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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da _____ Vara Cível da Comarca de

_____________.UF
Distribuiçã o por dependência
Processo nº xxxxxxxxxxxxxxxx
[Nome e qualificação dos requerentes – litisconsórcio ativo]; por seus
procuradores, vêm, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor em
face de [Nome e qualificação da empresa requerida e sócios – litisconsórcio
passivo necessário], o presente
Incidente de desconsideração da personalidade jurídica
o que faz com supedâ neo nos arts. 133 a 137 do Có digo de Processo Civil e demais
normas aplicá veis à espécie, o que faz com base nos elementos de fato e
argumentos de direito a seguir aduzidos:
1. Dos fatos e o direito que ensejam a presente intervenção incidental
A empresa requerida, que foi condenada ao pagamento de indenizaçõ es aos
requerentes, sofre execuçã o de título judicial por nã o ter honrado a condenaçã o de
forma espontâ nea.
Apó s anos de tramitaçã o e vá rias tentativas na localizaçã o de bens (Declaraçã o de
bens e penhora on line), restaram infrutíferas as tentativas dos exequentes em
encontrar bens passíveis de penhora e, embora a empresa requerida esteja com
cadastro ativo perante a Receita Federal e nã o consta baixa perante a Jucesp (Junta
comercial do Estado de Sã o Paulo), aparentemente não está em funcionamento, o
que motiva a presente intervençã o incidental.
A nítida falta de intençã o no pagamento do valor devido no processo, o prazo
transcorrido, a inexistência de bens se somam ao fato que pesquisas do local do
endereço onde está estabelecida, conforme consulta dos Cadastros da RFB (Receita
Federal do Brasil) e da JUCESP, dã o conta que muito provavelmente a empresa nã o
mais está , de fato, funcionando.
As fotos abaixo, obtidas através do uso do aplicativo google maps demonstram, que
em 00/00/0000, no endereço constante do Cadastro da empresa requerida, ou
seja, na [endereço], nã o há qualquer tipo de apresentaçã o comercial da empresa
(placa, banner, pintura, etc.), vejamos:
[Foto da fachada do imóvel do endereço da empresa]
É claro na imagem, que nã o há mais publicidade do estabelecimento da empresa
requerida, o que motiva ainda mais e demonstra a necessidade da desconsideraçã o
de sua personalidade jurídica, a fim de se promover a real efetividade do processo.
Uma pesquisa dos requerentes perante o Cartó rio de registro de imó veis local,
apontou um aumento patrimonial desproporcional de um dos só cios, se
comparada com a situaçã o da empresa e as dívidas nã o pagas, o que aponta a
fraude ora denunciada.
Assim, resta evidente que, realmente, a empresa e seus só cios aparentemente
promoveram o encerramento irregular e fraudulento, com o firme propó sito de
lesar credores, já que nã o foi cumprida a exigência legal de promover a baixa em
seu registro perante os ó rgã os pú blicos.
A conduta representa o desleal comportamento dos só cios da empresa executada
perante os credores da pessoa jurídica que representam, pois ficou claro o
desinteresse pelo deslinde da presente açã o.
Em suma, deparamo-nos com uma situaçã o onde é contraproducente continuar a
execuçã o apenas contra a empresa requerida, pois nã o detém patrimô nio, dinheiro
e aparentemente está fora de atividade ou funcionando em local clandestino, o que
autoriza a quebra da personalidade jurídica da empresa.
É importante que se esclareça, que os só cios da executada ocultam-se
indevidamente atrá s do véu da personalidade jurídica, que nã o possui qualquer
condiçã o de satisfazer o débito em litígio e isso é uma estratégia covarde de
“proteçã o” do patrimô nio, ainda mais se levarmos em conta o aumento
desproporcional do patrimô nio de um dos só cios.
No caso em tela deve ser aplicada a teoria da desconsideraçã o da personalidade
jurídica, cujo objetivo consiste em possibilitar o alcance de bens dos responsá veis
pela empresa devedora, com o cunho de direcioná -los à reposiçã o do patrimô nio
dos credores lesados.
Todavia, a teoria em apreço é acolhida e consagrada pelo direito positivo, motivo
pelo qual deve ser aplicada na hipó tese.
O Có digo civil, dispõ e no seu artigo 50, verbis:
“Art. 50. Em caso de abuso de personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de
finalidade, ou pela confusã o patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da
parte, ou do Ministério Pú blico quando lhe couber intervir no processo, que os
efeitos de certas e determinadas relaçõ es de obrigaçõ es sejam estendidos aos bens
particulares dos administradores ou só cios da pessoa jurídica.”
Pelo que foi exposto, faz-se medida imperativa estender a responsabilidade da
executada aos bens particulares de seus só cios, pois é imprescindível coibir o
abuso da personalidade jurídica ora demonstrado.
Por aplicar-se ao caso em tela, transcreve-se abaixo um elucidativo julgado sobre o
tema, vejamos:
“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO DE APELAÇÃ O. DESCONSIDERAÇÃ O DA
PERSONALIDADE JURÍDICA INVERSA. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DA CORTE
SUPERIOR. INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA DO ARTIGO 50 CC/02. PRESENÇA
DOS REQUISITOS AUTORIZADORES DA MEDIDA. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. - A desconsideraçã o da pessoa jurídica "consiste na possibilidade de
se ignorar a personalidade jurídica autô noma da entidade moral sempre que esta
venha a ser utilizada para fins fraudulentos ou diversos daqueles para os quais foi
constituída, permitindo que o credor de obrigaçã o assumida pela pessoa jurídica
alcance o patrimô nio particular de seus só cios ou administradores para a
satisfaçã o de seu crédito". - É cabível a desconsideraçã o da personalidade jurídica
denominada 'inversa' para alcançar bens de só cio que se valeu da pessoa jurídica
para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros. (Jornada IV STJ
283) - Verifica-se que a transferência de titularidade da sociedade ora Agravante
deu-se em um curto espaço de tempo depois de transitada em julgado sentença
condenató ria desfavorá vel aos só cios fundadores, genitores dos atuais só cios,
dando-lhe a aparência de tentativa de ocultaçã o de patrimô nio frente à execuçã o
que se seguiria. - Diante disso, verificada a presença de requisito autorizador da
medida e nã o trazendo a Agravante razõ es outras que pudessem fazer reformar a
sentença de primeiro grau, mantenho-a em todos os seus termos. - Apelo
conhecido a que se nega provimento. (TJ-AM - APL: 06209503920138040001 AM
0620950-39.2013.8.04.0001, Relator: Wellington José de Araú jo, Data de
Julgamento: 25/05/2015, Segunda Câ mara Cível, Data de Publicaçã o:
27/05/2015)”
É reprová vel que uma empresa divirja de sua finalidade social e seus só cios e/ou
dirigentes passem a cometer abusos de direito, como é o caso dos autos, que
infelizmente nã o sã o isolados no país, e quem sofre com isso sã o os credores, razã o
pela qual o socorro do Poder Judiciá rio nesta situaçã o é medida que se impõ e, ante
aos pedidos veiculados ao final.
A reuniã o de pessoas em uma atividade mercantil/comercial é uma ficçã o jurídica
que dá suporte ao que podemos entender por “empresa”, e isso é um mecanismo
jurídico imprescindível e inerente à atividade empresarial/mercantil, pois as
empresas sã o abstratas e necessitam deter personalidade jurídica, nã o sendo
inafastá vel tal ficçã o mediante certas condiçõ es, para que seja considerado o que é
real em termos de bens, ou seja, o patrimô nio dos só cios.
Caio Má rio da Silva Pereira disserta sobre a desconsideraçã o da personalidade
jurídica, explicitando sua forma de cabimento, vejamos:
“Não obstante, não visa a teoria substituir o princípio da distinção entre a sociedade
e seus integrantes, em determinadas circunstâncias opera-se como que levantando
ou perfurando o véu – lifting or piercing the veil – para alcançar o sócio, o gerente, o
diretor, o administrador e trazê-lo à realidade objetiva da responsabilidade, em
oposição, portanto, à velha regra societas distat a singulis, uma nova concepção foi
construída. De fato, a desconsideração da pessoa jurídica consiste em que, nas
circunstâncias previstas, o juiz deixa de aplicar a mencionada regra tradicional da
separação entre a sociedade e seus sócios, segundo a qual é a pessoa jurídica que
responde pelos danos e os sócios nada respondem.” (PEREIRA, Caio Mário da Silva,
Instituições de direito civil, V. I, 24ª Ed., 2011, p.277)
A desconsideraçã o da personalidade jurídica ora requerida é momentâ nea e
excepcional, para que se retire a autonomia patrimonial da requerida, a fim de
estender os efeitos de suas obrigaçõ es à pessoa de seus só cios ou administradores,
com o fim de coibir o desvio da funçã o da pessoa jurídica, como ocorre no caso.
A configuraçã o da fraude, neste caso é evidente, pois em uma pesquisa perante o
Cartó rio de registro de imó veis verifica-se um enorme aumento patrimonial de um
dos só cios da requerida, ficando demonstrado o abuso de direito, representado
pelo desvio de funçã o da pessoa jurídica da executada, pois foi utilizada para um
desvio patrimonial em favor de um de seus só cios e em detrimento dos credores.
Resumindo, “é abusivo qualquer ato que por sua motivação e por seu fim, vá contra o
destino, contra a função do direito que se exerce”[1].
O uso indevido da personalidade jurídica da requerida, neste caso, caracteriza-se
pelo desvio patrimonial, pelo parente encerramento irregular das atividades e pela
inexistência de bens, o que, primordialmente, autoriza a desconsideraçã o.
Nesse sentido, veja-se o entendimento dos Tribunais sobre o tema:
“Desconstituiçã o da personalidade jurídica. Tentativas infrutíferas de localizaçã o
de bens aptos à satisfaçã o do crédito exequendo. Inteligência do artigo 50 do
Có digo Civil. Recurso provido” (TJSP – 0148937-98.2013.8.26.0000 – Agravo de
Instrumento – Relator Sérgio Rui – Comarca: Sã o Paulo – Ó rgã o julgador: 22ª
Câ mara de Direito Privado – Data do julgamento: 17.10.2013 – Data de registro:
11.11.2013 – Outros nú meros: 01489379820138260000).
“Execuçã o de título judicial. Executada pessoa jurídica. Encerramento de suas
atividades de forma irregular. Configuraçã o do abuso do direito e fraude.
Desconsideraçã o da personalidade jurídica da sociedade. Possibilidade da
constriçã o direta sobre os bens particulares dos só cios. Art. 50 do Có digo Civil
Recurso improvido” (TJSP – 2032273-47.2013.8.26.0000 – Agravo de Instrumento
– Relator J. B. Franco de Godoi – Comarca: Sertã ozinho – Ó rgã o julgador: 23ª
Câ mara de Direito Privado – Data do julgamento: 27.11.2013 – Data de registro:
28.11.2013 – Outros nú meros: 20322734720138260000).
“Cumprimento de sentença. Ausência de bens idô neos à satisfaçã o do crédito.
Encerramento irregular. Indícios de fraude (desvio de finalidade). Desconsideraçã o
da personalidade jurídica. Requisitos verificados, sem prejuízo de impugnaçã o
posterior. Recurso provido, com observaçã o” (TJSP – 2045159-78.2013.8.26.0000
– Agravo de Instrumento – Relator (a): Cauduro Padin – Comarca: Sã o Paulo –
Ó rgã o julgador: 13ª Câ mara de Direito Privado – Data do julgamento: 03.12.2013 –
Data de registro: 03.12.2013 – Outros nú meros: 20451597820138260000).
“Executada pessoa jurídica cujas atividades foram paralisadas. Pretensã o dos
exequentes de desconsideraçã o da personalidade jurídica e localizaçã o de bens
particulares dos só cios para garantia da execuçã o. Admissibilidade. Só cios que nã o
colaboram na indicaçã o de bens da pessoa jurídica ainda existente. Agravo
provido” (1º Tacivil – 2ª Câ m.; AI nº 1.101.089-8-SP – Rel. Juiz Cerqueira Leite – j.
26.06.2002; v. U.).
Em sendo a desconsideraçã o da pessoa jurídica prevista na legislaçã o, uma forma
de repressã o ao abuso na utilizaçã o da personalidade jurídica, no presente caso é
medida que se impõ e, a fim de homenagear o ordenamento jurídico e proteger os
credores de atitudes já comprovadamente desleais.
É de rigor que ocorra a constriçã o de bens particulares dos só cios da empresa
requerida, os quais utilizaram a figura da pessoa jurídica da empresa para,
aparentemente, locupletarem-se ilicitamente.
Nã o se pode olvidar da responsabilidade subsidiá ria dos só cios da requerida neste
caso, para que estes arquem com o pagamento do crédito judicial ora
demonstrado.
2. Dos pedidos
Ante ao exposto, os autores requerem:
a) Determinar a imediata comunicaçã o da instauraçã o do presente incidente ao
distribuidor para as anotaçõ es devidas, com fundamento no § 1º do art. 134 do
Có digo de processo civil;
b) A suspensã o do processo até o final julgamento do presente incidente, com
fundamento no § 3º do art. 134 do Có digo de processo civil;
c) A citaçã o dos só cios da executada para apresentar resposta ao pedido, caso
queiram, no prazo de 15 (quinze) dias, de forma postal, lembrando que os
requerentes sã o beneficiá rios da justiça gratuita no processo principal;
d) Que ao final, seja desconsiderada a personalidade jurídica da empresa
executada, integrando os seus só cios, qualificados no preâ mbulo, no polo passivo
da presente açã o, possibilitando-se, assim, o alcance de bens dos mesmos, os quais
garantirã o o débito em litígio e;
e) que seja possibilitado provar o alegado por todo o meio de prova permitida,
necessá ria e pertinente, a fim de possibilitar, se restriçõ es, a prova dos fatos
envolvendo o pedido e que lhe fundamentam.
Termos em que,
P. deferimento.
Sã o Paulo, fevereiro de 2019.
ÉRICO T. B. OLIVIERI
OAB/SP 184.337
ADVOGADO
1. JOSSERRAND, Louis. Del abuso de los derechos y otros ensaios. Bogotá: Temis,
1999, p. 5, tradução livre de “es abusivo cualquier acto que, por sus móviles y por
su fin, va contra el destino, contra la función del derecho que se ejerce. ↑

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