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INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO

DA PJ

1) Revisão de Personalidade jurídica

2) Conceito

Ocorre quando, visando obter lucro, os sócios abusam da PJ da


empresa, desviando a sua personalidade e a sua função para não
pagar seus credores. Nesse caso, instaura-se o incidente da
desconsideração da PJ e os bens dos sócios são penhorados.

STJ: “O instituto da desconsideração da personalidade jurídica pode


ser conceituado como sendo a superação temporária da autonomia
patrimonial da pessoa jurídica com o objetivo de, mediante a constrição do
patrimônio de seus sócios ou administradores, alcançar o adimplemento de
dívidas assumidas pela sociedade.”

C.Civil: Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo


desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento
da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,
desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de
sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. § 1º
Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa
jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de
qualquer natureza. § 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de
separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por: I - cumprimento repetitivo
pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa; II -
transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de
valor proporcionalmente.§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo
também se aplica à extensão das obrigações de sócios ou de administradores à
pessoa jurídica. § 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos
requisitos de que trata o caput deste artigo não autoriza a desconsideração da
personalidade da pessoa jurídica. § 5º Não constitui desvio de finalidade a
mera expansão ou a alteração da finalidade original da atividade econômica
específica da pessoa jurídica.

3)Características do IDPJ

2.1) O adm. da sociedade também pode responder e não apenas os


sócios - artigo 14 da lei 12.846 (Lei anticorrupção)

2.2.) Os sócios só respondem com seus bens, se existir a


desconsideração da PJ e nos casos previstos em lei- artigo 795 do
CPC.

OBS: Nesses casos previstos em lei, os sócios respondem de acordo com a


sua participação nas quotas/ações. Ah não ser que haja previsão de
responsabilidade solidária no contrato social/ estatuto. - artigo 1023 do Código
Civil.
OBS: Em sociedades simples, que trazem a responsabilidade ilimitada do
sócio, eles respondem com seus próprios bens. Logo, não precisa de IDPJ.

Art. 1.003. (...)


Parágrafo único. Até dois anos depois de averbada a
modificação do contrato, responde o cedente solidariamente
com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas
obrigações que tinha como sócio.

Art. 1.032. A retirada, exclusão ou morte do sócio, não o


exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade pelas
obrigações sociais anteriores, até dois anos após
averbada a resolução da sociedade; nem nos dois primeiros
casos, pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se
requerer a averbação.

Art. 1.057 (...)


Parágrafo único. A cessão terá eficácia quanto à sociedade e
terceiros, inclusive para os fins do parágrafo único do art.
1.003, a partir da averbação do respectivo instrumento,
subscrito pelos sócios anuentes.

2.3) Só atinge os bens dos sócios que praticaram ou se beneficiaram da


conduta ilícita. Ex: o adm. ordenado pelo sócio comete ato ilícito sem saber, ele
não responde pq é só um empregado e não se beneficiou da conduta, não possui
poder. (Ideia que tanto a lei de execução fiscal quanto a desconsideração da PJ são
feitas para punir quem teve poder e agiu com dolo)

2.4) Outras hipóteses de desconsideração da PJ :LEI 12.529/11 (dispõe contra


infrações à ordem econômica)

1) Casos de abuso de poder, infração a lei ou excesso de poderes, fraudando o


próprio contrato/ Estatuto Social.
2) Falência (desconsidero para pagar os credores)
3) Estado de insolvência
4) Qualquer caso de má adm. (Ideia de que o sócio é responsável pq é a
adm. dele)
2.5) Pode haver IDPJ para ressarcir prejuízos causados ao meio-ambiente. Ex:
empresa causa dano ambiental e não tem cash para pagar a multa - pode
entrar IDPJ, mesmo sem desvio de PJ. - LEI 9.605/99, artigo 4.

Art. 4º. Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.

4) Teorias da desconsideração da personalidade jurídica

4.1) Teoria maior

É positivada no Código Civil e no CPC, determina que para existir a


desconsideração da PJ, necessariamente precisa existir dolo, abuso da PJ. E
isso precisa ser comprovado (é uma questão de fato), não pode ser apenas
presumido. Não posso desconsiderar apenas para pagar dívidas por
conta da falta de bens da sociedade, ou em casos de dissolução
irregular.

STJ: “Para aplicação da teoria maior da desconsideração da


personalidade jurídica (art. 50 do CC/2002), exige-se a
comprovação de abuso, caracterizado pelo desvio de finalidade
(ato intencional dos sócios com intuito de fraudar terceiros) ou
confusão patrimonial, requisitos que não se presumem
mesmo em casos de dissolução irregular ou de insolvência
da sociedade empresária.”

(REsp 1572655/RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS


CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/03/2018).

- Positivada no artigo 50 do Código Civil e 795 do CPC.

2.2) Teoria menor

Traz a possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica sempre


que a sociedade não for capaz de ressarcir seu prejuízo aos credores

- Essa teoria só é aceita no CDC

Art. 28. “O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento
do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou
violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver
falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má
administração. (...) § 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos
consumidores.”

- Por conta dessa teoria os JECS (Juizados Especiais civeis)


podem entrar com o IDPJ - artigo

2.3) Teoria da desconsideração inversa da personalidade


jurídica.

Teoria mais moderninha, usa a empresa para responder pelas dívidas


dos sócios. Aqui o sócio abusa da PJ da empresa e confunde de forma
proposital os bens, colocando-os em nome da empresa para não
perdê-los. Ex: Fernanda não quer pagar Marcelo, e coloca todos os seus
bens na sua companhia Hello Inc. Marcelo pode solicitar a
desconsideração inversa da PJ para ter a sua dívida paga (a Hello Inc
responde com seus bens).

- Questão dos casados

STJ: “A jurisprudência desta Corte admite a aplicação da


desconsideração inversa da personalidade jurídica toda vez
que um dos cônjuges ou companheiros utilizar-se da sociedade
empresária que detém controle, ou de interposta pessoa física,
com a intenção de retirar do outro consorte ou companheiro
direitos provenientes da relação conjugal.”

- Questão da holding patrimonial (pode ser alvo de IDPJ - mesma


ideia do casamento)

5) Questão da holding e desconsideração indireta da PJ

Holding : uma empresa detém várias outras formando um grupo


econômico. Ex: grupo Eleva (dono do Pensi, do Elite, do GPI, etc.)

- Artigos que tratam de empresas associadas:


Art.1098 do C.C. É controlada:

I - a sociedade de cujo capital outra sociedade possua a maioria dos votos nas
deliberações dos quotistas ou da assembléia geral e o poder de eleger a maioria dos
administradores;

II - a sociedade cujo controle, referido no inciso antecedente, esteja em poder de outra,


mediante ações ou quotas possuídas por sociedades ou sociedades por esta já controladas.

Art. 1.099 do C.C. Diz-se coligada ou filiada a sociedade de cujo capital outra sociedade
participa com dez por cento ou mais, do capital da outra, sem controlá-la.

Desconsideração indireta: Em um esquema fraudulento, eu confundo


o patrimônio das empresas da minha holding para não ter que pagar as
minhas dívidas.

Ex: O Elite possui dívidas com o banco Itaú, para não pagar. Eu jogo o
patrimônio deles, para outra empresa da minha holding (o GPI). Aí
quando o credor chega, não tem $ para pagar a dívida. Nesse caso, o
juiz pode aplicar a desconsideração indireta da holding para sanar as
dívidas e satisfazer a obrigação.

Ex: caso dos consórcios. Uma consorciada transferia para outra,a outra
(Consórcio Santa Cruz) foi incluída no polo passivo da demanda, sofreu
a desconsideração indireta - STJ.

STJ: “Reconhecido o grupo econômico e verificada confusão patrimonial, é possível


desconsiderar a personalidade jurídica de uma empresa para responder por dívidas
de outra, inclusive em cumprimento de sentença, sem ofensa à coisa julgada.”

- Esquema prático de desconsideração indireta


6) Características processuais do incidente da
desconsideração da PJ

- O sócio tem o prazo de 15 dias para ser citado e


apresentar suas provas - art.135 do CPC

- O IDPJ pode acontecer em qualquer momento do


processo (seja ele de conhecimento ou de
execução) - artigo 134 do CPC

134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de


conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título
executivo extrajudicial. § 1º A instauração do incidente será imediatamente
comunicada ao distribuidor para as anotações devidas. § 2º Dispensa-se a
instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for
requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica.
§ 3º A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do § 2º. §
4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais
específicos para desconsideração da personalidade jurídica.
- O incidente é proferido por decisão interlocutória
- art.136 do CPC.

- Quando inicia a desconsideração, suspende-se o


processo de alienação ou oneração de bens. Art.
137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a
oneração de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz
em relação ao requerente.

7) Temas atuais de desconsideração da PJ

a) Questão dos fundos de investimento/ FIP.

Conceito de fundo FIP: É uma comunhão de recursos constituídos sob forma


de condomínio e regulamentados pela CVM. Ex: Mubdala Capital (fundo soberano
de Dubai que compra várias instalações no Brasil esperando ter retorno. São donos
do metrô, de central de energia, etc )

- Via de regra, esses fundos possuem várias empresas associadas e


vários investidores (sendo que cada um possui a sua quota no fundo
para ganhar o seu resgate). Por conta disso, o fundo responde pelos
seus direitos e deveres, e o credor responde exclusivamente pela sua
parte.
- O fundo não pode assumir a dívida de um só quotista (Isso geraria
insegurança jurídica e NGM iria investir)

- Por conta disso, os fundos FIP NÃO PODEM SOFRER A


DESCONSIDERAÇÃO DA PJ, EXCETO SE FOREM CONSTITUÍDOS COM
MEIOS FRAUDALENTOS.

STJ: “A impossibilidade de responsabilização do fundo por dívidas de um único


cotista, de obrigatória observância em circunstâncias normais, deve ceder diante da
comprovação inequívoca de que a própria constituição do fundo de investimento se
deu de forma fraudulenta, como forma de encobrir ilegalidades e ocultar o patrimônio
de empresas pertencentes a um mesmo grupo econômico. 9. Comprovado o abuso
de direito, caracterizado pelo desvio de finalidade (ato intencional dos sócios
com intuito de fraudar terceiros), e/ou confusão patrimonial, é possível
desconsiderar a personalidade jurídica de uma empresa para atingir o
patrimônio de outras pertencentes ao mesmo grupo econômico.”

b) Questões de execução fiscal

5) Isso é entendido pela legislação como um todo, estando presente nos artigos
134 e 135 do CTN (trazem a responsabilidade pessoal dos sócios em casos
de fraude contra o fisco.) - Pode existir redirecionamento para os sócios na
execução fiscal (Enunciado 53 do ENFAM)
OBS 1: A ideia aqui é pegar os ladrões, quem tem responsabilidade de
fato. Os sócios, os diretores.

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