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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL OU


1
JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA - RJ.

Processo n.º

____________________________
______, já qualificada nos autos do processo em epígrafe, vem,
patrocinado pela Defensoria Pública, consoante previsão legal contida
nos arts. 133 e seguintes do NCPC, promover o presente

INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA DE
_____________________________________________ ,

empresa que figura como ré/executada nos autos da ação de ____ , feito
em epígrafe, inscrita no CNPJ sob o nº ______, com sede à rua_____, em
face de seus sócios _________________, nacionalidade, estado civil,
profissão, identidade, CPF, endereço, e _________________
nacionalidade, estado civil, profissão, identidade, CPF, endereço, pelos
motivos que se passa a aduzir.

I - DOS FATOS

Trata-se de ação______________________, ora em fase de


cumprimento de sentença/ ou ação de execução de título extrajudicial.

1
O incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica-se ao
juizado por força da norma contida no art. 1062 do NCPC.
Como consta dos autos, a empresa ré/executada não foi
localizada no endereço que consta de seu contrato social (fls. ), que não
sofreu alteração, e nem em nenhum outro endereço conhecido.

Foi feita uma tentativa de penhora on line, não sendo


encontrado numerário para garantia ou pagamento do débito (fls. ).
Também não foram localizadas declarações de rendimentos da executada
junto à Receita Federal, consoante fls. , assim como não constam veículos
registrados em seu nome (fls. ).

Por outro lado, a execução tem por escopo a obtenção


coercitiva do direito contido no comando da sentença. Embora tenha
havido a condenação da empresa ré ao pagamento de dinheiro (ou :
embora haja um título executivo extrajudicial), percebe-se que houve o
encerramento irregular das atividades sociais, com objetivo de frustrar o
pagamento de seus débitos, entre eles o da parte autora da demanda.

II – DA PRESENÇA DOS PRESSUPOSTOS LEGAIS PARA O PEDIDO


DE DESCONSIDERAÇÃO

A DISREGARD DOCTRINE nos moldes adotados pelo art. 28


do C.D.C., como afirmam os autores do anteprojeto, na obra Código de
Defesa do Consumidor, Forense Universitária, p. 212, “.. introduz uma
novidade, pois é a primeira vez que o Direito legislado acolhe a teoria
da desconsideração sem levar em conta a configuração da fraude ou do
abuso de direito. De fato, o dispositivo pode ser aplicado pelo juiz se o
fornecedor (em razão da má administração, pura e simplesmente)
encerrar suas atividades como pessoa jurídica”.

O encerramento das atividades ou a ausência de dinheiro nas


contas da empresa, após formação do titulo executivo judicial, induz à
fortíssima presunção da má administração; de fraude à execução, e de
evidente descompromisso com os credores

O processo executivo no qual o consumidor obteve um título


executivo judicial/extrajudicial deve atender ao princípio do desfecho
único, do processo civil de resultados, da instrumentalização, com a
satisfação do crédito exequendo, evitando anômala extinção.

No processo in executivis, vassalo às normas de interesse


público, deve-se engendrar todos os esforços possíveis visando a
REALIZAÇÃO CONCRETA DA VONTADE DO DIREITO
SUBSTANCIAL aplicando ao caso concreto, em consonância com os
vetores acima mencionados.

Sabemos das agruras suportadas pelos consumidores, quando


na fase executiva, após decorrido largo espaço de tempo, não recebem o
que lhes é devido, experimentando aquela sensação amarga de quem
“ganha mas não leva”, da infrutuosidade do processo, que logra os
esforços de todos nós, operadores do Direito. Este órgão vê-se no dever
de evitar que esse mal se cumpra, e a própria lei n. 8.078/90 fornece a
saída, com a aplicação da norma insculpida no art. 28 do Código de
Defesa do Consumidor.

Cumpre ressaltar que a aplicação da teoria menor da


desconsideração, adotada pelo § 5º do art. 28 do CDC, tem sido aplicada
por nossa jurisprudência, consoante posicionamento já pacificado no
egrégio Superior Tribunal de Justiça:

“Responsabilidade civil e direito do consumidor.


Recurso especial. Shopping Osasco-SP. Explosão.
Consumidores. Danos Materiais e Morais. Ministério Público.
Legitimidade ativa. Pessoa Jurídica. Desconsideração. Teoria
maior e teoria menor.Limite de responsabilização dos sócios.
Código de Defesa do Consumidor. Requisitos. Obstáculo ao
ressarcimento de prejuízos causados ao consumidores. Art: 28,
parágrafo 5º “ A teoria maior da desconsideração, regra geral
no sistema jurídico brasileiro, não pode ser aplicada com a mera
demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente para o
cumprimento de suas obrigações. Exige-se , aqui, para além da
prova de insolvência, ou a demonstração de desvio de
finalidade ( teoria subjetiva da desconsideração), ou a
demonstração de confusão patrimonial ( teoria objetiva da
desconsideração) A teoria menor da desconsideração, acolhida
em nosso ordenamento jurídico excepcionalmente no Direito
do Consumidor e no Direito Ambiental, incide com a mera
prova de insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de
suas obrigações, independentemente da existência de desvio
de finalidade ou de confusão patrimonial. Para a teoria
menor, o risco empresarial normal às atividades econômicas
não pode ser suportado pelo terceiro que contratou com a
pessoa jurídica , mas pelos sócios e/ou administradores desta,
ainda que estes demonstrem conduta administrativa proba,
isto é , mesmo que não exista qualquer prova capaz de
identificar conduta culposa ou dolosa por parte dos sócios
e /ou administradores da pessoa jurídica. A aplicação da teoria
menor da desconsideração às relações de consumo está
calcada na exegese autônoma do parágrafo 5º do art. 2, do
CDC, porquanto a incidência desse dispositivo não se
subordina à demonstração dos requisitos previstos no caput
do artigo indicado, mas apenas à prova de causar, a mera
existência da pessoa jurídica, obstáculo ao ressarcimento de
prejuízos causados aos consumidores. (GRIFOU-SE) (3ºTurma-
Resp: 279.273- SP- rel. Min. Nancy Andrighi-J.04.12.2003- RDC
54/219).

Resta evidente, portanto, que o encerramento irregular das


atividades sociais da ré/executada importa em obstáculo ao
ressarcimento dos prejuízos causados à parte demandante, por não existir
patrimônio que possa responder pela condenação, restando configurada a
hipótese fática prevista no §5ºdo art. 28 da Lei 8079/90.

III – DA TUTELA DE URGÊNCIA

No caso em exame, a narrativa fática comprova que a


personalidade jurídica da sociedade é um obstáculo à efetivação da tutela
jurisdicional prestada, impedindo a realização do direito do credor.
Por outro lado, a citação dos sócios neste incidente traz o risco
de que estes venham a agir de molde a também frustar a execução,
impossibilitando a constrição de seu patrimônio através da alienação de
bens ou retirada de seus ativos financeiros do sistema bancário,
impedindo a penhora.

Faz-se necessário, portanto, que seja deferida a TUTELA


PROVISÓRIA em favor do credor, assegurando-se que, em caso de
deferimento do pedido de desconsideração, será possível alcançar-se o
resultado útil da execução em face dos sócios.

Destaca-se que o deferimento de tutela provisória de urgência


em sede de incidente de desconsideração da personalidade jurídica é
perfeitamente possível, como anota a melhor doutrina sobre o tema :

“Como regra, suscitado o “incidente”, abre-se a


oportunidade para que o terceiro intervenha, com posterior decisão
sobre se deve ou não haver a desconsideração; com a consequente
constrição de bens. (...) Mas a oportunidade que se dá ao terceiro
não pode servir de oportunidade para que ele frustre a medida, se
e quando deferida. Portanto, excepcionalmente, mediante os
requisitos próprios da tutela de urgência (art. 300), poderá ser
determinada a apreensão de patrimônio penhorável do terceiro
supostamente responsável, antes que decidida a pretensão de
desconsideração. Será típico caso de arresto (art. 301)”. 2

Os requisitos contidos no art. 300 do NCPC também estão


presentes, sendo a probabilidade do direito do requerente decorrente do
encerramento irregular das atividades da empresa, comprovado nos
autos, que constitui-se em obstáculo ao ressarcimento do consumidor,
único requisito exigido pelo art. 28, §5º do CPC para a desconsideração. Já
o risco ao resultado útil do processo decorre da grande probabilidade de
esvaziamento do patrimônio dos sócios após a citação neste incidente,
que tornaria inútil qualquer tentativa de prosseguimento na execução.

2
Flávio Luiz Yarshell. In CABRAL, Antonio do Passo e CRAMER, Ronaldo (orgs.). Comentários ao Novo
Código de Processo Civil. Forense, 09/2015.
Diante do exposto, requer a V. Exa. :

1 – seja recebido e processado o presente incidente, com


comunicação de seu recebimento ao distribuidor (art. 134, §1º do NCPC);

2 – seja deferida tutela provisória de urgência, de molde a que


seja liminarmente realizado o arresto dos bens dos sócios da empresa
executada, através do convênio BacenJud (ou RenaJud, ou por ofício ao
registro de imóveis ).

3 - seja suspenso o processo até que venha a ser prolatada


decisão por este d. juízo sobre o pedido de desconsideração ora
formulado;

3 – a citação dos sócios, para, querendo, manifestar-se no prazo


legal de 15 dias úteis;

4 – Com ou sem manifestação dos sócios, que seja acolhido o


pedido ora formulado, para que seja DESCONSIDERADA A
PERSONALIDADE JURÍDICA do autor/réu, com a inclusão, no pólo
ativo/passivo, de seus sócios, _____________ e _______________, a fim de
que sejam condenados a ___________________ OU (em caso de processo
em fase de execução) bem como a realização de penhora on line/de bens
(ou outro ato) sobre o patrimônio dos sócios, com fulcro no disposto no
art. 790, inciso VII, do NCPC.

5 – (caso tenha havido alienação ou oneração de bens) Como


consequência da decisão de desconsideração da personalidade jurídica,
requer desde já que seja declarada a ineficácia da alienação/oneração
realizada em relação ao requerente, por ter sido feita em fraude de
execução, que se consumou com a citação inicial da pessoa jurídica, como
determinam as normas contidas nos arts. 137 e 792, §3º do NCPC.

Termos em que,

Pede deferimento.
Rio de Janeiro, de de 2016.

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