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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA

COMARCA DE IBIRITÉ/MG.

PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA

TARLEY PAULO SALES, brasileiro, solteiro, condutor socorrista, portador da


Carteira de Identidade MG-10.020.067, expedida pela SSP/MG, inscrito no CPF sob o n°.
042.434.766-08, residente e domiciliado à Rua Augusto Brandão Rocha, n°. 234,
apartamento 04, bairro Serra Azul, Sarzedo/MG, CEP.: 32.450-000, vem, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, através de seus procuradores in fine assinados, conforme
instrumento de mandato em anexo, ajuizar a presente:

AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA

Em face de BANCO BRADESCO S.A, instituição financeira de direito privado,


inscrita no CNPJ nº. 60.746.948.0001-12, com sede no Núcleo Cidade de Deus, s/nº, bairro
Vila Yara, Osasco/SP, CEP.: 06.029-900, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas e,
para os fins, ao final requerido.

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I. PRELIMINARMENTE.

I. DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.

O Autor com fulcro nos dispositivos legais que garante o acesso ao Poder
Judiciário àquele que não tem condições de arcar com custas e despesas do processo e se
declara pobre no sentido legal, requer a gratuidade de justiça nos presentes autos.

Para a concessão da justiça gratuita à pessoa física, não há qualquer outra


exigência legal senão a constante no art. 98 do CPC1, qual seja, a simples afirmação
mediante Declaração de Pobreza, constante na própria exordial, de que não tem condições de
pagar os ônus sucumbenciais, sem prejuízo próprio ou de sua família.

Ademais, para a concessão do benefício não se exige a miserabilidade, nem que


seja o interessado um indigente, basta que ele afirme a impossibilidade de custear as
despesas do processo, como restou comprovado no presente caso.

Nesse sentido é a jurisprudência:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - PEDIDO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA - VALOR DA


CAUSA SUPERIOR Á 40 SALÁRIOS MÍNIMOS - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
COMUM - PESSOA FÍSICA - AFIRMAÇÃO DE POBREZA - SUFICIÊNCIA PARA A
CONCESSÃO. O Juizado Especial Cível tem competência para julgamento
de causas cujo valor não exceda a 40 (quarenta) vezes o salário mínimo
(...). Para concessão da justiça gratuita à pessoa física, conforme o
disposto no artigo 4º da Lei 1.060/50 basta a simples afirmação na
própria petição inicial de que não está em condições de pagar as custas
do processo e os honorários advocatícios, sem o comprometimento de
seu sustento e de sua família. (Agravo de Instrumento Cv
1.0079.11.003280-6/001, Relator(a): Des.(a) Nicolau Masselli, 13ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 30/06/2011, publicação da súmula em 18/07/2011; sem
grifos no original)

Desta feita, a parte Autora solicita os benefícios da assistência judiciária,


carreando documentos que comprovam a sua hipossuficiência, e com a garantia fundamental
prevista no art. 5°, LXXVI, da Constituição Federal de 1988, sob pena de inviabilizar o seu o
objetivo.

1
Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas,
as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.
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Ainda, requer com a junta aos autos documentos para comprovação dos
recebimentos mensais para constatação de tais afirmações (DOCS. 3 e 11).

II. DOS FATOS.

Na data 26 de julho de 2019, a parte Autora celebrou com o Réu ―Instrumento


Particular de Financiamento para aquisição de imóvel, venda e compra e constituição de
alienação fiduciária, entre outras avenças‖ (DOC. 04), para aquisição do imóvel situado à
Rua Augusto Brandão Rocha, n°. 234, apto. 04, bairro Serra Azul, em Sarzedo/MG, CEP.:
32.450-000, havido conforme matrícula nº. 24.665 do serviço de Registro de Imóveis da
Comarca de Ibirité/MG, nas seguintes condições:

1. Valor de Avaliação: R$168.000,00;


2. Valor da Compra e Venda: R$167.000,00;
3. Valor da Entrada: R$42.000,00;
4. Valor do Financiamento: R$125.000,00;
5. Prazo de amortização: 360 meses;
6. Taxa de Juros Efetiva: 8,85% a.a.;
7. Sistema de Amortização: Sistema de Amortização Constante – SAC.

Realizando no dia 03 de setembro de 2021 um ―Instrumento Particular de


Aditamento ao Contrato de Compra e Venda, Mutuo, Pacto Adjeto de Hipoteca/Alienação
Fiduciária e Outras Avenças‖, realizando incorporação de prestações do período 12/11/2020
até 12/08/2021, sendo incorporado o valor de R$15.641,10, restando um saldo devedor de
R$146.225,99.

Ao assinar o contrato e o instrumento de aditamento, foi-lhe informado que no


Sistema de Amortização Constante (SAC) as prestações e o saldo devedor iriam caindo mês a
mês, o que a encorajou a contrair o financiamento. Entretanto, celebrado o contrato e dado
início ao pagamento das parcelas devidas, pôde-se apurar que mesmo quitando as
prestações mensalmente nos moldes pactuado, o saldo devedor contratual sofria abatimento
mínimo, não vislumbrando a redução considerável do débito final.

In casu, cumpre informar que o mutuário encontra-se adimplente com as


prestações do financiamento, situação que não consegue manter por muito tempo, tendo em
vista a diminuição drástica de sua renda em razão de dívidas contraídas e as abusividades
procedidas pela Ré.

Preocupado com um financiamento onde, após anos de pagamento praticamente


nada amortizaram no empréstimo obtido (saldo no início financiamento R$130.641,10, e
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R$146.225,99 na última prestação), a parte Autora elaborou um recálculo, (DOCS. 11 e 12)
e apurou que devido às irregularidades que serão detalhadas nessa petição, as diferenças já
estão e ficarão ainda mais expressivas no término dos 360 meses contratados.

Realizando uma tabela comparativa acerca do valor do encargo pelo método


SAC-GAUSS (aplicação de juros simples) X os valores capitalizados, adotados pelo agente
financeiro referente à parcela de Agosto/2021, verifica-se:

Parcela Saldo Devedor


SAC (Juros Capitalizados) R$1.428,90 R$146.225,99

SAC – GAUSS (Juros Simples) R$815,36 R$129.030,62

Em razão destes fatos e já bastante preocupado com o desenvolver do


financiamento, o Autor elaborou Planilha Contábil de acordo com o contrato e a legislação
vigente, onde apurou que, devido às irregularidades descritas a seguir, o valor do encargo
mensal atual seria de R$815,36 (oitocentos e quinze reais e trinta e seis centavos),
diferente dos R$1.428,90 (mil, quatrocentos e vinte e oito reais e noventa centavos)
praticados hoje, e que na realidade o saldo devedor real é de R$129.030,62 (cento e vinte
e nove mil, trinta reais e sessenta e dois centavos) contra R$146.149,54 (cento e
quarenta e seis mil, cento e quarenta e nove reais e cinquenta e quatro centavos),
conforme se infere na planilha de cálculo apresentada pelo agente financeiro (DOC. 07).

Excelência conforme relatado acima, é certo que o contrato sub judice apresenta
várias irregularidades, as quais são demonstradas na planilha elaborada por assistente
contábil da parte Autora (DOCS. 11 e 12), haja vista que a Ré se utilizou de subterfúgios
para majorar as prestações mensais, tais como capitalização de juros, sistema de
amortização indevido, entre outros, conforme planilha de evolução do financiamento (DOC.
09).

Observa-se na planilha de evolução do financiamento, parcela nº. 24,


que o valor da prestação é: R$1.428,90 (mil, quatrocentos e vinte e oito reais), o
mutuário pagou de JUROS, o valor de R$923,11 (novecentos e vinte e três reais e
onze centavos), ocorrendo amortização na divida de somente R$386,25 (trezentos
e oitenta e seis reais e vinte e cinco centavos).

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Ademais, insta informar que o contrato de financiamento é regido pelo Sistema
Brasileiro de Poupança e Empréstimo – SBPE é uma linha de crédito oferecida por
instituições financeiras públicas e privadas, destinada majoritariamente para a compra de
imóveis.

É sabido que investimentos como a Caderneta de Poupança têm rendido


0,11% ou 0,12% ao mês, o que da 1,40% ao ano; o FGTS – Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço tem rendido 0,25% ao mês o que da 3,00% ao ano. Valores de
aplicações financeiras em que o agente financeiro renumera seus investidores com
juros anuais baixos, utilizado desses valores para financiamento de imóveis através
do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo – SPPE, cobrado juros
exorbitantes de seus mutuários.

Infere-se no contrato de financiamento que a taxa de juros efetiva é de 8,85%


ao ano, o lucro do agente financeiro chega a atingir 300% sobre um recurso que não o
pertence.

Além deste astronômico lucro, os contratos habitacionais são classificados como


de risco zero, pois havendo inadimplência superior a 03 (três) meses, a instituição financeira
poderá utilizar-se dos predicados da Lei nº. 9.514/97, que regula a alienação fiduciária,
garantindo assim a retomada do imóvel e realizando o consequente em leilão extrajudicial ou
venda direta, o que lhe assegurará pelo menos o retorno do capital disponibilizado (garantia
real).

Evidente que a Ré terá lucros (razoáveis, utilizando juros simples ou


exorbitantes, utilizando juros capitalizados) nestas operações. E a discussão está longe de
pautar a não remuneração pelo empréstimo e sim por algo plausível, justo, que possa
configurar um sistema de financiamento habitacional com a real missão social e não partindo
de contratos viciosos em que macula a capitalização de juros e onera as prestações pelos 360
meses de contrato.

Ainda, considerando o cenário econômico, os Autores não conseguem arcar com


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uma parcela extremante onerosa e abusiva, o que possibilita a revisão do contrato, conforme
autorizado pelo Código de Defesa do Consumidor e Teorias da Base Objetiva e da Imprevisão.

Diante disso, tal atitude da Ré incentiva o Autor a buscarem o Poder Judiciário


para pleitear a revisão do contrato pactuado entre as partes, a fim de alumiar os erros
cometidos pela Ré.

III. DO DIREITO

III.1. SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO CONSTANTE – SAC – E SUA METODOLOGIA.

Alguns entendimentos vêm negando o direito de os mutuários revisarem seus


contratos sob a alegação de o Sistema de Amortização Constante – SAC ser favorável ao
mutuário, já que as prestações vão reduzindo com o correr do tempo, não gerando saldo
residual, e pela alegação de que nele não existe capitalização de juros.

Entretanto, através de perícia contábil poderá ser provado que muito embora o
sistema SAC não possua em suas fórmulas o elemento exponencial, sua performance de
custo é igual à de um sistema a juros compostos. Ainda que as prestações estejam reduzindo
mensalmente, os juros capitalizados estão englobados ao longo da evolução do
financiamento, justificando assim que ao final do contrato o valor pago ao agente financeiro é
3, 4 ou até 5 vezes maior do que o valor financiado. Vejamos os entendimentos
jurisprudenciais abaixo:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - ALEGAÇÃO DE OMISSÃO POR NÃO OFERTAR


SUBSTITUTIVO À TABELA PRICE - SUBSTITUIÇÃO PELO SAC -
IMPOSSIBILIDADE - TABELA PRICE, SAC E SAM (SACRE) - DISTINÇÃO -
MÉTODO DE GAUSS (SISTEMA DE JUROS LINEARES PARA CONTRATOS DE
LONGO PRAZO) - PRECEDENTES. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. A
Tabela Price, considerada como sistema de amortização, contém uma
fórmula para cálculo das prestações, identificando de modo intrínsico,
uma parcela referente aos juros e outra referente a amortização do
capital. A partir dessa fórmula original, pode-se criar o SAC e o SAM,
também conhecido como SACRE. A diferença entre esses "sistemas" de
cálculos da prestação (e não do saldo devedor) reside basicamente no
maior ou menor aporte financeiro ao início do contrato como
determinante do ritmo de amortização do saldo devedor. Em outras
palavras, quanto maior o valor da prestação (tal como é no SAC), o
percentual de juros e de amortização do capital é também maior e por
conta disso, provocando uma amortização constante. Daí, o nome SAC.
O SAM ou SACRE, nada mais é do que a média aritmética entre o cálculo
tradicional da TP com o SAC, pelo qual o percentual de juros e
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amortização de capital fica entre aquelas duas fórmulas. Todavia, o que
não pode ser ignorado é que seja a prestação calculada pela fórmula da
TP clássica, seja SAC, seja SAM ou SACRE, será sempre TABELA PRICE.
Portanto, a substituição da Tabela Price pelo SAC, redunda literalmente
em trocar seis por meia dúzia. Logo, se houve exclusão da TP, também o
SAC (TP) restou excluído. (TJPR - 17ª C.Cível - EDC - 288216-8/01 - Curitiba
- Rel.: Gamaliel Seme Scaff - Unânime - J. 08.03.2006; sem grifos no original)

O SAC é um dos tipos de sistema de amortização utilizados em contrato mútuo


de dinheiro. A principal característica do SAC é que amortiza um percentual fixo do saldo
devedor desde o início do empréstimo. Esse percentual de amortização é sempre o mesmo, o
que faz com que a parcela de amortização da dívida seja maior no início do financiamento,
fazendo com que o saldo devedor caia mais rapidamente do que em outros mecanismos de
amortização.

Importante frisar que o Sistema SAC incorpora a teoria dos juros compostos às
amortizações de empréstimos, pois a parcela de juros será obtida multiplicando-se a taxa de
juros pelo saldo devedor existente no período imediatamente anterior, sendo a parcela de
amortização determinada pela diferença e o valor da parcela de juros.

Com relação à analogia entre o Sistema SAC e o Sistema Price, observa-se o que
já ficou consignado em voto do Exmo. Des. BERETTA DA SILVEIRA, com apoio na lição de
LUIZ ANTÔNIO SCAVONE JÚNIOR:

“É preciso insistir no fato de que a capitalização dos juros é classificada em


simples (linear) ou composta (juros sobre juros). Essa classificação não se
confunde com aquela decorrente dos sistemas de amortização, cujas espécies
são: sistema francês (tabela príce); sistema constante (SAC - sistema de
amortização constante) e sistema misto (SAM - sistema de amortização
misto), todos embutindo juros compostos.”

Logo, pode-se concluir que há capitalização no sistema SAC aplicado no


contrato pactuado, dada a similitude do sistema com a utilização de Tabela Price,
cujo cálculo contempla juros compostos, pelo que deve ser afastado, aplicando-se o
método de Equivalência em Juros Simples.

Através de perícia contábil poderá se comprovar que o sistema SAC


possui performance de custo igual de um sistema a juros compostos, ou seja, o SAC
se trata de Tabela Price, mudando somente a nomenclatura do sistema. Vejamos:

EMENTA: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO


(SFH). AÇÃO REVISIONAL. PERÍCIA CONTÁBIL. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS
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(ANATOCISMO). OCORRÊNCIA. 1. Já decidiu este Tribunal que, ―havendo
amortização negativa, como no caso, como comprovado no laudo pericial,
configura-se a prática ilícita de anatocismo, o que impõe o recálculo do saldo
devedor para excluir a capitalização de juros, com o cômputo desses juros em
separado, em todos os meses em que verificada, a fim de evitar a cobrança de
juros sobre juros (anatocismo)‖ (TRF1, AC 0009551-02.2006.4.01.3307/BA,
Rel. Juiz Federal Conv. Rodrigo Navarro de Oliveira, Quinta Turma, e-DJF1
08/06/2018). 2. Quanto à necessidade de perícia técnica contábil para
aferir a ocorrência de anatocismo no contrato, já decidiu o STJ, em
julgamento de recursos submetidos à dinâmica do art. 453-C do
CPC/1973 que, “[...] Em contratos cuja capitalização de juros seja
vedada, é necessária a interpretação de cláusulas contratuais e a
produção de prova técnica para aferir a existência da cobrança de juros
não lineares, incompatíveis, portanto, com financiamentos celebrados
no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação antes da vigência da Lei
n. 11.977/2009, que acrescentou o art. 15-A à Lei n. 4.380/1964”
(STJ, REsp 1.124.552/RS, Re. Ministro Luis Felipe Salomão, Corte
Especial, e-DJ 03/12/2014, DJe 02/02/2015). 3. Realizada a perícia,
constatou-se que, ―das 145 prestações pagas (ou incorporadas) à CEF, apenas
a 1ª foi suficiente para cobrir os juros do período, enquanto todas as demais
144 prestações resultaram em amortizações negativas, produzindo um brutal
crescimento do saldo devedor do financiamento, em razão das incorporações
de 144 parcelas de juros ao saldo devedor‖. 4. Negado provimento à apelação.
(APELAÇÃO CIVEL (AC) 0002827-35.2004.4.01.3700, DESEMBARGADOR
FEDERAL JOÃO BATISTA MOREIRA, TRF - PRIMEIRA REGIÃO - SEXTA TURMA –
E-DJF1 Publicação 20/02/2019; sem grifos no original)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. PLANO DE


EQUIVALÊNCIA SALARIAL - PES. AÇÃO DE REPETIÇÃO DO VALOR DAS
PRESTAÇÕES. PROVA PERICIAL. NECESSIDADE. SENTENÇA ANULADA. 1 - É
indispensável a realização de perícia contábil nas ações que discutem a
correta aplicação do plano de equivalência salarial -PES. 2 - Sentença
anulada de ofício. 3 - Recurso prejudicado. (AGREXT 0021645-
10.2005.4.01.3600, JULIER SEBASTIÃO DA SILVA, TRF1 - PRIMEIRA TURMA
RECURSAL - MT, DJMT Publicação 06/10/2006; sem grifos no original)

Diante disso, prudente é a correção da metodologia de juros aplicados no


sistema SAC, por este conter em seu desenrolar a capitalização, vedada pelo STF e em
substituição seja utilizado o Método de Gauss, também conhecido por juros simples.

III.2. DO ANATOCISMO – SUA PROIBIÇÃO.

O direito proíbe a cobrança de juros sobre juros, ou seja, os chamados juros


compostos, o que constitui o anatocismo (Súmula 121 do STF: é vedada a capitalização
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de juros ainda que expressamente convencionado). Os juros não podem ser somados
ao capital para o efeito de produzir juros.

Assim sendo, ressalta-se que, a ocorrência do ANATOCISMO se dá nos


seguintes momentos:

1°) Quando indica uma taxa nominal e outra efetiva de juros, conforme o
presente caso, já está afirmando contratualmente que a taxa efetiva é a nominal
capitalizada mensalmente.

2º) Quando se aplica o SAC que contém juros exponenciais.

A metodologia aplicada é para que na última prestação o saldo devedor esteja


zerado. Para tanto, cada parcela deve ser maior que o valor dos juros devido na mesma
ocasião, caso contrário, a dívida será perpétua. Se os juros sobre o saldo não forem
integralmente pagos na parcela mensal, o seu excedente se incorpora ao saldo devedor que
serve de base para o cálculo de novos juros da prestação seguinte (anual), o que caracteriza
anatocismo.

Em julgado, noticiado no Informativo do STJ nº. 0168, referente ao período de 31


de março a 04 de abril de 2003, esta questão foi tratada com muita propriedade:

A capitalização dos juros é proibida (Sum nº. 121-STJ), somente permitida


quando expressamente disposta em lei (Sum nº. 93-STJ), o que não
acontece no SFH. Admitido no acórdão que o modo de calcular a prestação
implica „efeito-capitalização, o procedimento deve ser revisto para excluir-
se a capitalização, proibida pelo seu efeito. A regra do art. 6º da Lei
4.380/1964, não autoriza a capitalização dos juros, nem está o
anatocismo permitido em nenhuma das leis indicadas e transcritas nos
autos pela CEF. (REsp 446.916-RS, Rel. Min. Ruy Rosado, julgado em
1º/4/2003)

Nenhuma das situações corresponde àquela relativa aos contratos dos autos,
motivo pelo qual não se admite a capitalização mensal dos juros, devendo vigorar a Súmula
n°. 121 do STF.

A Suprema Corte, no julgamento do RE 90341/PA voltou a decidir que as


instituições financeiras não podem cobrar juros capitalizados.

É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada


(Súmula 121 do STF). Dessa proibição não estão excluídas as instituições financeiras, dado
que a Súmula 596 não guarda relação com o anatocismo. A capitalização semestral de juros, ao
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invés da anual, só é permitida nas operações regidas por leis especiais que nela expressamente
consentem. Recurso extraordinário conhecido e provido.

Em julgado, o STJ reafirmou esse entendimento:

―(...) III - Não se admite a cobrança de capitalização de juros nos


contratos vinculados ao SFH em qualquer periodicidade; (…)‖ (REsp
1065102/SC, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em
12.08.2008, DJe 03.09.2008)

Com efeito, é nula a prática da capitalização mensal de juros, já que vedada pelo
ordenamento jurídico.

No SAC, SACRE ou na Tabela Price haverá a cobrança de juros sobre juros, ou


juros capitalizados, que estão presentes em todos os sistemas de concessão de crédito.

O Sistema de Amortização Constante incorpora a teoria dos juros compostos às


amortizações de empréstimos, pois como esclarece o ilustre José Dutra Vieira Sobrinho, em
Matemática Financeira, Editora Atlas, 3ª edição, pg. 189:

A parcela de juros é obtida multiplicando-se a taxa de juros (diária, mensal,


trimestral, semestral ou anual) pelo saldo devedor existente no período
imediatamente anterior (dia, mês, semestre ou ano); a parcela de amortização é
determinada pela diferença e o valor da parcela de juros. Assim, temos que:
PRESTAÇÃO = JUROS + AMORTIZAÇÃO. Obs: Amortização refere-se
exclusivamente ao pagamento do principal, do capital emprestado.

Se isto não bastasse, apesar da fórmula do SAC não apresentar exponencial, o


mesmo contempla a capitalização composta de juros que é provada a partir do deságio, ou
seja, a chamada ―prova real‖ na matemática, seguindo o seguinte fundamento:

“Para encontrar o valor da prestação neste sistema de amortização, devemos


aplicar os juros ao capital e somar com a amortização (Ex.: Capital = R$
10.000,00;juros 1% ao mês; período 10 meses. Portanto a prestação será 1%
multiplicado pelo capital mais a parcela de amortização que se refere ao capital
dividido pelo prazo de pagamento. Desta forma chega-se ao resultado de R$
1.100,00). Entretanto, se fizermos o resultado inverso para tirar a “prova real”
encontraremos valores diferentes, fruto de uma exponenciação. Ex.: a prestação
é R$ 1.100,00 e será expurgado os seus juros, ou seja, se antes multiplicava
agora passa a dividir pelos juros do mês. Portanto temos R$ 1.100,00 dividido
por 1% e encontramos uma parcela desagiada de R$ 1.089,11. Provando assim
a sua devida capitalização”.

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Este sistema confunde-se na sua fórmula com o Sistema SACRE – Sistema de
Amortização Crescente, diferenciando do segundo pela exclusão da razão de decréscimo, que
no SAC é constante, enquanto que no primeiro é crescente. Enfrentando o tema com relação
à capitalização existente na fórmula do SACRE, o TRF 4ª Região, proferiu o seguinte
entendimento:

ADMINISTRATIVO. CIVIL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. SACRE.


CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. VEDAÇÃO. A organização do fluxo de
pagamento constante, nos moldes do Sistema Crescente de Amortização
(SACRE), concebe a cotação de juros compostos, o que é vedado
legalmente, merecendo ser reprimida, ainda que expressamente
avençada, uma vez que constitui convenção abusiva. - As regras do
SACRE devem ser adaptadas aos ditames legais - juros simples,
preservando-se ao máximo possível os termos da pactuação. Para tanto, os
juros contratados devem ser cotados em conta apartada, sem que haja a
realimentação do capital, evitando-se o anatocismo. (TRF4, AC
2003.71.04.007603-3, Primeira Turma Suplementar, Relator Luiz Carlos de
Castro Lugon, publicado em 26/04/2006) (...) SACRE. CAPITALIZAÇÃO DE
JUROS. VEDAÇÃO. (...) A organização do fluxo de pagamento constante,
nos moldes do Sistema Crescente de Amortização (SACRE), concebe a
cotação de juros compostos, o que é vedado legalmente, merecendo ser
reprimida, ainda que expressamente avençada, uma vez que constitui
convenção abusiva. As regras do SACRE devem ser adaptadas aos
ditames legais - juros simples, preservando-se ao máximo possível os
termos da pactuação. Para tanto, os juros contratados devem ser cotados em
conta apartada, sem que haja a realimentação do capital, evitando-se o
anatocismo. (...) (Apelação Cível 200270000757717; Rel Des. Luiz Carlos de
Castro Lugon; TRF4; P.: 16/05/2007; sem grifos no original)

(...) SACRE. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. VEDAÇÃO. A organização do fluxo de


pagamento constante, nos moldes do Sistema Crescente de Amortização
(SACRE), concebe a cotação de juros compostos, o que é vedado legalmente,
merecendo ser reprimida, ainda que expressamente avençada, uma vez que
constitui convenção abusiva. - As regras do SACRE devem ser adaptadas
aos ditames legais - juros simples, preservando-se ao máximo possível os
termos da pactuação. Para tanto, os juros contratados devem ser cotados em
conta apartada, sem que haja a realimentação do capital, evitando-se o
anatocismo. (...) (Apelação Cível 200170000150946; Rel. Des. Luiz Carlos de
Castro Lugon; TRF4; P.: 29/11/2006; sem grifos no original)

Se o objetivo alicerçado pelos Tribunais é de exclusão da Capitalização e do


Anatocismo, resta a solução de ADOTAR AO SISTEMA BRASILEIRO O MÉTODO GAUSS
OU JUROS SIMPLES.

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Inicialmente o cálculo do Método Gauss levará em consideração o valor
financiado, a taxa de juros nominal e o prazo. Considerando que o valor da taxa nominal
possa ser dividida pelo número de meses do ano, trabalharemos com índice mensal de juros.

Na fórmula do Método Gauss este índice será multiplicado pelo número de meses
(prazo) do contrato, e dividido por dois encontrando um ponto médio, que será a base de
cálculo aplicado ao financiamento.

O cálculo da prestação inicial será dado da seguinte forma: leva-se em


consideração o valor final do financiamento; valor este que será dividido pelo resultado da
multiplicação do ponto médio pelo prazo restante. O pagamento das prestações tem como
meta a liquidação do custo do financiamento onde já estão incluídos os juros mensais.

Sendo assim, não seria compatível com o Sistema Brasileiro a utilização de uma
tabela de amortização que foge aos anseios de uma sociedade que visa proteger o
consumidor, tomador de empréstimo, e que acaba ludibriando os mutuários através de
truques matemáticos no que fora contratado.

Diante do exposto, resta claro que o Sistema utilizado capitaliza juros o que é
proibido pelo nosso ordenamento jurídico, devendo ser extirpado do contrato de
financiamento, substituindo pelos juros simples.

III.3. DA METODOLOGIA DE CÁLCULOS UTILIZADOS PELA PARTE AUTORA.

Exa., conforme demonstrado, temos que a metodologia de juros aplicada no


contrato em apreço merece ser revisada. É de público saber que a parte Ré, para ofertar os
empréstimos para aquisição da casa própria, utiliza recursos oriundos dos depósitos em
cadernetas de Poupança e em contas do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS),
pertencentes aos cidadãos.

Ocorre que um valor aplicado em poupança rende ao investidor atualmente uma


média de 1,4% a.a. e nas contas vinculadas ao FGTS aproximadamente 3,0% a.a.

No entanto, quando o agente concede o empréstimo, cumprindo a função social


da lei do SFH e auxiliando a sociedade a realizar o sonho da casa própria, firma os contratos
com taxas de juros que variam numa média entre 8% a 10,50% a.a., uma diferença de
quase 300%.

Além deste astronômico lucro, os contratos habitacionais são classificados como


de risco zero, pois havendo inadimplência superior a 03 (três) meses, a instituição financeira

21/4203
poderá utilizar-se dos predicados da Lei nº. 9.514/97, que regula a alienação fiduciária,
garantindo assim a retomada do imóvel e realizando o consequente leilão extrajudicial ou
venda direta, o que lhe assegurará pelo menos o retorno do capital disponibilizado (garantia
real).

Nítido é que a parte Ré terá lucros (razoáveis, utilizando juros simples) ou


(exorbitantes, utilizando juros capitalizados) nestas operações. E a discussão está longe de
pautar a não remuneração pelo empréstimo e sim por algo plausível, justo, que possa
configurar um sistema de financiamento habitacional com a real missão social e não partindo
de contratos viciosos em que macula a capitalização de juros e onera as prestações pelos 300
meses de contrato.

Ainda, conforme massivamente debatido na exordial, há em toda operação a


capitalização de juros, o que a condiciona a auferir mais lucro pela operação de crédito
realizada.

Podemos observar o laudo comparativo elaborado pelo assistente técnico da


parte Autora, no qual é demonstrado categoricamente que o contrato utilizando-se da base
de juros simples pelo método de Gauss, mesmo ofertando lucro a Ré, será menos oneroso do
que o do que utilizar-se do sistema SAC, vejamos:

Nesta planilha podemos observar que a prestação pelo método de Gauss é de


R$815,36 (oitocentos e quinze reais e trinta e seis centavos), diferente dos
R$1.428,90 (mil quatrocentos e vinte e oito reais e noventa centavos) praticados
pelo agente financeiro. Assim, torna-se claro que é possível ser realizada a expurgação da
capitalização de juros, presente no sistema SAC, substituindo-o pelo sistema de juros simples
operado pelo método de Gauss.

21/4203
Verifica-se também na planilha o saldo devedor atual é de R$129.030,62
(cento e vinte e nove mil e trinta reais e sessenta e dois centavos), contra R$146.149,54
(cento e quarenta e seis mil, cento e quarenta e nove reais e cinquenta e quatro
centavos), apresentado no demonstrativo de crédito (DOC. 10).

Vejamos na planilha de cálculos a exclusão da capitalização de juros, reduzindo o


saldo devedor e indicando o valor pago a maior ao longo do contrato:

Infere-se ainda que na planilha de cálculos que as diferenças entre os


critérios de apuração de juros Exponenciais (Anatocismo) e Lineares são
exorbitantes.

Resta comprovada a impossibilidade da capitalização, não só pela ausência de


pactuação, bem como pela omissão da clareza necessária ao financiamento ou até mesmo
indicação contratual que será praticada dessa forma as atualizações.

É nula a adoção da capitalização mensal de juros, já que vedada pelo


ordenamento jurídico e amplamente reiterada em decisões do STJ e STF explicitadas
anteriormente.

Diante do exposto, a parte Autora vem ao Poder Judiciário requerer a exclusão


da prática ilegal de capitalização de juros do respectivo contrato.

III.4. DA COMPENSAÇÃO

Excelência, conforme exaustivamente mencionado nos autos devemos destacar


que houve valores pagos a maior, estes devem ser compensados no débito com as quantias
pagas a maior, após determinação do verdadeiro quantum devido estabelecido pelo expert
contábil.

É o que nos ensina o art. 368 do Código Civil ―Se duas pessoas forem ao mesmo
tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se
compensarem‖.

21/4203
Diante do exposto, requer os valores de possíveis parcelas pagas a maior sejam
compensados como crédito da parte Autora, segundo os valores corretos constantes da
planilha por ela apresentada, elaborada por perito contábil assistente (DOCS. 11 e 12), nos
termos da Lei nº. 8.078/90.

IV. DA TUTELA DE URGÊNCIA.

Diante do art. 327 do CPC2, o qual admite a cumulação de pedidos num mesmo
processo, ainda que ausente à conexão entre eles.

Face à redação do art. 300 do CPC3, que permite a antecipação dos efeitos da
sentença pretendida desde que presente os requisitos indispensáveis para tal, à parte Autora
requer a concessão da tutela antecipada.

IV.1. DO DEPÓSITO JUDICIAL DAS PRESTAÇÕES MENSAIS.

Para a concessão da antecipação de tutela é necessária à presença simultânea


dos requisitos da prova inequívoca, verossimilhança da alegação, fundado receio de dano
irreparável ou de difícil reparação (art. 300 do CPC). Vale salientar, o juiz não concederá a
antecipação de tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado
(art. 300, § 3º do CPC4).

A probabilidade do direito alegado apresenta-se pela Planilha de Evolução do


Financiamento Imobiliário fornecida pelo agente financeiro (DOC. 07), bem como, através de
Planilha de Cálculos (DOCS. 11 e 12) elaborada pelo assistente contábil contratado pelo
Autor, as quais são demonstradas a presença de capitalização de juros na evolução do
empréstimo.

O fundado receio de dano de difícil reparação, por sua vez, está associada a
delicada situação financeira do Autor, que sem condições de arcar com as prestações
capitalizadas, a inadimplência pode acarretar na perda do próprio bem imóvel em questão,
caso não seja autorizando o depósito judicial mencionado, considerando a sobrecarga no
pagamento das prestações, colocando o Autor e sua família em situação de penúria,
sem um teto próprio para morar, em ofensa ao art. 6º da Constituição Federal de

2
Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles
não haja conexão.
3
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito
e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
4
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito
e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
(...)
§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos
efeitos da decisão.
21/4203
1.988, modificado pela EC nº. 26/2000 que incluiu a moradia entre os direitos sociais
básicos.

Alia-se a isso o perigo de estagnação do crédito civil e comercial do Autor, com a


comum prática do agente financeiro, que já goza de todas as prerrogativas executivas, de
encaminhar seu nome ao cadastro dos órgãos de proteção ao crédito em geral, piorando
ainda mais a sua já calamitosa situação financeira.

Além do mais, o art. 50, § 4º da Lei nº. 10.931/04, veio possibilitar os


depósitos em juízo, nos casos de relevante razão de direito e risco de dano irreparável ao
Autor. Senão vejamos:

Art. 50. Nas ações judiciais que tenham por objeto obrigação decorrente de
empréstimo, financiamento ou alienação imobiliários, o autor deverá discriminar
na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende
controverter, quantificando o valor incontroverso, sob pena de inépcia.
(...)
§ 4º. O juiz poderá dispensar o depósito de que trata o § 2º em caso de
relevante razão de direito e risco de dano irreparável ao autor, por
decisão fundamentada na qual serão detalhadas as razões jurídicas e
fáticas da ilegitimidade da cobrança no caso concreto.

A garantia constitucional do acesso à justiça a parte Autora, também conhecido


como princípio da inafastabilidade da jurisdição, está consagrado no art. 5º, XXXV, da CF5.

Isto posto, o direito de provocar a tutela jurisdicional é conferido a toda pessoa


física é jurídica diante da lesão ou ameaça de lesão a direito individual ou coletivo.

Nesse sentido, vejamos decisões do Superior Tribunal de Justiça, deferindo o


pedido do mutuário para depositar judicialmente os valores incontroversos:

SFH. Ação de revisão do contrato. Antecipação da tutela. É possível o


deferimento da tutela antecipada em ação ordinária de revisão de
contrato de financiamento do SFH para permitir ao autor, que efetua o
depósito das prestações mensais segundo a planilha que apresentou, a
posse do bem e o cancelamento do seu nome de banco de
inadimplentes. Recurso conhecido e provido. (RESP 732.594/PE, Rel. Ministro

5
Art.5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
21/4203
JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 04.08.2005, DJ 12.09.2005, p.
246; sem grifos no original).

Processo civil. Recurso especial. Ação de conhecimento pelo procedimento


ordinário. Contrato de empréstimo bancário vinculado à aquisição de imóvel pelo
SFH. Valor das prestações. Revisão. Tutela antecipada. Pedido de depósito
judicial dos valores cobrados. Possibilidade. - Em ação revisional de contrato
bancário, é cabível o pedido de antecipação de tutela para permitir o
depósito, em juízo, do valor das prestações. Recurso especial provido.
RESP569008 / RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHY, SEGUNDA TURMA, julgado
em 22.09.2004, DJ 16.11.2004, p. 186; sem grifos no orignal).

Nesse sentido, vejamos o entendimento jurisprudencial esparso:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. SFH. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA. INDEFERIMENTO.


SUSPENSÃO DOS ATOS DE EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL DE IMÓVEL OBJETO DE
FINANCIAMENTO HABITACIONAL. SALDO DEVEDOR RESIDUAL. DILAÇÃO DO
PRAZO PARA QUITAÇÃO. CONFIGURAÇÃO DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À
CONCESSÃO DO PROVIMENTO DE URGÊNCIA. AGRAVO PROVIDO. 1. Agravo de
instrumento interposto contra decisão que, nos autos da ação originária,
indeferiu o pedido de antecipação da tutela jurisdicional, objetivando o
pagamento da parte incontroversa (R$ 812,21) das prestações relativas à
prorrogação (saldo residual) do contrato de financiamento imobiliário firmado
com a CEF, a suspensão da execução extrajudicial do imóvel e a determinação
à Caixa de que se abstenha de promover a inscrição do nome dos agravantes
nos cadastros de devedores. 2. Presentes a relevância da fundamentação e o
risco de lesão grave e de difícil reparação, este evidenciado em razão da
possibilidade de ser dado andamento à execução extrajudicial do imóvel
financiado. 3. Em regra, a exigibilidade do valor controvertido da dívida
somente poderia ser suspensa através do prévio depósito do montante
correspondente, no tempo e modo contratados, com pagamento do
valor incontroverso conforme pactuado, nos termos da Lei nº
10.931/2004, art. 50, parágrafo 1º. No entanto, o parágrafo 4º, do
mesmo artigo, prevê a dispensa judicial do depósito nos casos em que
for identificada relevante razão de direito e risco de dano ao autor. 4.
Hipótese em que a relevância da fundamentação encontra-se presente
exatamente porque esta E. Quarta Turma tem o entendimento segundo
o qual, mesmo sendo obrigação do mutuário o pagamento do saldo
devedor, deve ser a ele assegurada a dilação do prazo para sua
quitação, levando em conta que o valor de cada uma das prestações
isoladamente não ultrapasse o percentual de 30% da renda auferida
pelo mutuário. (AC 08028643120144058400, Desembargador Federal
Rogério Fialho Moreira, TRF5 - Quarta Turma. Data da Decisão: 24/02/2015).
5. Agravo de Instrumento provido. (PROCESSO: 08037073920154050000, AG

21/4203
- Agravo de Instrumento -, DESEMBARGADOR FEDERAL ROGÉRIO FIALHO
MOREIRA, 4ª Turma, JULGAMENTO: 10/09/2015, PUBLICAÇÃO; sem grifos no
original)

Diante de todo o exposto, em sede de tutela antecipada, requer seja autorizado


o depósito em juízo pelo Autor do valor de R$815,36 (oitocentos e quinze reais e trinta
e seis centavos) mensalmente, valor que se enquadra dentro da nova realidade financeira
do mutuário, equivalente ao valor da parcela excluído o cálculo ilegal de juros compostos.
Ainda, considerando as prestações em aberto, prejudicado o pagamento em razão do
demasiado aumento das prestações, requer a incorporação da inadimplência ao saldo
devedor.

IV.2. DA MANUTENÇÃO DA PARTE AUTORA NA POSSE DO IMÓVEL.

Conforme mencionado, o Autor está adimplente com o presente contrato, e o


intuito da demanda é revisar o presente contrato, a fim de verificar as abusividades.

Na hipótese de deferimento dos depósitos judiciais, conforme tópico


alhures “4.1. DO DEPÓSITO JUDICIAL DAS PRESTAÇÕES MENSAIS”, os valores que
serão depositados em conta judicial não serão computados pelo agente financeiro,
dando a entender que o autor se encontra inadimplente, oportunizando o agente
financeiro a realização dos atos expropriatórios.

A manutenção do Autor na posse do imóvel deve ocorrer nos termos do direito


constitucional atribuído ao direito à moradia, o qual restaria ferido caso fosse o imóvel
vendido antes da decisão final acerca da validade ou não da arrematação e consequente
consolidação da propriedade, objeto da presente.

O pedido se faz necessário, vez que caso a medida não seja concedida, geraria
dano e tumulto desnecessário, tanto para a parte Autora quanto para a Ré e para o terceiro
arrematante do bem:

Parece-me com fundamento o pedido do autor no que tange a proibição da


venda do imóvel, enquanto permanecer litigioso o objeto em questão. O pedido
restringe-se apenas ao adiantamento de uma parcela da tutela pretendida na
inicial, qual seja a proibição da venda do imóvel, vez que, caso reste o autor
vencedor da demanda, restaria prejudicado o seu direito caso o bem em
questão já tivesse sido vendido pelo agente financeiro”. Encontra-se
evidenciado o „periculum in mora‟, eis que, como estatui o artigo 273, I, do
CPC, um dos requisitos para a concessão da medida antecipatória é a
possibilidade de que ‗haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil
reparação‘. No caso em tela, como já ressalvado anteriormente, trar-se-ia grave
21/4203
dano aos requerentes caso o imóvel fosse vendido ao longo do trâmite
do processo e, ao final da lide, fossem os mesmos vitoriosos em seu
intento. Convém ressaltar, ainda, o disposto no § 2.º do supracitado artigo, que
obsta a concessão da medida pretendida sempre que a tutela a ser antecipada
apresente dificuldade na sua reversão caso o autor, ao término do processo,
reste vencido. Tal impossibilidade não se configura nos presentes autos, uma
vez que não se trará à CEF grande dano se acaso o imóvel não puder ser
vendido agora, protelando-se a alienação até o deslinde da questão. Outro
argumento que sopesa a favor do deferimento do pedido é o caráter
constitucional atribuído ao direito à moradia, o qual poderia restar ferido
caso fosse o imóvel vendido antes da decisão final acerca da validade ou não do
processo de execução extrajudicial, objeto da presente. Neste sentido leciona
ROBERTO CAVALCANTI DA SILVA, in verbis:‗O direito à moradia é um direito
social, que fundamentalmente se enquadra no direito à cidadania, não apenas
como fator inibidor da violência, mas como uma garantia individual assegurada
pelo Estado ao cidadão (in Revista de Direito do Consumidor, volume 26, página
198).

Encontra-se evidenciado o “periculum in mora”, eis que, como estatui o


artigo 300 do CPC, um dos requisitos para a concessão da medida antecipatória é a
possibilidade de que „haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação‟.
No caso em tela, como já ressalvado anteriormente, trar-se-ia de grave dano ao Autor, uma
vez que está sobrecarregado pela exorbitante prestação, o que pode culminar em
inadimplência, permitindo que o agente financeiro realize a consolidação da propriedade.

O Superior Tribunal de Justiça firmou a tese de que, em se tratando de contratos


celebrados no âmbito da Lei nº. 9.514/97, a perda do imóvel enquanto perdurar a demanda
deverá ser suspenso, uma vez que preenchidos os requisitos para a concessão da tutela
cautelar.

Dessa forma, deve ser o agente financeiro impedido de realizar execução


extrajudicial em especial a consolidação da propriedade, caso o autor se torne
inadimplente por culpa da Ré, que inflou o saldo devedor indevidamente.

O pedido de antecipação de tutela pleiteado pelo Autor deve ser atendido, haja
vista que caso a medida não seja concedida, o mutuário sofrerá com as tentativas de
expropriação aviada pelo agente financeiro (leilões extrajudiciais).

Por todo exposto, é fundamental o deferimento da tutela para a manutenção do


Autor na posse do imóvel, bem como a impossibilidade da Ré repassar o bem a terceiros.

21/4203
IV.3. DA SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL.

Excelência, inicialmente cumpre informar que o art. 170, III da Constituição


Federal, abrange a chamada justiça social, buscando a máxima efetividade das normas
constitucionais. Senão, vejamos:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na


livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
(...)
II - função social da propriedade;

Desse modo, o direito à propriedade transcende o direito social consubstanciado


na moradia, pois suprime esses ideais quando de fato é indispensável à manutenção da
Dignidade Humana conferida na Constituição Federal.

Ademais, o Sistema Financeiro de Habitação - SFH foi criado em 1964 pela Lei
nº. 4.380, para facilitar a aquisição da casa própria, trata-se de um conjunto de regras que
permitem a captação de recurso para financiar a casa própria, não podendo ser revendida,
alugada ou usada com o fim comercial e por outra pessoa que não seja o financiado.

SENDO ASSIM, SE FAZ NECESSÁRIO QUE PARA O PRESENTE CONTRATO


NÃO SE UTILIZE OS DISPOSITIVOS DA LEI Nº. 9.514/97, PRINCIPALMENTE NO QUE
TANGE A EXECUÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DE PROPRIEDADE EXTRAJUDICIAL.

O periculum in mora está demonstrado na possibilidade da parte Autora vir a


perder o imóvel, com o prosseguimento da execução extrajudicial. E a prova inequívoca que
convença da verossimilhança da alegação está nos depósitos judiciais dos valores
incontroversos.

Portanto, pleiteia-se pela suspensão de qualquer tentativa de execução


extrajudicial, enquanto estiver sendo discutida a presente demanda.

IV.4. DOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO.

Excelência, por todo o exposto, é fundamental o deferimento da tutela para a


manutenção do Autor na posse do imóvel, bem como a impossibilidade da Ré repassar o bem
a terceiros. Insurge-se ainda no que diz respeito ao nome do Autor contra a possibilidade de
negativação de seu nome por parte da Ré junto aos órgãos de cadastro.

A procedência total do presente pedido antecipatório é mais que uma


21/4203
necessidade, é uma efetividade da prestação jurisdicional.

Daí infere-se que, notadas a plausibilidade do direito invocado e a probabilidade


de haver dano ao Autor, é premente a tutela de urgência jurisdicional, visando assegurar a
eficácia e utilidade da sentença final, ora ameaçada. O que se roga, portanto, não é a
satisfação da vexata quaestio, mas sim a proteção ao direito do Autor.

Ora, o Sistema de Proteção ao Crédito foi estruturado com o objetivo principal de


fornecer aos comerciantes informações fidedignas acerca da idoneidade financeira de um
pretendente de crédito.

A negativa operada pelo SPC, SERASA ou BANCO CENTRAL, traz como


consequência imediata o estancamento de todas as fontes de crédito ao consumidor,
causando-lhe toda a sorte de restrições não apenas em sua esfera de direito patrimonial. O
consumidor passa a ser visto como alguém inidôneo e até mesmo desonesto, porquanto não
fora capaz de honrar com seus compromissos financeiros.

Vários são os exemplos de pessoas que vivenciaram situações de


constrangimento quando se candidataram à aquisição de crédito e foram surpreendidos com
recusas taxativas, sob o argumento de que seu nome estava incluído no rol de maus
pagadores. Em algumas hipóteses, a negativa é feita pelo simples fato de existir ação de
cobrança contra o consumidor ou pelo fato de ter sido levado a protesto algum título emitido.
Oportuno trazer a orientação jurisprudencial respectiva:

EMENTA: APELAÇÃO - AÇÃO REVISIONAL - NULIDADE DA CITAÇÃO -


INOCORRÊNCIA - CONTRATO DE MÚTUO - PESSOA FÍSICA - EXCLUSÃO DO
SERASA - LIMINAR CONCEDIDA - AUSÊNCIA DE CIENTIFICAÇÃO -
APLICABILIDADE DO CDC - MULTA - REDUÇÃO - JUROS - INEXISTÊNCIA DE
LIMITE LEGAL - IMPOSSIBILIDADE DE CAPITALIZAÇÃO - AUSÊNCIA DE PROVA -
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA - INADMISSIBILIDADE - CLÁUSULA-MANDATO -
NULIDADE - EMISSÃO DE NOTA PROMISSÓRIA EM GARANTIA - POSSIBILIDADE
- HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - ADEQUAÇÃO DO PERCENTUAL ARBITRADO EM
PRIMEIRO GRAU - LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ – INOCORRÊNCIA. Não há que se falar
em nulidade da citação, visto que aplica-se ao caso a teoria da aparência,
segundo a qual é valida a citação feita na pessoa do gerente e ou funcionário do
estabelecimento, mormente se a parte comparece aos autos e atua
regularmente em todos os atos processuais. A inscrição do devedor nos
órgãos restritivos do crédito não pode prosperar se este não foi
cientificado da aludida inserção, não podendo, destarte, tomar as
providências cabíveis para resguardo de seus direitos. Aplica-se à
operação bancária em tela o CDC, vez que firmada com pessoa física,
consumidora final do bem objeto do pacto, viabilizando-se, assim, a aplicação de

21/4203
multa no percentual de 2%, até porque permite também tal minoração o artigo
924 do CC, hoje substituído pelo artigo 413 do NCC. Não obstante a incidência
do CDC, devem prevalecer os juros pactuados, vez que ausente limite legal a
sua incidência, porquanto revogado o artigo 192, §3º, da CF/88, sendo
inaplicável às instituições financeiras o Decreto 22.626/33. Não pode ser aceita a
usura, posto que repudiada pelo nosso ordenamento jurídico, que veda a
capitalização de juros, a despeito da não aplicabilidade do Decreto 22.626/33 às
instituições financeiras; porém, pretendendo-se na inicial comprovar questões
contábeis de natureza técnica, não sendo obrigado o julgador, necessariamente,
a ser versado em contabilidade, a desistência da prova pericial requerida, por
parte daquele que tem a obrigação da prova, resulta em improcedência do
pedido. Na esteira do entendimento de meus ilustres pares, estou a perfilhar
com o entendimento de que a comissão de permanência não deve ser aplicada.
É nula a chamada cláusula-mandato, que permite ao mutuante emitir título de
crédito em nome do mutuário para fins de cobrança da verba por este devida,
por ser indubitavelmente de caráter potestativo. (...)

Nesse sentido, também é este o entendimento do STJ:

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. SFH. AÇÃO CAUTELAR OBJETIVANDO SUSPENDER


A EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL DO CONTRATO DE MÚTUO HIPOTECÁRIO.
DEPÓSITO DAS PRESTAÇÕES MENSAIS. 1. A jurisprudência deste STJ é no
sentido de que a CEF, e não a União, tem legitimidade para integrar o polo
passivo das ações movidas por mutuários do Sistema Financeiro de Habitação,
nas quais se discute a revisão dos contratos de financiamento para aquisição da
casa própria, porque a ela (CEF) foram transferidos os direitos e obrigações do
extinto BNH. Precedentes: RESP 742325 / BA, 1ª T., Min. Teori Albino Zavascki,
DJ 27.06.2005; RESP 127914 / GO; 2ª T., Min. João Otávio de Noronha, DJ de
20.06.2005. 2. Em relação a mutuários do Sistema Financeiro de Habitação, em
cujos contratos está prevista cláusula de reajustamento das prestações pelo
Plano de Equivalência Salarial, não tem eficácia jurídica alguma a cautelar que
simplesmente autoriza o depósito judicial da prestação, já que, quanto ao valor
reconhecidamente devido, não há controvérsia entre as partes, sendo
desnecessária a ação cautelar. Para essa finalidade, em caso de recusa, é
ilegítima a ação cautelar de depósito, sendo própria para tal fim a ação
consignatória, na qual o depósito — instituto de direito material — é equiparado,
para todos os efeitos, a pagamento (CC/2002, art. 334). Igualmente ilegítima é
a liminar que proíbe a cobrança judicial, pelo demandado, de valores que
entende devidos, eis que tal determinação importa limitação ao direito
constitucional de acesso ao Judiciário e contrasta com o disposto no art. 585, §
1º, do CPC. 3. Porém, considerando a existência de depósitos já efetuados pelo
mutuário, autorizados pela sentença de primeiro grau, bem como a remansosa
jurisprudência a respeito do chamado Plano de Equivalência Salarial, na qual se
reconhece a inobservância da cláusula de reajuste contratual na cobrança das

21/4203
prestações mensais, é admissível a concessão de cautelar para determinar que o
agente financeiro se abstenha de exigir a prestação em valor superior ao que
resulta da aplicação do citado PES (considerada a variação dos vencimentos da
categoria profissional a que pertence o mutuário), devendo recebê-la por tal
valor e não se considerando em mora o mutuário por eventuais diferenças que
dele excederem, enquanto perdurar a ação principal. 4. Pendente de
discussão judicial o valor do quantum debeatur, é ilegítima a inscrição
do nome do devedor nos cadastros de proteção ao crédito. 5. Recurso
especial a que se nega provimento. (REsp 605.831/CE, Rel. Ministro TEORI
ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 23/08/2005, DJ 05/09/2005
p. 217; sem grifos no original)

Diante do exposto, o autor requer que V. Exa. determine que a Ré se abstenha


de incluir ou que realize a exclusão de seu nome dos órgão de proteção ao crédito, por ser
situação que exige a certificação do trânsito em julgado.

V. DOS PEDIDOS.

Por todo exposto, REQUER a parte Autora:

1. A ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, nos termos do art. 300 do CPC, no qual


presentes os elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o
risco ao resultado útil do processo, diante disso:

1.1. Requer autorização para depositar em juízo das parcelas encontradas na


planilha de cálculo elaborada pelo assistente contábil no valor de R$815,36 (oitocentos e
quinze reais e trinta e seis centavos), dentro da nova capacidade financeira do Autor,
aplicando no caso concreto a teoria da base objetiva e da imprevisão contratual.

1.2. A manutenção da posse do imóvel do autor até a certificação do trânsito em


julgado;

1.3. A proibição do agente financeiro de começar ou prosseguir com execução


judicial e extrajudicial, determinando que se abstenha de consolidar a propriedade do
imóvel em seu nome, e/ou que seja impedida de alienar o imóvel a terceiros
através de leilão, e/ou suspender os LEILÕES, CASO ESTES TENHAM SIDO
DESIGNADOS, bem como que se abstenha de emitir a CARTA DE ARREMATAÇÃO em
favor de terceiros;

1.4. Que a Ré se abstenha de incluir ou que retire, caso já tenha feito o registro
do nome do Autor dos órgãos de proteção ao crédito, tais como SERASA, SPC, CADIN,
21/4203
SISBACEN, entre outros, sob pena de multa cominatória diária no valor de R$1.000,00 (mil
reais) como penalidade por ato de descumprimento;

2. A citação da Ré, na pessoa de seu representante legal, no endereço constante


no preâmbulo, nos termos do art. 246, inciso I, do CPC6, a fim de tomar conhecimento da
presente ação ou, apresentar contestação, sob pena de confissão e ônus da revelia;

3. Que seja extirpada do contrato de financiamento a prática da capitalização


mensal de juros, bem como o ANATOCISMO, de acordo com a Súmula 121 do STF e a
exclusão do SAC, que contém em sua fórmula juros compostos, utilizando os juros em sua
forma simples;

4. A exclusão da capitalização de juros constante no Sistema de Amortização


Constante – SAC, substituindo pelo método de Gauss (juros simples);

5. Seja reconhecida a relação de consumo entre os litigantes, bem como que


seja relativizado o pacta sunt servanda e, consequentemente, sejam aplicadas as normas do
Código de Defesa do Consumidor ao contrato em tela, na forma do art. 6º, V, que permite a
revisão do contrato em caso de fato superveniente à vontade do autor;

6. Seja reconhecido o direito de se exercer o instituto da compensação, em


virtude aos valores a receber, em face de procedência dos pedidos ofertados na presente, em
relação ao saldo devedor e/ou prestações referentes ao presente pacto;

7. O autor informa que não tem interesse em audiência de


conciliação/mediação.

8. A condenação da Ré às custas e honorários advocatícios a serem arbitrados


por Vossa Excelência, nos termos do Código de Processo Civil.

O Autor declara, sob as penas da lei, que se encontra impossibilitado de arcar


com as custas do processo e honorários em geral sem prejuízo do sustento próprio e de sua
família. REQUER, assim, sejam-lhe deferidos pelo Estado, os benefícios da assistência
judiciária integral e gratuita, nos termos do art. 98 do CPC c/c art. 5º, LXXIV da CF.

O autor provará o alegado por todos os meios de provas admitidos em direito,


notadamente, a documental, principalmente a PROVA PERICIAL, imprescindível para
averiguar as abusividades constantes no contrato de financiamento firmado entre as partes.

6
Art. 246. A citação será feita:
I - pelo correio;
21/4203
Dá-se à presente causa o valor de R$129.030,62 (cento e vinte e nove mil e
trinta reais e sessenta e dois centavos), referente ao valor incontroverso do saldo
devedor.

Termos em que,
Pede e espera deferimento,
Belo Horizonte, 04 de outubro de 2021.

DIOVANA HENRIQUE BASTOS DE SOUZA


OAB/MG 130.513

21/4203

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