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DESCONSIDERAÇÃO DA

PERSONALIDADE JURÍDICA
Direito do Consumidor
Profª Gisele Almada
Desconsideração da Personalidade Jurídica
• As pessoas jurídicas tem, dentre seus princípios fundamentais, aquele
que proclama sua autonomia patrimonial.
• Isso significa que os bens das pessoas naturais que a compõem, em
princípio, não se confundem com o patrimônio da pessoa jurídica.
• Tal princípio, porém, não é absoluto, cedendo espaço quando ficar
evidenciado que a pessoa jurídica foi deturpada em sua finalidade,
abrigando fraudes e abusos.
• Assim, “provada a existência de fraude, é inteiramente aplicável a teoria
da desconsideração da pessoa jurídica a fim de resguardar os interesses
dos credores prejudicados”( STJ, Resp 211.619, Rel. Min. Waldemar
Zveiter).
• Prevê o CDC, no art. 28:

• “ O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica


da sociedade quando, em detrimento do consumidor,
houver abuso de direito, excesso de poder, infração
da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou
contrato social. A desconsideração também será
efetivada quando houver falência, estado de
insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa
jurídica provocadapor má administração”.
CDC: Primeira Lei Brasileira a Prevê-la
• O CDC foi a primeira norma a prever, no Brasil, tal teoria. Além do caput do
art. 28, cabe chamar a atenção para o parágrafo 5º do art. 28.
• Julgando o trágico naufrágio do “ Bateau Mouche”, decidiu o STJ: “
Acolhimento da teoria da desconsideração da personalidade jurídica. O juiz
pode julgar ineficaz a personalidade societária, sempre que for usada com
abuso de direito, para fraudar a lei ou prejudicar terceiros” ( Resp 158.051,
Rel. Min. Barros Monteiro).
• Posteriormente se afirmou: ”Não desqualificada a relação de consumo,
possível a desconsideração da personalidade jurídica, provada nas instâncias
ordinárias a existência de ato fraudulento e do desvio de finalidade da
empresa, ainda mais quando presente a participação direta do sócio, em
proveito próprio”. ( STJ , Resp 252.759, Rel. Min Carlos Menezes Direito)
• Mais recente, decidiu o STJ: “ Comprovada a existência de fraude de
execução, mostra-se possível a aplicação da teoria da desconsideração da
personalidade jurídica para assegurar a eficácia do processo de execução” (
Resp 476.713, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira).

• Havendo mais de um causador, todos respondem solidariamente. Ex.: Tanto


a incorporadora como a construtora respondem solidariamente pelos danos
decorrentes da má construção do edifício e da péssima qualidade do
material utilizado, havendo a desconsideração da personalidade jurídica se
necessário para assegurar o ressarcimento daqueles que foram lesados pela
má-fé e desídia dos responsáveis pelo dano, podendo gerar também, dano
moral pelos transtornos causados.

• Ver STJ, Ag. 320.938, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. 23/10/00
• Posteriormente ao CDC, houve outras leis que, segundo seu exemplo, consagraram a
desconsideração da pessoa jurídica – Lei 8.884/94 e Lei 9.605/98.

• O Código Civil, em seu art. 50 , consignou que a desconsideração poderá ser requerida
tanto pelo MP, como pela parte interessada. A lei não menciona a possibilidade do juiz agir
de ofício. A jurisprudência, no ponto, salvo referências isoladas, não contempla a
possibilidade.

• Observação:
• No entanto, não estaria dissociada dos princípios que inspiram o CDC a autorização para
que o magistrado procedesse de ofício.
• Logo, como se verifica da leitura dos dispositivos supramencionados, para a
desconsideração prevista Código Civil , o juiz não pode agir de ofício, sendo necessário o
requerimento da parte ou do Ministério Público. Contudo, para a desconsideração do
Código de Defesa do Consumidor , o juiz pode agir, sim, de ofício.

• Algo bastante interessante que às vezes acontece na prática é que, nos processos em que a
parte não pleiteia a desconsideração, o juiz exara despacho, provocando-a para que
requeira a desconsideração, nos termos seguintes: "Diga a parte sobre o interesse na
desconsideração da personalidade jurídica".
• Pergunta: Quais as diferenças ente a desconsideração da personalidade jurídica
disposta no CDC e a contida no C. Civil?

• Tanto o CC como o CDC dispõem sobre o instituto da desconsideração da


personalidade jurídica.

• O artigo Art. 50 do CC determina que em caso de abuso da personalidade jurídica,


caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz
decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber
intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios
da pessoa jurídica.

• Por sua vez o CDC em seu artigo 28, caput e 5º dispõe que o juiz poderá
desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do
consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou
ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social.
• Diante destes diplomas podemos traçar duas importantes diferenças:

• a) O CDC, por ser norma de ordem pública, não exige requerimento do consumidor
para que se efetive a desconsideração da personalidade, podendo ser decretada de
ofício pelo juiz com o intuito de contribuir para reparação dos danos.
• Já o CC, não permite a decretação de oficio, havendo a necessidade de
requerimento da parte ou de membro do Ministério Público;

• b) O CDC adotou a teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica, isto


é, basta a insolvência para ser possível a desconsideração da personalidade.
• Já o CC adotou a chamada teoria maior, de acordo com a qual, para se
desconsiderar a personalidade jurídica é necessária a existência de requisitos
específicos, que são: o abuso caracterizado pelo desvio de finalidade ou a confusão
patrimonial.
Desconsideração da Personalidade Jurídica
Sempre que esta for Obstáculo ao Ressarcimento
dos Consumidores
• Par. 5º do art. 28 do CDC
• No Brasil, a prática jurisprudencial criou, a propósito de desconsideração
da pessoa jurídica, duas teorias diferenciadas, a saber:
• 1) Teoria Maior: Como regra geral, o ordenamento jurídico brasileiro
adotou a teoria maior da desconsideração. Isso significa, de modo geral,
para ser apreciada a teoria, é preciso que haja desvio de finalidade
caracterizado pelo uso abusivo fraudulento ( teoria maior subjetiva).
Também será aplicada a teoria se houver confusão patrimonial, isto é, se
inexistir, no campo dos fatos, separação entre o patrimônio da pessoa
jurídica e a dos seus sócios ( teoria maior objetiva).
• 2) Teoria Menor: Não exige prova defraude ou do abuso do direito. Nem é
necessário a prova de confusão patrimonial entre os bens da pessoa
jurídica e física. Basta, neste sentido, que o credor ( consumidor, no caso)
demonstre a inexistência de bens da pessoa jurídica, aptos a saldar a dívida.
É uma teoria mais ampla, mais benéfica para o consumidor. E foi ela a
adotada pelo CDC, no art. 28, par. 5º.

• Recentemente, o STJ reafirmou que nas relações de consumo admite-se,


em caráter excepcional, a teoria menor, que se contenta com o estado de
insolvência do fornecedor, ou ainda com o fato da personalidade jurídica
representar um obstáculo ao ressarcimento dos consumidores ( Resp
1.096.604, Rel. Min. Luis Felipe Salomão).
O Juiz pode declarar a indisponibilidade dos bens
na própria sentença declaratória de falência?
• Questão de alta significação prática indaga se é dado ao magistrado, nos
autos da ação de falência, reconhecer a necessidade de aplicação da teoria
da desconsideração e fazê-lo de ofício, nos próprios autos.
• O entendimento é afirmativo.
• Outro ponto relevante diz respeito à desnecessidade de citação dos sócios.
Dispensa-se, em sede teoria da desconsideração, a citação dos sócios, em
desfavor de quem foi desconsiderada a pessoa jurídica. Decretada a
desconsideração, não ocorre desrespeito ao contraditório e à ampla defesa,
quando patente a legitimidade dos sócios para interpor os recursos cabíveis
( Resp 881.330 Rel.Min. João Otávio Noronha).
A aplicação da Teoria significa encerramento
das atividades da Pessoa Jurídica?
• Ponto pacífico é que ela não importa em encerramento das atividades
da pessoa jurídica. Esta continuará a sê-lo, apenas os atos
fraudulentos são afastados para ensejar a execução contra os reais
responsáveis pelos danos.

• Ver Resp 86.502 Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar e Resp 1.259.066,
Rel. Min. Nancy Andrighi
Aplicação da Teoria pela Administração
Pública
• É possível que a teoria da desconsideração, também conhecida como
disregard doctrine, seja aplicada no direito administrativo.
• Caso a administração pública, em qualquer dos seus níveis ( federal,
estadual ou municipal) perceba que a pessoa jurídica está sendo
usada como mecanismo de burla em suas relações com o poder
público, a personalidade poderá ser afastada, para atingir o real
estado de coisas, desde que seja facultada ao administrador a defesa
em processo administrativo regular.
• Ver STJ, ROMS 15166,Rel. Min. Castro Meira
Há necessidade de propositura de ação
autônoma?
• Não é preciso que seja proposta ação específica para reconhecer a
desconsideração. Isso poderá ser feito incidentalmente no próprio processo
de execução.
A jurisprudência já posicionou que “a superação da pessoa jurídica afirma-se
como incidente processual e não como um processo incidente”- Resp
1.096.604 , Rel.Min. Luis Felipe Salomão.
• O CPC seguiu os passos e considerou que o incidente será instaurado a
pedido da parte ou do MP, quando couber intervir no processo, em todas as
fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na
execução fundada em título executivo extrajudicial. A instauração do
incidente será dispensada quando a desconsideração for requerida na
petição inicial.
DESCONSIDERAÇÃO INVERSA
• A doutrina e a jurisprudência, alertam para a possibilidade da
desconsideração inversa. Ocorrerá, aqui, portanto, o esvaziamento do
patrimônio pessoal do sócio, que passaria a integralizar a pessoa jurídica.
• A situação é mais frequente no direito de família ( ex.: o marido, para evitar
partilhar integralmente os bens, passa, ardilosamente, parte considerável
para a empresa que controla).
• Não é impossível, contudo, sua configuração em relação de consumo. Ex.: se
de algum modo, para deixar de cumprir suas obrigações perante o
consumidor, transfere bens do patrimônio pessoal para a sociedade ( que
não participou da relação de consumo).

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