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COMARCA DE IBIRITÉ/MG.
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I. PRELIMINARMENTE.
O Autor com fulcro nos dispositivos legais que garante o acesso ao Poder
Judiciário àquele que não tem condições de arcar com custas e despesas do processo e se
declara pobre no sentido legal, requer a gratuidade de justiça nos presentes autos.
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Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas,
as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.
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Ainda, requer com a junta aos autos documentos para comprovação dos
recebimentos mensais para constatação de tais afirmações (DOCS. 3 e 11).
Excelência conforme relatado acima, é certo que o contrato sub judice apresenta
várias irregularidades, as quais são demonstradas na planilha elaborada por assistente
contábil da parte Autora (DOCS. 11 e 12), haja vista que a Ré se utilizou de subterfúgios
para majorar as prestações mensais, tais como capitalização de juros, sistema de
amortização indevido, entre outros, conforme planilha de evolução do financiamento (DOC.
09).
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Ademais, insta informar que o contrato de financiamento é regido pelo Sistema
Brasileiro de Poupança e Empréstimo – SBPE é uma linha de crédito oferecida por
instituições financeiras públicas e privadas, destinada majoritariamente para a compra de
imóveis.
III. DO DIREITO
Entretanto, através de perícia contábil poderá ser provado que muito embora o
sistema SAC não possua em suas fórmulas o elemento exponencial, sua performance de
custo é igual à de um sistema a juros compostos. Ainda que as prestações estejam reduzindo
mensalmente, os juros capitalizados estão englobados ao longo da evolução do
financiamento, justificando assim que ao final do contrato o valor pago ao agente financeiro é
3, 4 ou até 5 vezes maior do que o valor financiado. Vejamos os entendimentos
jurisprudenciais abaixo:
Importante frisar que o Sistema SAC incorpora a teoria dos juros compostos às
amortizações de empréstimos, pois a parcela de juros será obtida multiplicando-se a taxa de
juros pelo saldo devedor existente no período imediatamente anterior, sendo a parcela de
amortização determinada pela diferença e o valor da parcela de juros.
Com relação à analogia entre o Sistema SAC e o Sistema Price, observa-se o que
já ficou consignado em voto do Exmo. Des. BERETTA DA SILVEIRA, com apoio na lição de
LUIZ ANTÔNIO SCAVONE JÚNIOR:
1°) Quando indica uma taxa nominal e outra efetiva de juros, conforme o
presente caso, já está afirmando contratualmente que a taxa efetiva é a nominal
capitalizada mensalmente.
Nenhuma das situações corresponde àquela relativa aos contratos dos autos,
motivo pelo qual não se admite a capitalização mensal dos juros, devendo vigorar a Súmula
n°. 121 do STF.
Com efeito, é nula a prática da capitalização mensal de juros, já que vedada pelo
ordenamento jurídico.
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Este sistema confunde-se na sua fórmula com o Sistema SACRE – Sistema de
Amortização Crescente, diferenciando do segundo pela exclusão da razão de decréscimo, que
no SAC é constante, enquanto que no primeiro é crescente. Enfrentando o tema com relação
à capitalização existente na fórmula do SACRE, o TRF 4ª Região, proferiu o seguinte
entendimento:
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Inicialmente o cálculo do Método Gauss levará em consideração o valor
financiado, a taxa de juros nominal e o prazo. Considerando que o valor da taxa nominal
possa ser dividida pelo número de meses do ano, trabalharemos com índice mensal de juros.
Na fórmula do Método Gauss este índice será multiplicado pelo número de meses
(prazo) do contrato, e dividido por dois encontrando um ponto médio, que será a base de
cálculo aplicado ao financiamento.
Sendo assim, não seria compatível com o Sistema Brasileiro a utilização de uma
tabela de amortização que foge aos anseios de uma sociedade que visa proteger o
consumidor, tomador de empréstimo, e que acaba ludibriando os mutuários através de
truques matemáticos no que fora contratado.
Diante do exposto, resta claro que o Sistema utilizado capitaliza juros o que é
proibido pelo nosso ordenamento jurídico, devendo ser extirpado do contrato de
financiamento, substituindo pelos juros simples.
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poderá utilizar-se dos predicados da Lei nº. 9.514/97, que regula a alienação fiduciária,
garantindo assim a retomada do imóvel e realizando o consequente leilão extrajudicial ou
venda direta, o que lhe assegurará pelo menos o retorno do capital disponibilizado (garantia
real).
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Verifica-se também na planilha o saldo devedor atual é de R$129.030,62
(cento e vinte e nove mil e trinta reais e sessenta e dois centavos), contra R$146.149,54
(cento e quarenta e seis mil, cento e quarenta e nove reais e cinquenta e quatro
centavos), apresentado no demonstrativo de crédito (DOC. 10).
III.4. DA COMPENSAÇÃO
É o que nos ensina o art. 368 do Código Civil ―Se duas pessoas forem ao mesmo
tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se
compensarem‖.
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Diante do exposto, requer os valores de possíveis parcelas pagas a maior sejam
compensados como crédito da parte Autora, segundo os valores corretos constantes da
planilha por ela apresentada, elaborada por perito contábil assistente (DOCS. 11 e 12), nos
termos da Lei nº. 8.078/90.
Diante do art. 327 do CPC2, o qual admite a cumulação de pedidos num mesmo
processo, ainda que ausente à conexão entre eles.
Face à redação do art. 300 do CPC3, que permite a antecipação dos efeitos da
sentença pretendida desde que presente os requisitos indispensáveis para tal, à parte Autora
requer a concessão da tutela antecipada.
O fundado receio de dano de difícil reparação, por sua vez, está associada a
delicada situação financeira do Autor, que sem condições de arcar com as prestações
capitalizadas, a inadimplência pode acarretar na perda do próprio bem imóvel em questão,
caso não seja autorizando o depósito judicial mencionado, considerando a sobrecarga no
pagamento das prestações, colocando o Autor e sua família em situação de penúria,
sem um teto próprio para morar, em ofensa ao art. 6º da Constituição Federal de
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Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles
não haja conexão.
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Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito
e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
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Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito
e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
(...)
§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos
efeitos da decisão.
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1.988, modificado pela EC nº. 26/2000 que incluiu a moradia entre os direitos sociais
básicos.
Art. 50. Nas ações judiciais que tenham por objeto obrigação decorrente de
empréstimo, financiamento ou alienação imobiliários, o autor deverá discriminar
na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende
controverter, quantificando o valor incontroverso, sob pena de inépcia.
(...)
§ 4º. O juiz poderá dispensar o depósito de que trata o § 2º em caso de
relevante razão de direito e risco de dano irreparável ao autor, por
decisão fundamentada na qual serão detalhadas as razões jurídicas e
fáticas da ilegitimidade da cobrança no caso concreto.
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Art.5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
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JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 04.08.2005, DJ 12.09.2005, p.
246; sem grifos no original).
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- Agravo de Instrumento -, DESEMBARGADOR FEDERAL ROGÉRIO FIALHO
MOREIRA, 4ª Turma, JULGAMENTO: 10/09/2015, PUBLICAÇÃO; sem grifos no
original)
O pedido se faz necessário, vez que caso a medida não seja concedida, geraria
dano e tumulto desnecessário, tanto para a parte Autora quanto para a Ré e para o terceiro
arrematante do bem:
O pedido de antecipação de tutela pleiteado pelo Autor deve ser atendido, haja
vista que caso a medida não seja concedida, o mutuário sofrerá com as tentativas de
expropriação aviada pelo agente financeiro (leilões extrajudiciais).
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IV.3. DA SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL.
Ademais, o Sistema Financeiro de Habitação - SFH foi criado em 1964 pela Lei
nº. 4.380, para facilitar a aquisição da casa própria, trata-se de um conjunto de regras que
permitem a captação de recurso para financiar a casa própria, não podendo ser revendida,
alugada ou usada com o fim comercial e por outra pessoa que não seja o financiado.
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multa no percentual de 2%, até porque permite também tal minoração o artigo
924 do CC, hoje substituído pelo artigo 413 do NCC. Não obstante a incidência
do CDC, devem prevalecer os juros pactuados, vez que ausente limite legal a
sua incidência, porquanto revogado o artigo 192, §3º, da CF/88, sendo
inaplicável às instituições financeiras o Decreto 22.626/33. Não pode ser aceita a
usura, posto que repudiada pelo nosso ordenamento jurídico, que veda a
capitalização de juros, a despeito da não aplicabilidade do Decreto 22.626/33 às
instituições financeiras; porém, pretendendo-se na inicial comprovar questões
contábeis de natureza técnica, não sendo obrigado o julgador, necessariamente,
a ser versado em contabilidade, a desistência da prova pericial requerida, por
parte daquele que tem a obrigação da prova, resulta em improcedência do
pedido. Na esteira do entendimento de meus ilustres pares, estou a perfilhar
com o entendimento de que a comissão de permanência não deve ser aplicada.
É nula a chamada cláusula-mandato, que permite ao mutuante emitir título de
crédito em nome do mutuário para fins de cobrança da verba por este devida,
por ser indubitavelmente de caráter potestativo. (...)
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prestações mensais, é admissível a concessão de cautelar para determinar que o
agente financeiro se abstenha de exigir a prestação em valor superior ao que
resulta da aplicação do citado PES (considerada a variação dos vencimentos da
categoria profissional a que pertence o mutuário), devendo recebê-la por tal
valor e não se considerando em mora o mutuário por eventuais diferenças que
dele excederem, enquanto perdurar a ação principal. 4. Pendente de
discussão judicial o valor do quantum debeatur, é ilegítima a inscrição
do nome do devedor nos cadastros de proteção ao crédito. 5. Recurso
especial a que se nega provimento. (REsp 605.831/CE, Rel. Ministro TEORI
ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 23/08/2005, DJ 05/09/2005
p. 217; sem grifos no original)
V. DOS PEDIDOS.
1.4. Que a Ré se abstenha de incluir ou que retire, caso já tenha feito o registro
do nome do Autor dos órgãos de proteção ao crédito, tais como SERASA, SPC, CADIN,
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SISBACEN, entre outros, sob pena de multa cominatória diária no valor de R$1.000,00 (mil
reais) como penalidade por ato de descumprimento;
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Art. 246. A citação será feita:
I - pelo correio;
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Dá-se à presente causa o valor de R$129.030,62 (cento e vinte e nove mil e
trinta reais e sessenta e dois centavos), referente ao valor incontroverso do saldo
devedor.
Termos em que,
Pede e espera deferimento,
Belo Horizonte, 04 de outubro de 2021.
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