Você está na página 1de 29

Caderno Empresarial IV

Ana Carolina Guimarães


1

EMPRESARIAL IV

Direito concursal
Possui esse nome por conta do concurso de credores, estudando como o Direito trata
os empresários em crise, com os seus dois institutos/procedimentos (e em ambos existe o
concurso de credores):
○ RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS
○ FALÊNCIA

Lei 11.101/2005
O destinatário da Lei é o devedor (art. 1º), o qual é, obrigatoriamente, o empresário (art.
966/CC) - aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada que
pode ser para produção de bens ou de serviços. Lembrando que os profissionais
intelectuais podem ser empresários se os mesmos relacionam duas atividades, dependendo da
interpretação do caso concreto (art. 966, § único).
○ A condição de empresário não é vinculada ao registro, mas apenas o empresário
registrado, isto é, regular, que pode pedir a recuperação judicial, pois tal
procedimento é visto como um benefício. Enquanto o empresário irregular pode
se sujeitar ao ônus da lei e ter sua falência decretada.
○ O produtor rural pode se registrar na Junta Comercial e se beneficiar da
recuperação, mas não podem ter sua falência requerida quando não registrados,
porque sua atividade não é considerada originalmente como empresária, então
não se confundem com um empresário irregular.

Princípios:
1. Princípio ​PAR CONDICIO CREDITORUM:​ Todos os credores serão tratados de forma
igualitária.
a. No ambiente falimentar​: Tem-se a divisão entre os credores ​extraconcursais e
os ​concursais​, em que estes são divididos em oito classes:
i. Credores trabalhistas até 150 s.m. e credores por acidente de
trabalho, este último caso sem limitação de quantia;
ii. Credores com garantia real;
iii. Credores tributários;
iv. Credores com privilégio especial - a lei (art. 964/CC, entre outros
dispositivos) que estabelece;
v. Credores com privilégio geral;
vi. Credores quirografários - crédito sem garantia e/ou privilégio,
representado por mera documentação/assinatura (aqui se encontra
o resto do crédito do credor trabalhista que ultrapassou o limite dos
150 s.m., ou seja, esse tipo de credor aparece na lista duas vezes);
vii. Multas e penas pecuniárias de qualquer natureza;
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
2

viii. Credores subordinados - como detentores de debêntures sem


garantias, vinculadas a um papel, por exemplo, que os coloca
aquém dos quirografários.
b. ​Na ​recuperação judicial: Há uma proposta para a resolução das dívidas do
devedor e se discute a aplicação desse princípio na recuperação, não podendo
tratar de forma desigual os credores que possuem uma identidade de crédito
diferente, mas pode segregar os de mesma classe, baseando em sua natureza:
operacionais​, os quais a empresa deixa de funcionar sem, e os ​não operacionais​,
que são facilmente substituídos. Dessa forma, os credores são divididos em uma
subclasse e dentro dela devem ser tratados igualmente, mas a existência dessas
subclasses não é obrigatória, dependendo do caso concreto.

Princípio ​PAR CONDICIO CREDITORUM


FALÊNCIA RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Dentro de cada classe, cada credor deve ser tratado É mitigado, aplica-se quando
igualitariamente e todos devem receber na mesma
proporção (o que não significa mesmo valor!) couber.

​ rincípio da unidade ou da indivisibilidade: ​Relaciona-se ao instituto da prevenção


2. P
→ o juízo responsável por julgar um pedido de falência ficará prevento em relação a
quaisquer outros pedidos de falência (pedido para retirar um empresário do mercado) e
para um eventual pedido de recuperação. O que torna o juiz prevento é a ​distribuição
(não o despacho na inicial como no processo civil), a partir da qual todos os pedidos
irão para aquele juiz. O juízo é único e indivisível para evitar que mais de um juízo
decrete a falência da mesma pessoa. Quando se fala deste princípio não há falência e
nem recuperação.
3. Princípio da universalidade: Determina que a decretação de falência e o deferimento
do processamento de recuperação suspenderão a execução e criarão o concurso de
todos os credores daquela empresa (universalidade). Se após o deferimento do
processamento da recuperação judicial o pedido for indeferido, é decretada a falência,
ou seja, no final a universalidade se manterá. É uma proteção aos credores, pois ao
suspender a execução, impede-se que o um dos credores seja beneficiado (protege-se
o princípio da ​par condicio creditorum​).

Competência
Pelo artigo 3º da Lei 11.501/2005, a competência para ajuizar ação de falência e
recuperação judicial será no ​principal estabelecimento do devedor​. A lei, porém, não dá
nenhuma indicação sobre o que define qual é o estabelecimento. A jurisprudência entende que
esse local seria definido pelos seguintes critérios:
1.​ L​ ocal onde a empresa é gerenciada.

2.​ L ​ ocal onde ocorre o maior faturamento da empresa.

3.​ L ​ ocal onde há maior patrimônio da empresa.


Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
3

Analisando caso a caso o Judiciário definirá qual o juízo competente, mas em geral os juízes
congregam estes três critérios (que podem não ser o mesmo lugar).

Recuperação judicial

Destinatário da norma
Tem-se como regra que a Lei se aplicará sempre a empresário e sociedade empresária.
De acordo com o artigo 1º toda sociedade empresária poderá pedir recuperação de empresa.
Exceções: O​ artigo 2º, contudo, estabelece exceções, em que nenhuma abaixo pode pedir
recuperação:
​ ociedade de economia mista e empresas públicas​.
a) S
b) ​Instituições financeiras públicas ou privadas (bancos):​ a lei 6.024/1974
define que pelo banco negociar dinheiro do cidadão, ele estará sempre
sob fiscalização do BACEN. Existem regras e limites para que o banco
empreste o dinheiro. Como Banco Central estabelece diariamente estas
instituições financeiras, poderá descobrir que ele está agindo de modo
ilegal (emprestando mais dinheiro do que pode), devendo então intervir
na instituição (​intervenção extrajudicial​), destituindo diretores e
assumindo a chefia para descobrir o que está acontecendo. Acontece
em certas ocasiões que não baste a intervenção, mas seja necessária a
liquidação extrajudicial (falência extrajudicial instituída pelo BACEN). Se
o Banco Central entender que não basta intervenção, nomeará um
liquidante que irá levantar o ativo e pagar o passivo do banco. Existem
duas circunstâncias em que o liquidante é obrigado a pedir a falência do
banco (o procedimento extrajudicial converte em judicial). ​Uma
instituição financeira só pode falir se ela for liquidada e o liquidante pedir
a falência e o Judiciário a decretar → (1) quando houver indícios da
prática de crime; (2) quando o ativo do banco não for suficiente para
pagar mais de 50% do passivo quirografário. Em suma, não pode haver
pedido de falência de banco pelo credor, apenas pelo liquidante. Esta
exceção se aplica a falência e não a recuperação judicial.
O que se aplica às instituições financeiras também se aplica às
cooperativas de crédito, consórcios, entidade de previdência
complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde,
sociedade seguradora, sociedade de capitalização.

A quem se aplica?
A recuperação judicial é pedida pelo empresário insolvente para evitar a falência. De
acordo com o entendimento jurisprudencial, pede recuperação judicial o empresário (devedor)
que tenha 2 anos de atividade regular (2 anos em funcionamento e 2 anos com registro). Vale
ressaltar que a sociedade em comum (empresa registrada em registro civil e não na junta
comercial) é sociedade empresária e esta submetida a todos os ônus da lei, mas não tem
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
4

benefícios legais como a possibilidade de pedir recuperação judicial. ​Existem, contudo,


impedimentos para uma empresa em atividade regular há 2 anos pedir recuperação judicial:
a) Não ter, há menos de 5 anos, obtido concessão de recuperação
judicial.
b) Microempresas e empresas de pequeno porte têm um procedimento
legal especial. Mas mesmo nestes casos, entre uma recuperação e
outra deve haver 5 anos (antes eram 8 anos).
c) Não ter sido condenado ou ter como administrador ou sócio
controlador pessoa condenada por crime falimentar: a pessoa
jurídica não pode pedir recuperação porque a pessoa física outrora foi
condenada por crime falimentar. A única solução que tem surgido é tirar
o administrador para pedir a recuperação (​v.g. um empresário individual
é condenado, cumpriu a pena, tornou-se empresário de novo, mas não
poderá recuperação judicial). ​A condenação tem que ser antes do
pedido.
d) Para alguém voltar a ser empresário ele não pode ser falido ou, se o
foi, ter obtido a declaração de extinção das obrigações: ​seja pelo
pagamento seja pela prescrição da dívida em 5 anos (após a decretação
de falência há a liquidatária solutória pela qual o patrimônio do devedor é
executado e os credores pagos). Após uma dessas circunstâncias ele
deverá se inscrever na Junta Comercial. De modo desnecessário a lei
coloca como impedimento para a recuperação não ser falido e, se o foi,
ter obtido a declaração. Ora, para se constituir empresário regular é
necessária essa condição. Por óbvio, se ela já é empresária já se
enquadra nessa condição.

Créditos sujeitos à recuperação judicial


A recuperação judicial visa renegociar as dívidas e propor novas condições de
pagamento, mas não é sempre que vale a pena pedir recuperação judicial, pois é necessário
analisar quais os créditos e dívidas que ele poderá renegociar. O artigo 49 da Lei 11.101
dispõe que o devedor pode trazer à negociação todas as dívidas até a data do ajuizamento da
recuperação, vencidas ou não. Os créditos posteriores ao ajuizamento não podem ser incluídos
na recuperação.
A expressão “​existentes​” no artigo causa divergência pelo fato de alguns entenderem
que se trata de crédito líquido e certo e outros não. O Judiciário tende a entender que o crédito,
mesmo que constituído após o ajuizamento, será listado com os demais créditos se seu fato
gerador foi anterior ao ajuizamento da ação. Analisa-se a data que ocorreu o fato que criou a
dívida (se for anterior se inclui). Ex: Bráulio contrai uma dívida com Farid em 2015, mas para
comprovar a existência dela Farid ajuíza ação ordinária. Em 14 de fevereiro de 2017 Bráulio
pede a recuperação judicial e em março de 2017 a dívida de Farid é reconhecida. O judiciário
entende que a dívida de Farid está incluída, haja vista o fato gerador ser anterior ao
ajuizamento. O credor posterior ao ajuizamento não terá seu crédito incluído na recuperação,
mas nas formas normais de execução.
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
5

Ao contrário do que dá a entender o ​caput existem créditos que não estarão sujeitos à
recuperação:
a) Créditos tributários: ​Dispõe a lei que crédito tributário de qualquer
natureza não se sujeita a concurso de credores tanto na recuperação
quanto na falência, ou seja, está excluído do ​caput do artigo 49. De
acordo com a lei o devedor, antes de pedir a recuperação, deverá
apresentar uma Certidão Negativa de Débito Tributário, comprovando
que não possui dívidas tributárias. Judiciário tem entendido que essa
apresentação não faz sentido, haja vista não ter como negociar com o
Estado. Durante 10 anos não houve lei prevendo parcelamento e por
isso o Judiciário não intimava à apresentação do CND. Após a lei o
Judiciário não pede apresentação da certidão, por motivos que não
escrevi (​?​). De qualquer forma o Judiciário entende que a
apresentação da certidão não pode ser exigida. Chegou-se a
conclusão de que para um bem do devedor seja executado para
pagamento de tributo só poderá ser por decisão da recuperação
judicial. Desta feita, a Fazenda Pública só pode executar bens se não
houver recuperação judicial. Ademais, a preferência que a Fazenda
Pública tem sobre os credores não é absoluta.
b) ​Créditos originários de adiantamento de contrato de câmbio
(ACC): ​ACC é um contrato bancário exclusivo de empresários que
trabalham com exportação para trazer ao Brasil a moeda, precisando
trocá-la pela moeda nacional. Quando alguém precisar de um
empréstimo a um banco, ele emprestará em real, mas como garantia
os contratos de câmbio firmados no futuro. Quando o empresário
receber o valor dos contratos de câmbio pagará o banco. Este
empresário, porém, não realiza o negócio e acaba por entrar em
recuperação judicial. Quando os créditos forem incluídos na
recuperação judicial, os créditos originados de ACC não serão
colocados na lista. É fruto de lobby bancário.
c) Outros créditos: ​A lei exclui os créditos a seguir da recuperação, mas
estabelece que a partir de deferimento do processamento da
recuperação, o credor está impossibilitado em 180 dias de buscar o
bem se ele for essencial à atividade da empresa que está em
recuperação:
i. ​Créditos por alienação fiduciária em garantia: O
contrato de alienação fiduciária é um contrato em que
se toma um empréstimo, compra-se um bem em nome
do banco e quando se paga o empréstimo, o bem
automaticamente passa para seu nome. Mas quando é
tomado o empréstimo é oferecido o bem como
garantia à alienação. Na recuperação judicial não
entrará os créditos por alienação fiduciária em
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
6

garantia, exceto no que exceder a garantia. Ex:


Alguém toma um empréstimo no valor de 10 milhões e
oferece um bem em garantia no valor de 10 milhões.
No tempo da execução o valor está em 15,5 milhões
enquanto o bem oferecido em garantia alienação
fiduciária desvalorizou para 5 milhões. Estes 5 milhões
garantidos não entrarão na recuperação judicial, mas o
saldo do crédito não coberto pelo valor do bem – 10,5
milhões – será crédito quirografário, se sujeitando à
recuperação.
ii. Créditos originados de arrendamento mercantil
(leasing): ​Arrendamento mercantil é um contrato de
locação para que no final haja a possibilidade de
comprar o bem,
iii. Créditos originados de compra e venda com
reserva de domínio: ​Compra-se um bem, se entrega
a posse, mas não a propriedade (domínio).
d) Créditos garantidos por cessão fiduciária de crédito: ​Nos três
casos anteriores a operação foi garantida por um bem móvel e imóvel.
Neste último caso a garantia se dá através de crédito. (Ex:
construtora, contratando com a União, pede empréstimo a um banco
para o início da obra. Como garantia ele apresenta como garantia o
contrato com a União – que um dia pagará - cedendo créditos futuros
à instituição financeira.) Nesse contrato o banco imporá que o cliente
(União) do devedor (contrutora) só pagará em uma conta no próprio
banco (​trava bancária​). Se o devedor que pede recuperação judicial
tiver créditos garantidos por cessão fiduciária, esses créditos não
serão incluídos na recuperação. O judiciário entendia que a cessão
fiduciária deve estar registada no Cartório de Títulos e Documentos,
caso contrário, não haveria garantia e tampouco trava bancária,
transformando-te o credor em quirografário na recuperação.
Recentemente o STJ definiu que essa eficácia dependente do registro
é perante terceiros. Nem sempre esses créditos estarão excluídos da
recuperação. Uma exceção é o caso de rescisão do contrato, quando
não haverá mais garantia. Converte-se o credor em quirografário.

Fase postulatória

Petição Inicial
A fase postulatória começa com a petição inicial que, além dos requisitos habituais de
toda petição, deverá apresentar:
a) Fatos: Exposição das causas do pedido de recuperação e
demonstração de que há possibilidade de sair da crise.
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
7

b) Direito: Demonstração dos requisitos da recuperação judicial e


ausência de impedimentos.
c) Requerimentos: ​Requerer que o juiz deferir o processamento de
recuperação judicial e todas as consequências que se ato
provocar. Essas consequências estão definidas em lei, portanto
não há necessidade de transcrever.
d) Valor da causa: ​o valor do débito em relação aos credores que
são passíveis da recuperação judicial.
e) Pedido: ​que ao final se conceda a recuperação judicial.

Com a petição inicial dever-se-á apresentar documentos além daqueles que comprovem
os requisitos e que não há impedimentos:
a) Demonstrações contábeis dos últimos três anos: balanços, projeção do fluxo
de caixa, etc.
b) Relação dos credores: ​Nome, domicílio, natureza, valor e origem do crédito
(comprovados por notas fiscais). Aqui se decidirá se o credor está ou não sujeito
à recuperação (pela natureza do crédito) (​v.​ g.: credor fiduciário, pelo valor a
mais será incluído como credor quirografário). Enunciado 78 da IIJ definiu que,
para balizar a atuação do judiciário e expondo claramente a situação do
devedor, sejam listados não apenas os credores sujeitos a recuperação judicial,
mas todos, sempre separando os dois grupos.
c) Relação de todos os empregados: ​Nome, cargo e salário. Devem ser listados
para demonstrar a relevância social e econômica do credor com a quantidade de
pessoas empregadas.
d) Extratos atualizados das contas correntes do devedor: ​Exposição de tudo o
que devedor possui em contas bancárias e aplicações.
e) Certidão de protesto​;
f) Relação de ações judiciais em curso: ​Se o juiz proferir o deferimento, ele
influenciará todas as ações judiciais que tramitam contra o devedor. Nem
sempre uma ação em curso provocará um crédito na relação de credores, mas
quando for, no dia que essa ação for julgada procedente será incluída na lista de
credores, pois a causa é anterior.
g) Relação de bens dos administradores e quotistas: ​A utilidade de listar a
relações de bens é que ​se essa empresa quebrar e ​se ficar comprovado que
houve responsabilidade destes administradores, já está exposto quais os bens
deles.

A análise da petição judicial por parte do juízo irá apenas analisar se estão preenchidos
os requisitos e deferir o processamento (é a regra entre os juízes, mas com exceções).
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
8

Requisitos do deferimento do processamento

Administrador Judicial
A lei prevê intelecção das atribuições do administrador judicial, ou seja, nos autos da
recuperação ele não pode se fazer substituir por ninguém (a pessoa jurídica deve escolher uma
pessoa física para representá-la em juízo). O administrador deverá se manifestar sobre o
balanço, analisando-o (contrata-se um perito contábil para isso quando o administrador não
seja completamente apto para tal, sendo este apenas responsável pelo parecer, utilizando do
trabalho do perito para a análise a ser feita).
Há uma discussão se a remuneração desses auxiliares, como o perito, deve ser paga
pelo próprio administrador ou pela própria empresa em recuperação. Além disso, existem
pessoas que não podem ser administradores: quem já foi administrador e foi destituído do
cargo nos últimos 5 anos (houve uma falha na função, visto que o juiz o destituiu do cargo);
amigo ou inimigo da empresa em recuperação, bem como dependentes da empresa; quem tem
parentesco de até terceiro grau com empresários ou seus gestores.
A lei prevê também a hipótese de substituição do administrador: se ele morrer; se ele
ficar incapaz; e se ele falir (é possível que no decurso da recuperação o juiz decrete a falência
da empresa devedora - convolação da recuperação em falência – após do deferimento do
processamento, em que o juiz pode considerar o administrador que é apto para a recuperação
não ser o mesmo para a falência, substituindo-o). No caso de destituição o administrador não
faz jus à remuneração, mas na hipótese de substituição a sua remuneração é proporcional ao
trabalho realizado.
O administrador em qualquer hipótese tem responsabilidade civil e criminal, podendo
responder com o próprio patrimônio e existindo a possibilidade de responsabilidade tributária,
respondendo por tributos não pagos.
Nomeado o administrador, a pessoa tem 48 horas para assinar um termo de compromisso
assumindo o encargo, em que se não cumpri-lo a pessoa é destituída (e entra naquele prazo
de 5 anos de vedação para sua nova nomeação como administrador judicial).

Suspensão das ações e execuções ajuizadas contra o devedor – artigo 6°, parágrafo 4°
As ações são suspensas por 180 dias ao argumento da universalidade dos credores ser
preservada. Definiu-se esse prazo porque o legislador, ao criar o procedimento da
recuperação, imaginou que está ação duraria, no máximo, 180 dias (claramente, não é o que
acontece na prática).
Como o prazo não é cumprido, não faria sentido que as ações suspensas voltassem, ou
seja, o simples decorrer dos 180 dias não significa que as ações devem voltar a tramitar, o que
gerou um enunciado (42 da Jornada I), em que os 180 dias podem ser excepcionalmente
prorrogados, caso não puder atribuir ao devedor o excesso de prazo.
Não se sabe se o prazo corre em dias úteis ou corridos, o professor entende que seja
um prazo processual, mas não o veem assim mesmo que se encontre dentro de um processo.
Como não há nada sedimentado, é mais prático que conte em dias corridos.
Todas as execuções são suspensas? Só aquelas que são baseadas em títulos líquidos
e certos (execução de título extrajudicial ou judicial, por exemplo), ou seja, ações ordinárias
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
9

não são suspensas porque não há liquidez e certeza na dívida, devendo discutir o crédito e
continuar tramitando até que se constitua o crédito (acredita-se que se a sentença da ação
ordinária for posterior ao deferimento do processamento o crédito constituído é passível de
recuperação por ser sua origem anterior ao pedido de recuperação). Em relação às ações
monitoria há discussão, pois não se sabe se considera como crédito passível para tal (apesar
de haver dívida certa, não há titulo), já em relação às execuções fiscais estas não podem
chegar a penhora dos bens dos devedor, pois deve analisar se o(s) bem(ns) são essenciais ou
não. As ações de banco de execução de cessão fiduciária não são suspensas porque esse tipo
de crédito não é sujeito a recuperação, mesmo que seja lastreado em liquidez e certeza (no
caso desse crédito não ser pago ser necessário para a continuidade do funcionamento da
empresa, cabe ao juiz da recuperação analisar se o dinheiro ou o bem pode ser entregue ao
banco). As ações de busca e apreensão são suspensas se o bem que é objeto da mesma
forma essencial à atividade do devedor, se não for essencial a busca e apreensão pode ocorrer
normalmente.

Dispensa do devedor da apresentação de certidões negativas para que o mesmo


contrate
Existem circunstâncias que para uma pessoa jurídica, normalmente, possa contratar,
ela deve apresentar uma série de certidões negativas. A lei diz que a empresa em recuperação
poderia ficar sem apresentá-las, salvo quando a contratação for com o Poder Público.
Conclui-se que as empresas evitarão contratar com o Poder Público por conta dessa ressalva.
As certidões que esse tópico se trata são: a certidão negativa de recuperação judicial e
a tributária e fiscal, mas há discussão sobre quais realmente são, visto que a lei não é
expressa. Existem decisões no STJ que as empresas que só trabalham com obras públicas,
por exemplo, não precisariam apresentar certidões, porque vivem de contratação com o Poder
Público.

Agravo
Cabe agravo de instrumento para a decisão do deferimento do processamento? Cabe,
por ser uma decisão que não dá fim ao processo, mas existem jurisprudências que discordam
por conta do artigo 1015 do CPC não trazer de forma expressa a hipótese de deferimento do
processamento.
A Lei de Recuperação é explícita sobre o fato da Decisão (é uma sentença que não
encerra o procedimento) de Concessão de Recuperação Judicial caber agravo (observa-se que
na Sentença de Encerramento da Recuperação Judicial cabe apelação por esta dar fim ao
processo) e por ser um assunto único, não pode discutir sobre o processamento do
deferimento nele (não há irrecorribilidade em separado).

Verificação e classificação dos créditos


O Juiz deu o deferimento do processamento e publica-se um edital que determina que
os credores terão prazo de 15 dias para apresentar suas divergências com relação à relação
de credores que o devedor apresentou na petição inicial. Pode existir divergência sobre
ausência de nome na lista, o crédito não se sujeitar à recuperação, o valor do crédito e
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
10

classificação do crédito. Apresentam-se as divergências ao administrador judicial com cópia


autenticada, ou seja, a primeira fase da recuperação é administrativa e não judicial (a petição
deve ser dirigida ao administrador!).
O credor pode objetar o Plano de Recuperação Judicial, o que é feito ao Juiz, enquanto
a divergência apresentada ao administrador faz referência ao crédito em si, sobre sua
classificação e valor, por exemplo.
Terminados os 15 dias, o administrador tem 45 dias para a analisar as divergências (se
ele não cumpre esse prazo é motivo para sua destituição). Ele tem acesso a contabilidade da
recuperanda e ao final dos 45 dias, fará uma relação dos credores (Relação de Credores do
Administrador Judicial), publicando um novo edital com essa relação, corrigindo o primeiro
edital publicado. Com a publicação desse edital começa a correr um prazo de 10 dias para
quem não concorda com o edital do administrador, devendo tomar uma medida judicial (não
mais administrativa), ingressando com uma ação de Impugnação de Crédito, a qual só pode
ser ajuizada pelos credores, podendo um credor impugnar o crédito de outro credor, além do
próprio, inclusive o credor que perdeu o prazo de apresentar divergências pode impugnar.
A partir do momento que há a universalidade de credores, todo mundo pode recorrer de
tudo, seja credor, devedor ou MP, Fazenda Nacional e administrador judicial. Claro que vai
depender do entendimento do Tribunal se cabe agravo, como discutido acima.
Além disso, após os 15 dias de apresentação de divergências, existe a oportunidade de
se ajuizar uma Habilitação de Crédito, para discutir o crédito, a qual será discutida/julgada junto
com as Impugnações de Crédito.
Passados os 10 dias para ingressar com a Impugnação de Crédito, pode-se ajuizar a
mesma ação a qualquer momento, chamando-a de Impugnação de Crédito ​Retardatária​, em
que tem como consequência a perda do direito de votar na Assembleia de Credores.
Lembrando que por conta do princípio do Juízo Universal, o Juiz da recuperação é prevento
para o julgamento de todos os procedimentos ligados (são procedimentos autônomos e não
apensados).
Todos os procedimentos citados (Impugnação e Habilitação) são decididos por
sentença que são recorríveis por ​agravo de instrumento​, por não ter efeito suspensivo (a
apelação, por possuir tal efeito, suspenderia a publicação do Quadro Geral de Credores).

O mesmo procedimento ocorre na falência, a qual se inicia com a sentença que decreta a falência e que tem
como consequência, da perda do prazo da Impugnação de Crédito, o risco de não receber seu crédito, se
não estiver na lista de credores por não ter sido julgada ainda, e se o dinheiro do devedor acabar ele ficará
sem receber.

Depois do Juiz julgar todas as Impugnações de Crédito, publica-se o ​Quadro ​Geral de


Credores (se houver algum problema, para modificá-lo há de se ajuizar uma ação com as
mesmas características da ação rescisória do processo civil). Na prática, na Assembleia de
Credores, a lista utilizada é a “em vigor”, podendo até mesmo ser a primeira lista publicada em
edital, dependendo do caso concreto.

Quadro Geral de Credores


Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
11

Os procedimentos são iguais, mas a elaboração do quadro geral de credores é diferente


na falência.
● Créditos de relação de trabalho (e também acidente de trabalho)
Eles possuem limite na recuperação judicial
● Créditos com garantia real
O credor é colocado na lista na quantia avaliada do bem e o que ultrapassa é colocado
na classificação de quirografários
● Créditos com privilégio
A Lei é quem dá o privilégio, como o CC e o Código da OAB.
○ Com privilégio geral
Os honorários advocatícios têm privilégio geral segundo a lei que regulamenta a
advocacia e a Ordem dos Advogados, mas discutiu-se que tais créditos são
alimentícios e deveriam ser considerados trabalhistas, o que foi consolidado pelo
NCPC, dando um caráter alimentar aos honorários. Com isso como se observa a
classificação na recuperação? Agora os classifica como créditos trabalhistas,
com limite de 150 salários mínimos e o excede é crédito quirografário (o
professor acha que deveria ser considerado de privilégio geral, mas na
recuperação não faria diferença, pois ambos se encontram na mesma classe de
créditos).
○ Com privilégio especial
● Créditos quirografários
Trabalha-se com exclusão, visto que esses créditos não são trabalhistas, nem têm
privilégios, nem nada.
● Créditos subordinados
A subordinação é ao crédito do acionista, isto é, os debenturistas sem garantia.
Deferido o processamento de recuperação e apresentado o plano de recuperação com alguma
objeção, ocorre uma assembleia de credores, os quais, nessa assembleia, são separados em 4
grupos que votam o plano de recuperação (o grupo 1 é referente aos credores de créditos
provenientes de relação de trabalho; o 2 os de garantia real; 3 os com privilégios, quirografários
e subordinados; e o 4, existente apenas na recuperação, é constituído por microempresas e
empresas de pequeno porte, os quais seriam, provavelmente, credores quirografários se não
houvesse tal separação).

Desistência da Recuperação Judicial


Pode desistir até certo ponto, em que até o deferimento do processamento a
desistência pode ser realizada unilateralmente, sem a necessidade da anuência de ninguém.
No entanto, se o Juiz já tiver dado o deferimento e a universalidade de credores já tiver
existindo, a desistência é possível, mas só com a anuência dos credores que ocorrerá numa
assembleia de credores requisitada pelo Juiz (considerando o número de credores presentes e
levando em conta o crédito de cada um para o voto). A desistência envolve escolhas políticas e
não se confunde com a confissão de falência.

Plano de Recuperação Judicial


Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
12

O devedor tem o prazo de 60 dias para apresentá-lo e a não apresentação dele é


motivo para que o Juiz decrete a falência do devedor. O plano deve possuir os seguintes
requisitos:
● Discriminação dos meios de recuperação
Isto é, como o devedor se recuperará. A Lei traz a lista dos meios, os quais são todos
aceitos e sendo a lista meramente exemplificativa, como o aumento do prazo, dos juros, da
carência de pagamento, venda de ativos da empresa, a cisão da empresa, dispensa de
empregados, aumento de capital, entre outros meios. Entra aqui o princípio do ​par condicio
creditorum, ​com a sua aplicação no que couber, pois os credores, dependendo da situação do
devedor, podem ser tratados de forma desigual na recuperação, isto é, o Judiciário permite que
o devedor faça proposta diferentes para credores de mesma classe, mas deve haver coerência
(como o caso de credores quirografários essenciais e não-essenciais, privilegiando os
primeiros). ​Enunciado 57, Jornada I, e 81 da Jornada II.
Como dito acima, o PRJ pode prever a venda de ativo a terceiros, em que se criou a
figura da ​unidade produtiva isolada (UPI) que podem ser criadas para que o devedor as
venda a terceiros como meio de se recuperar. Porém, tal figura traz certos problemas, pois não
se define o que é uma unidade produtiva de fato, como no caso de um imóvel inutilizado pelo
devedor (mas a UPI não se limita a ser apenas um imóvel). A possibilidade de venda de ativo é
para que nessa venda não haja a transmissão de passivo, em que o comprador recebe o bem
sem qualquer ônus, principalmente de natureza tributária (sendo diferente do contrato de
trespasse em que há a transmissão de todas as dívidas com a compra de um estabelecimento,
tendo em conta que o comprador é um sucessor universal). Essa venda deve ser feita por meio
de um leilão, ou seja, a venda é pública (art. 60 c/c art. 142).
● Laudo de avaliação dos bens do devedor
É um laudo particular.
● Demonstração de viabilidade do Plano de Recuperação Judicial

O que o PRJ não pode conter?


● Prazo superior a um ano para o pagamento dos créditos trabalhistas
Em que os salários vencidos devem ser pagos em 30 dias.

Os credores podem apresentar objeções sobre o plano, enquanto o Juiz deve garantir a
legalidade do acordo (como no caso do não pagamento de juros, tendo em vista que a
porcentagem tornaria o pagamento inviável, por causa do imposto sobre o desconto, no caso
do pagamento integral, mas é considerado ilegal com base na lei que determina a existência
dos juros).

Objeção
Peça processual contra o PRJ que não precisa ter diversas teses, deve apenas dizer
que não “gostou” do plano apresentado, levando a AGC a ocorrer. O prazo de 30 dias começa
do edital do recebimento do plano, sendo que quem não está na lista original de credores ​não
pode apresentar objeções​, sobrando, então, o prazo para apresentar divergência.
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
13

O devedor tem 60 dias para apresentar o plano > 15 para os credores apresentarem divergências em relação
ao créditos deles > o administrador tem 45 dias para apresentar nova relação de créditos > edital.

Se o credor foi adicionado a lista de credores depois que o prazo de 30 dias de objeção
passou, este possuirá o prazo de 30 dias para apresentar suas objeções que começa a fluir do
edital da nova relação de credores. ​Artigos: ​53 e 7º, §2º.
Se ninguém apresentar objeções, não haverá a Assembleia Geral de Credores, pois se
entende que eles concordaram com a recuperação, em que o juiz vai direto para a sentença de
concessão. No caso de apenas um credor apresentar objeção, ocorre a convocação da AGC,
mas pode ocorrer a desistência da objeção? A jurisprudência diz que sim, levando ao
cancelamento da assembleia e à concessão da recuperação.

Assembleia Geral de Credores


Explicação geral: ​Acontece na falência e na recuperação, tendo como competência a
aprovação, modificação ou rejeição do plano de recuperação judicial​; a discussão sobre a
constituição do comitê de credores​, que é um órgão presente em ambos os procedimentos e
é constituído por um credor por cada grupo de credores, sem recuperação alguma e com o
objetivo de fiscalizar o administrador judicial e o andamento da recuperação, por exemplo; a
deliberação sobre pedido de desistência​, pois o devedor só pode desistir unilateralmente
antes do deferimento do processamento, após esse deferimento o juiz nem ao menos aprecia
tal pedido, apenas convoca a assembleia para que os credores concordem ou não com a
desistência do devedor; a ​nomeação do gestor judicial​, que não se confunde com o
administrador, sendo aquele o que substitui o administrador DA EMPRESA, o qual fora
afastado por determinação do juiz, sendo ele indicado pela assembleia e o juiz é quem nomeia,
sabendo que enquanto o gestor não é nomeado, a função de administração é do administrador
judicial; e existem ​outros interesses dos credores​.
A ​convocação é sempre feita pelo juiz, porque a lei determina que seja convocada,
como a apresentação de objeções, ou porque os credores, devendo ser aqueles que
representem, no mínimo, 25% dos créditos, solicitam a convocação. A ​instalação é dada na
primeira convocação se presentes credores que representem mais da metade dos créditos de
cada classe (I – créditos derivados de relação e acidente de trabalho; II – créditos com garantia
real; III – créditos quirografários, com privilégio geral e especial, e subordinados; e IV – ME e
EPP). Existe o prazo mínimo de 5 dias entre as convocações, sendo que o credor ausente,
mas representado deve apresentar uma procuração com poderes especiais em até 24 horas
antes da assembleia para o administrador judicial ou deve avisá-lo, indicando as folhas da
procuração, na hora da assembleia que a procuração já apresentada no processo já possui os
poderes especiais. Se um sindicato for representado, a procuração deve ser apresentada em
até 10 dias antes da assembleia e com indicação das pessoas que serão representadas (não
sendo possível que um trabalhador que tenha dado o poder ao sindicato para representá-lo
queira ir na assembleia também, pois já será representado). Na ​segunda convocação a
assembleia será instalada com qualquer número de credores.
Existe uma regra geral que se aplica a todas as deliberações, salvo para a aprovação
do plano de recuperação. A regra geral consiste em: ​A matéria é aprovada com o voto
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
14

favorável de mais da metade dos créditos presentes na assembleia, independente de grupo ou


classe​. Percebe-se que quem decide sobre o futuro da empresa são os credores e não o juiz.
● Aprovação do plano pelos credores:​ Ocorre a concessão da recuperação;
● Rejeição do plano pelos credores:​ Decreta a falência do devedor;
● Modificação do plano apresentado: ​Apresentam uma proposta para modificá-lo, em
que o devedor deve concordar com tal mudança, ocorrendo, assim, a concessão da
recuperação. No caso dele discordar, decreta sua falência;
Pode ocorrer do devedor requerer a ​suspensão da Assembleia ​para
apresentar uma modificação do plano, tal hipótese não está na lei, mas é presente na
prática, em que a mesma Assembleia tem o seu prosseguimento no futuro, pois ela é
una​. O quórum desse pedido é aquele da regra geral: mais da metade (50% + 1) dos
créditos presentes, sendo que nesse novo prosseguimento só se aceitam os mesmos
credores presentes na primeira sessão, não aceitando a presença daqueles que
estiveram ausentes (Enunciado 53, I).
Essa nova proposta pode ser direcionada para os credores presentes,
agradando-os, pois não se aceita a presença dos ausentes na primeira sessão, o que
demonstra um tratamento desigual, mas que normalmente acontece na prática.

Quórum de votação do plano


Utiliza da mesma regra para instalação da Assembleia, separando os credores nas
grandes classes (I – créditos derivados de relação e acidente de trabalho; II – créditos com
garantia real; III – créditos quirografários, com privilégio geral e especial, e subordinados; e IV –
ME e EPP - em que a modificação da lei que incluiu essa última classe trouxe caos, pois foi
uma modificação parcial). A aprovação do plano depende da aprovação de ​todas as classes
votarem favoravelmente ao plano​, no caso de uma classe não estiver presente, não há
necessidade do seu voto favorável (pode ocorrer de uma recuperação não possuir os créditos
de alguma classe também).
Nas ​classes I e IV ​os votos serão computados ​por cabeça​, não sendo relevante saber
qual é o valor dos créditos de cada um e precisando de mais da metade dos presentes (50% +
1) votando favoravelmente. Enquanto nas ​classes II e III será por ​cabeça e crédito​, ou seja, a
aprovação do plano depende do voto favorável da ​maioria dos presentes e dos créditos
presentes na Assembleia​, devendo fazer a conta, somando os créditos de cada credor que
tenha votado favoravelmente, pois são requisitos cumulativos (cabeças + créditos) e se faltar
um deles, quer dizer que a classe não aprovou o plano e o devedor tem sua falência decretada.
No que tange ao sindicato, este representa apenas quem a procuração o nomeou como
representante, sendo que seu voto conta por cada cabeça representada.

O nosso ordenamento é baseado no Código americano, em que lá, mesmo que a Assembleia tenha rejeitado
o plano, o juiz pode conceder a “reorganização”, isto é, faz o ​cram down.

No Brasil, o ​cram down daqui, é a possibilidade que a lei traz de o juiz conceder a
recuperação mesmo que o plano tenha sido rejeitado pela Assembleia (art. 58, §3º), mas se
nos EUA a concessão está no convencimento do juiz, aqui o legislador criou condições (as
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
15

quais são cumulativas também) para que o juiz conceda a recuperação nessa situação e elas
são:
● Voto favorável de mais de 50% dos créditos presentes da Assembleia:
Deve somar todos os créditos presentes e ver quem votou favoravelmente
para a concessão da recuperação.
● O plano só pode ter sido rejeitado por DUAS classes, no caso de haver
QUATRO presentes: Ou seja, como se fosse metade (se houvessem três ou
duas, a rejeição no máximo de uma classe, e se houver apenas uma, não se
aplica o ​cram down)​ . O erro da modificação das classes entra aqui, pois não
houve a modificação desse critério, o qual diz que só pode haver a rejeição
de uma classe, mas com a entrada da classe dos ME e EPP, tem-se como a
metade como novo critério.
● Na classe que rejeitou (ou classes) deve ter havido voto favorável de
mais de ⅓ dos credores contados por cabeça e por crédito daquela
classe: ​Inclui-se as classes I e IV que no voto se conta apenas por cabeça.
Realizada a assembleia-geral, juntarão aos autos a ata da mesma para que o juiz
analise a possibilidade de ​cram down e ​ depois se intimará o devedor a apresentar as certidões
negativas dos tributos (hoje existe a possibilidade de parcelamento dos tributos, pois precisava
da regulamentação, art. 68). Existem as três hipóteses: o ​devedor apresenta a CND e aí está
pronto para artistas decisão decisão recuperação; o ​devedor não apresenta​, o que levaria a
sua falência ser decretada pelo juiz; ou o ​devedor apresenta uma certidão positiva com
efeito de negativa​.
Os juízes perceberam que o poder de decisão não estava nas mãos deles, e sim dos
credores/da assembleia, que começaram a decidir sobre a legalidade dos planos, pedindo que
certas cláusulas não tenham efeito ou que o devedor apresente novo plano, por exemplo.
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
16

Sentença de concessão
Ao conceder a recuperação ele vai proferir uma sentença de concessão, sendo ela uma
título executivo judicial. Essa sentença ​não põe fim ao procedimento​, dando início a fase de
execução do plano e contra essa sentença cabe agravo de instrumento.
Essa fase de cumprimento do plano de recuperação judicial tem prazo determinado de
2 anos de duração, em que o administrador judicial ficará vigiando, assembleias poderão
acontecer e o devedor continua em recuperação. Se durante os dois anos o devedor
descumpre a lei de recuperação (ela traz uma série de obrigações para o devedor empresa
recuperação) ou o plano, o juiz decretará sua falência.

Terminados os dois anos sem o devedor descumprir algo, o juiz vai proferir a sentença de encerramento da
recuperação, sendo esta apelável.

o cumprimento dos meios de recuperação não são limitados aos dois anos da fase executória,
mas as verbas trabalhistas devem ser pagas em até um ano. Lembrando que se houver o
descumprimento de qualquer obrigação do plano ou a lei ocorre a convolação de recuperação
em falência.

Sentença de encerramento
Pode haver obrigação a ser cumprida depois dessa sentença, sendo que esta é passível de
apelação.
No caso de obrigações que restaram (seja de fazer, de dar ou de pagar) e o devedor não as
cumpre, os credores tem a faculdade de ​ajuizar execução (ajudar sentença de concessão é
um título executivo) que vai depender da obrigação que os envolve, ou ​ajuizar um pedido de
falência​, em que o pedido é feito com base no descumprimento de obrigação assumida em
plano de recuperação (art. 94, III, g), sendo desnecessário o protesto desse título e não
podendo pedir outra recuperação se sua falência for decretada. Nessa segunda hipótese o
juízo é prevento, na primeira não.
Desde o deferimento do processamento até a sentença de encerramento, o devedor não pode
alienar ou onerar bens do seu ativo permanente sem autorização judicial, todo o patrimônio
imobilizado do devedor, existe a possibilidade de venda só se estiver previsto no plano (como
no caso de UPI) e ele tem que incluir no seu nome “em recuperação judicial”.

No curso dos dois anos da fase executória


O juiz concedeu, está no prazo de dois anos e há obrigações a serem cumpridas, mas o
devedor acha que não vai conseguir cumpri-las e resolve renegociar o crédito dos credores,
acontecendo o plano do plano (não é regulamentado, mas o Judiciário vem aceitando).
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
17

Convoca-se nova Assembleia para discutir e repactuar (há divergências sobre o prazo de dois
anos da fase executória, se ele recomeça ou não).

FALÊNCIA - Lei 11.101/05

O objetivo da falência é retirar o devedor insolvente do mercado, minimizando as


consequências de uma insolvência para a economia. Quando se legisla sobre falência, quer
dizer que tem o interesse de limpar a atividade econômica de forma geral e tirar as pessoas
insolventes que irão, em um efeito dominó, só produzir mais insolventes.

Requisitos para configuração do estado falimentar


1. Devedor: ​empresário, pois quem não é empresário não tem falência decretada;
2. Causa: ​insolvência, isto é, o ativo é menor que o passivo (patrimônio < dívidas) e como
os instrumentos contábeis de uma empresa são sigilosos, o legislador previu situações
em que se presume a insolvência do empresário.
a. Hipóteses de presunção de insolvência (​ art. 94 Lei de Falência)
1. Impontualidade: “​Art. 94, I - sem relevante razão de direito, não paga,
no vencimento, ​obrigação líquida materializada em título ou títulos
executivos protestados ​cuja soma ultrapasse o equivalente a 40
(quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência;” em que tais
requisitos desse inciso são cumulativos e ​obrigação de fazer só é
passível de pedido de falência se for convertida em obrigação de
pagar​. Sendo que tem que ser determinado que a obrigação é de pagar,
contratualmente ou judicialmente e que essa obrigação de pagar seja
materializada em algum documento (podendo hoje utilizar de cópia se
comprovar que o documento original esteja em algum outro processo
judicial), sendo que se for um título executivo, o mesmo deve estar
protestado cambialmente. Já no que tange à quantia de 40 salários
mínimos, este pode ser a junção dos credores litisconsortes ou de
apenas um credor. Importante observar o que a jurisprudência diz: ​(1) ​O
judiciário tem entendido que a intimação deve se dar por AR com
identificação de quem recebeu a notificação do processo. A primeira
dificuldade é essa, saber a identificação de quem recebeu; ​(2) ​Há
decisões de que essa intimação não pode ser por edital; ​(3) ​Há decisões
de que esse protesto tem que ser tirado (protestar) onde se situa o
principal estabelecimento do devedor, o que ninguém faz, e ​(4) ​Na
notificação é preciso constar que o protesto é para fins falimentares. A
obrigação tem que somar mais de 40 SM (R$37.480,00) na data que
você está ajuizando o pedido de falência.
2. Execução frustrada: Ocorre quando o credor, ao ajuizar uma execução
contra o devedor, e nela não houver pagamento e nem penhora de bens
suficientes para garantir a execução, tem a execução frustrada. Como
não possui os mesmos requisitos do inciso anterior, a ação falimentar
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
18

será ajuizada autonomamente e o pedido de falência será distribuído


aleatoriamente, não existindo prevenção deste juiz da execução e não
sendo um pedido da execução.
3. Atos de insolvência/atos ruinosos/atos falimentares: ​São hipóteses
em alguns casos de cunho subjetivo, de dificílima comprovação, que
irão trazer uma discussão infindável para o judiciário. Os itens são:
a. Meios ruinosos;
b. Simulação de negócios;
c. Trespasse sem anuência dos credores: venda do
estabelecimento, venda de todo o patrimônio a um empresário –
precisa de anuência dos credores;
d. Simulação de trespasse;
e. Devedor que outorga ou oferta garantia real para dívida
preexistente: ​o devedor deve a alguém, essa dívida vence ou
não, aqui não interessa, e o devedor a esse credor para uma
dívida que já existe, uma garantia real. De acordo com a lei este
ato seria um ato ruinoso e legitima os credores a pedirem
falência desse devedor, porque fere o princípio do ​par condicio
creditorum.​ Agora, se o devedor contrai um empréstimo com
garantia real no banco, por exemplo, isso não é ato ruinoso.
Quando a oferta da garantia real se dá junto à dívida, não é ato
ruinoso;
f. Fuga ou ocultação do devedor​: como no caso de uma ​empresa
com portas fechadas, onde nunca se encontra ninguém, se
enquadra nesse caso;
g. Descumprimento de obrigação contraída em recuperação
judicial: ​É a hipótese mais importante​.
3. Sentença judicial: ​só se considera falido quem teve contra si uma sentença
declaratória de falência.
a. Competência para julgar o pedido de falência é do local onde se encontra o
principal estabelecimento;
b. Princípios da unidade e da universalidade​: a unidade do juízo falimentar
significa que aquele juiz que recebe o pedido de recuperação é prevento para
julgar o de falência. Quanto à universalidade na falência não existe discussão. O
juízo da falência só não vai ser competente para julgar as ações fiscais, as
ações trabalhistas até que se chegue a liquidação do crédito, as ações em que a
união for parte ou interessada, ações em que a massa falida for autora.
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
19

c. Massa falida​: ​No momento em que o juiz prolata uma sentença declaratória de
falência, acontece uma coisa semelhante ao momento em que uma pessoa
morre (espólio), surge outra pessoa que é a massa falida do devedor, que em
alguns momentos vai ter interesses divergentes do devedor. ​Sendo que o que
congrega a massa falida são ​os bens do devedor e esse ente que surgiu vai
administrar o patrimônio do falido em prol do interesse dos credores (a empresa
faliu e um dos bens dessa empresa é um imóvel que está sendo invadido, nesse
caso quem tem legitimidade ativa de ajuizar ação pra recuperar o bem é a
massa falida, sendo que essa ação que a massa falida vai ajuizar não vai
tramitar no juízo universal da falência).
d. Legitimidade ativa​:​ Pessoas com legitimidade ativa:
i. O próprio devedor: ele será autor e “réu” do processo, na verdade não
será réu, pois se assemelha a uma jurisdição voluntária, em que apenas
ele sofrerá as consequências da sentença. O fato de ele estar pedindo
sua falência não abona a exposição de motivos pra ela, devendo trazer,
inclusive, uma série de documentos com a petição inicial, por exemplo, a
lista de credores.
ii. O credor: ​é o mais comum de se acontecer, devendo comprovar a
insolvência pelo art. 94, I, II ou III. Tem-se a seguinte dúvida: ​a fazenda
pública, sendo credora de crédito fiscal, lastreada em certidão de dívida
​ esmo preenchendo todos os requisitos do
ativa, pode pedir falência? M
art. 94, I, a fazenda pública possui a possibilidade de cobrar seu crédito
por fora, pois o crédito tributário não se sujeita à falência, assim, o
judiciário tem decidido que a fazenda pública não tem interesse de agir,
porque seu crédito não está sujeito ao procedimento de falência. Já o
​ qual pode executar seu crédito em ação
credor com garantia real, o
apartada, visto que na falência o bem que foi dado em garantia, quando
for vendido, vai ser entregue o dinheiro ao credor com garantia, na
falência do devedor é como se tacitamente renunciasse à garantia, em
outros termos, a falência acaba se assemelhando à execução singular.
Noutro giro, pode um empresário requerer a falência de outro
empresário, caso tenha comprovado que é um empresário regular e o
caso do credor não domiciliado no Brasil, ele pode pedir a falência, mas
deverá fazer uma caução, um depósito judicial para garantir o pagamento
das custas processuais.
e. Citação​:​ O devedor tem o prazo de 10 dias para:
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
20

1. Assumir que deve e pagar a dívida: Esse pagamento chama-se


“depósito elisivo da falência” (valor da dívida corrigida monetariamente
acrescida de juros legais mais honorários advocatícios), em que o juiz já
definirá os honorários, para o caso desse depósito. Esse depósito só é
possível se o pedido de falência foi feito com base nos incisos I e II do
art. 94. Se for feito com base no inciso III não tem nenhuma chance.
2. Apresentar contestação e fazer depósito elisivo​: O devedor não
concorda que deve, mas realiza o depósito, o qual será feito em juízo e
ficará depositado até o juiz prolatar a sentença. Se for decretada a
falência o credor levanta o depósito, se não for, o devedor levanta o
depósito.
3. Apresentar contestação: ​Com a chance de ser decretada a falência,
pois o devedor não fez depósito elisivo.
4. Requerer a recuperação judicial: Não é uma contestação, nem uma
petição inicial, é um pedido de recuperação judicial dentro do prazo de
contestação no pedido de falência. Essa ação será convertida em
recuperação judicial.

Contestação
A lei traz uma relação de matérias meramente exemplificativas que podem ser
elencadas em uma contestação de pedido de falência. Pode se alegar na contestação tudo que
o réu achar conveniente, com o intuito de convencer o juiz de que o réu não é insolvente.
Depois da contestação entra na fase de produção de provas, admitindo todos os meios
de prova possíveis, sendo que o credor não tem provas a produzir, pois a prova da insolvência
deve estar na petição inicial e sobre ela não pode pender qualquer dúvida, deve ser
incontroverso, ou seja, a prova do credor deve ser pré-constituída ao momento do ajuizamento
da ação. Isto posto, apenas o devedor tem provas a produzir neste procedimento, mas
sabendo que o credor pode fazer contraprova, só não pode constituir a prova da insolvência no
curso do processo de falência.

Sentença
Aqui existem só duas hipóteses, considerando que o devedor só contestou: 1) o juiz se
convenceu da insolvência do devedor; 2) o juiz se convenceu dos argumentos do devedor, e
decidiu que não há insolvência.
Pode haver uma sentença denegatória ou declaratória da falência, mas discute-se se
ela é declaratória (com efeito ex tunc) ou constitutiva (com efeito ex nunc). Grande parte da
doutrina entende que é constitutiva, porque antes o devedor era insolvente, sem poder falar
que ele era falido com todos os efeitos, pois isso só passa a existir depois da sentença.
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
21

● Se não há insolvência, a sentença é chamada ​denegatória. O pedido de


falência vai ser julgado​ improcedente​.
● Se há insolvência, a sentença é chamada d ​ eclaratória. O pedido de falência
​ rocedente.
vai ser julgado p
O problema é: ​os efeitos não vão retroagir? A própria lei (art. ​99​) diz que independente
de ser constitutiva ou declaratória os efeitos vão retroagir.

Conteúdo da sentença
Existem os requisitos comuns às sentenças (aplica-se subsidiariamente o CPC), como a
fundamentação, dispositivo, etc. O que interessa são os requisitos específicos, os quais estão
listados no artigo ​99​, entre eles estão:
● O Juiz vai fixar o termo legal da falência: O Juiz na sentença de falência vai
fixar esse termo, que nada mais é que o prazo de retroação dos efeitos da
sentença, no sentido de que durante o período fixado pelo Juiz todos os atos
praticados pelo falido são considerados suspeitos, isto é, há uma suspeição
sobre tudo o que o falido praticou, em que o falido será afastado dos negócios.
Os atos, intencionais ou não no sentido de prejudicar a universalidade de seus
credores, do falido não são declarados nulos e são, na verdade, analisados para
ver se são corretos ou não (caso de pagar um credor antes, o ato é nulo em
relação ao credor que recebeu, por exemplo). Têm-se três critérios para fixação
do termo legal: ​(1) O termo é em até 90 dias do primeiro protesto (se a
falência foi pedida com base no art. 94, I)​, sendo que se descobrir que houve
um protesto mais antigo, o Juiz vai aumentar o termo legal, podendo perdurar por
10 anos, por exemplo, em que a intenção do termo é investigar os atos do falido​;
(2) de até 90 dias do pedido de falência (se a falência foi pedida com base
no art. 94, II e III), sendo da sua distribuição, sendo que pode, nesses casos,
haver protestos e eles poderão ser utilizados como critério; e ​(3) até 90 dias da
distribuição da recuperação judicial​, observando também que se houver
protestos (como no caso do devedor apresentar uma certidão positiva de
protestos) deverá ser usado o primeiro critério.
● Nomeação do administrador judicial: O Juiz nomeia utilizando dos mesmos
critérios da recuperação judicial, mas a sua função na falência é um pouco mais
ativa, em que ele vai tomar os bens do devedor e administrá-los, depois
vendendo-os, ou seja, possui uma função gerencial. Sua remuneração é em até
5% do ativo que ele arrecadar do devedor.
● Suspensão das ações e execuções contra o devedor: Enquanto a falência
durar, mas lembrando das ações que não se suspendem, como as execuções
fiscais, de quantia ilíquida (até que se tornem líquidas e incluindo verbas
trabalhistas), ações em que o devedor é autor (pois nesse caso a ação não é
contra o devedor), entre outras.
● O Juiz vai se pronunciar a respeito da continuação provisória das
atividades do falido com o administrador judicial ou da lacração dos
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
22

estabelecimentos: Sabe-se que os objetivos da falência é retirar o devedor do


mercado, pagar os credores e preservar a atividade da empresa, então, há
circunstâncias que fechar as portas significam a inviabilização da continuidade da
atividade da empresa. Isto posto, pode ocorrer que o administrador venda os
bens da empresa, e os próprios estabelecimentos da empresa, com ela
funcionando, pois as vezes vendê-la em funcionamento vale mais do que
fechá-la.

Efeitos da sentença declaratória


1. Quanto a pessoa do falido: Sempre recai sobre uma pessoa física, isto é, o
empresário, mesmo que seja uma sociedade empresária, como no caso de uma LTDA,
em que os efeitos pessoais recaem sobre o sócio administrador (segundo jurisprudência
e Enunciado 49, I Jornada). Na S/A acontece o mesmo, recaindo sobre os
administradores. O artigo ​104 lista quais são esses efeitos, sendo eles: O falido deverá
comparecer em juízo para prestar algumas declarações (marca-se uma audiência); O
falido deverá apresentar a relação de credores; O falido vai entregar todos os livros
comerciais da empresa (os livros serão encerrados pelo juiz); O falido perde o direito de
administrar o negócio, isto é, deixando de exercer a função de gerência que possuía na
empresa (no caso de lacração da empresa, ela não funciona mais, então não tem mais
o cargo, mas no caso da continuidade é o administrador judicial quem exerce a função
que o falido foi afastado); O falido não pode se ausentar do local da falência sem
autorização judicial; O falido tem a inabilitação empresarial (enquanto não forem
declaradas extintas as obrigações).
2. Quanto aos bens do falido: Quanto aos empresários individuais os efeitos recaem
sobre todos os bens dela, salvo os impenhoráveis. Enquanto as pessoas jurídicas
sofrem os efeitos em arrecadação dos bens, em que o falido será desapossado de seus
bens, os quais ficarão sob a posse do administrador judicial, que é responsável pela
guarda e conservação dos bens, fazendo um inventário desses bens (relacionando-os e
avaliando-os). Como os bens serão vendidos, normalmente em leilão, é muito comum
que na relação os bens sejam entregues ao leiloeiro, ou seja, nem sempre os bens
ficam na posse do administrador judicial, podendo até mesmo o falido ser o depositário
fiel. O administrador pode requerer ao juízo a venda antecipada dos bens no caso deles
serem de fácil deterioração (neste caso a venda não é pública) e a lei diz que deverá
ser ouvido o Comitê de Credores, mas como na maioria das vezes ele não está formado
não há a necessidade de fato.
3. Quanto aos contratos do falido: A lei vai dividir os contratos em: unilaterais (apenas
uma parte possui obrigação a ser cumprida) e bilaterais (ambos possuem obrigações,
como um contrato de locação e de trabalho). Na hipótese de contrato unilateral em que
era o falido quem tinha uma obrigação a ser cumprida, no caso de obrigação de pagar,
tem como efeito o vencimento antecipado da obrigação (decotando os juros que foram
pré-fixados para a data do novo vencimento), levando à habilitação do crédito para ser
recebido na falência. Se as obrigações forem de fazer ou dar, converte-se em obrigação
de pagar para se habilitar no processo. Já a hipótese de ser um contrato unilateral em
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
23

que é o terceiro quem tem obrigação para com o devedor não tem efeito algum, só
muda a titularidade da obrigação. Os contratos bilaterais não se resolvem, mas pode o
administrador judicial denunciá-los. Além disso, o contratante pode contatar o
administrador judicial, interpelando-o, para saber se ele vai cumprir ou não o contrato,
tendo o administrador 10 para responder, sabendo que se esse prazo não for cumprido
o contratante pode considerar o contrato rescindido. Além disso, caso disposição
expressa no contrato, a falência não é caso fortuito ou força maior para a rescisão do
contrato.
Os efeitos da falência em um contrato de sociedade (LTDA) são: ​(1) ​no caso do falido
ser sócio de uma sociedade limitada, ele é retirado da sociedade, apurando seus
haveres, porque a falência do sócio não significa a falência da sociedade inteira (a
sociedade é sócia de outras sociedades); ​(2) já em relação aos sócios de uma
sociedade falida, se houvesse a obrigação de integralizar o capital social, o qual foi
parcelado, ao ser decretada a falência ocorre o vencimento antecipado dessa
obrigação, em que o sócio não possui mais o benefício do prazo alargado para
integralizar sua parte do capital.
4. Outros efeitos: ocorre a suspensão da contagem de juros, em que os juros contam até
o dia da decretação da falência; suspensão da contagem de prescrição; ocorre,
também, a compensação, em que uma pessoa, ao mesmo tempo, é credora e devedora
do falido e nessa hipótese os créditos se compensam (art. 122), mas existe uma
discussão doutrinária, pois acaba ferindo o princípio do ​par conditio creditorum​, em que
existem situações em que um devedor é beneficiário em detrimento de devedores de
classes superiores. A compensação não vale para créditos transferidos após a falência,
porque senão se constata fraude, valendo apenas para os créditos da época. Exceto no
caso de cisão, fusão e incorporação de empresas.

Observação
Com a sentença vem, ao mesmo tempo, a verificação e classificação dos créditos,
sendo que com a arrecadação pode ocorrer, também simultaneamente, ações autônomas
como: pedido de restituição, embargos de terceiro e ação revogatória (pauliana).

Pedido de Restituição
Ação que cabe em duas hipóteses: ​(1) ​cabe ao proprietário de um bem que o teve
arrecadado pelo administrador judicial pela falência. O primeiro ato do administrador judicial é
a arrecadação (desapossamento do devedor dos seus bens, retirando do falido), não cabendo
a ele investigar o que é de quem, ele pressupõe que todos os bens ali localizados são do falido.
Os requisitos são: ​que o bem tenha sido arrecadado, que a coisa seja de propriedade de
terceiro que não o falido​.
O primeiro exemplo é relativo á restituição de dinheiro. Cabe a restituição de dinheiro
que está em propriedade de terceiro? Porque quando são bens infungíveis é fácil de saber que
cabe a restituição, mas no caso de bens fungíveis a pessoa é credora ou cabe a restituição? É
possível a restituição de dinheiro desde que comprove: ​(a) que comprove que o dinheiro é seu,
(b) que o falido/depositário que estava com o dinheiro não tinha disposição sobre o dinheiro,
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
24

isto é, não poderia usá-lo. Dessa forma, se os dois requisitos não forem cumpridos o suposto
proprietário do dinheiro se torna credor quirografário.
Outro exemplo de cabimento dessa ação é quando há apropriação indébita de
contribuição previdenciária, em que o empregador apenas reteu as parcelas descontadas do
salário e não as repassou à União, a qual tem direito à restituição dos valores.

As restituições são pagas antes dos créditos

​Os casos dos contratos de adiantamento de contrato de câmbio, ACC, os quais são um
contrato de mútuo de câmbio, em que os bancos fizeram lobby e vigorou a seguinte tese: o
credor de ACC não é um credor normal, não entram na lista de créditos normais, podendo ser
restituídos se ingressarem com tal ação (art. ​75 e ss​).
(2) ​Outra possibilidade de pedido de restituição com os requisitos: ​arrecadação, que a
coisa vendida a crédito ​(se tiver sido toda paga não cabe restituição)​, que tenha sido
entregue ao falido nos 15 dias anteriores ao requerimento de falência e que ainda não
tenha sido vendida pelo falido. Restituindo o bem em si, em que se parte do bem já tiver sido
vendido, o proprietário tem direito a restituição do que restou e vira credor quirografário do
montante que fora vendido.
Existem variáveis que cabem para ambos os casos, como no caso do administrador ter
vendido o bem arrecadado, em que se mantêm os requisitos de cada hipótese, mas o bem não
existe mais, ​cabendo restituição ​em dinheiro pelo valor da venda (não se confunde com a
restituição de dinheiro).
Nas hipóteses em que a pessoa não é proprietária, mas sim possuidora, não cabe
pedido de restituição e sim embargos de terceiros (CPC).

Ação revocatória - art. 129 ou 130


A ação é para chamar de volta os bens que foram vendidos. Tem como intuito recompor
o patrimônio do falido, em benefício dos credores. Mesmo que a ação seja regulada por dois
artigos diferentes, os fundamentos de cada um para a interposição da referida ação são
distintos.
O ​art. 130 trata da ação revocatória equivalente à ação pauliana do direito civil. Na
falência, se estiver diante de uma fraude (prejuízo; intenção de prejudicar; “má-fé”) irei ajuizar
uma ação revocatória com base no art. 130, ação na qual tenho que provar a má-fé do
esvaziamento do patrimônio do credor.
Já o art. 129 traz uma relação de atos que são ineficazes, que não produzem efeito em
relação à massa falida, são eles: são ineficazes em relação à massa falida; tenha ou não o
contratante conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor; e seja ou não
intenção deste fraudar credores.
Se no art. 130 para que se recomponha o patrimônio do devedor eu tenho que provar a
intenção de prejudicar, o art. 129 traz uma listagem de atos que objetivamente são ineficazes,
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
25

ele não produz efeito em relação à massa falida, mas pode ser eficaz em relação a outras
pessoas. No art. 130 o ato foi válido, e vou pedir a revogação do ato. No art. 129 o ato não
produz efeito em relação à massa falida.
Além disso, quem contratou com o falido o fez de boa-fé, sabendo ou não que o
devedor estava em crise: não interessa. O ato é ineficaz independentemente do conhecimento
de que o devedor estava em crise. Se o falido praticou o ato para fraudar ou não, tanto faz. O
ato ainda é ineficaz. Por fim, os atos são ineficazes são:
● O pagamento de dívida não vencida dentro do termo legal (que é o prazo
que o juiz fixa, na decretação da falência, que vai retroagir até 90 dias depois do
dia do pedido de falência) ​por qualquer meio extintivo, ainda que pelo
desconto do título: um bem dado em dação em pagamento para quitação de
dívida que ainda não estava vencida antes do pedido de falência, vai voltar para
o patrimônio do devedor, porque o bem não produz efeito em relação à massa
falida. No caso do comprador do bem ter vendido, mesmo que de boa-fé, tem
como resultado a perda do bem pelo novo comprador, porque como a dação
feita anteriormente não produz efeito em relação à massa falida, os atos
subsequentes também não.
● Pagamento de dívida vencida dentro do termo legal por meio anormal ​(não
convencional ou não convencionado): Pagar uma dívida de forma anormal, como
dação de bens em pagamento de duplicata, não tem eficácia.
● Constituição de direito real de garantia durante o termo legal em relação à
dívida vencida: O devedor teve uma dívida vencida, ele nova essa dívida, faço
uma recontratação, e a garante como um direito real qualquer. O devedor está
beneficiando um credor em detrimento do outro. Então esse ato é ineficaz, mas
se o ato de concessão de garantia é concomitante com assunção da dívida,
esse ato não é ineficaz​.
● Atos a título gratuito praticados desde dois anos antes da sentença
declaratória de falência: ​Com a exceção de atos de benefícios que
representem verba alimentar.
● Renúncia à herança ou legado ​(direito hereditário específico) desde dois anos
antes da sentença declaratória de falência, no caso de empresário
individual​.
● O trespasse (venda do estabelecimento), em que a lei não estipula prazo para a
ineficácia deste ato, sendo que o trespasse seria ineficaz em duas
circunstancias cumulativas: quando o devedor ao vender o estabelecimento não
notifica todos os credores; e quando o devedor vende o estabelecimento e não
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
26

ficou com patrimônio suficiente para pagamento de todos os credores. Sabendo


que o credor que comprou o estabelecimento é o primeiro a receber esse
dinheiro de volta, porque vai ter que devolver o estabelecimento
● Transcrição tardia de alienação imobiliária​: registrar a alienação, a venda, a
transferência de um imóvel após a falência, em que a escritura para transcrição
será ineficaz, salvo se houver prenotação: quando você para ser registrado e o
oficial do cartório não registra, mas consta lá que você tentou registrar. Nesse
caso o registro, ainda que após a falência, será ineficaz.
Para o ato ser ineficaz, ele tem que ser um desses sete atos
supracitados. Não tem que inventar atos. Qualquer outro ato fraudulento se
encaixará na opção do artigo 130, e não na opção do art. 129.

Legitimidade ativa da ação revocatória


O administrador judicial (massa falida), qualquer credor e o Ministério Público.

Legitimidade passiva
O réu é quem está com o bem, ou quem praticou o ato fraudulento, quem contratou com
o falido, não podendo ser o devedor falido, pois ele é o beneficiário da ação, o objetivo da ação
é recompor o patrimônio dele.
A ação será feita no procedimento comum, não é feita em apenso ao processo de
falência, em que o recurso plausível da sentença é apelação.

Além disso, de acordo com o artigo 138, a sentença de uma ação revocatória pode ter o
poder de rescindir uma decisão proferida em outro processo judicial, seja de qualquer tribunal,
vejamos:

Art. 138. O ato pode ser declarado ineficaz ou revogado ainda que praticado com base em decisão judicial,
observado o art. 131 dessa lei.
Parágrafo único. Revogado o ato ou declarado sua ineficácia, ficará rescindida a sentença que o modificou.

Verificação e classificação de créditos


Decretou-se a falência, publica-se o edital para que os credores apresentem
divergências sobre a relação de credores apresentada pelo falido, fundamentado em
documentos como os livros comerciais. O Administrador Judicial, analisando a relação de
credores em comparação com as divergências apresentadas, tem 45 dias para apresentar
nova relação de credores, a qual conta mais que a apresentada pelo falido.
Discute-se se esses prazos são contados em dias corridos ou dias úteis, porque alguns
prazos são de direito material e não processuais, o que gera confusão.
Após a apresentação da relação de credores do Administrador Judicial, publica-se um
edital de 10 dias para que os credores ingressem ​impugnação de crédito​, sendo uma ação
distribuída por dependência. Depois do julgamento de todas as impugnações, publica-se o
Quadro Geral de Credores, em que tal quadro vai conter a relação de crédito concursais
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
27

(débitos que o falido constituiu, vencidas ou vincendas, antes da sentença declaratória de


falência). Já em relação as dívidas da massa falida, isto é, débitos constituídos depois da
sentença declaratória, são chamados de débitos extraconcursais. Porém, como é possível
decretar a falência numa recuperação judicial também, observa-se que os débitos anteriores ao
deferimento do processamento são concursais e os posteriores são extraconcursais.
Classes de credores:
1. Créditos derivados da relação do trabalho até o limite de 150 s.m. por
empregado e derivados de acidente de trabalho: incluindo honorários
advocatícios, pois de acordo com o art. 85, §14, CPC, diz que tais verbas são
alimentares​;
2. Créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;
3. Créditos tributários: mesmo que a lei diga que eles são ingressam a
universalidade de credores, a lei de falência os inclui em terceiro lugar;
4. Créditos com privilégio especial: ​A lei é quem diz quem tem privilégio, o artigo
964 do CC traz as hipóteses de privilégios, incluindo as ME, EPP e MEI
(incluídos pela Lei Complementar 147/14);
5. Créditos com privilégio geral: art. 965 do CC e 24 da Lei 8906/94 classificam,
com a discussão sobre se o os honorários que excedem o limite dos 150 s.m.
são quirografários como os créditos trabalhistas ou se são créditos com privilégio
geral, pois a Lei da OAB os classifica assim. As decisões classificam como
quirografário, mas cabe defesa sobre a alegação de ser de privilégio geral.
Também são créditos dessa classe os do artigo 67, § único, da Lei de Falência.
O credor que continuar fornecendo no caso de uma recuperação, se houver a
falência, esse credor que é quirografário na recuperação, se transforma em
credor de crédito com privilégio geral, em que o crédito anteriormente
classificado como quirografário é fracionado e uma parte se torna com privilégio
(o equivalente ao que ele vendeu após o deferimento do processamento) e a
outra continua como quirografário

ex: 50 antes do processamento, em que o credor continuou fornecendo ao devedor depois


do deferimento do processamento da recuperação e vendeu mais 30 ao devedor, tornando
seu crédito no montante de 80, mas a falência foi decretada. Assim, o débito desse credor é
30 de privilégio geral e ao fracionar os 50, que são concursais, 30 desses 50 são
transformados em com privilégio geral e os 20 restantes continuam como quirografário.

6. Quirografários:​ classificados por exclusão​;


7. Multas e penas pecuniárias, inclusive as de natureza tributária e
administrativas: as multas não entram nas classes acima, como no caso dos
créditos tributários não pagos, estes geram multa e esta não é incluída na
terceira classe e sim, nesta.​;
8. Créditos subordinados: subordinado em relação ao acionista, ao empresário
ou até mesmo ao sócio, equiparando-se ao acionista/sócio de uma sociedade,
como debêntures sem garantias e o diretor estatutário tem os seus créditos
incluídos aqui e não se classificando como crédito trabalhistas.
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
28

Pagamento
A lei diz que assim que houver dinheiro em caixa o adm aí pagar até 5 salários mínimos por
empregados relativos aos salários vencidos nos 3 meses anteriores à falência.
1. Restituições
2. Creditos extraconcursais:
a. Remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares;
créditos derivados de legislação do trabalho é por acidente do trabalho
relativos a serviços prestados após a falência
b. Quantias favorecidas à massa pelo credor
c. Despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e
distribuição de seu produto; custas do processo de falência
d. Custas judiciais relativas à ações em que a massa falida tenha sido
vencida
e. obrigações da massa falida e créditos contraídos durante a recuperação
judicial
3. Créditos concursais

Na falência se paga classe por classe, em que a classe que não puder ser paga integralmente,
terá a quantia disponível rateada proporcionalmente, por conta do princípio do ​par conditio
creditorum, ​pois se paga todo mundo ou paga ninguém. Lembrando que não há pagamento de
juros, salvo após o pagamento dos créditos concursais, retornando à primeira classe, ou seja,
só se paga juros se todas as classes forem pagas.
O administrador judicial está na primeira classe de crédito extraconcursal, mas a remuneração
dele é reservada, recebendo apenas quando se encerra o processo de falência.

Encerramento da falência
Depois do pagamento, seja de um ou seja de todos os credores, o administrador judicial vai
apresentar um relatório completo de tudo o que ocorreu no decorrer do processo de falência
(sabendo que se houver qualquer inconsistência nesse relatório o administrador é destituído),
bem como ajuizará uma ação de prestação de contas, em que elas serão periciadas, com
manifestação do MP e se o juiz rejeitar as contas apresentadas o administrador é destituído.
Após as contas serem julgadas boas o juiz vai proferir uma sentença de encerramento da
falência (sendo esta apelável, o que é bem comum do MP fazer). Esta sentença contém quem
é o falido, porquê, quais bens possuía, quais foram vendidos, os credores, etc, sendo bem
semelhante ao relatório final apresentado pelo administrador.

Extinção das obrigações


O empresário individual e os administradores de pessoa jurídica são impedidos de ser
empresários até que se declare extintas as obrigações por meio das seguintes condições, as
quais não são cumulativas:
● Pagamento de todos os credores: ​O que se constata no relatório final apresentado
pelo administrador
Caderno Empresarial IV
Ana Carolina Guimarães
29

● Pagamento de mais de 50% dos créditos quirografários: ​Também ja é motivo para o


juiz declarar extinta as obrigações
● Decorrência do prazo de 5 anos se não tiver condenação do falido em crime
falimentar:​ A partir do encerramento
● Decorrência do prazo de 10 anos se houver condenação do falido em crime
falimentar:​ Também da sentença de encerramento.

Você também pode gostar