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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA

CIDADE.

Rito Especial

CONDOMÍNIO EDIFÍCIO JARDIM, com endereço sito na


Rua das Tantas, n°. 0000, nesta Capital, inscrito no CNPJ(MF) nº. 22.444.555/0001-66,
endereço eletrônico edifício@edificio.com.br, ora representado pelo Síndico Beltrano de
Tal(ata de eleição anexa), vem, com o devido respeito à presença de Vossa Excelência,
por intermédio de seu patrono que abaixo assina – instrumento procuratório acostado –
causídico inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Ceará, sob o nº 0000,
onde, em atendimento à diretriz do art. 77, inc. V c/c art. 287, caput, um e outro do Código
de Processo Civil, indica o endereço constante do mandato para os fins de intimações, o
qual comparece, sob a égide do art. 550 segs., do Estatuto de Ritos, para ajuizar a
presente

AÇÃO DE EXIGIR CONTAS


em desfavor de CICRANO DE TAL, casado, bancário, residente e domiciliado na Rua das
Tantas, nº. 0000, apto. 301, nesta Capital, inscrito no CPF (MF) sob o nº. 333.222.111-00,
com endereço eletrônico cicrano@cicrano.com.br, em decorrência das justificativas de
ordem fática e de direito abaixo delineadas.

I - SÍNTESE DOS FATOS

O Promovido foi representante legal da Autora, na qualidade de


síndico, nos períodos de 2013, 2014 e 2015, consoante atas respectivas para esse
desiderato ora carreadas. (docs. 01/03)

No dia 00/11/2222 o Réu, por meio de Assimbléia Geral


Extraordinária especificamente destinada a este fim, abdicou da prerrogativa de continuar
na função de Síndico. (doc. 04) Por esse norte, convocou os condôminos a analisar sua
prestação de contas do período de sua gestão e, nessa mesma oportunidade, renunciou ao
cargo a que fora eleito. (doc. 05)

Em Assembléia as contas do Réu foram aprovadas, seguindo o


parecer do Conselho Fiscal.

O novo Síndico, eleito em 00/11/3333 (doc. 06), por prudência


requereu uma auditoria nas contas da gestão do Promovido, essa realizada por intermédio
de contratação de empresa habilitada para tal fim, isso igualmente devidamente aprovado
em Assembléia. (doc. 07/08)
O resultado da auditoria foi espantoso. Dentre inúmeras
situações de atitudes desastrosas do Réu, constatou-se a existência de débito com contas
de água no valor de R$ 00.000,00; energia elétrica de R$ 00.000,00; empresa de
elevadores R$ 0.000,00; impostos no montante de R$ 00.000,00 e recolhimento de INSS
dos empregados no montante de R$ 00.000,00. (doc. 09) Segundo evidenciado na perícia
particular, o Promovido forjou os balancetes dos períodos de 0000 até 2222. Ademais,
ainda segundo o laudo da auditoria, há inúmeras saídas de recursos financeiros, onde, a
justificar, o Réu apenas qualificou-os de “ despesas”. Contudo, nenhum documento hábil
fora encontrado para justificar as saídas dos valores.

Nesse compasso, serve a presente para postular que o então


síndico, ora Réu, preste contas em juízo do período de sua gestão, inclusive apresentando
documentos contábeis nesse sentido.

HOC IPSUM EST.

II – DO DIREITO.

( a ) DO INTERESSE DE AGIR – CPC, art. 17

É indiscutível que há na hipótese interesse de agir, ainda que o


então Síndico tenha prestado contas em Assembléia. Essa conduta, portanto, não afasta a
prerrogativa legal da Autora exigir a prestação de contas em juízo.
É condição impositiva que o Síndico deva prestar contas de
sua gestão. E isso, frise-se, mesmo que anteriormente tenha havido o acolhimento em
Assimbléia, ou não. Além disso, no caso em espécie houvera omissão dolosa de
documentos por parte do Réu.

Nesse passo, convém ressaltar o abrigo legal dos fundamentos


retro mencionados:

CÓDIGO CIVIL
Art. 1.348. Compete ao síndico:
(...)
VIII - prestar contas à assembléia, anualmente e quando exigidas;
( destacamos )

Não bastasse disso, há previsão estatuída na própria


Convenção do Condomínio, como se percebe da redação contida no art. 17, inc. VII, letra
“d”.

Ademais, é dever da gestão atual do condomínio-autor,


maiormente tendo conhecimento de gastos efetuados sem a devida contraprestação,
buscar esclarecimentos ou mesmo procurar judicialmente o ressarcimento de eventuais
prejuízos.
Desse modo, o síndico, bem como o ex-síndico, ora na
qualidade de Promovido, tem o dever de prestar contas de sua gestão, sempre que
solicitado, na medida em que lhe incumbe gerir valores e interesses de terceiros.

Com esse enfoque, é altamente ilustrativo transcrever as lições


de Sílvio de Salvo Venosa:

“As contas do síndico devem ser prestadas perante assembleia anual e


necessariamente ao findar seu mandato, sempre perante assembleia. Todo
aquele que administra bens alheios deve prestar contas. “ (VENOSA, Sílvio de
Salvo. Direito civil: direitos reais. 12ª Ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 387)

É necessário não perder de vista o entendimento


jurisprudencial:
APELAÇÃO CÍVEL. CONDOMÍNIO. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. PRIMEIRA
FASE. PRELIMINAR. LEGITIMIDADE ATIVA DO CONDÔMINO. AFASTADA. DEVER
DE PRESTAR CONTAS RECONHECIDO. PEDIDO CONTRAPOSTO. ANÁLISE NA
SEGUNDA FASE DA AÇÃO.
Preliminar. Legitimidade ativa. O condômino é parte legítima para ajuizar ação de
prestação de contas, uma vez que a prestação das contas não foi realizada pelo
ex-síndico. Mérito. Uma vez legítimas as partes para figurarem em ambos os
polos da demanda, correto o entendimento sentencial que declarou o dever de o
réu apresentar contas de sua gestão do período em que figurou como síndico.
Pedido contraposto. Na primeira fase da ação de prestação de contas,
contestando a parte ré a obrigação de prestá-las, a decisão não pode ir além de
definir a obrigação a essa prestação de contas. Sentença mantida. Preliminar
rejeitada e apelo desprovido. (TJRS; AC 0239055-08.2016.8.21.7000; Porto
Alegre; Décima Sétima Câmara Cível; Rel. Des. Giovanni Conti; Julg. 29/09/2016;
DJERS 07/10/2016)

AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS.


Condomínio. Incontrovérsia acerca do exercício do cargo de síndico pelo
apelante. Dever deste, na primeira fase da ação, de prestar contas na forma
mercantil. Aplicação do artigo 550 do Código de Processo Civil de 2015. Recurso
desprovido. (TJSP; APL 1014254-18.2015.8.26.0007; Ac. 9789630; São Paulo;
Vigésima Oitava Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Dimas Rubens Fonseca; Julg.
13/09/2016; DJESP 19/09/2016)

( b ) DA PRERROGATIVA DE EXIGIR CONTAS

Seguramente o Réu está obrigado a prestar contas.

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Art. 550 - Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas
requererá a citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no
prazo de 15 (quinze) dias.

Como asseverado anteriormente, pouco importa se houvera ou


não anterior prestação de contas extrajudicial. Com esta querela, visa-se o acertamento de
uma relação jurídica, uma vez que o Réu administrara bens de terceiros. Por isso, é crucial
a apuração em juízo da existência, ou não, de débito financeiro a ser acertado pelo
Demandado.

Com esse trilhar, Tereda Arruda Alvim Wambier ensina que:

"Tal ação destina-se ao acertamento dos números decorrentes de relação


jurídica em que alguém (o devedor de contas) acabou por gerir patrimônio
de outrem (o credor de contas). Trata-se de ação destinada à apuração dos
valores inerentes a determinado relacionamento jurídico em que se deu
atividade de administração de recursos de alguém por outrem;
obviamente, aquele incumbido de administração de interesses alheios
tem de prestar contas de sua atividade. ". (Teresa Arruda Alvim
Wambier...[et tal]. São Paulo: RT, 2015, p. 907).
( negritos nossos )

A ação de exigir de contas tem seu procedimento delineado


pelo artigo 550 do CPC e seus parágrafos , em que se vislumbra a ocorrência de duas
fases: na primeira, busca-se apurar se existe ou não a possibilidade de exigir contas; na
segunda, desenvolve-se o exame das contas com o fito de se apurar o saldo final do
relacionamento contábil discutido no processo, caso positiva a solução da primeira fase .
Nesse compasso, a presente ação é absolutamente apropriada ao caso sub examine,
maiormente quando visa aferir, primeiramente, a existência de algum relacionamento
jurídico do qual se extrai a obrigação ou não de prestar contas. Por fim, tomar
conhecimento se resulta da apuração algum crédito ou débito.

Com respeito ao tema, confira-se o magistério de Luiz


Guilherme Marinoni:

"4. Fases. O procedimento da açã o de exigir contas apresenta fases distintas:


na primeira, declara-se a existência ou a inexistência do dever de prestar
contas; na segunda, prestam-se as contas devidas (art. 551, CPC), e na
terceira, executa-se (art. 552, CPC), mediante cumprimento de sentença (art.
523, CPC), o saldo eventualmente apurado, servindo a decisã o judicial como
título executivo." (in, Novo Código de Processo Civil Comentado. Sã o Paulo: RT,
2015, p. 595)

Assim é que a possibilidade de se exigir contas é corolário


lógico e jurídico da administração do condomínio, dela não se podendo escusar o então
gestor, ora Réu.

Confira-se os seguintes julgados:

O síndico tem o dever de prestar contas anuais (art. 1348, VIII, do CC), de modo
que, não o fazendo, submete-se ao comando judicial que o obriga a demonstrar
os dados contábeis da gestão de bens e interesses alheios. Decisão ajustada ao
determinar que se preste contas do período da administração, porque a síndica
não prestou contas em assembleia. Não provimento. (TJSP; APL 0006060-
05.2013.8.26.0011; Ac. 9937456; São Paulo; Vigésima Oitava Câmara
Extraordinária de Direito Privado; Rel. Des. Ênio Santarelli Zuliani; Julg.
25/10/2016; DJESP 10/11/2016)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. PRESTAÇÃO DE


CONTAS DE CONDOMÍNIO. DOCUMENTOS ESSENCIAIS. APELO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO.
1. Com efeito, o síndico, representante legal do condomínio tem o dever se
prestar contas sobre toda a movimentação contábil, nos termos do artigo 1.348,
inciso VIII, do Código Civil e do artigo 22, §1º, alínea f, da Lei nº 4.591/1964,
conforme abaixo transcrito: art. 1.348. Compete ao síndico:(...) VIII - prestar
contas à assembleia, anualmente e quando exigidas: art. 22. Será eleito, na forma
prevista pela convenção, um síndico do condomínio, cujo mandato não poderá
exceder a dois anos, permitida a reeleição. §1º compete ao síndico:(...) f) prestar
contas à assembleia dos condôminos;2. Dessa maneira, a presente ação de
exibição de documentos é devida e se presta ao fim de embasar a prestação de
contas, obrigação imposta ao síndico de condomínio, sobretudo por que os
documentos ora exigidos dizem respeito à administração do ente
despersonalizado, sendo interesse de qualquer condômino o seu acesso, dado o
poder de fiscalização do bem comum. 3. Assim, ao contrário do que fora alegado
pelos recorrentes, o pleito exodial é devido e encontra amparo nas obrigações
impostas pela legislação ao síndico. 4. No que tange a alegação de necessidade
de guarda dos documentos pelo prazo de 05 (cinco) anos, de fato, assiste razão
aos recorrentes. É que a Lei nº 4.591/1964 dispõe que: Compete ao síndico
manter guardada durante o prazo de cinco anos, para eventuais necessidades de
verificação contábil, toda a documentação relativa ao condomínio (art. 22, §1º,
g). Contudo, a demanda foi proposta em novembro de 2013, pleiteando a
exibição dos documentos referentes ao ano de 2008 a 2012. Em sendo assim,
como o prazo de 05 (cinco) anos foi respeitado, a pretensão recursal, nesta parte,
também não merece prosperar. 5. Ademais, o rol apresentado no dispositivo da
sentença atacada, como registrado pelo julgador monocrático, é meramente
exemplificativo, demonstrando, tão somente, a necessidade de apresentação dos
documentos referentes à administração e contabilidade do condomínio. 6. Por
fim, cumpre destacar que em respeito ao princípio da adstrição da sentença ao
pedido, o acolhimento do pedido inicial deve respeitar os seus limites. Dessa
maneira, nesta parte, o decisum merece reforma, devendo os documentos a
serem exibidos ser relativos aos anos de 2008 a 2012. 7. Apelo conhecido e
parcialmente provido. (TJCE; APL 0211111-98.2013.8.06.0001; Segunda Câmara
de Direito Privado; Rel. Des. Carlos Alberto Mendes Forte; Julg. 26/10/2016; DJCE
04/11/2016; Pág. 60)

APELAÇÃO CÍVEL. PRESTAÇÁO CONTAS. 1ª FASE. CONDOMÍNIO. SÍNDICO.


DEVER DE PRESTAR. DISPONIBILIZAÇÃO DOS DOCUMENTOS. MULTA
LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. DECOTAR.
É dever do ex-sindico prestar contas relativas ao período em que foi
administrador do condomínio (art. 1348/VIII/CC). Para o cumprimento da
obrigação de prestação de contas deve o condomínio disponibilizar a
documentação do período à demandada. Ausente cunho protelatório na
apresentação dos embargos de declaração deve ser decotada a multa aplicada
nos termos do art. 538, § único do CPC. (TJMG; APCV 1.0024.14.113923-8/001;
Rel. Des. Amorim Siqueira; Julg. 11/10/2016; DJEMG 26/10/2016)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. ALEGAÇÃO, EM SEDE DE


CONTRARRAZÕES, DE NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO POR OFENSA AO
PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE. PRELIMINAR REJEITADA.
Se é possível extrair as razões de fato e de direito do recurso de apelação com as
quais o recorrente pretende obter a modificação do julgado, nos termos do artigo
514, inciso II, do Código de Processo Civil, não ocorre ofensa ao princípio da
dialeticidade. Preliminar rejeitada. EMENTA. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE
PRESTAÇÃO DE CONTAS. CONDOMÍNIO. EX-SÍNDICO. PAGAMENTOS E
DESTINAÇÃO DE RECURSOS. DEVER DE PRESTAR CONTAS RELATIVO AO PERÍODO
EM QUE GERIU O CONDOMÍNIO. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.
SENTENÇA MANTIDA. A ação de prestação de contas tem por desiderato o
esclarecimento de relações econômicas entre as partes. O Condomínio tem o
direito e o dever de exigir a prestação de contas do seu ex-síndico, relativo ao
período em que foi por ele gerido, com a finalidade de averiguar a regularidade
de pagamentos e a destinação dos recursos financeiros. Recurso conhecido e
improvido. Sentença mantida. (TJMS; APL 0812211-03.2015.8.12.0001; Quarta
Câmara Cível; Rel. Des. Dorival Renato Pavan; DJMS 24/10/2016; Pág. 78)

Com efeito, é inescusável o dever de o Réu prestar contas,


mesmo que tenha havido uma pretensa prestação de contas.

III – PEDIDOS e REQUERIMENTOS


POSTO ISSO,
como últimos requerimentos desta Ação de Exigir Contas, o Autor expressa o desejo que
Vossa Excelência se digne de tomar as seguintes providências:

( a ) Seja determinada a citação do Réu, por carta, no endereço constante do


preâmbulo, para que, no prazo de quinze dias(CPC, art. 550, caput), aprente sua
prestação de contas, de forma mercantil, delimitando-a por meio de documentos
hábeis todas receitas, investimentos(se houver) e todas despesas perpetradas(CPC,
art. 551), sob pena de não poder impugnar aquelas que a Autora apresentar(CPC,
art. 550, § 5º, art. 551, § 2º c/c art. 355)

ou, querendo, apresentar contestação;

( b ) seja ao final julgados procedentes os pedidos formulados, condenando o


Promovido a pagar o saldo credor declarado na sentença (CPC, art. 552);

( c ) requesta, mais, a condenação do Réu a pagar todas as despesas processuais


(CPC, art. 82, § 2º), inclusive as destinadas a pagamento de assistente técnico
(CPC, art. 84), além de verba honorária advocatícia, no mínimo de 10%(dez por
cento), incidente sobre o valor da condenação (CPC, art. 85, § 2º).
Protesta provar os fatos alegados por todos meios admitidos em
direito, nomeadamente por meio do depoimento pessoal do Promovido, perícia, além de
testemunhas a serem arroladas oportuno tempore.

Em face da incerteza de saber-se, ab inittio, do valor das contas a


serem prestadas, atribui-se o valor da causa de forma estimativa no importe de
R$100,00(cem reais), à luz do art. 291 do Estatuto de Ritos.

Respeitosamente, pede deferimento.

Cidade, 00 de dezembro do ano de 0000.

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