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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL

DA CIDADE.

Rito Especial

xxxxxxxxxxxxxxxxxx, brasileira, advogada em causa própria,


residente à Rua XXXXXXXXXXXXXXXXXX, nesta Capital, inscrito no CPF nº.
XXXXXXXXXXXXXXX, com endereço eletrônico XXXXXXXXXXXXXXXX, a
qual em obediência à diretriz fixada no art. 287, caput, do novo CPC, indica-a para as
intimações que se fizerem necessárias, vem, com o devido respeito à presença de Vossa
Excelência, sob a égide dos art. 550 segs. do Código de Processo Civil de 2015, ajuizar

AÇÃO DE EXIGIR CONTAS

em desfavor XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, pessoa jurídica de direito


privado, inscrita no CNPJ(MF) sob o nº.XXXXXXXXXXXXXXXXX, estabelecida na
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, em decorrência das
justificativas de ordem fática e de direito abaixo delineadas.

( a ) Quanto à audiência de conciliação (CPC, art. 319, inc. VII)

O Promovente opta pela realização de audiência


conciliatória (CPC, art. 319, inc. VII), razão qual requer a citação da Promovida, por
carta (CPC, art. 247, caput) para comparecer à audiência designada para essa finalidade
(CPC, art. 334, caput c/c § 5º).

I - Síntese dos fatos

A Promovida fora contratada para os fins específicos de


administração do imóvel sito na Rua XXXXXXXXXXXXXXXXXX Mogilar, CEP
XXXXXXXXXXX, XXXXXXXXXXX, SP. Para tanto celebraram o devido contrato
escrito, pacto esse realizado em agosto de 2015, quando foi locado o imóvel em 28 de
março de 2015 pela XXXXXXXXXXXXXXX Imobiliária Ltda., o qual não lhe
entregaram a segunda via após as assinaturas.

No acerto contratual em questão havia cláusula permitindo


à Ré receber do locatário os valores pertinentes a aluguéis. Porém, a Imobiliária
transferiu este contrato para a Imobiliária WWWWWW, sem quaisquer comunicações à
Autora e seus irmãos. A princípio todos os recebimentos foram efetivados regularmente
na conta fornecida pela autora e seus irmãos na época da contratação com a PRIMEIRA
Imobiliária, ou melhor, houve a necessidade de se notificar extrajudicialmente
solicitando esclarecimentos, onde houve o cumprimento de todas as obrigações
solicitadas.

Após a transferência da Imobiliária XXXXX para a


Imobiliária WWWWW o contrato da Requerente em 2017, prosseguiu-se com o
contrato com a segunda, porém no último ano, fechou o estabelecimento onde
funcionava a empresa WWWWW no endereço onde estava, SEM QUALQUER
AVISO AO SEU CLIENTE, ficando vários meses sem notícia do paradeiro da ré.

Após tal situação, a autora foi verificar os recebimentos,


os quais deveriam ser repassados à Autora até o dia 05 do mês seguinte, mediante a
remuneração de 06%(seis por cento) sobre o valor do aluguel.

Ocorre que, a Ré jamais encaminhou para a autora, os


comprovantes, havendo dúvida fundada sobre a exatidão daquilo que cobra posto que,
instada a comprová-los, queda-se inerte. Nesse diapasão, por ser a requerida
representante comum e ter o dever de prestar contas, a presente ação tem o fito de
dirimir quaisquer divergências quanto aos valores em aberto.

O imóvel fora locado à pessoa de RRRRRRRR no dia


28/03/2015, como se percebe do pacto locatício ora acostado. (Doc. 03) e prossegue até
os dias de hoje. O aluguel estabelecido na época da contratação fora estabelecido no
valor mensal de R$ 1.320,00 (um mil, trezentos e vinte reais).

A autora resolveu verificar alguns depósitos realizados e


qual não foi sua surpresa ao perceber que haviam depósitos, os quais não foram
efetivados na conta determinada dos proprietários. No caso, referente aos meses de
maio, junho, agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro de 2022, bem como dos
meses janeiro e fevereiro de 2023.

Em conta disso, a Autora tentou contatar a Ré para obter


informações acerca do assunto, porém sem sucesso e até o momento nada restou
esclarecido.

Nesse compasso, serve o presente para postular que a Ré


preste contas em juízo quanto à administração do imóvel em liça, inclusive
apresentando documentos contábeis nesse sentido.

II - Do direito
( a ) Do interesse de agir

É condição impositiva que a mandatária deva prestar


contas de sua gestão dos bens do mandante. E isso, maiormente se levando em conta
que houvera omissão dolosa de documentos comprobatórios de repasse de valores à
Autora.

Nesse passo, convém ressaltar o abrigo legal dos


fundamentos retro mencionados:
CÓDIGO CIVIL

Art. 668 - O mandatário é obrigado a dar contas de sua gerência ao mandante,


transferindo-lhe as vantagens provenientes do mandato, por qualquer título que seja.

Ademais, há igualmente prerrogativa contratual ajustada


nesse sentido, maiormente tendo a Autora conhecimento de recebimentos efetuados sem
a devida contraprestação. Desse modo, pertinente que a mesma venha buscar
esclarecimentos ou mesmo procurar judicialmente o ressarcimento de eventuais
prejuízos.

Por esse Norte, a Promovida, tem o dever de prestar contas


de sua gestão, sempre que solicitado, na medida em que lhe incumbe gerir valores e
interesses de terceiros.

Com esse enfoque, é altamente ilustrativo transcrever as


lições de Sílvio de Salvo Venosa:

Desde que tenha ocorrido início de execução de mandato, haverá dever de prestar
contas. Salvo constituição de mandato em causa própria, como estudamos, esse dever
de prestar contas não poderá ser afastado pela vontade das partes. Cláusula que exima
o mandatário de fazê-lo constituir-se-á, sem dúvida, em disposição potestativa, vedada
pelo ordenamento (art. 122, parte final). Da mesma forma, terminado o mandato, o
mandatário deve devolver os bens que recebeu, em razão do contrato, ao mandante ou
a outro mandatário nomeado, podendo estes, no caso de recusa de devolução,
reivindicá-los [ ... ]
( ... )

É necessário não perder de vista o entendimento


jurisprudencial:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. PRIMEIRA FASE.


SENTENÇA QUE RECONHECEU O DEVER DA EMPRESA
ADMINISTRADORA DE IMÓVEIS DE PRESTAR CONTAS.
1. Tese de falta de interesse processual. Rejeição. Presença do binômio necessidade-
adequação. Autora que pretende sejam prestadas as contas de todas as receitas e
despesas compreendidas na gestão dos seus imóveis pela ré. 2. Alegação de que um dos
sócios da empresa firmou acordo com a autora se responsabilizando pela quitação dos
débitos do imóvel. Ausência de prova. Alegação, ademais que não se mostra apta para
afastar a obrigação legal da ré de prestação de contas. 3. Alegação de que a
responsabilidade contratual pelo recolhimento do IPTU e dos valores do irrf é dos
locatários. Ré que afirmou em contestação que era sua obrigação verificar se os
impostos vinham sendo pagos. Sentença mantida. Recurso conhecido e desprovido
[ ... ]

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE EXIGIR CONTAS. PRIMEIRA FASE.


A ação de exigir contas (ou de prestação de contas) desenvolve-se em duas fases, se o
réu contesta a obrigação de prestá-las: Na primeira, versa a decisão sobre o direito de
exigir e a obrigação a essa prestação; e, na segunda fase, após o trânsito em julgado
da sentença proferida na primeira fase, apura-se o valor do débito ou crédito. No caso,
a obrigação de prestar contas é inerente ao próprio mandato conferido à
administradora de imóveis. Sentença de procedência da primeira fase, reconhecendo o
dever de prestar contas que se confirma. Honorários recursais. Majoração da verba
honorária sucumbencial, fulcro nos parágrafos 1º e 11 do artigo 85 do NCPC.
Negaram provimento ao apelo. Unânime [ ... ]

APELAÇÃO. AÇÃO DE EXIGIR CONTAS. IMÓVEL EM QUE A RÉ RESIDIA


COM O SEU FALECIDO ESPOSO. DIREITO REAL E GRATUITO DE
HABITAÇÃO. ART. 1.831, CC. IRRELEVÂNCIA QUANTO À EXISTÊNCIA DE
OUTROS BENS IMÓVEIS. PRECEDENTES DO STJ. PRESTAÇÃO DE CONTAS
QUANTO AOS DEMAIS IMÓVEIS EM DESCONFORMIDADE COM O
DETERMINADO EM SENTENÇA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DOS
VALORES. CONTAS DA RÉ REJEITADAS. CÁLCULOS DA AUTORA
ACOLHIDOS. TERMO INICIAL DA CORREÇÃO MONETÁRIA. DATA DO
RECEBIMENTO DE CADA ALUGUEL PELA RÉ.
Autora e ré coproprietárias de imóveis adquiridos por herança. A ré permaneceu como
administradora dos imóveis e manteve sua residência no imóvel em que vivia com seu
falecido esposo. Exercício de direito real de habitação, sendo indevido qualquer valor
aos demais herdeiros em razão de seu caráter gratuito. A existência de outros imóveis
componentes da herança é irrelevante diante do direito constitucional e fundamental de
moradia. Precedentes do STJ. Prestação de contas quanto aos demais imóveis
realizados de forma insuficiente, por período inferior ao determinado em sentença.
Ausência de comprovação dos valores apresentados. Rejeição das contas apresentadas
pela ré. Acolhimento das contas apresentadas pela autora. Juros de mora desde a data
da citação e correção monetária desde cada data em que a ré recebeu os
aluguéis. Recurso parcialmente provido [ ... ]

( b ) Da prerrogativa de exigir contas

Seguramente a Ré está obrigada a prestar contas.

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Art. 550 - Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a
citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze) dias.

Sendo assim, nos exatos termos do dispositivo acima, é


direito do requerente pleitear a prestação de contas, sendo dever do requerido realizá-la.

Como asseverado anteriormente, pouco importa se houve


ou não anterior prestação de contas extrajudicial, apesar que não houve. Com esta
querela visa-se o acertamento de uma relação jurídica, uma vez que a Ré administra
bens de terceiros. Por isso, é crucial a apuração em juízo da existência, ou não, de débito
financeiro a ser acertado pela Demandada.

Com esse trilhar, Teresa Arruda Alvim Wambier ensina que:


Tal ação destina-se ao acertamento dos números decorrentes de relação jurídica em
que alguém (o devedor de contas) acabou por gerir patrimônio de outrem (o credor de
contas). Trata-se de ação destinada à apuração dos valores inerentes a determinado
relacionamento jurídico em que se deu atividade de administração de recursos de
alguém por outrem; obviamente, aquele incumbido de administração de interesses
alheios tem de prestar contas de sua atividade [ ... ]
(Destaques nossos)

A ação de exigir de contas tem seu procedimento


delineado pelo artigo 550 do CPC e seus parágrafos, em que se vislumbra a ocorrência
de duas fases: na primeira, busca-se apurar se existe ou não a possibilidade de exigir
contas; na segunda, desenvolve-se o exame das contas com o fito de se apurar o saldo
final do relacionamento contábil discutido no processo, caso positiva a solução da
primeira fase. Nesse compasso, a presente ação é absolutamente apropriada ao caso sub
examine, maiormente quando visa aferir, primeiramente, a existência de algum
relacionamento jurídico do qual se extrai a obrigação ou não de prestar contas. Por fim,
tomar conhecimento se resulta da apuração algum crédito ou débito.

Com respeito ao tema, confira-se o magistério de Luiz


Guilherme Marinoni:

4. Fases. O procedimento da ação de exigir contas apresenta fases distintas: na


primeira, declara-se a existência ou a inexistência do dever de prestar contas; na
segunda, prestam-se as contas devidas (art. 551, CPC), e na terceira, executa-se (art.
552, CPC), mediante cumprimento de sentença (art. 523, CPC), o saldo eventualmente
apurado, servindo a decisão judicial como título executivo [ ... ]

III. DOS PEDIDOS

Pelo exposto:

1. Requer a citação da requerida para, nos termos da lei processual, prestar contas
de forma adequada, com as provas cabíveis, no prazo de 15 dias;
2. Contestado ou não o pedido, requer o julgamento da procedência da presente
ação condenando a requerida, caso não as tenha prestado, a prestar as contas na
forma adequada no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de validade das contas a
serem apresentadas pelo requerente (CPC, art. 550, § 6º), além de custas e
honorários que Vossa Excelência arbitrar nos limites legais;
3. Não contestado o pedido, em razão da revelia, requer o julgamento antecipado
nos termos dos arts. 355 e 550, §4º do CPC com a condenação da requerida em
custas e honorários;
4. Prestadas as contas, requer desde já a autora o prazo de 15 (quinze) dias para, se
for o caso, impugná-las, com o prosseguimento do processo nos termos do § 2º
do art. 550 do CPC;
5. Protesta por depoimento pessoal da parte, prova pericial e documental e todos
aqueles admitidos em lei.
Dá à causa o valor de R$26.925,36 (Vinte e seis mil, novecentos e vinte e cinco reais e
trinta e seis centavos).

Termos que

Pede deferimento.

São Paulo, 23 de maio de 2023.

ADVOGADA

OABSP

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