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FALIMENTAR:
RECUPERAÇÕES
JUDICIAL E
EXTRAJUDICIAL
Eduardo Zaffari
Pressupostos falimentares
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Em certas ocasiões, o estado falimentar não é constatado pelo empre-
sário devedor, que acredita em seu poder de recuperar a empresa que
administra. O devedor que reconhece a sua dificuldade poderá requerer
a autofalência, confessando sua insolvência. Entretanto, quando o em-
presário não quer reconhecer a sua dificuldade econômico-financeira,
os credores poderão requerer a sua falência, evitando que o empresário
cause ainda mais prejuízos a terceiros.
Neste capítulo, você verá como identificar os pressupostos falimen-
tares e o estado falimentar, em que o devedor poderá ter a sua falência
declarada. Estudará, também, os requisitos para requerer a falência em
razão da impontualidade, assim como verá os atos que demonstram a
bancarrota do empresário devedor que está insolvente.
1 Os pressupostos falimentares
Ao longo do tempo, diversos foram os métodos desenvolvidos pelos ordena-
mentos jurídicos para que os credores pudessem satisfazer seus créditos ante
a devedores inadimplentes, indo desde a coerção pessoal até seu sucedâneo
de coerção patrimonial. O direito romano, em seus primórdios, admitia que
os diferentes credores levassem o devedor à feira, vendendo-o como escravo
para a satisfação de seus créditos; não sendo vendido o devedor, poderiam
os credores matá-lo e repartir seu corpo em tantas partes quantos fossem os
credores (REQUIÃO, 1995).
2 Pressupostos falimentares
Requião previra essa evolução, hoje constante na atual Lei nº. 11.101, de 9
de fevereiro de 2005, de recuperações de empresa e falência, ao afirmar que
“[...] vivemos, assim, em pleno terceiro estágio, no qual a falência passa a se
preocupar com a permanência da empresa e não apenas com sua liquidação
judicial” (REQUIÃO, 1995, p. 11).
2 A insolvência e a impontualidade
segundo o Direito Falimentar
Antes de estudarmos a insolvência e a impontualidade nos termos da lei
falimentar, é importante compreendermos o chamado estado de falência, que
antecede a declaração de falência do devedor. Trata-se de um estado de fato, de
ruína, em que o devedor não mais consegue pagar as suas dívidas ou dá sinais
exteriores de que não o conseguirá fazer. Observe que algumas empresas têm
patrimônio líquido negativo, pagando pontualmente suas dívidas por anos,
sem caracterizar estado falimentar. O estado de falência, conforme Requião,
“[...] pertence ao domínio dos fatos econômicos no âmbito da empresa.
O Direito Falimentar dele não conhece, a não ser quando, transpondo-se do
campo fático, ingressa no terreno jurídico” (REQUIÃO, 1995, p. 36).
6 Pressupostos falimentares
Mas como esse estado falimentar ingressa no mundo jurídico como forma
de viabilizar a declaração da falência? Pedro Lenza afirma que (LENZA,
2019, p. 1131):
Entre nós, é a lei que define quais situações fáticas autorizarão a decretação da
falência, sua caracterização, portanto. O que importa para essa caracterização
é o enquadramento do devedor empresário em uma das 15 hipóteses legais
de conformação do estado falimentar. Isso torna as hipóteses de falência, no
Brasil, situações típicas, ou seja, previamente definidas em lei e limitadas a
elas. É possível afirmar que não existe falência sem lei anterior que a defina.
3 Atos falimentares
Considerando que o Brasil adotou um sistema misto para caracterizar a insol-
vência da sociedade empresária, agregando à impontualidade a enumeração
de atos falimentares, vale compreendermos quais atos caracterizarão o estado
falimentar. Esses atos, prescritos no art. 94, III, da Lei nº. 11.101/2005, auto-
rizam que se presuma uma grave situação econômico-financeira, permitindo
que se previna o desfazimento completo do patrimônio por meio do pedido
de falência.
A venda precipitada dos bens da empresa, o pagamento por meios ruinosos,
entre outros atos, apenas são adotados quando o empresário está em desespero
e começa a liquidar seu patrimônio. O pedido de falência poderá ser a única
alternativa aos credores para impedir o desaparecimento completo dos bens
pelo devedor. Obviamente, por se tratar de uma presunção, comportará prova
em sentido contrário, com ampla defesa ao devedor, que poderá comprovar não
estar em estado falimentar. Examinemos cada um dos sete atos considerados,
pela lei, como falimentares.
O primeiro dos atos considerados falimentares será quando a sociedade
empresaria proceder à liquidação precipitada de seus ativos ou lançar mão
de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos. Estas três
hipóteses, previstas na alínea a do inciso terceiro do citado art. 94, têm em
comum o pagamento de obrigações pelo devedor. Mas não se trata de mero
adimplemento; a liquidação precipitada significa que o devedor está vendendo
seus bens muito abaixo de seu preço, sem se importar que estes consistem na
garantia de seus credores. Verifica-se essa situação quando os bens são vendidos
a qualquer preço, como forma de arrecadar valores para pagar contas. E essa
10 Pressupostos falimentares
[...] para que se caracterize como ato falimentar, é preciso que haja precipitação,
quero dizer, é preciso que se trate de operação apressada, desordenada ou,
mesmo, que se apresente como inexplicavelmente ampla, a alcançar parcela
significativa do ativo patrimonial da empresa (MAMEDE, 2019, p. 257).
O Código Civil brasileiro trata, em seu art. 167, sobre a simulação dos negócios jurídicos,
prescrevendo a nulidade quando
Um exemplo deste caso seria a empresa Microsoft vender uma de suas fábricas, pois
a empresa, reconhecidamente, tem patrimônio para pagar as suas dívidas.
BRASIL. Lei nº 556, de 25 de junho de 1850. Código Comercial. Brasília: Presidência, 1850.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LIM/LIM556compilado.htm.
Acesso em: 10 ago. 2020.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Instituiu o Código Civil. Brasília: Presidência,
2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.
htm. Acesso em: 10 ago. 2020.
BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudi-
cial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Brasília: Presidência, 2005.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.
htm. Acesso em: 10 ago. 2020.
LENZA, P. (org.). Direito Empresarial esquematizado. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
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Leituras recomendadas
COELHO, F. U. Curso de Direito Comercial. 17. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
MARTINS, F. Curso de Direito Comercial. 40. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
REQUIÃO, R. Curso de Direito Comercial. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
TEIXEIRA, T. Direito Empresarial sistematizado: doutrina, jurisprudência e prática. 8. ed.
São Paulo: Saraiva, 2019.
TOMAZETTE, M. Curso de direito empresarial: falência e recuperação de empresas.
8. ed. São Paulo: Atlas, 2017. v. 3.
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