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FACULDADE PITÁGORAS

MARIA REJANE DOS SANTOS BIZERRA

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

LUZIÂNIA – GO

2023
MARIA REJANE DOS SANTOS BIZERRA

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Orientador: Rodrigo Mattos

LUZIÂNIA – GO

2023
O que é desconsideração da personalidade jurídica?

Na prática, a desconsideração da personalidade jurídica é o instituto que


permite relativizar a autonomia da personalidade jurídica de uma pessoa jurídica
(empresa, organização, etc), com a finalidade de atribuir responsabilidade aos seus
administradores e sócios.

A legislação reconhece a pessoa jurídica como um significativo


instrumento para o exercício da atividade empresarial, não a transformando, porém,
em uma doutrina intangível. A personalidade jurídica das sociedades deve ser usada
para propósitos legítimos e não deve ser pervertida. Entretanto, caso tais propósitos
sejam desvirtuados, não se pode fazer prevalecer à doutrina da separação
patrimonial entre a pessoa jurídica e os seus membros.

A desconsideração é então, a forma de adequar a pessoa jurídica aos


fins para os quais a mesma foi criada, vale ressaltar, é a forma de limitar e coibir o
uso indevido deste privilégio que é a pessoa jurídica, sendo uma forma de
reconhecer a relatividade da personalidade jurídica das sociedades.

Em outras palavras, a desconsideração da personalidade jurídica ou


(“desconsideração da autonomia patrimonial da pessoa jurídica”) é medida extrema
e cirúrgica.Essa medida coibe a fraude ou o abuso de direito e, de uma forma mais
simples e objetiva, pois incluídos nos dois institutos citados, a confusão patrimonial,
permitindo que no caso em concreto, respeitado o devido processo legal, o credor
alcance os bens particulares dos sócios e administradores.
Ela reforça a autonomia patrimonial da pessoa jurídica e a preservação
da empresa, não devendo ser utilizada tão somente porque a pessoa jurídica não
tenha mais bens para satisfazer aos seus credores.

Quais os requisitos para a desconsideração da personalidade jurídica?

É preciso que esteja configurada a confusão patrimonial (entre o


patrimônio da pessoa jurídica e o de seu integrante) ou o desvio de finalidade (a
pessoa jurídica deve estar sendo utilizada pelo seu integrante para uma finalidade
distinta daquela para a qual ela foi criada). O STJ assentou o entendimento de que a
inexistência ou não localização de bens da pessoa jurídica não caracteriza, por si só,
quaisquer dos requisitos previstos no artigo 50 do Código Civil, sendo imprescindível
a demonstração específica da prática objetiva de desvio de finalidade ou de
confusão patrimonial.

Teoria Maior - Abuso de poder, desvio de finalidade, abuso de


personalidade, abuso da lei.

Teoria Menor - Inadimplemento do fornecedor e o prejuízo do


consumidor. Não preciso de abuso ou fraude, pois essa teoria mitiga os requisitos.

Pode a desconsideração da personalidade jurídica ser decretada ainda


que não configurada a insolvência, desde que verificados o desvio de finalidade ou a
confusão patrimonial, caracterizadores do abuso de personalidade.
Desconsideração INDIRETA: uma empresa controladora comete fraudes por meio
da empresa controlada ou coligada.
Desconsideração EXPANSIVA: atinge o patrimônio do sócio oculto da
sociedade, quando há a utilização de "laranjas" para cometimento de ilícitos.

Desconsideração INVERSA: é o afastamento do princípio da autonomia


patrimonial da pessoa jurídica para responsabilizar a sociedade por obrigação do
sócio quando este se vale da pessoa jurídica para ocultar seus bens pessoais.

Pressupostos para desconsideração da personalidade jurídica:

1- Pessoa Jurídica constituída regularmente;

2- Abuso ou fraude, mitigado na teoria menor.

3- Prejuízo a terceiros;

4- É medida excepcional, somente em último caso, quando não há outra solução,


mitigado na teoria menor;

Pode ser desconsiderada a personalidade jurídica de uma pessoa


irregular (ou incomum)?

É aquela que está em desarmonia com a lei, com o registro público.


Nunca foi a registro ou foi a registro teve alteração, mas não averbou tal alteração. A
sociedade irregular sofre diversas penalidades e os seus sócios respondem
Ilimitadamente, não pode pedir a falência, não podem participar de licitações. Se o
sócio já se expõe e responde ilimitadamente não há necessidade de sua
desconsideração.

Exemplo: Sociedade X regularmente constituída promove alteração dos


sócios, mas tal situação não é averbada no competente registro. Esta sociedade
está irregular, portanto, os sócios respondem ilimitadamente. Não há necessidade
de desconsideração.
Procedimento da desconsideração da personalidade jurídica no CPC

O procedimento de desconsideração da personalidade jurídica está


previsto nos artigos 133 a 137 do CPC. In verbis:

Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será


instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no
processo.

§ 1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará


os pressupostos previstos em lei.

§ 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração


inversa da personalidade jurídica.

Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do


processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em
título executivo extrajudicial.

§ 1º A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao


distribuidor para as anotações devidas.

§ 2º Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da


personalidade jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o
sócio ou a pessoa jurídica.

§ 3º A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na


hipótese do § 2º.

§ 4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos


pressupostos legais específicos para desconsideração da personalidade jurídica.

Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado


para manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.

Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido


por decisão interlocutória.
Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo
interno.

Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a


oneração de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao
requerente.

É importante ressaltar alguns aspectos do procedimento. Nesse sentido,


o recorrente deverá demonstrar a presença dos requisitos legais para a
desconsideração da personalidade jurídica, como dispõe o § 4º do art. 134,
consistindo o ônus da prova de quem a alega. Além disso, para garantir a
observância ao contraditório, o art. 135 requer a citação do sócio ou da pessoa
jurídica para manifestação e requerimento de provas.

Vale destacar que, quando o incidente de desconsideração da


personalidade jurídica for pedido na petição inicial, o juiz poderá julgar por meio de
decisão interlocutória, caso entenda suficientes às provas abarcadas aos autos, ou
por meio de sentença, concluída a fase de instrução. Por fim, com relação ao
incidente de desconsideração inversa da personalidade jurídica, a Lei da Liberdade
Econômica positivou o instituto no § 3º do art. 50 do Código Civil. Nesses casos, o
instituto afasta o princípio da autonomia patrimonial da pessoa jurídica para
responsabilizar a sociedade por obrigação do sócio.

O histórico legislativo da desconsideração da personalidade jurídica


no Brasil pode ser traçado principalmente a partir da promulgação do Código Civil de
2002, que trouxe disposições específicas sobre o tema.
Código Civil de 2002 (Lei 10.406/2002):

O artigo 50 do Código Civil de 2002 foi o primeiro dispositivo legal a


tratar especificamente da desconsideração da personalidade jurídica no Brasil. Ele
estabelece as condições nas quais os efeitos de certas obrigações podem ser
estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica,
em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade
ou pela confusão patrimonial.

Lei de Falências (Lei 11.101/2005):

A Lei de Falências, promulgada em 2005, também incluiu disposições


relacionadas à desconsideração da personalidade jurídica no contexto de processos
de falência. Ela permite a responsabilização dos sócios e administradores em casos
de prática de atos fraudulentos ou ilegais que contribuam para a falência da
empresa.

Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990):

Embora não trate especificamente da desconsideração da personalidade


jurídica, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) estabelece princípios que
influenciam a aplicação desse instituto, especialmente no que diz respeito à
proteção dos consumidores contra abusos cometidos por empresas.
Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/1992):

A Lei de Improbidade Administrativa prevê a possibilidade de


desconsideração da personalidade jurídica no âmbito das ações de
responsabilização por atos de improbidade administrativa, permitindo que os bens
dos sócios ou administradores sejam alcançados para o ressarcimento de danos
causados ao erário público.

Essas são algumas das principais leis que influenciaram o histórico


legislativo da desconsideração da personalidade jurídica no Brasil. Desde a
promulgação do Código Civil de 2002, o tema tem sido objeto de debates
doutrinários e jurisprudenciais, buscando-se aprimorar as regras e os critérios para
aplicação desse instituto, garantindo-se ao mesmo tempo a segurança jurídica e a
proteção dos direitos dos sócios e terceiros envolvidos.

Previsão legal da desconsideração da personalidade jurídica no Brasil


está principalmente contida no artigo 50 do Código Civil de 2002;

"Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo


desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a
requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no
processo, que os efeitos de certas e determinadas obrigações sejam estendidos aos
bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica."

Essa disposição legal estabelece que, em situações de abuso da


personalidade jurídica, como desvio de finalidade ou confusão patrimonial, o juiz
pode decidir, mediante requerimento da parte ou do Ministério Público, que os
efeitos de certas obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos
administradores ou sócios da pessoa jurídica. Essa medida visa impedir que a
personalidade jurídica seja utilizada de forma fraudulenta para prejudicar terceiros,
garantindo assim a proteção dos direitos e interesses legítimos das partes
envolvidas.

Além disso, como mencionado anteriormente, outras leis também tratam


da desconsideração da personalidade jurídica em contextos específicos, como a Lei
de Falências (Lei 11.101/2005), a Lei de Recuperação Judicial e Falência (Lei
11.101/2005), a Lei de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990) e a Lei de
Improbidade Administrativa (Lei 8.429/1992), entre outras. Essas leis fornecem
disposições adicionais sobre a aplicação da desconsideração da personalidade
jurídica em determinados casos, ampliando assim as circunstâncias em que esse
instituto pode ser invocado.

A Estrutura da desconsideração da personalidade jurídica compreende


diversos elementos que devem ser observados para sua aplicação correta.

Requisitos Legais:

Os requisitos legais para a desconsideração da personalidade jurídica


geralmente estão previstos na legislação aplicável, como no artigo 50 do Código
Civil Brasileiro de 2002. Esses requisitos incluem o abuso da personalidade jurídica,
caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial.

Pedido ou Requerimento:

A desconsideração da personalidade jurídica geralmente é solicitada por


meio de um pedido ou requerimento apresentado à autoridade competente, que
pode ser o juiz responsável pelo processo. Esse pedido pode ser feito pela parte
interessada ou pelo Ministério Público, dependendo das circunstâncias do caso.
Decisão Judicial:

A decisão judicial é fundamental para a aplicação da desconsideração


da personalidade jurídica. O juiz analisará o pedido, avaliando se os requisitos legais
foram atendidos e se há fundamentos para estender os efeitos das obrigações aos
bens particulares dos sócios ou administradores da empresa.

Desvio de Finalidade:

Um dos principais fundamentos para a desconsideração da


personalidade jurídica é o desvio de finalidade, que ocorre quando a empresa é
utilizada de maneira fraudulenta ou abusiva para desviar recursos ou prejudicar
terceiros.

Confusão Patrimonial:

Outro fundamento para a desconsideração da personalidade jurídica é a


confusão patrimonial, que ocorre quando não há uma clara distinção entre o
patrimônio da empresa e o patrimônio dos sócios ou administradores, permitindo
que estes últimos se beneficiem indevidamente dos ativos da empresa.

Proteção aos Direitos dos Sócios:

É importante garantir que a desconsideração da personalidade jurídica


não seja utilizada de maneira arbitrária ou injusta contra os sócios ou
administradores da empresa. Portanto, deve-se assegurar o direito de defesa e o
contraditório, permitindo que os afetados contestem o pedido e apresentem suas
argumentações.

Proteção aos Credores e Terceiros:

Por outro lado, a desconsideração da personalidade jurídica visa


proteger os direitos dos credores e terceiros prejudicados por práticas abusivas ou
fraudulentas da empresa. Portanto, a aplicação desse instituto visa equilibrar os
interesses em jogo, garantindo a justiça e a equidade nas relações empresariais.
Os Recursos cabíveis em casos de desconsideração da personalidade
jurídica podem variar de acordo com o estágio processual e com a decisão proferida
pelo juiz. Abaixo estão os principais recursos que podem ser interpostos:

*Apelação:*Se a decisão de desconsideração da personalidade jurídica


for proferida em primeira instância, as partes podem interpor recurso de apelação
perante o Tribunal de Justiça competente. A apelação permite que as partes
busquem a reforma da decisão, apresentando suas razões e argumentos perante
um órgão colegiado.

*Agravo de Instrumento:*Em alguns casos, principalmente se a


desconsideração da personalidade jurídica for decidida em caráter liminar ou de
urgência, é possível interpor agravo de instrumento perante o Tribunal competente.
Esse recurso visa obter uma análise rápida e eficaz da decisão, garantindo a
proteção dos direitos das partes envolvidas.

Embargos de Declaração: Caso a decisão que determinou a


desconsideração da personalidade jurídica contenha omissões, contradições ou
obscuridades, as partes podem interpor embargos de declaração perante o mesmo
juízo que proferiu a decisão. Esse recurso tem o objetivo de esclarecer pontos da
decisão que não foram devidamente abordados.

Recurso Especial e Recurso Extraordinário: Se a desconsideração da


personalidade jurídica for decidida em última instância pelos Tribunais de Justiça ou
Tribunais Regionais Federais, as partes podem interpor recursos especiais (para o
Superior Tribunal de Justiça - STJ) ou recursos extraordinários (para o Supremo
Tribunal Federal - STF). Esses recursos têm a finalidade de garantir a uniformidade
da interpretação das leis federais e a proteção de direitos fundamentais,
respectivamente.
Pedido de Revisão ou Reconsideração: Em casos excepcionais, as
partes podem requerer ao próprio juiz que proferiu a decisão de desconsideração da
personalidade jurídica uma revisão ou reconsideração da decisão. Geralmente, isso
ocorre quando surgem novos fatos ou evidências que não foram considerados
anteriormente.

É importante ressaltar que os prazos e as formas de interposição de


recursos podem variar de acordo com o Código de Processo Civil e as normas
processuais.

Fontes : www.jusbrasil.com.br e Projuris.com.br

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