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ESTADO DE SANTA CATARINA

PROCURADORIA GERAL DO ESTADO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE


SANTA CATARINA

AGRAVO DE INSTRUMENTO N.º 5005765‐81.2024.8.24.0000


AGRAVANTE: MARKACOM BORDADOS EIRELI
AGRAVADO: ESTADO DE SANTA CATARINA

ESTADO DE SANTA CATARINA, pessoa jurídica de direito público interno já


qualificada nos autos acima identificados, vem perante Vossa Excelência, por intermédio de sua
Procuradora do Estado infrafirmada, apresentar CONTRARRAZÕES AO AGRAVO DE
INSTRUMENTO nos termos que seguem.

Nestes termos, pede deferimento.

Blumenau, 20 de fevereiro de 2024.

Laisa Pavan da Costa


Procuradora do Estado
OAB/SC Nº 17.436

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Carla Bittelbrun Tahara
ESTADO DE SANTA CATARINA
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO

CONTRARRAZÕES DE AGRAVO

AGRAVO DE INSTRUMENTO N.º 5005765‐81.2024.8.24.0000


AGRAVANTE: MARKACOM BORDADOS EIRELI
AGRAVADO: ESTADO DE SANTA CATARINA

I. DAS RAZÕES DO RECURSO INTERPOSTO PELA AGRAVANTE


Trata‐se de agravo de instrumento interposto contra a decisão do evento 103,
proferida na execução fiscal n. 0901280‐21.2017.8.24.0008, por meio da qual foi deferido o
redirecionamento contra a sócia‐administradora da empresa ora agravante Markacom
Bordados Eireli, Sra Larissa Leicht.
A recorrente alega que não houve encerramento irregular, apenas suspensão das
atividades, nos termos do art. 112 da Instrução Normativa DREI n.º 81/2020. E, além disso,
defende que o fato de não ter bens suficientes à integral garantia do feito não é motivo
suficiente para o reconhecimento do encerramento irregular e que guarda com zelo os bens
penhorados, que estão sob a custódia da depositária e sócia‐redirecionada, Sra Larissa Leicht,
não estando, segundo defende, satisfeitos os pressupostos para o redirecionamento.
Por essas razões, requer o provimento do agravo para excluir da execução a sócia‐
redirecionada.
O pedido de atribuição de efeito suspensivo foi deferido (decisão do evento 3).
É o relato do essencial.

II. RAZÕES PARA A MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA

PRELIMINARMENTE: FALTA DE LEGITIMIDADE DA EMPRESA PARA SE INSURGIR CONTRA O


REDIRECIONAMENTO EFETUADO EM FACE DA PESSOA FÍSICA
É patente a falta de legitimidade da parte agravante para questionar o
redirecionamento.
Da leitura das razões recursais, observa‐se que a agravante busca afastar o
redirecionamento da execução fiscal à sócia e, como tal, esbarra na vedação legal contida no

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art. 18 do CPC, no sentido de que "ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio
(...)".
Com efeito, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 9/10/2013, ao julgar o Resp
1.347.627/SP, afetado à época, nos termos do art. 543‐C, do CPC/1973 como
representativo de controvérsia relativa ao Tema 649, de recursos repetitivos, firmou a seguinte
tese vinculativa: "A pessoa jurídica não tem legitimidade para interpor recurso no interesse do
sócio."
(...) Em decorrência, observada a jurisprudência harmoniosa do STJ, a agravante,
ainda que empresa individual de responsabilidade limitada, carece de legitimidade para
pretender evitar que a sócia responda, como pessoa natural, ao executivo fiscal, razão porque
o recurso não merece ser conhecido.
Como se percebe, não há qualquer polêmica em relação ao assunto que possa
embasar os argumentos da recorrente que devem ser, de pronto, rejeitados e a decisão
monocrática mantida incólume.
Diante disso, sem maiores digressões, estando a matéria compreendida no tema
649 dos recursos repetitivos e não havendo que se falar em distinguishing, uma vez que o tema
trata da mesma realidade fática à dos autos, o recurso interposto deve ser inadmitido ou, se
conhecido, improvido.

SOBRE O REDIRECIONAMENTO
Considerando os elementos que hoje instruem a execução fiscal, o agravo não pode
ser provido, revogando‐se a tutela antecipada concedida, visto estarem presentes todos os
requisitos para o redirecionamento, nos exatos termos em que requerido e deferido.
A certidão constante dos autos n.º 0901280‐21.2017.8.24.0008/SC e anexada junto
ao evento 90 da execução fiscal de origem, prova que a executada encerrou suas atividades no
endereço de seus registros oficiais.
Ademais, o agravado provou a inexistência de patrimônio, posto que os bens que
sobejaram do patrimônio da agravante são inábeis à garantia do débito, estando em mau
estado de conservação e sem uso há muito tempo, conforme certidão constante do evento 27
dos autos de origem, tanto que as tentativas de venda judicial restaram infrutíferas (evento 79

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dos autos originários).


De outro norte, a simples alegação de que a empresa apenas está com suas
atividades suspensas, não é o suficiente para elidir a conclusão a que se chegou nestes autos,
sobretudo porque não colacionado nos autos elementos que permitissem concluir acerca da
saúde e viabilidade econômica da agravante.
Ao revés, o vultoso débito tributário inadimplido, aliado à ausência de
movimentação financeira (faturamento zerado) e de bens penhoráveis, nos levam à conclusão
de que a agravante não tem condições de subsistir, por não ser viável economicamente.
Fosse diversa a conclusão, por certo a agravante teria ajuizado pedido com vistas a
sua recuperação judicial.
O Código Civil, em seu art. 1033, define as possibilidades de dissolução regular da
sociedade:
Art. 1.033. Dissolve‐se a sociedade quando ocorrer:
I ‐ o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não
entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado;
II ‐ o consenso unânime dos sócios;
III ‐ a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado;
IV ‐ a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias;
(Revogado pela Lei nº 14.195, de 2021)
V ‐ a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.

Ocorrido qualquer um dos casos mencionados neste artigo, cabe aos


administradores providenciarem imediatamente a investidura do liquidante, para iniciar a
liquidação da sociedade empresarial, visto o disposto no art. 1.036 também do Código Civil,
verbis:
Art. 1.036. Ocorrida a dissolução, cumpre aos administradores providenciar imediatamente
a investidura do liquidante, e restringir a gestão própria aos negócios inadiáveis, vedadas
novas operações, pelas quais responderão solidária e ilimitadamente.
Parágrafo único. Dissolvida de pleno direito a sociedade, pode o sócio requerer, desde logo,
a liquidação judicial.

A liquidação mencionada deve seguir os requisitos estabelecidos nos artigos 1.102 a


1.112 deste mesmo regramento, que irão definir todos os deveres do liquidante para a
regular liquidação da empresa.
No caso em questão, a empresa requereu sua baixa perante o SAT (Sistema de

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Administração Tributária), como se verifica no extrato em anexo, sem quitação do débito


tributário junto ao ente agravado.
Embora perante a Junta Comercial a empresa tenha comunicado a "paralisação
temporária das suas atividades", sabe‐se que tal situação não tem previsão legal e não deve
ser chancelada pelo Poder Judiciário, sob pena de configurar perigoso instrumento de
fraude, possibilitando que devedores consigam se esquivar do adimplemento da obrigação
tributária, ganhando tempo para que os responsáveis tributários possam se desfazer do
patrimônio, imunizando‐os do pagamento do crédito tributário inadimplido.
Nem é preciso dizer que tal "subterfúgio" é ilícito, não estando compreendido
nos conceitos de recuperação ou dissolução definidas em lei.
O fato de a paralisação temporária das atividades estar prevista em Instrução
Normativa também não a torna lícita para fins tributários, sendo instrumento criado para uso
restrito na seara trabalhista, visto que tem como efeito permitir a suspensão temporária do
contrato de trabalho.
Sendo assim, mesmo que apresente a informação de baixa requerida ou solicite
perante a Junta Comercial a paralisação temporária das atividades, o certo é que a sociedade
empresária não cumpriu com a legislação tributária de regência, não tendo iniciado processo
de recuperação judicial ou liquidação, caracterizando desta forma infração à lei, motivo pelo
qual autorizado o redirecionamento ao sócio responsável.
O Egrégio Superior Tribunal de Justiça decidiu em Recurso Repetitivo a respeito
conforme segue:

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA.


ART. 543‐C, DO CPC. REDIRECIONAMENTO DE EXECUÇÃO FISCAL DE DÍVIDA ATIVA NÃO‐
TRIBUTÁRIA EM VIRTUDE DE DISSOLUÇÃO IRREGULAR DE PESSOA JURÍDICA.
POSSIBILIDADE. ART. 10, DO DECRETO N. 3.078/19 E ART. 158, DA LEI N. 6.404/78 ‐ LSA C/C
ART. 4º, V, DA LEI N. 6.830/80 ‐ LEF. 1. A mera afirmação da Defensoria Pública da União ‐
DPU de atuar em vários processos que tratam do mesmo tema versado no recurso
representativo da controvérsia a ser julgado não é suficiente para caracterizar‐lhe a
condição de amicus curiae. Precedente: REsp. 1.333.977/MT, Segunda Seção, Rel. Min.
Isabel Gallotti, julgado em 26.02.2014. 2. Consoante a Súmula n. 435/STJ: "Presume‐se
dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem
comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal
para o sócio‐gerente". 3. É obrigação dos gestores das empresas manter atualizados os
respectivos cadastros, incluindo os atos relativos à mudança de endereço dos

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estabelecimentos e, especialmente, referentes à dissolução da sociedade. A regularidade


desses registros é exigida para que se demonstre que a sociedade dissolveu‐se de forma
regular, em obediência aos ritos e formalidades previstas nos arts. 1.033 à 1.038 e arts.
1.102 a 1.112, todos do Código Civil de 2002 ‐ onde é prevista a liquidação da sociedade
com o pagamento dos credores em sua ordem de preferência ‐ ou na forma da Lei n.
11.101/2005, no caso de falência. A desobediência a tais ritos caracteriza infração à lei. 4.
Não há como compreender que o mesmo fato jurídico "dissolução irregular" seja
considerado ilícito suficiente ao redirecionamento da execução fiscal de débito tributário e
não o seja para a execução fiscal de débito não‐tributário. "Ubi eadem ratio ibi eadem legis
dispositio". O suporte dado pelo art. 135, III, do CTN, no âmbito tributário é dado pelo art.
10, do Decreto n. 3.078/19 e art. 158, da Lei n. 6.404/78 ‐ LSA no âmbito não‐tributário,
não havendo, em nenhum dos casos, a exigência de dolo. 5. Precedentes: REsp. n. 697108 /
MG, Primeira Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 28.04.2009; REsp. n.
657935 / RS , Primeira Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 12.09.2006; AgRg
no AREsp 8.509/SC, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 4.10.2011; REsp
1272021 / RS, Segunda Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
07.02.2012; REsp 1259066/SP, Terceira Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 28/06/2012;
REsp.n. º 1.348.449 ‐ RS, Quarta Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
11.04.2013; AgRg no AG nº 668.190 ‐ SP, Terceira Turma, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 13.09.2011; REsp. n.º 586.222 ‐ SP, Quarta Turma, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 23.11.2010; REsp 140564 / SP, Quarta Turma, Rel. Min. Barros
Monteiro, julgado em 21.10.2004. 6. Caso em que, conforme o certificado pelo oficial de
justiça, a pessoa jurídica executada está desativada desde 2004, não restando bens a
serem penhorados. Ou seja, além do encerramento irregular das atividades da pessoa
jurídica, não houve a reserva de bens suficientes para o pagamento dos credores. 7.
Recurso especial provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543‐C do CPC.

Dos autos originários verifica‐se da certidão do evento 90 a inexistência de bens, ao


passo que do evento 79 extrai‐se ter restado inexitosa a tentativa de venda judicial dos bens
sobressalentes ao patrimônio da agravante.
Desta forma, seja pela dissolução irregular da sociedade, seja pelo não
cumprimento aos requisitos previstos na legislação tributária para a recuperação/liquidação
da sociedade empresarial, resta demonstrada a infração à lei capaz de ensejar a
responsabilização dos sócios‐gerentes ou diretores (art. 135, III, do CTN).
E sob tal viés, cumpre registrar, ainda, que "é firme a orientação no sentido de que
a dissolução irregular da empresa sem deixar bens para garantir os débitos, ao contrário do
simples inadimplemento do tributo, enseja o redirecionamento da execução fiscal contra os
sócios‐gerentes, independentemente de restar caracterizada a existência de culpa ou dolo
por parte desses" (cf. Agravo Regimental no Agravo em Recurso Especial 743.185/RS, rel. Min.
Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 8‐9‐2015).

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Com efeito, a parte executada/agravante não indica ou nomeia qualquer bem


idôneo e suficiente à penhora, fato que indicaria sua boa‐fé e seu intuito de colaborar com a
efetividade da justiça. Contudo, não o fez.
Então, s.m.j, a situação que prevalece é a estampada na certidão do Oficial de
Justiça juntada no evento 90 dos autos da execução fiscal originária, dando conta da dissolução
irregular da executada e inexistência de bens.
Logo, ante tal conjunto probatório, inafastável a conclusão de a empresa
devedora fechou suas portas de maneira irregular, ou seja, sem adotar as formas regulares
para sua recuperação judicial ou para o encerramento das suas atividades (falência ou
liquidação).
Nesse caso, respondem pessoalmente pelo débito tributário da pessoa jurídica os
diretores, gerentes ou representantes, nos termos do inciso III do artigo 135 do Código
Tributário Nacional.
O Superior Tribunal de Justiça já sumulou o entendimento de que "Presume‐se
dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem
comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para
o sócio‐gerente." (STJ,Súmula 435).
Vale destacar que a situação cadastral da agravante perante a Secretaria de Estado
da Fazenda está como "baixa requerida" desde 16/07/2019, sem, entretanto, ter procedido à
quitação dos tributos devidos perante o Estado de Santa Catarina agravado.
Por fim, verifica‐se pelo relatório de faturamento mensal que a agravante já não
apresenta mais faturamento desde 10/2018, qual seja, há mais de 5 (cinco) anos, e não
apenas nos últimos dois anos conforme afirma, fato que prova ter ocorrido não apenas uma
"suspensão temporária das atividades", mas sim uma efetiva "dissolução irregular", até
mesmo porque não há qualquer elemento de prova que demonstre que a empresa agravante é
viável economicamente.
Diante disso, considerando que restou provado ter havido dissolução irregular,
legítimo tanto o pedido de redirecionamento da execução fiscal, como seu deferimento.
Sendo assim, deve ser desprovido o agravo.

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III. PEDIDO
Ante o exposto, requer o Estado de Santa Catarina:
a) o não conhecimento do agravo de instrumento interposto, dada a manifesta
ilegitimidade da agravante para discussão da matéria relativa ao redirecionamento do feito.
b) a reconsideração da decisão que atribuiu efeito suspensivo ao agravo;
c) o desprovimento do presente agravo de instrumento, para que a decisão
agravada seja integralmente mantida.

Nestes termos, pede deferimento.

Blumenau, 20 de fevereiro de 2024.

Laisa Pavan da Costa


Procuradora do Estado
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