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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS - PROJUDI


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Autos nº. 0022610-16.2021.8.16.0030

Recurso: 0022610-16.2021.8.16.0030
Classe Processual: Recurso Inominado Cível
Assunto Principal: Rescisão do contrato e devolução do dinheiro
Recorrente(s): BENJAMIN ARIEL AQUINO
SOLUÇÃO FINANCEIRA - SERVIÇOS DE RECUPERAÇÃO DE
CRÉDITO EIRELI
Recorrido(s): BENJAMIN ARIEL AQUINO
SOLUÇÃO FINANCEIRA - SERVIÇOS DE RECUPERAÇÃO DE
CRÉDITO EIRELI

EMENTA: RECURSOS INOMINADOS (2). RESIDUAL. CONTRATAÇÃO


DE SERVIÇO DE ASSESSORIA PARA RENEGOCIAÇÃO DE DÍVIDA.
FINANCIAMENTO DE VEÍCULO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. RESCISÃO CONTRATUAL.
RESTITUIÇÃO DOS VALORES PAGOS. DANOS MATERIAIS
MANTIDOS. IMINÊNCIA DA BUSCA E APREENSÃO DO VEÍCULO.
AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO. DANO MORAL COMPROVADO NO
CASO EM TELA. MANUTENÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO.
SENTENÇA MANTIDA. RECURSOS CONHECIDOS E NÃO PROVIDOS.

1. RELATÓRIO

Relatório dispensado, nos termos do art. 38 da Lei 9.099/95.

2. VOTO

Satisfeitos os pressupostos processuais viabilizadores da admissibilidade, tanto os objetivos


quanto os subjetivos, os recursos devem ser conhecidos.

A sentença julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais, a fim de desconstituir a


relação contratual mantida entre as partes, declarar nula a cláusula de eleição de foro,
condenar a requerida ao pagamento de R$ 4.875,00 ao autor, como restituição de quantia
paga, e R$ 2.000,00, como indenização por danos morais.
O autor, irresignado, interpôs o presente recurso inominado, a fim seja majorado a indenização
por danos morais. A ré também recorreu, pugnando pelo reconhecimento da continuidade do
contrato e afastamento das condenações proferidas em seu desfavor.

Pois bem.

Inicialmente, destaca-se que a relação estabelecida entre as partes é de consumo, sendo


aplicáveis as regras e princípios contidos no Código de Defesa do Consumidor.

Esclarece-se, também, que a inversão do ônus da prova, disposta no artigo 6º, VIII, do Código
de Defesa do Consumidor, não é absoluta, incumbindo ao consumidor a produção de mínima
prova dos fatos constitutivos de seu direito (CPC, art. 373, I). Noutro passo, é ônus do
fornecedor comprovar os fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito cuja violação
foi alegada pelo consumidor (CPC, art. 373, II).

Narrou o autor na inicial ter contratado os serviços da ré para intermediação de negociação


extrajudicial de débito mantido junto à BV Financeira, não tendo a ré, contudo, adimplido com
as obrigações ajustadas.

Resta incontroverso, nos presentes autos, que autor e ré celebraram o contrato na data de 06
/04/2020 (mov. 1.5), com o objetivo de efetivar negociações junto ao banco BV Financeira para
redução de valores oriundos de financiamento, então em R$ 31.500,00, mantido entre a última
instituição e o requerente.

A Cláusula Quarta, Parágrafo 2º, do instrumento mencionado, assim dispõe: “O contratado


promete um prazo médio de 6 a 12 meses para conseguir negociar o valor da dívida e
conseguir um acordo QUITATIVO (pela qual a instituição financeira concede um desconto de
no mínimo 50% do valor do débito confessado na CLÁUSULA PRIMEIRA) para o
contratante (...)”.

As partes ajustaram pagamento independente do proveito financeiro do autor, no valor de R$


6.500,00. Resta lógico, até pela previsão contratual acima citada, que o autor somente disporia
da quantia se convicto da redução do valor de seu financiamento. O pagamento de parte da
quantia resta demonstrado à mov. 1.7.

Vê-se que a ré não logrou demonstrar o adimplemento das suas obrigações oriundas do
instrumento, visto que as telas de mov. 19.7 tão somente indicam anotações genéricas de
colaboradores da empresa, com base no sistema interno e colhidas unilateralmente, sem
qualquer outro elemento que demonstre, efetivamente, ter sido aprovada pela BV Financeira
proposta de quitação abaixo do valor nominal.

Assim, como a ré não comprovou que prestou o serviço para o qual foi contratada, deve
responder pela reparação dos danos causados com a restituição dos valores pagos no
contrato de prestação de serviços.
Neste sentido:

RECURSO INOMINADO. CONTRATAÇÃO DE EMPRESA PARA


REALIZAÇÃO DE RENEGOCIAÇÃO EXTRAJUDICIAL DE DÍVIDA
BANCÁRIA. RECLAMADA QUE DEIXOU DE COMPROVAR A
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. RESCISÃO CONTRATUAL DEVIDA.
RESTITUIÇÃO DOS VALORES PAGOS. RETENÇÃO DO CARNÊ DE
PAGAMENTO PELA PARTE PROMOVIDA, A QUAL NÃO
DESINCUMBIU DO ÔNUS DA PROVA INVERTIDO QUANTO À
RESTITUIÇÃO DE TAIS DOCUMENTOS AO AUTOR. CIRCUNSTÂNCIA
QUE CORROBORA ALEGAÇÃO INICIAL ACERCA DA
RECOMENDAÇÃO PARA QUE A RECLAMANTE CONTINUASSE EM
SUSPENSO COM OS PAGAMENTOS DO CONTRATO BANCÁRIO.
OMISSÃO DA EMPRESA REQUERIDA NA NEGOCIAÇÃO DO
CONTRATO E RETENÇÃO DO BOLETO QUE FORAM DECISIVAS
PARA COMPLICAÇÕES POSTERIORES COMO A BUSCA E
APREENSÃO DO BEM E PROTESTO. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS NO CASO CONCRETO. QUANTUM INDENIZATÓRIO
QUE NÃO COMPORTA REDUÇÃO. PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE
E PROPORCIONALIDADE OBSERVADOS. RECURSO DESPROVIDO.
(TJPR - 2ª Turma Recursal - 0032235-59.2020.8.16.0014 - Londrina -
Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS
ESPECIAIS MARCEL LUIS HOFFMANN - J. 20.08.2021) (grifei).

RECURSO INOMINADO. CONTRATAÇÃO DE SERVIÇO DE


NEGOCIAÇÃO DE DÍVIDA (“O SOLUCIONADOR”). ALEGADA
NULIDADE CONTRATUAL. INOCORRÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE VÍCIO
DE VALIDADE. ALEGADA INEXECUÇÃO DO CONTRATO.
OCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE PROVA DA EFETIVA EXECUÇÃO DA
NEGOCIAÇÃO CONTRATADA. INCIDÊNCIA DO ART. 475 DO CC.
RESCISÃO CONTRATUAL. RESTITUIÇÃO DO PREÇO PAGO DEVIDA.
RECURSO INOMINADO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJPR - 2ª
Turma Recursal - 0000201-58.2021.8.16.0026 - Campo Largo - Rel.: JUIZ
DE DIREITO SUBSTITUTO MAURÍCIO PEREIRA DOUTOR - J.
18.02.2022) (grifei).

Demonstrado o pagamento de parte dos valores da contratação inicial (mov. 1.7), os quais
somaram R$ 4.875,00, é devida a restituição, nos termos do acima fundamentado.

É evidente a falha no dever de informação acerca do objeto do contrato, das medidas que
seriam tomadas pela ré e dos riscos assumidos pelo consumidor ao adotar as condutas
orientadas pela ré, haja vista que as cláusulas restritivas de direitos do consumidor não
possuem redação clara ou com destaque, conforme ordena o art. 54, § 3º do CDC.
Os danos morais estes são devidos em razão da ausência de informações acerca da
necessidade da continuidade do pagamento das parcelas para que o veículo não fosse objeto
de busca e apreensão.

Assim, considerando os fatos comprovados nos autos, certamente a parte autora


experimentou sentimento de angústia e humilhação, motivo pelo qual, entendo correta a
condenação de indenização por danos morais.

Sobre o tema:

RECURSO INOMINADO. CONTRATAÇÃO DE EMPRESA PARA


REALIZAÇÃO DE RENEGOCIAÇÃO EXTRAJUDICIAL DE DÍVIDA
BANCÁRIA. RECLAMADA QUE DEIXOU DE COMPROVAR A
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. RESCISÃO CONTRATUAL DEVIDA.
RESTITUIÇÃO DOS VALORES PAGOS. RETENÇÃO DO CARNÊ DE
PAGAMENTO PELA PARTE PROMOVIDA, A QUAL NÃO
DESINCUMBIU DO ÔNUS DA PROVA INVERTIDO QUANTO À
RESTITUIÇÃO DE TAIS DOCUMENTOS AO AUTOR. CIRCUNSTÂNCIA
QUE CORROBORA ALEGAÇÃO INICIAL ACERCA DA
RECOMENDAÇÃO PARA QUE A RECLAMANTE CONTINUASSE EM
SUSPENSO COM OS PAGAMENTOS DO CONTRATO BANCÁRIO.
OMISSÃO DA EMPRESA REQUERIDA NA NEGOCIAÇÃO DO
CONTRATO E RETENÇÃO DO BOLETO QUE FORAM DECISIVAS
PARA COMPLICAÇÕES POSTERIORES COMO A BUSCA E
APREENSÃO DO BEM E PROTESTO. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS NO CASO CONCRETO. QUANTUM INDENIZATÓRIO
QUE NÃO COMPORTA REDUÇÃO. PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE
E PROPORCIONALIDADE OBSERVADOS. RECURSO DESPROVIDO.
(TJPR - 2ª Turma Recursal - 0032235-59.2020.8.16.0014 - Londrina -
Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS
ESPECIAIS MARCEL LUIS HOFFMANN - J. 20.08.2021) (grifei).

Em relação ao quantum indenizatório, resta consolidado, tanto na doutrina, como na


jurisprudência pátria o entendimento de que a fixação do valor da indenização por dano moral
deve ser feita com razoabilidade, levando-se em conta determinados critérios, como a situação
econômica das partes, o grau de culpa, visando sempre à atenuação da ofensa, a atribuição
do efeito sancionatório e a estimulação de maior zelo na condução das relações.

O valor de R$ 2.000,00 arbitrado pelo Juízo a quo se mostra razoável, a fim de compensar a
parte autora do abalo moral sofrido, sem causar seu enriquecimento ilícito.

Por todo o acima exposto, vota-se por conhecer e negar provimento aos recursos interpostos,
mantendo a sentença em todos os seus termos.
Diante da sucumbência recursal, vota-se pela condenação da parte recorrente ao pagamento
de honorários advocatícios, estes fixados em 20% sobre o valor da condenação (art. 55, Lei
9.099/95). Custas nos termos dos artigos 2º, I e II e 4º da Lei nº 18.413/2014, bem como artigo
18 da IN 01/2015 do CSJE. Observe-se a suspensão da cobrança na forma do artigo 98, §3º,
do CPC, caso a parte recorrente seja beneficiária da assistência judiciária gratuita.

Dou por prequestionados todos os dispositivos constitucionais, legais e demais normas


suscitadas pelas partes nestes autos.

3. DISPOSITIVO

Ante o exposto, esta 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve, por unanimidade dos
votos, em relação ao recurso de BENJAMIN ARIEL AQUINO, julgar pelo(a) Com Resolução do
Mérito - Não-Provimento, em relação ao recurso de SOLUÇÃO FINANCEIRA - SERVIÇOS DE
RECUPERAÇÃO DE CRÉDITO EIRELI, julgar pelo(a) Com Resolução do Mérito - Não-
Provimento nos exatos termos do voto.
O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Irineu Stein Junior, com voto, e dele participaram os
Juízes Fernanda Bernert Michielin (relator) e Maurício Doutor.

Curitiba, 16 de dezembro de 2022

Fernanda Bernert Michielin

Juíza Relatora

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