Você está na página 1de 5

fls.

750

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL - FAZENDA PÚBLICA/ACIDENTES
7ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA
VIADUTO DONA PAULINA, 80, São Paulo - SP - CEP 01501-000
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às17h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1026919-78.2022.8.26.0053 e código EA2DC3D.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1026919-78.2022.8.26.0053


Classe - Assunto Procedimento Comum Cível - Anulação de Débito Fiscal
Requerente: Correa Lima Participação e Administração de Bens Próprios Ltda
Requerido: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JULIANA BRESCANSIN DEMARCHI, liberado nos autos em 20/01/2023 às 16:14 .
Juiz(a) de Direito: Dr(a). JULIANA BRESCANSIN DEMARCHI MOLINA

Vistos.

CORREA LIMA PARTICIPAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DE BENS PRÓPRIOS


LTDA., ajuizou ação anulatória de débito fiscal contra o MUNICÍPIO DE SÃO PAULO em que
busca o reconhecimento da imunidade tributária, ausência competência do município para exigir
ITBI sobre operação de integralização de capital social na forma de transferência de cinco imóveis
de propriedade de sócia para o patrimônio da sociedade. Postulou que os requerimentos
administrativos para reconhecimento da imunidade foram indevidamente indeferidos, sendo
igualmente incabíveis os atos de cobrança de ITBI pelo réu. Argumentou que é sociedade cujas
atividades não são preponderantemente voltadas ao ramo imobiliário, tratando-se apenas de
administração de bens da família detentora da empresa. Requer o reconhecimento da imunidade
tributária e a consequente anulação dos autos de infração referentes ao não pagamento de ITBI
pela integralização de imóveis no capital social.
A tutela de urgência foi inicialmente indeferida (fls. 127/128). Contra esta decisão,
a autora interpôs o Agravo de Instrumento n.º 2133304-95.2022.8.26.0000 que foi julgado
procedente para suspender a exigibilidade dos créditos tributários.
O Município de São Paulo apresentou contestação em que sustentou, em síntese,
que a autora não faz jus à imunidade de ITBI. Apontou que o benefício constitucional é
condicionado à demonstração de que as atividades empresariais não são predominantemente
voltadas ao ramo imobiliário. Assim, no âmbito de processo administrativo, as demonstrações
financeiras apresentadas informando a ausência de receitas teriam o condão de afastar a
imunidade, uma vez não demonstrados os requisitos legais porque não estariam em consonância
com as normas contábeis, não demonstram as despesas específicas da sociedade com a
manutenção dos imóveis de patrimônio da sociedade. Ademais, a imunidade referida destina-se a

1026919-78.2022.8.26.0053 - lauda 1
fls. 751

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL - FAZENDA PÚBLICA/ACIDENTES
7ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA
VIADUTO DONA PAULINA, 80, São Paulo - SP - CEP 01501-000
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às17h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1026919-78.2022.8.26.0053 e código EA2DC3D.
incentivar a atividade empresarial o que, no caso, não ocorreu em vista a inatividade da empresa
autora.
Houve réplica (fls. 748 e 749).
É o relatório.
Fundamento e decido.
Não há preliminares a enfrentar.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JULIANA BRESCANSIN DEMARCHI, liberado nos autos em 20/01/2023 às 16:14 .
O feito comporta imediato julgamento, nos termos do artigo 355, I, do Código de
Processo Civil, pois a questão controvertida é apenas de direito, a prova dos fatos é essencialmente
documental e já está acostada aos autos.
Na espécie, a questão de direito versa sobre a possibilidade de aplicação da
imunidade de IBTI sobre a operação de integralização de imóveis no capital social da autora. A
não incidência é prevista no artigo 156, §2°, I da Constituição Federal:
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: (...)
II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por
natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem
como cessão de direitos a sua aquisição; (...)
§ 2º O imposto previsto no inciso II:
I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio de
pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a transmissão de bens ou direitos
decorrente de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses
casos, a atividade preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou
direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil;
Afasto desde logo a tese de que a imunidade pleiteada é incondicionada. Nesta
linha pretende-se que as operações de integralização de capital sejam excluídas da exceção a
imunidade. Isto é, a expressão "nesses casos" do dispositivo constitucional supra não atingiria
todas as hipóteses de operações societárias nele previstas, limitando-se apenas os casos de "fusão,
incorporação, cisão ou extinção".
Mediante simples interpretação gramatical do dispositivo constitucional em
questão, percebe-se que exceção à imunidade se aplica ao caso da autora, a expressão "nesses
casos" refere-se a todo o disposto no art. 156, §2°, I da Constituição, caso quisesse limitar a
exceção à imunidade às últimas operações societárias descritas, o constituinte empregaria "nestes
casos". Outrossim, do ponto de vista teleológico, a tese de imunidade incondicionada quanto à
integralização de capital social não prospera. A norma em questão busca o incentivo das
atividades empresariais, logo não se mostra compatível com esta finalidade dispensar tratamento
diverso a diferentes operações societárias. Ou seja, o ITBI é devido sobre a integralização de
capital na forma de imóvel em sociedade contribuinte que tenha por atividade preponderante
compra, venda, locação de imóveis.

1026919-78.2022.8.26.0053 - lauda 2
fls. 752

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL - FAZENDA PÚBLICA/ACIDENTES
7ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA
VIADUTO DONA PAULINA, 80, São Paulo - SP - CEP 01501-000
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às17h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1026919-78.2022.8.26.0053 e código EA2DC3D.
Neste diapasão, não é aplicável ao caso o precedente do C. Supremo Tribunal
Federal, RE n.º 796.376/SC, que resultou no tema de repercussão geral n.º 796: "A imunidade em
relação ao ITBI, prevista no inciso I do § 2º do art. 156 da Constituição Federal, não alcança o
valor dos bens que exceder o limite do capital social a ser integralizado".
Fica evidente que o tema jurisprudencial mencionado em nada diz respeito ao
objeto desta ação anulatória, constatando-se que não há qualquer discussão nestes autos sobre

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JULIANA BRESCANSIN DEMARCHI, liberado nos autos em 20/01/2023 às 16:14 .
limitação de tal imunidade ao valor do capital social. Consigno que simples obiter dictum
proferido naquele julgado de corte superior não vincula este juízo.
Destarte, para fazer jus à imunidade ao ITBI, a autora deve demonstrar que sua
atividade preponderante não é a compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens imóveis
ou arrendamento mercantil. Nessa linha, o Código Tributário Nacional regulamenta a Constituição
ao definir o que se entende por "atividade preponderante":
Art. 37. O disposto no artigo anterior não se aplica quando a pessoa jurídica adquirente
tenha como atividade preponderante a venda ou locação de propriedade imobiliária ou a
cessão de direitos relativos à sua aquisição.
§ 1º Considera-se caracterizada a atividade preponderante referida neste artigo quando
mais de 50% (cinquenta por cento) da receita operacional da pessoa jurídica adquirente,
nos 2 (dois) anos anteriores e nos 2 (dois) anos subsequentes à aquisição, decorrer de
transações mencionadas neste artigo.
§ 2º Se a pessoa jurídica adquirente iniciar suas atividades após a aquisição, ou menos de
2 (dois) anos antes dela, apurar-se-á a preponderância referida no parágrafo anterior
levando em conta os 3 (três) primeiros anos seguintes à data da aquisição.
§ 3º Verificada a preponderância referida neste artigo, tornar-se-á devido o imposto, nos
termos da lei vigente à data da aquisição, sobre o valor do bem ou direito nessa data.
§ 4º O disposto neste artigo não se aplica à transmissão de bens ou direitos, quando
realizada em conjunto com a da totalidade do patrimônio da pessoa jurídica alienante.
Na hipótese ora em análise, a sociedade autora foi constituída na mesma ocasião
em que o correu a integralização de imóveis no capital social (fls. 30 a 46), então, aplica-se o §2°
do artigo 37 do CTN, deve comprovar que menos de 50% de sua receita não provêm da atividade
imobiliária nos três anos subsequentes à incorporação dos imóveis na sociedade.
A sociedade autora foi constituída em 2016, assim, no âmbito do processo
administrativo perante o fisco municipal, apresentou suas demonstrações financeiras para os anos
de 2016 a 2019 (fls. 113/118). Ficou demonstrado que não houve receita no período, fato não
impugnado pelo réu.
Diante disso, o auditor fiscal do município entendeu que as demonstrações
financeiras da autora não teriam aptidão para demonstrar a não preponderância das atividades por
não especificarem despesas correntes com os imóveis de propriedade da sociedade. Assim, foi
indeferido o pedido de não incidência do ITBI (fls. 98/99) e lavrados os autos de infração por não
pagamento do imposto (fls. 100/104).

1026919-78.2022.8.26.0053 - lauda 3
fls. 753

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL - FAZENDA PÚBLICA/ACIDENTES
7ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA
VIADUTO DONA PAULINA, 80, São Paulo - SP - CEP 01501-000
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às17h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1026919-78.2022.8.26.0053 e código EA2DC3D.
A conclusão da fazenda municipal encontra-se em harmonia com a normativa
pertinente.
A finalidade da imunidade em questão é fomentar a atividade econômica
permitindo a integralização sem encargos tributários de imóveis em sociedades. No caso, a
sociedade autora busca apenas administrar os bens familiares e organizar a sucessão, restou
demonstrado documentalmente que não exerce qualquer atividade econômica, logo, não faz jus à

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JULIANA BRESCANSIN DEMARCHI, liberado nos autos em 20/01/2023 às 16:14 .
imunidade.
Neste sentido, já decidiu o C. Supremo Tribunal Federal:
APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. ITBI. ALEGADA IMUNIDADE
SOBRE A TRANSMISSÃO DE BENS PARA O FIM DE INTEGRALIZAR O CAPITAL
SOCIAL DA IMPETRANTE. ART. 156, §2º, I DA CF. REGRAS IMUNIZANTES QUE
DEVEM SER INTERPRETADAS DE ACORDO COM A SUA FINALIDADE A QUAL, NO
CASO, VISA AO INCENTIVO DO DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE PRODUTIVA,
GERAÇÃO DE EMPREGOS, CIRCULAÇÃO DE RIQUEZAS E MELHORIAS
SOCIAIS.DIVERGÊNCIA COM O OBJETIVO DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA
IMPETRANTE. HOLDING FAMILIAR CONSTITUÍDA COM A FINALIDADE DE
BLINDAGEMPATRIMONIAL. IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO DA
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA NO CASO. SENTENÇA MANTIDA. (STF: ARE nº
1.378.663/PR, Relator: Ministro Luiz Fux, PUBLICADO EM 02/05/2022).

Na mesma linha, precedente do E. Tribunal de Justiça:

Tributário. Apelação e Reexame Necessário. Mandado de Segurança. Sentença que


concedeu a ordem, reconhecendo a imunidade quanto ao ITBI sobre a integralização de
imóvel ao capital social da impetrante. Pretensão à reforma. Cabimento. Imunidade
constitucional que não alcança empresas sem receitas operacionais. O art. 156, §2º, I, da
Constituição não traz a definição da "atividade" cuja preponderância afastaria a
imunidade. Conceito de direito privado que não pode ser alterado pela lei tributária, a
teor do art. 110 do CTN. Artigo 37, §1º e 3º do CTN que, ao correlacionar "atividade" e
"receita operacional", apenas regulamenta as hipóteses em que a empresa está
operacionalmente ativa. Interpretação histórica. Dispositivos incluídos no CTN, em 1966,
dez anos antes do surgimento formal das holdings (incluindo a patrimonial) no
ordenamento brasileiro, por meio do art. 2º, §3º da Lei nº 6.404/76 (Lei das S/A). Cenário
de inatividade operacional não previsto pelo legislador. Hipótese em que a expressão
"atividade preponderante" do caput do art. 37 do CTN reflete conceito jurídico
indeterminado, permitindo a utilização de parâmetros diversos da receita operacional.
Interpretação teleológica. Imunidade cujo objetivo é fomentar a atividade econômica.
Dispositivo que, ao excepcionar da imunidade as empresas de venda e locação de imóveis,
busca evitar que a integralização mascare uma simples operação de alienação, o que
representaria simulação quanto à affectio societatis com intuito de evasão tributária.
Empresas que, ao menos, têm atuação econômica e socialmente relevante, diversamente
da holding patrimonial inativa, para a qual o pleito é ainda mais frágil. Reconhecimento
da imunidade que violaria o espírito da disposição constitucional, seja por desnaturar o
intuito de fomento, seja pelos indícios de confusão patrimonial, já que se as despesas
periódicas do imóvel (como o IPTU) estivessem sendo pagas pela empresa, haveria
resultado operacional, ainda que negativo. Sentença reformada. Recursos oficial e
voluntário providos, com determinação. (TJSP: Apelação/Remessa Necessária n.º
1003616-19.2021.8.26.0587; 18ª Câmara de Direito Público; julgado em 15/12/2022)

1026919-78.2022.8.26.0053 - lauda 4
fls. 754

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL - FAZENDA PÚBLICA/ACIDENTES
7ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA
VIADUTO DONA PAULINA, 80, São Paulo - SP - CEP 01501-000
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às17h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1026919-78.2022.8.26.0053 e código EA2DC3D.
Ante o exposto, julgo improcedente o pedido; e assim o faço para extinguir o
processo com resolução do mérito nos termos do artigo 487, I do Código de Processo Civil.

Pela sucumbência, condeno a autora arcar com custas, despesas processuais e


honorários advocatícios, estes fixados equitativamente em R$ 10.000,00.

Não há remessa necessária.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JULIANA BRESCANSIN DEMARCHI, liberado nos autos em 20/01/2023 às 16:14 .
P.I.C.

Oportunamente, arquivem-se os autos com as cautelas de praxe.

São Paulo, 20 de janeiro de 2023.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

1026919-78.2022.8.26.0053 - lauda 5

Você também pode gostar