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VIOLAÇÃO POSITIVA DO

CONTRATO*
E
RESPONSABILIDADE CIVIL
*“cumprimento defeituoso” ou “cumprimento imperfeito”
ESTRUTURA DO ENCONTRO:
1. Princípio da Boa-fé Objetiva (Art. 422, CC/02)
1.1. Distinções entre Boa-fé Subjetiva e Boa-fé Objetiva
1.2. Boa-fé Objetiva e os Deveres Anexos
2. Violação Positiva do Contrato
2.1. Origem do Termo
2.2. Caso Tostines
2.3. Caso Zeca Pagodinho
3. Violação Positiva do Contrato e Responsabilidade
Civil
3.1. Jurisprudência atual
PROTEÇÃO DA CONFIANÇA

Art. 422, CC/02: “Os contratantes são


obrigados a guardar, assim na conclusão do
contrato, como em sua execução, os
princípios de probidade e boa-fé.”
CASO TOSTINES
“[...] a apelada (IND. BOM RETIRO) narrou que manteve com a
apelante (TOSTINES) contrato verbal de distribuição de produtos
alimentícios, que vigorou entre 1966 e 1996, quando teria havido a
resolução do contrato por culpa da apelante. Alegou a apelada que
devido à transferência do controle societário da apelante para o
grupo Nestlé houve alteração unilateral do contrato de distribuição
de mercadorias, o que lhe teria ocasionado inúmeros prejuízos.
Pleiteou, então, a condenação da apelante à ressarcir-lhe todos os
danos resultantes da resolução culposa do contrato, destacando a
existência de danos emergentes, decorrentes do fundo de
comércio, indenizações trabalhistas e investimentos que foi
obrigada a fazer por força do contrato, de lucros cessantes e danos
morais. Pugnou que o valor da indenização fosse fixado em
liquidação de sentença.”
CASO TOSTINES - DECISÃO

Danos emergentes: R$ 166.500,00

Lucros cessantes: R$ 1.529.362,89

Danos morais: R$ 60.000,00


INDICAÇÃO DE BIBLIOGRAFIA:
MARTINS-COSTA, Judith. O caso dos produtos Tostines: uma
atuação do princípio da boa-fé na resilição de contratos
duradouros e na caracterização da supressio - Comentários ao
acórdão no REsp 401.704/PR (rel. Min. Honildo Amaral de Mello
Castro – Desembargador convocado no TJ/AP, Dje 02.09.2009).
In: FRAZÃO, Ana; TEPEDINO, Gustavo (Coords.). O Superior
Tribunal de Justiça e a reconstrução do Direito Privado. São
Paulo: RT, 2011. p. 513-542.
CASO ZECA PAGODINHO - E DECISÃO
 SCHINCARIOL x JGS PRODUÇÕES ARTÍSTICAS E JESSE GOMES DA SILVA
FILHO (ZECA PAGODINHO) - ação de indenização por danos materiais, morais e à
imagem - violação de cláusula de exclusividade de contrato de prestação de serviços,
concessão de direitos de uso de imagem e som de voz por tempo determinado

 RELATO DO CASO

 DECISÃO:
 Danos materiais: R$ 930.000,00 - 1º grau
 Danos morais: R$ 930.000,00 - 1º grau
 TJSP:
 Danos materiais: definidos em liquidação de sentença por arbitramento
 Danos morais: R$ 420.000,00
VIOLAÇÃO POSITIVA DO
CONTRATO*
E
RESPONSABILIDADE CIVIL
*“cumprimento defeituoso” ou “cumprimento imperfeito”

Jurisprudência atual
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CONSUMIDOR. COMISSÃO DE
CORRETAGEM. IMÓVEL FINANCIADO PELO PROGRAMA DO
GOVERNO FEDERAL MINHA CASA MINHA VIDA. APRECIAÇÃO DA
CONTROVÉRSIA PELO STJ EM SEDE DE RECURSO REPETITIVO Nº
1.601.149 – RS. TEMA 960 DO STJ. RESTITUIÇÃO DOS VALORES.
CABIMENTO, POIS NÃO COMPROVADA A PRÉVIA INFORMAÇÃO
AO CONSUMIDOR. [...]. 2. No caso, foi determinada a restituição
do valor pago a título de comissão de corretagem, na forma
simples, por ter sido constatada a chamada
“violação positiva do contrato”, pois a requerida, ora
embargante, agiu contrariamente à boa-fé objetiva, violando os
deveres anexos à relação contratual que daquela decorrem,
notadamente no que diz respeito ao dever de informação e
colaboração, já que no campo das condições de pagamento,
não houve nenhuma menção quanto ao valor a ser pago a título
de comissão de corretagem. [...]. (Embargos de Declaração, Nº
71008693533, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais,
Relator: Ana Cláudia Cachapuz Silva Raabe, Julgado em: 26-06-
2019).
APELAÇÃO CÍVEL. TRANSPORTE. TRANSPORTE DE COISAS. AÇÃO DE
PROCEDIMENTO ORDINÁRIO COM PEDIDO DE REINTEGRAÇÃO DE
POSSE. LUCROS CESSANTES. NÃO COMPROVAÇÃO. [...]. PRINCÍPIO DA
BOA-FÉ OBJETIVA. DEVER DE LEALDADE E COOPERAÇÃO. [...]. É que,
dos autos, verifica-se que, por um lado, o inadimplemento de que
tratam os autos ocorreu por fator alheio à vontade da apelada, na
medida em que era responsável somente pelo transporte de leite, e
não pelo seu fornecimento. [...]. entende-se que, por outro, é
também certo que competia à apelada, apesar de, como se vê, não
figurar como parte na relação jurídica existente entre a autora e os
produtores de leite, informar a requerente da impossibilidade de
coleta de leite e, consequentemente, de seu transporte obrigação
contratual por ela titularizada, porque este contrato decorria daquele
-, porquanto se mostra cediço que a boa-fé que permeia as relações
contratuais existentes entre as partes impunha-lhe a adoção de tal
conduta, impondo-se, portanto, o reconhecimento
da violação positiva do contrato. [...]. (Apelação Cível Nº
70076424597, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Umberto Guaspari Sudbrack, Julgado em 19/04/2018).
RECURSO INOMINADO. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. DESCONTO INDEVIDO.
COBRANÇA DE PARCELAS ATRASADAS CUMULATIVAMENTE. FALHA DO
SERVIÇO BANCÁRIO AO CONSIGNAR O EMPRÉSTIMO JUNTO À FONTE
PAGADORA, QUE NÃO PODE SER ATRIBUÍDO À MUTUÁRIA. PEDIDO DE
RESTITUIÇÃO EM DOBRO E INDENIZAÇÃO A TÍTULO DE DANOS MORAIS
ACOLHIDOS. A ré assevera que a autora deixou de pagar os empréstimos e
que, conforme previsão contratual expressa, os pagamentos eram
realizados voluntariamente pela autora, diretamente na boca do caixa, em
operação denominada "retenção". O contrato celebrado entre as partes,
de empréstimo consignado, não faz menção à modalidade de
pagamento por "retenção", no qual a ré se apoia para justificar as
cobranças cumulativas realizadas. Prova dos autos que demonstra ter
havido falha do banco em promover a consignação do empréstimo sobre
os proventos de aposentadoria recebidos pela autora. A cobrança
cumulativa das parcelas atrasadas, à revelia do ajuste contratual,
transparece violação positiva do contrato e desatenção ao dever de bem
informar o consumidor sobre o que está pagando e porque está pagando.
Pedidos de devolução em dobro dos valores cobrados indevidamente e
indenização a título de danos morais acolhidos. RECURSO PROVIDO.
(Recurso Cível Nº 71006750467, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas
Recursais, Relator: Roberto Behrensdorf Gomes da Silva, Julgado em
07/06/2017).
DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. ENSINO SUPERIOR. VIOLAÇÃO
POSITIVA DO CONTRATO. DEVER DE INFORMAÇÃO. BOA-FÉ OBJETIVA.
FUNÇÃO INTEGRADORA. DANOS MORAIS. Supervenientemente alterados os
limites mínimos para a integralização da carga horária por ato do Ministério da
Educação, cumpria à instituição de ensino, em observância ao princípio da boa-fé e
ao dever anexo de informação, comunicar imediatamente aos discentes, tendo em
vista tratar-se de substancial modificação contratual. Gera violação positiva do
contrato a ocultação desta circunstância por mais de dois anos, acarretando a
frustração das legítimas expectativas dos autores em colar grau na data inicialmente
anunciada. Caracterização de transtornos que excedem o tolerável, visto que
inviabilizado o planejamento profissional e pessoal. Danos morais configurados em
decorrência da frustração da legítima expectativa quanto ao momento de ingresso no
mercado de trabalho, observadas as peculiaridades do caso. DANOS MATERIAIS.
Não restou comprovada a ocorrência dos alegados danos materiais, na forma de
lucros cessantes ou danos emergentes, desmerecendo acolhida o pleito no ponto.
APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. (Apelação Cível Nº 70066786310, Décima
Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Mylene Maria Michel,
Julgado em 10/03/2016).
INDICAÇÃO DE BIBLIOGRAFIA:
CORDEIRO, António Manuel da Rocha e Menezes. Da boa-
fé no Direito Civil. 2 reimpressão. Coimbra: Almedina, 2001.

MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado:


sistema e tópica no processo obrigacional. 1. ed., 2. tir. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

SILVA, Jorge Cesa Ferreira da. A Boa Fé e a Violação


Positiva do Contrato. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.
QUESTÕES
Qual a ligação entre boa-fé objetiva e abuso de direito (art. 187,
CC/02)?

Os deveres anexos que derivam da aplicação do princípio da boa-


fé objetiva precisam ser expressos no contrato?

A violação positiva do contrato é uma modalidade autônoma de


inadimplemento contratual?

A boa-fé objetiva e os deveres secundários dela decorrentes


devem ser observados nas relações pré e pós contratuais, bem
como durante a execução da avença?
ENUNCIADO Nº 24, CJF/STJ: “Art.
422: em virtude do princípio da boa-fé,
positivado no art. 422 do novo Código
Civil, a violação dos deveres anexos
constitui espécie de inadimplemento,
independentemente de culpa.”

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