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AO JUÍZO DE DIREITO DA 3ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE BELFORD ROXO– RJ.

PROCESSO N.º 0049278-77.2019.8.19.0008

ITAGIBA GONÇALVES DA COSTA, devidamente qualificado nos autos do processo

TJRJ BEL CV03 202007094881 06/10/20 11:00:13137009 PROGER-VIRTUAL


em epígrafe que move em face da BANCO ITAU CONSIGNADOS S/A E OUTROS, por sua
advogada, vem, perante Vossa Excelência, apresentar

RÉPLICA

aos argumentos aduzidos nas contestações de fls. 66/78 e fls. 169/181 , pelas razões de fato e de
direito que passa a aduzir.

BREVE RELATO DOS FATOS

Foi proposta a presente ação postulando o cancelamento dos contratos de


empréstimos consignados nº 593680564 e nº 596479960 realizados junto ao 1º Réu; a nulidade
do contrato de “INSTRUMENTO PARTICULAR DE CESSÃO DE CRÉDITO DEBITO” realizado junto ao
2º e 3º Réus, bem como indenização por danos morais e materiais, em decorrência do autor ter
sido vítima de um esquema fraudulento de empréstimo consignado.

Em sede de contestação a rés argüiram diversas preliminares, incluindo as razões


de mérito, que serão impugnados a seguir.

DAS QUESTÕES PRELIMINARES

DA ILEGITIMIDADE PASSIVA

Alega o primeiro Réu, sem qualquer fundamento jurídico, que é parte ilegítima
para figurar na presente demanda em razão de ter o banco réu atuado meramente como
instituição financeira, que disponibilizou os créditos em favor do cliente, ora autor, não tendo
participado de toda a negociação entre a autora e o 2º réu.
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Aduz ainda o primeiro réu, que a parte autora transferiu a terceiro,


voluntariamente, o dinheiro que recebeu pelos empréstimos, conforme determinava o contrato
pactuado entre a mesma e a empresa ÚNICA CONSULTORIA E INFORMAÇÕES CADASTRAIS EIRELI,
não podendo ser responsabilizado pelo dano que a parte alega ter tido.

Nobre Julgador, deve ser totalmente repudiada a preliminar de ilegitimidade


apresentada pelo primeiro réu, pois no caso em tela, ambos os contratos, de mútuo e o de
investimento, eram oferecidos por representante da segunda requerida ÚNICA CONSULTORIA E
INFORMAÇÕES CADASTRAIAS EIRELI que, em evidente parceria com o primeiro requerido
BANCO ITAÚ CONSIGNADO S/A, assumia a responsabilidade perante ao consumidor de
encaminhar os documentos necessários à obtenção do empréstimo junto à instituição financeira,
atuando como verdadeiro correspondente bancário desta.

Não há que se falar, ademais, que os contratos foram celebrados de forma


autônoma, mas sim, na mesma ocasião e com um fim especifico, qual seja, o de obter recursos
destinados ao investimento a ser realizado junto à SEGUNDA RÉ.

Evidencia-se, sem medo de errar, culpa do primeiro réu nas modalidades in


vigilando e, principalmente, in eligendo.

In vigilando, porque tinha o DEVER de fiscalizar os procedimentos daquela que


exercia atividade denominando-se como sua “correspondente bancária”; o que,
inexoravelmente, no tocante à Ré ÚNICA CONSULTORIA E INFORMAÇÕES CADASTRAIS EIRELI
nunca fizeram!

Ora, uma vez que a ÚNICA CONSULTORIA E INFORMAÇÕES CADASTRAIS EIRELI


(2ª ré) atuava como se fosse correspondente bancária da 1ª Ré em comento, destas, tornou-se
verdadeira agente de negócios. Por isso, não é difícil concluir que o primeiro réu é responsável,
tanto objetiva, quanto solidariamente, em relação aos atos criminosos praticados pela segunda
ré.

No mesmo sentido, desponta a culpa in elegendo porque o réu não garantiu a


segurança mínima necessária ao consumidor, devendo responder objetivamente pelo ilícito,
bem como deverá ser condenado a ressarcir o autor pelos danos materiais à luz do
entendimento sumulado de n° 479 do STJ que prevê o seguinte:
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"Súmula 479 - As instituições financeiras respondem objetivamente pelos


danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados
por terceiros no âmbito de operações bancárias. (Súmula 479, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 27/06/2012, DJe 01/08/2012)"

A afirmação do primeiro Réu de não ter participação na negociação entre a


autora e o 2º réu não merece guarida, uma vez que deter toda informação do Autor é um
cuidado indissociável aos exercícios das suas atividades econômicas e este não garantiu a
segurança básica ao consumidor, já que deveria ter o zelo de formalizar contrato de
empréstimo consignado na presença do autor, e não por meio de uma intermediária da qual o
mesmo sequer fiscaliza.

Fato é que o primeiro Réu infringiu no caso em tela TODOS os deveres anexos de
uma relação consumerista, não agindo com probidade, lealdade, ou honestidade,frustrando a
legítima expectativa do autor.

Ora Excelência, como o próprio réu apresenta em sua defesa, o contrato foi
realizado entre o autor e segunda ré e não com funcionários do banco réu. Deste modo, como
ocorreu a assinatura do contrato junto ao primeiro réu?

Verifica-se que o primeiro réu não garantiu a segurança básica ao consumidor,


concedendo empréstimo consignado a indivíduo que sequer compareceu no banco, para
assinar qualquer contrato de empréstimo consignado.

É nítida a falha na prestação do serviço em toda a cadeia de fornecimento dos


serviços/produtos, a qual deve ser absorvida pela Primeira Ré a título de risco do
empreendimento.

Portanto, no caso em testilha deve ser totalmente repudiada a preliminar de


ilegitimidade passiva apresentada pelo primeiro réu, sendo este parte legítima para figurar na
presente ação, tendo em vista que este tinha o dever legal ou fático de evitar o dano e, não
agindo, gerou dano ao autor.
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No que tange a arguição de ilegitimidade passiva apresentada pela terceira ré,


afirma esta ser parte ilegítima para figurar no polo passivo da ação, tendo em vista que o Banco
Pan não é parte contratante ou contratada nos contratos de empréstimo consignado objetos da
demanda.

Aduz que os referidos empréstimos foram formalizados com o Itaú Consignado,


assim como as parcelas descontadas no contracheque do autor são provenientes destes
contratos de mútuo feneratício de nº 593680564 e 596479960 que em nada tem relação com o
Banco Pan.

Contudo, não merecem prosperar as alegações do terceiro réu, pois conforme se


verifica no contrato de cessão de crédito firmado com a segunda ré, a terceira ré atuou como
instituição financeira que disponibilizou o crédito no valor de R$ 8.000,00 em favor do autor, a
ser pago em 72 parcelas a serem debitadas diretamente da conta bancária junto ao Banco do
Brasil, Agencia: 1823-6, Conta Poupança: 55376-X, OP: 51.

Logo, verifica-se que a assim como o primeiro réu, o terceiro réu também é
responsável, tanto objetiva, quanto solidariamente, em relação aos criminosos praticados pela
segunda ré, visto que, como já dito, a segunda ré também atuava como se fosse
correspondente bancária do terceiro Réu, não tendo o terceiro réu, garantido a segurança
básica ao consumidor, e nem mesmo fiscalizado os procedimentos daquela que exercia
atividade se denominando como sua “correspondente bancária”.

Assim, a terceira ré é parte legitima para atuar na presente demanda, devendo


ser afastada a preliminar de ilegitimidade passiva apresentada por esta.

DO MÉRITO

DA RESPONSABILIDADE DAS CORRÉS

Não obstante, o direito da parte Autora estar completamente evidenciado e


consubstanciado, tanto nas matrizes de direito material, quanto aos aspectos processuais,
tendo total amparo fático e legal, como pode-se aduzir pela narrativa dos fatos e dos
elementos probatórios acostados pela mesma, tenta as Rés, opor-se, em suas peças de
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resistências, ao pedido autoral, arguindo uma série de institutos jurídicos não aplicáveis ao
caso em tela, tentando fugir de sua obrigação, sendo indevida e incabível a alegação da Ré.

A irresponsabilidade dos Bancos Réus (1º e 3º Réu) em não investigar o motivo


pelo qual vários clientes da Segunda Ré realizavam altos empréstimos comprometendo toda a
margem consignável para transferir para a conta bancária da empresa ÚNICA CONSULTORIA E
INFORMAÇÕES CADASTRAIS EIRELI (2ª ré), não foi o bastante para que as rés (1º e 3º
Réu)ligasse o sinal de alerta e verificasse a idoneidade da ÚNICA CONSULTORIA , sua parceira.

Evidencia-se, sem medo de errar, culpa destas Corrés nas modalidades in


vigilando e, principalmente, in eligendo.

In vigilando, porque tinha o DEVER de fiscalizar os procedimentos daquela que


exercia atividade denominando-se como sua correspondente bancária; o que, inexoravelmente,
no tocante à segunda Ré,ÚNICA CONSULTORIA E INFORMAÇÕES CADASTRAIS EIRELI nunca
fizeram!

Ora, uma vez que a ÚNICA CONSULTORIA E INFORMAÇÕES CADASTRAIS EIRELI(2º


réu) atuava como correspondente bancária das 1ª e 3ª Ré sem comento, destas, tornou-se
verdadeira agente de negócios. Por isso, não é difícil concluir que as Corrés são responsáveis,
tanto objetiva, quanto solidariamente, em relação aos atos criminosos praticados pela 2ª ré.

No mesmo sentido, desponta a culpa in elegendo porque os réus (1º e 3º réus)


não garantiram a segurança mínima necessária ao consumidor.

Ressalta-se, que eventual afirmação das rés de não possuírem contrato de


correspondência com a segunda ré não socorre aos BANCO RÉUS (1ª e 3ª rés), uma vez que
deter toda informação do Autor é um cuidado indissociável aos exercícios das suas atividades
econômicas.

Fato é que as rés Ré infringiram no caso em tela TODOS os deveres anexos de uma
relação consumerista, não agindo com probidade, lealdade, ou honestidade,frustrando a
legítima expectativa do autor.
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Ainda no que se refere ao primeiro e segundo requeridos (Banco Itaú e


Panamericano), e conforme já definido pelo STJ, inclusive em sede de julgamento de recurso
representativo de controvérsia,"as instituições bancárias respondem objetivamente pelos danos
causados por fraudes ou delitos praticados por terceiros - como, por exemplo, abertura de conta-
corrente ou recebimento de empréstimos mediante fraude ou utilização de documentos falsos-
, porquanto tal responsabilidade decorre do risco do empreendimento, caracterizando-se como
fortuito interno"

Nesse sentido:

AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO


DECLARATÓRIA DEINEXISTÊNCIA DE DÉBITO CUMULADA COM
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.INSCRIÇÃO INDEVIDA EM
CADASTRO RESTRITIVO DE CRÉDITO. FALHANA PRESTAÇÃO DO
SERVIÇO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DAINSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. HARMONIA ENTRE O ACÓRDÃO RECORRIDO E A
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. REEXAME DE FATOS E

PROVAS. INADMISSIBILIDADE. "As instituições bancárias respondem


objetivamente pelos danos causados por fraudes ou delitos
praticados por terceiros - como, por exemplo, abertura de conta-
corrente ou recebimento de empréstimos mediante fraude ou
utilização de documentos falsos-, porquanto tal responsabilidade
decorre do risco do empreendimento, caracterizando-se como
fortuito interno" (REsp 1.197.929/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, DJe de 12.9.2011).

O fato é que em TODOS OS CENÁRIOS propostos, o segundo e terceiro réu não


tem como se furtar ao dever de conhecimento das atividades da segunda ré, sendo-lhes de rigor
a aplicação da responsabilização solidária, hábil à indenização dos danos materiais e morais
perpetrados ao Autor.
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DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SOLIDARIEDADE DAS RÉS

O Código de Defesa do Consumidor consagra a teoria da responsabilidade


objetiva do fornecedor pelos danos causados:

Art. 14 - O fornecedor de serviços responde, independentemente


da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruição e riscos.”

No caso em tela, as Rés incontestavelmente prestaram serviços de péssima


qualidade,causando prejuízo de toda ordem ao autor, devendo responder pelos danos e
transtornos causados pelo desembolso de valores excedentes que não lhes cabiam, bem
como todo transtorno, angústia e desespero que fazem o Autor experimentar.

O princípio da boa-fé objetiva possui indubitável relevo na interpretação das


relações contratuais e, somados aos chamados deveres anexos de conduta, norteiam o Direito
Obrigacional, e, por conseguinte, o Direito Contratual.

Nesse sentido, a boa-fé objetiva passa a relativizar a autonomia privada das partes
permitindo aos contratantes exercer sua liberdade contratual, de forma equilibrada e
cooperativa, e, sobretudo, primando-se pela imprescindível observância ao princípio da
dignidade da pessoa humana (artigo 1º, III, CR/88), valor fundamental a ser realizado pelo
ordenamento jurídico.

É nítida a falha na prestação do serviço em toda a cadeia de fornecimento dos


serviços/produtos, a qual deve ser absorvida pelo segundo e terceiro réu a título de risco do
empreendimento.

Trata-se de responsabilidade objetiva pelo fato do serviço, fundada na teoria do


risco do empreendimento, segundo a qual todo aquele que se dispõe a exercer alguma atividade
no campo do fornecimento de bens e serviços tem o dever de responder pelos fatos e vícios
resultantes do empreendimento, independentemente de culpa.
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Desta forma, tem-se que os meios ardis perpetrados pelas Corrés causam ao
Autor indiscutíveis danos materiais. Igualmente, surgem os danos morais, haja vista o desespero
e vergonha do Autor por não conseguir honrar as despesas do lar.

Sem sombra de dúvida se o Autor soubesse das gravíssimas consequências a que


ficou exposto decorrentes dos contratos com as Corrés, jamais haveria celebrado qualquer
negócio.

Consoante notícias veiculadas pela mídia, a Polícia Federal vem realizando


operações investigando fraudes realizadas por empresas que desempenham atividades no
mesmo seguimento que a ré, a pretexto de oferecer os serviços de concessão de empréstimos
para pessoa física, crédito consignado, portabilidade de crédito e consultoria financeira. Foi
apurado que pelo menos uma das empresas desenvolve suas atividades desde 2018 em São
Paulo, sendo controladas por uma sociedade limitada no Rio de Janeiro, que cria diversas
pequenas empresas, todas individuais de responsabilidade limitada em nome de interpostas
pessoas, geralmente consultores de vendas, supervisores ou gerentes que se destacaram nas
“vendas” dos “produtos”.

Verifica-se que todas as empresas trabalham com o mesmo tipo de operação de


repasse de empréstimos realizando operações milionárias, praticando a lesão patrimonial de
milhares de pessoas com a promessa de alta rentabilidade em supostos investimentos sem o
devido detalhamento de onde seriam destinadas as aplicações financeiras e sem a devida
comprovação da atividade regular, pois que na verdade trata-se de contratos de repasse de
empréstimo, no qual o cliente tomador de empréstimo na praça, empresta a estas empresas
através de um contrato de cessão de credito/débito, o valor tomado e em contrapartida as
empresas do grupo se comprometem a pagar um saldo remuneratório com “juros”, além de
arcar com as parcelas mensais decorrentes desses empréstimos.

Como já plenamente demonstrado, a segunda ré arquitetou um plano de negócio


que aparentemente parece ser rentável e confiável, contudo, esconde sua verdadeira intenção,
qual seja, fazer os recursos circularem enquanto os contratados desviam os valores em
prejuízo dos contratantes, que ao longo do tempo fatalmente deixariam de receber o acordado.
Este tipo de negociata ao longo do tempo recebeu o nome de “PIRÂMIDE”.
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Nesta relação, além da empresa supracitada, somente os bancos se favoreceram,


realizando uma gama de EMPRÉSTIMOS VULTUOSOS em um curto espaço de tempo.

Por fim, visto o inadimplemento da segunda Ré amplamente demonstrado e a


motivação contratual cujo a qual possuía vício em sua origem, outrossim, sendo nítido que tal
empreitada fraudulenta não seria possível sem a ajuda de funcionários do segundo e terceiro
réu (os quais deve responder a esta lide solidariamente).

É nítida a interação comercial entre as partes rés, que inclusive compartilhavam o


sistema de banco de dados, pois para a segunda ré estar munida das informações que dispunha,
não haveria outra explicação.

De tal forma deve ser declarada a SOLIDARIEDADE ENTRE AMBAS para


responderem ilimitadamente aos termos da presente lide, conforme estabelece o Código de
Defesa do Consumidor em seu art. 7°, § único, que dita:

“Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos


responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos
nas normas de consumo.”

Cabe repisar que o segundo e terceiro réu (Banco Itaú e Panamericano) SABIA
OU DEVERIA SABER sobre as intenções da segunda Ré, ao menos sobre o seu modelo de
negócio, e autorizando (objetiva ou tacitamente) sua prospecção, assumiu os riscos sobre os
danos decorrentes desta empreitada.

Neste sentido este tribunal já se manifestou positivamente:

APELAÇÕES CÍVEIS. NULIDADE CONTRATUAL. EMPRÉSTIMOS


CONSIGNADOS QUE FORAM REALIZADOS PARA AQUISIÇÃO DE
COTAS DE FUNDO DEINVESTIMENTO. FRAUDE REALIZADA POR
CORRESPONDENTE BANCÁRIO. PIRÂMIDE FINANCEIRA. “OPERAÇÃO
GIZÉ”. CONTRATOS COLIGADOS. ARESPONSABILIDADE DAS
INSTITUIÇÕES FINANCEIRASPOR ATOS PRATICADOS POR SUA
CORRESPONDENTEÉ OBJETIVA. APLICAÇÃO DO CDC AO CASO.
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CONTRATO DE MÚTUO FIRMADO COMO MEIO PARA CONSECUÇÃO


DOGOLPE

PRATICADO PELA CORRESPONDENTE FILADELPHIA. (...) (Apelação


Cível no Processo nº 0085489 -80.2012.8.19.000, Relator: DES.
Antônio Iloízio Barros Bastos, Quarta Câmara Cível – RJ)

No mesmo sentido entende o STJ:

RECURSO ESPECIAL Nº 1.210.493 - SP (2017/0309056-

8) RELATOR : MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA AGRAVANTE :


BANCO INTERMEDIUM SA INTERES. : FILADELPHIA EMPRÉSTIMOS
CONSIGNADOS LTDA INTERES. : CARLOS HENRIQUE VIEIRA DECISÃO
Trata-se de agravo nos próprios autos, interposto contra decisão,
publicada em 9/3/2017 (e-STJ fl. 868), que inadmitiu recurso
especial sob os seguintesfundamentos:(a)ausência de
demonstraçãodeafrontaaosartigosarrolados,(b) falta de similitude
apta à comprovação do dissídio urisprudencial e (c) aplicação
daSúmulan. 7 do STJ. O acórdão recorrido está assim ementado (e-
STJ fl. 706): AGRAVO RETIDO PRETENSÃO À REFORMA DA DECISÃO
QUE DEFERIU A TUTELA ANTECIPADA PARA CESSAÇÃO DOS
DESCONTOS NA FOLHA DE PAGAMENTO DO AUTOR JULGAMENTO
DO MÉRITO DA AÇÃO RECURSO PREJUDICADO. AÇÃO ANULATÓRIA
DE NEGÓCIOJURÍDICO CUMULADA COM INDENIZAÇÃO - OPERAÇÃO
DE INVESTIMENTO VINCULADA A CONTRATO DE MÚTUO-
ANULAÇÃO DE AMBOS CONTRATOS, EM RAZÃO DE FRAUDE
(PIRÂMIDE FINANCEIRA)OPERADA POR CORRESPONDENTE
BANCÁRIO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA APELANTE - CABIMENTO -
RESPONSABILIDADE DO BANCO PELOS ATOS DE SEU
CORRESPONDENTE BANCÁRIO PREVISTA NA RESOLUÇÃO 3.954/11
DO BACEN – CARACTERIZAÇÃO DE CULPA IN ELIGENDO E IN
VIGILANDO
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Ainda, seguindo a mesma linha de raciocínio, estabelece o Código Civil que o


negócio jurídico pode ser anulado por dolo de terceiro se a parte a quem aproveite dele tivesse
ou devesse ter conhecimento, neste sentido, independente da justificativa das Rés, todos os
contratos devem ser declarados nulos:

Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de
terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter
conhecimento;

Resta evidente o CONLUIO entre todos os componentes do polo passivo desta


lide, vez que se uniram em forma de parceria com único intuito de auferirem ganhos em
detrimento das perdas de outrem.

É de rigor, portanto, a anulação dos contratos firmado com as requeridas em


razão do reconhecimento da existência de erro substancial, na linha do que dispõe o artigo 138
do Código Civil:

“são anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de


vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido
por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do
negócio.”

Ambos os contratos, de mútuo e o de investimento, eram oferecidos por


representante da segunda requerida(ÚNICA CONSULTORIA E INFORMAÇÕES CADASTRAIS EIRELI),
que, em evidente parceria com o primeiro e terceiros requeridos(BANCO ITAÚ E
PANAMERICANO), assumia a responsabilidade perante ao consumidor de encaminhar os
documentos necessários à obtenção do empréstimo junto à instituição financeira, atuando como
verdadeiro correspondente bancário desta.

Não há que se falar, ademais, que os contratos foram celebrados de forma


autônoma, mas sim, na mesma ocasião e com um fim especifico, qual seja, o de obter recursos
destinados ao investimento a ser realizado junto à segunda ré (ÚNICA CONSULTORIA E
INFORMAÇÕES CADASTRAIS EIRELI)
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Conforme se denota do relato dos acontecimentos, o autor incorreu em


inquestionável erro substancial. Erro induzido pela má-fé da representante da segunda
requerida (ÚNICA CONSULTORIA E INFORMAÇÕES CADASTRAIS EIRELI) que, atuando como
verdadeira correspondente bancária do primeiro e terceiro requeridos (BANCO ITAÚ E
PANAMERICANO), acabou por viciar o consentimento do requerente.

Aplicável à espécie, portanto, o regramento contido no parágrafo único do artigo


7º do Código de Defesa do Consumidor, ao dispor que:

“tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão


solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas
de consumo.”

No tocante à responsabilidade solidária das empresas envolvidas em fraudes, o STJ


já assentou que “os integrantes da cadeia de consumo respondem solidariamente pelos danos
causados aos consumidores, como é o caso dos autos.”

Desta feita, evidente a responsabilidade solidária de todos os integrantes do polo


passivo.

DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Havendo uma relação onde está caracterizada a vulnerabilidade entre as partes,


como de fato há, este deve ser agraciado com as normas atinentes na Lei nº. 8.078/ 90,
principalmente no que tange aos direitos básicos do consumidor, e a letra da Lei é clara.

Ressalte-se que se considera relação de consumo a relação jurídica havida entre


fornecedor (artigo 3ºda LF 8.078/ 90) e consumidor (seja o consumidor equiparado pelo o art. 17
do CDC ou pelo consumidor legal inserto no art. 2º, também do CDC), tendo por objeto produto
ou serviço, onde nesta esfera, cabe a inversão do ônus da prova, especialmente quando:

“O CDC permite a inversão do ônus da prova em favor do consumidor, sempre que


for hipossuficiente ou verossímil sua alegação. Tratase de aplicação do princípio
constitucional da isonomia, pois o consumidor, como parte reconhecidamente mais
fraca e vulnerável na relação de consumo (CDC 4º, I), tem de ser tratado de forma
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diferente, a fim de que seja alcançada a igualdade real entre os participes da


relação de consumo. O inciso comentado amolda-se perfeitamente ao princípio
constitucional da isonomia, na medida em que trata desigualmente os desiguais,
desigualdade essa reconhecida pela própria Lei.”

Destarte, demonstrado no caso em tela que a parte autora é hipossuficiente, e que


também restaram caracterizadas as alegações iniciais, conforme documentos anexados, em que
comprova que a parte autora foi vítima de negócio jurídico fraudulento.

DO CABIMENTO DOS DANOS MORAIS

No que concerne aos danos morais, verifica-se que estes estão FARTAMENTE
presentes na espécie, tendo em vista que as várias ocorrências relatadas, transcedem EM MUITO
os meros aborrecimentos da vida cotidiana, e a compensação a este título deve atender ao que
prescreve a norma inserida no art. 6º, VI do CDC e art. 944 do CC.

Os danos impostos a parte autora ultrapassam, em muito, o simples


aborrecimento que decorre de descumprimento contratual. Houve evidente violação a direito
da personalidade com frustração de justa expectativa decorrente de esquema popularmente
conhecido como Pirâmide financeira.

Além do mais a sanção aplicada deve ter caráter pedagógico punitivo e preventivo
para evitar a prática reiterada de ilícitos, o que se torna imperioso para o restabelecimento da
paz social.

Para sedimentar a nossa tese, colecionamos o ensinamento do emérito Antunes


Varela, “in Das Obrigações” (8ª edição, pág. 617):

“A gravidade do dano há de medir-se por um padrão objetivo (conquanto a


apreciação deva ter em linha de conta às circunstâncias de cada caso), e não a
luz de fatores subjetivos (de uma sensibilidade particularmente embotada ou
especialmente requintada). Por outro lado, a gravidade apreciar-se-á em função
da tutela do direito: o dano deve ser de tal modo grave que justifique a
concessão de uma satisfação de ordem pecuniária ao lesado”.
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A indenização a ser arbitrada, no caso em exame, deve levar em conta a


INTENSIDADE DO DANO, SUA DURAÇÃO, A CAPACIDADE ECONÔMICA DO SUPLICADO E, AINDA,
O GRAU DE SOFRIMENTO experimentado pelo demandante, e atentar para o que prescreve o art.
5º, incisos V e X da CONSTITUIÇÃO FEDERAL; art. 5º da LICC; art. 927, parágrafo único c/c art. 944
do CC, desestimulando a prática de tal procedimento, injusto, maléfico e atentatório a dignidade
da pessoa humana.

A responsabilidade, na espécie, é objetiva (927 do CC), e por tal motivo deveria o


recorrido desconstituir as assertivas lançadas na inicial, trazendo prova hábil a amparar a sua
defesa, o que não o fez.

Face ao exposto, impugna-se integralmente as contestações juntadas pelas rés,


bem como seus documentos que foram produzidos de forma unilateral, reitera-se a procedência
integral do pleito autoral, sobretudo, dando destaque e enfoque, a inversão do ônus da prova.

Destarte, pelo fio do exposto, naqueles tópicos da contestação que não foram
suficientemente combatidos, a Autora se reporta à sua peça inicial e reitera todos os seus
termos, devendo as peças de resistências das Rés, serem rejeitadas por completo, vez que,
completamente infundada e sem argumento jurídico e/ou fático que pudesse lhe dar
sustentação.

À vista do exposto, aguarda a parte Autora, pela PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS, com
a condenação da Ré, nas custas processuais e honorários advocatícios de 20% sobre o valor da
causa.

Nestes termos,
pede e espera deferimento.

Belford Roxo, 5 de outubro de 2020.

DANIELA SANTOS FERREIRA DA SILVA


OAB/RJ 172.381

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