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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara Cível da Comarca de [ ]

[ ], brasileiro, casado, [ ], portador da cédula de identidade nº [ ]/PR, inscrito no CPF/MF sob


nº [ ], residente e domiciliado na Rua [ ], nº [ ], Cep [ ], na Cidade e Comarca de [ ], vem
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu advogado (instrumento de
mandato anexo – doc. 01) – com endereço profissional, para fins do disposto no art. 39, inciso I, do
Código de Processo Civil, situado na Rua [ ], onde recebe intimações –, propor a presente

AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO C/C


REPETIÇÃO DE INDÉBITO COM PEDIDO INCIDENTAL DE TUTELA ANTECIPADA

em face de BV FINANCEIRA S.A. CREDITO FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO, instituição


financeira inscrita no CNPJ/MF sob nº 01.149.953/0001-89, com sede na Av. das Nações Unidas, nº
14.171, Torre A, 8º andar, cj. 82, Vila Gertrudes, Cep 04.794-000, na Cidade e Comarca de São Paulo-SP
– onde se requer seja citada pela via postal –, o que faz com base nas razões de fato e de direito que
adiante expõe.

I. PRELIMINARES

I.1. INTIMAÇÕES E NOTIFICAÇÕES

De plano, o Autor requer que todas as futuras notificações e intimações referentes aos presentes
autos no Diário da Justiça, salvo aquelas de caráter personalíssimo, sejam endereçadas ao seu procurador,
com inscrição na OAB/[ ] sob nº [ ].

I.2. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

Nos termos do art. 5º, inciso LXXIV, da Constituição Federal, o Estado prestará assistência
judiciária integral e gratuita aos que não tenham suficientes recursos, estando a Lei nº 1.060/50 a aduzir
que o beneficiário deverá assim afirmar, mediante declaração.

O demandante faz manutenção de eletrônicos como profissional autônomo, não tendo


rendimentos fixos, sendo certo que sua renda mensal não ultrapassa 2,44 salários-mínimos federais,
sendo diversos os gastos e despesas mensais em que incorre, como faz prova a conta de energia elétrica e
os próprios comprovantes de pagamento do contrato de financiamento adiante discutido (doc. 02). Assim,
não reúne condições de arcar com as custas processuais, honorários periciais e emolumentos decorrentes
do presente feito, sem prejuízo do sustento próprio e de sua família (doc. 02), acostando ao pedido a
declaração a que alude o art. 4º da Lei nº 1.060/50.

Pelo exposto, requer, como medida de justiça, e com base nos arts. 3º e 4º da Lei nº 1.060/50, a
concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita.

II. DOS FATOS

II.1. SÍNTESE

Em abril de 2010 o Autor firmou com a Ré contrato de financiamento (cédula de crédito bancário) ,
pelo qual financiou o veículo Audi A3 1.8 ano 2000, colocado à venda ao valor de R$35.500,00, tendo
efetuado pagamento a título de “entrada” (prestação à vista), de modo que o valor liberado do crédito
(“valor líquido do crédito”) seria o de R$19.000,00, a ser pago em 60 meses, com a aplicação de juros de
1,72% ao mês.

II.2. COMPOSIÇÃO DO DÉBITO E PÓS-CONTRATAÇÃO

Ao analisar as prestações mensais e a cópia do contrato posteriormente lhe enviada, verificou o


Autor que o valor efetivamente financiado não condizia com o contratado, tampouco a taxa de juros era
aquela efetivamente anunciada e contratada. Ao obter cópia do instrumento de contrato (doc. 03), notou
que lhe estavam sendo exigidos juros remuneratórios (e, de consequência, os moratórios) calculados não
sob o montante do valor que de fato deveria ter sido financiado, mas sim sob um importe vultoso
composto por “tarifas” e encargos abusivos.

Verificou a existência de diversas cláusulas abusivas, bem como que lhe estava sendo exigido,
mediante financiamento diluído nas parcelas, o pagamento de “tarifa de cadastro”, “de avaliação”,
“repasse de despesas com serviços de terceiros” e “registro de contrato”, além do repasse de IOF, este
calculado tendo como base o valor global com a adição da “tarifa de cadastro”.

Assim, verificou-se que o valor financiado, frente ao número de meses e a taxa de juros mensal
anunciada, encontrava-se viciado pelo efeito capitalização (em que pese a inexistência de informação clara
ao consumidor neste sentido), o que gerou um valor de parcela completamente dissonante do contratado,
ante os encargos que indevidamente compuseram o importe total (doc. 04). Observou, ainda, que nos
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casos de pagamento extemporâneo, os encargos de mora exigidos e efetivamente recebidos pela Ré eram
ilegais, nos termos da lei e da jurisprudência do Egrégio Supremo Tribunal Federal e na C. Corte Cidadã.

Nestas condições, dentre diversas ilegalidades, esteve o Autor a quitar as 9 primeiras parcelas do
financiamento, estando a Ré a lhe cobrar o pagamento efetivo pelo valor do financiamento, de
R$19.000,00 o importe total de R$34.023,00, ou seja, quase duas vezes o valor financiado: em
prevalecendo as exigências impostas pela Ré, terá ao final pago cerca de R$50.523,00 (vincendas
adicionadas ao total já pago em financiamento, mais o valor de entrada) por um bem hoje avaliado em
não mais do que R$21.471,00 (tabela FIPE – doc. anexo), entregando pelo principal o importe de
R$15.023,00 apenas em acessório, ou seja, quase duas vezes o próprio principal!

De plano, verifica-se que, no curso do contrato, a instituição financeira repassou ao consumidor


custos inerentes à sua própria atividade econômica, além de praticar juros mensalmente capitalizados –
sem pleno e claro conhecimento e consentimento do consumidor - onerando-o excessivamente. De se
destacar que a própria Cédula (anexo – doc. 03) induziu o Autor a crer que pagaria a taxa de juros
mensal de 1,72% a.m., quando as taxas efetivamente aplicadas atingiram nada mais nada menos que
22,71% de juros ao ano, sendo certo que taxa de juros mensal, multiplicada por doze, bem demonstra
a ocorrência de juros com capitalização mensal. Nestas condições, se elevou unilateralmente o valor do
contrato, de forma que tal equação tornou o pacto oneroso a ponto de causar desequilíbrio contratual, vez
que obriga o consumidor a pagar toda sorte de encargos, sofrendo ao final da contratação diminuição
significativa de seu patrimônio, pagando duas ou até três vezes o valor de mercado do veículo, em
detrimento do enriquecimento sem causa do banco Réu.

Em apertada síntese, exige a Ré juros remuneratórios capitalizados mensalmente com base no


sistema de juros sobre juros gerados de parcela periódica em valor fixo – sistema price de amortização
(estes calculados sob um montante ‘inflado’ pela cobrança de ‘tarifas’), encargos de mora ilegais, com
juros moratórios cumulativos (“juros sobre juros” ou “efeito capitalização-anatocismo” de juros
moratórios), além de juros de mora em patamar superior a 1% (um por cento) ao mês e comissão de
permanência indevidamente cumulada. Não obstante, efetuou o repasse do já mencionado IOF, este
aferido com base de cálculo composta por “tarifa de cadastro” e “de avaliação”, “repasse de despesas com
serviços de terceiros” e “registro de contrato” e, ainda, em alíquota superior à permitida. Não contente,
fez incidir juros mensais capitalizados sobre exigência abusiva (“tarifas”), elevando mês a mês o valor da
parcela.

Conforme Vossa Excelência poderá verificar após detida análise dos comprovantes de pagamento
anexos, a parte demandante sempre efetuou os pagamentos, de modo regular e contínuo, em que pese os
pesados valores e altos encargos de mora exigidos (abusivos e ilegais, conforme adiante se verá). Assim,
propõe-se a manter a contratação, contudo não pode aceitar o financiamento, mês a mês, de referidas
“tarifas”, requerendo outrossim jurisdição que lhe permita afastar a mora nos moldes legais, depositando
regularmente a parcela mensal recalculada com a taxa de juros mensal efetivamente contratada,
extirpado-se o efeito capitalização mensal e a incidência das “tarifas”.

A propósito, até mesmo o termo de adesão consubstanciado no pré-contrato fora formulado em


completo desrespeito à norma plenamente vigente do art. 54, §§ 3º e 4º do CDC (que estabelece que
“os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e
legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua
compreensão pelo consumidor”, e que “cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor
deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão”), nada ali se
referindo à capitalização mensal de juros (sistema price) encontrando-se eivado de cláusulas
restritivas de direitos, nulas de pleno direito e contrárias à boa-fé e ao sistema de proteção ao
consumidor, tudo a colocar o consumidor em posição de clara desvantagem.

De fato, o item 13 das cláusulas e condições gerais do contrato de adesão (Cédula de Crédito
Bancário) em exame (redigido em fonte de tamanho minúsculo e em linguajar obscuro ao
consumidor médio), estabelece que “sobre o valor total do crédito incidirão juros anuais efetivos no
percentual indicado no item 5.1 (...) que decompostos constituem a taxa mensal efetiva ”, nada aduzindo
sobre a capitalização mensal, sendo forçoso reconhecer que - ainda que fosse permitida – a capitalização
in casu sequer foi expressamente pactuada.

Desta forma, não resta ao Autor alternativa senão buscar auxílio na sabedoria de Vossa
Excelência, visando revisar o contrato e as exigências dele decorrentes, extirpando-se as cobranças
métodos e previsões contratuais abusivas para ao final formular pedidos a fim de tutelar seus direitos.

III. MÉRITO

III.1. DA APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

MM. Magistrado, conforme jurisprudência já pacificada nos Tribunais pátrios, as normas do Código
de Defesa do Consumidor são aplicáveis às instituições financeiras, desde que a pessoa física ou jurídica
adquira os bens ou contrate a prestação de serviços na condição de destinatária final, o que certamente se
opera no caso em discussão.
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A situação de fato em análise indica a existência de uma relação de consumo, em que são partes
Autor e banco Réu, tendo o primeiro se utilizado da prestação de serviços creditícios disponibilizados no
mercado pelo segundo, mediante termo de adesão a contrato não negociável, fazendo-o com o objetivo de
obter para si bem durável, qual seja, veículo automotor.

Assim, à luz do disposto nos arts. 2º e 3º, §§1º e 2º do Código de Defesa do Consumidor, bem
como em vista da jurisprudência consolidada no Egrégio Superior Tribunal de Justiça (REsp nº 437.660/SP,
REsp nº 472.594/SP e REsp nº 264.592/RJ, ensejadores da edição do Enunciado de Súmula nº 297 do
STJ), se fazem aplicáveis à presente demanda os preceitos consumeristas, com todos os seus
consectários, inclusive no que pertine à formação do contrato (art. 54, § 3º do CDC), à facilitação da
defesa do consumidor e a inversão do onus probandi, nos termos do art. 6º, inciso VIII, do CDC, o que
desde logo se postula.

É entendimento mais do que pacífico que a relação travada entre as partes é de consumo, a teor
do que dispõe a súmula 297 do Superior Tribunal de Justiça, in verbis: "O Código de Defesa do
Consumidor é aplicável às instituições financeiras".

É sabido que a Lei nº 8.078/90 (CDC) trouxe inovações importantes no que diz respeito à função
social intrínseca a todo contrato. Seu art. 6º concede a prestação jurisdicional ao consumidor no sentido
de rever ou modificar as cláusulas desproporcionais, onde se lê:

São direitos básicos do consumidor: (...) V - a modificação das cláusulas


contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em
razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas

A experiência nesse campo do direito parece ter sido fundamental para consolidar a inclusão, nos
contratos bilaterais, de mais dois princípios, quais sejam, o da probidade e o da boa-fé. O princípio da
pacta sunt servanda deve ser empregado com a parcimônia necessária, de modo a não afastá-lo dos
princípios da boa-fé e da proteção ao consumidor contra a onerosidade excessiva decorrente de práticas
ilegais e abusivas, constantemente perpetradas por grandes instituições financeiras, caso da Ré. Tal
assertiva decorre especialmente do caráter adesivo da contratação, onde não cabe ao consumidor discutir
qualquer cláusula, mesmo porque, in casu, sequer lhe foi dado conhecimento acerca destas.

Em contratações desta estirpe, o consentimento do aceitante se apresenta pura e tão-somente a


título de adesão em bloco ao conteúdo preestabelecido. Ary Brandão de Oliveira, em sua obra “Do
Contrato de Adesão”, assinala que Georges Ripert, ao falar do Código Civil Alemão, já lecionava que " em
certos contratos a posição das partes é tal que um dos contratantes é obrigado a tratar das condições que
lhes são oferecidas e impostas pelo outro. Dá-se a tais contratos o nome de Contratos de Adesão". Neste
passo, uma das principais características dos contratos é relativizada, qual seja, a livre estipulação das
disposições pelas partes.

Neste tocante, sem deixar transparecer quaisquer dúvidas, o novel Código Civil estabeleceu de
forma expressa, que:

Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias,


dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. (art. 423)

Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia


antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio. (art. 424)

Assim, não há dúvidas quanto à possibilidade de discussão do contrato, vez que aplicáveis as
disposições contidas no CDC à revisão de contratos firmados por instituições financeiras, consoante a
Súmula 297 do STJ, fato este que acarreta relativização dos princípios inerentes ao direito privado, como o
pacta sunt servanda (Neste sentido, dentre muitos precedentes: STJ, AgRg no REsp 1018282/MS, TJ-PR.
Apelação Cível nº 0630853-2, e TJ-PR. Apelação Cível nº 0672.189-7).

Neste sentido, tendo em vista a hipossuficiência do consumidor e sua proteção na formação do


contrato, o Código de Defesa do Consumidor veio também para relativizar o teor das cláusulas cuja escrita
dificulta a compreensão e o sentido do seu alcance. Busca-se estabelecer uma relação de ampla e irrestrita
informação, onde torna-se possível ao contratante tomar prévio conhecimento de toda e qualquer
consequência lógica que possa advir do instrumento. Assim aduz o Autor com base termos dos arts. 46 e
47 do CDC, in verbis:

Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os


consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento
prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem
redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.
Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais
favorável ao consumidor.
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Art. 48. As declarações de vontade constantes de escritos particulares, recibos e


pré-contratos relativos às relações de consumo vinculam o fornecedor, ensejando
inclusive execução específica, nos termos do art. 84 e parágrafos

Salienta-se uma vez mais que as condições gerais do contrato de adesão entregue ao Autor não
são passíveis de negociação, e encontram-se elaboradas em contrariedade à lei, especificamente o art. 54,
§§3º e 4º, do CDC, que estabelecem que:

os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com


caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao
corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor. (...)
cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas
com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.

Ainda que não seja o caso dos autos (onde se impugnam especificamente as cobranças e práticas
ilegais e abusivas), convém salientar que precedentes do STJ firmaram entendimento no sentido de que é
possível ao juiz reconhecer, de ofício, o caráter abusivo de cláusulas contratuais, anulando-as, por se
tratar, nos termos do art. 51, IV, do CDC, de nulidade de pleno direito. Neste exato sentido são os
seguintes julgados da E. Corte Cidadã: REsp 248.155/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ
07/08/2000 e REsp 90162/RS, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ 24/06/1996.

Assim, à luz do novo sistema de defesa do consumidor ensejado pela Constituição Cidadã, ainda
que pactuadas no bojo de um contrato de adesão, são passíveis de invalidação as cláusulas eivadas de
abusividade ou ilegalidade. Com efeito, cláusulas abusivas foram impostas no contrato de adesão
originário da presente demanda, vez que o consumidor, in casu, viu-se compelido a arcar com juros
remuneratórios e moratórios mensalmente capitalizados e “tarifas” e repasses diversos. Todos, inexigíveis.

Ainda no seio do CDC, merece destaque o seu art. 51, cujo teor disciplina a nulidade das cláusulas
que transferem ao consumidor os custos operacionais do fornecedor, assim como aquelas que permitam
ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral, subtraiam do consumidor
a possibilidade de ter reembolsado o valor já pago, ou ainda as que dão a opção de cancelar o contrato
sem dar igual opção ao consumidor, dentre outras hipóteses, conforme se infere de sua dicção infra:

Art. 51 - São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais


relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga,
nos casos previstos neste Código;
III - transfiram responsabilidades a terceiros;
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora
obrigando o consumidor;
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço
de maneira unilateral;
XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem
que igual direito seja conferido ao consumidor;
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua
obrigação, sem que igual direito Ihe seja conferido contra o fornecedor;
XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a
qualidade do contrato, após sua celebração;

Ainda, em contrariedade à legislação e a boa-fé contratual, não houve explicitação acerca de quais
serviços e/ou produtos se referiam os repasses de “tarifas”, nem mesmo foi informado ao demandante que
o método de aplicação da taxa de juros mensal se daria pelo sistema de capitalização mensal de juros
(sistema price), o que levou o consumidor-Autor a crer que pagaria taxa de juros mensal de 2,17 % a.m.,
o que não ocorreu. Tudo ao arrepio dos primados da transparência e da plena informação nas relações de
consumo (arts. 4º e 6º, inciso III, do CDC).

Assim, desde logo se postulando a aplicação à presente demanda dos consectários jurídicos
decorrentes da relação consumeristas, inclusive com a inversão do ônus da prova, haja vista o fumus boni
iuris que permeia as teses da parte autora, passa-se à análise das ilegalidades perpetradas pela Ré. Senão
vejamos.

III.2. DA ONEROSIDADE CONTRATUAL - PRINCÍPIOS DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO E DA


BOA-FÉ CONTRATUAL (ARTS. 113, 421 A 424, TODOS DO CÓDIGO CIVIL).

MM. Magistrado, com a renovação da teoria contratual, a partir da superação dos paradigmas
clássicos da teoria geral dos contratos, busca-se o reequilíbrio das partes contratantes com aplicação do
princípio da boa-fé. No caso em análise, o só fato de se constatar que o valor total exigido a título de
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pagamentos é capaz de comprar, ao final da contratação, quase três veículos iguais ao financiado, por si
só demonstra a prática agressiva de imposição de encargos e juros abusivos. Não obstante a cobrança de
“tarifas” sob diversos nomes somando nada menos que R$1.586,30 financiados mês a mês, incidindo
juros capitalizados mensalmente sobre tal quantia, inobstante os adicionais exorbitante pagos nos casos
de mora, à toda prova se evidencia a onerosidade a que tem sido submetido o demandante. Senão
vejamos.

III.2.1. DA ILEGALIDADE CONSISTENTE NA EXIGÊNCIA DA RUBRICA “TARIFA DE CADASTRO”,


“TARIFA DE AVALIAÇÃO”, “SERVIÇOS DE TERCEIROS” E “REGISTRO DE CONTRATO” EM
CONTRARIEDADE AO SISTEMA DE PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR E À JURISPRUDÊNCIA
DOMINANTE DAS CORTES SUPERIORES.

MM. Magistrado, de início, cumpre ressaltar que as cobranças embutidas no contrato, referentes a
“tarifa de cadastro” e “de avaliação”, “repasse de despesas com serviços de terceiros” e “registro de
contrato” foram impostas de forma nebulosa e obscura, e sendo cláusulas restritivas nulas de pleno
direito, deveria a Ré ao menos ter o zelo de elaborá-las nos moldes dos já mencionados §§3º e 4º do art.
54 do CDC, prestando informação inequívoca ao contratante.

Ainda que assim fosse, tratam-se de cláusulas nulas de pleno direito, vedadas pelo art. 51 e
outros, do CDC, devendo sua exigência ser declarada abusiva, sendo mais do que pacífico o entendimento
segundo o qual é plenamente possível a discussão de cláusulas abusivas e/ou ilegais ainda que
expressamente contratadas (neste sentido, dentre milhares, o seguinte precedente: TJPR - Apelação Cível
nº 1500165).

Tais cobranças embutidas nas parcelas mostram-se ilegais, pois não se referem a qualquer serviço
prestado, evidenciando um plus que implicou na majoração dos encargos onerando o Autor excessiva e
imotivadamente, ampliando de forma ilícita os já expressivos lucros auferidos pela Ré.

Note-se a partir da perícia anexa que apenas e tão-somente a título de “tarifas”, a


parcela apresentada ao Autor elevou-se resultando em acréscimo mensal de R$42,60 ao mês
(doc. 04, planilhas 1 a 2). A propósito, é notório que em um empréstimo de R$19.000,00 para
período de 60 meses, a taxa de juros mensal de 1,72 % a.m. jamais alcançaria o importe de
R$567,05 mensais.

Note-se que, no contrato de adesão, a taxa de juros a.m. supostamente contratada é de


1,72%, enquanto que a taxa a.a. é de 22,71%!

A cobrança dessas “tarifas” (encargos aleatoriamente nominados) afigura-se como um repasse, ao


consumidor, de custos administrativos intrínsecos à atividade empresarial financeira, todos de
responsabilidade da Ré, não sendo lícito e de boa-fé repassá-los à parte autora, sob qualquer hipótese. A
emissão de cadastro para relacionamento, e as despesas que possui para enviar um simples carnê de
cobranças são intrínsecas à própria atividade de financiamento e, por isso, afigura-se abusivo que sejam
transferidas ao financiado, sendo nulas de pleno direito, na medida em que estabelecem obrigações
consideradas iníquas, abusivas, colocando o consumidor em desvantagem exagerada, sendo
verdadeiramente incompatíveis com a boa-fé e a eqüidade, nos moldes do art. 51, inciso IV, do Código de
Defesa do Consumidor. Ressalte-se que a Ré “registro de contrato” de todo universo de seus clientes,
cabendo indagar: seria admissível que um registro de contrato importe em gastos de nada mais nada
menos que R$91,42 por consumidor? Como se chegou a tal valor? e a “tarifa de cadastro”? gastam-se
R$509,00 para cadastrar o que? Evidente que a Ré se utiliza deste artifício para locupletar-se injustamente
às custas do consumidor. Conduta esta manifestamente abusiva, não obstante imoral. Neste sentido os
seguintes julgados:

“APELAÇÃO CÍVEL. REVISÃO DE CONTRATO. FINANCIAMENTO COM


ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. ENCARGOS CONTRATUAIS. TAC E TEC.
INCLUSÃO DE GRAVAME E TARIFA DE AVALIAÇÃO DE BENS.
AFASTAMENTO. DESPESAS REMUNERADAS PELA TAXA DE JUROS. IOF.
IMPOSSIBILIDADE DE COBRANÇA DE FORMA DILUÍDA. READEQUAÇÃO.
LIMITAÇÃO DE JUROS. ARTIGO 192, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
IMPOSSIBILIDADE DE SER ACOLHIDA. SÚMULAS 586 E 648 DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. POSSIBILIDADE DE COBRANÇA DA TAXA PACTUADA.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. VERIFICAÇÃO. NÃO PROPORCIONALIDADE ENTRE A
TAXA EFETIVA E NOMINAL. AFASTAMENTO. ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA. INVERSÃO.
RECURSO PROVIDO”. (TJPR - 17ª C.Cível - AC 0631914-4 - Londrina - Rel.: Des.
Stewalt Camargo Filho - Unânime - J. 27.01.2010)

“Os custos administrativos da operação creditícia, como de emissão do


boleto e de análise de crédito, não podem ser transferidos à parte
hipossuficiente da relação, sob pena de caracterizar evidente abusividade, já
que são inerentes à própria atividade da instituição financeira, e não guardam
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propriamente relação com a outorga do crédito". (TJPR - AC 392.643-6, 17ªCC,


re. Des. Renato Naves Barcellos, j. 18/07/2007).

“Já é assente a impossibilidade de cumular a comissão de permanência com os


juros moratórios. III - Uma vez verificada que a cobrança de tarifa de
emissão de carnê (TEC) e análise de crédito (TAC) se constituem em
cláusulas abusivas, por beneficiarem somente a instituição bancária, será
lícita a declaração da ilegalidade de sua cobrança”. (TJPR - AC 334.005-6,
16ª CC, rel. Des. Rubens Oliveira Fontoura, j.: 26/04/2006).

“A maioria dos contratos firmados para financiamento e/ou arrendamento


mercantil de veículos contém cláusula que atribui ao consumidor à
obrigação de pagar taxa bancária pela abertura de crédito. Entretanto, é
inegável a abusividade de tal cláusula, uma vez que a instituição
financeira, ao efetivar o contrato, deve fornecer ao consumidor todo o
necessário para que este arque com o pactuado. Desta forma, tais custos
devem ser suportados pela instituição financeira, pois decorrem da própria
atividade desenvolvida pela mesma, além do fato de que todos os contratos já
possuem em si os seus custos, conforme julgados in verbis: ‘"(...) I - É vedada a
capitalização de juros, exceto nos casos em que há previsão legal expressa. II -
Considerando que ao formalizar o contrato a instituição financeira deve
fornecer ao financiado todo o suporte material para que este cumpra a
sua obrigação, a cobrança de tarifa de emissão de carnê revela-se ilegal,
diante do disposto no artigo 51, inciso VI, do CDC. III - Os honorários
advocatícios, quando em consonância com o disposto nos §§ 3.º e 4.º do art. 20
do CPC, não se revelam inadequados, impondo-se sua manutenção". (Ap. Cível
379093-8 Rel. Rabello Filho 18ª CC DJU 13/04/2007)

“(...) Assim, tendo em vista a cobrança de encargos abusivos (tarifa de


abertura de crédito), faz-se necessário cálculo, a ser procedido quando da
liquidação da sentença, para verificar a existência de valores pagos a maior pela
apelante e, em sendo os mesmos evidenciados, é conseqüência lógica a
restituição do montante pago indevidamente ou compensação do saldo devedor,
caso existente. (TJPR - 18ª C.Cível - AC 0657857-4 - Foro Central da Região
Metropolitana de Curitiba - Rel.: Des. Roberto De Vicente - Unânime - J.
31.03.2010)

“(...) DESPESAS RELATIVAS A SERVIÇOS DE TERCEIROS. TARIFA QUE


REPRESENTA A TRANSFERÊNCIA DE CUSTOS ADMINISTRATIVOS
INERENTES A ATIVIDADE DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA PARA O
CONSUMIDOR. DESPESA QUE NÃO PODE SER TRANSFERIDA À PARTE
VULNERÁVEL DA RELAÇÃO. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA EQUIDADE.
REPETIÇÃO DO INDÉBITO. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. APELO 2
DESPROVIDO. 1. Tratando-se de cédula de crédito bancário, há lei especial (Lei
10.931/2004) autorizando a capitalização mensal de juros, a qual deverá ser
expressamente pactuada. 2. A diferença entre a taxa anual e o produto da taxa
mensal, para o mesmo período, caracteriza que os juros mensais foram
computados de forma capitalizada, e, ante a inexistência de expressa pactuação
(de forma clara e legível), os juros devem ser contados de forma simples. (TJPR -
17ª C.Cível - AC 0666873-7 - Foro Central da Região Metropolitana de Curitiba -
Rel.: Des. Lauri Caetano da Silva - Unânime - J. 06.04.2011)

Ora, é risível admitir que uma empresa do porte da Ré tenha despesas de vulto simplesmente
para cadastrar um cliente. Destaca-se que as “tarifas”, estão efetivamente sendo exigidas, sendo certo
que nada são senão um acréscimo elaborado a fim de aumentar o valor da parcela e gerar lucros à Ré. Os
“serviços de terceiroS”, aliás, nada mais é que o retorno financeiro dado pelo banco à concessionária de
veículos (comissão pelo uso da ‘bandeira’ do banco). Ora, descabe ao consumidor pagar o lucro da
parceira de vendas da Ré! Exigir que o ora consumidor arque com os lucros da loja parceira da Ré é
vilipendiar sobremaneira o consumidor. Da mesma forma, inadmissível exigir do consumidor o
ressarcimento da comissão dada pela Ré à sua preposta promotora de vendas, bem como o ressarcimento
pelo “registro do contrato”.

A inexigibilidade de tais cobranças vem sendo reiteradamente declarada no âmbito das Câmaras
Cíveis do Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná, havendo múltiplos precedentes neste sentido (TJPR - 17ª
C.Cível - AC 0666873-7 - Foro Central da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Des. Lauri Caetano da
Silva - Unânime - J. 06.04.2011).
Pg. 7 de 23

Assim posto, ante a ilegalidade consistente na cobrança de tais rubricas, requer, com fulcro no art.
51, inciso IV, do CDC, no art. 113 do Código Civil, e demais dispositivos cabíveis, seja declarada sua
inexigibilidade, condenando-se a Ré a devolver/compensar na forma simples o que já foi pago e a abster-
se de permanecer cobrando tais rubricas na parcela mensal do financiamento.

III.2.2. DA ILEGALIDADE INCIDENTE NA COBRANÇA DO IOF

MM. Magistrado, a operação financeira realizada entre as partes consubstancia-se em fato gerador
do IOF (art. 103, inciso V, da CF, e 63 e seguintes do CTN), sendo a base de cálculo composta pela soma
do capital emprestado com os juros totais cobrados, ou seja, principal somado a acessório (art. 64, inciso
I, do CTN, e IN nº 46/2001 da Receita Federal do Brasil).

Entretanto, não há cláusula que obrigue o Autor a arcar com referido tributo, e, ainda que assim
houver, trata-se de cláusula não informada de forma clara e ostensiva, e, ademais, potestativa, sendo
nula de pleno direito, vez que se impõe ao tomador do crédito a obrigação de arcar com os custos do
imposto que também incide sobre os juros (parcela remuneratória da Ré), de modo que o Autor se vê
obrigado a pagar parcela de imposto integral do IOF aplicado não apenas pelo crédito, mas também pelo
saldo devedor, incidindo juros sobre esta rubrica ao longo de toda a contratação.

A Lei nº 5.143/66, em seu art. 1º, assenta que o IOF incide nas operações de crédito realizadas
por instituições financeiras e seguradoras, e tem como fato gerador a entrega do respectivo valor ou sua
colocação à disposição do interessado.

No mesmo diploma legal, vê-se que a base do imposto, nas operações de crédito, é o valor global
dos saldos das operações (art. 2º, inciso I), sendo aplicável a alíquota é de 0,3% (art. 3º, inciso I), ao
passo que é contribuinte do imposto a financeira que realiza a operação (art. 4º, inciso I).

Ainda que se considerasse lícito o repasse, no caso em tela a alíquota aplicável seria a de
0,0082%, nos termos do art. 7º, a, 2., do Decreto nº 6.306/07, eis que ali se especifica a alíquota
incidente sobre a operação de crédito tal como a ora delineada. Contudo, a Ré, onerando ainda mais o
contrato, utilizou-se - de forma irregular e manifestamente abusiva - da regra do art. 6º do Decreto
nº 6.306/07, inadequada para o caso em exame, regra esta que aduz que "será cobrado à alíquota
máxima de um vírgula cinco por cento ao dia".

Novamente, vê-se que a Ré infringe o ordenamento jurídico nos menores detalhes, tudo para
elevar seus lucros às custas do consumidor incauto.

Muito embora seja, de plano, ilegal transferir ao adquirente final as despesas derivadas das
atividades do fornecedor, verifica-se, no caso, nítida duplicidade de cobranças.

Ora, no momento em que a instituição financeira estipula uma taxa de juros compensatórios pelo
financiamento concedido ao contratante, presume-se que toda e qualquer despesa derivada da atividade
do fornecimento de crédito está sendo ressarcida por tal encargo, pelo que a instituição financeira não
poderia estabelecer que além da taxa de juros remuneratórios caberia ao contratante efetuar ainda o
pagamento de valores que dizem respeito ao custo administrativo da operação, mesmo porque os juros
compensatórios abrangem o pagamento do IOF. De ressaltar que, sobre o valor do IOF
indevidamente repassado, incidiram os juros remuneratórios mensalmente capitalizados, com
juros compostos, igualmente indevidos.

Assim posto, no caso em tela, a cumulação da taxa de abertura de crédito e do IOF com os juros
remuneratórios coloca o consumidor em desvantagem exagerada, razão pela qual deve ser declarada a
nulidade da cobrança, na forma prevista no art. 51, inciso IV, do CDC.

Neste exato sentido é o seguinte precedente:

AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE FINANCIAMENTO GRANTIDO POR


ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. POSSIBILIDADE DE REVISÃO DE CLÁUSULAS
CONTRATUAIS ABUSIVAS. RELATIVIZAÇÃO DO PRINCÍPIO "PACTA SUNT
SERVANDA". CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. ABUSIVIDADE CARACTERIZADA.
INEXISTÊNCIA DE AMPARO LEGAL. INCONSTITUCIONALIDADE DA MP Nº 2170-
36, de 23/08/2001 DECLARADA PELO ÓRGÃO ESPECIAL DESTA CORTE.
COBRANÇA DE TAXA DE ABERTURA DE CRÉDITO. ABUSIVIDADE. BIS IN IDEM.
PRESUNÇÃO DE QUE TAL DESPESA É PLENAMENTE RESSARCIDA PELOS VALORES
COBRADOS A TÍTULO DE JUROS REMUNERATÓRIOS. IMPOSSIBILIDADE DE
CUMULAÇÃO DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA COM OUTROS ENCARGOS
MORATÓRIOS. IOF. COBRANÇA FASTADA. RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 18ª
C.Cível - AC 0756520-0 - Londrina - Rel.: Des. Carlos Mansur Arida - Unânime - J.
06.04.2011)
Pg. 8 de 23

(...) Também assiste razão ao recorrente no que se refere à cobrança da


taxa de abertura de crédito e do IOF. Embora não se vislumbre ilegalidade no
fato abstratamente considerado de transferir ao adquirente final as despesas
derivadas das atividades do fornecedor, verifica-se que no caso em apreço
existe nítida duplicidade de cobranças. No momento em que a instituição
financeira estipula uma taxa de juros compensatórios pelo financiamento
concedido ao contratante, presume-se que toda e qualquer despesa derivada da
atividade do fornecimento de crédito está sendo ressarcida por tal encargo.
Assim, a instituição financeira não poderia estabelecer que além da taxa de
juros remuneratórios caberia ao contratante efetuar ainda o pagamento de
valores que dizem respeito ao custo administrativo da operação. Mesmo porque,
o réu em nenhum momento intentou demonstrar que os juros
compensatórios não abrangeriam o pagamento das despesas supracitadas.
Logo, a cumulação da taxa de abertura de crédito e do IOF com os
juros remuneratórios coloca o consumidor em desvantagem exagerada,
razão pela qual deve ser declarada a nulidade da cobrança, na forma
prevista no artigo 51 inciso IV do CDC. (TJPR - 18ª Câmara Cível. Acórdão nº
189378 - Rel.: Des. Caros Mansur Arida - J. 22.06.2011)

De ressaltar que, não bastasse a abusividade da cobrança, a alíquota incidiu sobre o principal
financiado somado à “tarifa de cadastro”, “de avaliação”, “serviços de terceiros” e registro de contrato”,
valores estes também financiados, de modo que a base de cálculo encontra-se viciada, por estar composta
de valor não tomado a título de financiamento.

Ante o exposto, pugna pela declaração de nulidade de da transferência do ônus financeiro do IOF
ao Autor, em razão de ser a Ré a detentora do capital emprestado e beneficiária do lucro com a operação,
sendo remunerada pelos juros, condenando-se-a a restituir o valor e os juros sobre si aplicados. Única e
tão-somente no caso de desprovimento do pedido nos exatos termos acima formulados, requer, em
sede de pedido sucessivo (art. 289 do CPC), ante o princípio da eventualidade, pela aplicação da
alíquota de 0,0082% de IOF tendo como base de cálculo apenas o valor global financiado ( excluídas as
“tarifas” que venham a ser declaradas inexigíveis), para que tal rubrica (IOF) não reste financiada sob ela
incidindo juros remuneratórios.

III.2.3. DA CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS REMUNERATÓRIOS E DA UTILIZAÇÃO DE TAXA


DE JUROS SUPERIOR À CONTRATADA, EM RAZÃO DO SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO ADOTADO –
ENUNCIADO DE SÚMULA Nº 121 DO COLENDO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – PRECEDENTES

Não obstante a inclusão de “tarifa de cadastro”, “de avaliação”, “serviços de terceiros” e registro
de contrato” mês a mês, além do repasse do “IOF” no total financiado - no que desde logo se reitera
pelo expurgo do cobrado a maior -, verifica-se que a suposta mora merece descaracterização ante a
adoção de prática ilegal de cálculo de juros. Vê-se do contrato de fls. que houve a pactuação de taxa de
juros mensal de 1,72% ao mês, quando em verdade a Ré efetuou a cobrança efetiva da taxa anual que
monta a 22,71% de juros ao ano. Não obstante a capitalização escancarada, ante a simples
incongruência entre a taxa mensal e a taxa anual, de acordo com a perícia realizada por expert, ora
acostada (doc. 04), o percentual contratado de juros não foi respeitado.

A propósito, a capitalização mensal de juros é facilmente observada através da disparidade entre a


taxa mensal e a anual de juros. Sobre o tema, já decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná – TJ-PR:

“(...) A diferença entre a taxa anual e o produto da taxa mensal, para o


mesmo período caracteriza que os juros mensais foram computados de
forma capitalizada (...)” (TJPR – Apelação Cível nº 0642950-7 – 17ª Câmara
Cível, Rel. Des. Lauri Caetano da Silva, j. em 10.03.2010).

“(...) CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS EVIDENTE PELA SIMPLES


DIFERENÇA ENTRE A TAXA DE JUROS MENSAIS MULTIPLICADA POR DOZE
(36%) E A TAXA ANUAL (42,58%) – EXPURGO CORRETAMENTE
DETERMINADO - (...)” (TJPR – Apelação Cível nº 0599976-2 – 18ª Câmara
Cível, Rel. Des. Roberto De Vicente, j. em 04.11.2009).

De plano, deveria ter sido utilizada a taxa de juros mensal contratada, eis que, a teor das
disposições do Código de Defesa do Consumidor referentes à vinculação do fornecedor à proposta
apresentado, bem como em face do disposto no art. 427 do Código Civil, “a proposta de contrato obriga o
proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do
caso”. Contudo, reitera-se: não vem sendo aplicada a taxa de juros contratada.
Pg. 9 de 23

Destarte, com a finalidade de se liquidar um financiamento, geralmente recorre-se a diversas


formas de pagamento, que recebem o nome de Sistema de Amortização. Tais sistemas representam
processo financeiro pelo qual uma dívida é extinta progressivamente por meio de pagamentos periódicos.

Os principais sistemas de amortização utilizados no mercado financeiro brasileiro são o Sistema


Francês de Amortização (Tabela Price) e o Sistema de Prestação Constante a Juros Simples (SPCJS).
Enquanto o primeiro, utilizado pelas financiadoras de veículos, contempla o regime de capitalização a juros
compostos ou capitalização mensal de juros (juros sobre juros), em um sistema de contagem de juros
decrescentes e amortização crescente em função do tempo, o segundo, como o próprio nome já diz ,
emprega o regime a juros simples.

Conforme esclarecido pela perícia financeira anexa, a prestação mensal calculada na Tabela Price
contempla juros com capitalização mensal, e é maior que a prestação calculada pelo sistema de juros
simples. Neste passo, a adoção do sistema de capitalização mensal de juros (sistema Price) acaba por
aplicar taxa mensal superior à contratada. Ao efetuar-se a soma de todas as parcelas em cada sistema, ao
fim do financiamento, obtém-se uma diferença considerável.

Saliente-se que não há na minuta de adesão a cláusula prevendo a possibilidade de cobrança de


juros mensais capitalizados, e ainda que houvesse, certamente não estaria em acordo com o que
estabelece o CDC (art. 54, §3º e 4º, do CDC) incidindo os arts. 423 e 424 do Código Civil.

Examinando-se os autos constatam-se elementos suficientes a demonstrar a capitalização mensal


de juros, eis que o próprio cálculo do financiamento foi realizado mediante fórmula que compreende juros
compostos com capitalização mensal, tendo sido efetuado conforme a Tabela Price, que comporta o
sistema de contagem de juros decrescentes e amortização crescente em função do tempo.

No caso em tela, a utilização da Tabela Price é notória, ante a disparidade das taxas
mensal e anual.

Sobre o tema, mostra-se oportuno citar o entendimento técnico de Wilson Alberto Zappa Hoog:

“O Sistema Francês de Amortização é mais conhecido no Brasil simplesmente


como Tabela Price e sua denominação se deve ao nome do matemático, filósofo e
teólogo inglês Richard Price, que viveu no século XVII. Pode ser definida como
o sistema em que, a partir do conceito de juros compostos (juros sobre
juros), elabora-se um plano de amortização em parcelas periódicas, iguais
e sucessivas, considerando o termo vencido, em que o valor de cada
prestação, ou pagamento é composto por duas parcelas distintas: uma de
juros e outra de capital. (...) Quando temos um empréstimo a juros simples,
isto implica necessariamente na multiplicação da taxa de juros pelo número de
meses do empréstimo. E quando os juros são capitalizados temos a taxa de juros
elevado ao número de meses do empréstimo, ou seja, juros simples igual a
multiplicação e juros composto, elevação ou exponenciação” (HOOG, W.A.Z.
Sistema de Amortização Price, Capitalização, Excesso de Juros e outros aspectos
questionados no Judiciário)

A jurisprudência é pacífica no sentido de não permitir a capitalização e a utilização do Tabela Price.


Neste sentido os seguintes precedentes:

"A Tabela Price, conforme assentado no âmbito desta 15ª Câmara


Cível, provoca a capitalização dos juros, devendo ser, portanto,
excluída como sistema de amortização no caso concreto." (TJPR - 15ª
C.Cível - AC 0439363-5 - Foro Central da Região Metropolitana de Curitiba -
Rel.: Des. Hayton Lee Swain Filho - Unânime - J. 10.10.2007).

"É de entendimento pacificado na jurisprudência que a utilização da


Tabela Price, ou sistema francês de amortização, implica em
capitalização de juros, sendo por isso vedada a sua utilização." (TJPR
- 14ª C.Cível - AC 0367811-5 - Foro Central da Região Metropolitana de
Curitiba - Rel.: Des. Celso Seikiti Saito - Unânime - J. 04.07.2007).

APELAÇÃO CÍVEL. REVISIONAL. MÚTUO COM GARANTIA FIDUCIÁRIA. TABELA


PRICE. CAPITALIZAÇÃO. OCORRÊNCIA. PACTUAÇÃO EXPRESSA E EM
DESTAQUE. INEXISTÊNCIA. OFENSA AO DIREITO DE INFORMAÇÃO.
ILEGALIDADE. AFASTAMENTO. PREFIXAÇÃO DOS ENCARGOS. IRRELEVÂNCIA.
CAPITALIZAÇÃO ANUAL. NÃO PACTUAÇÃO. SUCUMBÊNCIA. MANUTENÇÃO.
SENTENÇA MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO (TJPR - Apelação Cível nº
0789822-0 - 17ª Câmara Cível - Rel. Des.: Vicente Del Prete Misurelli. J.
29/06/2011)

AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE FINANCIAMENTO GARANTIDO COM


ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. APELAÇÃO 1 (INSTITUIÇÃO FINANCEIRA):
POSSIBILIDADE DE REVISÃO DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS. APLICAÇÃO DO
Pg. 10 de 23

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. REPETIÇÃO EM DOBRO DOS VALORES


COBRADOS INDEVIDAMENTE. APELAÇÃO 2 (CONSUMIDOR): CAPITALIZAÇÃO
DE JUROS EVIDENCIADA. UTILIZAÇÃO DA TABELA PRICE. MEDIDA
PROVISÓRIA Nº 2.170-36/2001 (REEDIÇÃO DA MP 2087.30/2001).
INCONSTITUCIONALIDADE. ILEGALIDADE NA COBRANÇA DE TAC E TEC. BIS IN
IDEM. PRESUNÇÃO DE QUE TAIS DESPESAS SÃO PLENAMENTE RESSARCIDAS
PELOS VALORES COBRADOS A TÍTULO DE JUROS REMUNERATÓRIOS. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO. READEQUAÇÃO DO ÔNUS SUCUMBENCIAL. (TJPR - 18ª
Câmara Cível - Apelação Cível nº 0765557-6 - Rel. Des.: Carlos Mansur Arida - J.
18/05/2011)

Nessa ordem, já ficou decidido, em caso precedente, que "nos contratos bancários é vedada a
capitalização mensal dos juros se inexiste legislação específica autorizadora" (cf. STJ, A.Reg. no R.Esp. n.
606233/RS, j. 20/09/2004, 3a Turma, Humberto Gomes de Barros, DJde 18/10/2004, p. 277). Em
recentíssima decisão exarada no âmbito do Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná, restou assentado que
“a estipulação de parcelas em valores fixos, ainda que anteriormente à formação do próprio
contrato, não afasta a ilegalidade da contratação de juros remuneratórios de forma
capitalizada, que evidenciada pela discrepância entre a taxa de juros mensal e anual” (17ª
Câmara Cível. Apelação nº 0726364-3. Relator Des. Francisco Jorge).

De se destacar que o fato de o contrato ter sido celebrado após a vigência da Medida Provisória
supra, não dá azo à instituição bancária fazer a cobrança dos juros mensalmente capitalizados, restando
incólume a dicção da Súmula nº 121 do Egrégio STF, assim como o fato de ter o contrato parcelas fixas
não justifica a ilegalidade da capitalização dos juros; conclusão contrária iria contra as normas do art. 4º,
III e 51, IV do Código de Defesa do Consumidor que visa garantir o equilíbrio da relação de consumo
mediante o estabelecimento de um modelo de comportamento leal e honesto de ambas as partes.

Necessário esclarecer, também, que não se entende por “expressamente convencionada” a mera
previsão da taxa mensal e anual de juros, sendo imprescindível haver uma cláusula expressa e clara, em
destaque e inteligível ao consumidor médio, estabelecendo o período de capitalização, e mais: tal
disposição contratual deve ser ostensiva, nos termos dos arts. 6º, inciso II, 14, 31, e 54, §§3º e 4º,
todos da Lei nº 8.078/90 – CDC, o que não ocorre no caso em exame.

Neste sentido, emergem diversos julgados do Egrégio TJPR e mesmo do C. STJ: AC 0709128-3 -
Rel.: Des. Lauri Caetano da Silva - Unânime - J. 29.09.2010; Turma Recursal - Recurso Inominado nº
2010.0012167-7/0 – Rel.: Juiz Leo Henrique Furtado Araújo. J. 31.03.2011; AC 677939-7 - Rel. Des.
Mario Helton Jorge - J. 27.09.2010; STJ - REsp 1020140/RS - Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, J.
09.11.2009; AgRg no Ag 877057/SP - Rel. Ministro Carlos Fernando Mathias, J. 05.02.2009; AgRg no Resp
999034/RS - Rel. Min. Fernando Gonçalves, J. 24.11.2008; AgRg no REsp 1026033/RS, Rel. Ministro Aldir
Passarinho Junior, J. 23.06.2008.

Avançando na matéria, destaque-se o atual entendimento do Egrégio Superior Tribunal de Justiça,


que a teor da Súmula 121/STF (“é vedada a capitalização mensal de juros, ainda que expressamente
convencionada"), assim vem decidindo:

REC. ESPECIAL Nº 446.916–RS (2002/0080910-5). RELATOR : MINISTRO


RUY ROSADO DE AGUIAR. EMENTA: SFH. Juros. Capitalização. A
capitalização dos juros é proibida (Súmula 121/STJ), somente aceitável
quando expressamente permitida em lei (Súmula 93/STJ), o que não
acontece no SFH. Admitido no acórdão que o modo de calcular a prestação
implica “efeito-capitalização”, o procedimento deve ser revisto para excluir-se a
capitalização, proibida pelo seu efeito. Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO - O MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR(Relator): mecanismo de


amortização mensal dos juros, embutidos no valor da prestação de amortização
do capital, gera efeito idêntico ao de capitalização. Esse efeito-capitalização, é
conseqüência de um sistema em que os juros são pagos antecipada ou
periodicamente.

A capitalização é proibida pelo seu efeito, e toda modalidade de cobrança


de juros que implique esse efeito é capitalização, pouco importando o
nome que se atribua à operação, ou o modo como é feito o cálculo. Fazer
incidir a taxa de juros sobre juros anteriormente calculados e embutidos
na base de cálculo é procedimento que eleva o valor da prestação, daí
que não pode ser aceito. Admitido pela r. instância ordinária que o efeito do
“mecanismo de amortização mensal de juros, embutidos no valor de
amortização do capital gera efeito idêntico ao da capitalização”, é de se
conhecer do recurso, pela divergência com a Súmula 121, e dar-lhe
Pg. 11 de 23

provimento a fim de que sejam reelaborados os cálculos, sem esse


“efeito-capitalização”.

A regra do art. 6º da Lei 4.380/64, mencionada em precedente citado no r.


acórdão, não autoriza a capitalização dos juros, nem está o anatocismo permitido
em nenhuma das leis indicadas e transcritas nos autos pela CEF. Isso posto,
conheço do recurso e dou-lhe provimento, para julgar procedente em parte a
ação, tornar definitivas as liminares concedidas e ordenar a revisão do
contrato para exclusão do “efeito-capitalização”. Custas pela ré, que pagará
honorários em favor do patrono do autor, de 15% sobre a diferença obtida. É o
voto. (RESP 446916 / RS Relator Exmo. Sr. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR
Documento: 400753 Inteiro Teor do Acórdão – DJ: 28/04/2003)

É indício veemente da capitalização a diferença encontrada com a multiplicação da taxa mensal


efetiva por 12, em relação à taxa efetiva anual indicada no contrato, restando, destarte, devidamente
demonstrado o fummus boni iurus consistente na alegação de cobrança de juros mensalmente
capitalizados. Evidenciada a capitalização mensal de juros pela simples imprecisão de taxa nominal e
efetiva diversa de juros, impõe-se a cobrança de juros na forma simples (STJ-RESP nº 446919/RS; TAPR -
Ap. Cível nº 216.904-4, 3ª Câmara Cível; Enunciado nº 32 do extinto TAPR).

Efetivamente, a Ré manipulou a incidência das taxas de juros, utilizando-se de uma taxa anual
superior em muito a doze vezes a taxa mensal, desrespeitando o contrato no que pertine à aplicação da
taxa de juros mês a mês. Conforme se denota do documento anexo, a Il. Perita deixou clara a incidência
da capitalização, utilizando-se para tanto de métodos científicos inteligíveis e de fácil compreensão.

Em que pese a clara dicção da Súmula 121 do STF, parte da jurisprudência tem ainda admitido
que em cédulas de crédito bancário a capitalização mensal de juros apenas é possível quando há previsão
expressa e clara desta prática no instrumento de contrato, em conformidade com as regras insertas no
art. 54, §§ 3º e 4º do CDC, o que indubitavelmente – reitera-se – inocorre nos autos, ante as já
mencionadas disposições do CDC e sua clara aplicabilidade ao caso concreto.

Ademais, o art. 5º e seu §1º da MP nº 2.170-36/2001, encontra-se com eficácia suspensa


promovida pelo Supremo Tribunal Federal, em sede liminar, na ADIN 2.316-DF, situação equivalente à
ausência de lei específica, o que atrai a incidência da súmula nº 121 do STF, que veda a capitalização de
juros, à luz do código civil de 2002, o qual permite apenas a capitalização anual no seu art. 591, desde
que haja contratação nesse sentido (com este entendimento fundamentou seu voto o eminente
Desembargador José Sebastião Fagundes Cunha, no Agravo de Instrumento nº 776.878-7, julgado
recentemente pela 18ª Câmara Cível do Egrégio TJ-PR, na recentíssima data de 20 de maio de 2011).

Assim posto, com base na fundamentação supra, os valores exigidos encontram-se eivados,
também, pela ilegalidade consubstanciada na cobrança de juros mensalmente capitalizados, sendo
necessária a realização de perícia para aferir o valor que efetivamente deveria ter sido cobrado, com base
na taxa de juros mensal contratada, o que desde logo se requer. Pugna pelo proferimento de jurisdição
que declare a abusividade e a ilegalidade consubstanciada na cobrança de juros remuneratórios
capitalizados, a teor da súmula nº 121 do STF, de modo que o valor mensal da parcela venha a ser
recalculado, compensando-se ao Autor a diferença entre o valor efetivamente pago e o que efetivamente
seria devido caso não tivesse incidido a capitalização, com os devidos acréscimos de juros e atualização
monetária.

III.2.4. DA APLICABILIDADE DA NORMA DO ART. 53 DO CDC

Emérito Magistrado, nos termos do art. 53 do CDC, “nos contratos de compra e venda de móveis
ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantia,
consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em
benefícios do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do
produto alienado”.

Prevê o item 17 das condições gerais do termo de adesão ao contrato (anexo) que o contrato se
considera vencido e exigível antecipadamente, no valor integral da cédula, com a exigência da garantia
(veículo) se o Autor deixar de promover determinadas medidas.

Assim, em que pese a obscura dicção do teor da cláusula potestativa, desde logo assevera que
eventual conclusão da Ré pela exigibilidade do perdimento das prestações até então pagas, com a
consequente retomada da posse do bem, é ilegal e abusiva. E mais: totalmente contrária ao festejado
princípio da boa-fé contratual.

Tal procedimento é comum nos contratos de alienação fiduciária e de arrendamento mercantil,


normalmente onde se prevê a composição de determinado “valor estipulado de perda”, ocasião em que a
financeira toma a posse de um bem cujo contrato de origem foi substancialmente adimplido, leiloa-o e
entrega ao consumidor somente o “saldo positivo”, ou, exigindo-lhe o “saldo negativo”. Para tanto,
normalmente busca retomar a posse do bem, mesmo após o pagamento de um longo e exaustivo
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financiamento. Tal prática, destaca-se, é ilegal e imoral, não podendo subsistir no arcabouço
jurídico instalado após a Constituição Federal de 1988 e a vigência do CDC.

De toda sorte, as disposições do Decreto 911/69, em especial em seu art. 2º, adéquam-se às
posteriores leis consumeristas, não podendo subsistir ante as modificações trazidas ao ordenamento
jurídico pela CF e pelo CDC, bem como pelo novel Código Civil, pelo que deve ser declarada nula eventual
cláusula que disponha que a financeira considerará antecipadamente vencido o contrato e exigível o
pagamento da dívida vencida e vincenda, além e encargos na data do vencimento antecipado, com a
perda total das prestações pagas. Por analogia, citam-se os seguintes precedentes:

“O espírito da legislação consumerista é justamente o de diminuir a situação de


desequilíbrio em que se encontram consumidor e fornecedor, de forma que
atualmente, admite-se a relativização do pacta sunt servanda. Rescindido o
contrato de arrendamento mercantil, deve haver, portanto, a devolução dos
valores pagos a título de valor residual garantido.” (APELAÇÃO CÍVEL Nº 396184-
8 RELATOR: DES. RUBENS OLIVEIRA FONTOURA Curitiba, 28 de Março de 2007 –
TJPR)

No que tange ao “valor estipulado de perda”, ou eventual cláusula que permita a rescisão do
contrato com a perda das parcelas pagas, ou mesmo exigência de parcelas vincendas, ou ainda que
remeta à providência de leilão extrajudicial do bem, o entendimento remansoso da jurisprudência é no
sentido de considerar tal medida ilegal e abusiva, o que se infere da ementa infra:

"AÇÃO DE COBRANÇA - CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL -


PRETENSÃO DE RESTITUIÇÃO DO VRG PAGO ANTECIPADAMENTE - DEVER DA
ARRENDANTE EM RAZÃO DA AUSÊNCIA DE OPÇÃO DE COMPRA - RELAÇÃO DE
CONSUMO - APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR -
CLÁUSULAS CONTRATUAIS QUE PREVÊEM A OBRIGAÇÃO, EM CASO DE
INADIMPLEMENTO OU VENCIMENTO ANTECIPADO DO CONTRATO, DE
PAGAMENTO PELA ARRENDATÁRIA DO VALOR ESTIPULADO DE PERDA
(CORRESPONDENTE À SOMA DAS CONTRAPRESTAÇÕES VINCENDAS APÓS
A RESTITUIÇÃO DO BEM ARRENDADO, DAS VENCIDAS E À TOTALIDADE
DO VRG) - ESTIPULAÇÃO ABUSIVA - DECLARAÇÃO DA NULIDADE QUE SE
IMPÕE (ART. 51, IV, CDC) - COMPENSAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE - NÃO
DEMONSTRAÇÃO PELA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DE EVENTUAL CRÉDITO
EXISTENTE EM SEU FAVOR - APELO DESPROVIDO." (TJPR, Acórdão nº 6223, Rel.
Des. Renato Naves Barcellos, 17ª Câmara Cível, j.18/04/2007)

Em suma, conclusão que destoe do art. 53 do CDC violaria a lei, a justiça contratual e a boa-fé
objetiva inerentes ao contrato de consumo.

Nesta esteira, Rodolfo de Camargo Mancuso assevera que "as contraprestações periódicas
configuram uma sorte de obrigações propter rem (exigíveis por causa da coisa), estabelecidas em trato
sucessivo, donde o corolário de que, cessando a possibilidade de fruição da coisa, a lógica jurídica indica
que, a partir desse momento, as contraprestações vincendas não podem ser exigidas (...) em que pese o
desfazimento antecipado do contrato, (in Leasing. 3ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002,
p. 287/288).

Nesse sentido, requer desde logo sejam declaradas nulas eventuais cláusulas ou práticas
elaboradas em termos tais como acima indicado, em especial quanto à perda das parcelas pagas cumulada
com a rescisão contratual.

III.2.5. DOS ENCARGOS DE MORA: COBRANÇA DE COMISSÃO DE PERMANÊNCIA COM “EFEITO


CAPITALIZAÇÃO” E EM PATAMAR SUPERIOR A 1% (HUM POR CENTO) AO MÊS, E OUTROS
ENCARGOS NAS HIPÓTESES DE MORA CONTRATUAL POR PARTE DO AUTOR – IMPOSSIBILIDADE
DE CUMULAÇÃO DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA COM OUTROS ENCARGOS MORATÓRIOS -
PRECEDENTES DO STJ E STF

MM. Magistrado, conforme já exposto, pretende a Ré que o Autor pague mais do que o dobro do
valor de mercado do veículo, aplicando para tal desiderato a técnica de juros compostos – capitalização
mensal pelo sistema price.

Denota-se do item 16. do contrato de adesão que a Ré pretende exigir multa de mora de 2%,
além de comissão de permanência em 12% (item 7). Cumulação esta que é vedada!

Ocorre que, não bastasse o alto valor exigido, nas hipóteses de mora no pagamento das parcelas,
esteve a Ré a exigir quantias altíssimas face ao saldo devedor representado pelo valor histórico das
prestações periódicas, estando a parcela em aberto somada a encargos moratórios estratosféricos.
Evidentemente, os encargos de mora impostos pela Ré tornaram o contrato, que inicialmente já se
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mostrava desproporcional, ainda mais abusivo e destoante da realidade, impondo ao consumidor o


pagamento de quase o dobro do valor efetivamente financiado! Denota-se que não houve previsão
expressa no contrato (em que pese este esteja também em desalinho com o art. 54, § 3º, do CDC) quanto
a cobrança cumulativa de encargos de mora com a comissão de permanência, mas fato é que os encargos
de mora de fato exigidos pela Ré não se consubstanciam em principal somado a multa de mora e juros de
mora – comissão de permanência, nem mesmo capitalizados – o que se entende por ilegal.

Com efeito, imperioso se faz com que seja reequilibrada a equação contratual, haja vista a
excessiva onerosidade decorrente dos absurdos encargos exigidos pela Ré, em especial quando da
imposição do contrato de financiamento.

Neste contexto merecem destaque as palavras da Eminente Desembargadora Rosana Andrighetto


de Carvalho, do E. Tribunal de Justiça do Paraná, para quem “a nova concepção de contrato é uma
concepção social deste instrumento jurídico, para a qual não só o momento da manifestação da vontade
(consenso) importa, mas onde também e, principalmente, os efeitos do contrato na sociedade são levados
em conta, ganhando importância a onerosidade excessiva que a avença produza ao aderente que não
estabelece as condições do acordo à saciedade”. (TJ-PR, Apelação Cível nº 638.689-4, 13ª Câmara Cível,
Unânime, Rel. Des. Rosana Andriguetto de Carvalho. j. 05 de maio de 2010).

De fato, Emérito Magistrado, conforme se denota do histórico de comprovantes de pagamentos, o


Autor efetivamente vem honrando com o pagamento das prestações lhe exigidas, estando contudo com
pequena margem de atraso. Nestas condições, verificou que o sistema de cobrança de encargos
moratórios adotado pela Ré é ilegal e abusivo, e mesmo destoante do que aduz o contrato de adesão.

Os valores cobrados e o próprio contrato denotam que, quando do pagamento em atraso, incidem
encargos de comissão de permanência superiores ao contratado, sendo certo que tal rubrica é cobrada na
forma de “juros sobre juros”, somando-se o saldo de juros diário ao valor-base do dia seguinte.

Resta ainda incontroversa a incidência de comissão de permanência cumulada com multa de


mora, e, quiçá, juros de mora, atualização monetária e encargos mais, o que poderá ser aferido em
perícia.

Assim aduz a parte autora, inicialmente, em razão de que, ao consultar o débito exigido em aberto
referente à ultima parcela, viu que os juros moratórios foram mesmo calculados e pagos em patamares
superiores a 1% (um por cento) ao mês, ou 12% (doze por cento) ao ano, sendo tal fato constatável pela
simples análise da “lâmina” de pagamento. Ademais, fica evidenciada a cobrança da “comissão de
permanência” cumulada com multa de mora, procedimento este em desconformidade com as normas de
regência.

Desta forma, resta evidenciada a cobrança de juros moratórios e/ou comissão de permanência na
forma capitalizada, “fazendo incidir a taxa de juros sobre juros anteriormente calculados e embutidos na
base de cálculo”, bem como a cumulação da comissão de permanência e encargos não discriminados.

Insta frisar, Dd. Juiz, que não se está a tratar, neste tópico, da discussão acerca da
incidência de juros remuneratórios no período de contratação do financiamento, e sim de
capitalização (“juros sobre juros”) nas hipóteses de mora.

Nem se está a falar da ultrapassada tese do teto de 12% ao ano para juros
remuneratórios, do já revogado art. 192, §3º, da CF.

Assim, como se evidencia da análise dos altos valores impostos pela Ré, os encargos diários de
mora sofreram capitalização. Tal situação restará esclarecida pela competente perícia contábil. Porém,
desde logo cabe destacar que a figura do anatocismo, capitalização dos juros, é absolutamente rechaçada:
"É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada" (Súmula 121 do
STF).
Esta repulsa se encontra com abundância nos entendimentos jurisprudenciais:
"É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada
(súmula 121); dessa proibição não estão excluídas as instituições
financeiras, dado que a súmula 596 não guarda relação com anatocismo.
A capitalização semestral de juros, ao invés da anual, só é permitida nas
operações regidas por leis especiais, que nela especialmente constem".
(STF. Recurso Extraordinário nº 90341/1).
"A capitalização de juros (juros de juros) é vedada pelo nosso direito,
mesmos quando expressamente convencionada, não tendo sido revogada a regra
do Art. 4º do Decreto 22.626/33, pela Lei 4.595/64. O anatocismo repudiado pelo
verbete 121 da súmula do Supremo Tribunal Federal não guarda relação com o
enunciado nº 50 e TRF/164." (Recurso Especial 1285 - GO. Rel. Ministro Sálvio de
Figueiredo).
"... a capitalização de juros é vedada, mesmo em favor das instituições."
(RTJ 92/1.341, 98/851, 108/277, 124/616; STF - Bol. AASP 1343/218).
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"A capitalização de juros (juros de juros) é vedada pelo nosso direito,


mesmo que expressamente convencionada, não tendo sido revogada a
regra do artigo 4º do Decreto 22.626/33 pela Lei 4.595/64. Anatocismo
repudiado pelo verbete da Súmula 121 do Supremo Tribunal Federal, não
guarda relação com o enunciado 596 da mesma Súmula". (Recurso Especial
1.285, 14.11.89, 4ã Turma do STJ, Relator Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira,
JSTJ - TRF 6/163).
Por esse enfoque, não pode a instituição financeira aplicar sobre a base de cálculo dos juros de
mora e/ou encargos de comissão de permanência os juros anteriormente aplicados, pouco importando o
nome dado à operação, tampouco pode cumular a comissão de permanência com outros encargos, mesmo
a multa de mora. De igual modo, não poderia aplicar juros de mora em percentual superior a 1% ao mês,
violando o próprio contrato.

Quanto à cobrança de juros de mora em patamar superior a 1% ao mês, em se detectando tal


prática, destaca-se que a jurisprudência rechaça tal possibilidade, conforme se infere da ementa infra:

(...)O Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp 1.061.530-RS,


representativo da controvérsia relativa aos contratos bancários, fixou
orientação de que nos contratos bancários, não regidos por legislação
específica, os juros moratórios poderão ser convencionados até o limite
de 1% ao mês. (TJPR - 17ª C.Cível - AC 0672786-6 - Foro Central da Região
Metropolitana de Curitiba - Rel.: Des. Lauri Caetano da Silva - Por maioria - J.
30.06.2010)

Ademais, a Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, observando o rito dos recursos
repetitivos (artigo 543-C do CPC), julgou o Recurso Especial nº 1.061.530/RS, tendo em vista a
multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de direito, assim jurisdicionando a fim de
que todos os processos que versem sobre o mesmo tema sejam julgados conforme as orientações
estabelecidas pelo STJ no julgamento desse Recurso Especial.

Dessa feita, o C. STJ teceu a seguinte orientação:

ORIENTAÇÃO 3 - JUROS MORATÓRIOS Nos contratos bancários, não-regidos por


legislação específica, os juros moratórios poderão ser convencionados até o
limite de 1% ao mês.

No que tange à cobrança cumulada de comissão de permanência com outros encargos, da mesma
forma merecem revisão os critérios utilizados pela Ré. Concernente a este rubrica (comissão de
permanência), a exigência não poderá ser feita cumulando-a com qualquer outro encargo. A súmula nº
30 do STJ expressa que "a comissão de permanência e a correção monetária são inacumuláveis".

Avançando-se nesse entendimento, ficou estabelecido que:

"Admite-se a incidência da comissão de permanência após o vencimento


da dívida, desde que não cumulada com juros remuneratórios, juros
moratórios, correção monetária e multa contratual. Na hipótese de haver
cumulação, esses encargos devem ser afastados e para manter-se tão-
somente a incidência da comissão de permanência. Precedentes" [STJ,
A.Reg. no R.Esp. n. 400921/RS, j . 26/08/2003, 3a Turma, Nancy Andrighi, DJde
06/10/2003, p. 268].

“A cobrança da comissão de permanência, para o período da inadimplência,


sem qualquer cumulação, deverá ser calculada à taxa média dos juros de
mercado, apurada pelo Banco Central do Brasil, limitada, entretanto, à
taxa pactuada no contrato [cf STJ, A.Reg. nos E.Dcl no R.E. n. 489886/RS,
j. 10/06/2003, 3a Turma, Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de
15/09/2003, p. 316].

Nestas condições, tendo em vista a impossibilidade de imposição da cobrança cumulada da


“comissão de permanência” com juros moratórios, correção monetária e multa de mora, a teor da
atualíssima jurisprudência do E. Superior Tribunal de Justiça, cobrança esta que exsurge do negócio em
debate, devem ser afastados os encargos cumulados na sua totalidade, durante todo o período
(“COMISSÃO DE PERMANÊNCIA QUE NÃO PODE SER CUMULADA COM JUROS, MULTA DE MORA E DEMAIS
ENCARGOS (...)”. TJPR. 1ª Câmara Cível, Acórdão nº 10.932)

Ante o exposto, postula-se seja procedida a revisão dos valores cobrados quando das eventuais
hipóteses de mora do Autor, no que tange à adoção do sistema de juros moratórios sobre juros moratórios
(efeito anatocismo), cobrança de juros de mora em patamar superior a 1% ao mês, e cobrança de
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comissão de permanência cumulada com outros encargos, mesmo a multa de mora, de forma a alcançar o
valor total dos débitos já pagos, excluindo-se todos os encargos a maior, restituindo-se e/ou
compensando-se eventual saldo devedor com os valores pagos, expurgando-se-os.

III.3. DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

III.3.1. CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO PARA FINS DE REEQUILIBRAR O CONTRATO E OBSTAR


A INSCRIÇÃO DO NOME DO AUTOR NOS CADASTROS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO, MANTENDO-
SE-A NA POSSE DO BEM. PRECEDENTES DO TJ-PR E DAS CORTES SUPERIORES

MM. Magistrado, as transformações sofridas pelo Direito Privado em face da aplicação dos
princípios constitucionais, de caráter normativo, bem como dos princípios estabelecidos no Novo Código
Civil, principalmente a “função social do contrato” prevista no artigo 421, do Código Civil, permitem ao
Judiciário a intervenção no contrato para restabelecimento do seu equilíbrio.

Também na oportunidade do julgamento do Recurso Especial nº 1.061.530/RS,


o C. STJ teceu as seguintes diretrizes:

ORIENTAÇÃO 2 - CONFIGURAÇÃO DA MORA Havendo encargos abusivos exigidos


no período da normalidade contratual (juros remuneratórios e capitalização), a
mora não estará caracterizada. Contudo, a mora não poderá ser afastada com a
mera constatação de que foram exigidos encargos abusivos ou o simples
ajuizamento de Ação Revisional.

ORIENTAÇÃO 4 - INSCRIÇÃO/MANUTENÇÃO EM CADASTRO DE INADIMPLENTES


Somente será vedada a inscrição/manutenção do nome do devedor em cadastro
de inadimplentes, se houver, cumulativamente: (a) interposição de Ação
Revisional; (b) demonstração de que a alegação de cobrança indevida se funda na
aparência do bom direito e jurisprudência do STF ou STJ; e (c) depósito da
parcela incontroversa ou prestação de caução fixada pelo Juiz da causa. Correta a
inscrição/manutenção do nome do devedor em cadastro de inadimplentes
decidida na sentença ou no acórdão, quando constatada a mora, no mérito do
processo.

Assim, inicialmente, frisa-se que o Autor vem efetuando o pagamento assíduo de suas parcelas,
de um extenso financiamento de sessenta meses. À inicial, evidenciando o fummus boni iuris, acosta
perícia financeira (doc. 04) elaborada por expert, onde se esmiúçam os valores indevidamente cobrados,
apontando para um valor de parcela correta, caso a taxa de juros aplicada houvesse sido a contratada,
afastando o sistema price.

Ora, Douto Magistrado, sendo o Autor responsável e correto com suas obrigações, não tem por
intenção com esta ação cível de natureza revisional de contrato questionar unicamente a abusividade de
juros com vistas e eximir-se de obrigação assumida. Porém, não pode aceitar pagar passivamente a
imposição de valores excessivos face o bem contratado, decorrentes de cobrança de “tarifas” e “encargos
contratuais e moratórios” ilegais, unilaterais e abusivos, que incidem nos carnês de pagamento de forma
ilegítima.

Como já exposto, consoante jurisprudência sedimentada no Egrégio TJ-PR, bem como no


Egrégio STJ e no STF, os encargos ora aplicados são manifestamente ilegais (“tarifa de cadastro”, “tarifa
de avaliação”, “serviços de terceiros” e “registro de contrato” comissão de permanência cumulada,
capitalização de juros remuneratórios, juros de mora sobre juros de mora, superiores a 1% ao mês, etc.),
assim reconhecidos pela Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná e pela mais alta Corte infraconstitucional.
Por conseqüência lógica, necessário se faz o provimento jurisdicional no sentido de possibilitar ao
demandante o depósito em juízo da parcela incontroversa, consubstanciada na aplicação da taxa de juros
mensal contratada mediante juros não capitalizados mensalmente, tendo como base de cálculo o valor
efetivamente financiado (extirpando-se as “tarifas”) com o fito de tornar patente a sua boa-fé e dar
garantia a este DD. Juízo, mantendo a contratação.

Nos termos do art. 890 do codex processual civil, pode o devedor requerer, na petição inicial, a
consignação da quantia por si devida, cessando-se os juros e os riscos, conforme disposição do art. 891 do
mesmo diploma legal.

Outrossim, estabelecem os arts. 337 e 335, inciso V, do Código Civil que caberá a consignação nas
hipóteses em que pender litígio sobre o objeto do pagamento, cessando para o depositante os juros da
dívida e os riscos.

No que se refere à antecipação dos efeitos da tutela, dispõe o artigo 273 do Código de Processo
Civil:
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Art. 273. "O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou


parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que,
existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação

I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou

II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto prop6sito


protelatório do réu.

Assim, de acordo com o CPC, para que o juiz conceda a antecipação são necessários dois
requisitos: a prova inequívoca e o convencimento da verossimilhança da alegação.

Destaca-se que o Autor recebeu apenas proposta de pré-contrato de adesão, pactuando taxa de
juro mensal de 1,72%, o que, a teor do art. 48 do CDC, enseja execução específica nos termos do art. 84
do mesmo diploma legal, in verbis:

Art. 48. As declarações de vontade constantes de escritos particulares,


recibos e pré-contratos relativos às relações de consumo vinculam o
fornecedor, ensejando inclusive execução específica, nos termos do art.
84 e parágrafos:

Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou
não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará
providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do
adimplemento.

Diante de tudo o que até aqui se alegou, com base em provas acostadas a este pedido
inicial, está plenamente caracterizada a possibilidade da concessão de liminar no sentido de possibilitar o
depósito judicial conforme delimitado em perícia financeira, haja vista que a permanência da sua situação
em mora poderá lhe acarretar o superendividamento, decorrente dos abusivos encargos exigidos pela Ré,
bem como poderá implicar na remessa dos dados do Autor para os cadastros de proteção ao crédito, muito
embora seja o valor exigido pela Ré composto visivelmente por parcelas abusivas. Não obstante, poderá
ensejar apreensão do bem, em que pese a mitigação da mora.

Ademais, o Código de Defesa do Consumidor, no artigo 84 § 3° reza que:

Art. 83. § 3°. "Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo


justificado receio de ineficácia do provimento final , é lícito ao juiz
conceder a tutela liminarmente ou após justificação previa, citado o réu.

Baseando-se nos valores ora trazidos, apenas no que se refere aos expurgos das tarifas
abusivamente exigidas e pagas pelo Autor, tem-se que desde o início da contratação deveria ter sido
cobrada uma prestação diferida de R$520,20, que implicaria em uma diminuta porém justa redução, isto
ainda aplicando-se juros mensalmente capitalizados. Uma vez expurgados os valores cobrados
indevidamente a título de tarifas, se lhes extirpando sobre o quantum debeatur (a ser mensurado de
forma exauriente mediante perícia financeira do juízo), chega-se a um valor mensal remanescente de
R$506,83 conforme a perícia financeira ora acostada - doc. anexo, e mediante método de juros simples,
chegaria-se a um saldo devedor de R$14.666,27, implicando em parcela mensal de R$403,12, decorrendo
a diferença do alto valor financiado a título de “tarifas” e da capitalização mensal incidente sobre o cálculo
imposto pela Ré (doc. 04, relatório circunstanciado).

Nesse sentido, requer desde logo seja deferida a possibilidade de pagar em juízo o restante das
parcelas com os devidos descontos, nos termos da (planilha 05, baseada na retirada das “tarifas”,
acostada sob a rubrica doc. 04) fundamentação supra, ficando garantidas ambas as partes, em especial
devido ao fato de que o devedor, na eventualidade de um julgamento de improcedência da ação, fará uma
reserva que lhe facilitará o pagamento da dívida, tendo o credor ao seu alcance a importância devida,
satisfazendo seu crédito.

A jurisprudência da E. Corte Cidadã e do Egrégio Tj-PR é nesse sentido:

“I - Quanto ao depósito dos valores incontroversos, assiste razão ao


agravante. Nada há que obste o pedido de depósito em juízo,
circunstância, aliás, que é favorável ao credor, pois se a contestação do
débito é parcial, o restante, incontroverso, deve ser adimplido, sendo de
medida o depósito nos próprios autos de revisão contratual. Neste sentido
o voto da Ministra NANCY ANDRIGHI, do Superior Tribunal de Justiça: Bancário e
processo civil. Agravo no recurso especial. Contrato bancário. Fundamentação
deficiente. Disposição de ofício. Capitalização de juros. Comissão de permanência.
Caracterização da mora. Manutenção da posse. Depósito em juízo de valores
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devidos. - No tocante à possibilidade de depósito dos valores tidos como


incontroversos, não há impedimento para que se autorize a sua
realização. Agravo no recurso especial não provido. (STJ - AgRg no REsp
992.182 / RS - Rel. Min. Nancy Andrighi - 3ª. Turma - DJe 28.05.2008).” Recurso
0585667-9 Curitiba, 20 de maio de 2009. FABIAN SCHWEITZER TJ-PR

“A jurisprudência atual tem entendido que não se deve impedir o


depósito dos valores que o devedor entende como corretos, ainda que
inferiores ao pactuado, pois tal depósito não implica em prejuízo a
qualquer das partes, bem como advêm do juízo de conveniência da parte
interessada.” Recurso 0576737-7 Curitiba, 13 de Abril de 2009. DES. ROBERTO
DE VICENTE Relator

Consequentemente, tem entendido a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná


inexistir impedimento para que o Autor se valha de tal medida.

No que se refere à impossibilidade de se inserir o nome do Autor no cadastro de inadimplentes no


curso deste processo, ficou assentado na jurisprudência pátria que o mero ajuizamento da ação revisional
não tem o condão de impedir o cadastro nos sistemas tais como SPC e Serasa.

De acordo com o Egrégio STJ, o pleito deve ser deferido na hipótese de conjugação de três itens:
(I) ação proposta contestando a existência parcial ou integral do débito (II) demonstração de que a
cobrança indevida se funda na aparência do bom direito e na jurisprudência superior (III) que, sendo a
contestação apenas de parte do débito, deposite, ou preste caução idônea, ao prudente arbítrio do
magistrado, o valor referente à parte tida por incontroversa.

Ora, no caso dos autos é clara a demonstração de que a cobrança indevida se funda na
jurisprudência pacífica do STJ e do STJ, além do entendimento assente no TJ-PR.

Pois bem. Ajuizada a ação, pleiteado o pedido de depósito da parcela incontroversa, retirados os
encargos indevidos já pagos, com aplicação de repetição de indébito, tendo por base jurisprudência
assentada nos tribunais superiores, requer igualmente o provimento jurisdicional no sentido de oficiar ao
SPC e ao SERASA quanto a impossibilidade de cadastramento do nome do autor por dívida relativa
especificamente ao contrato revisto:

A esse propósito, pronunciou-se o STJ:

“A descaracterização da mora ocorre pela cobrança de encargos


indevidos, como, no caso concreto, as tarifas de emissão de carnê, de
abertura de crédito e a "bancária", entendimento amparado na
jurisprudência pacificada na 2ª Seção do STJ, nos termos do EREsp n.
163.884/RS, Rel. p/acórdão Min. Ruy Rosado de Aguiar, e REsp n.
713.329/RS,Rel. p/ acórdão Min. Carlos Alberto Menezes Direito.

Assim, afastada a mora em razão da cobrança, sobre o saldo devedor, de encargos de mora
ilegais, e de encargos aplicados sobre valores compostos por tarifa de cadastro, dentre outros já
mencionados, em contrariedade à boa-fé, bem como juros remuneratórios e moratórios, ambos
capitalizados, e comissão de permanência cumulada com diversos encargos, faz jus o Autor ao provimento
jurisdicional que lhe permita discutir o débito em contudo ter seu nome inscrito em cadastros de proteção
ao crédito. Neste sentido é o entendimento da 2ª Turma do Egrégio Superior Tribunal de Justiça:

“AGRAVO REGIMENTAL - INSCRIÇÃO DO NOME DOS DEVEDORES NOS


CADASTROS DE INADIMPLENTES - AFASTAMENTO - REQUISITOS - AUSÊNCIA –
INSCRIÇÃO DEVIDA - DECISÃO AGRAVADA MANTIDA - IMPROVIMENTO.

Segundo a jurisprudência da Segunda Seção desta Corte, o impedimento de


inscrição do nome dos devedores em cadastros restritivos de crédito somente é
possível quando presentes, concomitantemente, três requisitos: existência de
ação proposta pelo devedor contestando a existência parcial ou integral
do débito, que haja efetiva demonstração de que a contestação da
cobrança indevida se funda na aparência do bom direito e em
jurisprudência consolidada desta Corte ou do Supremo Tribunal Federal e,
por fim que, sendo a contestação de apenas parte do débito, deposite, ou
preste caução idônea, ao prudente arbítrio do magistrado, o valor
referente à parte tida por incontroversa. No caso dos autos, conforme se
verifica da decisão de fl. 91v e do acórdão recorrido, não há a presença do
terceiro requisito, devendo ser afastada a vedação de registro dos nomes dos
devedores nos registros de entidades de proteção ao crédito, relativamente ao
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débito objeto deste feito. Agravo improvido” - grifei (STJ - AgRg nos EDcl no Ag
684.185/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, 3ª Turma, DJ 03/10/2008).

“DIREITO PROCESSUAL CIVIL E BANCÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO


REVISIONAL DE CLÁUSULAS DE CONTRATO BANCÁRIO. INCIDENTE DE
PROCESSO REPETITIVO. JUROS REMUNERATÓRIOS. CONFIGURAÇÃO DA MORA.
JUROS MORATÓRIOS. INSCRIÇÃO/MANUTENÇÃO EM CADASTRO DE
INADIMPLENTES. (...) ORIENTAÇÃO 4 - INSCRIÇÃO/MANUTENÇÃO EM CADASTRO
DE INADIMPLENTES.

a) A abstenção da inscrição/manutenção em cadastro de inadimplentes, requerida


em antecipação de tutela e/ou medida cautelar, somente será deferida se,
cumulativamente: i) a ação for fundada em questionamento integral ou parcial do
débito; ii) houver demonstração de que a cobrança indevida se funda na
aparência do bom direito e em jurisprudência consolidada do STF ou STJ; iii)
houver depósito da parcela incontroversa ou for prestada a caução fixada
conforme o prudente arbítrio do juiz” (STJ - REsp 1061530/RS, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, 2ª Seção, DJe 10/03/2009).

No mesmo diapasão, a doutrina de Antonio Herman de Vasconcellos e Benjamim, para quem,


também: “...só os débitos induvidosos podem ser objeto de registro financeiro...”, razão porque:
“Havendo dúvida, judicial e razoavelmente materializada, sobre o seu valor ou sobre a própria existência
da obrigação, descabida a manutenção do arquivo, a qualquer título, mesmo que como anotação” (Código
Brasileiro de Defesa do Consumidor, Forense Universitária, 7ª ed., art. 42, nº 12.2.1., p. 382).

Nesse sentido, a teor da fundamentação supra, uma vez preenchidos os requisitos para a
concessão da antecipação da tutela para fins de consignar em juízo os pagamentos, mister se faz com que
se impeça a inscrição do nome do Autor, o que desde já se requer.

III.3.2. DA MITIGAÇÃO DA MORA E DA MANUTENÇÃO DO BEM NA POSSE DO AUTOR –


DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA, ESSENCIALIDAE DO BEM E ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL

MM. Magistrado, o Autor vem honrando os pagamentos de um contrato eivado de abusividades.


Diante das diversas ilegalidades aplicadas na constância do contrato de adesão, insta analisar a questão
da mora na específica hipótese dos autos.

A matéria, tratada na legislação de regência pelos arts. 394 a 401 do Código Civil, decorre do
latim mora, que em sentido originário significa a tardança, a delonga ou o adiamento em se fazer ou se
executar o que se deve ou o a que se está obrigado no momento aprazado.

No sentido técnico-jurídico do vocábulo não se afasta o sentido literal: mora é a falta de execução
ou cumprimento da obrigação no momento em que se torna exigível. Ou seja, é “ o retardamento ou a
demora na execução da obrigação, quando deveria ser executada ou cumprida” (In, VOCÁBULO JURÍDICO,
De Plácido e Silva).

Ocorre que a jurisprudência das mais altas Cortes de justiça tem paulatinamente asseverado que
a cobrança de encargos ilegais e abusivos (assim considerados à luz da jurisprudência das Cortes
Superiores) resulta na mitigação da mora ("A descaracterização da mora ocorre pela cobrança de encargos
indevidos, como, no caso concreto a capitalização mensal dos juros, entendimento amparado pela
jurisprudência pacífica na 2ª Seção do STJ" - Ag no REsp 988718/RS”).

De fato, o art. 396 do Código Civil estabelece que “não havendo fato ou omissão imputável ao
devedor, não incorre este em mora”.

No mesmo sentido é a posição da doutrina, eis que, de acordo com o magistério de Celso Marcelo
de Oliveira, “a exigência de parcelas indevidas justifica a resistência do devedor e descaracteriza a mora,
pois o não-pagamento do indevidamente cobrado é imputável a quem cobra o que não tem direito” (In
Limite constitucional dos juros bancários, 2001).

Maria Helena Diniz, ao comentar o dispositivo do Código Civil, assenta que “ verificando-se mora
simultânea, isto é, de ambos os contratantes, dá-se a sua compensação, aniquilando-se reciprocamente
ambas as moras”. (In Tratado teórico e prático dos contratos, 2002)

MM. Magistrado, mostrando-se plausível e o questionamento quanto à capitalização mensal de


juros, dentre outros atinentes ao repasse de “tarifas”, é admissível a consignação de valores, excluídos da
parcela representativa dessa prática, com intuito de descaracterização da mora do devedor (Orientação 2,
letra a e b/STJ/REsp 1.061.530-RS), mantendo-se o requerente na posse do bem objeto do contrato. O
fummus boni iuris incide, eis que “a diferença entre a taxa anual e o produto da taxa mensal, para o
mesmo período caracteriza que os juros mensais foram computados de forma capitalizada (...)” (TJPR –
Apelação Cível nº 0642950-7 – 17ª Câmara Cível, Rel. Des. Lauri Caetano da Silva, j. em 10.03.2010).
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Especificamente quanto à mitigação da mora em casos de cobranças tais como as que aqui se
examinam, como bem salientado pelo eminente Ministro Massami Ueda do Egrégio Superior Tribunal de
Justiça (em voto datado de 17/12/2009, no AgRg no AgRg no REsp nº 1.092.014/RS), "a jurisprudência
do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de sua descaracterização apenas no caso de cobrança de
encargos considerados ilegais no período da normalidade, como ocorreu no caso destes autos em
face da cobrança da tarifa de abertura de crédito, da tarifa de emissão de boleto, além do IOF,
encargos considerados abusivos pela Corte de origem” (ut AgRg no REsp 796541/RS, Rel. Min.
Humberto Gomes de Barros, DJ 9/10/2006).

Em situação idêntica à aqui tratada, o Colendo Superior Tribunal de Justiça já se pronunciou: “ a


descaracterização da mora ocorre pela cobrança de encargos indevidos, como, no caso
concreto, as tarifas de emissão de carnê, de abertura de crédito e a `bancária', entendimento
amparado na jurisprudência pacificada na 2ª Seção do STJ, nos termos do EREsp n.
163.884/RS, Rel. p/ acórdão Min. Ruy Rosado de Aguiar, e REsp n. 713.329/RS, Rel. p/ acórdão
Min. Carlos Alberto Menezes Direito". (AgRg no REsp nº 899.287/RS, Quarta Turma, Relator
Ministro Aldir Passarinho Junior, j. 01.03.07).

Ainda no âmbito do E. STJ, no julgamento do Recurso Especial nº 267.758, oriundo do Estado de


Minas Gerais, o Ministro Aldir Passarinho Junior ressaltou que “a jurisprudência já vinha abrandando as
limitações impostas pela primitiva redação do art. 3º do Decreto-lei nº 911/69, visto que a indagação de
ilegalidade de cláusulas está jungida à da própria mora”. (Informativo de Jurisprudência do STJ nº 244).

Na mesma sessão, anotou o eminente Min. Antônio de Pádua Ribeiro, que “ o CDC trouxe ao
ordenamento jurídico princípios fundamentais, tais como o reconhecimento da vulnerabilidade do
consumidor, a necessidade de equalização da relação de consumo e o direito à modificação de cláusulas
excessivamente onerosas, o que levou também a mitigarem-se as interpretações quanto àquele
dispositivo”.

Outra não é a opinião do eminente Ministro César Asfor Rocha, para quem a cobrança de encargos
indevidos pelo credor afasta a mora do devedor, nos termos do entendimento pacificado da 2ª Seção do
STJ (AGResp nº 399937).

Ora, no caso em discussão as ilegalidades e abusividades apontadas pelo Autor


encontram eco na jurisprudência do TJ-PR e, sobretudo, no entendimento do C. STJ e no
Egrégio STF.

Neste passo, restando assente o entendimento do C. STJ de que a cobrança de encargos indevidos
afasta a mora, forçoso o provimento de jurisdição que mantenha o Autor na posse do bem. Neste sentido,
ainda, os recentíssimos seguintes precedentes do STJ:

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REVISIONAL.


CONTRATO BANCÁRIO. TUTELA ANTECIPADA. INSCRIÇÃO DO NOME DO
DEVEDOR NOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. MANUTENÇÃO DO
DEVEDOR NA POSSE DO BEM. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. IMPROVIMENTO. I
- Conforme orientação da Segunda Seção deste Tribunal, o deferimento do pedido
de cancelamento ou de abstenção da inscrição do nome do contratante nos
cadastros de proteção ao crédito depende da comprovação do direito com a
presença concomitante de três elementos: a) ação proposta pelo contratante
contestando a existência integral ou parcial do débito; b) demonstração efetiva da
cobrança indevida, amparada em jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal
Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; c) sendo parcial a contestação, que
haja o depósito da parte incontroversa ou a prestação de caução idônea, a critério
do magistrado. Na espécie, restaram satisfeitos os mencionados requisitos. II - O
Tribunal de origem decidiu pela vedação da inscrição do nome da recorrida
nos cadastros de inadimplentes e pela manutenção do bem na posse da
devedora tendo em vista a descaracterização da mora, tanto pelo
reconhecimento da abusividade dos encargos cobrados como pela
consignação judicial dos valores devidos. Incidência da Súmula 83/STJ. III -
O agravante não trouxe nenhum argumento capaz de modificar a
conclusão do julgado, a qual se mantém por seus próprios fundamentos.
Agravo Regimental improvido. (STJ. AgRg no Ag 1393201/RS. Rel. Min. Sidnei
Beneti. J 03/06/2011)

RECURSO ESPECIAL. AGRAVO REGIMENTAL. CONTRATO BANCÁRIO.


CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS. AUSÊNCIA DE PACTUAÇÃO. MORA.
DESCARACTERIZADA. COBRANÇA DE ENCARGOS ILEGAIS. VEDAÇÃO DA
INSCRIÇÃO DO NOME DO CONTRATANTE NOS CADASTROS DE INADIMPLENTES.
MANUTENÇÃO DO DEVEDOR NA POSSE DO BEM. POSSIBILIDADE. I.- É
admissível a capitalização mensal dos juros nos contratos celebrados a partir da
publicação da Medida Provisória nº 1.963-17/2000, desde que pactuada. II.- É
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impossível, em sede de Recurso Especial, rever a conclusão do Acórdão de que


não houve pactuação de capitalização mensal dos juros, ante os óbices das
Súmulas 5 e 7 desta Corte. III.- A cobrança de encargos ilegais no período da
normalidade descaracteriza a mora do devedor. IV.- Admite-se o deferimento
dos pedidos de vedação de inscrição do nome do contratante nos órgãos
de proteção ao crédito e de manutenção do devedor na posse do bem
uma vez descaracterizada a mora pela cobrança de encargos ilegais.
Agravo improvido. (STJ. AgRg no Ag 1077479/RS. Rel. Min. Sidnei Beneti. J
17/05/2011)

RECURSO ESPECIAL. AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO REVISIONAL. CONTRATO


DE ARRENDAMENTO MERCANTIL. MORA DESCARACTERIZADA PELA
COBRANÇA DE ENCARGOS ABUSIVOS NO PERÍODO DA NORMALIDADE.
INSCRIÇÃO DO NOME DO DEVEDOR EM CADASTROS DE INADIMPLENTES.
INADMISSIBILIDADE. MANUTENÇÃO DO BEM NA POSSE DO DEVEDOR.
POSSIBILIDADE. MULTA. DEFICIÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DO RECURSO.
DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO. I.- Descaracterizada a mora
do devedor, uma vez que reconhecida a abusividade da cobrança de juros
capitalizados mensalmente, devem ser mantidas as determinações de
manutenção do bem na posse do devedor e de vedação da inscrição do
nome do devedor nos cadastros de inadimplentes. II.- Não se conhece do
recurso especial deficientemente fundamentado. III.- O dissenso pretoriano deve
ser demonstrado por meio do cotejo analítico, com transcrição de trechos dos
acórdãos recorrido e paradigma que exponham a similitude fática e a diferente
interpretação da lei federal. Agravo Regimental improvido. (STJ. AgRg no REsp
1235446 / RS. Rel. Min. Sidnei Beneti. J 17/03/2011)

Em recente e brilhante voto lavrado pelo ínclito Desembargador Stewalt Camargo Filho, no Agravo
de Instrumento nº 793.786-8, em 05 de julho de 2011, acompanhando entendimento já consolidado
quando do julgamento da Apelação Cível nº 0716223-4 (17ª Câmara Cível, em 13 de janeiro de 2011),
onde se julgava questão análoga à presente, restou assentado, no que pertine à questão levantada no
presente tópico:

AGRAVO DE INSTRUMENTO – CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL –


ALEGAÇÃO DE CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS E COBRANÇA DE
ENCARGOS CONTRATUAIS ABUSIVOS CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS
JUROS (...) Em resumo, a decisão é no sentido de afastar a capitalização
mensal dos juros (...) cumpre ressaltar que é absolutamente
incompreensível, até mesmo sob o ponto de vista da lógica, do
raciocínio silogístico, vislumbrar a possibilidade de deferir o depósito
do valor incontroverso, ao mesmo tempo impedir a inserção do nome nos
cadastros de proteção ao crédito e, ato contínuo, não deferir o pedido de
manutenção do consumidor na posse do veículo. Ora, me parece muito
simples a seguinte lógica: a) Se há reconhecida prática de abusividade
pela instituição financeira no valor cobrado mensalmente, permitindo-se
o depósito daquilo que efetivamente seja adequado a título de
contraprestação, o julgador reconhece que há plausibilidade de êxito
na argumentação do consumidor. b) Assim sendo, a mora,
obviamente, não pode se configurar, já que, até ulterior decisão o valor
deferido para depósito é o que se entende, para aquele momento, como
realmente devido. c) Ora, se o consumidor então cumpre a
obrigação conforme autorizado pelo juízo (juízo este que enxergou
possibilidade de que realmente exista abusividade no contrato), parece-
me ilógico dizer que o bem não pode ficar na posse do consumidor . Aliás,
só o fato de o juiz impedir a inserção do nome do consumidor nos
cadastros de inadimplentes, equivale a dizer que ele não se encontra
em mora. Ora, se é assim, não estando em mora, não há fundamento para
que seja desprovido da posse do seu bem. Impraticáveis, porque
contraditórias em si mesmas, as determinações judiciais dessa natureza, o
que comumente se observa nas decisões singulares. Um esclarecimento
revela-se necessário: relativamente àquilo que for afastado da parcela na
antecipação de tutela, se eventualmente for revogado em sede de decisão
definitiva, deverá o consumidor pagar os atrasados com correção monetária e
juros de mora. Parece óbvio: verificado ao final da demanda que, em relação a
determinados encargos questionados o consumidor não logrou êxito na sua
tese, mostra-se necessário que realize o adimplemento daquilo que era
devido, justamente por ter sido impugnado indevidamente. É o risco que corre
o consumidor, ao questionar algo sem estar lastreado em fundamentos
convincentes. A verdade é uma só: os requisitos cumulativos
estabelecidos pelo STJ, uma vez preenchidos, resultam obrigatoriamente
nos três efeitos que são inerentes e inseparáveis: manutenção da posse,
permissão para depósito do valor incontroverso (extirpadas as
cobranças entendidas, desde logo, como abusivas) e impossibilidade de
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incluir o nome do consumidor nos cadastros de proteção ao crédito. A


necessidade da manutenção de posse como consectário lógico é clara,
nestes termos:
(...)...Verificada a cobrança de encargo abusivo no período da
normalidade contratual, resta descaracterizada a mora do devedor.
Afastada a mora: i) é ilegal o envio de dados do consumidor
para quaisquer cadastros de inadimplência; ii) deve o
consumidor permanecer na posse do bem alienado
fiduciariamente e iii) não se admite o protesto do título
representativo da dívida. Não há qualquer vedação legal à efetivação
de depósitos parciais, segundo o que a parte entende devido. (REsp
1061530 / RS Relator(a) - Ministra NANCY ANDRIGHI (1118) - Órgão
Julgador: S2 - SEGUNDA SEÇÃO - Data do Julgamento: 22/10/2008
- Data da Publicação/Fonte: DJe 10/03/2009).
Diante do exposto (...) DOU PARCIAL PROVIMENTO ao agravo de instrumento
interposto para redefinir os critérios de cálculo provisório das parcelas
devidas, com base no § 1-A do art. 557 do Código de Processo Civil, para os
efeitos logo acima transcritos, reformando-se a decisão singular. Isso possibilita
que o consumidor deposite sua contraprestação em juízo, mensalmente,
agora com base nos critérios aqui definidos (juros com capitalização anual
ou simples, conforme o caso), de modo que, assim procedendo, não
restará em mora, podendo manter-se na posse do bem, bem como
terá o direito de não ver o seu nome incluso nos cadastros de proteção ao
crédito (ou retirado imediatamente, após a purgação de eventual mora, se já
incluso).
(TJPR. Agravo de Instrumento nº 793.786-8. 18ª C. Cível. Rel. Des. Stewalt
Camargo Filho. J. 05.07.2011)

Assim posto, havendo boa-fé do Autor, ao passo que a conduta da Ré é amplamente ilegal sob
diversos prismas, não se mostra concebível permitir eventual rescisão do contrato com eventual entrega
do bem à Ré, eis que pretende o Autor manter a avença, porém pagando o justo e incontroverso, em sede
de consignação em pagamento.

Logo, ante "a descaracterização da mora decorrente da cobrança de encargos indevidos, como, no
caso concreto a capitalização mensal dos juros, entendimento amparado pela jurisprudência pacífica na 2ª
Seção do STJ" (Ag no REsp 988718/RS), e o adimplemento da avença, bem como ante o fato de que o
veículo é utilizado para as atividades do Autor pugna pelo proferimento de decisão antecipatória de tutela
que o mantenha na posse do bem enquanto perdurar a presente lide, mitigando-se, neste ponto, os
efeitos da mora.

III.3.3. PEDIDOS SUCESSIVOS ATINENTES AO DEPÓSITO JUDICIAL (ART. 289 DO CPC)

Em suas conclusões, aduz que a parcela devida, se considerar-se o mesmo método de


capitalização mensal de juros, porém excluindo as “tarifas”, seria de R$[ ] (doc. 04, planilha 02).
Admitindo-se o sistema Price, contudo aplicando a taxa efetivamente contratada, excluindo-se as “tarifas”,
compensando-se o saldo credor em face do saldo devedor, chega-se a uma parcela de R$[ ], sendo que
com o mesmo método, incluindo-se as “tarifas”, chega-se ao importe mensal de R$[ ] (doc. 04, planilhas
03).

Projetando-se a prestação tendo como parâmetro a taxa de juros mensal efetivamente contratada,
extirpando-se a capitalização mensal, tem-se que o valor a ser exigido desde o início era de R$451,60
mensais, isto incluindo-se as “tarifas”, ao passo que excluindo-as chegaria-se ao importe de R$472,88
(doc. 04, planilhas 04). Admitindo-se o sistema de prestação constante a juros simples, único método apto
a extirpar os juros mensalmente capitalizados, mediante correção do saldo devedor, chega-se ao importe
mensal de R$[ ] com a inclusão no financiamento das “tarifas”, e R$[ ] excluindo-as.

De observar que nestes cálculos o IOF está sendo computado no financiamento, em razão de que
sua inexigibilidade em contratos como o em exame ainda não se consubstancia em matéria pacificada na
jurisprudência.

Assim, para fins de depósito judicial a fim de obter jurisdição que promova a retirada do nome o
autor dos sistema de restrição ao crédito, bem como mantê-lo na posse do veículo, requer seja analisado
em sede de pedido sucessivo o depósito das parcelas em conformidade com o método que Vossa
Excelência entender cabível, a ponto de afastar a mora, o que faz com supedâneo no art. 289 do Código
de Processo Civil.

IV. DOS QUESITOS A SEREM ANALISADOS EM SEDE DE PROVA PERICIAL

Emérito Magistrado, conforme se depreende da análise dos documentos anexos, bem como dos
fatos alegados e comprovados nos tópicos acima, o efetivo valor a ser restituído/compensado pela Ré ao
Autor, em virtude da aplicação de encargos ilegais, excessivos, comissão de permanência cumulada, juros
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abusivos, capitalização mensal de juros, dentre outros, demanda a análise de diversos e intrincados
fatores.

Desta forma, o Autor traz com esta petição inicial os elementos necessários à constatação do
fummus boni iuris, tornando-se necessária a incursão por perícia judicial de forma a se estabelecer a
quantia efetivamente paga de forma indevida, bem como saldo devedor.

Assim, com base no art. 276 do Código de Processo Civil, deve formular o autor quesitos quando
requerer perícia, e diante da necessidade da análise efetuada por expert para se alcançar o quantum
debeatur a ser restituído, formulam-se abaixo quesitos à perícia, os quais poderão elucidar o total a ser
restituído:

1. É possível aferir a taxa efetiva de juros remuneratórios aplicada ao contrato? Qual(quais) a(s)
taxa(s) de juros efetivamente praticada(s) ao longo do período compreendido entre o primeiro
pagamento e o pagamento final?
2. É possível aferir a taxa mensal efetivamente cobrada?
3. A taxa mensal, multiplicada por 12 meses, resulta na taxa de juros anual? Foi utilizado o sistema
price? Referido sistema comporta juros com capitalização mensal?
4. A análise dos débitos impingidos à parte autora, nas hipóteses de mora no pagamento, permite
constatar a cobrança de juros de mora sobre juros de mora?
5. Houve, nos casos de mora, a cobrança de juros diários?
6. Houve cobrança de juros de mora em patamar superior a 1% ao mês?
7. Houve cobrança de comissão de permanência cumulada com quaisquer outros encargos de mora?
Em caso positivo, que encargos de mora foram somados à comissão de permanência?
8. A análise dos débitos impingidos à parte autora, nas hipóteses de mora no pagamento, permite
constatar a cobrança de multa de mora e juros de mora com “comissão de permanência”?
9. Sendo positiva a resposta às perguntas 7 a 8 acima, quais seriam estes encargos e quais seus
valores?
10. Nos casos de mora no pagamento, qual a “maior taxa do mercado” aplicável à título de “comissão
de permanência”, durante todo o período?
11. Aplicando-se a cobrança tão-somente de “comissão de permanência”, qual seria o valor correto e
ser aplicado a cada qual das parcelas pagas em atraso?
12. Houve a cobrança e o pagamento de “tarifa de cadastro” e “tarifa de avaliação” e embutida no
valor total do financiamento?
13. Cobrou-se a “tarifa de emissão de carne”? Caso positivo, em quantas parcelas?
14. Houve a cobrança sumulada de “serviços de terceiro”, “tarifa de avaliação”, “tarifa de cadastro” e
“registro de contrato” embutida no financiamento? Sob estas rubricas, incidiu juros mensalmente
capitalizados? Em caso positivo, em que percentual e qual o reflexo do financiamento destas
“tarifas” no valor mensal da parcela?
15. Sendo positivas as respostas às perguntas 12 a 14 acima, qual o valor efetivamente pago pela
parte autora sob estas rubricas?
16. Qual o total a ser restituído pela Ré, tão-somente no que se refere aos encargos e tarifas
contratuais, aplicando-se a devolução simples?
17. A cobrança de IOF se deu conforme a alíquota exigível para a data da contratação?
18. Qual era a alíquota máxima exigível do tomador?
19. Qual a base de cálculo do IOF para a operação?
20. A base de cálculo, no caso concreto, inclui o valor financiado apenas, ou o valor financiado
somado aos juros e demais encargos?
21. Em resposta afirmativa ao item acima, calculando-se o IOF apenas sobre o total tomado, qual
seria o impacto mensal de tal rubrica sobre a parcela mensal, e o contrato de forma global?
22. Quanto pagou a mais o autor, considerando-se indevidos os pagamentos de “TAC”, “tarifa de
avaliação”, “serviços de terceiros”, e “registro de contrato”, e juros sobre estes encargos, além de
juros de mora capitalizados, comissão de permanência cumulada, e juros remuneratórios
capitalizados?
23. Qual o efetivo quantum debeatur exigível da parte autora?
24. Há saldo credor em favor da autora? Qual seria este saldo, aplicados os juros e correção legais?
25. Expurgados os valores tidos pelo Autor como indevidos, feita a devolução simples diluída nas
parcelas, qual seria o valor mensal correto a ser pago a título de prestação?

V. PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer respeitosamente:

a) A citação da requerida, no endereço indicado no preâmbulo para que, querendo, apresente


resposta, no prazo legal, sob pena de revelia e confissão,
b) Seja declarado aplicável ao caso o CDC, com a interpretação das cláusulas contratuais de forma
mais benéfica ao consumidor, bem como a relativização das cláusulas inseridas no bojo do
contrato de adesão em análise e a declaração de nulidade das cláusulas abusivas/iníquas e
excessivamente onerosas, nos termos da fundamentação expendida,
c) Em sede de instrução probatória, pela inversão do onus probandi com a realização de perícia
financeira para apurar o saldo credor do Autor ou eventual saldo devedor,
Pg. 23 de 23

d) Seja ao final julgada procedente a presente ação, com a revisão judicial do contrato, sendo
declaradas ocorrentes e abusivas/ilegais as cobranças de juros remuneratórios mensalmente
capitalizados, juros de mora superior a 1% ao mês, juros de mora incidentes sobre juros de mora
(capitalização de juros moratórios), cobrança de comissão de permanência cumulada com outros
encargos, “tarifa de cadastro”, “tarifa de avaliação”, “serviços de terceiros” e “registro de
contrato”, além do IOF, conforme fundamentos expendidos supra, e demais tarifas inominadas
que venham a ser detectadas ao longo da instrução processual, declarando-se-as ilegais, abusivas
e passíveis de restituição/compensação,
e) A condenação da Ré a devolver/compensar na forma simples tudo quanto tenha efetivamente
exigido e recebido indevidamente, acrescidos dos juros legais e correção monetária pelo IGPM
(com termo inicial na data de cada pagamento), conforme o quantum debeatur apurado em
perícia, recaindo a restituição na compensação com o saldo devedor, se houver,
f) Seja concedida, em sede de tutela antecipada, a autorização para depósito em juízo da parcela
incontroversa, nos termos da planilha elaborada por perito, mantendo-se o Autor na posse do
bem, bem como impedindo-se a Ré de inscrever seu nome nos cadastros de restrição ao crédito
em decorrência do contrato ora revisto, nos termos da fundamentação acima; f.1.) na remota
hipótese de inacolhimento do pedido de depósito judicial na forma exposta, pela análise dos
pedidos sucessivos,
g) A produção de provas nos seguintes termos: g.1.) a inversão do onus probandi, de acordo com o
artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor; g.2.) constatada a complexidade dos cálculos
necessários a apurar o valor devido, requer seja deferida a perícia técnico-contábil e financeira às
expensas da ré, visando apurar os resultados objetivados, nomeando desde logo assistente a Sra.
Perita Vivianne Luiza Costa, mestre em cálculos numéricos pela UFPR g.3.) a juntada de
documentos, o depoimento das partes e, invocado o princípio legal, quaisquer outras provas que
se fizerem necessárias, e
h) A condenação da Ré ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, a serem
fixados nos termos do art. 20, §§2º e 3º do Código de Processo Civil.
i) Pugna pela concessão dos benefícios da Lei nº 1.060/50, conforme declaração acostada.

Dá-se à causa, somente para fins de alçada, o valor de R$5.650,02, consubstanciado no conteúdo
econômico da demanda provisoriamente aferido (diferença entre o valor total exigido o valor total
incontroverso).

Nestes termos, pede deferimento.

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