.Parágrafo único. Também pode ser pedida a restituição de coisa vendida a
crédito e entregue ao devedor nos 15 (quinze) dias anteriores ao requerimento de sua falência, se ainda não alienada.
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de já ter havido a venda desse bem. O segundo inciso, por sua vez, traz
hipótese em que há o adiantamento em moeda nacional no âmbito do
contrato e câmbio para exportação. Esse dispositivo foi questionado em uma
ADI no Supremo Tribunal Federal, alegando que ela feriria os direitos
sociais previstos na CF/88, ja que esse crédito viria antes dos trabalhistas. A
ação não foi conhecida, sob argumento de falta de impugnação de todo
arcabouço normativo, pois permaneceria ainda outra regra no ordenamento
que determinaria o mesmo efeito dessa, e que não foi questionada. O inciso
III, por fim, abarca a situação em que subsistam valores entregues ao
devedor pelo contratante de boa-fé na hipótese de revogação ou ineficácia
do contrato, quando ocorrer prática de atos ineficazes perante a massa (art.
136 e 129, LF). O parágrafo único traz importante exceção, estabelecendo
que irá preterir o pedido de restituição, o crédito trabalhista estritamente
salarial (art. 151), pela razão de que são verbas alimentares. Porém, mesmo
nesse caso, há limitação de 5 salários mínimos por trabalhador.
- Procedimento: a petição inicial deverá ser fundamentada e descrever a coisa
reclamada, individualizando-a (art. 87, caput, LF18). Serão feitas as
intimações, com prazos sucessivos de 5 dias para manifestação. Qualquer
oposição, nos termos do parágrafo primeiro do referido artigo, será
considerada contestação. Após, o juiz determinará, se necessário, dilação
probatória. Posteriormente, será dada a sentença, a ser desafiada por
apelação, a qual somente terá efeito devolutivo, e não efeito suspensivo (art.
90, caput19, LF). Atenção ao fato de que o artigo 91, caput20 da LF traz
como consequência a indisponibilidade da coisa, até o trânsito em julgado.
- Fungibilidade entre pedido de restituição e habilitação de crédito (art.
8921 , LF): caso um dos credores peça restituição em hipótese não abarcada
no rol do artigo 85, verificado seu crédito, ele será incluído no quadro de
credores, sem necessidade de entrar com nova ação.

18 LF: Art. 87. O pedido de restituição deverá ser fundamentado e descreverá a coisa reclamada
19 LF: Art. 90. Da sentença que julgar o pedido de restituição caberá apelação sem efeito suspensivo.
20 LF: Art. 91. O pedido de restituição suspende a disponibilidade da coisa até o trânsito em julgado
21 LF: Art. 89. A sentença que negar a restituição, quando for o caso, incluirá o requerente no quadro-geral de credores, na
classificação que lhe couber, na forma desta Lei.
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- Impossibilidade de atendimento de todos os autores em restituições em
dinheiro: conforme art. 91, parágrafo único22 , LF, haverá rateio,
distribuindo-se os créditos proporcionalmente e satisfazendo-se
parcialmente os credores. Nessa hipótese, nenhum outro credor irá receber,
nem ao menos o administrador judicial.
- Embargos de terceiro: o artigo 93 da LF23 traz a hipótese de utilizar o
instituto dos embargos de terceiro para situações não albergadas pelo pedido
de restituição, como meio subsidiário de tutela. Isso, pois, são os embargos
de terceiros mais amplos, protegendo também, por exemplo, a posse
legítima, que não é tutelada pelo pedido de restituição.
f. Efeitos da falência sobre obrigações (e contratos) do devedor:
- Regra geral (art. 115/128, LF): os contratos bilaterais, em que há
prestações equiparáveis entre as partes e ainda existe pendência
obrigacional, não se resolvem por ocasião da falência e podem ser cumpridos
pelo administrador judicial, sendo ouvido o Comitê, se este existir.
- Efeitos sobre alguns contratos em espécie:
(1) Compra e venda mercantil (art. 119, I a V, LF): conforme o objeto e a
fase de execução do contrato, haverá efeitos distintos.
(2) Promessa (irretratável) de compra e venda de imóveis: a promessa
irretratável não sofre efeitos da falência, é como se a falência
efetivamente não existisse. É imune diante da falência de uma das partes.
(3) Locação (art. 119, VII, LF): terá diferentes efeitos se for o locador ou o
locatário o falido. Assim, no caso da falência do locatário, caberá ao
administrador continuar ou não com o contrato de locação. Via de regra,
o mais interessante para a massa costuma ser a extinção do contrato,
porém, há situações, a serem analisadas no caso concreto, em que é
interessante a manutenção do contrato. Lado outro, se for a falência do
locador (proprietário), não se resolverá o contrato. Isso pois não há
interesse na rescisão automática, visto que, estando os bens alugados,
geram renda para a massa.

22LF: Art. 91 (...) Parágrafo único. Quando diversos requerentes houverem de ser satisfeitos em dinheiro e não existir saldo
suficiente para o pagamento integral, far-se-á rateio proporcional entre eles
23LF: Art. 93. Nos casos em que não couber pedido de restituição, fica resguardado o direito dos credores de propor embargos
de terceiros, observada a legislação processual civil
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(4) Patrimônios de afetação (art. 119, IX, LF): exemplo de patrimônio de
afetação é a incorporação imobiliária. Os bens, direitos e obrigações
serão separados dos do falido até o advento do termo ou cumprimento
da finalidade.
(5) Contrato de consumo: não há disposição na LF. Porém, entende-se que
a simples falência já é suficiente para desconsideração da pessoa jurídica
nos casos de contratos de consumo.
(6) Mandato (art. 120, LF): cessará o efeito, salvo se não relacionado à
atividade empresarial. Assim, por exemplo, se o falido recebe mandato
para fazer a matrícula do filho na universidade, por óbvio, não terá seus
efeitos suspensos. No caso de mandato judicial, continuará surtindo
efeitos até que o administrador judicial suceda.
(7) Contratos de sociedade em que o falido é parte (art. 123): dissolução
parcial da sociedade quanto ao falido, podendo ser feita de forma
amigável ou judicial.
(8) Alienação: não sofre efeitos da falência.
(9) Compensação na falência (art. 122, LF): pode ser feita no âmbito da
falência, como forma de extinção da obrigação. Deverá ser feita como
prioridade máxima em relação à todas as demais classes de credores.
(10) Conta corrente (art. 121, LF): se consideram encerradas na
decretação da falência;
(11) Contratos não tratados em lei (art. 126, LF);
(12) Falência de coobrigados (art. 127, LF): um exemplo é o caso em que o
falido é devedor principal de um título de crédito e tem um avalista.
Nesse caso, o credor poderá cobrar de ambos. De forma geral, os
coobrigados podem ser cobrados no processo de falência, podendo estes,
posteriormente, exercer direito de regresso.
g. Efeitos da falência sobre os credores do falido:
- Vencimento antecipado das dívidas do falido (art. 77, LF24): serão
contadas as dívidas vencidas bem como as vincendas, para que todos os
credores possam buscar a satisfação do seu crédito desde logo.

24 LF: Art. 77. A decretação da falência determina o vencimento antecipado das dívidas do devedor e dos sócios ilimitada e
solidariamente responsáveis, com o abatimento proporcional dos juros, e converte todos os créditos em moeda estrangeira para a
moeda do País, pelo câmbio do dia da decisão judicial, para todos os efeitos desta Lei
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- Credores admitidos: a lei admite todos os credores no processo de falência,
excluindo-se expressamente apenas dois tipos de obrigações, as quais sejam,
a obrigação a título gratuito e despesas para tornar-se parte da falência
(habilitação de crédito), inteligência do artigo 5º da Lei de Falências25. Com
relação à primeira, imagine-se que o falido tenha oferecido patrocínio a um
evento cultural. Nessa hipótese o organizador do evento não poderá cobrar
essa prestação do falido.
- Situação peculiar do fisco: o CTN traz que a fazenda pública não se sujeita
à juízo concursal, como ocorre na falência. Para compreensão dessa questão,
essencial diferenciar concurso formal e material de credores. O CTN aborda
a perspectiva formal, pois a Fazenda não se sujeita ao procedimento formal
da falência e seus meios de cobrança próprios, mas adota o procedimento da
execução fiscal. Lado outro, é claro que a Fazenda é parte do concurso
material, ou seja, faz parte da classificação dos credores. Um exemplo é a
execução fiscal em curso quando sobrevém falência do empresário. Ela não
deverá ser suspensa, mas o juízo da execução fiscal irá comunicar ao juízo
da falência a existência do crédito da Fazenda. Essa comunicação se dá pela
forma da chamada "penhora no rosto dos autos" (penhora de direito de
crédito ou bem já conscrito em outros processo, por exemplo), devendo o
juiz inserir o crédito no quadro geral de credores. Importa ressaltar que a
jurisprudência admite que o fisco abandone os privilégios a ele concedidos
habilitando-se na falência como credor comum.
- Ações trabalhistas (art. 6º, §2º, LF26 ): como existe justiça específica
(Justiça do Trabalho) competente para julgar questões que envolvam
direitos do trabalhador, o procedimento também será diferenciado com
relação ao do restante dos credores. Assim, se já existe ação trabalhista e
sobrevém a falência da empresa, essa ação não será suspensa, porém a
justiça do trabalho não pode executar os bens do falido, mas em lugar disso,

25 LF: Art. 5º. Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência: I - as obrigações a título gratuito; II - as
despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou na falência, salvo as custas judiciais decorrentes de
litígio com o devedor
26LF: Art. 6º (...) § 2º - É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação de créditos
derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o art. 8º desta
Lei, serão processadas perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro-geral de
credores pelo valor determinado em sentença.
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deverá comunicar ao juízo da falência a existência de créditos trabalhistas.
Sendo assim, o juízo da falência promoverá a "penhora no rosto dos autos".
- Suspensão das ações individuais em curso contra o falido (art. 6º, caput,
LF27): apesar de serem suspensas as ações individuais, se credor não obtiver
sucesso na falência poderá retomar a ação. Porém, ressalta-se que as
demandas por quantias ilíquidas continuarão em curso, em exceção à regra
geral, conforme art. 6º,§1º da LF28 .
- Reserva de importâncias: segundo o § 3º do art. 6º, LF29, o juízo
trabalhista, bem como o juízo que estiver processando a ação individual para
demandar quantia ilíquida, poderão determinar a reserva de valor estimado
do crédito, e, após a liquidação do mencionado crédito, deverá o credor ser
incluído na classe própria, para que possa receber.
- Suspensão dos prazos prescricionais (art. 6º, caput, LF): o prazo apenas é
suspenso, podendo voltar a correr "de onde estava", enquanto a interrupção
recomeça a contagem. Ademais, a suspensão pode se dar várias vezes,
enquanto a interrupção somente uma.
- Juros após decretação da falência (art. 124, LF30): a lei determina que não
fluem juros durante o processo de falência, salvo se houver ativos suficientes
para tanto (falência superavitária). Assim, se houver recursos, serão pagos
primeiros todos os credores e depois os juros na ordem concursal, até onde
for possível. Há discussão, porém, no caso dos juros a serem pagos aos
credores trabalhistas, não havendo entendimento pacificado.

27LF: Art. 6º. A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da
prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário. (...)
28 LF: Art. 6º. (...) § 1º - Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que demandar quantia ilíquida.
29LF: Art. 6º (...) § 3º - O juiz competente para as ações referidas nos §§ 1º e 2º deste artigo poderá determinar a reserva da
importância que estimar devida na recuperação judicial ou na falência, e, uma vez reconhecido líquido o direito, será o crédito
incluído na classe própria.
30 LF: Art. 124. Contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a decretação da falência, previstos em lei ou em
contrato, se o ativo apurado não bastar para o pagamento dos credores subordinados. Parágrafo único. Excetuam-se desta
disposição os juros das debêntures e dos créditos com garantia real, mas por eles responde, exclusivamente, o produto dos bens
que constituem a garantia
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Unidade V: Verificação e habilitação de créditos (art. 7º a 20 da LF)
• Delimitação da massa falida subjetiva: a massa falida subjetiva se define pela
universalidade de credores interessados na falência. O que definirá quem são os
credores é o quadro geral de credores, formado pelos procedimentos de
verificação e habilitação de crédito.

• Papel do administrador judicial: é o principal encarregado da habilitação e da


verificação de crédito, consolidando o quadro geral de credores a partir da
escrituração do falido e dos documentos apresentados. Assim, os credores ao se
habilitarem se dirigem ao administrador judicial e não ao juiz. O juiz irá
homologar o quadro geral de credores apresentado pelo administrador.
• Procedimento de habilitação: será publicado edital após a sentença de
decretação de falência (art. 99, parágrafo único), em 15 dias contados do edital
deverão ser feitas as habilitações pelos credores, nos termos do art. 9º, LF. Nos
10 dias subsequentes cabem impugnações aos créditos, as quais serão dirimidas
pelo juiz. De tal decisão judicial, cabe agravo de instrumento. Enfim, o juiz
homologará o quadro-geral de credores.
• Créditos retardatários (art. 10, LF): os credores que perdem o prazo para se
apresentar ao processo são chamados retardatários. Ressalta-se que quanto mais
tardiamente o credor retardatário tentar se habilitar, menores as chances de
receber, pois se já houver ocorrido rateio, por exemplo, mesmo chegando em sua
classe, ele não irá receber, pois não é razoável que os outros, que se habilitaram a
tempo, devolvam o dinheiro para redistribuição. A situação desse credor e seus
créditos dependerá do momento da execução recursal, conforme art. 10, §§ 5º e
6º, LF:

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a) Antes da homologação do quadro geral: a habilitação será recebida como
impugnação a ser processada nos termos do art. 13 a 15 da LF.
b) Após a homologação do quadro-geral de credores: deverá ser realizada
habilitação por meio de ação de retificação, pedindo a inclusão do credor no
quadro. Deverá ser seguido rito ordinário do NCPC.
• Credor único: se ao averiguar o número de credores, apenas um credor é
encontrado, há duas correntes:
a) Extinção do processo: a execução deve se dar pelo meio menos gravoso
pelo credor, então à falência não seria o meio adequado;
b) Continuidade do processo: à falência é uma forma de retirar empresário
inadimplente do mercado e traz efeitos mais benéficos ao credor. O credor
deve, então, ter acesso à essa via legal, já que não há requisito de que exista
pluralidade de credores na LF, para configurar à falência.

Unidade VI: Da classificação dos créditos na falência (art. 83 e 84 da LF)


• Créditos concursais (art. 83, LF): créditos afetos ao concurso de credores. São
os créditos existentes na data da decretação da falência. Exemplos são os
credores trabalhistas e os quirografários. A ordem legal é a que se segue.

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• Créditos extraconcursais (art. 84, LF): créditos nascidos após a falência, ou
dívidas nascidas perante a massa falida. Ex.: pagamento do administrador
judicial. Eles serão pagos antes dos concursais, pois caso contrário, ninguém
trabalharia para a massa falida se já verificasse ausência de verbas para
pagamento de todos os credores, garantindo o próprio desenvolvimento do
processo de falência. A ordem é a seguinte, segundo o referido artigo.

• Habilitação (art. 9º da LF): para a habilitação, é necessário que o credor


informe o seguinte, para evitar fraudes.
- Nome e endereço o para receber comunicado de atos do processo;
- Valor do crédito atualizado até decretação da falência ou pedido de
recuperação;
- Documentos comprobatórios do crédito e sua origem;
- Indicação de garantia, se houver e seu instrumento;
- Especificação do objeto e garantia que estiver na posse do credor.

Unidade VII: Da realização do ativo (art. 139 e 148 da LF)


• Início da fase da liquidação: à falência é uma hipótese de liquidação judicial, à
qual gera a extinção da pessoa jurídica.
• Realização do ativo: por meio da falência há agressão ao patrimônio dos
devedores, para que seja satisfeito o crédito dos credores. A lei cria dois
mecanismos para otimizar os ativos. Primeiramente, cria uma ordem de
preferência para venda dos bens, além de instituir vedação de sucessão
empresarial para o arrematante desses bens. Com isso, a lei nova teve como

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objetivo a venda do todo, "descendo" até chegar nos bens separadamente
considerados (apenas se não houver a venda do todo), afim de preservar a
unidade produtiva, que passará às mãos de outra pessoa, e até mesmo mantendo
contratos de trabalho. Porém, somente haverá compradores para a unidade
produtiva se for vedada a sucessão, o que a lei efetivamente fez, a aquisição é
como uma aquisição originária. Assim, por exemplo, o sucessor não será
responsabilizado pelas parcelas trabalhistas deixadas pelo sucedidos. O objetivo
final é maior entrada de dinheiro em caixa, para pagar quantos credores forem
possíveis. No caso, ainda existem decisões que responsabilizam os sucessores
pelos créditos trabalhistas, o que, segundo o professor, gera insegurança jurídica.
Além disso, a lógica é justamente ter mais dinheiro para pagar os trabalhadores
bem como os outros credores.
• Procedimentos para alienação:
A) Leilões por lances orais;
B) Propostas fechadas;
C) Pregão: híbrida, começa com propostas fechadas e os proponentes seguem
com lances orais;
D) Qualquer outra forma autorizada pelo juiz: como por exemplo, venda
direta.
• Depósito em conta remunerada (art. 147, LF31): o dinheiro recebido pela
massa não poderá ficar em conta não remunerada, devendo sempre render algum
valor.
• Realização alternativa do ativo por constituição de sociedade pelos credores:
a lei abre possibilidade para que os credores possam criar sociedade com o
intuito de adjudicarem os ativos e darem continuidade à sociedade. Essa previsão
é consoante ao princípio da preservação da empresa. Na prática, segundo o
professor, não ocorre.

31 LF: Art. 147. As quantias recebidas a qualquer título serão imediatamente depositadas em conta remunerada de instituição
financeira, atendidos os requisitos da lei ou das normas de organização judiciária
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Unidade VIII: Pagamento aos credores
• Ordem:
(1) Compensações;
(2) Pagamento de 5 salários mínimos relativos aos 3 últimos meses - créditos
trabalhistas alimentares (art. 151, LF);
(3) Pedidos de restituição;
(4) Créditos extraconcursais;
(5) Créditos concursais.
• Restituição em dobro em caso de dolo ou má fé (art. 152, LF): os credores irão
restituir em dobro quantias recebidas se comprovada a má fé ou dolo no
recebimento.

(LF) Art. 152. Os credores restituirão em dobro as quantias recebidas, acrescidas dos
juros legais, se ficar evidenciado dolo ou má-fé na constituição do crédito ou da garantia.

Unidade IX: O encerramento da falência e a extinção das obrigações do falido

• Prestação de contas do administrador: exaurido o ativo, ou seja, não havendo


mais de onde retirar mais recursos, o administrador presta contas ao juiz. Esse
ato deflagra o encerramento da falência. A prestação se faz necessária pois o
administrador geriu patrimônio alheio.
• Julgamento das contas: as contas serão julgadas por sentença. Se rejeitadas as
contas, deverá a sentença fixar as responsabilidades do administrador, lembrando
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que esse administrador terá responsabilidade civil e penal, porém, por óbvio, o
juízo cível não poderá atribuir responsabilidade penal, mas deverá comunicá-la
ao Ministério Público. Uma forma de punição é a destituição do administrador,
já visto anteriormente, nesse caso será nomeado outro administrador. Contra essa
sentença, caberá apelação, estando legitimados os atores da falência, como
credores, MP, o administrador e o falido.
• Relatório final da falência: após a prestação de contas, será feito relatório, que
descrevera o processo como um todo, para que o juiz possa encerrar a falência
• Encerramento da falência por sentença (art. 156, LF): publicação por edital.
• Hipóteses de extinção das obrigações do falido (art. 158, LF32): existem
quatro hipóteses previstas em lei para extinção das obrigações do falido, sendo a
primeira delas o pagamento total (falência superavitária). Outra hipótese é o
pagamento de 50% dos quirografários, após realizado o ativo e pagas as outras
classes anteriores. Além disso, pelo decurso do tempo, existem duas hipóteses,
após 5 anos se o falido não tiver sido condenado por crime falimentar ou após 10
anos, no caso de condenação por crime falimentar, contados a partir do
encerramento da falência. O professor critica os prazos, julgando-os muito
longos, já que o Código Civil de 2002 reduziu a maior parte dos prazos
prescricionais, tornando as obrigações inexigíveis até mesmo antes do
vencimento do prazo. Ex.: ação de reparação civil (prazo de 3 anos).
• Requerimento do falido de declaração da extinção de suas obrigações por
sentença (art. 159, LF33): autuação em apartado e publicação por edital no
órgão oficial e em jornal de grande circulação. Haverá prazo de 30 dias para
oposição de qualquer credor e, findo o prazo, a sentença será proferida em 5 dias.
De tal sentença, o recurso cabível é a apelação. Transitados em julgado, serão os
autos apensados aos autos de falência. Note-se que a habilitação se refere ao

32LF. Art. 158. Extingue as obrigações do falido: I - o pagamento de todos os créditos; II - o pagamento, depois de realizado todo
o ativo, de mais de 50% (cinqüenta por cento) dos créditos quirografários, sendo facultado ao falido o depósito da quantia
necessária para atingir essa porcentagem se para tanto não bastou a integral liquidação do ativo; III - o decurso do prazo de 5
(cinco) anos, contado do encerramento da falência, se o falido não tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei;
IV - o decurso do prazo de 10 (dez) anos, contado do encerramento da falência, se o falido tiver sido condenado por prática de
crime previsto nesta Lei.
33 LF. Art. 159. Configurada qualquer das hipóteses do art. 158 desta Lei, o falido poderá requerer ao juízo da falência que suas
obrigações sejam declaradas extintas por sentença. § 1º - O requerimento será autuado em apartado com os respectivos
documentos e publicado por edital no órgão oficial e em jornal de grande circulação. § 2º - No prazo de 30 (trinta) dias contado
da publicação do edital, qualquer credor pode opor-se ao pedido do falido. § 3º - Findo o prazo, o juiz, em 5 (cinco) dias,
proferirá sentença e, se o requerimento for anterior ao encerramento da falência, declarará extintas as obrigações na sentença de
encerramento. § 4º - A sentença que declarar extintas as obrigações será comunicada a todas as pessoas e entidades informadas
da decretação da falência. § 5º - Da sentença cabe apelação. § 6º - Após o trânsito em julgado, os autos serão apensados aos da
falência.
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empresário individual, pois no que diz respeito à sociedade, não há interesse em
dar a ela continuidade. Ademais, importante rememorar que a falência é uma
hipótese de dissolução da sociedade. Porém, a sociedade não é extinta após a
falência, pois subsistem os sócios. Após a falência, os sócios deverão decidir se a
deixarão inativa, aguardando o decurso do tempo ou se a encerrarão, por
exemplo.

Unidade X: Da recuperação judicial de empresas:


• Requisitos:
(1) Quem pode requerer a recuperação?
a. Apenas o próprio devedor;
b. Deve ser empresário ou sociedade empresária;
c. Não pode estar inserido no rol dos sujeitos excluídos pela Lei de Falência
nem ser impedido de requerer a concordata, nos termos da legislação
anterior (art. 198, LF)
d. O caso dos produtores rurais (art. 48, §2º da LF): no exercício de atividade
rural por pessoa jurídica, é admitida comprovação do prazo estabelecido no
caput do referido artigo (2 anos) por meio da DIPJ (Declaração de
Informações Econômico-fiscais da Pessoa Jurídica), que deverá ser
entregue tempestivamente.
e. Sociedade em conta de participação: nesse tipo de sociedade há dois tipos de
sócios. No caso, apenas o sócio ostensivo pedirá a sua recuperação judicial;
(2) Exercício regular da atividade há mais de dois anos;
(3) Devedor não pode ser falido: existem, porém, alguns julgados isolados e
discussão doutrinária defendendo a chamada recuperação suspensiva, que
exigia na lei anterior. Devem porém, ser respeitados alguns requisitos, bem
como deve ser prioritariamente falência superavitária;
(4) Não pode ter obtido a concessão de recuperação judicial nos últimos 5 anos:
redação dada pela LC n° 147/2014. Antes, eram oito anos;
(5) Não pode ter sido condenado por crimes da LF e, no caso de sociedade,
seus sócios não podem ter sido condenados.

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• Requisitos da inicial:
(1) Exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor de
sua crise econômico-financeira: com base na exposição dos motivos, o juiz
pode ou não indeferir.
(2) Demonstrações contábeis;
(3) Relação de credores;
(4) Relação de empregados;
(5) Certidão de regularidade do Registro Público de Empresas;
(6) Relação de bens dos sócios e administradores;
(7) Extratos de contas bancárias;
(8) Certidões de cartórios de protestos;
(9) Relação de ações judiciais.
• Princípio da unidade (indivisibilidade) e da universalidade do juízo da
recuperação judicial: o juízo será o do principal estabelecimento do devedor.
Atenção, só o juízo da recuperação pode atacar o patrimônio do devedor.
Diferente da falência, os outros processos de execução individual, por exemplo,
somente ficam suspensos por 180 dias.
Unidade X.1: Do rito da recuperação judicial:
• Fases:

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• Créditos sujeitos à recuperação judicial (art. 49, caput, LF34): inicialmente,
todos os créditos estão sujeitos, porém, há diversas exceções. A primeira exceção
se verifica no próprio art. 49, §3º da LF35, situação que alguns doutrinadores
chamam de "trava bancária". Ademais, conforme art. 68, LF36, as dívidas com as
Fazendas Públicas e o INSS não integram o processo judicial de recuperação,
apesar de haver possibilidade de parcelamento. Ressalta-se, ainda, que os
créditos trabalhistas podem ser objeto da recuperação judicial, porém, não
poderão ser tratados na recuperação extrajudicial.
• Prazo de suspensão das ações: a função do prazo é viabilizar a fase deliberativa,
tendo em vista que a recuperação impacta diretamente nas dívidas existentes. O
STJ inicialmente havia decidido que deveria a suspensão durar enquanto
durasse a recuperação, porém, mudou seu entendimento e decidiu que a
suspensão só pode durar 180 dias, improrrogáveis. Com relação ainda ao prazo,
discute-se se seria de 180 dias úteis (devido ao NCPC) ou 180 dias corridos. Há
correntes e decisões nos dois sentidos. Quem defende que sejam úteis,
consideram o prazo processual, enquanto aqueles que defendem dias corridos,
argumentam que tal prazo é de direito material.
• Desistência: apenas até o deferimento do processamento.
• Cabe recurso da decisão que defere o processamento? Sim, por agravo de
instrumento. Porém, o art. 1.015 do NCPC não tem em seu rol previsão dessa
decisão, bem como não há menção expressa na lei de falências. Essa questão gera
grande dúvida jurídica, havendo posições no sentido de permitir o agravo e de
não permiti-lo.
• Assembléia Geral dos Credores - quórum: há dois quóruns estabelecidos por
lei. O primeiro deles, determinado no art. 45, LF, exige que deverá haver
aprovação de todas as classes, sendo que, para os credores titulares de créditos
reais e quirografários, a proposta precisa ser aprovada por mais da metade do

34 LF. Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos
35 LF. Art. 49. (...) § 3º - Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de
arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de
irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com
reserva de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade
sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de
suspensão a que se refere o § 4º do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital
essenciais a sua atividade empresarial.
36LF. Art. 68. As Fazendas Públicas e o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS poderão deferir, nos termos da legislação
específica, parcelamento de seus créditos, em sede de recuperação judicial, de acordo com os parâmetros estabelecidos na Lei nº
5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código Tributário Nacional.
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valor total dos créditos presentes em assembléia, e no caso das classes de
credores trabalhistas, microempresas e empresas de pequeno porte, dever ser
aprovado o plano por maioria simples dos presentes, independente do valor do
crédito. A lei prevê que, se esse quórum não for atendido, o art. 58, LF,
estabelece outro, de que deve haver maioria simples dos créditos presentes em
assembléia, podendo haver perda em uma das classes, devendo haver ao menos
30% de aprovação na classe derrotada. Ressalta-se que o plano pode ser alterado
na assembléia, porém, com concordância do devedor.
• Decisão que concede a recuperação (art. 59 §2º, LF): dispõe sobre o mérito,
confere ao devedor o direito de entrar em recuperação judicial. Forma título
executivo judicial e contra ela caberá agravo de instrumento. Se não for
concedida a recuperação, essa decisão decretará falência, cabendo também
agravo nesse caso.
• Prazo (art. 61 da LF): concedida a recuperação, o prazo será de dois anos para
que o plano seja cumprido. Porém, existem decisões alargando esse prazo, em
nome do princípio da conservação da empresa, normalmente com a concordância
dos credores. No que diz respeito aos créditos trabalhistas, eles só poderão ser
negociados em até um ano, o qual não deve ser prorrogado.
• Administração da empresa em recuperação: a pessoa jurídica em recuperação
continua sendo administrada pelos administradores originais e continua
habilitada para o exercício da atividade empresarial, com a livre administração de
seus bens. Os contratos e atos assinados deverão ser seguidos pela expressão "em
recuperação". O papel do administrador judicial será então de fiscalizar,
atuando de forma menos incisiva do que na falência. Inclusive, não é necessário
que ele preste contas ao final, já que ele não chega a gerir o patrimônio alheio.
Excepcionalmente, nas hipóteses do artigo 64 da LF37, o juiz poderá afastar os

37 LF. Art. 64. Durante o procedimento de recuperação judicial, o devedor ou seus administradores serão mantidos na condução
da atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê, se houver, e do administrador judicial, salvo se qualquer deles:
I - houver sido condenado em sentença penal transitada em julgado por crime cometido em recuperação judicial ou falência
anteriores ou por crime contra o patrimônio, a economia popular ou a ordem econômica previstos na legislação vigente;
II - houver indícios veementes de ter cometido crime previsto nesta Lei; III - houver agido com dolo, simulação ou fraude contra
os interesses de seus credores;
IV - houver praticado qualquer das seguintes condutas: a) efetuar gastos pessoais manifestamente excessivos em relação a sua
situação patrimonial; b) efetuar despesas injustificáveis por sua natureza ou vulto, em relação ao capital ou gênero do negócio, ao
movimento das operações e a outras circunstâncias análogas; c) descapitalizar injustificadamente a empresa ou realizar operações
prejudiciais ao seu funcionamento regular; d) simular ou omitir créditos ao apresentar a relação de que trata o inciso III do caput
do art. 51 desta Lei, sem relevante razão de direito ou amparo de decisão judicial;
V - negar-se a prestar informações solicitadas pelo administrador judicial ou pelos demais membros do Comitê;
VI - tiver seu afastamento previsto no plano de recuperação judicial.
Parágrafo único. Verificada qualquer das hipóteses do caput deste artigo, o juiz destituirá o administrador, que será substituído
na forma prevista nos atos constitutivos do devedor ou do plano de recuperação judicial.
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administradores e nomear um gestor judicial, o qual não se confunde com o
administrador judicial. O gestor será indivíduo colocado no lugar do
administrador, passando a ser o representante da sociedade.
• Novação (art. 59 e 61 §2º, LF): a novação é a extinção da antiga obrigação e sua
transformação em uma nova dívida. Isso ocorrerá no âmbito da recuperação,
após aprovado o plano. A questão é que a lei traz que, se houver posterior
decretação da falência, os credores reassumem suas dívidas originais, com todas
as características originais. Assim, imagine-se que um credor de 100 mil reais,
após o plano, passe a ser credor de 70 mil reais. Há novação. Porém, se
convolada a recuperação em falência, retornará a ser credor de 100 mil. Segundo
o professor, não há novação de fato, mas uma "novação em condição resolutiva",
algo que a doutrina não aceita, pela boa técnica.
• Alienação dos bens (art. 60 38 da LF): deverá ser feita nos termos do plano.
Eventuais vendas serão judiciais e não geram sucessão, assim como ocorre na
falência. Nisso, difere da recuperação extrajudicial, pois nela a alienação é
normal, gerando também a sucessão. Ademais, somente será possível alienar os
bens determinados no plano (art. 66 da LF39)
• Encerramento da recuperação judicial (art. 63, LF40): se tudo correr bem, o
juiz colocará termo em sua atuação no processo. O encerramento é feito por
sentença, cabendo contra ela apelação.
• Convolação da recuperação judicial em falência (art. 73, LF): será feita por
meio de sentença declaratória de falência, nos termos do artigo 99 da LF, já
estudado. Contra tal decisão, cabe agravo de instrumento. Nesse caso, a falência
já começará na fase da "falência propriamente dita". As hipóteses para tanto são:
a) Não apresentação do plano no prazo estipulado;

38 LF. Art. 60. Se o plano de recuperação judicial aprovado envolver alienação judicial de filiais ou de unidades produtivas
isoladas do devedor, o juiz ordenará a sua realização, observado o disposto no art. 142 desta Lei. Parágrafo único. O objeto da
alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza
tributária, observado o disposto no § 1º do art. 141 desta Lei.
39LF. Art. 66. Após a distribuição do pedido de recuperação judicial, o devedor não poderá alienar ou onerar bens ou direitos de
seu ativo permanente, salvo evidente utilidade reconhecida pelo juiz, depois de ouvido o Comitê, com exceção daqueles
previamente relacionados no plano de recuperação judicial
40 LF. Art. 63. Cumpridas as obrigações vencidas no prazo previsto no caput do art. 61 desta Lei, o juiz decretará por sentença o
encerramento da recuperação judicial e determinará:
I - o pagamento do saldo de honorários ao administrador judicial, somente podendo efetuar a quitação dessas obrigações
mediante prestação de contas, no prazo de 30 (trinta) dias, e aprovação do relatório previsto no inciso III do caput deste artigo;
II - a apuração do saldo das custas judiciais a serem recolhidas;
III - a apresentação de relatório circunstanciado do administrador judicial, no prazo máximo de 15 (quinze) dias, versando sobre
a execução do plano de recuperação pelo devedor;
IV - a dissolução do Comitê de Credores e a exoneração do administrador judicial;
V - a comunicação ao Registro Público de Empresas para as providências cabíveis.
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b) Rejeição do plano pela Assembléia Geral dos Credores: não alcance do
quórum);
c) Não cumprimento do plano;
d) Deliberação da Assembléia Geral dos Credores;
• Possibilidade da decretação da falência por outros motivos: nos termos do
artigo 73, parágrafo único c/c art. 94, LF.
• Presunção de validade: partindo-se do pressuposto de que os atos foram
praticados com anuência dos credores, bem como sob os olhos da lei, serão
presumidos válidos, a não ser que se comprove o contrário.
• Natureza dos créditos nascidos durante recuperação judicial (art. 84, V, LF):
serão extraconcursais.

Unidade XI. Do Plano Especial de Recuperação para ME e EPP (art. 70/72):


• Microempresa (ME) e Empresa de Pequeno Porte (EPP): enquadramento em
razão do faturamento anual. Para caracterizar a ME, o faturamento deverá ser
de R$360.000,00 e a EPP R$4.200.000,00.
• Opção do credor enquadrado com ME e EPP: na petição inicial da
recuperação, o devedor deverá informar se deseja se submeter ao regime geral ou
ao plano especial.
• Abrangência de créditos: todos os créditos, exceto o repasse de recursos oficiais,
ficais e os previstos nos parágrafos 3º e 4º do artigo 49, LF. Assim, verifica-se que
serão os mesmos créditos suscetíveis à recuperação.
• Plano simplificado: o plano especial se circunscreve à opção de parcelamento em
36 meses. Não há outras opções.
• Assembléia Geral dos Credores: não haverá ACG.
• Não concessão da recuperação: o plano não será aceito e será convertido em
falência no caso de haver objeção, feita por impugnação no processo, de mais da
metade de qualquer das classes previstas no art. 83, LF. O juiz analisará o
quórum verificando o número de impugnações.
• Hipóteses de convolação de falência: são as mesmas do procedimento normal,
ou seja, o transcurso de 60 dias sem apresentação do plano, o descumprimento do
plano, a objeção de mais de 50% dos créditos de alguma classe ou deliberação em
ACG. Atenção ao detalhe de que a ACG não é convocada de início como o

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procedimento normal, mas poderá ser convocada posteriormente para dispor
acerca da possibilidade de conversão em falência.

Unidade XII. Da Recuperação Extrajudicial de Empresas (art. 161/167, LF):

• Leis anteriores: as leis mais antigas, inclusive o Decreto Lei 7.661/45 previa que
a tentativa de renegociação direta já caracterizava um ato falimentar (art. 2º do
Decreto Lei 7.661/45). Nesse ponto, percebe-se profunda mudança legal.
• Extrajudicial? Apesar do nome, é um misto entre solução de mercado
(renegociação direta) e a submissão ao juízo. Em linhas gerais, percebe-se que há
combinação extrajudicial com os credores, a produção de um acordo e a posterior
homologação deste pelo juízo, que formará o título executivo judicial (art. 165,
LF).
• Quem pode requerer (art. 48 c/c 161,§ 3º, LF 41): as mesmas pessoas que podem
requerer a judicial, sendo o devedor (empresário ou sociedade empresária).
Porém, há exceção, no caso de estar pendente pedido de recuperação judicial ou
se o empresário tiver obtido recuperação judicial ou homologação de outro plano
de recuperação extrajudicial há menos de 2 anos.
• Créditos abrangidos (art. 161, § 1º, LF42): todos, menos os créditos tributários,
os trabalhistas, os de proprietários fiduciários e congêneres e o contrato de
câmbio para exportação. A grande distinção da recuperação judicial, como já
mencionado, é não ser possível tratar de créditos trabalhistas.

41LF. Art. 161 (...) § 3º - O devedor não poderá requerer a homologação de plano extrajudicial, se estiver pendente pedido de
recuperação judicial ou se houver obtido recuperação judicial ou homologação de outro plano de recuperação extrajudicial há
menos de 2 (dois) anos.
42LF. Art. 161. O devedor que preencher os requisitos do art. 48 desta Lei poderá propor e negociar com credores plano de
recuperação extrajudicial. § 1º - Não se aplica o disposto neste Capítulo a titulares de créditos de natureza tributária, derivados
da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente de trabalho, assim como àqueles previstos nos arts. 49, § 3º, e 86, inciso II do
caput, desta Lei.
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• Requisitos: todos os credores que aderirem devem assinar o plano (art. 162,
LF43) ou obrigar todos os credores, desde que o plano seja assinado por mais de
3/5 dos créditos de cada espécie abrangida pelo plano. Porém, são vedadas
concessões de benefícios ou condições mais favoráveis para aqueles que
assinarem o plano.
• Procedimento:
- Requerimento (art. 162, caput e §6º da LF);
- Edital para convocação dos credores (art. 164, caput, LF44);
- Prazo de 30 dias para os credores impugnarem o plano (art. 164, §4º, LF45);
- Havendo impugnação, haverá prazo de 5 dias para o devedor se manifestar;
- Sentença, homologando ou não o plano;
- Cabe apelação sem efeito suspensivo (art. 164, § 7º, LF46);
- Rejeitado, o devedor pode pedir nova recuperação (art. 164, § 8º, LF47).
• Eventual alienação de bens: seguirá o artigo 142, LF, não havendo vedação da
sucessão empresarial.
• Acordos privados: não há vedação de o devedor firmar acordos de natureza
privada com os credores, conforme art. 167, LF48.

Unidade XIII. Dos Crimes Falimentares


• Alguns crimes em espécie:
- Fraude contra credores e contabilidade paralela (art. 168, LF): tal crime se
caracteriza por praticar ato fraudulento de que resulte ou possa resultar
prejuízo aos credores, seja ele antes ou depois da sentença que decreta a
falência, concede a recuperação judicial ou homologa a recuperação
extrajudicial). A pena base para tais casos é a reclusão, de três a seis anos, com

43 LF. Art. 162. O devedor poderá requerer a homologação em juízo do plano de recuperação extrajudicial, juntando sua
justificativa e o documento que contenha seus termos e condições, com as assinaturas dos credores que a ele aderiram.
44 LF. Art. 164: Recebido o pedido de homologação do plano de recuperação extrajudicial previsto nos arts. 162 e 163 desta Lei,
o juiz ordenará a publicação de edital no órgão oficial e em jornal de grande circulação nacional ou das localidades da sede e das
filiais do devedor, convocando todos os credores do devedor para apresentação de suas impugnações ao plano de recuperação
extrajudicial, observado o § 3º deste artigo.
45
LF. Art. 164 (...) § 4º - Sendo apresentada impugnação, será aberto prazo de 5 (cinco) dias para que o devedor sobre ela se
manifeste.
46 LF. Art. 164 (...) § 7º - Da sentença cabe apelação sem efeito suspensivo.
47LF. Art. 164 (...) § 8º - Na hipótese de não homologação do plano o devedor poderá, cumpridas as formalidades, apresentar
novo pedido de homologação de plano de recuperação extrajudicial.
48LF. Art. 167. O disposto neste Capítulo não implica impossibilidade de realização de outras modalidades de acordo privado
entre o devedor e seus credores.
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possibilidade de majoração nos termos dos parágrafos do artigo 168 da Lei de
Falências. Ressalta-se, porém, que quando o devedor pratica ato fraudulento
que visa a prejudicar credores, é possível lançar mão de ação revocatória ou
ato ineficaz perante a massa. O professor questiona porque o direito penal se
imiscui nessa questão, se existem outros mecanismos de combate à situação.
- Indução a erro (art. 171, LF): o crime seria sonegar ou omitir informações ou
prestar informações falsas no processo de falência, de recuperação judicial ou
de recuperação extrajudicial, com o fim de induzir a erro os diferentes órgãos
que participam de tais processos (juiz, Ministério Público, administrador
judicial e etc). A pena, no caso, é privativa de liberdade, de dois anos a quatro
anos, além de multa.
- Habilitação ilegal de crédito (art. 175, LF): o indivíduo se enquadra nesse
tipo penal quando apresenta, em falência, recuperação judicial ou recuperação
extrajudicial, relação de créditos ou habilitação de créditos falsas, juntando a
elas título falso ou simulado. A pena é de 2 a 4 anos de reclusão e multa.
- Exercício ilegal da atividade (art. 176, LF): a inabilitação, como se sabe, é
efeito automático da falência, que perdura até a extinção das obrigações. O
desrespeito a essa inabilitação gera enquadramento neste tipo penal, punido
com pena de reclusão de um a quatro anos e multa. O professor considera essa
tipificação adequada.
- Omissão de documentos contábeis obrigatórios (art. 178, LF): se o
empresário não tem a documentação em ordem, e sobrevém sua falência, ele
será punido com detenção de 1 a 2 anos e multa. Assim, aplica-se o que prevê
o artigo 180 da LF, o qual dispõe que a sentença que concede recuperação
judicial ou extrajudicial ou decreta falência é condição objetiva de
punibilidade das infrações descritas.
• Prescrição dos crimes (art. 182, LF49): a pretensão de punição do Estado se
extingue com base em cálculo feito nos moldes do Código Penal. Atenção ao fato
de que o prazo somente começa a fluir da sentença que decreta a falência,
concede a recuperação judicial ou concede a recuperação extrajudicial.

49LF. Art. 182. A prescrição dos crimes previstos nesta Lei reger-se-á pelas disposições do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal, começando a correr do dia da decretação da falência, da concessão da recuperação judicial ou
da homologação do plano de recuperação extrajudicial. Parágrafo único. A decretação da falência do devedor interrompe a
prescrição cuja contagem tenha iniciado com a concessão da recuperação judicial ou com a homologação do plano de recuperação
extrajudicial.
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• Efeitos não automáticos da condenação (art. 181, LF): são chamados efeitos
acessórios no direito penal. O juiz poderá fixar a inabilitação para o exercício da
atividade empresarial, proibir a gestão de empresas por mandato ou gestão do
negócio e, por fim, impedir o exercício de cargo ou função em conselho de
administração, diretoria ou gerência das sociedades regidas pela Lei de Falências.
• Procedimento penal: são crimes de ação penal pública incondicionada. A
competência será do juiz criminal. A lógica é separar o processamento do crime
do da falência ou da recuperação. Isso, pois, segundo o professor, poderia
prejudicar a imparcialidade do juiz ou da juíza, já que ele/ela já terá processado
todo o feito da falência, já tendo formado seu convencimento. Porém, ressalta-se,
nas comarcas de vara única haverá julgamento pelo mesmo juiz. O rito a ser
seguido é o dos artigos 531/540 do CPP, do procedimento sumário. O CPP será
aplicado subsidiariamente.

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