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Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2023/2024

V- Direito da Insolvência
1. Considerações gerais introdutórias
A falência teve a sua origem na Idade Média no âmbito das relações entre comerciantes. A
falência caracteriza-se pelo comerciante estar impossibilitado de cumprir as suas obrigações,
ou seja, de não conseguir fazer devidos pagamentos aos seus credores.
Sendo o comércio uma cadeia de pagamentos, a insolvência tem efeitos sobre os credores desse
sujeito, podendo conduzir à sua própria insolvência. Mesmo quando se trate de empresas em
boa saúde económica e financeira cria-se um efeito sistémico em toda a cadeia, trata-se do
conhecido fenómeno das “falências por arrastamento”. Na Idade Média prevenia-se este efeito
sistémico pelo quebramento da Banca do comerciante falido, e daí surgir o termo “banca rota”.
Além disso, previa-se as seguintes sanções: (i) prisão do comerciante por dívidas, (ii) expulsão
do comerciante da cidade, (iii) difamação do comerciante. Por conseguinte, o comerciante
fugia, e assim a fuga do comerciante passou a ser um índice da situação de insolvência.
Em 1980, distinguiam-se dois regimes:
✓ Falência – regime privativo dos comerciantes. O comerciante estava impossibilitado
de cumprir as suas obrigações, isto é, não tinha meios líquidos suficientes, porém, podia
ter meios ilíquidos de valor superior às obrigações (exemplo: um imóvel), porém os
meios ilíquidos demoram tempo a serem alienados no mercado.
✓ Insolvência – regime dos não comerciantes. Utilizava-se o critério de relevo
matrimonial, isto é, para um não comerciante estar insolvente era necessário que o
passivo fosse superior ao ativo.
Nesta época não havia instrumentos de recuperação de uma empresa próxima de uma situação
de falência. Estes instrumentos de recuperação de uma empresa foram criados com a entrada
em vigor do Código dos Processos Especiais de Recuperação de Empresa e de Falência (1993),
o CPEREF.
Com o CPEREF eliminou-se a diferença entre o regime de falência e o regime de insolvência.
Isto é, a falência que estava ligada unicamente aos comerciantes, passou a designar-se por
insolvência, e este regime estendia-se aos não comerciantes. Declarada a insolvência tínhamos
duas vias: (i) a recuperação de uma empresa ou se ela não fosse suscetível de recuperação (ii)
iniciava-se o processo de insolvência a que se seguia a liquidação.
Em 2004, entrou em vigor o novo Código da Insolvência e da Recuperação das Empresas
(CIRE), substituindo o CPEREF, que vigorou uns escassos 11 anos, embora tenha sido alterado
em 1998.
Este novo diploma revela uma filosofia básica diversa do anterior centrando-se unicamente na
satisfação do interesse dos credores. Enquanto no CPEREF o resultado a ser alcançado de
forma prioritária era a recuperação da empresa sempre que a empresa declarada insolvente
fosse economicamente viável e financeiramente recuperável, no CIRE a recuperação da
empresa é meramente um instrumento para o referido fim, ou seja, a recuperação da empresa
está dependente da decisão dos credores. Esta é a solução que resulta do regime estabelecido

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Diana Godinho
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apesar do artigo 1.º do CIRE estabelecer “o processo de insolvência é um processo de execução


universal que tem como finalidade a satisfação dos credores pela forma prevista num plano
de insolvência, baseado, nomeadamente, na recuperação da empresa compreendida na massa
insolvente, ou, quando tal não se afigure possível, na liquidação do património do devedor
insolvente e a repartição do produto obtido pelos credores.”
Para a recuperação da empresa ser aprovada é necessário a apresentação de um plano de
insolvência na Assembleia de credores, que sendo aprovado, deve ser homologado pelo
tribunal (há um juízo de legalidade).
Relativamente à liquidação (a via mais comum), a insolvência tem um caráter de processo
executivo de âmbito universal, mas há dois enxertos declarativos:
(i) Quanto à declaração de insolvência
Sempre que o pedido de declaração de insolvência seja deduzido por um dos credores e o
devedor se oponha, entra-se num processo declarativo que terminará com uma sentença que
decretará ou não a situação insolvência.
(ii) Verificação e graduação dos créditos
Para os créditos contra o devedor valerem no âmbito do processo de insolvência, estes terão de
ser reclamados pelos respetivos credores. Após a reclamação de créditos, o juiz procederá à
verificação dos créditos, ou seja, irá verificar quais os créditos que, efetivamente, existem e
que podem ser feitos valer no processo de insolvência. Posteriormente, o juiz procede à
graduação de créditos. Neste âmbito, os outros credores podem opor-se à verificação de um
crédito ou à graduação do crédito. Assim, entra-se num incidente declarativo que terá por fim
a sentença de graduação e verificação dos créditos. É neste momento que os créditos se
estabilizam.

2. Quem (e o que) pode ser declarado insolvente


É o artigo 2.º do CIRE que nos diz quem (e o que) pode ser declarado insolvente. O processo
de insolvência não tem que necessariamente conduzir à declaração de insolvência.
Embora na epígrafe do artigo 2.º surja a indicação de que estão ali em causa “sujeitos” passivos
da declaração de insolvência, a verdade é que nas várias alíneas do seu n.º 1 são identificadas
realidades que não são verdadeiros sujeitos: a herança jacente, o património autónomo, as
comissões especiais, o E.I.R.L.
A partir da leitura do artigo 2.º verificamos que não se exige que o devedor seja comerciante
ou, sequer, que seja empresário. Podem ser declarados insolventes:
✓ Qualquer pessoa singular ou coletiva:
• Sociedades civis;
• Sociedades comerciais e civis sob forma comercial que ainda não viram o
contrato pelo qual se constituíram definitivamente registado;
• Associações com ou sem personalidade jurídica;

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• Cooperativas, antes do registo da sua constituição;


• Fundações;
• Sociedades civis;
✓ Herança jacente;
✓ Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada;
✓ Outros patrimónios autónomos;
O artigo 2.º/2 do CIRE afasta do âmbito de aplicação do n.º 1:
✓ Pessoas coletivas públicas e as entidades públicas empresariais (EPE’s), nos termos da
alínea a). Ex: hospitais;
✓ As empresas de seguros, as instituições de crédito, as sociedades financeiras, as
empresas de investimento que prestem serviços que impliquem a detenção de fundos
ou de valores mobiliários de terceiros e os organismos de investimento coletivo, na
medida em que a sujeição a processo de insolvência seja incompatível com os regimes
especiais previstos para tais entidades, nos termos da alínea b);
Não é possível qualquer credor se dirigir a um tribunal para pedir a declaração de insolvência
de um Banco, isto porque há um regime próprio que contém os aspetos relacionados com o
saneamento de instituições de crédito e sociedades financeiras que prevê que a “liquidação
judicial das instituições de crédito fundada na revogação de autorização pelo Banco de
Portugal faz-se nos termos do presente diploma e, em tudo o nele não estiver previsto, nos
termos do CIRE” e estabelece que a “decisão de revogação da autorização pelo Banco de
Portugal produz os efeitos da declaração de insolvência”. Além disso, o Banco de Portugal
tem competência exclusiva para requerer a liquidação da instituição de crédito.

3. A situação de insolvência
Na teoria podemos atender a dois critérios para determinar se alguém está em situação de
insolvência:
✓ Critério de caixa (cash flow)
Trata-se da impossibilidade de cumprimento das obrigações vencidas.
Este critério não exige que a empresa tenha um passivo superior ao ativo, isto porque é possível
ter o ativo superior ao passivo e o devedor não conseguir cumprir as suas obrigações, na medida
em que parte dos bens desse património podem ser ilíquidos. Exemplo: imóvel, armazém.
Desvantagens:
• Por um lado, pode levar à aplicação do regime da insolvência quando se podia recorrer
ao processo executivo. Isto é, o regime da insolvência é relevante para trazer ao
processo todos os credores quando não há forma de todos serem satisfeitos. Ora, se um
sujeito tem um património superior às dívidas incumpridas, todos os credores serão
pagos;

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• Por outro lado, uma empresa pode ter um património negativo, isto é, ter mais dívidas
do que créditos, mas continuar a ter acesso a crédito e enquanto tiver acesso poderá
cumprir as obrigações, e segundo este critério não se encontrará numa situação de
insolvência.

✓ Critério do balanço ou do ativo patrimonial (balance sheet)


Os sujeitos estarão numa situação de insolvência quando o seu passivo seja superior ao ativo.
Este critério é útil mas apresenta algumas desvantagens:
• O património das sociedades pode variar bastante se o seu objeto for, por exemplo, a
compra e venda de ações na Bolsa. Ora, o valor das ações varia muito ao logo do dia, o
que pode gerar que uma entidade esteja insolvente e depois deixasse de estar consoante
o valor do património da empresa (que estaria em constante alteração);
• Na contabilidade das empresas, é muito difícil de contabilizar valores intangíveis
(exemplo: o valor de uma marca, da clientela, do bom nome, do know-how). Estes
indicadores não seriam à partida tidos em consideração para efeitos de contabilidade e,
consequentemente, para a insolvência;
• Grande parte do passivo pode dizer respeito a dívidas face aos sócios, isto é, aos
suprimentos. Não faz sentido que uma sociedade seja declarada insolvente quando as
suas dívidas sejam face aos sócios porque estes já sabiam dos riscos e serão sempre os
últimos a ser pagos declarada a insolvência.

1.1. Pressupostos objetivos da declaração de insolvência


1.1.1. O “critério geral”: impossibilidade de cumprir as obrigações
vencidas
Encontra-se em situação de insolvência “o devedor que se encontre impossibilitado de cumprir
as suas obrigações vencidas” (artigo 3.º/1 do CIRE). Apenas são consideradas as obrigações
vencidas e não as vincendas, e também só releva a impossibilidade1 de cumprir.

1.1.2. A manifesta superioridade do passivo em relação ao ativo


O critério geral enunciado no artigo 3.º/1 do CIRE não parte da situação relativa do passivo e
do ativo do devedor. Pelo contrário, o artigo 3.º/2 do CIRE considera que, em certos casos, já
é relevante a situação do passivo e do ativo (embora continue a poder aplicar-se o critério
geral).
Que casos são esses? São aqueles em que os devedores são pessoas coletivas e patrimónios
autónomos “por cujas dívidas nenhuma pessoa singular responda pessoal e ilimitadamente,
por forma direta ou indireta”.

1Não está em causa uma impossibilidade objetiva que constitui causa de extinção de obrigações, nem há impossibilidade se o
devedor tem meios para cumprir mas não o faz porque contesta a existência da obrigação.

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Assim, quanto a essas pessoas e patrimónios, a lei considera que também são considerados
insolventes “quando o seu passivo seja manifestamente superior ao ativo, avaliados segundo
as normas contabilísticas aplicáveis”.
Estamos perante um critério autónomo, pretendendo a lei evitar que se mantenha ou agrave
uma situação claramente perigosa para quem se relaciona com o devedor.
A eventual manifesta 2superioridade do passivo em relação ao ativo segundo as normas
contabilísticas aplicáveis não conduz necessariamente à existência de uma de uma situação de
insolvência. Com efeito a lei prevê regras especiais de reavaliação referidas no artigo 3.º/3
CIRE:
✓ Critério do justo valor - têm de ser considerados “no ativo e no passivo os elementos
identificáveis, mesmo que não constantes do balanço, pelo seu justo valor”. Na aferição
do valor dos bens temos de atender ao valor contabilístico dos bens, de acordo com o
artigo 3.º/2 do CIRE, mas com grande frequência, este valor contabilístico não
corresponde ao valor de mercado dos bens. Exemplo: um imóvel que está contabilizado
pelo seu preço inicial de 150 000€. Decorrido um determinado período, o imóvel pode
se valorizar, por exemplo para 200 000 € mas isso por norma não é refletido nos
documentos de contabilidade. Assim, é possível reavaliar os bens, mas através de
critérios de mercado, tendo em conta o que o bem vale atualmente.
✓ Se o devedor é titular de uma empresa “a valorização baseia-se numa perspetiva de
continuidade ou de liquidação, consoante o que se afigure mais provável”. Assim, se
estamos perante uma empresa, devemos atender ao valor da empresa enquanto
organização, isto é, àquilo que a empresa vale como tal e não à mera soma dos diversos
elementos que a compõem isoladamente considerados, mas isto se se perspetivar a sua
continuação no património do devedor, ou seja, se houver um plano de recuperação, ou
no património de terceiros;
✓ O passivo não incluirá “dívidas que apenas hajam de ser pagas à custa de fundos
distribuíveis ou do ativo restante depois de satisfeitos e acautelados os direitos dos
demais credores do devedor”. Assim, do passivo devem ser excluídas as dívidas que
apenas hajam de ser pagas à custa do ativo restante depois de satisfeitos ou acautelados
os direitos dos demais credores. Um dos instrumentos principais de financiamento das
sociedades por quotas consiste nos suprimentos.
Se da reavaliação resultar que o passivo não é superior ao ativo então a sociedade não está
insolvente de acordo com este critério.

2 “Manifestamente” é um conceito indeterminado. Como o preenchemos? No entendimento do Sr. Professor Pestana


Vasconcelos deve distinguir-se o tipo de empresas. Exemplo: empresas tecnológicas têm um ativo muito reduzido e podem ter
recorrido muito ao crédito, assim nestes casos deve-se admitir uma diferença maior (15% ou 20%); noutro tipo de empresas
em que não há esse ativo esta diferença de 15% ou 20% já será, manifestamente, excessiva. Mas, entende-se que 5% ou 10%
nunca será excessivo qualquer que seja a empresa.

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1.1.2.1. Suprimentos3
Podem ser:
✓ Empréstimos que o sócio concede à sociedade com caráter de permanência. Presume-
se que tem carácter de permanência os empréstimos concedidos por prazo superior a
um ano.
✓ Dilações de pagamento que um sócio confere a uma sociedade pelo período superior a
um ano. Exemplo: a sociedade deve dinheiro ao sócio, ele não lho exige e mantém o
dinheiro na sociedade.
O regime dos suprimentos é diferente dos empréstimos concedidos por terceiros à sociedade,
desde logo porque:
✓ o sócio credor não pode pedir a declaração de insolvência da sociedade por
incumprimento de um crédito de suprimentos;
✓ as garantias reais prestadas pela sociedade a créditos de suprimentos são nulas.
✓ Em termos insolvenciais são considerados créditos subordinados, nos termos do artigo
48.º CIRE. Ou seja, só serão satisfeitos depois de pagos os credores comuns. Mais, no
elenco de créditos subordinados são os últimos a serem pagos. Isto significa que, em
termos práticos, os créditos por suprimentos quase nunca serão pagos, por isso é que
se diz que os suprimentos são quase capital social.
Por tudo o exposto é que se justifica o critério do artigo 3.º/3, alínea c) CIRE, ou seja, das
dívidas decorrentes de suprimentos terem de ser retiradas do passivo.

1.1.3. A iminente insolvência


Decorre do artigo 3.º/4 do CIRE que se equipara “A situação de insolvência atual a que seja
meramente iminente, no caso de apresentação pelo devedor à insolvência”.
Apenas o devedor pode requerer a declaração de insolvência com base na situação de
insolvência iminente. O devedor terá interesse em requerer a declaração de insolvência pois
tornar-se-á mais fácil a aprovação de um plano de recuperação.

3É um instrumento muito comum de financiamento das sociedades, porque, em particular, as sociedades por quotas têm
um capital social muito reduzido, portanto para funcionar precisam de dinheiro e quem realiza suprimentos são os sócios.

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2. A Tramitação do processo de insolvência antes da sentença de


declaração de insolvência ou de indeferimento do pedido de
declaração de insolvência
2.1. Requerimento de Insolvência
2.1.1. Quem pode requerer
O próprio devedor pode requerer a declaração da sua insolvência e, em muitos casos até deve
requerê-la. Com efeito, esse dever resulta do artigo 18.º/1 do CIRE, embora o n.º 2 o afaste se
o devedor, sendo pessoa singular, não for titular de empresa.
No artigo 20.º/1 do CIRE encontra-se a identificação de outros sujeitos com legitimidade para
requererem a declaração de insolvência do devedor:
✓ por quem for legalmente responsável pelas suas dívidas;
✓ por qualquer credor, ainda que condicional e qualquer que seja a natureza do seu
crédito;
✓ ou ainda pelo Ministério Público, em representação das entidades cujos interesses lhe
estão legalmente confiados.
O artigo 20.º/1 do CIRE enumera um conjunto de factos cuja verificação deve ter lugar para
que os sujeitos referidos possam requerer a declaração de insolvência do devedor. Não se trata
de outras situações de insolvência que se devam somar às previstas no artigo 3.º do CIRE, mas
sim de meros requisitos de legitimidade e de “factos-índices ou presuntivos da insolvência,
tendo precisamente em conta a circunstância de, pela experiência da vida, manifestarem a
insusceptibilidade de o devedor cumprir as suas obrigações”.

2.1.1.1. A vantagem para o credor que requer a declaração de insolvência


Para além das vantagens que qualquer credor pode retirar do processo de insolvência, o artigo
98.º/1 do CIRE atribui ao credor que requer a declaração de insolvência do devedor um
privilégio creditório mobiliário geral que incide sobre todos os bens móveis integrantes da
massa insolvente.

2.1.1.2. Dedução de pedido infundado


A dedução de pedido de declaração de insolvência ou a apresentação à insolvência só devem
ter lugar quando existam fundamentos para tal. O devedor não deve apresentar-se à insolvência
apenas para obter alguma proteção perante os credores e estes não devem requerer a insolvência
daquele apenas como meio de pressão para conseguirem o pagamento dos seus créditos.
Por isso mesmo é que o artigo 22.º do CIRE determina que a indevida apresentação à
insolvência ou a dedução de pedido infundado de declaração de insolvência dão origem, em
caso de dolo, a responsabilidade civil pelos prejuízos causados, consoante os casos, aos
credores ou ao devedor. E tal responsabilidade não fica automaticamente afastada por se
conseguir provar um facto-índice previsto no artigo 20.º/1 do CIRE.

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2.1.1.3. Desvantagens para certos credores que não requerem atempadamente a


declaração de insolvência
Nos termos do artigo 97.º alíneas a) e b) do CIRE estão estabelecidas algumas desvantagens
para certos credores que não agiram com celeridade na defesa do seu crédito.
Da alínea a) decorre que a declaração de insolvência tem como consequência a extinção dos
privilégios creditórios gerais acessórios de créditos sobre a insolvência de que sejam titulares
o Estado, as autarquias locais e as instituições de segurança social quando esses créditos tenham
sido constituídos “mais de 12 meses antes da data do início do processo de insolvência”.
A alínea b) determina a extinção de privilégios creditórios especiais de que sejam titulares os
mesmos sujeitos e que sejam acessórios de créditos sobre a insolvência vencidos “mais de 12
meses antes da data do início do processo de insolvência”.

2.2. O dever de apresentação à insolvência


Os devedores, desde que não sejam pessoas singulares não titulares de empresas na data em
que fiquem em situação de insolvência têm o dever de requerer à declaração da sua insolvência
no prazo de 30 dias seguintes à data do conhecimento da situação de insolvência tal como
descrita no artigo 3.º/1 ou à data em que devessem conhecê-la. Fica desde logo excluída a
existência desse dever quando se trata de uma situação de insolvência tal como descrita no
artigo 3.º/2 do CIRE.
Neste âmbito, o artigo 18.º/3 do CIRE prevê uma presunção – “Quando o devedor seja titular
de uma empresa, presume-se de forma inilidível o conhecimento da situação de insolvência
decorridos pelo menos três meses sobre o incumprimento generalizado de obrigações de algum
dos tipos referidos na alínea g) do n.º 1 do artigo 20.º”.
Neste âmbito, então, devemos distinguir:
✓ o devedor singular não titular de uma empresa - não tem a obrigação de se apresentar à
insolvência;
✓ os devedores, quer sejam pessoas coletivas ou pessoas singulares, titulares de empresas
- são obrigados a apresentar-se à insolvência;
Quando o devedor é uma pessoa singular com capacidade, a ele cabe a iniciativa da
apresentação à insolvência. Não necessita de atuar através de representante.
No que diz respeito aos devedores que podem ser objeto de um processo de insolvência e que
não são pessoas singulares, decorre do artigo 19.º do CIRE que a iniciativa da apresentação à
insolvência cabe ao órgão social incumbido da administração do devedor ou, se não for o caso,
a qualquer dos seus administradores.
2.3. Incumprimento do dever de apresentação à insolvência
O incumprimento do dever de apresentação à insolvência tem desde logo a consequência
prevista no artigo 186.º/3 e 4 do CIRE, isto é, o referido incumprimento faz presumir a
existência de culpa grave do devedor. Esta presunção é ilidível.

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No plano geral, o incumprimento do dever de apresentação à insolvência pode também ter


relevo, sobretudo perante o teor do artigo 228.º do Código Penal, em que se encontra previsto
o crime de insolvência negligente.

3. Efeitos da declaração de Insolvência


3.1. Efeitos sobre o devedor
O artigo 81.º do CIRE estabelece que a declaração de insolvência priva imediatamente o
insolvente (por si ou pelos seus administradores) “dos poderes de administração e de
disposição dos bens integrantes da massa insolvente”. Tais poderes passam assim a competir
ao administrador da insolvência.
A massa insolvente abrange “todo o património do devedor à data da declaração de
insolvência, bem como os bens e direitos que ele adquira na pendência do processo” (artigo
46.º/1 do CIRE). Por sua vez, os bens absolutamente impenhoráveis nunca podem integrar a
massa insolvente, mas os bens relativamente impenhoráveis já podem ser apresentados
voluntariamente pelo devedor.
Assim, o administrador da insolvência assume a “representação do devedor para todos os
efeitos de caráter patrimonial que interessem à insolvência” (artigo 81.º/4 do CIRE). Mas essa
representação já não abrange, em regra, a intervenção do próprio devedor no processo de
insolvência, os seus incidentes e apensos (artigo 81.º/5 do CIRE).
O artigo 81.º/2 do CIRE proíbe ainda ao devedor “a cessão de rendimentos ou a alineação de
bens futuros suscetíveis de penhora, qualquer que seja a sua natureza”, ainda que se trate de
“rendimentos que obtenha ou de bens que adquira posteriormente ao encerramento do
processo”.
Note-se ainda que o administrador da insolvência não está sujeito a “limitações ao poder de
disposição do devedor estabelecidas por decisão judicial ou administrativa, ou impostas por
lei apenas em favor de pessoas determinadas.” (artigo 81.º/3 do CIRE).
Se o insolvente violar este regime (artigos 81.º/1 a 5 CIRE), decorre do artigo 81.º/6 do CIRE,
que os atos por ele praticados são, em princípio, ineficazes relativamente à massa4. Exemplo:
se um insolvente vender um bem que está integrado na massa o contrato é válido e produz
efeitos nos termos gerais. Porém esse contrato não será eficaz relativamente à massa, e
portanto, o bem não é transmitido.
O facto dos poderes de administração e disposição passarem a competir ao administrador da
insolvência não significa que os administradores do insolvente cessem automaticamente
funções. O artigo 82.º/1 do CIRE estabelece que os órgãos sociais do devedor “mantém-se em
funcionamento após a declaração de insolvência”. No entanto, não serão, em regra,
remunerados.

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Há autores que entendem que se trata de uma ineficácia absoluta. Mas que será de aceitar a sua ratificação
pelo administrador da insolvência de modo a aproveitar as eventuais vantagens que resultem do ato para a
massa insolvente.

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Os titulares dos órgãos sociais não podem sequer renunciar aos cargos se não tiverem procedido
ao “depósito de contas anuais com referência à data da decisão de liquidação em processo de
insolvência” (artigo 82.º/2 do CIRE).

3.2. Efeitos processuais


O artigo 85.º/1 do CIRE prevê a possibilidade do administrador da insolvência com
“fundamento na conveniência para os fins do processo” requerer a apensação ao processo de
insolvência das ações “em que se apreciem questões relativas a bens compreendidos na massa
insolvente, intentadas contra o devedor, ou mesmo contra terceiros, mas cujo resultado possa
influenciar o valor da massa”, bem como das ações “de natureza exclusivamente patrimonial
intentadas pelo devedor”.
No que diz respeito às ações executivas intentadas por credores da insolvência, o artigo 88.º/1
do CIRE faz a distinção entre as que têm apenas como executado o insolvente e as que têm
outros executados. No primeiro caso, a declaração de insolvência obsta à instauração ou
prosseguimento de qualquer ação executiva intentada pelos credores da insolvência. No
segundo caso, a declaração de insolvência não impede que a execução prossiga contra os outros
executados.

4. A sentença de declaração de insolvência


4.1. Aspetos gerais (artigo 36.º do CIRE)
1.1.1. Data e hora da prolação da sentença
A sentença de declaração de insolvência deve sempre indicar a data em que é proferida. Quanto
à hora da sua prolação ou ela é indicada na sentença ou na falta dessa indicação considera-se
que a prolação teve lugar ao meio-dia (artigo 36.º/1 alínea a) CIRE).

4.1.1. Identificação do devedor insolvente e da sua sede ou residência


O artigo 36.º/1 alínea b) do CIRE impõe a identificação do devedor insolvente na sentença de
declaração de insolvência, acrescentando que deve ser igualmente feita a indicação da sede ou
residência, consoante os casos.

4.1.2. Identificação dos administradores de direito e de facto, do devedor


e fixação de residência, bem como o próprio devedor singular
A sentença contém a identificação dos administradores, de direito e de facto do devedor. Isto,
evidentemente, se este os tiver. Quanto à fixação de residência aos administradores e ao
devedor pessoa singular, não se trata de dizer onde os mesmo vão residir, mas sim de assegurar
que esses sujeitos estão contactáveis para lhes ser exigido o cumprimento dos seus deveres
(artigo 36.º/1 alínea c) CIRE).

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4.1.3. Nomeação de administrador da insolvência e indicação do seu


domicílio profissional
A nomeação do administrador da insolvência (artigo 36.º/1 alínea d) do CIRE) constitui um
momento de grande relevo no processo de insolvência, pois aquele deverá desempenhar um
papel central no desenrolar do processo.

4.1.4. A Administração da massa insolvente pelo devedor


No artigo 36.º/1 alínea e) do CIRE está previsto que a sentença determine a administração da
massa insolvente pelo devedor, desde que preenchidos os pressupostos constantes do artigo
224.º/2 do CIRE:
✓ É necessário que o devedor tenha requerido a administração da massa pelo próprio;
✓ O devedor tem de ter apresentado um plano de insolvência ou que se tenha
comprometido a apresentá-lo no prazo de 30 dias após a sentença de declaração de
insolvência;
✓ Nesse plano deve-se prever a continuidade da exploração da empresa por si próprio;
✓ Não pode haver razões para recear atrasos na marcha do processo ou outras
desvantagens para os credores;
✓ O requerente da insolvência, se não for o devedor, tem de dar o seu acordo;
✓ Só pode haver administração da massa insolvente pelo devedor se essa mesma massa
compreende uma empresa (artigo 223.º CIRE);
Exemplo: na massa insolvente há um conjunto de bens do insolvente e um desses bens é uma
pastelaria. O insolvente pode requerer que se mantenha a administrar esses bens. Para esse
efeito, é necessário que esteja aí incluída a pastelaria e que os outros credores não se oponham,
bem como que seja demonstrado que não haverá prejuízo para a massa. É necessário ainda que
o devedor tenha apresentado ou se comprometa a fazê-lo, no prazo de 30 dias após a prolação
da sentença de declaração de insolvência, um plano de insolvência em que preveja a
continuidade da exploração da empresa por ele próprio.

4.1.5. A assembleia de credores para apreciação do relatório


De acordo com o artigo 36.º/1 alínea n) do CIRE o juiz designa na sentença de declaração de
insolvência o dia e a hora para a realização da assembleia de apreciação do relatório do
administrador da insolvência (cfr. O artigo 156.º do CIRE).
O administrador terá de realizar um relatório quanto à possibilidade de recuperação do devedor
ou da empresa integrada na massa insolvente, nos termos do artigo 155.º do CIRE. Sempre que
se lhe afigure conveniente a aprovação de um plano de insolvência para recuperação da
empresa deve apresentá-lo na assembleia de credores para apreciação do relatório. Deste modo:
✓ o relatório do administrador pode ser negativo quanto à possibilidade de recuperação
da empresa ou

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✓ o relatório do administrador ser positivo, mas os credores não aprovarem a prossecução


do processo de insolvência com esta possibilidade de recuperação da empresa ou
✓ O relatório do administrador é positivo e os credores aprovam a sua prossecução ou
✓ Os próprios credores podem cometer ao administrador da insolvência o encargo de
elaborar um plano de insolvência;
Nas duas primeiras hipóteses, o seguinte passo do processo será a liquidação dos bens e partilha
da massa insolvente. Nas duas últimas hipóteses, pode-se determinar a suspensão da liquidação
dos bens e a partilha da massa insolvente. Todavia, a aprovação desse plano de insolvência terá
de se realizar ainda numa assembleia com essa finalidade. A suspensão cessa se o plano não
for apresentado pelo administrador da insolvência nos 60 dias seguintes ou se o plano
apresentado não for subsequentemente admitido, aprovado ou homologado.

4.1.6. Apreensão de bens


A sentença de declaração de insolvência decreta a apreensão e entrega imediata ao
administrador da insolvência dos elementos de contabilidade do devedor e de todos os seus
bens. A apreensão tem lugar ainda que os bens estejam “arrestados, penhorados ou por
qualquer forma apreendidos ou detidos”.
O Administrador da Insolvência passa a ter, com a declaração de insolvência poderes para
administrar e dispor dos bens da massa insolvente (artigo 81.º/1 do CIRE). E essa massa
insolvente é composta por “todo o património do devedor à data da declaração de insolvência,
bem como os bens e direitos que ele adquira na pendência do processo” (artigo 46.º/1 do
CIRE).
Assim, estes bens apreendidos (que são bens penhoráveis) passam a integrar a massa
insolvente, que constitui um património autónomo que em caso de liquidação se destina a ser
alienado para satisfação dos credores.

4.1.7. Prazo de reclamação de créditos


De acordo com o artigo 36.º/1 alínea f) do CIRE, a sentença de declaração de insolvência
designa prazo até 30 dias para a reclamação de créditos. O prazo designado pelo juiz não tem
de ser 30 dias, pode ser inferior.
Esta reclamação dos créditos é fundamental porque os credores e Ministério Público na defesa
dos interesses das entidades que represente, que quiserem obter satisfação pelos bens
integrados na massa devem reclamar a verificação dos seus créditos por meio de requerimento,
acompanhado de todos os documentos probatórios de que disponham (artigo 128.º CIRE).
Segundo o artigo 128.º/5 do CIRE, a verificação tem por objeto todos os créditos sobre a
insolvência, qualquer que seja a sua natureza e fundamento, e mesmo o credor que tenha o seu
crédito reconhecido por decisão definitiva não está dispensado de o reclamar no processo de
insolvência, se nele quiser obter pagamento.

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Se o credor não reclama o seu crédito no prazo designado na sentença de declaração de


insolvência, pode ainda intentar ação contra a massa insolvente para verificação ulterior de
créditos (artigos 146.º ss CIRE).

5. A sentença de verificação e graduação de créditos


Dentro do prazo de 15 dias subsequentes ao termo do prazo das reclamações, “o administrador
da insolvência apresenta na secretaria uma lista de todos os credores por si reconhecidos e
uma lista dos não reconhecidos, ambas por ordem alfabética” (artigo 129.º/1 do CIRE). Por
outro lado, o administrador da insolvência pode reconhecer créditos não reclamados desde que
eles constem “dos elementos da contabilidade do devedor ou sejam por outra forma do seu
conhecimento”.
Nos termos do artigo 130.º do CIRE, no prazo de 10 dias subsequentes à apresentação das listas
dos credores reconhecidos e não reconhecidos, pode qualquer interessado impugnar a lista de
credores reconhecidos através de requerimento dirigido ao juiz, com fundamento na indevida
inclusão ou exclusão de créditos, ou na incorreção do montante ou da qualificação dos créditos
reconhecidos. Se houver impugnações, entraremos aqui numa fase declarativa enxertada no
processo de insolvência.
Se não houver impugnações, é de imediato proferida sentença de verificação e graduação dos
créditos, em que, salvo o caso de erro manifesto, se homologa a lista de credores reconhecidos
elaborada pelo administrador da insolvência e se graduam os créditos em atenção ao que conste
dessa lista, podendo o juiz, caso concorde com a proposta de graduação elaborada pelo
administrador da insolvência, homologar a mencionada proposta.
Na sentença de verificação e graduação de créditos teremos:
✓ A graduação geral para os bens da massa insolvente e
✓ A graduação especial para os bens a que respeitem direitos reais de garantia e
privilégios creditórios (artigo 140.º/ 2 CIRE).
Na graduação de créditos não é atendida a preferência resultante de hipoteca judicial, nem a
proveniente da penhora, mas as custas pagas pelo autor ou exequente constituem dívidas da
massa insolvente (artigo 140.º/3 CIRE).
Ora, aqui é preciso atender que se os bens integrados na massa especial chegarem para
satisfazer os créditos aí graduados, o seu excedente irá integrar a massa geral de bens. Se pelo
contrário, os bens integrados na massa especial não forem suficientes para satisfazer os créditos
dos credores garantidos e privilegiados, esses credores quanto a essa parte “em falta” serão
credores comuns quanto à massa geral. Por outro lado, se o credor tiver um privilégio
mobiliário geral, este será satisfeito em primeiro lugar pelos bens integrados na massa e que
não estejam incluídos na graduação especial. Só depois de satisfeitos os credores garantidos e
privilegiados com a massa especial, e os credores com privilégio mobiliário geral é que serão
satisfeitos os credores comuns, e no final os credores subordinados.

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5.1. Classificação dos créditos


5.1.1. Créditos sobre a massa
Os créditos sobre a massa insolvente estão elencados no artigo 51.º do CIRE, tais como:
✓ As custas do processo de insolvência;
✓ As remunerações do administrador da insolvência e as despesas deste e dos membros
da comissão dos credores;
✓ As dívidas emergentes dos atos de administração, liquidação e partilha da massa
insolvente;
✓ As dívidas resultantes da atuação do administrador da insolvência no exercício das suas
funções;
✓ Qualquer dívida resultante de contrato bilateral cujo cumprimento não possa ser
recusado pelo administrador da insolvência, salvo na medida em que se reporte a
período anterior à declaração de insolvência;
✓ Qualquer dívida resultante de contrato bilateral cujo cumprimento não seja recusado
pelo administrador da insolvência, salvo na medida correspondente à contraprestação
já realizada pela outra parte anteriormente à declaração de insolvência ou em que se
reporte a período anterior a essa declaração;
Os créditos a que se reportam as dívidas da massa insolvente devem ser pagos nas datas dos
respetivos vencimentos (artigo 172.º/3 do CIRE) e não carecem de ser reclamados pelo meio
previsto no artigo 128.º do CIRE.
Por outro lado, resulta do disposto do artigo 46.º/1 do CIRE e do artigo 172.º/1 do CIRE que o
pagamento dos credores do insolvente só se realiza, depois de pagas as dívidas da massa
insolvente. Assim, os credores da massa são satisfeitos em primeiro lugar relativamente a todos
os outros credores.
Estas dívidas não têm de passar pelo processo de verificação e graduação de créditos porque
este processo tem o objetivo de dar a conhecer ao administrador a insolvência quais os créditos
existentes, e as dívidas da massa são dívidas resultantes do próprio processo. Se não houver
património suficiente para o pagamento destas dívidas da massa o administrador da insolvência
pode ser responsabilizado.

5.1.2. Créditos sobre a insolvência


São créditos sobre a insolvência, os créditos que recaem sobre o insolvente e assumem caráter
patrimonial, que sejam garantidos por bens da massa insolvente e cujo fundamento seja prévio
à declaração de insolvência, bem como aqueles cujos titulares demonstrem que os adquiriram
no decurso do processo de insolvência, nos termos do artigo 47.º/1 e 3 do CIRE.
Existem três tipos de créditos sobre a insolvência: (i) os garantidos e privilegiados; (ii) os
subordinados e (iii) os comuns.

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5.1.2.1. Créditos garantidos e privilegiados


São garantidos, os créditos que beneficiem de garantias reais5, incluindo os privilégios
creditórios especiais, integrando o capital e os juros correspondentes até ao valor dos bens
objeto da garantia (artigo 47.º/1 alínea a) do CIRE). Haverá, contudo, certas garantias que se
extinguem com a declaração de insolvência e os seus titulares perdem o e seu estatuto de
credores garantidos (artigo 97.º do CIRE).
São créditos privilegiados os que beneficiam de privilégios creditórios gerais 6 sobre bens
integrantes da massa insolvente, podendo ser mobiliários e imobiliários (artigo 47.º/4 alínea a)
do CIRE). O pagamento dos créditos privilegiados é efetuado com base na execução dos bens
não afetos a garantias reais prevalecentes e respeitando a prioridade de cada privilégio,
consoante a sua graduação.
Os credores garantidos vão ser satisfeitos de acordo com a sua graduação relativamente ao bem
que garante o crédito, uma vez que o mesmo bem pode ser garantia de diferentes créditos, e
estes créditos não terão o mesmo grau de prevalência. Exemplo: perante duas hipotecas sobre
o mesmo imóvel elas não concorrem as duas ao mesmo tempo para o cumprimento dos
respetivos créditos. Primeiro prevalece a hipoteca mais antiga e só quando esse crédito está
integralmente pago é que se passa para o segundo crédito garantido.
Além disso, o administrador da insolvência deduz da massa insolvente os bens ou direitos
necessários à satisfação das dívidas da massa, segundo o artigo 172.º/1 do CIRE. Ou seja, do
produto da alienação dos bens que são objeto destas garantias reais tem de se deduzir um valor
para satisfazer os credores da massa. A lei estabeleceu atualmente que “a imputação não
excederá 10% do produto de bens objeto de garantias reais, salvo na medida do indispensável
à satisfação integral das dívidas da massa insolvente ou do que não prejudique a satisfação
integral dos créditos garantidos.” (artigo 172.º/2 CIRE).
Exemplo: uma hipoteca sobre um imóvel alienado. Com o produto da venda desse imóvel tem
de se satisfazer o credor hipotecário, mas antes disso tem de se retirar até 10% desse produto
da venda para satisfazer os credores da massa. Os bens objeto das garantias reais respondem
mesmo pelos juros abrangidos pela garantia real que se constituam posteriormente à declaração
de insolvência (artigo 48.º alínea b) a contrario CIRE). Se os juros ultrapassarem o valor dos
bens objeto das garantias reais, nesse excedente tornam-se créditos subordinados.
Se a garantia em causa não for bastante para a realização do pagamento de todo o crédito, o
excedente será satisfeito como crédito comum. Exemplo: X tem um crédito de 1 milhão de
euros, sendo que tinha realizado uma hipoteca sobre uma casa mas essa casa foi vendida apenas
por 500 mil euros. Os outros 500 mil euros passam a crédito comum, ou seja, vão ser pagos
juntamente com todos os demais.

5Exemplo: hipoteca, direito de retenção, privilégio imobiliário especial;


6
Não incidem sobre um bem certo e determinado, mas conferem uma preferência pela satisfação do valor desses bens, não
sendo assim uma garantia real. Exemplo: os créditos laborais dos trabalhadores (artigo 333.º do Código de Trabalho).

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5.1.2.2. Créditos comuns


São créditos que são definidos por exclusão de partes, ou seja, estamos perante um crédito
comum se não estivermos perante uma dívida da massa, nem de um crédito garantido, nem de
um crédito privilegiado, nem de um crédito subordinado (artigo 47.º/4 alínea c) CIRE).
O pagamento destes créditos é feito após a dedução do valor para satisfazer os credores da
massa e após terem sido satisfeitos os créditos garantidos e privilegiados.
Sempre que os bens integrados na massa não sejam suficientes para a satisfação integral dos
credores comuns, fazemos um rateio. Isto é, temos de definir o valor dos créditos comuns e o
valor da massa insolvente, da sua comparação vai resultar uma proporção. Exemplo: A massa
insolvente tem um património de 1000 e os créditos comuns tem o valor de 3000. Ora, isto dá-
nos uma proporção de 1/3. Definida a proporção, os credores vão ser pagos em função desta.
Assim, quem tiver um crédito de valor nominal maior vai receber um valor maior, mas sempre
na proporção daquilo que é o património existente face à totalidade dos créditos. Assim se A
tiver um crédito de 1500€, vai ser pago 1/3 desse valor, ou seja, 500€.

5.1.2.3. Créditos subordinados


Definem-se como subordinados, os créditos enumerados no artigo 48.º do CIRE “exceto
quando beneficiem de privilégios creditórios, gerais ou especiais, ou de hipotecas legais, que
não se extingam por efeito da declaração de insolvência” (artigo 47.º/4 alínea c) do CIRE).
Os credores de créditos subordinados ficam numa situação prejudicial face aos demais, uma
vez que são os últimos a ser satisfeitos e são pagos em termos hierárquicos, segundo a ordem
das alíneas do artigo 48.º do CIRE, ou seja:
✓ Os créditos detidos por pessoas especialmente relacionadas com o devedor (artigo 49.º
do CIRE), desde que a relação especial existisse já aquando da respetiva constituição,
e por aqueles a quem eles tenham sido transmitidos nos dois anos anteriores ao início
do processo de insolvência;
✓ Os juros de créditos não subordinados constituídos após a declaração da insolvência,
com exceção dos abrangidos por garantia real e por privilégios creditórios gerais, até
ao valor dos bens respetivos;
✓ Os créditos cuja subordinação tenha sido convencionada pelas partes;
✓ Os créditos que tenham por objeto prestações do devedor a título gratuito;
✓ Os créditos sobre a insolvência que, como consequência da resolução em benefício da
massa insolvente, resultem para o terceiro de má-fé;
✓ Os juros de créditos subordinados constituídos após a declaração da insolvência;
✓ Os créditos por suprimentos.
Os credores com créditos subordinados têm legitimidade para propor a insolvência de uma
sociedade, mas não estão autorizados a votar nas assembleias de credores nem podem participar
nas comissões de credores.
Os créditos subordinados não podem ser compensados com dívidas da massa. Ex.: A irmão de
B (devedor insolvente) tem um crédito face a B de 1000€ e tem uma dívida face a B de 500€.

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A não pode compensar estes créditos. Assim, A vai ter de pagar os 500€ e esperar ser satisfeito
depois da satisfação dos créditos da massa, garantidos e privilegiados e dos créditos comuns.

5.2. Efeitos sobre os créditos


Nos termos do artigo 91.º/1 do CIRE “A declaração de insolvência determina o vencimento de
todas as obrigações do insolvente não subordinadas a uma condição suspensiva.”. Assim,
aquelas obrigações que apenas vencessem em data posterior à declaração de insolvência veem
esse vencimento antecipado, sem necessidade de interpelação.
Os credores não são sempre titulares apenas de créditos de natureza pecuniária expressos em
euros. Para que se torne mais fácil comparar os créditos o artigo 96.º do CIRE vem estabelecer
que para efeitos da participação do titular no processo de insolvência deve ser realizada uma
operação de conversão. Assim, os créditos não pecuniários e os créditos pecuniários sem
montante determinado “são atendidos pelo valor em euros estimável à data da declaração de
insolvência”. Por sua vez, os créditos expressos em moeda estrangeira ou índices “são
atendidos pelo valor em euros à cotação em vigor à data da declaração de insolvência no
lugar do respetivo pagamento”.
O artigo 97.º/1 do CIRE enumera um grande conjunto de garantias que se extinguem com a
declaração de insolvência.
O titular de créditos sobre a insolvência que, simultaneamente, tenha dívidas à massa insolvente
poderá ter interesse em efetuar a compensação7. No entanto, o artigo 99.º do CIRE começa por
estabelecer alguns limites à compensação de créditos sobre a insolvência com dívidas à massa
insolvente. Em primeiro lugar, a partir da declaração de insolvência os titulares de créditos
sobre a insolvência só podem compensá-los com dívidas à massa desde que se verifique pelo
menos um dos seguintes requisitos:
✓ O preenchimento dos pressupostos legais da compensação seja anterior à data da
declaração da insolvência;
✓ O crédito sobre a insolvência ter preenchido os requisitos estabelecidos no artigo 847.º
do Código Civil antes do contra crédito da massa;
Já o artigo 99.º/4 do CIRE indica casos em que a compensação é excluída:
✓ Se a dívida à massa se tiver constituído após a data da declaração de insolvência,
designadamente em consequência da resolução de atos em benefício da massa
insolvente;
✓ Se o credor da insolvência tiver adquirido o seu crédito de outrem, após a data da
declaração de insolvência;
✓ Com dívidas do insolvente pelas quais a massa não seja responsável;
✓ Entre dívidas à massa e créditos subordinados sobre a insolvência.

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Causa de extinção das obrigações segundo o artigo 847.º Código Civil.

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5.3. Regime dos negócios em curso


5.3.1. Considerações iniciais
O regime do CIRE não prevê os efeitos sobre todos os negócios em curso, uma vez que é
possível encontrar noutros diplomas legais normas aplicáveis a certos negócios. Exemplo: No
Código de Trabalho temos previsto o regime insolvencial.
O regime dos negócios em curso não é um regime estabelecido em termos gerais como acontece
para os créditos. É um regime que é ditado pela lei para cada tipo contratual e nem todos os
tipos contratuais estão previstos no CIRE.
Este regime dos negócios em curso justifica-se que tutele o sujeito que ainda não realizou o
cumprimento, porque a lei permite-lhe recorrer à exceção de não cumprimento do contrato.
Todavia, se já tiver havido cumprimento por qualquer uma das partes, imaginemos que o
vendedor entregou a mercadoria, mas ainda não lhe foi pago o preço, já não vale este regime e
aí o que temos é um simples crédito sobre a insolvência. Exemplo: A vende a B 30
computadores, entrega-os imediatamente, com pagamento a 60 dias. Depois da entrega o
comprador é declarado insolvente, não se aplica o regime do artigo 102.º do CIRE. O vendedor
terá um crédito sobre a insolvência, um crédito comum e terá de o reclamar. Mas se ele não
tivesse realizado a entrega podia valer-se do regime do artigo 102.º do CIRE.

5.3.2. O artigo 102.º do CIRE - Princípio geral quanto aos negócios ainda
não cumpridos
O artigo 102.º CIRE tem por epígrafe “Princípio geral quanto aos negócios ainda não
cumpridos”. Contudo, lendo o seu n. º1 verificamos que afinal parecem estar em causa apenas
contratos bilaterais ainda não cumpridos na totalidade por qualquer das partes à data da
declaração da insolvência. Por outro lado, o seu âmbito de aplicação parece ser essencialmente
a compra e venda de coisas genéricas. Exemplo: A vende a B 30 computadores daqueles que
tem em armazém por 3000€, o comprador é declarado insolvente e não houve entrega da
mercadoria. Evidentemente, não houve ainda transmissão da propriedade sobre as coisas.
Para os negócios abrangidos pelo artigo 102.º/1 do CIRE, a lei estabelece que o respetivo
cumprimento fica suspenso até que o administrador da insolvência declare que opta pela
execução do contrato ou pela recusa do cumprimento. Embora o CIRE não defina um prazo
para essa opção o artigo 102.º/2 do CIRE permite que a outra parte no negócio fixe um prazo
“razoável” ao administrador da insolvência para que este opte por uma das duas alternativas.
Caso, porém, não indique, dentro do prazo fixado, deve-se considerar que o administrador
recusa o cumprimento.
A opção não existe se for “manifestamente improvável” o cumprimento pontual das obrigações
contratuais pela massa insolvente. No exercício do direito de optar, o administrador da
insolvência deve necessariamente olhar para o que é vantajoso para a massa insolvente e para
o conjunto dos credores.

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✓ O Administrador da insolvência opta pela recusa do contrato


As consequências da recusa do cumprimento pelo administrador da insolvência são
pormenorizadamente abordadas no artigo 102.º/3 do CIRE.
Em primeiro lugar, a recusa não confere às partes o direito à restituição do que já tiver sido
prestado.
Em segundo lugar, a lei confere à massa insolvente o direito de exigir “o valor da
contraprestação correspondente à prestação já efetuada pelo devedor na medida em que não
tenha sido ainda realizada pela outra parte”.
Em terceiro lugar, a outra parte tem direito a exigir, como crédito sobre a insolvência, o valor
da prestação do devedor, na parte incumprida, deduzido do valor da contraprestação
correspondente que ainda não tenha sido realizada.
Em quarto lugar, o direito à indemnização dos prejuízos causados à outra parte pelo
incumprimento (i) apenas existe até ao valor da obrigação eventualmente imposta nos termos
do segundo ponto. (ii) é abatido do quantitativo a que a outra parte tenha direito, por aplicação
do terceiro ponto; (iii) constitui crédito sobre a insolvência;
✓ O Administrador da Insolvência opta pela execução do contrato
Se o administrador da insolvência optar pela execução do contrato, deve ser tido em conta que
as dívidas resultantes de “contrato bilateral cujo cumprimento não seja recusado” por aquele
são consideradas, em princípio, dívidas da massa insolvente (artigo 51.º/1 alínea f) CIRE).
O Administrador da Insolvência só optará pelo cumprimento do contrato se pretender a
recuperação da empresa e para isso o fornecimento daqueles bens seja essencial. Exemplo: se
estivermos perante uma fábrica têxtil e se interromperem a entrega de matéria-prima a fábrica
deixa de funcionar.

5.3.3. Venda com reserva de propriedade (e operações semelhantes)


O artigo 104.º do CIRE tem em vista não apenas os contratos de compra e venda com reserva
de propriedade, mas também os contratos de locação financeira.
Se o vendedor ou locador financeiro é o insolvente no contrato de compra e venda com
reserva de propriedade ou de locação financeira, respetivamente, estatui-se que o comprador
ou locatário financeiro, a quem a coisa já tenha sido entregue na data da declaração de
insolvência, poderá exigir o cumprimento integral do contrato, tendo evidentemente nesse caso
de cumprir a sua prestação (artigos 104.º/1 e 2 do CIRE). A expectativa de aquisição pelo
comprador é desta forma expressamente protegida, mesmo em sede insolvencial.
Caso seja o comprador ou locatário financeiro o insolvente, se ele se encontrar na posse da
coisa, e desde que a cláusula de reserva de propriedade tenha sido estipulada por escrito até ao
momento da entrega da coisa (artigo 104.º/4 CIRE, sob pena de não ser oponível à massa), a
lei remete para o regime geral do artigo 102.º CIRE, com algumas particularidades, quanto ao
prazo fixado ao administrador da insolvência (artigo 104.º/2 CIRE) e ao cálculo do valor
previsto no artigo 102.º/3 alínea c) CIRE.

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De acordo com o disposto no artigo 102.º do CIRE, que estabelece o regime geral para os
negócios bilaterais do insolvente em que não tenha havido total cumprimento nem por este nem
pela outra parte, o cumprimento fica suspenso, podendo o administrador optar pela execução
ou recusar o cumprimento. O vendedor poderá fixar um prazo razoável ao administrador da
insolvência para que este exerça a sua opção, findo o qual “se considera que recusa o
cumprimento” (artigo 102.º/2 CIRE). Neste caso, o prazo “não pode esgotar-se antes de
decorridos cinco dias sobre a data da assembleia de apreciação do relatório” (artigo 104.º/3
CIRE).

✓ O Administrador da Insolvência opta pela recusa do contrato


A posição do vendedor é conformada pelo disposto no artigo 102.º/3 e do artigo 104.º/5 do
CIRE. O direito de propriedade, em todo o caso, mantém-se na esfera do alienante.
Recusado o cumprimento, nenhuma das partes tem direito à restituição do que prestou (artigo
102.º/3 alínea a) CIRE), o que significa que, tratando-se de uma venda a prestações, o vendedor
não terá que restituir os montantes já recebidos. Este poderá exigir à outra parte “a diferença
entre o montante das prestações (…) previstas até ao final do contrato, atualizadas para a
data da declaração de insolvência por aplicação do estabelecido no n.º 2 do artigo 91.º, e o
valor da coisa na data da recusa…” (artigo 104.º/5 do CIRE), como crédito sobre a
insolvência.
O alienante terá direito a ser indemnizado, também como crédito sobre a insolvência (artigo
102.º/3 alínea d) (iii) do CIRE), dos prejuízos resultantes do incumprimento, a que se terá de
abater o quantitativo a que este tenha direito, em resultado da aplicação do critério anterior
(artigo 102.º/3 alínea d) (ii) CIRE).

✓ O Administrador da Insolvência opta pelo cumprimento do contrato


A obrigação do comprador transforma-se numa dívida da massa insolvente (artigo 51.º/1 alínea
f) CIRE).
O Administrador da Insolvência terá interesse na manutenção dos contratos de compra com
reserva de propriedade e de locação financeira devido à perspetiva de recuperação da empresa,
dado esses bens serem necessários para a atividade desse estabelecimento. Há aqui uma
proteção adicional do locador financeiro, dado que é sempre mantido na sua esfera o bem, a
garantia é sempre preservada na insolvência.
Se o administrador, tendo optado pelo cumprimento, não cumprir, o vendedor manterá, nesse
caso, o direito de resolução do contrato8.

8Repare-se que o vendedor não poderá resolver o contrato depois de declarada a insolvência enquanto se mantiver o direito
de escolha do administrador.

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6. Processo Especial de Revitalização da Empresa


Naqueles casos em que uma empresa esteja numa situação económica difícil ela não pode
recorrer à insolvência. O único mecanismo que lhe está aberto é o processo especial de
revitalização da empresa (PER).
O processo especial de revitalização (artigos 17.º ss CIRE) destina-se a permitir à empresa que,
comprovadamente, se encontre em situação económica difícil ou em situação de insolvência
meramente iminente, mas que ainda seja suscetível de recuperação, estabelecer negociações
com os respetivos credores de modo a concluir com este acordo conducente à sua revitalização.
Se a empresa estiver em situação de insolvência iminente pode recorrer ao PER ou o devedor
pode apresentar-se à insolvência, embora não esteja obrigado a fazê-lo.

Esquema de Direito da Insolvência

1 QUEM (E O QUE) PODE SER DECLARADO INSOLVENTE?

HERANÇA OUTROS PATRIMÓNIOS


JACENTE AUTÓNOMOS;
ARTIGO 2.º/1 CIRE

E.I.R.L QUALQUER PESSOA
SINGULAR OU COLETIVA
FAS
“free
alongsideship”
NÃO SE EXIGE QUE O DEVEDOR SEJA COMERCIANTE
OU, SEQUER, QUE SEJA EMPRESÁRIO

ARTIGO 2.º/2 CIRE EXCLUI

As empresas de seguros, as instituições de crédito, as Pessoas coletivas públicas e as entidades


sociedades financeiras, as empresas de investimento e os públicas empresariais (EPE’s)
organismos de investimento coletivo, na medida em que a
sujeição a processo de insolvência seja incompatível com
os regimes especiais previstos para tais entidades

2 A SITUAÇÃO DE INSOLVÊNCIA

CRITÉRIO DE CAIXA CRITÉRIO DO BALANÇO OU DO ATIVO


Impossibilidade de cumprimento das PATRIMONIAL
obrigações vencidas O passivo é superior ao ativo.
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3 PRESSUPOSTOS OBJETIVOS DA DECLARAÇÃO DE INSOLVÊNCIA

SE OS DEVEDORES SÃO PESSOAS COLETIVAS E


CRITÉRIO GERAL (ARTIGO 3.º/1 CIRE)
PATRIMÓNIOS AUTÓNOMOS “POR CUJAS
DÍVIDAS NENHUMA PESSOA SINGULAR
RESPONDA PESSOAL E ILIMITADAMENTE, POR
“o devedor que se encontre impossibilitado FORMA DIRETA OU INDIRETA”.
de cumprir as suas obrigações vencidas”
CRITÉRIO DE CAIXA

Para além do critério geral, são considerados


insolventes “quando o seu passivo seja
manifestamente superior ao ativo, avaliados
segundo as normas contabilísticas aplicáveis”
(artigo 3.º/2 CIRE)
REGRAS ESPECIAIS DE REAVALIAÇÃO CRITÉRIO DO BALANÇO
(ARTIGO 3.º/3 CIRE)

CRITÉRIO DO JUSTO CRITÉRIO DA PERSPETIVIDADE DA CRITÉRIO DOS SUPRIMENTOS


VALOR EMPRESA
Do passivo devem ser
Reavaliar os bens, mas Atender ao valor da empresa excluídas as dívidas que
através de critérios de enquanto organização, isto é, àquilo apenas hajam de ser pagas à
mercado, tendo em conta que a empresa vale como tal e não à custa do ativo restante depois
o que o bem vale mera soma dos diversos elementos de satisfeitos ou acautelados os
atualmente que a compõem direitos dos demais credores.

REIME DOS SUPRIMENTOS

O sócio credor não pode pedir


As garantias reais prestadas São créditos subordinados
a declaração de insolvência da
pela sociedade a créditos de (artigo 48.º CIRE)
sociedade por incumprimento
de um crédito de suprimentos suprimentos são nulas

IMINENTE INSOLVÊNCIA
4

Devedor pode requerer a declaração de insolvência com base na


situação de insolvência iminente (artigo 3.º/4 CIRE)

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REQUERIMENTO DE INSOLVÊNCIA
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DEVER DE APRESENTAÇÃO À INSOLVÊNCIA


QUEM PODE REQUERER?

O DEVEDOR SINGULAR NÃO TITULAR DE UMA


O PRÓPRIO DEVEDOR pode requerer e do artigo
EMPRESA não tem a obrigação de se apresentar à insolvência
18.º/1 CIRE resulta um dever de a requerer

DO ARTIGO 20.º/1 CIRE RESULTA OUTROS OS DEVEDORES COLETIVOS OU SINGULARES,


SUJEITOS COM LEGITIMIDADE
TITULARES DE EMPRESAS - têm o dever de requerer à
declaração da sua insolvência no PRAZO DE 30 DIAS seguintes à
data do conhecimento da situação de insolvência tal como descrita
Quem for legalmente
no artigo 3.º/1 CIRE ou à data em que devessem conhecê-la. Fica
responsável pelas
excluído esse dever quando se trata da situação de insolvência
dívidas do insolvente
Pelo Ministério Público, descrita no artigo 3.º/2 do CIRE.
em representação das
Qualquer credor, entidades cujos
ainda que condicional O artigo 18.º/3 do CIRE prevê uma presunção “Quando o devedor
interesses lhe estão
seja titular de uma empresa, presume-se de forma inilidível o
e qualquer que seja a legalmente confiados. conhecimento da situação de insolvência decorridos pelo menos
natureza do seu
três meses sobre o incumprimento generalizado de obrigações de
crédito algum dos tipos referidos na alínea g) do n.º 1 do artigo 20.º”.

Estes sujeitos não precisam de provar o preenchimento A iniciativa da apresentação à insolvência de pessoas
dos critérios do artigo 3.º/1 do CIRE, apenas precisam coletivas cabe ao órgão social incumbido da
de demonstrar um dos “factos-índices ou presuntivos administração do devedor ou, se não for o caso, a
da insolvência” que o artigo 20.º/1 do CIRE enumera. qualquer dos seus administradores (artigo 19.º CIRE)

CONSEQUÊNCIAS DA NÃO APRESENTAÇÃO À


O artigo 98.º/1 do CIRE atribui ao DEDUÇÃO DE PEDIDO
INSOLVÊNCIA
credor que requer a declaração de INFUNDADO
insolvência do devedor um
O artigo 22.º do CIRE
PRIVILÉGIO CREDITÓRIO
determina em caso de dolo, Faz presumir a existência Crime de insolvência
MOBILIÁRIO GERAL que incide
a responsabilidade civil de culpa grave do negligente (artigo 228.º
sobre todos os bens móveis
pelos prejuízos causados. devedor (artigo 186.º/3 e
integrantes da massa insolvente. do Código Penal)
4 do CIRE)

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EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INSOLVÊNCIA


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Os órgãos sociais do devedor “mantém-se em


Priva imediatamente o insolvente “dos
poderes de administração e de disposição funcionamento após a declaração de
dos bens integrantes da massa insolvente” insolvência”. No entanto, não serão, em
(artigo 81.º CIRE) regra, remunerados (artigo 82.º/1 CIRE)

EFEITOS SOBRE O DEVEDOR

Proíbe ao devedor “a cessão de rendimentos Os órgãos sociais do devedor não podem


ou a alineação de bens futuros suscetíveis de renunciar aos cargos se não tiverem
penhora, qualquer que seja a sua natureza”, procedido ao “depósito de contas anuais
ainda que se trate de “rendimentos que com referência à data da decisão de
liquidação em processo de insolvência”
obtenha ou de bens que adquira
(artigo 82.º/2 do CIRE).
posteriormente ao encerramento do
processo” (artigo 81.º/2 CIRE)
O administrador da insolvência assume a “representação do
devedor para todos os efeitos de caráter patrimonial que
Os atos praticados pelo devedor interessem à insolvência” (artigo 81.º/4 do CIRE).
insolvente são, em princípio, ineficazes
relativamente à massa

EFEITOS PROCESSUAIS
A declaração de insolvência obsta à
O administrador da insolvência com instauração ou prosseguimento de qualquer
“fundamento na conveniência para os fins ação executiva intentada pelos credores da
do processo” pode requerer a apensação insolvência contra o devedor insolvente, mas
ao processo de insolvência das ações não impede que a execução prossiga contra
declarativas outros executados

7 A SENTENÇA DE DECLARAÇÃO DE INSOLVÊNCIA

DATA E HORA DA INDICAÇÃO DE ADMINISTRAÇÃO


PROLAÇÃO DA SENTENÇA DA MASSA INSOLVENTE PELO
DIA E A HORA PARA A DEVEDOR
REALIZAÇÃO DA ASSEMBLEIA
DE APRECIAÇÃO DO
IDENTIFICAÇÃO DO RELATÓRIO DO NOMEAÇÃO DE ADMINISTRADOR
DEVEDOR INSOLVENTE E ADMINISTRADOR DA DA INSOLVÊNCIA E INDICAÇÃO
DA SUA SEDE/RESIDÊNCIA INSOLVÊNCIA DO SEU DOMICÍLIO
PROFISSIONAL
IDENTIFICAÇÃO DOS
ADMINISTRADORES DE PRAZO DE RECLAMAÇÃO DE
CRÉDITOS APREENSÃO DE BENS
FACTO E DE DIREITO E
FIXAÇÃO DE RESIDÊNCIA

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ADMINISTRAÇÃO DA MASSA INSOLVENTE PELO DEVEDOR


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PRESSUPOSTOS (ARTIGO 224.º/2 CIRE)

O DEVEDOR TENHA REQUERIDO PREVER A CONTINUIDADE DA REQUERENTE DA


A ADMINISTRAÇÃO DA MASSA EXPLORAÇÃO DA EMPRESA INSOLVÊNCIA TEM DE DAR O
PELO PRÓPRIO POR SI PRÓPRIO; SEU ACORDO

O DEVEDOR TER APRESENTADO NÃO PODE HAVER RAZÕES PARA


A MASSA
UM PLANO DE INSOLVÊNCIA OU RECEAR ATRASOS NA MARCHA DO
INSOLVENTE TEM
QUE SE TENHA COMPROMETIDO A DE COMPREENDER PROCESSO OU OUTRAS
APRESENTÁ-LO NO PRAZO DE 30 UMA EMPRESA DESVANTAGENS PARA OS
DIAS APÓS A SENTENÇA DE CREDORES
DECLARAÇÃO DE INSOLVÊNCIA

9 RELATÓRIO DO ADMINISTRADOR DA INSOLVÊNCIA

Os próprios credores podem


POSITIVO, mas os credores não POSITIVO, e os
NEGATIVO quanto à cometer ao administrador da
aprovarem a prossecução do processo credores aprovam
possibilidade de recuperação insolvência o ENCARGO DE
de insolvência com esta possibilidade a sua prossecução
da empresa ELABORAR UM PLANO DE
de recuperação da empresa
INSOLVÊNCIA

PROCEDE-SE À LIQUIDAÇÃO DOS BENS E PARTILHA


DA MASSA INSOLVENTE PODE-SE DETERMINAR A SUSPENSÃO DA
LIQUIDAÇÃO DOS BENS E A PARTILHA DA
MASSA INSOLVENTE, ATÉ À APROVAÇÃO DO
PLANO DE INSOLVÊNCIA NUMA ASSEMBLEIA
COM ESSA FINALIDADE

10 A SENTENÇA DE VERIFICAÇÃO E GRADUAÇÃO DE CRÉDITOS

Dentro do PRAZO DE 15 DIAS subsequentes ao No prazo de 10 dias subsequentes pode qualquer interessado
termo do prazo das reclamações, “o impugnar a lista de credores reconhecidos através de
administrador da insolvência apresenta na requerimento dirigido ao juiz (artigo 130.º CIRE)
secretaria uma LISTA DE TODOS OS
CREDORES POR SI RECONHECIDOS E UMA
LISTA DOS NÃO RECONHECIDOS, ambas por
ordem alfabética” (artigo 129.º/1 do CIRE).

Na sentença de verificação e graduação dos créditos homologa-se a


lista de credores reconhecidos elaborada pelo administrador da
O Administrador da Insolvência pode reconhecer
insolvência e caso o juiz concorde com a proposta de graduação
créditos não reclamados desde que eles constem
elaborada pelo administrador da insolvência, homologa-a também.
“dos elementos da contabilidade do devedor ou
sejam por outra forma do seu conhecimento”.
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SENTENÇA DE VERIFICAÇÃO RE GRADUAÇÃO DOS CRÉDITOS

A GRADUAÇÃO GERAL PARA A GRADUAÇÃO ESPECIAL PARA OS BENS NÃO É ATENDIDA A PREFERÊNCIA
OS BENS DA MASSA A QUE RESPEITEM DIREITOS REAIS DE RESULTANTE DE HIPOTECA
INSOLVENTE GARANTIA E PRIVILÉGIOS JUDICIAL, NEM A PROVENIENTE DA
CREDITÓRIOS ESPECIAIS PENHORA

CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS


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Se não houver património suficiente para o


Devem ser pagos nas datas dos respetivos pagamento destas dívidas da massa o
vencimentos (artigo 172.º/3 do CIRE) e não administrador da insolvência pode ser
carecem de ser reclamados. responsabilizado.
CRÉDITOS SOBRE A MASSA
Elencados no artigo 51.º CIRE
São satisfeitos em primeiro lugar
Não têm de passar pelo processo de relativamente a todos os outros credores.
verificação e graduação de créditos Do produto da alienação dos bens que são
objeto de garantias reais tem de se deduzir
um valor para satisfazer estes créditos

CRÉDITOS SOBRE A INSOLVÊNCIA

Dívidas que recaem sobre o insolvente e assumem caráter patrimonial, que sejam garantidos por bens da massa
insolvente e cujo fundamento seja prévio à declaração de insolvência, bem como aqueles cujos titulares demonstrem
que os adquiriram no decurso do processo de insolvência (artigo 47.º/1 e 3 do CIRE)

CRÉDITOS GARANTIDOS E CRÉDITOS COMUNS CRÉDITOS SUBORDINADOS


PRIVELIGIADOS

Créditos garantidos beneficiam de


garantias reais, incluindo os privilégios São definidos por exclusão de Os créditos do artigo 48.º do CIRE
creditórios especiais, integrando o capital e partes e o pagamento destes “exceto quando beneficiem de privilégios
os juros correspondentes até ao valor dos creditórios, gerais ou especiais, ou de
créditos é feito após a dedução do
bens objeto da garantia hipotecas legais, que não se extingam por
valor para satisfazer os credores efeito da declaração de insolvência”
da massa e após terem sido
satisfeitos os créditos garantidos e
Os credores garantidos vão ser satisfeitos privilegiados. São os últimos a ser satisfeitos e são pagos
de acordo com a sua graduação em termos hierárquicos, segundo a ordem
relativamente ao bem que garante o das alíneas do artigo 48.º do CIRE
crédito. Se a garantia em causa não for
Se os bens não forem suficientes,
bastante para a realização do pagamento de
faz-se um rateio – definimos o
todo o crédito, o excedente será satisfeito
valor dos créditos comuns e o valor Têm legitimidade para propor a
como crédito comum.
da massa insolvente e da sua
insolvência de uma sociedade, mas não
comparação vai resultar uma
proporção. estão autorizados a votar nas assembleias
Os créditos privilegiados
de credores nem podem participar nas
beneficiam de privilégios
creditórios gerais sobre comissões de credores.
bens integrantes da Os privilegiados são satisfeitos com base na
massa insolvente, execução dos bens não afetos a garantias reais
podendo ser mobiliários Não podem ser compensados com dívidas
prevalecentes e respeitando a prioridade de cada da massa
e imobiliários
privilégio, consoante a sua graduação.
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EFEITOS DOS CRÉDITOS


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O artigo 97.º/1 do CIRE


As obrigações que vencessem em Para efeitos da participação do enumera um grande conjunto
data posterior à declaração de titular no processo de de garantias que se
insolvência veem esse vencimento insolvência deve ser realizada extinguem com a declaração
antecipado, sem necessidade de uma operação de conversão de insolvência
(artigo 96.º do CIRE).
interpelação (artigo 91.º/1 do CIRE)

A partir da declaração de insolvência os titulares de créditos sobre a insolvência só podem COMPENSÁ-


LOS com dívidas à massa desde que se verifique pelo menos um dos seguintes requisitos:

Preenchimento dos pressupostos legais da compensação O crédito sobre a insolvência ter preenchido os
seja anterior à data da declaração da insolvência requisitos estabelecidos no artigo 847.º do Código
Civil antes do contra crédito da massa

O artigo 99.º/4 do CIRE indica casos em que a


compensação é excluída.

13 REGIME DOS NEGÓCIOS EM CURSO

“PRINCÍPIO GERAL QUANTO AOS NEGÓCIOS AINDA NÃO CUMPRIDOS” (ARTIGO 102.º CIRE)

Aplica-se aos contratos bilaterais ainda não O cumprimento do contrato fica suspenso até que o
cumpridos na totalidade por qualquer das administrador da insolvência declare que opta pela execução do
partes à data da declaração da insolvência. contrato ou pela recusa do cumprimento

Permite-se que a outra parte no negócio fixe um prazo “razoável” ao


administrador da insolvência para que exerça a escolha. Se não indicar, dentro
desse prazo, deve-se considerar que o administrador recusa o cumprimento.

RECUSA O CUMPRIMENTO EXECUTA O CONTRATO

Não confere às partes o direito à Confere à massa insolvente o direito de As dívidas resultantes do contrato
restituição do que já tiver sido exigir “o valor da contraprestação
serão dívidas da massa insolvente
prestado. correspondente à prestação já efetuada
(artigo 51.º/1 alínea f) CIRE).
pelo devedor na medida em que não
tenha sido ainda realizada pela outra
parte”
A outra parte tem direito a
exigir, como crédito sobre a
insolvência, o valor da A outra parte tem direito à indemnização
prestação do devedor, na parte dos prejuízos causados, que constitui
incumprida, deduzido do valor crédito sobre a insolvência
da contraprestação
correspondente que ainda não
tenha sido realizada. 27
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VENDA COM RESERVA DE PROPRIEDADE (E OPERAÇÕES SEMELHANTES)

Se o VENDEDOR OU LOCADOR FINANCEIRO É Se o COMPRADOR OU LOCATÁRIO FINANCEIRO É O


O INSOLVENTE o comprador ou locatário INSOLVENTE, aplica-se o regime do artigo 102.º com algumas
financeiro, se estiver na posse da coisa, na data da particularidades.
declaração de insolvência, poderá exigir o
cumprimento integral do contrato, tendo
evidentemente nesse caso de cumprir a sua prestação O cumprimento fica suspenso, podendo o administrador optar pela
(artigos 104.º/1 e 2 do CIRE). execução ou recusar o cumprimento.

O vendedor poderá fixar um prazo razoável ao administrador da


insolvência para que este exerça a sua opção, findo o qual “se
considera que recusa o cumprimento” (artigo 102.º/2 CIRE). Este
prazo “não pode esgotar-se antes de decorridos cinco dias sobre a
data da assembleia de apreciação do relatório”

EXECUTA O CONTRATO
RECUSA O CUMPRIMENTO

Obrigação do comprador transforma-se numa dívida da


massa insolvente (artigo 51.º/1 alínea f) CIRE). O direito de propriedade, em todo o caso,
mantém-se na esfera do alienante

Se o administrador, tendo optado pelo cumprimento,


não cumprir, o vendedor manterá, nesse caso, o direito Nenhuma das partes tem direito à
de resolução do contrato. restituição do que prestou

O vendedor poderá exigir à outra parte a diferença


entre o montante das prestações previstas até ao final
do contrato e o valor da coisa na data da recusa (artigo
104.º/5 do CIRE), como crédito sobre a insolvência.

O vendedor terá direito a um crédito indemnizatório


abatido pelo o outro crédito do 104.º/5 CIRE que tem
direito, como crédito sobre a insolvência.

13 PROCESSO ESPECIAL DE REVITALIZAÇÃO

Previsto nos artigos 17.º ss CIRE, destina-se a permitir à empresa que, comprovadamente, se encontre em
SITUAÇÃO ECONÓMICA DIFÍCIL ou em SITUAÇÃO DE INSOLVÊNCIA MERAMENTE
IMINENTE, mas que ainda seja suscetível de recuperação, estabelecer negociações com os respetivos
credores de modo a concluir com este acordo conducente à sua revitalização.

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