Você está na página 1de 10

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara Cível da

Comarca de Dianópolis - Tocantins

Cumprimento de Sentença
Autos nº 0000955-48.2016.8.27.2716

Autbel Engenharia Civil Ltda., já qualificada, por seu advogado


infrafirmado, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência opor
Impugnação ao Cumprimento de Sentença, ofertado no ev. 162 por Nascimento
de França Machado e Outra, pelas razões fáticas e jurídicas adiante declinadas:

1. Breve síntese processual

Em 15/04/2016 a Impugnante ajuizou em face dos Impugnados a presente


Ação Declaratória de Negócio Jurídico c/c Pedido de Cumprimento de
Obrigação de Fazer, Revisão de Cláusulas e Perdas e Danos.
Em 18/03/2019 as partes compuseram a lide por meio de Instrumento
Particular de Acordo e Novação de Contrato Particular de Compra e Venda de
Imóvel, novando os pactos pretéritos lavrados em 04/03/2015 e 31/03/2015 e
consolidando ambas as áreas discriminadas entre si, a saber: a área
remanescente de 3.308ha, situada fora da estação ambiental e a área de
51.648,96ha, situada dentro da estação ambiental, repactuando as condições da
compra e venda referente a totalidade da área de 54.956.9688, (matricula 2819,
livro 2-I de 19/07/1984), do imóvel rural denominado Fazenda Feijão e delineando
sua linha limítrofe (ev. 132).
Em 13/08/2019 o acordo foi homologado por este culto juízo e extinguindo
o processo com resolução de mérito (ev. 135).
Em síntese, são os fatos.
2

2. Do título executivo judicial

O título executivo judicial repousa na decisão homologatória do acordo


lavrado entre as partes no Instrumento Particular de Acordo e Novação de
Contratos Particular de Compra e Venda de Imóvel firmado no dia 18/03/2019
(ev. 135).
E neste acordo estabeleceram o preço de R$ 2.500.000,00 (...) pela compra
e venda e pagos parceladamente (clausula segunda item 7):
3

A Impugnante cumpriu integralmente as obrigações líquidas, certas e


exigíveis assumidas perante o Impugnado neste Instrumento Particular de Acordo
e Novação de Contratos Particular de Compra e Venda.
Em 24/11/2023 os Impugnados ajuizaram o presente Cumprimento de
Sentença exigindo R$ 2.290.026,90 (...) e cujo valor, porém, permanece inexigível.

3. Da impugnação (art. 525, §1º, inciso III do CPC)

Dispõe o art. 525, §1, inciso III do CPC:

Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o
prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova
intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação.
§ 1º Na impugnação, o executado poderá alegar:
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;

Cediço é que o título executivo judicial exige o preenchimento dos


requisitos de certeza, liquidez e exigibilidade. 4

Conforme ensina Candido Rangel Dinamarco, o título executivo é o ato


capaz de dar início a uma execução: “Título executivo é um ato ou fato jurídico
indicado em lei como portador do efeito de tornar adequada a tutela executiva
em relação ao preciso direito a que se refere”.1
Nessa seara, deve expressar uma obrigação certa, liquida e exigível,
características que são inerentes às obrigações a serem executadas.
A certeza é o primeiro requisito necessário para conferir legitimidade à
obrigação, define-se em torno do conceito da própria existência da obrigação.
A liquidez está ligada à ideia da perfeita definição do que é devido,
sobretudo em relação ao fator quantitativo. Vale dizer, o título deve conter o valor
exato da obrigação a ser cumprida. A obrigação somente será líquida quando o
título não deixar dúvida acerca do seu objeto.
Para Marinoni e Sérgio Arenhart:

Por fim, toda espécie de obrigação que se pretenda exigir judicialmente deve ser
líquida. A liquidez diz respeito à extensão e à determinação do objeto da
prestação (art. 1.533 do Código Civil revogado). De fato, não se pode exigir de
alguém a prestação de alguma coisa que não se sabe exatamente o que é.
Portanto, a liquidez diz respeito à exata definição daquilo que é devido e de sua
quantidade.2

Enquanto que a exigibilidade ocorre no momento em que houver precisa


indicação de que a obrigação já deve ser cumprida, ou seja, se encontra
vencida e já se pode exigir.

1Dinamarco, Cândido Rangel, Execução Civil – 5ª Edição – São Paulo, Malheiros, 1997, p.208
2Marinoni, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil. Volume 3: execução, p.
123
A exigibilidade é verificada a partir da data de vencimento da obrigação,
de modo que a obrigação ainda não vencida não é passível de ser objeto de
processo executivo.
5
Ainda em relação à exigibilidade, o art. 787 do CPC preceitua:

Art. 787. Se o devedor não for obrigado a satisfazer sua prestação senão mediante
a contraprestação do credor, este deverá provar que a adimpliu ao requerer a
execução, sob pena de extinção do processo.

Deste modo, deveriam os Impugnados ter provado a outorga de Escritura


Pública de Compra e Venda e registro perante o Cartório do Registro de Imóveis
competente, o que deixaram de fazer.

4. Da cláusula condicionante

O pagamento da parcela de R$ 1.775.000,00 (...) previsto na Cláusula


Segunda item 7, está sujeita as seguintes condições:

a) liberação do CCIR do imóvel;


b) lavratura da escritura publica de compra e venda;
c) registro da escritura pública de compra e venda em nome da
Impugnante perante o Cartório de Registro de Imóveis.

Pois bem, nenhuma destas condicionantes restou cumprida pelo


Impugnado, de tal sorte que a obrigação permanece inexequível e inexigível.
Quanto a liberação do CCIR do imóvel cumpre esclarecer que foi
cancelado perante o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
Repita-se: A outorga de escritura pública de compra e venda e registro
perante Cartório de Registro de Imóveis também não ocorreu.
Cumpre esclarecer que o imóvel rural objeto do enleio constituído pela
Fazenda Feijão, discriminado na matricula 2819 do livro 2-I de 19/07/1984 do Ofício
de Registro de Imóveis de Santa Rita de Cássia migrou no dia 21/12/2022 para a
6
matrícula 6087 do Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Formosa do Rio
Preto.
Tanto a cópia da matrícula 2819 Ofício de Registro de Imóveis de Santa Rita
de Cássia, quanto a cópia da matrícula 6087 do Cartório de Registro de Imóveis
da Comarca de Formosa do Rio Preto, demonstram que o imóvel não foi
transferido para a Impugnante.
Para reforçar, o imóvel se encontra indisponível conforme consta da AV-23-
2819 do Cartório de Registro de Imóveis de Santa Rita de Cássia, por
determinação da MMª corregedora das comarcas do interior Dra. Cynthia Maria
Pina Resende, proferida em 22/08/2017, no bojo do processo TJ-ADM 2017/31999,
para vedar a prática de qualquer ato de registro ou averbação na mesma:

E esse bloqueio permanece hígido na AV-23-6087 do Cartório de Registro


de Imóveis e Hipotecas da Comarca de Formosa do Rio Preto, para onde migrou
a matrícula 2819 da Comarca de Santa Rita de Cássia, vejamos:
Por todos esses motivos a outorga da escritura pública de compra e venda
da Fazenda Feijão não pode ser lavrada e registrada.
7

5. Do direito

Dispõe o art. 121 do CC:

Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das
partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.

Sua natureza jurídica é de elemento acidental do negócio jurídico.


Flávio Tartuce leciona que “os elementos acidentais do negócio jurídico
não estão no plano da sua existência ou validade, mas no plano de sua eficácia,
sendo a sua presença até dispensável”.3
A condição é uma disposição na qual os contratantes resolvem subordinar
os efeitos de um negócio jurídico a um evento futuro e incerto.
As cláusulas condicionantes podem ser suspensivas ou resolutivas.
Estipula-se uma condição suspensiva em promessa de compra e venda em
razão de processo de due dilligence. Neste caso, o negócio jurídico já tem
eficácia perante os contratantes e terceiros, porém o pagamento depende da
obtenção de certidões negativas do imóvel e do vendedor. Esta condição é
objetiva, depende de evento futuro e incerto (obtenção de
certidões), suspendendo a obrigação de realizar o pagamento (por exemplo) até
a aprovação do processo de investigação legal.
O artigo 125 do CC dispõe:

Art. 125. Subordinando -se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva,


enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa.

3
Tartuce, Flavio. Direito Civil: Volume 1. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2019, p.571
Nesse sentido:

APELAÇÃO. CONDIÇÃO SUSPENSIVA. AUSÊNCIA DE IMPLEMENTO. INEXISTÊNCIA DE


AQUISIÇÃO DO DIREITO. Se o negócio jurídico é subordinado a uma condição suspensiva
dele não advirá qualquer efeito até que se realize o evento ao qual se encontra 8
dependente. No caso, o pagamento da verba devida a parte autora foi condicionada
a liberação de valor em prol da parte ré, o que, ainda, não ocorreu, logo não lhe assiste,
ainda, o direito de exigir o pagamento da contrapartida estabelecida no contrato. 4

No mesmo viés interpretativo:

APELAÇÃO - COBRANÇA - REPRODUÇÃO DE FUNDAMENTOS DE FATO E DE DIREITO NO


APELO - VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE RECURSAL - AUSÊNCIA - PROMESSA
DE COMPRA E VENDA - PREÇO - CONVENÇÃO DE CONDIÇÃO SUSPENSIVA - AUSÊNCIA DE
AQUSIÇÃO DO DIREITO. A reprodução no apelo dos fundamentos de fato e de direito
apresentados na petição inicial, por si só, não consubstancia violação ao princípio da
dialeticidade recursal. Estando o pagamento de parcela do preço sujeito a condição
suspensiva, enquanto não implementada tal condição não possui o credor direito ao
pagamento de tal obrigação. 5

Para rematar:

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA C/C DECLARATÓRIA. CONTRATO


VERBAL DE MÚTUO. CONDIÇÃO SUSPENSIVA. ARTIGO 125 DO CÓDIGO CIVIL. NÃO
IMPLEMENTO. SENTENÇA MANTIDA. 1 - De acordo com o artigo 125, do Código Civil,
"Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta
se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa". 2 - O contrato verbal de
mútuo celebrado entre as partes tem eficácia subordinada à condição suspensiva, de
forma que, não implementada a aludida condição, o direito encartado na avença não
ultrapassa a esfera de mera expectativa. Apelação Cível desprovida. 6

Portanto, a cláusula condicionante convencionada prejudica a


exequibilidade e exigibilidade do título judicial, razão pela qual a presente
impugnação deve ser acolhida para fins de julgar improcedente o Pedido de
Cumprimento de Sentença.

6. Da atribuição de efeito suspensivo

4
TJMG, AC 10647150073458001, rel. Des. Amauri Pinto Ferreira, j. 31/01/2019, DJe 12/02/2019.
5
TJMG, AC 10000171037708002, rel. Des. Pedro Bernardes, j. 22/10/2019, DJe 29/10/2019.
6
TJDF, 0001977-62.2017.8.07.0001, rel. Des. Angelo Passareli, 5ªT., j. 16/05/2018, DJe 24/05/2018,
pg. 296.
O art. 525, §6° do CPC confere ao Juiz conceder efeito suspensivo à
Impugnação desde que relevantes seus fundamentos e que o prosseguimento da
9
Execução seja manifestamente suscetível de causar ao Executado grave dano
difícil ou incerta reparação, verbis:

Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o
prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova
intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação.
§ 1º Omissis.
§ 6o A apresentação de impugnação não impede a prática dos atos executivos, inclusive
os de expropriação, podendo o juiz, a requerimento do executado e desde que garantido
o juízo com penhora, caução ou depósito suficientes, atribuir-lhe efeito suspensivo, se seus
fundamentos forem relevantes e se o prosseguimento da execução for manifestamente
suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação. -
Negritamos

In casu, o fumus boni iuris resta caracterizado pelos argumentos trazidos à


baila quanto a inexigibilidade e inexequibilidade da obrigação, corroborados
pela documentação em anexo.
O periculum in mora também é indiscutível, vez que o prosseguimento da
execução acarretará prejuízos de grande monta e remota recuperação diante
da constrição judicial de bens.
Assim, requer seja atribuído efeito suspensivo ao cumprimento de sentença
pelos argumentos esposados.

7. Dos pedidos

a) Conceder efeito suspensivo ao presente cumprimento de sentença


diante dos relevantes fundamentos apontados;
b) Determinar a intimação do Impugnado para se manifestar em 15 dias,
na forma do art. 9º, caput, c/c art. 513, caput e art. 920, I, todos do CPC;
c) Acolher a presente Impugnação à luz do art. 525, §1º, III, do CPC, para
julgar inexequível e inexigível a execução da obrigação executada pela falta de
cumprimento pelos Impugnados das cláusulas condicionantes (liberação do CCIR
do imóvel; lavratura da escritura pública de compra e venda e registro da
escritura pública de compra e venda em nome da Impugnante) avençadas na
10
Cláusula Segunda item 7 do Instrumento Particular de Acordo e Novação de
Contratos Particular de Compra e Venda de Imóvel lavrado no dia 18/03/2019;
d) Condenar o Impugnado no ônus da sucumbência conforme o art. 85, §
1º do CPC;
e) Deferir a produção de todos os meios de provas admissíveis à luz do art.
369, do CPC, nomeadamente por meio de prova pericial, documental,
testemunhal e oitiva pessoal do Impugnado, pena de confesso.

8. Do valor da causa

Para efeitos fiscais, dá a causa o valor de R$ 2.290.026,90 (...).

Pede deferimento.

De Toledo (PR) para Dianopolis (TO), 19 de janeiro de 2.024.

ALMIR ROGERIO DENIG Assinado de forma digital por ALMIR


ROGERIO DENIG BANDEIRA
BANDEIRA Dados: 2024.01.19 14:05:36 -03'00'
Almir Rogerio Denig Bandeira – Adv.
OAB/PR 47.406

Rol de documentos:
Doc. 01. Matrícula 2819 do Cartório de Registro de Imóveis de Santa Rita de Cássia
(BA);
Doc. 02. Matrícula 6087 do Cartório de Registro de Imóveis de Formosa do Rio Preto
(BA).

Você também pode gostar