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Profa.

Michelle Gonçalves de Araújo Jorge


Disciplina: Direito Empresarial II

 FALÊNCIA
(art. 75 ao art. 160 da Lei n.º11.101/2005)

HISTÓRICO NO BRASIL

1º Marco: C COMERCIAL 1850- TERCEIRA PARTE- DAS QUEBRAS, revogado pelo


Decreto 7661/1945 (Falência e Concordata).

2º Marco: Decreto 7661/1945 (Falência e Concordata) revogado pela Lei 11.101/2005.

Concordata: Um processo que tinha como objetivo prevenir ou suspender pedido


judicial de falência, com a finalidade de dilatar o vencimento das obrigações ou ter
desconto no pagamento.

2003 para frente (empresário)


2003 para trás (comerciante)

3º Marco: Lei 11.101/2005.

1. ORIGEM DA EXPRESSÃO FALÊNCIA


Originou-se da expressão latina fallere, que significa esconder, encobrir,
ludibriar, etc.

2. CONCEITO DE FALÊNCIA
Falência é um processo de execução coletiva, no qual todo o patrimônio de um
empresário (pessoa física ou jurídica), declarado falido, é arrecadado e vendido para
pagamento da universalidade dos credores. É um processo judicial complexo, que
compreende a arrecadação de bens, sua administração e conservação, bem como a
verificação e o acertamento de créditos, para posterior liquidação dos bens e rateio
entre os credores. Compreende também a punição de atos criminosos praticados pelo
devedor falido.
Só haverá falência se for decretada pelo juiz.
Ação de falência é sempre contra o empresarial.
Ao decretar falência, o estabelecimento é lacrado.
Ao decretar falência ou sentença, surge um sujeito de direito, a massa falida. (Todos
os bens, direitos e obrigações)

3. OBJETIVO FUNDAMENTAL

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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É a garantia dos credores do devedor insolvente.

O objetivo primordial do processo falimentar, segundo o art. 75 da LRE:

Art. 75. A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa


a:      (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

I - preservar e a otimizar a utilização produtiva dos bens, dos ativos e dos recursos
produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa;     (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)   (Vigência)

II - permitir a liquidação célere das empresas inviáveis, com vistas à realocação eficiente
de recursos na economia; e       (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

III - fomentar o empreendedorismo, inclusive por meio da viabilização do retorno célere do


empreendedor falido à atividade econômica.     (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)    (Vigência)

§ 1º O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade e da economia


processual, sem prejuízo do contraditório, da ampla defesa e dos demais princípios
previstos na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo
Civil).          (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

§ 2º A falência é mecanismo de preservação de benefícios econômicos e sociais


decorrentes da atividade empresarial, por meio da liquidação imediata do devedor e da
rápida realocação útil de ativos na economia.       (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)    (Vigência)

4. NATUREZA JURÍDICA
Híbrida

5. PRESSUPOSTOS DA FALÊNCIA

* Quadro retirado do livro do Prof. André Luiz Santa Cruz Ramos, Direito Empresarial..

5.1 Pressuposto material subjetivo: o empresário individual, a EIRELI e a


sociedade empresária.

5.2 Pressuposto material objetivo: a insolvência do devedor

“Deve ser a insolvência compreendida num sentido jurídico preciso que a


lei falimentar estabelece. (...)

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Para fins de decretação de falência, o pressuposto da insolvência não se


caracteriza por um determinado estado patrimonial, mas pela existência de
um dos fatos previstos em lei como ensejadores da quebra” (Fábio Ulhoa)

 Insolvência econômica ou real e insolvência jurídica ou presumida.

5.2.1 Os sistemas de determinação da insolvência adotados pela Lei n.º


11.101/05

Segundo o art. 94 da Lei 11.101/05 será declarada a falência do devedor que:

I. For injustificadamente impontual (protesto) no cumprimento de


obrigação líquida de valor superior a 40 salários mínimos (Sistema de
Impontualidade)- art.94, I da Lei 11.101/2005.
INFORMATIVO 572 do STJ “O protesto tirado contra o emitente do cheque é
obrigatório para o fim de comprovar a impontualidade injustificada do
devedor no procedimento de falência (art. 94, I, da Lei 11.101/2005) e deve ser
realizado em até seis meses contados do término do prazo de apresentação
(prazo prescricional da ação cambial). Do ponto de vista cambial, a execução
do cheque pode ser direcionada contra o emitente, os endossantes ou os
respectivos avalistas (art. 47 da Lei 7.357/1985). Nesse contexto, a distinção
entre a pretensão dirigida contra o emitente e aquela dirigida contra o
endossante conduz a outra diferenciação, que deve ser estabelecida entre o
protesto facultativo e o obrigatório. Dessa forma, no caso da pretensão dirigida
contra o emitente, o protesto (ou a apresentação) do cheque é ato meramente
facultativo do credor, que pode optar por executar diretamente o título, desde
que o faça no prazo de prescrição de seis meses, contados da expiração do
prazo de apresentação (art. 59 da Lei do Cheque e Súmula 600 do STF). Já na
hipótese de pretensão dirigida contra o endossante, o protesto (ou
apresentação) é obrigatório, sob pena de perda de eficácia executiva do título
contra o coobrigado. Essa diferenciação entre o protesto cambial facultativo e
o obrigatório foi analisada por este Tribunal Superior, quando do julgamento
do REsp 1.297.797-MG (Terceira Turma, DJe 27/2/2015), ocasião em que se
firmou, quanto ao prazo de realização de protesto, o seguinte: "A exigência de
realização do protesto antes de expirado o prazo de apresentação do cheque é
dirigida apenas ao protesto obrigatório à propositura da execução do título,
nos termos dos arts. 47 e 48 da Lei n. 7.357/85". Salientado isso, tem-se que, do
ponto de vista falimentar, o protesto é medida obrigatória para comprovar a
impontualidade do devedor (art. 94, I, da Lei 11.101/2005). Sobre a distinção
entre o protesto cambial e o protesto falimentar, parte da doutrina ensina que:
"Conforme sua finalidade, o protesto extrajudicial se subdivide em: cambial e
falimentar (também denominado de protesto especial). Aquele é o modo pelo
qual o portador de um título de crédito comprova a sua apresentação ao
devedor (por exemplo, para aceite ou pagamento). Constitui uma faculdade do
credor, um ônus do qual ele deve desincumbir-se para assegurar seu direito de
ação contra os coobrigados no título, como endossantes e avalistas, mas é
dispensável para cobrar o crédito do devedor principal. Por outro lado, o
protesto para fins falimentares é obrigatório e visa a comprovar a

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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impontualidade injustificada do devedor empresário, tornando o título hábil a


instruir o pedido de falência [...]. Cabe esclarecer, entretanto, que tal distinção
é meramente acadêmica, uma vez que o protesto é único e comprova o mesmo
fato: a apresentação formal de um título, independentemente da finalidade
visada pelo credor (se pedido de falência ou garantia do direito de ação contra
coobrigados)". À luz das distinções acima delineadas, verifica-se que um
protesto cambial facultativo é obrigatório do ponto de vista falimentar, de
modo que pode ser realizado, para este último fim, até a data de prescrição do
cheque. REsp 1.249.866-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
6/10/2015, DJe 27/10/2015.

“ A existência de cláusula compromissória não afeta a executividade do título


de crédito inadimplido e não impede a deflagração do procedimento
falimentar, fundamentado no art. 94, I, da Lei n. 11.101/2005”, REsp.
1.733.685-SP.

II. Incorrer em execução frustrada- art.94, II da Lei 11.101/2005.

Ex. Recebi um cheque de R$ 1.000,00 de um determinado empresário. Cheque sem


fundo. Protestei e ingressei com ação de execução de título executivo extrajudicial.
O devedor está sendo executado e:
 Não paga;
 Não deposita;
 Não há no processo bens suficientes à penhora.

O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que não se caracteriza execução


frustrada quando o devedor apresenta bens à penhora intempestivamente, ou seja,
nesse caso o STJ entendeu que só há realmente a execução frustrada se o devedor
de fato incidir na tríplice omissão. (RAMOS, 03/2020, p. 763).

III. Praticar um ato de falência- art.94, III da Lei 11.101/2005


 - Liquidação precipitada

 - Realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar
pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte
ou da totalidade de seu ativo a terceiro credor ou não;
 - Transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento
de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu
passivo;

 Simulação de transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo


de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;

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 Dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem


ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu
passivo;
 Abandono do estabelecimento empresarial
 Descumprimento do plano de recuperação judicial

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: O autor do pedido de falência não precisa demonstrar que existem indícios da
insolvência ou da insuficiência patrimonial do devedor, bastando que a situação se enquadre em uma das
hipóteses do art. 94 da Lei nº 11.101/2005. Assim, independentemente de indícios ou provas de insuficiência
patrimonial, é possível a decretação da quebra do devedor que não paga, sem relevante razão de direito, no
vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o
equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência (art. 94, I, da Lei nº 11.101/2005).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.532.154-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/10/2016 (Info 596).

5.3 Pressuposto formal: a sentença declaratória da falência

PROCESSO FALIMENTAR – FASES

a) 1ª Fase: Pré-falimentar
 Início: com o pedido de falência (propositura da ação de falência);
 Término: sentença declaratória de falência.
b) 2ª Fase: Falimentar- Processo falimentar propriamente dito
 Início: sentença declaratória de falência;
 Término: sentença de encerramento.
c) 3ª Fase: Reabilitação
 Início: sentença de extinção das obrigações do falido

6. PROCEDIMENTO PRÉ-FALIMENTAR- 1ª FASE

É a fase processual que vai do pedido de falência até a sentença do juiz, que
pode ser denegatória ou declaratória.

6.1 O pedido de falência


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Nesta fase, o objeto do processo é verificar a presença dos pressupostos


materiais de instauração do concurso falimentar.

O pedido de falência deve ser formulado com base numa das situações
descritas nos incisos I,II ou III do art. 94 da LRE.

Auto falência é quando o próprio devedor aciona.

6.1.1. Legitimidade Ativa

Segundo o art. 97 da LRE, “podem requerer a falência do devedor:

I- o próprio devedor (autofalência), na forma do disposto nos arts. 105 a


107 desta Lei;
II- o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;
(1 ano da data do óbito)
O prazo para quando não há óbito é de 2 anos a contar da data de encerramento
formal da atividade econômica.

III- O sócio cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato


constitutivo da sociedade; (SÓCIO)
IV- qualquer credor.
Qualquer credor, independentemente dele ser empresário ou não, de outro
empresário. Mas você precisa juntar uma comprovação de que mostre que
você realmente é empresário de outro empresário, que sua atividade é regular.

#SELIGA: a natureza trabalhista do crédito não impede que o credor requeira a falência do
devedor. Assim, o credor trabalhista tem legitimidade ativa para ingressar com pedido de
falência, considerando que o art. 97, IV, da Lei nº 11.101/2005 não faz distinção entre
credores. STJ. 3ª Turma. REsp 1.544.267-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
23/8/2016 (Info 589).

OBS.:

 Credor empresário: é imprescindível comprovar através de certidão emitida pela


Junta Comercial de regularidade da sua atividade econômica.

 Sociedade em comum: não tem legitimidade ativa para pedir falência de um


empresário, tendo em vista a ausência de registro. Entretanto, poderá ter sua
falência decretada, configurando, nesta hipótese, crime falimentar, diante do
exercício da atividade econômica sem o prévio registro.
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(São as sociedade irregulares, aquelas que desenvolvem a atividade econômica sem


o prévio registro)
A sociedade comum não pode pedir falência de um empresário, mas pode sofrer com
a falência.

 Princípio da Autofalência

Art. 105. O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos
requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua
falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade
empresarial, acompanhadas dos seguintes documentos:
 Estar em crise econômico financeira;
 Não atender aos requisitos da recuperação judicial : deve-se primar pela
preservação da empresa.

 Credor não domiciliado no Brasil (art.97, §2º da lei 11.101/05): tem


legitimidade ativa, mas precisa prestar caução.
Pode pedir falência de um empresário, mas precisa prestar caução, pois servirá de indenização.
Só é exigida para credores não brasileiros.

 No pedido de falência formulado por credor do empresário, é necessário


que a dívida do devedor em relação a ele esteja vencida?
Não é necessário, pois é concursal. Qualquer um pode solicitar, independente de
vencimento.

 A Fazenda Pública pode requerer a falência do devedor?

OBS.: Fazenda pública pode ajuizar pedido de falência?


Sim – a lei 11.101 não exclui expressamente qualquer credor específico de seu regime. Afirmava que a
certidão de dívida ativa não podia ser protestada. Atualmente, há o protesto da CDA.

Não – (MAJORITÁRIA) – deve prevalecer o princípio da preservação da empresa sobre o interesse


arrecadatório do Estado. O Estado tem os meios próprios (Execução Fiscal). Além disso, retira o
contraditório do devedor. (O processo de falência não é o instrumento hábil para julgar o crédito
tributário). É o entendimento do STJ (fala no princípio da preservação da empresa) e do Enunciado nº
56, da 1ª Jornada de Direito Comercial. - Legitimidade da Fazenda Pública: o STJ tem diversos
precedentes recentes (REsp 164389/MG, DJ 16-08-2004; REsp 287824, DJ 20.02.2006), no sentido de

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que a Fazenda não teria legitimidade para pedir a falência do devedor, uma vez que a mesma possuiria
meio próprio de cobrança (execução fiscal). Ademais, no caso de crédito tributário, este não se sujeita
ao regime de concurso universal (arts. 186 e 187 do CTN).

#SELIGA: a Fazenda Pública possui legitimidade para requerer a falência do devedor ?


Prevalece que não. O STJ possui julgados antigos afirmando que não é possível o requerimento de
falência formulado pela Fazenda Pública considerando que ela dispõe de um instrumento específico e
eficiente para a cobrança do crédito tributário, qual seja, a execução fiscal. Nesse sentido: STJ. REsp
287.824/MG, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 20/10/2005. Em âmbito doutrinário, existe um
enunciado da Jornada de Direito Comercial no mesmo caminho: Enunciado 56: A Fazenda Pública não
possui legitimidade ou interesse de agir para requerer a falência do devedor empresário.

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6.1.2. Competência do Juízo Falimentar

 Juízo do Principal Estabelecimento

        Art. 3o.. É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial,


deferir a recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal
estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.

COMPETÊNCIA. FALÊNCIA. FORO DO ESTABELECIMENTO


PRINCIPAL. I- A competência para o processo e julgamento do
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pedido de falência é do juízo onde o devedor tem o seu principal


estabelecimento, e este “é o local onde a atividade se mantém
centralizada”, não sendo, de outra parte, “aquele a que os estatutos
conferem o título principal, mas o que forma o corpo vivo, o centro
vital das principais atividades do devedor” (CC n.º 21.896 – MG Rel.
Ministro Sálvio de Figueiredo). II- Conflito conhecido para declarar
competente o Juízo de direito da 8ª Vara Cível de São Paulo- SP,
suscitado. (STJ, CC 27835/DF, Relator Min. Antônio de Pádua ribeiro,
DJ09/04/2001, p.328).

DIREITO PROCESSUAL CIVIL, DIREITO FALIMENTAR. Juízo


falimentar e recuperação judicial. Competência absoluta. Principal
estabelecimento do devedor. Momento da propositura da ação.

É absoluta a competência do local em que se encontra o principal


estabelecimento para processar e julgar pedido de recuperação judicial,
que deve ser aferido no momento de propositura da demanda, sendo
irrelevantes para esse fim modificações posteriores de volume negocial.

Informações do Inteiro Teor

O Juízo competente para processar e julgar pedido de recuperação judicial


é aquele situado no local do principal estabelecimento (art. 3º da Lei
n. 11.101/2005), compreendido este como o local em que se encontra "o
centro vital das principais atividades do devedor".
Embora utilizado o critério em razão do local, a regra legal estabelece
critério de competência funcional, encerrando hipótese legal de
competência absoluta, inderrogável e improrrogável, devendo ser aferido
no momento da propositura da demanda - registro ou distribuição da
petição inicial.

A utilização do critério funcional tem por finalidade o incremento da


eficiência da prestação jurisdicional, orientando-se pela natureza da lide,
assegurando coerência ao sistema processual e material.

Destaca-se que, no curso do processo de recuperação judicial, as


modificações em relação ao principal estabelecimento, por dependerem
exclusivamente de decisões de gestão de negócios, sujeitas ao crivo do
devedor, não acarretam a alteração do juízo competente, uma vez que os
negócios ocorridos no curso da demanda nem mesmo se sujeitam à
recuperação judicial.

Assim, conclusão diversa, no sentido de modificar a competência sempre


que haja correspondente alteração do local de maior volume negocial,
abriria espaço para manipulações do Juízo natural e possível embaraço do
andamento da própria recuperação. Com efeito, o devedor, enquanto gestor
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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do negócio, detém o direito potestativo de centralização da atividade em


locais distintos no curso da demanda, mas não o poder de movimentar a
competência funcional já definida. Do contrário, o resultado seria o
prolongamento da duração do processo e, provavelmente, a ampliação dos
custos e do prejuízo dos credores, distorcendo a razão de ser do próprio
instituto da recuperação judicial de empresas. SEGUNDA TURMA.
Processo-RMS 58.769-RJ, Rel. Min. Assusete Magalhães, Segunda
Turma, por unanimidade, julgado em 15/09/2020, DJe 23/09/2020. INF.
680 STJ.

É absoluta a competência do local em que se encontra o principal


estabelecimento para processar e julgar pedido de recuperação judicial,
que deve ser aferido no momento de propositura da demanda, sendo
irrelevantes para esse fim modificações posteriores de volume negocial.
(STJ, INF 680 – CC 163.818-ES, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 23/09/2020, DJe
29/09/2020)

Em suma, o STJ já decidiu que a expressão principal estabelecimento pode


significar (embora os acórdãos sejam anteriores à LRE, o entendimento continua
atual):

a) o centro vital das principais atividades do devedor;


b) local onde o devedor mantém suas atividades e seu principal
estabelecimento;
c) local onde a atividade se mantém centralizada.

 Princípios do Juízo Concursal

a) Indivisibilidade
Você só pode mover 1 ação de falência, pois o juízo é indivisível.

b) Universalidade

 Exceções ao princípio da universalidade:

a) Ações não reguladas pela Lei de Falências em que a massa falida for autora ou
litisconsorte ativa;
b) Ações que demandam quantia ilíquida, independentemente da posição da
massa falida na relação processual;
c) Reclamações trabalhistas, para as quais é competente a Justiça do Trabalho,
em razão de norma constitucional;
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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d) As execuções tributárias, que, segundo o disposto no art. 187 do CTN, não se


sujeitam a nenhum concurso de credores, nem à habilitação na falência;
e) Ações de conhecimento de que é parte ou interessada a União, entidade
autárquica ou empresa pública federal, hipótese em que a competência é da
Justiça Federal (CF, art. 109, I).
Massa falida surge depois do processo de falência,

6.1.3 Resposta do devedor

Art. 98. Citado, o devedor poderá apresentar contestação no prazo de 10 (dez) dias.

Parágrafo único. Nos pedidos baseados nos incisos I e II do caput do art. 94 desta Lei,
o devedor poderá, no prazo da contestação, depositar o valor correspondente ao total
do crédito, acrescido de correção monetária, juros e honorários advocatícios, hipótese
em que a falência não será decretada e, caso julgado procedente o pedido de falência,
o juiz ordenará o levantamento do valor pelo autor.

Prazo de 10 dias coridos

1. Apresentar contestação
2. Apresentar pedido de recuperação judicial
3. Depósito elisivo = deposito realizado pelo devedor no prazo para apresentar
resposta que abrange o valor principal atualizado + custas processuais +
honorários advocatícios.

Prazo de 10 dias - CUIDADO – cai muito. Não confunda com o processo civil – 15
dias.

“O pedido de falência pode ser elidido pelo depósito da importância em atraso. O


depósito elisivo impede a decretação da falência do requerido, porque desfigura a
impontualidade ou o interesse do credor na instauração da execução concursal.”
Fábio Ulhoa

Na defesa de mérito poderá o devedor arguir matéria relevante. São


considerados relevantes os fatos previstos no art. 96 da LRE (rol exemplificativo),
vejamos:

I- falsidade do título;

II- prescrição;

III- nulidade da obrigação ou do título;

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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IV- pagamento da dívida;

V- qualquer outro fato que extinga ou suspenda a obrigação ou não legitime


a cobrança do título;

VI- vício em protesto ou em seu instrumento;

VII- apresentação de pedido de Recuperação Judicial no prazo da


contestação;

VIII- cessação das atividades empresariais há mais de dois anos antes do


pedido de falência, comprovada por documento hábil do Registro Público
de Empresas.

6.2 Sentença que denega a Falência

A sentença denegatória pode basear-se em dois fundamentos:

 A improcedência do pedido do autor: com ou sem resolução do mérito. A


sucumbência é do autor da ação.

 A realização do depósito elisivo: ônus da sucumbência pertence ao réu (devedor


empresário).

Obs.: Da sentença denegatória cabe recurso de apelação, conforme disposto na


parte final do art. 100 LRE.

“É cabível a interposição de agravo de instrumento contra decisões


interlocutórias em processo falimentar e recuperacional, ainda que
não haja previsão específica de recurso na Lei n. 11.101/2005”, REsp
1.722.866-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado
em 25/09/2018, INF. 635/STJ.

6.3 Sentença que Decreta a Falência

6.3.1 Natureza jurídica

A sentença declaratória de falência tem natureza predominantemente


constitutiva, afinal, a partir da decretação da quebra, incidirá o regime falimentar sobre
o devedor, colocando-o em situação jurídica diversa da anterior, tendo como efeitos,
dentre outros, o afastamento da administração dos bens, o vencimento antecipado da
dívida, a constituição da massa falida e a nomeação do administrador judicial.

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#SELIGA: “A decretação da falência com base no Decreto- Lei n. 7.661/1945 não importa, por si, na
extinção da personalidade jurídica da sociedade. STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1.265.548-SC, Rel. Acd.
Min. Antônio Carlos Ferreira, julgado em 25/06/2019 (Info 653).

- 2ª FASE: PROCEDIMENTO FALIMENTAR PROPRIAMENTE DITO

6.3.2 Requisitos da sentença que decreta a falência

A decisão que decreta a falência do devedor, entre outras providências,


determinará (art.99 da LRE):

Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras


determinações:

I – conterá a síntese do pedido, a identificação do falido e os nomes dos que forem


a esse tempo seus administradores;

II – fixará o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de 90 (noventa)
dias contados do pedido de falência, do pedido de recuperação judicial ou do 1º
(primeiro) protesto por falta de pagamento, excluindo-se, para esta finalidade, os
protestos que tenham sido cancelados;

III – ordenará ao falido que apresente, no prazo máximo de 5 (cinco) dias, relação
nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação
dos respectivos créditos, se esta já não se encontrar nos autos, sob pena de
desobediência;

IV – explicitará o prazo para as habilitações de crédito, observado o disposto no § 1º


do art. 7º desta Lei;

V – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido,


ressalvadas as hipóteses previstas nos §§ 1º e 2º do art. 6º desta Lei;

VI – proibirá a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens do falido,


submetendo-os preliminarmente à autorização judicial e do Comitê, se houver,
ressalvados os bens cuja venda faça parte das atividades normais do devedor se
autorizada a continuação provisória nos termos do inciso XI do caput deste artigo;

VII – determinará as diligências necessárias para salvaguardar os interesses das


partes envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de seus
administradores quando requerida com fundamento em provas da prática de crime
definido nesta Lei;

VIII - ordenará ao Registro Público de Empresas e à Secretaria Especial da Receita


Federal do Brasil que procedam à anotação da falência no registro do devedor, para
que dele constem a expressão “falido”, a data da decretação da falência e a
inabilitação de que trata o art. 102 desta Lei;       (Redação dada pela Lei nº 14.112,
de 2020)    (Vigência)

IX – nomeará o administrador judicial, que desempenhará suas funções na forma do


inciso III do caput do art. 22 desta Lei sem prejuízo do disposto na alínea a  do
inciso II do caput do art. 35 desta Lei;

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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Profa. Michelle Gonçalves de Araújo Jorge
Disciplina: Direito Empresarial II

X – determinará a expedição de ofícios aos órgãos e repartições públicas e outras


entidades para que informem a existência de bens e direitos do falido;

XI – pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória das atividades do falido


com o administrador judicial ou da lacração dos estabelecimentos, observado o
disposto no art. 109 desta Lei;

XII – determinará, quando entender conveniente, a convocação da assembleia-geral


de credores para a constituição de Comitê de Credores, podendo ainda autorizar a
manutenção do Comitê eventualmente em funcionamento na recuperação judicial
quando da decretação da falência;

XIII - ordenará a intimação eletrônica, nos termos da legislação vigente e


respeitadas as prerrogativas funcionais, respectivamente, do Ministério Público e
das Fazendas Públicas federal e de todos os Estados, Distrito Federal e Municípios
em que o devedor tiver estabelecimento, para que tomem conhecimento da
falência.      (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)

§ 1º O juiz ordenará a publicação de edital eletrônico com a íntegra da decisão que


decreta a falência e a relação de credores apresentada pelo falido.   (Incluído pela
Lei nº 14.112, de 2020)   (Vigência)

§ 2º A intimação eletrônica das pessoas jurídicas de direito público integrantes da


administração pública indireta dos entes federativos referidos no inciso XIII
do caput deste artigo será direcionada:   (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)    (Vigência)

I - no âmbito federal, à Procuradoria-Geral Federal e à Procuradoria-Geral do Banco


Central do Brasil;       (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)   (Vigência)

II - no âmbito dos Estados e do Distrito Federal, à respectiva Procuradoria-Geral, à


qual competirá dar ciência a eventual órgão de representação judicial específico das
entidades interessadas; e     (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

III - no âmbito dos Municípios, à respectiva Procuradoria-Geral ou, se inexistir, ao


gabinete do Prefeito, à qual competirá dar ciência a eventual órgão de
representação judicial específico das entidades interessadas.       (Incluído pela Lei
nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

§ 3º Após decretada a quebra ou convolada a recuperação judicial em falência, o


administrador deverá, no prazo de até 60 (sessenta) dias, contado do termo de
nomeação, apresentar, para apreciação do juiz, plano detalhado de realização dos
ativos, inclusive com a estimativa de tempo não superior a 180 (cento e oitenta) dias
a partir da juntada de cada auto de arrecadação, na forma do inciso III do caput do
art. 22 desta Lei.      (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

OBS.: Fixação do termo legal da falência (artigo 99, II da LRE): É chamado de


período suspeito ou cinzento, pois antecede a falência. É um lapso temporal. Os atos praticados dentro
desse intervalo de tempo, serão investigados, por meio de uma auditoria. E se, por acaso, o devedor
praticar atos expressamente previstos no art. 129 (são as hipóteses de ação de ineficácia) da Lei, o juiz
poderá declarar a ineficácia desses atos.

Falência: Art. 94, I (impontualidade injustificada); II (execução frustrada) e III


(pratica de ato de falência- ex. descumprimento do plano de recuperação
judicial)

EX1.: Causa que motivou a propositura da ação de falência foi a pratica de um ato
de falência (alienação irregular do estabelecimento empresarial):
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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- Empresário renunciou a herança no dia 02/01/2020 (declarada a ineficácia


objetiva- art.129, V da lei 11.101/2005).
- Data da propositura da ação falimentar: 02/02/2020
- Data da decretação da falência: 19/05/2020 (fixar o termo legal da falência)
Juiz pode retroagir os efeitos da sentença em até 90 dias, a contar da data da
propositura da ação de falência.

Termo legal da falência (Período suspeito): O juiz retroagiu 60 dias


(02/02/2020 – 60 dias (02/12/2019 a 19/05/2020) (neste período todos os atos e
negócios jurídicos praticados pelo falido serão investigados para saber se foram
realizados em prejuízo aos credores, caso tenham sido, poderá ser decretada a
ineficácia objetiva ou subjetiva (propositura da ação revocatória).

EX2.: Fixação do termo legal da falência (art. 94, I da LRE), pedido de falência
fundado na impontualidade injustificada- CHEQUE SEM FUNDO DE R$
200.000,00 protestado.

- Qual foi o dia que Empresário teve o 1º título foi protestado? 1º título protestado
ocorreu no dia 10/10/2018 (vai retroagir até 90 dias).
- Data da propositura da ação falimentar: 02/02/2020
- Data da decretação da falência: 19/05/2020
Juiz pode retroagir os efeitos da sentença em até 90 dias, a contar da data do
primeiro título protestado

-Termo legal da falência (Período suspeito): 10/09/2018 a 19/05/2020 (neste


período todos os atos e negócios jurídicos praticados pelo falido serão
investigados para saber se foram realizados em prejuízo aos credores, caso
tenham sido, poderá ser decretada a ineficácia objetiva ou subjetiva (propositura
da ação revocatória).

EX.3: Pedido de Falência com base no Descumprimento do plano de recuperação


judicial.
- Data da propositura da ação de recuperação judicial: 02/02/2019 ( até 90 dias)
- Data da convolação da recuperação em ação falimentar: 02/02/2020
- Data da decretação da falência: 19/03/2020
Juiz pode retroagir os efeitos da sentença em até 90 dias, a contar da data do
da propositura da ação de recuperação.
- Termo legal da falência: 02/01/2019 até 19/03/2020 (período suspeito)

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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 Recursos (art. 100, 189 da LRE).


Art. 100. Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a
improcedência do pedido cabe apelação.

 Da decisão que decreta a Falência cabe ação rescisória?

OBS. INFORMATIVO 613 STJ.


A decretação da falência do proprietário do imóvel interrompe o prazo para que o
possuidor possa adquirir este bem por usucapião. O curso da prescrição aquisitiva da
propriedade de bem que compõe a massa falida é interrompido com a decretação da
falência. Ex: João é possuidor, há 4 anos e 6 meses, de uma área urbana de 200m2,
que utiliza para a sua própria moradia. Ele não tem o título de propriedade dessa
área, mas lá mora há todos esses anos sem oposição de ninguém. Imagine que foi
decretada a falência da empresa que é proprietária desse imóvel. Isso significa que,
neste instante, o prazo para João adquirir o bem por usucapião vai ser interrompido,
ou seja, vai recomeçar do zero. STJ. 3ª Turma. REsp 1.680.357-RJ, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 10/10/2017.

9. DO PROCESSO FALIMENTAR

9.1. O Ministério Público no Pedido de Falência

 Alguns questionamentos:

 Deve o juiz ouvir o Ministério Público antes de prolatar a sentença


que julga o pedido de falência?

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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 A ouvida do Ministério Público, nessa fase pré-falimentar, é medida


obrigatória, cuja ausência possa acarretar nulidade?

Para comprovar tal fato, confiram-se dois julgados recentes do Tribunal de


Justiça do Distrito Federal e Territórios, com posicionamentos diametralmente opostos.

Agravo de instrumento. Falência. Ausência de intervenção do Ministério Público.


Discussão a respeito da necessidade ou não de intervenção do órgão ministerial a
partir da edição da Lei 11.101/2005.
1. O fundamento da intervenção do Ministério Público no processo de
insolvência civil ou comercial é o interesse público, que, nestas hipóteses,
reside na necessidade de tutela do crédito, da fé pública, do comércio, da
economia pública e na preservação do tratamento igualitário dos credores,
pilar da execução concursal falimentar (APC n.º 26518-3/2006, DJ
25.07.2006).
2. O Ministério Público deve manifestar-se, desde o momento em que é
deduzido o pedido de falência em juízo, por qualquer dos legitimados
processuais elencados no art. 97, incisos I a IV da lei de falências, pois a
decretação da falência tem efeitos graves na economia, sendo necessário e
imprescindível que o Ministério Público, como fiscal do fiel cumprimento da
lei, seja chamado a opinar antes da sentença, analisando detidamente a
presença dos requisitos e dos pressupostos legais, antes de proferir sentença
de quebra, determinar o processamento da recuperação judicial ou decretar
de plano a falência (APC n.º 26518-3/2006, DJ de 25.07.2006).

3. Recurso provido. Maioria (TJDFT, 5.ª Turma Cível, Processo


20070020034701 AGI/DF, Acórdão 275973, Rel. Des. Romeu Gonzaga Neiva,
j. 13.06.2007, DJU 27.07.2007, p. 121).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. FALÊNCIA. DECISÃO QUE DECRETA A


QUEBRA. FALTA DE INTIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA FASE
PRÉ-FALIMENTAR. IRRELEVÂNCIA. AUSÊNCIA DE NULIDADE.
AGRAVO IMPROVIDO.
1. Inexiste nulidade na sentença que decretou a falência sem a manifestação
prévia do Ministério Público, vez que a nova lei de falência e de recuperação
de empresas (Lei 11.101/05) não prevê a atuação ministerial na fase pré-
falimentar.
2. Segundo o magistério de Fábio Ulhoa Coelho (Comentários à nova Lei de
Falência e de Recuperação de Empresas, Saraiva, 3 ed., p. 30), “O
Ministério Público só começa a participar do processo falimentar depois da
sentença declaratória da falência. A lei prevê sua intimação apenas no caso
de o juiz decretar a quebra do devedor insolvente (art. 99, XIII). Durante a
tramitação do pedido de falência, não há sentido nenhum em colher sua
manifestação” .
3. AGRAVO CONHECIDO E IMPROVIDO. (TJDF,Classe do Processo:
20060020065270 AGI DF, Registro do Acórdão Número: 274281, Data de
Julgamento31/01/2007, Órgão Julgador: 6ª Turma Cível, Relator Des.
Jesuíno Rissato, DJU 21/06/2007, p.123).

Em síntese, à luz da Lei nº 11.101/2005, com significativas alterações pela


Lei nº 14.112/2020, o Ministério Público:

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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1) Pode:

a) impugnar relação de credores (prazo: 10 dias) (art. 8º);

b) pedir, até encerramento da falência ou da rec. jud. exclusão, reclassificação ou


retificação de qualquer crédito nos casos de falsidade, dolo, simulação, fraude,
erro essencial ou documentos ignorados à época (art. 19);

c) requerer substituição do administrador judicial ou de membros do Comitê


nomeados em desobediência aos preceitos legais (art. 30, § 2º);

d) agravar da decisão que conceder recuperação judicial (art. 59, § 2º);

e) ajuizar ação revocatória (prazo de três anos contado da decretação da falência)


contra atos praticados com a intenção de prejudicar credores (art. 132);

f) manifestar-se quanto ao pedido de extinção das obrigações do falido,


exclusivamente para apontar inconsistências formais e objetivas (art. 159, § 1º)

2) Deve:

a) ser intimado eletronicamente da decisão que defere processamento da


recuperação judicial (art. 52, V), da decisão que concede a recuperação judicial
(art. 58, § 3º) e da sentença que decreta a falência (art. 99, XIII);
b) ser intimado em caso de constatação da necessidade de eventual
responsabilização penal (art. 22, § 4º);
c) ser oficiado, na recuperação judicial, caso o procedimento de constatação prévia
detecte indícios contundentes de utilização fraudulenta da ação de recuperação
judicial, para tomada das providências criminais eventualmente cabíveis (art. 51-A,
§ 6º);
d) ser ouvido previamente à homologação judicial das deliberações por “adesão de
credores” (art. 45-A, § 4º);
e) ser ouvido na hipótese de não serem encontrados bens para serem arrecadados
ou se os arrecadados forem insuficientes para as despesas do processo (art. 114-
A).
f) ser intimado eletronicamente em qualquer modalidade de alienação ordinária do
ativo (art. 142, § 7º), sob pena de nulidade, podendo apresentar impugnação no
prazo de 48 horas da arrematação (art. 143);
g) ser intimado para se manifestar, no prazo de 5 dias, sobre as contas prestadas
pelo administrador judicial após a realização de todo o ativo e a distribuição do
produto aos credores (art. 154, § 3º)
h) intervir nos processos que tratem de insolvência transnacional (art. 167-A, § 5º)

Obs.: Nenhum dos dispositivos legais cominados prevê a intervenção ou visto do


Ministério Público, sequer citando-o no procedimento destinado à homologação
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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judicial do plano (art. 164). Todavia, na hipótese de simulação de crédito deverá se


manifestar, pois tal simulação constitui crime falimentar (art.175).

9.2 A ADMINISTRAÇÃO DA FALÊNCIA

9.2.1 Administrador Judicial- art. 21 ao art. 25 da Lei n.º 11.101/2005.

Art. 21. O administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista,
administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada.

Parágrafo único. Se o administrador judicial nomeado for pessoa jurídica, declarar-se-á, no termo de
que trata o art. 33 desta Lei, o nome de profissional responsável pela condução do processo de
falência ou de recuperação judicial, que não poderá ser substituído sem autorização do juiz.

Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros
deveres que esta Lei lhe impõe:

I – na recuperação judicial e na falência:

a) enviar correspondência aos credores constantes na relação de que trata o inciso III do caput do
art. 51, o inciso III do caput do art. 99 ou o inciso II do caput do art. 105 desta Lei, comunicando a
data do pedido de recuperação judicial ou da decretação da falência, a natureza, o valor e a
classificação dada ao crédito;

b) fornecer, com presteza, todas as informações pedidas pelos credores interessados;

c) dar extratos dos livros do devedor, que merecerão fé de ofício, a fim de servirem de fundamento
nas habilitações e impugnações de créditos;

d) exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer informações;

e) elaborar a relação de credores de que trata o § 2º do art. 7º desta Lei;

f) consolidar o quadro-geral de credores nos termos do art. 18 desta Lei;

g) requerer ao juiz convocação da assembléia-geral de credores nos casos previstos nesta Lei ou
quando entender necessária sua ouvida para a tomada de decisões;

h) contratar, mediante autorização judicial, profissionais ou empresas especializadas para, quando


necessário, auxiliá-lo no exercício de suas funções;

i) manifestar-se nos casos previstos nesta Lei;

j) estimular, sempre que possível, a conciliação, a mediação e outros métodos alternativos de


solução de conflitos relacionados à recuperação judicial e à falência, respeitados os direitos de
terceiros, na forma do § 3º do art. 3º da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo
Civil);       (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

k) manter endereço eletrônico na internet, com informações atualizadas sobre os processos de


falência e de recuperação judicial, com a opção de consulta às peças principais do processo, salvo
decisão judicial em sentido contrário;       (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

l) manter endereço eletrônico específico para o recebimento de pedidos de habilitação ou a


apresentação de divergências, ambos em âmbito administrativo, com modelos que poderão ser

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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utilizados pelos credores, salvo decisão judicial em sentido contrário;     (Incluído pela Lei nº 14.112,
de 2020)    (Vigência)

m) providenciar, no prazo máximo de 15 (quinze) dias, as respostas aos ofícios e às solicitações


enviadas por outros juízos e órgãos públicos, sem necessidade de prévia deliberação do
juízo;    (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

II – na recuperação judicial:

a) fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperação judicial;

b) requerer a falência no caso de descumprimento de obrigação assumida no plano de recuperação;

c) apresentar ao juiz, para juntada aos autos, relatório mensal das atividades do devedor,
fiscalizando a veracidade e a conformidade das informações prestadas pelo devedor;     (Redação
dada pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

d) apresentar o relatório sobre a execução do plano de recuperação, de que trata o inciso III
do caput do art. 63 desta Lei;

e) fiscalizar o decurso das tratativas e a regularidade das negociações entre devedor e


credores;     (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

f) assegurar que devedor e credores não adotem expedientes dilatórios, inúteis ou, em geral,
prejudiciais ao regular andamento das negociações;    (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)    (Vigência)

g) assegurar que as negociações realizadas entre devedor e credores sejam regidas pelos termos
convencionados entre os interessados ou, na falta de acordo, pelas regras propostas pelo
administrador judicial e homologadas pelo juiz, observado o princípio da boa-fé para solução
construtiva de consensos, que acarretem maior efetividade  econômico-financeira e proveito social
para os agentes econômicos envolvidos;   (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

h) apresentar, para juntada aos autos, e publicar no endereço eletrônico específico relatório mensal
das atividades do devedor e relatório sobre o plano de recuperação judicial, no prazo de até 15
(quinze) dias contado da apresentação do plano, fiscalizando a veracidade e a conformidade das
informações prestadas pelo devedor, além de informar eventual ocorrência das condutas previstas
no art. 64 desta Lei;   (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

III – na falência:

a) avisar, pelo órgão oficial, o lugar e hora em que, diariamente, os credores terão à sua disposição
os livros e documentos do falido;

b) examinar a escrituração do devedor;

c) relacionar os processos e assumir a representação judicial e extrajudicial, incluídos os processos


arbitrais, da massa falida;     (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)      (Vigência)

d) receber e abrir a correspondência dirigida ao devedor, entregando a ele o que não for assunto de
interesse da massa;

e) apresentar, no prazo de 40 (quarenta) dias, contado da assinatura do termo de compromisso,


prorrogável por igual período, relatório sobre as causas e circunstâncias que conduziram à situação
de falência, no qual apontará a responsabilidade civil e penal dos envolvidos, observado o disposto
no art. 186 desta Lei;

f) arrecadar os bens e documentos do devedor e elaborar o auto de arrecadação, nos termos dos
arts. 108 e 110 desta Lei;

g) avaliar os bens arrecadados;

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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h) contratar avaliadores, de preferência oficiais, mediante autorização judicial, para a avaliação dos
bens caso entenda não ter condições técnicas para a tarefa;

i) praticar os atos necessários à realização do ativo e ao pagamento dos credores;

j) proceder à venda de todos os bens da massa falida no prazo máximo de 180 (cento e oitenta)
dias, contado da data da juntada do auto de arrecadação, sob pena de destituição, salvo por
impossibilidade fundamentada, reconhecida por decisão judicial;      (Redação dada pela Lei nº
14.112, de 2020)    (Vigência)

l) praticar todos os atos conservatórios de direitos e ações, diligenciar a cobrança de dívidas e dar a
respectiva quitação;

m) remir, em benefício da massa e mediante autorização judicial, bens apenhados, penhorados ou


legalmente retidos;

n) representar a massa falida em juízo, contratando, se necessário, advogado, cujos honorários


serão previamente ajustados e aprovados pelo Comitê de Credores;

o) requerer todas as medidas e diligências que forem necessárias para o cumprimento desta Lei, a
proteção da massa ou a eficiência da administração;

p) apresentar ao juiz para juntada aos autos, até o 10º (décimo) dia do mês seguinte ao vencido,
conta demonstrativa da administração, que especifique com clareza a receita e a despesa;

q) entregar ao seu substituto todos os bens e documentos da massa em seu poder, sob pena de
responsabilidade;

r) prestar contas ao final do processo, quando for substituído, destituído ou renunciar ao cargo.

s) arrecadar os valores dos depósitos realizados em processos administrativos ou judiciais nos


quais o falido figure como parte, oriundos de penhoras, de bloqueios, de apreensões, de leilões, de
alienação judicial e de outras hipóteses de constrição judicial, ressalvado o disposto nas Leis
nos 9.703, de 17 de novembro de 1998, e 12.099, de 27 de novembro de 2009, e na Lei
Complementar nº 151, de 5 de agosto de 2015.     (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)     (Vigência)

§ 1º As remunerações dos auxiliares do administrador judicial serão fixadas pelo juiz, que
considerará a complexidade dos trabalhos a serem executados e os valores praticados no mercado
para o desempenho de atividades semelhantes.

§ 2º Na hipótese da alínea d  do inciso I do caput deste artigo, se houver recusa, o juiz, a


requerimento do administrador judicial, intimará aquelas pessoas para que compareçam à sede do
juízo, sob pena de desobediência, oportunidade em que as interrogará na presença do
administrador judicial, tomando seus depoimentos por escrito.

§ 3º Na falência, o administrador judicial não poderá, sem autorização judicial, após ouvidos o
Comitê e o devedor no prazo comum de 2 (dois) dias, transigir sobre obrigações e direitos da massa
falida e conceder abatimento de dívidas, ainda que sejam consideradas de difícil recebimento.

§ 4º Se o relatório de que trata a alínea e  do inciso III do caput deste artigo apontar


responsabilidade penal de qualquer dos envolvidos, o Ministério Público será intimado para tomar
conhecimento de seu teor.

9.2.3 Assembleia dos Credores

Art. 41. A assembleia-geral será composta pelas seguintes classes de credores:


I – titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de
acidentes de trabalho;
II – titulares de créditos com garantia real;

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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III – titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral
ou subordinados.
IV - titulares de créditos enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno
porte.
§ 1o Os titulares de créditos derivados da legislação do trabalho votam com a classe
prevista no inciso I do caput deste artigo com o total de seu crédito, independentemente do
valor.
§ 2o Os titulares de créditos com garantia real votam com a classe prevista no inciso II do
caput deste artigo até o limite do valor do bem gravado e com a classe prevista no inciso III
do caput deste artigo pelo restante do valor de seu crédito.

9.2.4 Comitê de Credores

Art. 26. O Comitê de Credores será constituído por deliberação de qualquer das classes de
credores na assembleia-geral e terá a seguinte composição:

I – 1 (um) representante indicado pela classe de credores trabalhistas, com 2 (dois)


suplentes;

II – 1 (um) representante indicado pela classe de credores com direitos reais de


garantia ou privilégios especiais, com 2 (dois) suplentes;

III – 1 (um) representante indicado pela classe de credores quirografários e com


privilégios gerais, com 2 (dois) suplentes.

IV - 1 (um) representante indicado pela classe de credores representantes de


microempresas e empresas de pequeno porte, com 2 (dois) suplentes. (Incluído pela
Lei Complementar nº 147, de 2014).

§ 1º A falta de indicação de representante por quaisquer das classes não prejudicará a


constituição do Comitê, que poderá funcionar com número inferior ao previsto no caput
deste artigo.

§ 2º O juiz determinará, mediante requerimento subscrito por credores que representem a


maioria dos créditos de uma classe, independentemente da realização de assembleia:

I – a nomeação do representante e dos suplentes da respectiva classe ainda não


representada no Comitê; ou

II – a substituição do representante ou dos suplentes da respectiva classe.

§ 3º Caberá aos próprios membros do Comitê indicar, entre eles, quem irá presidi-lo.

Art. 27. O Comitê de Credores terá as seguintes atribuições, além de outras previstas
nesta Lei:

I – na recuperação judicial e na falência:

a) fiscalizar as atividades e examinar as contas do administrador judicial;

b) zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento da lei;

c) comunicar ao juiz, caso detecte violação dos direitos ou prejuízo aos interesses dos
credores;

d) apurar e emitir parecer sobre quaisquer reclamações dos interessados;


“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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e) requerer ao juiz a convocação da assembleia-geral de credores;

f) manifestar-se nas hipóteses previstas nesta Lei;

II- na recuperação judicial

(...)”

10. EFEITOS DA FALÊNCIA

* Quadro retirado do livro do Prof. André Luiz Santa Cruz Ramos, Direito Empresarial, pág.782.

Art. 82-A. É vedada a extensão da falência ou de seus efeitos, no todo ou em parte, aos sócios de
responsabilidade limitada, aos controladores e aos administradores da sociedade falida, admitida,
contudo, a desconsideração da personalidade jurídica.     (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)    (Vigência)

Parágrafo único. A desconsideração da personalidade jurídica da sociedade falida, para fins de


responsabilização de terceiros, grupo, sócio ou administrador por obrigação desta, somente pode ser
decretada pelo juízo falimentar com a observância do art. 50 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de
2002 (Código Civil) e dos arts. 133, 134, 135, 136 e 137 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015
(Código de Processo Civil), não aplicada a suspensão de que trata o § 3º do art. 134 da Lei nº
13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).             (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)    (Vigência)

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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10.1 Os efeitos da falência quanto à pessoa do falido.

 Restrições à capacidade processual do falido. Autor e réu passa a ser a Massa


Falida.

Massa falida da sociedade comércio de materiais esportivos LTDA.

 Sociedade em que a responsabilidade dos sócios é ilimitada

Obs.: Qual efeito que a falência gera quanto a responsabilidade dos


sócios?
Ex. A Falência da Sociedade em nome coletivo representa a extensão
dos efeitos no patrimônio de todos os sócios, pois respondem de forma
solidária e ilimitada.

- Falência da Sociedade em Comandita Simples? Depende. Os sócios


comanditados sofrerão os efeitos da falência em seu patrimônio, tendo em
vista sua responsabilidade pelas obrigações sociais serem solidária e
ilimitada. Os sócios comanditários não sofrem os efeitos da falência
(respondem de forma limitada ao valor das suas quotas), só acarretará a
extensão dos efeitos no patrimônio dos sócios ou administrador, se ficar
configurado o abuso da personalidade jurídica caracterizar da
Desconsideração da personalidade jurídica, conforme art. 50 do CC.

 Sociedade em que a responsabilidade dos sócios é limitada

EX. Sociedade Limitada e Sociedade Anônima. A decretação da


falência das pessoas jurídicas anteriormente citadas, só acarretará a
extensão dos efeitos no patrimônio dos sócios ou administrador, se ficar
configurado o abuso da personalidade jurídica caracterizar da
Desconsideração da personalidade jurídica, conforme art. 50 do CC.

 Prescrição da ação para responsabilizar pessoalmente os sócios art.


82, § 1º da LRE). 2 anos, a contar do trânsito em julgado da sentença de
encerramento do processo falimentar.

 Obrigações que lhe são impostas (art. 104 da LRE).

 Proibição para o exercício da atividade empresarial (art. 102 da LRE) =


Inabilitação empresarial é efeito automático da sentença que decreta a falência.
10.2 Efeitos da falência quanto aos bens do falido. Massa falida objetiva

Consoante lição de ALMEIDA “Em se tratando de empresário individual,


pessoa física, as consequências da decretação da falência se fazem sentir
diretamente sobre a pessoa do falido, independentemente dos reflexos sobre os
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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seus bens. Se se trata de empresário coletivo, sociedade empresária, a sentença


falimentar atua não só sobre os bens da sociedade como também sobre as
pessoas dos sócios, administradores ou diretores – são os chamados efeitos da
falência quanto à pessoa do falido”.

 Nomeação do administrador judicial: represente legal da massa falida.

 Perda do direito de administrar os bens ou deles dispor do empresário


(art. 103 da LRE).

OBS.: A meação da mulher casada e a falência do empresário individual: art.


1663, § 1º, do Código Civil: “As dívidas contraídas no exercício da administração
obrigam os bens comuns e particulares do cônjuge que os administra, e os do outro na
razão do proveito que houver auferido”.

10.3 Efeitos da falência quanto às obrigações do devedor

A decretação da falência suspende, segundo art. 116 da lei 11.101/2005:


“I- o exercício do direito de retenção sobre os bens sujeitos à arrecadação, os
quais deverão ser entregues ao administrador judicial;

II- o exercício do direito de retirada ou de recebimento do valor de suas quotas


ou ações, por parte dos sócios da sociedade falida”.

A decretação da falência também acarreta:

“o vencimento antecipado das dívidas do devedor e dos sócios ilimitada e


solidariamente responsáveis, com o abatimento proporcional dos juros, e
converte todos os créditos em moeda estrangeira para a moeda do País, pelo
câmbio do dia da decisão judicial” (art. 77 da LRE).

 Existe a possibilidade de se exigir juros vencidos após a


decretação da falência (art. 124 da LRE)?

10.3.1 Os contratos do falido

 Contratos bilaterais
Art. 117 da LRE, “os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e
podem ser cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessário à


manutenção e preservação de seus ativos, mediante autorização do
Comitê.”

 Contratos unilaterais em que o falido é devedor e credor:

Art. 118 da LRE que “o administrador judicial, mediante autorização do


Comitê, poderá dar cumprimento a contrato unilateral se esse fato reduzir ou
evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessário à
manutenção e preservação de seus ativos, realizando o pagamento da
prestação pela qual está obrigada”.

Excepcionalidade da regra do art. 117 e 118 da LRE diante da cláusula de



resolução por falência.

 Regras especiais para determinados contratos

I. COISAS VENDIDAS E EM TRÂNSITO


(comprador)
II. VENDA DE COISAS COMPOSTAS
(vendedor)
III. COISA MÓVEL VENDIDA A
PRESTAÇÃO (vendedor)
IV. COMPRA E VENDA COM RESERVA DE
DOMÍNIO (comprador)
V. COISA VENDIDA A TERMO DE BENS
(comprador)
Contratos sujeitos a regras VI. PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE
especiais- art. 119, 120 e 121 da IMÓVEIS (promitente vendedor e promitente
LRE. comprador).
VII. CONTRATO DE LOCAÇÃO (falência do
locador ou falência do locatário).
VIII. OBRIGAÇÕES NO ÂMBITO DO
SISTEMA FINANCEIRO.
IX. PATRIMÔNIO DE AFETAÇÃO
CONSTITUÍDO PARA CUMPRIMENTO DE
DESTINAÇÃO ESPECÍFICA.
ART. 120= CONTRATO DE MANDATO
(falido é o mandante ou mandatário?).
ART. 121= CONTRATO DE CONTA
CORRENTE.

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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10.4 Efeitos da falência em relação aos credores do falido- Formação da massa


falida subjetiva com a consolidação do quadro geral de credores.

A formação da massa falida subjetiva será feita por meio do procedimento de


verificação e habilitação dos créditos, regulado nos arts. 7.º e seguintes da LRE, que
também estudaremos com mais detalhes no item 11.

10.5 Efeitos da falência quanto aos atos praticados pelo falido (art. 129 ao art.
138 da lei 11.101/2005) - Podem ser considerados objetivamente ineficazes ou
subjetivamente ineficazes.

10.5.1 Dos atos do falido objetivamente ineficazes perante a massa- art. 129 da
lei n.º 11.101/2005.

O art. 129 da LRE (rol taxativo) contempla uma série de regras específicas que
estabelecem a ineficácia de certos atos do devedor falido perante a massa, a saber:

a) O pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentro do termo


legal, por qualquer meio extintivo de direito de crédito, ainda que pelo desconto
do próprio título.
b) Pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro do termo legal, por
qualquer forma que não seja a prevista pelo contrato.
c) A constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção, dentro do termo
legal, tratando-se de dívida contraída anteriormente; se os bens dados em
hipoteca forem objeto de outras posteriores, a massa falida receberá a parte que
devia caber ao credor da hipoteca revogada.
d) A prática de atos a título gratuito (ex.: doação), desde 2 (dois) anos antes da
decretação da falência.
e) Renúncia à herança ou a legado, até 2 (dois) anos antes da decretação da
falência.
f) A venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento
expresso ou o pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, não
tendo restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se,
no prazo de 30 (trinta) dias, não houver oposição dos credores, após serem
devidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial do registro de títulos e
documentos = art. 94, III da lei de 11.101/2005.
g) Registros de direitos reais e de transferências de propriedade entre vivos, por
título oneroso ou gratuito, ou a averbação relativa a imóveis realizados após a
decretação da falência, salvo se tiver havido prenotação anterior.

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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Obs. A ineficácia objetiva pode ser declarada de ofício pelo juiz, alegada em defesa ou
pleiteada mediante ação própria ou incidentalmente no curso do processo.

10.5.2 Dos atos do falido subjetivamente ineficazes perante a massa- art. 130 da
lei 11.101/2005.

A LRE prevê em seu art. 130 que “são revogáveis (ineficaz) os atos praticados
com a intenção de prejudicar credores, provando-se o conluio fraudulento entre o
devedor e o terceiro que com ele contratar e o efetivo prejuízo sofrido pela massa
falida”.

Estes só terão reconhecida sua ineficácia se forem provados:

I. A intenção de prejudicar os credores

II. O conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que contratou com ele e

III. O real prejuízo da massa.

 Ação Revocatória (art. 132 e ss da LRE)

- Legitimidade ativa: art. 132. Autor? – MP; - Administrador judicial e – Qualquer


credor

- Legitimidade passiva: art. 133. I- contra todos os que figuraram no ato ou que por
efeito dele foram pagos, garantidos ou beneficiados; II- contra os terceiros adquirentes,
se tiveram conhecimento, ao se criar o direito, da intenção do devedor de prejudicar os
credores; III-contra os herdeiros ou legatários das pessoas indicadas nos incisos I e II.

- Prazo: 3 anos, contados da decretação da falência.

Obs.: Da sentença (decisão) que julga procedente a ineficácia subjetiva cabe agravo
de instrumento.

11. HABILITAÇÃO DOS CRÉDITOS, DIVERGÊNCIAS E IMPUGNAÇÕES

 O prazo para a habilitação ou apresentação de divergências é de 15 dias (art.


7º, § 1º). Quem faz todo processo de habilitação de crédito é o administrador
judicial. O juiz participa se houver alguma impugnação.
 Apresentados os pedidos de habilitação e/ou as divergências, o administrador
judicial, com base na relação inicial fornecida pelo devedor e nos documentos
apresentados pelos credores nas habilitações/divergências, fará publicar, no
prazo de 45 (quarenta e cinco) dias novo “edital contendo a relação de credores”
(art. 7º, § 2º da LRE).
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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 Pode ser que algum credor não tenha apresentado sua respectiva
habilitação/divergência no prazo legal de 15 (quinze) dias do art. 7º, § 1º da
LFRE, fazendo-o posteriormente. Nesse caso, a habilitação/divergência é
considerada retardatária, nos termos do art. 10 da LFRE.

 Se as habilitações/divergências retardatárias forem apresentadas antes da


homologação do quadro-geral de credores, elas serão recebidas e processadas
como impugnação (art. 10, § 5º da LFRE). Se, no entanto, já tiver sido
homologado o quadro-geral, o credor retardatário terá que requerer ao juízo a
sua retificação em ação própria, que obedecerá ao procedimento comum do
novo CPC (art. 10, § 6º da LFRE).

 Enfim, contra essa relação de credores feita pelo administrador judicial, qualquer
credor, o devedor ou seus sócios ou o Ministério Público” terão 10 (dez) dias
para apresentar impugnação (art. 8º da LFRE), que será autuada em apartado.
Caso, todavia, não haja impugnação, a referida relação se consolidará como
quadro-geral de credores (art. 14 da LFRE).

 Após autuar as impugnações em apartado, o cartório providencia a intimação


dos credores impugnados, os quais se manifestarão no prazo de 5 dias
contados dessa intimação.

 Feito isso, serão intimados o devedor ou o representante legal do devedor, bem


como o comitê de credores. Vencidos os prazos, quem dará o parecer será o
administrador judicial em 5 dias.

 Os autos, então, retornam ao juiz. Se for necessária a dilação probatória, ele


designará a audiência de instrução e julgamento. Não sendo o caso de designar
a audiência, o juiz poderá julgar a impugnação desde já.
 Homologado o quadro-geral, ele ainda poderá ser alterado, tanto por eventual
ação de credor retardatário, conforme já mencionado (art. 10, § 6º da LFRE),
quanto por ação do administrador judicial, qualquer credor, comitê de credores
ou Ministério Público, desde que, nesse caso, se demonstre que houve
“falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou, ainda, documentos
ignorados na época do julgamento do crédito ou da inclusão no quadro-geral de
credores” (art. 19 da LFRE).

12. DO PEDIDO DE RESTITUIÇÃO- Art. 85 ao 93 da LRE.

Há basicamente quatro hipóteses que ensejam a possibilidade de pedido de


restituição de bens, para as quais a LRE estabelece procedimento específico, regulado
nos seus art. 85 a 93.

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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 1ª hipótese: art. 85 da LRE: “o proprietário de bem arrecadado no processo de


falência ou que se encontre em poder do devedor na data da decretação da
falência poderá pedir sua restituição”.

 2ª hipótese: art. 85, parágrafo único da LRE: “também pode ser pedida a
restituição de coisa vendida a crédito e entregue ao devedor nos 15 dias
anteriores ao requerimento de sua falência, se ainda não alienada”.

 3ª hipótese: art.86, II da LRE: “caberá a restituição em dinheiro da importância


entregue ao devedor, em moeda corrente nacional, decorrente de adiantamento
a contrato de câmbio para exportação, na forma do art. 75, § § 3º e 4º, da Lei n.º
4.728, de 14 de julho de 1965, desde que o prazo total da operação, inclusive
eventuais prorrogações, não exceda o previsto nas normas específicas da
autoridade competente.”

(...) É pacífica a jurisprudência deste Tribunal Superior no sentido de que,


em processo de falência, os pedidos de restituições adiantadas à conta de
contrato de câmbio (art. 75, § 3.º, da Lei n. 4.728/1965) devem efetivar-se
antes do pagamento de qualquer crédito, ainda que trabalhista, pois os
bens a que se referem não integram o patrimônio do falido. (...) (REsp
439.814/RS, Rel. Min. Barros Monteiro, j. 18.11.2004, Informativo
229/2004). (RAMOS, 03/2020, pp. 810-811)

 4ª hipótese: art. 86, III da LRE: trata-se da situação em que o juiz declara a
ineficácia de ato praticado pelo falido antes da decretação da quebra, caso em
que “as partes retornarão ao estado anterior, e o contratante de boa-fé terá
direito à restituição dos bens ou valores entregues ao devedor”.

12.1 Hipóteses de restituição em dinheiro

A matéria está regulada nos incisos I, II, III e IV do art. 86 da LRE.

12.2 Procedimento do pedido de restituição.

 Requerimento (petição) formulado perante o juízo universal da falência,


fundamentado e descreverá a coisa reclamada;

 Juiz mandará autuar em separado o requerimento com a documentação;

 Intimação do falido, do Comitê, dos credores e do administrador judicial para no


prazo de 5 dias se manifestarem;

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 Contestado o pedido e deferidas as provas porventura requeridas, juiz designa


audiência de Instrução e Julgamento, se necessária;

 Não havendo contestação (manifestação), a massa falida não será condenada


ao pagamento de honorários advocatícios;

 Julgado procedente por sentença: o juiz determinará imediatamente que a coisa


seja entregue ao autor do pedido no prazo de 48 horas;

 Se julgado improcedente: determinará na própria sentença a sua inclusão no


quadro-geral de credores, na ordem de classificação, se entender que o
requerente é credor do devedor falido;

 Contra a sentença cabe recurso de apelação sem efeito suspensivo;

 O pedido de restituição suspende a disponibilidade da coisa até o trânsito em


julgado.

13. DA LIQUIDAÇÃO (Venda dos bens que compõem a massa falida) - Art. 139 ao
148 da LRE

Entende-se por liquidação um conjunto de atos, praticados pelos órgãos da


falência que visam a realização do ativo e a satisfação do passivo da falida.

13.1 Venda dos Bens

Os bens arrecadados podem ser vendidos pelo modo ordinário ou


extraordinário, segundo o que mais interessar à massa.

Obs.:
- Alienação do estabelecimento empresarial:
Regra: Art. 1146 do CC
Exceção: art. 141 da lei c/c art. 60 da lei 11.101/2005.
STJ: reconhece a não sucessão
Enunciado 47 da Jornada de Direito Comercial: não sucessão.
Obs.: § 1º do art. 141 da lei 11.101/2005 excepcionaliza a regra da sucessão
empresarial, trabalhista e tributária (haverá sucessão).

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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 Venda Ordinária- art. 140

“Na venda ordinária da empresa ou dos bens da sociedade falida, o juiz, ouvidos os
órgãos da falência, escolhe a melhor alternativa para a massa, observando a seguinte
ordem de preferência ditada pela lei:
a) alienação da empresa com transferência do estabelecimento em bloco;
b) alienação da empresa com a transferência em separado de um ou mais
estabelecimentos que representem unidades produtivas autônomas;
c) venda dos bens do estabelecimento em blocos;
d) venda dos bens do estabelecimento segregados” Fábio Ulhoa.

 Venda Extraordinária
“A venda extraordinária da empresa ou bens da sociedade falida realiza-se por
decisão do juiz, deferindo requerimento fundamentado do administrador
judicial ou em razão de elevado grau de consenso entre os credores,
manifestado em Assembleia.” Fábio Ulhoa

13.2 Modalidades típicas de venda

Art. 142. A alienação de bens dar-se-á por uma das seguintes modalidades:     (Redação
dada pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
I - leilão eletrônico, presencial ou híbrido;        (Redação dada pela Lei nº 14.112, de
2020)    (Vigência)
II - (revogado);         (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)
III - (revogado);         (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
IV - processo competitivo organizado promovido por agente especializado e de reputação
ilibada, cujo procedimento deverá ser detalhado em relatório anexo ao plano de realização
do ativo ou ao plano de recuperação judicial, conforme o caso;      (Redação dada pela Lei
nº 14.112, de 2020)   (Vigência)
V - qualquer outra modalidade, desde que aprovada nos termos desta Lei.        (Redação
dada pela Lei nº 14.112, de 2020)   (Vigência)
§ 1º (Revogado).        (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)
§ 2º (Revogado).          (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
§ 2º-A. A alienação de que trata o caput deste artigo:       (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)    (Vigência)
I - dar-se-á independentemente de a conjuntura do mercado no momento da venda ser
favorável ou desfavorável, dado o caráter forçado da venda;       (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)    (Vigência)
II - independerá da consolidação do quadro-geral de credores;       (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)    (Vigência)

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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III - poderá contar com serviços de terceiros como consultores, corretores e


leiloeiros;        (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)   (Vigência)
IV - deverá ocorrer no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data da
lavratura do auto de arrecadação, no caso de falência;     (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)    (Vigência)
V - não estará sujeita à aplicação do conceito de preço vil.        (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)    (Vigência)
§ 3º Ao leilão eletrônico, presencial ou híbrido aplicam-se, no que couber, as regras da Lei
nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).        (Redação dada pela
Lei nº 14.112, de 2020)  (Vigência)
§ 3º-A. A alienação por leilão eletrônico, presencial ou híbrido dar-se-á:         (Incluído pela
Lei nº 14.112, de 2020)   (Vigência)
I - em primeira chamada, no mínimo pelo valor de avaliação do bem;        (Incluído pela Lei
nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
II - em segunda chamada, dentro de 15 (quinze) dias, contados da primeira chamada, por
no mínimo 50% (cinquenta por cento) do valor de avaliação; e       (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)   (Vigência)
III - em terceira chamada, dentro de 15 (quinze) dias, contados da segunda chamada, por
qualquer preço.      (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
§ 3º-B. A alienação prevista nos incisos IV e V do caput deste artigo, conforme
disposições específicas desta Lei, observará o seguinte:       (Incluído pela Lei nº 14.112,
de 2020)    (Vigência)
I - será aprovada pela assembleia-geral de credores;       (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)   (Vigência)
II - decorrerá de disposição de plano de recuperação judicial aprovado; ou        (Incluído
pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
III - deverá ser aprovada pelo juiz, considerada a manifestação do administrador judicial e
do Comitê de Credores, se existente.       (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)    (Vigência)
§ 4º (Revogado).       (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)
§ 5º (Revogado).        (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)
§ 6º (Revogado).        (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)
§ 7º Em qualquer modalidade de alienação, o Ministério Público e as Fazendas Públicas
serão intimados por meio eletrônico, nos termos da legislação vigente e respeitadas as
respectivas prerrogativas funcionais, sob pena de nulidade.      (Redação dada pela Lei nº
14.112, de 2020)    (Vigência)
§ 8º Todas as formas de alienação de bens realizadas de acordo com esta Lei serão
consideradas, para todos os fins e efeitos, alienações judiciais.       (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)   (Vigência)

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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14. DA CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS

Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre
os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, aqueles relativos:        (Redação
dada pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)

I - (revogado);      (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)

I-A - às quantias referidas nos arts. 150 e 151 desta Lei;       (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)     (Vigência)

I-B - ao valor efetivamente entregue ao devedor em recuperação judicial pelo financiador, em


conformidade com o disposto na Seção IV-A do Capítulo III desta Lei;      (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)  (Vigência)

I-C - aos créditos em dinheiro objeto de restituição, conforme previsto no art. 86 desta
Lei;      (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)

I-D - às remunerações devidas ao administrador judicial e aos seus auxiliares, aos


reembolsos devidos a membros do Comitê de Credores, e aos créditos derivados da
legislação trabalhista ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados
após a decretação da falência;       (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)

I-E - às obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação


judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência;   (Incluído pela Lei
nº 14.112, de 2020)   (Vigência)

II - às quantias fornecidas à massa falida pelos credores;      (Redação dada pela Lei nº


14.112, de 2020)    (Vigência)

III - às despesas com arrecadação, administração, realização do ativo, distribuição do seu


produto e custas do processo de falência;     (Redação dada pela Lei nº 14.112, de
2020)     (Vigência)

IV - às custas judiciais relativas às ações e às execuções em que a massa falida tenha sido
vencida;       (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)      (Vigência)

V - aos tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência,


respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.     (Redação dada pela Lei nº 14.112,
de 2020)    (Vigência)

§ 1º As despesas referidas no inciso I-A do caput deste artigo serão pagas pelo


administrador judicial com os recursos disponíveis em caixa.    (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)    (Vigência)

§ 2º O disposto neste artigo não afasta a hipótese prevista no art. 122 desta Lei.      (Incluído
pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)

Segundo o art. 83 da LRE a classificação dos créditos na falência (credores


concursais) obedece à seguinte ordem:

Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:

I - os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-


mínimos por credor, e aqueles decorrentes de acidentes de trabalho;     (Redação dada pela
Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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II - os créditos gravados com direito real de garantia até o limite do valor do bem
gravado;      (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

III - os créditos tributários, independentemente da sua natureza e do tempo de constituição,


exceto os créditos extraconcursais e as multas tributárias;      (Redação dada pela Lei nº
14.112, de 2020)   (Vigência)

IV - (revogado);      (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)

a) (revogada);        (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)

b) (revogada);        (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

c) (revogada);        (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)

d) (revogada);        (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

V - (revogado);       (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

a) (revogada);         (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

b) (revogada);          (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

c) (revogada);      (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)

VI - os créditos quirografários, a saber:       (Redação dada pela Lei nº 14.112, de


2020)    (Vigência)

a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;

b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu
pagamento; e       (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

c) os saldos dos créditos derivados da legislação trabalhista que excederem o limite


estabelecido no inciso I do caput deste artigo;       (Redação dada pela Lei nº 14.112, de
2020)    (Vigência)

VII - as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou
administrativas, incluídas as multas tributárias;      (Redação dada pela Lei nº 14.112, de
2020)    (Vigência)

VIII - os créditos subordinados, a saber:        (Redação dada pela Lei nº 14.112, de


2020)    (Vigência)

a) os previstos em lei ou em contrato; e         (Redação dada pela Lei nº 14.112, de


2020)     (Vigência)

b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício cuja contratação
não tenha observado as condições estritamente comutativas e as práticas de
mercado;       (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)

IX - os juros vencidos após a decretação da falência, conforme previsto no art. 124 desta
Lei.       (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

§ 1º Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor do bem
objeto de garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no caso de
alienação em bloco, o valor de avaliação do bem individualmente considerado.

§ 2º Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao recebimento de


sua parcela do capital social na liquidação da sociedade.

§ 3º As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as obrigações


neles estipuladas se vencerem em virtude da falência.
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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§ 4º (Revogado).      (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)

§ 5º Para os fins do disposto nesta Lei, os créditos cedidos a qualquer título manterão sua
natureza e classificação.      (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

§ 6º § 6º Para os fins do disposto nesta Lei, os créditos que disponham de privilégio especial
ou geral em outras normas integrarão a classe dos créditos quirografários.     (Incluído pela
Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)

15. ENCERRAMENTO DO PROCESSO FALIMENTAR

Dispõe o art. 154 da LRE: “concluída a realização de todo o ativo, e distribuído


o produto entre os credores, o administrador judicial apresentará suas contas ao juiz
no prazo de 30 (trinta) dias”.

 Apresentação das contas do administrador ao juiz no prazo de 30 dias.

 Juiz colocará as contas à disposição dos interessados para que eles possam
oferecer impugnações, se assim entenderem, no prazo de 10 (dez) dias;

 Enviar os autos ao MP para oferecer parecer em 5 (cinco) dias;

 Havendo impugnação ou parecer desfavorável, o administrador judicial será


novamente ouvido, voltando posteriormente os autos ao juiz para julgamento
das contas por sentença;

 Após o julgamento das contas, o administrador deverá apresentar o relatório


final, no prazo de 10 dias;
 Se as contas forem rejeitadas, o juiz, além de fixar as responsabilidades do
administrador judicial, poderá determinar a indisponibilidade ou o sequestro
dos seus bens, servindo a sentença como título executivo.

 Sentença de encerramento da falência = caberá o recurso de Apelação.

15.1 Extinção das Obrigações

O encerramento da falência não significa, por si só, a extinção das obrigações


do devedor falido, o que só ocorrerá nos casos especificamente previstos no art. 158
da LRE a após a respectiva sentença. Suas obrigações só serão extintas, portanto, se
houver:

“I- o pagamento de todos os créditos;

II - o pagamento, após realizado todo o ativo, de mais de 25% (vinte e cinco por
cento) dos créditos quirografários, facultado ao falido o depósito da quantia
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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necessária para atingir a referida porcentagem se para isso não tiver sido
suficiente a integral liquidação do ativo;      (Redação dada pela Lei nº 14.112, de
2020)   (Vigência)
III - (revogado);     (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)    
IV - (revogado);      (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)   
V - o decurso do prazo de 3 (três) anos, contado da decretação da falência,
ressalvada a utilização dos bens arrecadados anteriormente, que serão
destinados à liquidação para a satisfação dos credores habilitados ou com pedido
de reserva realizado;      (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    
VI - o encerramento da falência nos termos dos arts. 114-A ou 156 desta
Lei.      (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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