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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ

1ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS - PROJUDI


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Recurso Inominado Cível n° 0028775-78.2022.8.16.0019 RecIno


3º Juizado Especial Cível de Ponta Grossa
Recorrente(s): ASSESSORIA EXTRAJUDICIAL SOLUÇÃO FINANCEIRA EIRELI
Recorrido(s): FERNANDO JOSE GOETTEN
Relator: Melissa de Azevedo Olivas

EMENTA: RECURSO INOMINADO. MATÉRIA RESIDUAL. AÇÃO


DECLARATÓRIA E INDENIZATÓRIA. “SOLUÇÃO FINANCEIRA”.
CONTRATO OBJETIVANDO REDUÇÃO DE DÉBITO EM CONTRATO DE
FINANCIAMENTO DE VEÍCULO. AUSÊNCIA DE PROVA DA EFETIVA
PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS NO CASO CONCRETO. DANO MORAL
CONFIGURADO. “QUANTUM” MANTIDO (R$3.000,00) SENTENÇA
MANTIDA POR OUTROS FUNDAMENTOS. Recurso conhecido e
desprovido.

RELATÓRIO

Dispensado o relatório, nos termos do Enunciado 92 do FONAJE.

VOTO

Satisfeitos os requisitos de admissibilidade tanto os intrínsecos quantos os extrínsecos,


o recurso merece ser conhecido.

A ré, inconformada com a sentença que declarou a rescisão contratual e a condenou


ao pagamento de indenização por danos materiais (R$3.000,00) e morais (R$3.000,00),
interpôs recurso inominado requerendo a reforma da sentença visando a improcedência dos
pedidos indenizatórios e, subsidiariamente, a redução do quantum fixado.

Pois bem. Da detida análise dos autos, constata-se que, de fato, a procedência dos
pedidos iniciais deve ser mantida, porém por outros fundamentos.
Inicialmente, cumpre consignar que o presente caso caracteriza típica relação de
consumo, pois as partes se enquadram nos conceitos de consumidor e fornecedor previsto nos
artigos 2º e 3º, ambos do Código de Defesa do Consumidor. Desta forma, havendo
verossimilhança das alegações, assegura-se a inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII, CDC).

Restou incontroverso que a parte autora contratou a ré para prestar serviços de


intermediação de negociação financeira, objetivando a redução do seu débito em contrato de
financiamento de veículo.

Diversamente do que alega a ré, a parte autora logrou êxito em comprovar indícios de
veracidade de suas alegações, a teor do art. 373, I do CPC: especialmente pela juntada dos
comprovantes de pagamento pelo serviço que deveria ser prestado (mov. 1.6 – mov. 1.7).

Por sua vez, a ré não se desincumbiu de seu ônus probatório, deixando de comprovar
fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito autoral, em afronta ao art. 373, II do
CPC.

Isso porque, observa-se que a ré não trouxe aos autos qualquer prova e/ou indício de
prova da efetiva prestação dos serviços contratados de negociação do financiamento da parte
autora junto à instituição financeira.

Embora o consumidor tenha sido informado que a obrigação seria de meio (cláusula 2ª
“caput”) e que a ré iria buscar a redução da dívida em 50% por tempo estimado (cláusula 2ª,
§1º), competia a ela comprovar que se desincumbiu de sua obrigação contratual (ainda que
de meio).

As mensagens anexadas aos autos (mov. 34.12) são datadas nos meses de JUN, JUL e
AGO de 2021. Porém o contrato foi firmado entre as partes no mês de FEV/21: mov. 34.5 (04
meses antes), não tendo a ré demonstrado por qual razão retardou em meses os contatos
com a credora para viabilizar a redução da dívida do autor.

Na realidade, vê-se que a ré notificou o autor acerca da ação de busca e apreensão no


dia 25.06.2021 (mov. 34.11). Ou seja, a ré apenas se mobilizou (contratualmente) após o
conhecimento do ajuizamento da dita ação.

Assim, entre a data da contratação (FEV/21) até a data do conhecimento da ação de


busca e apreensão (JUN/21), a ré não se esforçou para obter acordo e, assim, impedir atos
constritivos. As provas não se prestam a comprovar o cumprimento da reponsabilidade de
meio a ela incumbida (CPC, art. 373, II).

Portanto, notório que o contrato não foi cumprido, alicerçando os pedidos de rescisão
por parte do consumidor e devolução dos valores pagos para a realização dos serviços.
Quanto aos danos morais, evidenciada a falha na prestação dos serviços, apta a
ensejar à parte abalo que ultrapassa o mero aborrecimento do cotidiano, de rigor reconhecer
o dever de indenizar.

No tocante à redução do quantum indenizatório, resta consolidado, tanto na doutrina,


como na jurisprudência pátria o entendimento de que a fixação do valor da indenização por
dano moral deve ser feita com razoabilidade, levando-se em conta determinados critérios,
como a situação econômica do autor, o porte econômico do réu, o grau de culpa e o valor do
negócio, visando sempre à atenuação da ofensa, a atribuição do efeito sancionatório e a
estimulação de maior zelo na condução das relações.

No caso sub judice fora fixada a importância de R$ 3.000,00 (três mil reais). Sopesadas
as peculiaridades da espécie em litígio, a capacidade econômica das partes, aliadas àquelas
próprias que envolveram o evento danoso, tem-se que o quantum arbitrado deve ser
mantido, não sendo excessivo para o caso em testilha, estando, inclusive, em consonância
com os padrões adotados por esta Turma Recursal em casos análogos e recentes desta 1ª TR
/PR. Vide:

RECURSOS INOMINADOS. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE


CONTRATO. CONSULTORIA FINANCEIRA (“O SOLUCIONADOR”). CONTRATO
OBJETIVANDO REDUÇÃO DE DÉBITO EM CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE
VEÍCULO. AUSÊNCIA DE PROVA DA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. RESCISÃO
CONTRATUAL. DEVOLUÇÃO DO MONTANTE PAGO. DANO MORAL
CONFIGURADO. QUANTUM ARBITRADO EM R$3.000,00 (TRÊS MIL REAIS).
SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. RECURSO DO AUTOR CONHECIDO
E PROVIDO. RECURSO DO RÉU CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJPR - 1ª
Turma Recursal - 0001621-54.2021.8.16.0170 - Toledo - Rel.: JUÍZA DE
DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS MARIA FERNANDA
SCHEIDEMANTEL NOGARA FERREIRA DA COSTA - J. 15.04.2023) (grifei)

Portanto, o voto é pelo desprovimento do recurso, mantendo-se a procedência dos


pedidos iniciais por outros fundamentos, consoante acima explicado.

Custas na forma da Lei estadual nº 18.413/2014.

Com o desprovimento do recurso, a parte recorrente deverá arcar com o pagamento de


honorários advocatícios fixados em 15% sobre o valor da condenação (art. 55 da LJE).

DISPOSITIVO

Ante o exposto, esta 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve, por
unanimidade dos votos, em relação ao recurso de ASSESSORIA EXTRAJUDICIAL SOLUÇÃO
FINANCEIRA EIRELI, julgar pelo(a) Com Resolução do Mérito - Não-Provimento nos exatos
termos do voto.

O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Maria Fernanda Scheidemantel Nogara
Ferreira Da Costa, com voto, e dele participaram os Juízes Melissa De Azevedo Olivas
(relator) e Fernando Andreoni Vasconcellos.

Curitiba, 20 de outubro de 2023 .

Melissa de Azevedo Olivas


Juíza Relatora

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