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Acórdão Nº 1707190
EMENTA
1. A ação de prestação de contas tem cabimento sempre que couber a alguém a administração de bens
comuns ou de outra pessoa. Trata-se de procedimento especial que se desdobra em duas fases, a
primeira se limita, apenas, a verificar sobre a obrigatoriedade ou não de uma das partes prestar contas à
outra. A análise do conteúdo das contas apresentadas está restrita à segunda fase, oportunidade em que
o juízo determinará a quem caberá o saldo apurado, acaso existente, ante a natureza dúplice desta ação.
3. Por meio de ação de prestação/exibição de contas, é possível avaliar a regularidade das contas da
administração da sociedade, enquanto se apura os haveres de dissolução parcial da sociedade em
processo distinto.
4. É cabível a fixação de honorários com base no valor da causa, no caso de ausência de condenação ou
de proveito econômico obtido.
RELATÓRIO
“Dessa forma, não há dúvida que os valores perseguidos nessa prestação de contas já se encontram
apurados no cálculo de ID 59917212 - Pág. 2 do processo 0731451-58.2018.8.07.0015 e por isso é
inviável a continuação desse processo.
A decisão de ID 41730272 encontra-se preclusa e deixou claro que o feito tramita apenas na segunda
fase da ação de exigir contas, o que não foi alterado pelo acórdão da apelação.
Com isso, a improcedência do pedido é medida que se impõe, já que o autor não conseguiu demonstrar
que os valores cobrados nessa demanda são essencialmente diversos daqueles já apurados e em
liquidação de sentença nos autos do processo 0731451-58.2018.8.07.0015.
Em suas razões recursais (ID 43811578, pág. 10), o apelante/autor sustenta, em síntese, a ausência de
cobrança em duplicidade, pois “tratam-se de débitos com natureza jurídica distinta, onde nesta
demanda comprovou-se o dano às contas contábeis da empresa, com retiradas e movimentações
escusas, e, de modo diverso, no cumprimento de sentença de nº 0731451- 58.2018.8.07.0015 somente
analisou o patrimônio líquido da empresa”.
Aduz que o laudo pericial acostado (ID 172124790) decorreu única e exclusivamente de irregularidade
financeira cometida pelo recorrido.
Pugna, ao final, pelo recebimento e conhecimento do presente recurso, a fim de que seja reformada a
sentença para que os valores apurados via perícia sejam devidamente adimplidos pelo recorrido em
favor do recorrente.
Preparo em ID 43811580.
Apelação adesiva em ID 43811585, com o objetivo de alterar a base de cálculo dos honorários
advocatícios.
Em suas razões, o recorrente/réu argumenta que a verba honorária deve ser fixada com base no suposto
proveito econômico obtido, ou seja, aquilo que o recorrente/réu deixou de pagar - R$6.304.995,31 (seis
milhões, trezentos e quatro mil, novecentos e noventa e cinco reais e trinta e um centavos) – em vez da
fixação com base no valor da causa.
Preparo em ID 43811587.
É o relatório.
VOTOS
Conforme relatado, cuida-se de apelação interposta pelo apelante/autor e apelação adesiva interposta
pelo apelado/réu contra a sentença (ID 43811560), proferida nos autos da ação de prestação de contas
ajuizada por aquele em face deste, que julgou o pedido improcedente nos seguintes termos:
“Dessa forma, não há dúvida que os valores perseguidos nessa prestação de contas já se encontram
apurados no cálculo de ID 59917212 - Pág. 2 do processo 0731451-58.2018.8.07.0015 e por isso é
inviável a continuação desse processo.
A decisão de ID 41730272 encontra-se preclusa e deixou claro que o feito tramita apenas na segunda
fase da ação de exigir contas, o que não foi alterado pelo acórdão da apelação.
Com isso, a improcedência do pedido é medida que se impõe, já que o autor não conseguiu
demonstrar que os valores cobrados nessa demanda são essencialmente diversos daqueles já apurados
e em liquidação de sentença nos autos do processo 0731451-58.2018.8.07.0015.
Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido em decorrência da conforme explicitado acima.
Em razão da sucumbência, condeno o autor ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios que fixo em 10% do valor atualizado da causa.”
Em suas razões recursais (ID 43811578, pág. 10), o apelante/autor sustenta, em síntese, a ausência de
cobrança em duplicidade, pois “tratam-se de débitos com natureza jurídica distinta, onde nesta
demanda comprovou-se o dano às contas contábeis da empresa, com retiradas e movimentações
escusas, e, de modo diverso, no cumprimento de sentença de nº 0731451- 58.2018.8.07.0015 somente
analisou o patrimônio líquido da empresa”.
Aduz que o laudo pericial acostado (ID 172124790) decorreu única e exclusivamente de
irregularidade financeira cometida pelo recorrido.
Pugna, ao final, pelo recebimento e conhecimento do presente recurso, a fim de que seja reformada a
sentença para que os valores apurados via perícia sejam devidamente adimplidos pelo recorrido em
favor do recorrente.
Apelação adesiva em ID 43811585, com o objetivo de alterar a base de cálculo dos honorários
advocatícios.
Em suas razões, argumenta que a verba honorária deve ser fixada com base no suposto proveito
econômico obtido, ou seja, aquilo que o recorrente/réu deixou de pagar - R$6.304.995,31 (seis
milhões, trezentos e quatro mil, novecentos e noventa e cinco reais e trinta e um centavos) – em vez
da fixação com base no valor da causa.
“Sempre que a administração de bens, valores ou interesses de determinado sujeito seja confiada a
outrem, haverá a necessidade de prestação de contas, ou seja, da relação pormenorizada das receitas e
despesas no desenvolvimento da administração. É natural que nem sempre haja a necessidade de
intervenção jurisdicional para que as contas sejam prestadas, mas sempre que existir um conflito entre
os sujeitos que participam da relação jurídica de direito material, a demanda adequada para a solução
do conflito por meio do acertamento econômico definitivo entre eles é a ação de prestação de contas.
(...)
As hipóteses de cabimento da ação de prestação de contas lembradas pela doutrina são meramente
exemplificativas, bastando que exista uma relação jurídica complexa que gere operações de crédito e
débito para ser cabível a ação ora analisada. Essa amplitude, entretanto, não deve ser entendida no
sentido de se permitir discussões a respeito de cláusulas contratuais de sentido controverso,
afastando-se do âmbito da ação de prestação de contas pretensões como a de rescisão ou resolução
contratual ou de anulação de ato jurídico. Tanto é assim que o Superior Tribunal de Justiça não admite
a cumulação de pedidos de prestação de contas e de revisão de cláusula contratual.” (NEVES, Daniel
Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil / Daniel Amorim Assumpção Neves. – 3. ed.
– Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2011. pg. 1351/1352)
Ademais, a ação de prestação de contas é procedimento especial que se desdobra em duas fases, sendo
que a primeira se limita, apenas, a verificar sobre a obrigatoriedade ou não de uma das partes prestar
contas à outra, uma vez que a análise do conteúdo das contas apresentadas está restrita à segunda fase,
oportunidade em que o juízo determinará a quem caberá o saldo apurado, acaso existente, ante a
natureza dúplice da ação em análise.
Dito isso, a apresentação judicial das contas e sua impugnação foram objeto da segunda fase da
demanda, submetida, inclusive, à necessária dilação probatória.
No caso, a ação de prestar/exibir contas busca avaliar a regularidade das contas da administração da
sociedade Auto Posto Catedral LTDA, conforme se depreende dos autos, em especial do Laudo
Pericial (ID 17212768), no tocante a prejuízos decorrentes de suposta má gestão.
A respeito:
1. O objetivo da ação de exigir contas é determinar com exatidão a existência de um saldo, seja este
credor ou devedor a fim de liquidar a relação econômica havida entre as partes. Apurado o saldo
referente às contas prestadas será constituído um título executivo judicial a favor de uma das partes,
nos termos do artigo 552 do Código de Processo Civil.
2. Na primeira fase, da ação de exigir contas, apenas acontece o reconhecimento do direito de exigir
contas, por isso, a análise, nessa fase, restringe-se apenas a verificar o dever dos réus e o direito dos
autores a exigir tais contas, não havendo qualquer incursão a respeito de eventuais irregularidades das
contas apresentadas, as quais devem ser apreciadas na segunda fase do procedimento.
3. O fato de os autores serem ex-sócios da empresa não lhes retira o direto de exigir contas da empresa
a qual eram sócios, sobretudo, em período referente ao qual além de fazerem parte do
quadro-societário, estão a postular em demanda distinta a apuração de haveres, a qual certamente pode
sofrer variação se for verificada alguma irregularidade nas contas e no capital declarado da empresa.
4. Conforme se depreende dos arts. 550 e seguintes do CPC a ação de exigir contas constitui
procedimento cautelar especial destinado a possibilitar à parte autora o cálculo evolutivo das despesas
e das receitas de determinada relação jurídica, a fim de viabilizar a compreensão de eventual saldo.
5. Tal dever exsurge da própria natureza dos encargos atribuídos a um administrador, qual seja,
administrar bens e interesses de outrem, o que, por sua vez, lhe acarreta, na via conseqüencial, o dever
de devidamente prestar as contas de sua gestão.
6. O litisconsórcio necessário se verifica na própria dicção do art. 114 do CPC quando: "(...) por
disposição de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença
depender da citação de todos que devam ser litisconsortes." e, in casu, nem a lei, nem tampouco a
relação jurídica posta em voga exige a formação do litisconsórcio almejado, diante da inexistência de
relação jurídica direta com os réus que foram excluídos da demanda ou de comprovação que eles
tenham administrado quaisquer bens dos autores.
7. Admitir que os autores postulem em desfavor de administrador, a que tenham dado plena, total,
irrevogável e irretratável quitação, vai defronte ao postulado da boa-fé que deve permear a relação
entre os administradores e os administrados, porquanto, tal conduta, é violadora da premissa de que há
ninguém é dado o direito de comportar-se contraditoriamente.
8. Incasu,se os autores não foram diligentes ao apurar as contas da ré no momento oportuno, incumbe
a eles suportar o ônus de sua negligência, não podendo, os administradores, ficarem a mercê
indefinidamente dos descuidos daqueles que tem o bens ou direitos administrados.
9. Apelação conhecida e desprovida.
Ante o exposto, CONHEÇO eDOU PROVIMENTOà apelação para reformar a sentença, no sentido
de julgar procedente a ação de prestação de contas.
O juiz sentenciante, com razão, no julgamento dos embargos e declaração (ID 43811567), entendeu
que não houve condenação e nem proveito econômico obtido, logo, para fins de fixar a condenação ao
pagamento de honorários advocatícios, aplica-se como base de cálculo o valor atualizado da causa.
Assim, não se pode deduzir, nesse momento, proveito econômico apto a servir de base para a fixação
dos honorários.
Ante o exposto, CONHEÇO e NEGO PROVIMENTO à apelação adesiva.
Majoro os honorários fixados na origem para 12% (doze por cento), mantida a distribuição dos ônus
da sucumbência, nos termos dos §§2º e 11º, artigo 85, do Código de Processo Civil.
É como voto.
DECISÃO