Você está na página 1de 11

PARECER JURÍDICO

RECOMENDAÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL

REFERÊNCIA: Contrato nº 20200699, oriundo do processo licitatório,


modalidade pregão, na forma eletrônica, n°. 9-011/2020;
INTERESSADO: Secretaria Municipal de Administração e Tesouro;
OBJETO: Aquisição de lanches, salgados para atender as
necessidades das secretarias do município de
Barcarena/PA.

I. RELATÓRIO:

Por força do disposto no art. 38, inciso VI, da Lei n°. 8.666/93, foi remetido
a esta Assessoria Jurídica, para análise e emissão de parecer jurídico, o processo
licitatório, modalidade pregão, na forma eletrônica, processado sob o nº 9-011/2020,
o contrato nº 20200699 e a certidão de óbito nº 068312 01 55 2020 4 00027 117
0006458 08.

Compulsando os documentos encaminhados, constatamos que, após a


regular tramitação do certame acima mencionado, a empresa R. CARDOSO DIAS-
EPP, inscrita no CNPJ nº 05.245.371/0001-57, sagrou-se vencedora dos itens 2 e 9
do Termo de Referência, motivo pelo qual firmou o contrato nº 20200699 com esta
prefeitura municipal no dia 09 de abril de 2020.

No entanto, lamentavelmente, no dia 07 de maio de 2020 o titular da


empresa em epígrafe veio à óbito, consoante a certidão de óbito em anexo (doc. 1),
motivo pelo qual a secretaria contratante solicitou à esta assessoria jurídica
posicionamento legal a respeito desta situação, proferindo, consequentemente,
recomendação ao que deve ser adotado pela administração pública municipal,
observadas as normas e os princípios basilares e norteadores dos contratos
administrativos.

É o sucinto relatório.

1
II. DOS FUNDAMENTOS:

Ab initio, mister registrar que, após consulta no site da Receita Federal,


constatamos que a contratada R. CARDOSO DIAS-EPP diz respeito à empresa
individual (doc. 2), razão pela qual não existe um sócio remanescente, constituído
juridicamente para continuar respondendo por sua atividade econômica no caso de
ausência de seu titular.

Isto posto, ocorrendo o falecimento de seu único titular, os bens, direitos e


obrigações provenientes de sua criação passam a integrar o espólio da pessoa
falecida para fins de sucessão hereditária. Mesmo que os seus herdeiros e sucessores
tenham a intenção de continuar desenvolvendo a atividade empresarial, isso somente
poderá se afigurar de fato e legitimamente depois de expedida autorização judicial,
proveniente de processo de inventário.

Contudo, de pronto, temos o seguinte: ocorrendo a morte do titular da


empresa individual, também ocorre automaticamente a sua desconstituição, visto que
se trata de uma empresa com caráter personalíssimo. Corroborando este
entendimento, trazemos a seguinte decisão, proferida pelo Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo:

APELAÇÃO. EXECUÇÃO PROMOVIDA CONTRA PESSOA JURÍDICA


EXTINTA. FIRMA INDIVIDUAL. MORTE DO TITULAR. A firma individual é
mera extensão da pessoa física ou natural, sendo esta a responsável, com
seus bens pessoais, pelos atos praticados pela empresa e a sua morte
implica, necessariamente, no desaparecimento da firma por ele
intitulada. Nulidade da CDA que é declarada de ofício. RECURSO NÃO
PROVIDO. (TJ-SP - APL: 00189787620098260077 SP 0018978-
76.2009.8.26.0077, Relator: Souza Nery, Data de Julgamento: 25/10/2018,
12ª Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 25/10/2018. Grifei)

Em vista disto, a Lei n°. 8.666/93, em seu art. 78, inc. X, estabelece que
constitui motivo para rescisão contratual o falecimento do contratado. Esta disposição
tem como objetivo principal salvaguardar o princípio que impõe ao contratante
particular responder pessoalmente pelas obrigações assumidas para com a
administração púbica, corroborando, assim, o entendimento que o contrato
administrativo é intuitu personae.

Deste modo, a responsabilidade pessoal do contratado está na essência


do contrato administrativo, motivo pelo qual, ocorrendo a sua morte, a Administração
Pública não é obrigada a manter vínculo com os seus sucessores ou herdeiros, haja
vista que não participaram de processo licitatório e, portanto, não foram selecionados
com a observância dos regramentos constantes na lei e no edital.

2
Ainda que haja processo de inventário em andamento, cuja intenção seja
dar continuidade na empresa, a Administração Pública não pode paralisar suas
atividades apenas para satisfazer interesses de particulares, mormente porque,
agindo desta maneira, inevitavelmente, estariam sendo violados os princípios de
moralidade e impessoalidade que norteiam a administração pública, e,
consequentemente, estar-se-ia diante de ato de improbidade pública.

Os processos licitatórios e os contratos provenientes destes têm como


objetivo dar subsídios à entidade para que continue desenvolvendo seus serviços
obrigacionais de interesse público. Qualquer ato que a Administração Pública realize
que tenha o condão de arrefecer ou aniquilar tal finalidade, é totalmente ilegal e dá
ensejo à responsabilização civil, administrativa e penal de seus agentes.

Noutro giro, importante frisar que, em decorrência da supremacia do


interesse público sobre o privado, os contratos administrativos são regidos por
cláusulas que conferem ao Poder Público uma posição superioridade em relação aos
seus contratados, não havendo sequer a necessidade de estarem dispostas de
maneira explícita no instrumento contratual.

Assim sendo, podemos citar a prerrogativa constante no inc. II do art. 58


da Lei 8.666/93, que confere à administração pública o poder de rescindir o contrato
administrativo, unilateralmente, nos casos especificados no inc. I do art. 79 deste
mesmo diploma legal. Isto posto, vejamos o que disserta este dispositivo da Lei
8.666/93:

Art. 79. A rescisão do contrato poderá ser:

I - determinada por ato unilateral e escrito da Administração, nos casos


enumerados nos incisos I a XII e XVII do artigo anterior;

Como já mencionado acima, a causa de rescisão por falecimento do


contratado está prevista no inc. X do art. 78 da Lei n°. 8.666/93, razão pela qual se
encontra dentre as hipóteses de rescisão por ato unilateral, estabelecidas na Lei n°.
8.666/93, consoante se infere do excerto acima destacado.

Nesta seara, de todo importante trazer à baila o disposto no art. 78,


parágrafo único da Lei n°. 8.666/93, que determina a observância dos princípios da
ampla defesa e do contraditório antes de ser decretada, efetivamente, a rescisão
contratual.

Deste modo, com vista a resguardar estes princípios constitucionalmente


estabelecidos e fundamentais dentro de um estado democrático de direito, conceder-
se-á à aos herdeiros e sucessores da empresa R. CARDOSO DIAS-EPP o prazo de
3
05 (cinco) dias úteis, a contar da data de publicação do aviso na Impressa Oficial, para
manifestarem sobre a intenção desta administração pública em rescindir o contrato nº
20200699, com fulcro no art. 109, inc. I, alínea “e”, da Lei n°. 8.666/93.

III. DA CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÃO:

Ante o exposto, com base nos fundamentos acima, esta assessoria jurídica
da Prefeitura Municipal de Barcarena/PA, RECOMENDA A RESCISÃO
UNILATERAL DO CONTRATO Nº 20200699, ORIUNDO DO PREGÃO
ELETRÔNICO Nº 9-011/2020, com fulcro no art. 78, inc. X, da Lei n°. 8.666/93.

É importante destacar que a presente recomendação não vincula a decisão


superior. Apenas faz uma contextualização fática, fornecendo subsídios à autoridade
correspondente, a quem cabe análise desta e proferição de sua decisão.

Contudo, decidindo por acolher a presente recomendação, os herdeiros e


sucessores da empresa R. CARDOSO DIAS-EPP deverão ser notificados através de
publicação de aviso de intenção na Imprensa Oficial, concedendo-lhes o prazo de 05
(cinco) dias úteis para se manifestarem, nos termos do art. 109, inc. I, alínea “e”, da
Lei n°. 8.666/93, em homenagem aos princípios da ampla defesa e do contraditório.

Barcarena-PA, 08 de junho de 2020.

JOSE QUINTINO DE Assinado de forma digital por JOSE


QUINTINO DE CASTRO LEAO
CASTRO LEAO JUNIOR:26862778234
JUNIOR:26862778234 Dados: 2020.06.08 10:34:37 -03'00'
JOSE QUINTINO DE CASTRO LEÃO JUNIOR
Procurador Geral do Município de Barcarena (PA)
Decreto n°. 061/2017-GPMB

4
Doc. 1

5
6
Doc. 2

7
8
9
10
11

Você também pode gostar