EMPRESA EIRELI-ME, já devidamente qualificada nos autos, vem
perante a Vossa Excelência, por meio de sua advogada subscrita, nos autos da presente AÇÃO DE RECLAMAÇÃO TRABALHISTA, que é movida em seu desfavor por TRABALHADOR, já qualificada alhures, requerer SUSPENSÃO DO PAGAMENTO DO ACORDO, pelos fatos a seguir expostos:
I- DOS FATOS
É notório que a humanidade ainda enfrenta graves efeitos causados
pela pandemia por conta da proliferação do vírus COVID-19, tratando especificamente de nosso estado de Goiás e nossa cidade de Anápolis, vemos um cenário caótico de medo e inseguranças, onde recentemente houve o decreto municipal n° 46.104/2021, determinando a suspensão das atividades econômicas e não econômicas do dia 05 de março de 2021 até o dia 15 de março de 2021. A Reclamada paralisou por completo suas atividades desde de junho de 2020, onde seu Único Sócio vem trabalhando individualmente como autônomo, pois está desempregado, para terminar de arcar com os débitos da Reclamada, pois todos seus bens moveis já foram vendidos ou dados em pagamento das dívidas, não restando nada, diante da suspensão do comércio pelo decreto não conseguiu ganhar nenhum provento neste período. Após o retorno das atividades no dia 15 de março de 2021, porém logo no dia seguinte adveio um novo decreto de caráter estadual, ordenando novamente a suspensão de toda atividade econômica e não econômica que não seja essencial para a manutenção da vida. Este decreto de n° 9.828/2021, impôs o revezamento da suspensão em que primeiro ficará 14 dias suspenso e após isso 14 dias liberado, com restrições, e assim sucessivamente. Ocorre que assim, em nossa cidade de Anápolis, a suspensão do comércio ficará praticamente 24 dias suspensos, pois o comércio reabriu por apenas dois dias e novamente teve que fechar pelo imposição do decreto estadual que o município acatou 100%. Diante deste cenário que passa nossa sociedade por conta dos efeitos das medidas para tentar amenizar a proliferação do vírus, o Responsável pela Reclamada se viu sem poder trabalhar, tenho uma família, dois filhos que dependem de seu trabalho para se sustentarem. Dito isso, a Reclamada não tem condições de continuar com os pagamentos do acordo firmado em audiência neste juízo. De forma alguma por sua intenção, mas por fato de força maior inevitável e de caráter mundial. Na época que o acordo foi firmado o cenário econômico de nosso Estado e Cidade estavam diferentes, pois mesmo com pandemia ainda em continuidade, o comércio estava se mantendo aberto, porém com o crescente números de casos com pessoas com COVID-19 e o aumento significativo de pessoas que vieram a falecer por conta da contaminação deste vírus, as autoridades não tiveram outra alternativa senão de decretar novamente o fechamento das atividades não essenciais. Vale ressaltar que mesmo quando esses primeiros 14 dias do revezamento da suspensão chegar ao fim, vive-se diariamente a incerteza de que a poderá ter que continuar suspenso, devida a situação de calamidade que nossa cidade de Anápolis e estado de Goiás está passando. Neste contexto, a Reclamada se vê totalmente impossibilitada de arcar com o pagamento do acordo, pois não tem nenhuma renda no momento para cumprir com tal obrigação, muito menos terá condições de efetuar o pagamento se tal acordo for acrescentado pela multa do descumprimento e o vencimento das parcelas futuras. II- DO DIREITO
É evidente que todo esse cenário caótico que estamos vivendo,
tanto no âmbito da saúde quanto seus reflexos na economia, é totalmente inesperado e inevitável sob a ótica da Reclamada, são situações imprevisíveis e totalmente avulsa a vontade da Reclamada, o que caracteriza uma situação de força maior que não somente da Reclamada, como da sociedade como um todo, ninguém poderia prever o que iria ocorrer como também não se pode antever o que irá acontecer. Mediante a isso, a Reclamada faz o requerimento para a suspensão temporária dos pagamentos do acordo, para que assim possa manter suas obrigações sem que isso vem ferir sua existência como pessoa, visto que, como já dito anteriormente, o estabelecimento da Reclamada paralisou todas suas atividades desde de junho de 2020, onde é o seu único sócio que está trabalhando por conta própria para quitar as dívidas originarias da Reclamada. Sobre a dilação dos prazos o § 1º do artigo 775 da CLT, é expresso no sentido de que "os prazos podem ser prorrogados, pelo tempo estritamente necessário, nas seguintes hipóteses: I - quando o juízo entender necessário; II - em virtude de força maior, devidamente comprovada"(grifei). No mesmo sentido, o CPC, de utilização subsidiária no processo do trabalho, consoante os artigos 769 da CLT e 15 do CPC, dispõe, no seu artigo 505, que "nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma lide, salvo: I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação no estado de fato ou de direito, caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença; II - nos demais casos prescritos em lei" (grifei). Com efeito, não se pode deixar de levar em consideração que estamos atravessando um momento de grande excepcionalidade, em meio a uma severa crise mundial. E neste ponto, o Código Civil também nos fornece importantes subsídios. O artigo 396 do Código Civil estabelece que "não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora" (grifei). Isto é exatamente o que está ocorrendo no momento atual.
A conceder o norte para o enquadramento jurídico da atual situação
excepcional e extrema vivida em nossa sociedade, o artigo 393 do Código Civil dispõe que "o devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado" (grifei). O parágrafo único do artigo 393 do Código Civil menciona que “o caso fortuito ou de força maior, é verificado no fato necessário, cujos efeitos não eram possíveis de serem evitados ou impedidos” (grifei). No mesmo sentido é o artigo 501 da CLT, que diz que “entende-se como força maior todo acontecimento inevitável, em relação à vontade do empregador, e para a realização do qual este não concorreu, direta ou indiretamente” (grifei). Nesta mesma linha, é importante relembrar o que diz o artigo 8º do CPC: Art. 8° Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência" (grifei).
O que caracteriza importante norte para a atuação jurisdicional, em
especial neste grave momento de crise, em especial considerando-se os "fins sociais" e as "exigências do bem comum", com observância, entre outros, da "proporcionalidade" e da "razoabilidade". Deve também ser ponderado que a própria lei prevê, expressamente, a possibilidade de o Juiz decidir os conflitos baseado na equidade e pelas regras de experiência comum, nos termos do artigo 8º da CLT, além dos artigos 140 e 375 do CPC. Deve, ainda, ser levada em consideração a ampla liberdade na direção do processo que a própria lei assegura aos Juízes e Tribunais do Trabalho, no artigo 765 da CLT: "os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas" (grifei).
Quanto à comprovação da força maior, inclusive para prorrogação
dos prazos nos termos previstos pelo § 1º do artigo 775 da CLT, a atual pandemia do COVID-19, torna, em muitas situações, desnecessária tal comprovação, como por exemplo o Decreto Legislativo 06/2020, que reconheceu o estado de calamidade pública no país, o que se enquadraria, portanto, como fato notório, sem necessidade de prova, nos termos do artigo 374, inciso I, do CPC, ou ainda os decretos estadual e municipal já mencionados, que suspenderam a atividade econômica ou não que não seja essencial a manutenção a vida. Seguindo esse entendimento o Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região entendeu como correta a suspensão do acordo firmado nos autos pelo prazo de 90 dias, vejamos: SUSPENSÃO DO CUMPRIMENTO DO ACORDO. RECLAMADO PESSOA FÍSICA. MICROPRODUTOR INFORMAL. Havendo comprovação nos autos da fragilidade do empregador pessoa física, micro produtor rural, ante a paralisação abrupta da comercialização de seus produtos em razão do fechamento dos restaurantes por ato do Governo Estadual, correta a decisão que suspendeu o presente acordo firmado nos autos pelo prazo de 90 dias. (grifei) (TRT18 – Agravo n°: 0010032- 85.2020.5.18.0083. Relator: DESEMBARGADORA IARA TEIXEIRA RIOS, data de publicação: 19/08/2020)
Diante de todo exposto, se faz jus ao pedido de suspensão do
pagamento do acordo, de maneira que não ocorra a incidência da multa decorrente do não pagamento do acordo pelo período sobrestado, por todos os fundamentos acima, em especial o artigo 396 do Código Civil, já mencionado anteriormente.
III- DOS PEDIDOS
Sendo assim, conformo todo exposto nos fatos e no direito a
Reclamada REQUER que seja suspenso por 90 dias o pagamento do acordo firmado nos autos deste processo, a começar do mês de março de 2021, ficando suspenso março, abril e maio de 2021, realocando-as para que possam ser quitadas após a última parcela do acordo, e voltando com os devidos pagamentos em 20 de junho de 2021, no valor acordado de R$ 1.000,00 (um mil reais).
REQUER ainda que não ocorra a incidência da multa decorrente do
não pagamento do acordo pelo período sobrestado, por todos os fundamentos acima, em especial o artigo 396 do Código Civil.