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DISCIPLINA: RECUPERAÇÕES E FALÊNCIAS

PROFESSOR: LUIZ EDUARDO DOS SANTOS


ALUNO: EVERSON PEREIRA DUARTE
MATRÍCULA: 513867
TURNO: DIURNO
EMAIL: everson_duarte@hotmail.com
Telefone: (61) 99694-1972

TRABALHO NR 05
A IMPONTUALIDADE E A CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO DE FALÊNCIAS.

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo a análise da insolvência


jurídica do devedor sob a égide da Lei de Falências. No desenvolver do estudo será
possível refletir acerca da interpretação que se faz da hipótese para decretação da
falência previstas no inciso I do artigo 94 da Lei n. 11.101/2005, qual seja, a
presunção de insolvência jurídica de fato do devedor pela impontualidade
injustificada e a caracterização do estado falimentar.

PALAVRAS-CHAVE: Insolvência jurídica. Devedor. Impontualidade


injustificada. Falência.

ABSTRACT: This article aims to analyze the debtor's legal insolvency under
the aegis of the Bankruptcy Law. In developing the study, it will be possible to reflect
on the interpretation that is made of the hypothesis for decreeing bankruptcy
provided for in item I of article 94 of Law n. 11.101/2005, that is, the presumption of
de facto legal insolvency of the debtor due to unjustified lateness and the
characterization of the bankruptcy state.
KEYWORDS: Legal insolvency. Debtor. Unjustified lateness. Bankruptcy.

SUMÁRIO: 1. INTRODUÇÃO. 2. A INSOLVÊNCIA. 3. A IMPONTUALIDADE


INJUSTIFICADA. 4. SETENÇA DECLARATÓRIA DA FALÊNCIA. 5. CONCLUSÃO.
1. INTRODUÇÃO
No processo falimentar, o devedor empresário ocupa a posição de sujeito
passivo. A Lei 11.101/2005, em seu Art 1º disciplina ”a recuperação judicial, a
recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária,
doravante referidos simplesmente como devedor”. Deste dispositivo, percebe-se que
o empresário é o sujeito passivo no processo falimentar e que somente ele pode ser
submetido ao mesmo. O Código Civil define a figura do empresário em seu art. 966
como sendo “quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços”, sendo assim, o empresário pode
ser pessoa física ou jurídica.
A Lei 11.101/2005 tem grande importância no arcabouço jurídico do direito
empresarial, pois organiza um regime específico de execução concursal destinado
aos empresários, tendo em vista as especificidades da atividade empresarial e as
relações negociais que ali são geradas.
O processo falimentar independe da regularidade do empresário. Chega-se a
essa conclusão ao analisar o inciso VIII do art. 96 da Lei 11.101/2005, no qual
permite a decretação da falência em casos que o empresário mesmo após dois anos
de ter cancelado sua inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis, haja
comprovação de que continuava exercendo atividade empresarial ao cancelamento
de sua inscrição. Ou seja, a empresa estava extinta de direito, mas não de fato.
Cabe ressaltar que, na própria Lei de Recuperações e Falências há exceções,
e alguns empresários não são submetidos ao processo falimentar. O art 2º dispõe
que “a lei não se aplica a empresa pública e sociedade de economia mista”, além de
“instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade
de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à
saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades
legalmente equiparadas às anteriores”.
O estado falimentar do devedor é um pressuposto objetivo para a verificação
da falência da sociedade empresária e do empresário individual, ou seja, para que
haja a decretação da quebra do devedor se faz necessária a apuração de certos
fatos e atos que dão ensejo e condicionam a qualidade falimentar do empresário.
A caracterização deste estado falimentar é objetiva, pois é a Lei 11.101/2005
que traz as configurações já predispostas. E é em razão desta presunção legal de
quebra que o credor poderá pleitear a sentença de declaração da falência do
devedor.

2. A INSOLVÊNCIA
Sobre insolvência, Simionato cita Carvalho de Mendonça, ao conceituar o
instituto da seguinte forma:
“A insolvência significa o estado do patrimônio no qual se manifesta o desequilíbrio
entre o ativo e o passivo, desfavorável àquele. A insolvência na ordem comercial não se
confunde em seus conceitos e efeitos com a própria falência. A falência pode, é bem verdade,
proceder daquela, mas também decorre de inúmeras outras causas.”[1]
Tal conceito tem relação com o conceito de insolvência civil em termos no
Código Civil em seu art. 955 do qual “Procede-se à declaração de insolvência toda
vez que as dívidas excedam à importância dos bens do devedor”. Nesse sentido, a
insolvência civil ampara-se na insuficiência de patrimônio e crédito para o
pagamento das dívidas, em consequência de possuir mais passivos do que ativos
contábeis e financeiros.
Por outro lado, Fábio Ulhoa Coelho, explica:
“Para fins de instauração da execução por falência, a insolvência não se caracteriza
por um determinado estado patrimonial, mas sim pela ocorrência de um dos fatos previstos
em lei. Em outros termos, a insolvência se caracteriza, para o direito falimentar, quando o
empresário for injustificadamente impontual no cumprimento de obrigação liquida (LF,
art.94,I), incorrer em execução frustrada (art. 94, II) ou praticar ato de falência (art. 94, III). Se
restar caracterizada a impontualidade injustificada, a execução frustrada ou o ato de falência,
mesmo que o empresário tenha seu ativo superior ao passivo, será decretada a falência; ao
revés, se não ficar demonstrada nenhuma destas hipóteses, não será instaurada a falência
ainda que o passivo do devedor seja superior ao ativo. A insolvência que a lei considera
pressuposto para execução por falência é meramente presumida.”[2]
Neste caso, o professor distingue que a insolvência, nos casos de instauração
dos processos falimentares, trata-se de uma insolvência jurídica, tendo em vista que
para o direito falimentar exige-se apenas o critério formal da inadimplência perante a
uma obrigação. Existe aí uma presunção de condição de insolvabilidade tendo em
vista que a ocorrência de situações como essa geralmente é praticada por quem
está insolvente.
Apontada a ocorrência das situações previstas em lei, poderá ser decretada a
falência, mesmo que a empresa demonstre possuir um ativo maior que o passivo.
Por outro lado, se não demonstrada as situações previstas em lei, a falência não se
pode ser decretada mesmo que se verifique a insolvência econômica da empresa. A
doutrina geralmente indica a existência de quatro sistemas para reconhecer e
determinar o estado de insolvência, são eles: o sistema do estado patrimonial
deficitário, o sistema da cessação de pagamentos, o sistema da impontualidade
injustificada e o sistema da enumeração legal.
O sistema do estado patrimonial deficitário é o único que se preocupa em
averiguar a realidade patrimonial do devedor, ou seja, se o mesmo encontra-se
insolvente economicamente. Portanto, a constatação da superioridade do passivo
frente ao ativo é o que caracteriza a insolvência.
Entretanto, exige a adoção de uma série de procedimentos contábeis que
tornam o processo demorado e técnico, e acarretar na decretação da falência de
empresário que ainda tenha condições de se recuperar.
O sistema de cessação de pagamentos ocorre quando o devedor para de
realizar os pagamentos de suas dívidas reiteradamente, inadimplindo por diversas
vezes.
Já o sistema da impontualidade injustificada caracteriza-se quando o devedor
é juridicamente insolvente pelo fato de não pagar, sem razão de direito relevante,
determinada obrigação líquida no prazo determinado ou acordado.
O último sistema trata-se da enumeração legal, no qual se caracteriza pela
prática de determinados atos previstos legalmente na legislação falimentar,
denominados atos de falência, mesmo que o devedor esteja em dia com suas
obrigações creditícias.
Esses sistemas são mantidos pela Lei 11.101/2005, em seu art. 94.
Entretanto iremos analisar um pouco mais o sistema da impontualidade injustificada.

3. A IMPONTUALIDADE INJUSTIFICADA
A decretação da falência por impontualidade injustificada é um processo
objetivo caracterizado e previsto nos incisos I e II do art 94 da Lei 11.101/2005,
conforme pode-se ver:

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:

I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida


materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a
40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência;
II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à
penhora bens suficientes dentro do prazo legal;

Percebe-se aqui, haver dois requisitos para a caracterização da


impontualidade injustificada. O primeiro é o não pagamento de obrigação líquida em
forma de títulos executivos, cuja soma ultrapasse o equivalente a quarenta salários
mínimos, sem razão relevante. Tal requisito é novidade em relação à legislação
anterior. O professor Ricardo Negrão (2012, p. 265), ratifica o entendimento:
[...] basta a demonstração, por instrumento de protesto, do não pagamento, na data
de vencimento, de obrigação líquida constante de um ou de mais de um título executivo, cuja
soma ultrapasse, na data do pedido de falência, o equivalente a 40 salários mínimos, sem que
exista razão relevante para a inadimplência.[3]
Nesse sentido, o legislador desincentiva a utilização do processo falimentar
para a execução de dívidas de pequeno valor, tendo em vista que elas podem
apenas presumir uma situação de crise temporária do empresário, que acarretou
numa iliquidez eventual, mas não de insolvência que caracteriza a situação de
inviabilidade da empresa. Portanto, essas dívidas de menor valor devem ser
cobradas por meio de execução individual ou ordinária.
A lei também permite que os credores unam-se a fim de somar seus créditos
e alcançar o valor dos quarenta salários mínimos exigidos e possibilitar pedir, em
litisconsórcio, a falência do empresário insolvente.
O segundo requisito está indicada no inciso II do artigo supramencionado e
está relacionado ao não pagamento de título já executado, além de não depositar e
nem penhorar bens suficientes para o adimplemento. Neste caso, não há de se falar
em valor mínimo da dívida como no inciso anterior nem em protesto, pois a o estado
de insolvência já foi caracterizado pelo não cumprimento da execução.
Cabe ressaltar, sobre a exigência da apresentação do protesto do título que
contém a dívida, conforme prevê o § 3º do art. 94 o qual estabelece que, na hipótese
de impontualidade injustificada, “o pedido deve ser instruído com os títulos
executivos na forma do parágrafo único do art. 9º desta Lei, acompanhados, em
qualquer caso, dos respectivos instrumentos de protesto para fim falimentar nos
termos da legislação específica”.
Sendo assim, nos casos que tem por base o inciso I do art. 94, o pedido
deverá ser acompanhado do título de crédito em original ou cópias autenticadas se
estiverem juntados em outro processo, nos termos do parágrafo único do art. 9º da
Lei 11.101/2005, da certidão de protesto, além de outros documentos que possam
legitimar o autor, a materialidade e o sujeito passivo no processo.
Vale lembrar que o Código Civil define o que é o título de crédito e os seus
requisitos para a validade dos mesmos em seus art 887 e 889. O dispositivo
disciplina que tal documento é necessário “ao exercício do direito literal e autônomo
nele contido” e que “somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei”.
Isto posto, o título de crédito deve “conter a data da emissão, a indicação precisa
dos direitos que confere, e a assinatura do emitente”. Portanto, percebe-se que
quando se trata de títulos de crédito, o critério formal é exigência fundamental.
Sobre a execução dos títulos de créditos, sejam judiciais ou extrajudiciais, o
Código de Processo Civil disciplina a legitimidade da obrigação certa, líquida e
exigível e que pode embasar o pedido de falência por impontualidade injustificada,
desde que protestado, na forma dos art 783 e 786.
No processo falimentar a única forma de demonstrar o inadimplemento da
obrigação do empresário devedor é o protesto do título de crédito vinculado, não
sendo aceito nenhum outro meio de prova. A lei n. 9.492/97 define em seu art 1º o
ato de protesto como sendo “formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o
descumprimento de obrigação originada em título e outros documentos de dívida”.
Em seu parágrafo único, o dispositivo sujeita a protesto “as certidões de dívida ativa
da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas
autarquias e fundações públicas”. Sendo título de crédito, o protesto cambial basta à
caracterização da impontualidade, ainda que ultrapassado o prazo fixado na
legislação cambial para a conservação do direito de regresso contra codevedores.
Outro aspecto importante no processo falimentar por impontualidade
injustificada é a comprovação da inexistência de relevante razão para o
inadimplemento da obrigação líquida reclamada. Este aspecto tem uma
complexidade material importante, pois a própria Lei de Falências, em seu art. 96,
elenca uma relação de hipóteses, que podem servir de justificativa que podem ser
alegadas pelo devedor para seu inadimplemento:

Art. 96. A falência requerida com base no art. 94, inciso I do caput, desta Lei, não será
decretada se o requerido provar:

I – falsidade de título;
II – prescrição;

III – nulidade de obrigação ou de título;

IV – pagamento da dívida;

V – qualquer outro fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime a cobrança de
título;

VI – vício em protesto ou em seu instrumento;

VII – apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação,


observados os requisitos do art. 51 desta Lei;

VIII – cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do pedido de
falência, comprovada por documento hábil do Registro Público de Empresas, o qual não
prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato registrado.

Rubens Requião aponta em sua obra:

“Não é fácil, entretanto, a demonstração do estado de insolvência, se o devedor não o


confessa. Este, geralmente, procura todos os meios disfarça-lo ou encobri-lo, esperando que
melhores dias o salvem da ruína, ou um milagre o venha redimir da desconcertante situação de
fracasso comercial. O direito, todavia, formula diversos sistemas jurídicos para revelar e
determinar esse estado de fato, a fim de dar ensejo à declaração judicial de falência.”[4]

Tal é a complexidade em se provar a razão injustificada que não foi


encontrada, por este pesquisador, nenhuma decisão de graus superiores do Poder
Judiciário brasileiro que decretasse a falência amparada na impontualidade
injustificada. Entretanto, verificou-se um caso que julgo caber uma análise.
Trata-se de decisão do STJ a recurso especial impetrado pelas Lojas
Americanas contra decisão do TJ-RJ que apesar de ter sido realizado depósito
elisivo, decidiu-se pela continuação do processo falimentar, sob fundamento do
credor estar utilizando requerimento de falência como substituto da execução:
DIREITO EMPRESARIAL. FALÊNCIA. IMPONTUALIDADE INJUSTIFICADA. ART.
94, INCISO I, DA LEI N. 11.101/2005. INSOLVÊNCIA ECONÔMICA. DEMONSTRAÇÃO.
DESNECESSIDADE. PARÂMETRO: INSOLVÊNCIA JURÍDICA. DEPÓSITO ELISIVO.
EXTINÇÃO DO FEITO. DESCABIMENTO. ATALHAMENTO DAS VIAS ORDINÁRIAS PELO
PROCESSO DE FALÊNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. 1. Os dois sistemas de execução por
concurso universal existentes no direito pátrio - insolvência civil e falência -, entre outras
diferenças, distanciam-se um do outro no tocante à concepção do que seja estado de
insolvência, necessário em ambos. O sistema falimentar, ao contrário da insolvência civil
(art. 748 do CPC), não tem alicerce na insolvência econômica. 2. O pressuposto para a
instauração de processo de falência é a insolvência jurídica, que é caracterizada a partir de
situações objetivamente apontadas pelo ordenamento jurídico. No caso do direito brasileiro,
caracteriza a insolvência jurídica, nos termos do art. 94 da Lei n. 11.101/2005, a
impontualidade injustificada (inciso I), execução frustrada (inciso II) e a prática de atos de
falência (inciso III). 3. Com efeito, para o propósito buscado no presente recurso - que é a
extinção do feito sem resolução de mérito -, é de todo irrelevante a argumentação da
recorrente, no sentido de ser uma das maiores empresas do ramo e de ter notória solidez
financeira. Há uma presunção legal de insolvência que beneficia o credor, cabendo ao
devedor elidir tal presunção no curso da ação, e não ao devedor fazer prova do estado de
insolvência, que é caracterizado ex lege. 4. O depósito elisivo da falência (art. 98, parágrafo
único, da Lei n. 11.101/2005), por óbvio, não é fato que autoriza o fim do processo. Elide-se
o estado de insolvência presumida, de modo que a decretação da falência fica afastada,
mas o processo converte-se em verdadeiro rito de cobrança, pois remanescem as questões
alusivas à existência e exigibilidade da dívida cobrada. 5. No sistema inaugurado pela Lei n.
11.101/2005, os pedidos de falência por impontualidade de dívidas aquém do piso de 40
(quarenta) salários mínimos são legalmente considerados abusivos, e a própria lei
encarrega-se de embaraçar o atalhamento processual, pois elevou tal requisito à condição
de procedibilidade da falência (art. 94, inciso I). Porém, superando-se esse valor, a
ponderação legal já foi realizada segundo a ótica e prudência do legislador. 6. Assim, tendo
o pedido de falência sido aparelhado em impontualidade injustificada de títulos que
superam o piso previsto na lei (art. 94, I, Lei n. 11.101/2005), por absoluta presunção legal,
fica afastada a alegação de atalhamento do processo de execução/cobrança pela via
falimentar. Não cabe ao Judiciário, nesses casos, obstar pedidos de falência que
observaram os critérios estabelecidos pela lei, a partir dos quais o legislador separou as
situações já de longa data conhecidas, de uso controlado e abusivo da via falimentar. 7.
Recurso especial não provido.
(STJ - REsp: 1433652 RJ 2013/0200388-3, Relator: Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, Data de Julgamento: 18/09/2014, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação:
DJe 29/10/2014)

Nota-se que a decisão confirma o entendimento citado no item 2. deste artigo,


ao diferenciar a insolvência civil da falência, e sobre o conceito da insolvência
jurídica.
Por fim e o que considero como principal, é o afastamento da alegação da
requerida de que a mesma goza de solidez financeira e que o pagamento da dívida
não comprometeria sua contabilidade e ainda sustenta que “por ser geradora de
riquezas, mão-de-obra e tributos, deve ser protegida e preservada deste
desnecessário e vexatório procedimento falimentar”. Entretanto, a decisão foi de
que o processo deveria continuar, não mais para a decretação da falência, mas
como forma de mera cobrança, pois havia restado as questões quanto a existência
da dívida e sua exigibilidade.
Ora, se o requerido alega que tal dívida não comprometeria sua saúde
financeira, porque não a pagou antes?
Por fim, o pedido de falência pode se fundamentar em qualquer obrigação,
seja oriunda de negociações comerciais ou de qualquer outra origem. Entretanto,
conforme prevê o inciso I do art 5º da Lei 11.101/2005, os credores de títulos
gratuitos não podem requerer a falência de seus devedores, por não possuírem
títulos exigíveis não podem requerê-la, conforme previsto no § 2º do art 94 da
mesma lei.

4. SENTENÇA DECLARATÓRIA DA FALÊNCIA


O Código de Processo Civil, em seu § 1º do art. 203 estabelece que
“sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts.
485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a
execução”. A cerca deste dispositivo, há discussões na doutrina acerca da categoria
da decisão, pois a mesma na se encaixaria em “sentença”, devido ao fato de não dar
fim à fase cognitiva do procedimento comum e nem extinguir a execução, pois a
mesma apenas dá início ao processo falimentar. Mesmo não sendo tecnicamente
uma sentença, a decretação de falência tem forma de sentença, com relatório,
fundamentação e dispositivo, conforme prevê o art 489 do Código de Processo Civil.
Também se questiona a natureza jurídica da sentença, pois apesar de na
doutrina empresarial ou comercial referir-se como sentença declaratória, dentro da
doutrina cível sua natureza é constitutiva, pois a mesma apenas modifica ou
extingue certa relação jurídica. Justamente é o que ocorre na decretação da
falência, onde o devedor passa ao estado falimentar e instaura-se o regime de
execução concursal do patrimônio.
Fábio Ulhoa Coelho ratifica este entendimento predominante na doutrina e
acrescenta:
“Com a sua edição pelo juiz, opera-se a dissolução da sociedade empresária falida,
ficando seus bens, atos e negócios jurídicos, contratos e credores submetidos a um regime
jurídico específico, o falimentar, diverso do regime geral do direito das obrigações. É a
sentença declaratória da falência que introduz a falida e seus credores nesse outro regime. Ela
não se limita, portanto, a declarar fatos ou relações preexistentes, mas modifica a disciplina
jurídica destes, daí o seu caráter constitutivo”.[5]

O art. 99 da Lei de Recuperações e Falências especifica a decisão a ser


proferida no caso de decretação da falência:

Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras determinações:

I – conterá a síntese do pedido, a identificação do falido e os nomes dos que forem a esse
tempo seus administradores;

II – fixará o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de 90 (noventa) dias
contados do pedido de falência, do pedido de recuperação judicial ou do 1.º (primeiro) protesto
por falta de pagamento, excluindo-se, para esta finalidade, os protestos que tenham sido
cancelados;

III – ordenará ao falido que apresente, no prazo máximo de 5 (cinco) dias, relação nominal
dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação dos respectivos
créditos, se esta já não se encontrar nos autos, sob pena de desobediência.

IV – explicitará o prazo para as habilitações de crédito, observado o disposto no § 1.º do


art. 7º desta Lei;

V – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido, ressalvadas as


hipóteses previstas nos §§ 1.º e 2.º do art. 6º desta Lei;

VI – proibirá a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens do falido,


submetendo-os preliminarmente à autorização judicial e do Comitê, se houver, ressalvados os
bens cuja venda faça parte das atividades normais do devedor se autorizada a continuação
provisória nos termos do inciso XI do caput deste artigo;

VII – determinará as diligências necessárias para salvaguardar os interesses das partes


envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de seus administradores quando
requerida com fundamento em provas da prática de crime definido nesta Lei;

VIII – ordenará ao Registro Público de Empresas que proceda à anotação da falência no


registro do devedor, para que consta a expressão “Falido”, a data da decretação da falência e a
inabilitação de que trata o art. 102 desta Lei;
IX – nomeará o administrador judicial, que desempenhará suas funções na forma do inciso
III do caput do art. 22 desta Lei sem prejuízo do disposto na alínea a do inciso II do caput do
art. 35 desta Lei;

X – determinará a expedição de ofícios aos órgãos e repartições públicas e outras


entidades para que informem a existência de bens e direitos do falido;

XI – pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória das atividades do falido com o


administrador judicial ou da lacração dos estabelecimentos, observado o disposto no art. 109
desta Lei;

XII – determinará, quando entender conveniente, a convocação da assembleia geral de


credores para a constituição de Comitê de Credores, podendo ainda autorizar a manutenção do
Comitê eventualmente em funcionamento na recuperação judicial quando da decretação da
falência;

XIII – ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas


Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento,
para que tomem conhecimento da falência.

Sobre os efeitos da decretação da falência, complementa Fábio Ulhoa


Coelho:

“Trata-se de ato judicial que instaura uma forma específica de liquidação do patrimônio
social, para que a realização do ativo e a satisfação do passivo sejam feitas não por um
liquidante escolhido pelos sócios ou nomeado pelo juiz da ação de dissolução, mas sim pelo
próprio Poder Judicíário, por meio do juízo falimentar, com a colaboração do administrador
judicial”.[6]

Cabe ressaltar que o estado de falência desfaz todo e qualquer vínculo


societário e inicia o processo de extinção da pessoa jurídica da empresa. Além de
uma série de consequências para os empresários e sócios com suas inabilitações
empresariais. Tudo disposto nos art. 81, 102 e 103 da Lei 11.101/2005:

Art. 81. A decisão que decreta a falência da sociedade com sócios ilimitadamente
responsáveis também acarreta a falência destes, que ficam sujeitos aos mesmos efeitos
jurídicos produzidos em relação à sociedade falida e, por isso, deverão ser citados para
apresentar contestação, se assim o desejarem.

§ 1o O disposto no caput deste artigo aplica-se ao sócio que tenha se retirado


voluntariamente ou que tenha sido excluído da sociedade, há menos de 2 (dois) anos, quanto
às dívidas existentes na data do arquivamento da alteração do contrato, no caso de não terem
sido solvidas até a data da decretação da falência.

§ 2o As sociedades falidas serão representadas na falência por seus administradores ou


liquidantes, os quais terão os mesmos direitos e, sob as mesmas penas, ficarão sujeitos às
obrigações que cabem ao falido.

Art. 102. O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial a partir da
decretação da falência e até a sentença que extingue suas obrigações, respeitado o disposto
no § 1o do art. 181 desta Lei.

Parágrafo único. Findo o período de inabilitação, o falido poderá requerer ao juiz da


falência que proceda à respectiva anotação em seu registro.

Art. 103. Desde a decretação da falência ou do seqüestro, o devedor perde o direito de


administrar os seus bens ou deles dispor.

Parágrafo único. O falido poderá, contudo, fiscalizar a administração da falência, requerer


as providências necessárias para a conservação de seus direitos ou dos bens arrecadados e
intervir nos processos em que a massa falida seja parte ou interessada, requerendo o que for
de direito e interpondo os recursos cabíveis.

5. CONCLUSÃO
Essencialmente, levando em conta seus objetivos e fundamentos, a falência
não deve ser vista como um mal. Há certos casos em que o encerramento das
atividades de uma empresa é, de fato, a melhor alternativa para a economia como
um todo, tendo em vista o seu baixo grau de rendimento e produtividade.
Procedendo desse modo, os recursos empregados em tal atividade podem ser
realocados, de modo a otimizar a capacidade de produção de riqueza.
No entanto, como anteriormente asseverado, a falência somente deve ser
aplicada aos casos em que não se enxerga perspectivas na viabilidade de
recuperação da empresa em crise, pois, se de modo contrário se verificar, deve-se
priorizar a recuperação, em atendimento aos princípios da função social e da
preservação da empresa, os quais se mostram como princípios basilares na nova
Lei de Falências e Recuperação de Empresas (Lei n. 11.101/2005).
Nesse contexto, do exposto no presente trabalho, podemos concluir que a
delimitação de pressupostos necessários à caracterização do estado de falência é
fundamental para que se evite o recurso excessivo, indiscriminado e desnecessário
a esse instrumento. Com isso, o estado de falência no processo falimentar é
determinado de forma objetiva e seguindo os dispositivos legais positivados pela Lei
11.101/2005, mais precisamente em seu art. 94, independente se o empresário
devedor é considerado insolvente civil ou não, pois no direito comercial, a
insolvência jurídica é presumida pelo fato do inadimplemento de dívida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SIMIONATO. Frederico Augusto Monte. Tratado de Direito Falimentar. 1ª
edição. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. 12.
ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: falência e recuperação de
empresas. São Paulo: Atlas, 2006.
BRASIL, Lei nº 11.101, de 9 de Fevereiro de 2005. Lei de Recuperação e
Falências. Diário Oficial da União. Brasília, 2005. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm>. Acesso
em: 06 de maio de 2017.
Lei nº 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Código Civil. Diário Oficial da
União. Brasília, 2002. Disponível em: <
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NEGRÃO, Ricardo. Aspectos objetivos da lei de recuperação de empresas e
de falências: Lei n. 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. 2 ed. São Paulo.

NOTAS
[1] SIMIONATO. Frederico Augusto Monte. Tratado de Direito Falimentar. 1ª
edição. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p 265/266.

[2] COELHO. Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 28ª edição. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 277.
[3] NEGRÃO, Ricardo. Aspectos objetivos da lei de recuperação de empresas
e de falências: Lei n. 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. 2 ed. São Paulo: Saraiva,
2012. p. 265.
[4] REQUIÃO. Rubens. Curso de Direito Falimentar. v. I. 17ª edição.São
Paulo: Saraiva, 1998, p. 65.
[5] COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial – Direito de Empresa.
Vol. 03. 14ª ed: São Paulo: Saraiva, 2014, p. 280.
[6] COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial – Direito de Empresa.
Vol. 03. 14ª ed: São Paulo: Saraiva, 2014, p. 295.

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