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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DO __

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE XXXXXX/ES

NOME E QUALIFICAÇÃO, vem respeitosamente à


presença de V.Exª, através de suas advogadas infra-firmadas (procuração
em anexo – DOC.1), ambas com escritório profissional na Rua
ENDEREÇO, onde recebem as notificações de estilo, propor:

AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS


CULMINADO COM PEDIDO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO E
DANO MORAL

em face da NOME, QUALIFICAÇÃO E ENDEREÇO, o


que faz pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

1 -DOS FATOS

O Autor celebrou com a Ré, um empréstimo no valor de R$


18.800,00 (dezoito mil e oitocentos reais), mediante a Cédula de Crédito
Bancário nº XXXXXXX, visando adquirir o veículo automotor FIAT
NOVO UNO EVO VIVACE 1.0 EVO FLEX 4P 2010/2011 RENAVAM
XXXXX CHASSI XXXXX PLACA XXXXX COR PRATA, cujo
pagamento se daria em 60 (sessenta) prestações mensais de R$ 540,91
(quinhentos e quarenta reais e noventa e um centavos), o que perfaz o total
absurdo de R$ 32.454,60 (trinta e dois mil e quatrocentos e cinquenta e
quatro reais e sessenta centavos), conforme demonstra o contrato em anexo.

O Autor encontra-se adimplente com financiamento ora


citado, conforme pode se aferir nos documentos acostados a inicial,
quitando até a presente data a parcela 26/60.

Ocorre Excelência, que referido contrato de financiamento,


encontra-se eivado de cláusulas abusivas, desde a taxa anual de juros
cobrada, assim como a forma de cálculo capitalizada, consoante se observa
da Planilha Financeira em anexo, bem como parecer elaborador pelo
Contador.

A Planilha Financeira supra indicada, atesta cobrança de


juros anuais discrepante ao estabelecido no contrato firmado entre as partes,
ou seja, o Réu ao invés de se aplicar a taxa de juros anual de 20,52% (juros
simples), está aplicando a taxa de juros anual de 22,56% (juros sobre
juros/anatocismo), o que vem a ocasionar ao Autor prejuízos, aumentando
consideravelmente o seu saldo devedor.

Não bastasse o exposto alhures, o Demandado incluiu no


boleto das parcelas, juros de mora no valor de R$ 2,16 (dois reais e
dezesseis centavos) por dia de atraso, perfazendo o percentual de 0,399% ao
dia.

A Requerida está cumulando no contrato de financiamento,


a comissão de permanência com multa contratual, juros de mora, honorários
advocatícios e demais encargos moratórios (cláusulas16 e 21), o que é
abusivo e ilegal, sendo vedado pelo ordenamento jurídico pátrio.
Além do mais, o contrato de financiamento em questão,
está embutindo tarifas que são de responsabilidades da credora, tais como:
Tarifa de Cadastro e Tarifa de Avaliação do Bem, sendo que tal repasse ao
consumidor configura-se abusivo, pois são tarifas provenientes de
operações que são de interesse e responsabilidade exclusivos do fornecedor
dos serviços e inerentes à sua atividade, sendo voltada ao lucro.

E não é só. As tarifas acima discriminadas, bem como o


Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) foram diluídas nas parcelas do
referido financiamento, o que evidencia má-fé da parte Ré.

O Autor informou a Ré que algumas taxas inseridas no


contrato eram abusivas e visando entrar em um acordo com a Demandada,
solicitou o demonstrativo de sua dívida, bem como dos fluxos para a
composição do custo efetivo total da presente Cédula de Crédito.

Ocorre que, a Ré se recusou a entregar ao Demandante as


planilhas de cálculo, se eximindo da obrigação de fornecer referidas
planilhas, violando o dispositivo contido no art. 6º, inciso III do Código de
Defesa do Consumidor (Lei nº 8. 078/1990) o que evidencia, mais uma vez,
a má-fé por parte da Credora, ora Demandada.

Assim, não resta outra alternativa ao Autor, senão buscar o


Judiciário, a fim de ver reconhecida a abusividade das cláusulas contratuais
acima mencionadas e ter seu direito preservado.

Diante o exposto, requer o Autor a declaração de nulidade


das cláusulas contratuais consideradas ilegais e abusivas, devolução da
quantia paga a maior em dobro, bem como danos morais.

2. DO MÉRITO
2.1- DA RELAÇÃO DE CONSUMO E INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA

A relação jurídica firmada entre cliente bancário e


instituição financeira, é sabidamente de consumo, conforme aduzem os
artigos 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor.

O Supremo Tribunal de Justiça já firmou entendimento


sobre o assunto, editando a Súmula nº 297: “O Código de Defesa do
Consumidor é aplicável às instituições financeiras”.

Desta feita, considerando a condição em que o Demandante


se apresenta, na figura de consumidor, e considerando a vulnerabilidade do
mesmo perante o mercado de consumo, conforme preceitua o art. 4º, inciso
I da Lei Federal nº 8.078/1990, senão vejamos:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo


o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua
dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos,
a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e
harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de
consumo;

A tutela sob a ótica consumerista se justifica pela evidente


posição de desvantagem do Autor no negócio jurídico celebrado com a Ré,
o qual possui contornos negociais que usurpa qualquer direito do
comprador discutir as clausulas contratuais, restando-lhe apenas a opção de
aceitar as imposições abusivas da Ré.

Nesse sentido, faz jus o Autor de que sua demanda seja


julgada com base no Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista que
é hipossuficiente no âmbito técnico e econômico em relação à Instituição
Financeira, ora parte Requerida.

Diante o exposto, o Autor requer que sua pretensão seja


analisada à luz do Código de Defesa do Consumidor, bem como a inversão
do ônus da prova, por estar configurada a relação de desigualdade entre as
partes litigantes.

2.2- DA ILEGALIDADE DA CLÁUSULA “PAGAMENTOS


AUTORIZADOS” (ITEM 5.4 DA CÉDULA DE CREDITO
BANCÁRIO)

No ato da celebração do contrato de financiamento firmado


entre as partes ora litigantes, o Demandante incluiu no valor do
financiamento, Tarifas Administrativas (IOF, Tarifa de Cadastro e Tarifa de
Avaliação do bem) que deveriam ficar ao seu encargo, tendo em vista que
tais tarifas são inerentes a sua própria atividade desempenhada e que já são
remuneradas pelos juros fixados no contrato, sendo vedado pelo Código de
Defesa do Consumidor, que sejam repassadas para o consumidor.

Cumpre ressaltar, que as tarifas administrativas foram


embutidas no valor total do financiamento, basta somar o Valor Líquido do
Crédito (Item 4.4), com os valores discriminados no item Pagamentos
Autorizados (Item 5.4), que perfaz o valor total do crédito de R$ 20.199,05
(vinte mil, cento e noventa e nove reais e cinco centavos) – Item 4.5. do
Cédula de Crédito.

Dessa forma, não resta dúvida, que tal atitude tomada por
parte da Ré, demonstra a má-fé da financeira em onerar o Requerente, ainda
mais, que as cobranças de tais tarifas são consideradas abusivas.
Nesse sentido, assim já se manifestou os Tribunais Pátrios,
in verbis:

JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. CONSUMIDOR. COBRANÇA DE


TARIFA DE CADASTRO, AVALIAÇÃO DE BEM, INSERÇÃO DE
GRAVAME E SERVIÇOS DE TERCEIROS. NULIDADE.
DEVOLUÇÃO DEVIDA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. O
DEVER DE LEALDADE IMPOSTO AOS CONTRAENTES DEVE SER
ESPECIALMENTE OBSERVADO NOS CONTRATOS DE ADESÃO EM
QUE NÃO HÁ MARGEM À DISCUSSÃO DAS CLÁUSULAS
IMPOSTAS AOS CONSUMIDORES ADERENTES, OBRIGANDO O
FORNECEDOR A UM DESTACADO DEVER DE INFORMAÇÃO,
PROBIDADE E BOA-FÉ NA CONFECÇÃO DO INSTRUMENTO. 2. A
PAR DA AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO ADEQUADA, HAJA VISTA
QUE NÃO ESTÃO ADEQUADAMENTE JUSTIFICADOS NO
CONTRATO, OS VALORES COBRADOS A TÍTULO DE TARIFA DE
CADASTRO, AVALIAÇÃO DE BEM, INSERÇÃO DE GRAVAME E
SERVIÇO DE TERCEIROS NÃO ESTÃO RELACIONADOS À
CONTRAPRESTAÇÃO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA OBJETO DO
NEGÓCIO HAVIDO ENTRE AS P ARTES, E SIM À ATIVIDADE
PRÓPRIA DO FORNECEDOR E EM SEU EXCLUSIVO BENEFÍCIO. 3.
O QUADRO EXPOSTO REVELA A NATUREZA ABUSIVA DA
COBRANÇA, A INCOMPATIBILIDADE COM A BOA-FÉ E A
EQUIDADE, E RESULTA NA NULIDADE ABSOLUTA DE SUA
PREVISÃO, A TEOR DO QUE DISPÕE O INCISO IV DO ART. 51 DA
LEI N. 8.078/90, IMPONDO-SE A DEVOLUÇÃO DO VALOR PAGO A
TAL TÍTULO. 4. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
(TJ-DF - ACJ: 52312020118070012 DF 0005231-20.2011.807.0012, Relator:
SANDRA REVES VASQUES TONUSSI, Data de Julgamento: 29/05/2012,
3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, Data de
Publicação: 31/05/2012, DJ-e Pág. 229)

Ademais, é injusta e ilegal a cobrança do Imposto sobre


Operações Financeiras, de forma diluída no contrato, pois tal medida onera
ainda mais o consumidor, conforme pode se aferir na jurisprudência abaixo:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REVISÃO. CONTRATO DE


FINANCIAMENTO PARA AQUISIÇÃO DE VEÍCULO. IMPOSTO
SOBRE OPERAÇÕES FINANCEIRAS (IOF) DILUÍDO NAS
PRESTAÇÕES. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA APENAS SOBRE
O VALOR PRINCIPAL DISPONIBILIZADO À MUTUÁRIA.
DESPESAS COM SERVIÇOS DE TERCEIROS E TARIFAS DE
CADASTRO E DE REGISTRO. COBRANÇA QUE É ADMITIDA,
PORQUE PACTUADA. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. DIREITO
ASSEGURADO, NA FORMA SIMPLES, PARA O FIM DE EVITAR O
ENRIQUECIMENTO ILÍCITO E QUE INDEPENDE DE PROVA DO
ERRO NO PAGAMENTO. IMPOSIÇÃO DO ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA
À MUTUÁRIA QUE JÁ FOI DETERMINADO NA SENTENÇA.
AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. RECURSO CONHECIDO EM
PARTE E, NA EXTENSÃO, PROVIDO EM PARTE. 1. A instituição
financeira está autorizada a repassar aos seus clientes a obrigação pelo
pagamento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), mas deverá fazê-
lo uma única vez, por ocasião da disponibilização da quantia financiada,
sendo vedada a sua diluição ao longo do pacto. 2. A cobrança de tarifas é
procedimento próprio da atividade desenvolvida pelo estabelecimento
bancário, sendo afastadas somente aquelas manifestamente abusivas,
correndo por conta do devedor a sua demonstração, a tanto não equivalendo
simples impugnação genérica. 3. Admite-se a repetição do indébito na forma
simples, com a devida compensação, o que torna desnecessária a prova do
erro no pagamento. 4. Carece de interesse recursal o recorrente que busca o
que já foi assegurado na sentença.
(TJ-SC - AC: 688602 SC 2011.068860-2, Relator: Jânio Machado, Data de
Julgamento: 24/11/2011, Quinta Câmara de Direito Comercial, Data de
Publicação: Apelação cível n. , de Lages)

Desta feita, o Autor faz jus a devolução das tarifas


administrativas, constante na cláusula 5.4, com juros e correção monetária,
tendo em vista que tais tarifas são de obrigatoriedade da instituição
financeira, que no caso é da empresa Ré.

2.3 – DOS LIMITES DOS JUROS REMUNERATÓRIOS

As instituições financeiras, devido ao grande volume de


demandas, acabam por efetuar contratos de adesão, previstos e elaborados
de forma unilateral, facilitando a inclusão de cláusulas abusivas que lhe
asseguram vantagens excessivas, em detrimento do consumidor que com
elas contratam.

Dessa forma, considerando que tais cláusulas são abusivas


e as principais responsáveis pelo desequilíbrio entre as partes, tem-se que o
contrato deve ser revisto de forma que não seja aplicada a cobrança de juros
excessivos e valores extorsivos, em observância aos princípios da
transparência, equidade e boa-fé contratual.

Com relação aos princípios que norteiam a boa-fé


contratual, é importante ressaltar, que os deveres de lealdade e confiança
são recíprocos, para que seja firmado um elo de segurança jurídica
subsidiada na confiança entre as partes que pretendem contratar, com a
explicitação, mais clara possível, dos direitos e deveres de cada um.
Acerca do tema em voga, vale trazer a colação o que
preceitua o inciso IV do art. 51 do Código de Defesa do Consumidor,
vejamos:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor


por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem
renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o
fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada,
em situações justificáveis;

II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos


casos previstos neste código;

III - transfiram responsabilidades a terceiros;

IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que


coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade; (grifo nosso)

Pois bem. Pela análise da Cédula de Crédito anexada aos


autos, percebe que a Demandada impôs ao Autor a título de juros
remuneratórios o percentual 1,71% ao mês, e 22.56% ao ano.

Insta registrar, que os juros legais são aqueles devidos por


força de lei, independentemente de convenção entre as partes, ou seja,
decorrem da mora na restituição do capital ou da compensação pela
utilização do capital de outrem.

Dessa forma, os juros dos contratos bancários, devem


sofrer a limitação imposta pelo art. 591 do Código Civil de 2002, senão
vejamos:

“Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos


juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se
refere o art. 406, permitida a capitalização anual.”

Assim, pela breve leitura do dispositivo acima citado, é


válido perceber que os contratos bancários devem cobrar juros de 12%
(doze por cento) ao ano, em observância aos princípios da isonomia, e de
todos os princípios inseridos no Código Civil e Código de Defesa do
Consumidor, que foi criado para resguardar os consumidores perante o
mercado capitalista.

Nesse sentido, é importante trazer à baila, as


jurisprudências dos nossos Tribunais Pátrios, vejamos:

AGRAVO RETIDO. AUSÊNCIA DE PEDIDO EXPRESSO DE


CONHECIMENTO EM CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO. ARTIGO
523, § 1º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. RECURSO NÃO
CONHECIDO. REVISÃO DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE
IMÓVEL. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA. BENEFÍCIO JÁ DEFERIDO.
NÃO CONHECIMENTO. ALTERAÇÃO DO PREÇO DO BEM.
IMPOSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO DO JUDICIÁRIO. AUSÊNCIA
DE ABUSIVIDADE. CORREÇÃO MONETÁRIA. IGP-M. ADEQUAÇÃO.
ÍNDICE MANTIDO. TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS DE 12%
AO ANO. POSSIBILIDADE. VERBA HONORÁRIA ADEQUADA.
SENTENÇA MANTIDA. APELO PARCIALMENTE CONHECIDO E,
NESTA PARTE, DESPROVIDO. (TJ-PR 7913055 PR 791305-5 (Acórdão),
Relator: Ângela Khury Munhoz da Rocha, Data de Julgamento: 10/07/2012,
6ª Câmara Cível)

AÇÃO DE REVISÃO CONTRATUAL C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO -


JUROS COMPENSATÓRIOS - INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS - AUTO-
APLICABILIDADE DO ART. 192, § 3º, DA CF - LIMITE DE 12% AO
ANO - REVOGAÇÃO DA NORMA CONSTITUCIONAL PELA EC
40/2003 - INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA - MANUTENÇÃO DO
LIMITE DE 12% AO ANO - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA -
FIXAÇÃO À TAXA DE MERCADO - IMPOSSIBILIDADE -
SUBSTITUIÇÃO PELO INPC. (VOTO VENCIDO PARCIALMENTE).
(...). A partir da EC 40/2003, o limite legal de juros compensatórios continua
a ser de 12% ao ano por uma interpretação sistemática do Código Civil de
2002 (art. 591 c/c art. 406) e do Código Tributário Nacional (art. 161, § 1º).
(...)” (TJMG, AC 2.0000.00.487523-8/000, Rel. Des. Elpídio Donizetti,
Décima Terceira Câmara Cível, Data do julgamento: 02/06/2005).

“ APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO C/C


CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO C/C COMPENSAÇÃO DE
VALORES – JUROS REMUNERATÓRIOS – CONTRATO PACTUADO
POSTERIORMENTE À EMENDA CONSTITUCIONAL N. 40/2003, QUE
REVOGOU O § 3º DO ART. 192 DA CARTA POLÍTICA – LIMITADOS
AO PERCENTUAL DE 12% AO ANO, NOS TERMOS DOS ARTS. 591 E
406 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002 C.C. O § 1º DO ART. 161 DO CÓDIGO
TRIBUTÁRIO NACIONAL – INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA
PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN PEIUS – IMPOSSIBILIDADE DE
COBRANÇA DE COMISSÃO DE PERMANÊNCIA – APLICAÇÃO DO
IGPM-FGV – CAPITALIZAÇÃO MENSAL – VEDADA – RECURSO
IMPROVIDO. Nos contratos de mútuo feneratício formalizados após a
Emenda Constitucional n. 40, de 20 de maio de 2003, que revogou o § 3º do
art. 192 da Carta Magna, os juros remuneratórios não podem ser superiores
ao percentual de 12% ao ano, tendo em vista que a taxa legal atualmente
fixada pelos arts. 591 e 406 do novel Código Civil c.c o § 1º do art. 161 do
Código Tributário Nacional, é de 1% ao mês. (...)” (TJMS, Apelação Cível -
Ordinário - N. 2007.028539-3/0000-00 – Corumbá, Rel. Des. Paschoal
Carmello Leandro, 4ª Turma Cível, DJ 16.10.2007).
ADMINISTRATIVO. CIVIL. CONTRATOS BANCÁRIOS. REVISÃO.
LIMITAÇÃO DA TAXA DE JUROS. CONTRATO FIRMADO APÓS A
VIGÊNCIA DO NOVO CCB. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA.
LEGALIDADE. CUMULAÇÃO. INVIABILIDADE. MULTA
CONTRATUAL. 1. Os contratos bancários em geral estão na zona de
incidência da regra acerca dos juros remuneratórios prevista no art. 591 do
novo CCB, seja porque não mais existe a demarcação constitucional - art.
192, § 3º da CF/88 - que reclamava regulamentação do tema via de lei
complementar, seja porque a ressalva das instituições financeiras ofenderia o
princípio da isonomia. 2. Aplicáveis à espécie juros compensatórios de 1% ao
mês, de forma não capitalizada, conforme o Enunciado nº 20 do STJ: “ Art.
406: a taxa de juros moratórios a que se refere o art. 406 é a do art. 161, §1º,
do Código Tributário Nacional, ou seja, 1% (um por cento ao mês). (...)”
(TRF 4, AC 2001.70.00.023552-6, Rel. Luiz Carlos De Castro Lugon,
Terceira Turma, DJU DATA:27/09/2006 página: 749).

Nada obstante o acima exposto, conforme já citado acima,


a Demandada cobrou do Autor a título de juros remuneratórios o percentual
1,71% ao mês, e 22.56% ao ano, valor este injusto e ilegal.

Desta feita, a taxas de juros nos patamares praticados pela


Ré contrariam a função social do contrato, devendo ser revistos pelo Douto
Julgador, na limitação de 12% (doze por cento) ao ano, sob pena de ocorrer
enriquecimento ilícito por parte da Instituição Bancária.

Caso não seja esse o entendimento do Douto Julgador, que


os juros remuneratórios devem sofrer a limitação de 12% (doze por cento)
ao ano, o que não se espera, cumpre esclarecer que mesmo assim, os juros
remuneratórios cobrados no contrato de financiamento estão acima da
média do mercado, basta uma análise da tabela em anexo, que foi extraída
do site do Banco Central do Brasil, onde estipula os juros anuais devido a
cada ano.

De igual entendimento estão as jurisprudências abaixo


colacionadas, in verbis:

CONTRATO BANCÁRIO. AÇÃO REVISIONAL. ARRENDAMENTO


MERCANTIL. RECURSO ESPECIAL. TEMPESTIVIDADE. VIOLAÇÃO
DO ART. 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. DISPOSIÇÕES
ANALISADAS DE OFÍCIO.
IMPOSSIBILIDADE.JUROSREMUNERATÓRIOS. LIMITAÇÃO
AFASTADA. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. PACTUAÇÃO
EXPRESSA.DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. PRESSUPOSTO NÃO
EVIDENCIADO. JUROS MORATÓRIOS. MULTA CONTRATUAL.
LICITUDE DA COBRANÇA. REPETIÇÃO DO
INDÉBITOECOMPENSAÇÃO.POSSIBILIDADE.1. Quando não forem
interpostos embargos infringentes, o prazo relativo à parte unânime da
decisão terá como dia de início aquele em que transitar em julgado a decisão
por maioria de votos (art. 498, parágrafo único, do CPC).2. Não há por que
falar em violação do art. 535 do CPC quando o acórdão recorrido, integrado
pelo julgado proferido nos embargos de declaração, dirime, de forma
expressa, congruente e motivada, as questões suscitadas nas razões
recursais.3. Não cabe ao Tribunal de origem revisar de ofício cláusulas
contratuais tidas por abusivas em face do Código de Defesa do
Consumidor.4. A alteração da taxa de juros remuneratórios pactuada em
mútuo bancário depende da demonstração cabal de sua abusividade em
relação à taxa média do mercado.5. Nos contratos bancários firmados
posteriormente à entrada em vigor da MP n. 1.963-17/2000, atualmente
reeditada sob o n. 2.170-36/2001, é lícita a capitalização mensal dos juros,
desde que expressamente prevista no ajuste.6. Não evidenciada a abusividade
das cláusulas contratuais, não há por que cogitar do afastamento da mora do
devedor.7. Na linha de vários precedentes do STJ, é admitida a cobrança dos
juros moratórios nos contratos bancários até o patamar de 12% ao ano, desde
que pactuada.8. A jurisprudência do STJ está consolidada no sentido de
permitir a compensação
de valores e a repetição do indébito sempre que constatada a cobrança
indevida do encargo exigido, sem que, para tanto, haja necessidade de se
comprovar erro no pagamento.9. A multa de mora é admitida no percentual
de 2% sobre o valor da quantia inadimplida, nos termos do artigo 52, § 1º, do
CDC.10. Satisfeita a pretensão da parte recorrente, desaparece o interesse de
agir. 11. Agravo regimental provido. (STJ - AgRg-Ag 1.028.568; Proc.
2008/0061220-5; RS; Quarta Turma; Rel. Min. João Otávio de Noronha;
Julg.
27/04/2010; DJE 10/05/2010) .

Dessa forma, em qualquer ângulo que se analise a questão,


é válido perceber, que a Requerida está extrapolando a taxa média de juros
de operações de crédito para aquisição de veículos, o que só vem a
demonstrar a sua má-fé em onerar o Autor, que nesse caso é elo mais fraco
da relação jurídica ora contraposta.

Diante o exposto, caso não seja o entendimento de V.Exª


em aplicar a revisão da taxa de juros remuneratórios no patamar de 12%
(doze por cento) ao ano, o que se admite apenas a título de argumentação,
requer que seja aplicado a taxa de juros remuneratórios à época da
pactuação do contrato de financiamento bancário, conforme a tabela do
Banco Central do Brasil que está em anexo.

2.4 – DA RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO EM DOBRO


No caso em tela, foram cobrados juros capitalizados, o que
destoa completamente ao que preconiza da Súmula 121 do Supremo
Tribunal Federal, a qual afirma que: “É vedada a capitalização de juros,
ainda que expressamente convencionada”.

Ademais, a Ré ainda cobrou juros remuneratórios acima do


percentual legalmente permitido, o que evidencia a má-fé da instituição
financeira em onerar ainda mais o Autor, violando assim o princípio da boa-
fé objetiva e da função social do contrato.

Nas situações como do caso em concreto, o Código de


Defesa do Consumidor autoriza a restituição em dobro, conforme preceitua
o parágrafo único do art. 42º, ipsis litteris:

Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto


a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou
ameaça.

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito


à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em
excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de
engano justificável.

Assim, de acordo com a planilha financeira em anexo, o


Autor faz jus quanto a repetição de débito em dobro o valor de R$
15.655,50 (quinze mil, seiscentos e cinquenta e cinco reais e cinquenta
centavos).

Caso não seja esse o entendimento doe VExa, o que não


espera, requer a restituição simples das parcelas pagas indevidamente que
perfaz na presente data a importância de R$ 7.827,75 (sete mi, oitocentos e
vinte e sete reais e setenta e cinco centavos), com juros e correção
monetária até o efetivo pagamento.
2.5 – DA ADEQUAÇÃO DAS PARCELAS

Na hipótese dos autos, está cristalino a cobrança


exacerbada por parte da Requerida no financiamento bancário.

Insta registrar, que o Autor está adimplente com o referido


financiamento, tendo pagado até a presente data 26 (vinte e seis) das 60
(sessenta) parcelas do financiamento, restando apenas 34 (trinta e quatro)
parcelas para a quitação do contrato.

O Autor não possui a pretensão de rescindir o contrato de


financiamento, contudo o objetivo é adequar as taxas de juros a percentuais
justos, que não onerem demasiadamente o Contratante, cumprindo-se
assim, a função social do contrato.

Diante o exposto, requer o Autor que as parcelas do


presente contrato de financiamento sejam adequadas de acordo com a lei,
conforme os valores da Tabela Financeira, anexada a presente exordial.

2.6 – DO DANO MORAL

Por todo exposto, Excelência, no caso em apreço,


indubitavelmente, a conduta da Ré configura-se evidente prática do ato
ilícito, uma vez que sabia ser abusiva a cobrança dos encargos acima
citados e, ainda assim, tendo sido alertada em várias ocasiões pelo Autor,
resolveu mantê-la.

Esse comportamento onerou seriamente o Autor, na medida


que, na época, por ausência de recursos, foi obrigado a incluir essa
diferença no financiamento aprovado junto a Ré, ocasionando um parcela
mensal maior do que a realmente devida legalmente.

A indenização por danos morais não visa somente à


reparação dos danos sofridos pela vítima do ato danoso, mas também inibir
a prática de outros atos do mesmo porte pela parte que foi condenada a
indenizar, com fins não somente sancionatórios, mas com viés educativo.

E, justamente, para coibir condutas como a da Ré é que o


artigo 5º, incisos V e X, da CRFB de 1988 prescreve:

“É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além de


indenização por dano material, moral ou à imagem” (negritos nossos).

“São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação” (negritos nossos).

De igual modo, prescrevem os artigos 186 e 927do Código


Civil, in verbis:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar ano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.

[...]

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts.186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.

Com efeito, por expressa previsão do texto constitucional e


do Código Civil, fica assegurado ao Autor o direito à indenização pelos
danos morais por ele experimentados, em especial, pela postura injusta e
ilegal adotada pela Ré.

Assim, considerando o caráter educativo que representa a


indenização por dano moral, a Requerida deve ser condenada a pagá-la,
pois representa medida eficaz para que não volte a praticar o ato ilícito,
observando-se, para tanto, sua capacidade econômica e a consequente
razoabilidade do valor arbitrado.

Cumpre mencionar, que a indenização por danos morais


deve observar o mal-estar experimentado pelo indivíduo, desgostos,
aflições interrompendo seu equilíbrio psíquico, o que constitui causa
suficiente para a obrigação de reparar o dano moral.

O mero ato de o Autor ter sido enganado pela instituição


financeira é fato gerador de sentimentos negativos, além de prejuízos
financeiros, como, por exemplo, o valor que poderia ter sido percebido caso
a quantia paga a maior à instituição financeira tivesse sido aplicada em
outro investimento, como popança, a aquisição de casa própria, entre
outros.

Visa-se, assim, com a indenização por danos morais


restabelecer o equilíbrio no mundo fático rompido pelas consequências da
ação lesiva e ilícita da Ré, porque interessa à sociedade a preservação da
ordem existente e a defesa dos valores reconhecidos como fundamentais na
convivência humana.

Diante de todo o exposto, é imperativo fixar indenização


por danos morais em favor do Requerente, a fim de disciplinar e punir a
Requerida, com o objetivo de que tais condutas não sejam mais cometidas.

3 – DOS REQUERIMENTOS

Por todo o exposto, vem o Autor respeitosamente perante


V.Exa., requerer o que segue abaixo:
a) Que seja a Ré citada, na pessoa do seu representante
legal, para, querendo, oferecer resposta, advertindo-
o acerca dos efeitos da revelia;

b) A inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º,


VIII do CDC, caso V. Exa, julgue necessário a
produção de outras provas ou documentos que não
estejam na posse do Requerente, ante a sua
hipossuficiência técnica e econômica;

c) No mérito, que sejam JULGADOS


PROCEDENTES OS PEDIDOS FORMULADOS
PELO AUTOR, e, via de consequência:

c.1) excluir do encargo mensal, os juros


capitalizados;
c.2) reduzir os juros remuneratórios ao
percentual de 12% (doze por cento) ao ano, ou
caso não seja o entendimento de V.Exª, o que
não se espera, a fixação dos juros em comento à
taxa média de mercado à época da assinatura do
contrato de financiamento;
c.3) a adequação das parcelas vincendas,
conforme os valores apontados na tabela em
anexo a presente inicial;
c.4) a condenação da Ré ao pagamento à título
repetição do indébito em dobro, ou caso não seja
esse o entendimento do Douto Julgador, o que
faz apenas a título de argumentação, a
restituição simples;
c.5) a condenação da Demandada ao pagamento
a títulos de Danos Morais, valor esse a ser
arbitrado por V.Exª;

d) Condenar a Ré ao pagamento das custas processuais


e dos honorários sucumbenciais na base de 20%
(vinte por cento) sobre o valor da causa.

Por fim, protesta por todos os meios de provas admitidos


em Direito, em especial, prova testemunhal, pericial, documental e
depoimento pessoal dos prepostos da Ré.

Atribui-se à causa o valor de R$ 20.199,05 (Vinte mil,


cento e noventa e nove reais e cinco centavos)

Vitória, 20 de novembro de 2013

ADVOGADA

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