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AO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE NITERÓI – TJRJ

Processo:

Fulano de tal, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por sua


procuradora abaixo-assinada, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, com
furo no artigo 41 e seguintes da Lei Federal nº 9099/95 interpor o presente:

RECURSO INOMINADO

em face de decisão proferida no processo supracitado, a qual reconheceu a


incompetência do juízo para julgamento da demanda sob alegação de necessidade de
produção de prova de perícia técnica, necessária a demonstração da existência de fraude
por terceiros, na ação proposta em face de IBAZAR.COM ATIVIDADES LTDA e
MERCADO PAGO REPRESENTAÇÕES LTDA.

Dessa forma requer desde já que a parte recorrida seja intimada, conforme
previsão legal, para tomar ciência desse recurso e querendo apresentar contra razões.
Além disso, requer que o presente recurso seja recebido e remetido a turma recursal
competente conforme previsões legais.

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

O recorrente reitera ainda, nesse ato, o requerimento quanto ao benefício da


gratuidade de Justiça, uma vez que o autor não possui condições financeiras para arcar
com as custas processuais sem prejuízo do seu sustento ou de sua família, nos termos do
artigo 4º da Lei Federal nº 1060/50 e do artigo 98 do CPC/15.

Nesse sentido destaca-se que a documentação para comprovação do estado de


hipossuficiência do autor se encontra anexada aos autos, por ocasião da apresentação da
petição inicial.
Nestes temos, pede deferimento.

Niterói, 23 de novembro de 2022.

OAB/RJ
RAZÕES DO RECURSO INOMINADO

Processo:
Recorrente:
Recorrido:

EGRÉGIA TURMA RECURSAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

EMÉRITOS JULGADORES

I. BREVE RELATO DOS FATOS

O recorrente ajuizou ação indenizatória por danos materiais e morais, tendo por
objetivo obter o ressarcimento da quantia de R$ 17.500,00 (dezessete mil e quinhentos
reais) a título de danos materiais, bem como valores referentes ao dano moral suportado,
após ter sido vítima da falha de segurança na prestação dos serviços de compra e venda
nas plataformas digitais das rés.

Em sua petição inicial o recorrente alega que anunciou um aparelho rádio e


criofrequência da marca Medical San Ethernia Cold no site de negociações virtuais
Mercado Livre de modo que o pagamento da compra seria realizado por meio do
Mercado Pago. Ocorre que após o recebimento de três e-mails de confirmação da venda,
com o nome e logo das rés, o recorrente se viu impossibilitado de fazer o levantamento
do dinheiro da negociação, vindo a ser informado posteriormente pelo próprio Mercado
Livre que havia sido vítima de uma fraude.

Em contestação apresentada em item 24049804 as recorridas alegam que


inexiste fundamento para que o recorrente demande em Face das recorridas sustentando
que: (1) o recorrente não teria juntados os documentos úteis a comprovação do seu
direito; (2) os documentos que instruem a inicial não seriam suficientes para comprovar
que a suposta transação fora de fato realizada através da plataforma Mercado Livre; (3)
não consta operação de venda do produto "aparelho de rádio e criofrequência Medical
San, Ethernia Cold" na plataforma das rés; (4) o fato narrado pelo recorrente caracteriza
a culpa exclusiva do consumidor; e (5) a prestação do serviço pelo recorrido se deu de
forma regular.

Em decisão de itens 36117271 e 36343508 foi prolatada sentença no sentido de


reconhecer a incompetência do juízo para julgar a causa, ante a necessidade de produção
de perícia técnica tendo em vista que esta é necessária para demonstrar se houve fraude
por terceiros no aplicativo dos recorridos.

Assim, o douto juízo de primeiro grau fundamenta sua decisão no argumento de


que, com base nos documentos anexados aos autos, restou comprovado a contratação de
compra do produto anunciado na plataforma da ré e que foi utilizada informação
constante apenas no anuncio da plataforma da ré, sendo necessária prova técnica para
constatar se houve fraude interna e violação do dever de segurança do réu com os dados
do autor.

II. DA TEMPESTIVIDADE

Inicialmente é preciso destacar que o presente recurso inominado é tempestivo,


tendo em vista que o prazo para sua apresentação é de 10 dias úteis, contados da
intimação do autor acerca do teor da sentença, nos termos do artigo 42 da Lei Federal
9.099/95.

Dessa forma, tendo em vista que a autora foi intimada da prolação da sentença
na data de 18/11/2022, verifica-se que o termo final para apresentação da mesma se dará
em 02/12/2022, restando comprovada a sua tempestividade.

III. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

O recorrente não possui condição financeira para custear o processo em razão de


ostentar estado de hipossuficiência, conforme demonstram os extratos de imposto de
renda em anexo à petição inicial. Para realizar o pagamento das custas e despesas do
processo, o recorrente terá que desembolsar um valor que causará extremo prejuízo ao
seu sustento e de sua família.

Por este motivo, o recorrente vem neste pleitear a Gratuidade da Justiça, nos
termos do artigo 4º da Lei Federal nº 1060/50 e do artigo 98 do CPC/15.

IV. DAS RAZÕES DO PEDIDO DE REFORMA

A sentença prolatada pelo juízo de primeiro grau deve ser reformada nos termos
abaixo indicados com vistas a que se garanta a mais efetiva justiça no processo em
curso.

Nesse sentido, tem-se que o principal fundamento da sentença que reconheceu a


incompetência do juízo para julgar a demanda é a necessidade de prova técnica pericial
para verificar se houve fraude interna e violação do dever de segurança do réu com os
dados do autor.

Data Máxima Vênia, tal argumento não merece acolhida. É certo que o
recorrente foi vítima de fraude ao tentar vender seu produto utilizando a plataforma das
rés.

A documentação acostada aos autos deixa claro toda negociação entabulada


entre o recorrente e o suposto consumidor que requereu que a venda se desse através da
plataforma Mercado Livre. Ato contínuo, o recorrente recebeu os e-mails de
confirmação de que o pagamento do produto havia sido realizado e as orientações para
envio do produto, sendo que em todos os e-mails havia o nome de domínio do recorrido
“Mercado Livre”.

Logo, resta claro o suposto consumidor e real fraudador conhecia bem o


mecanismo de funcionamento da plataforma para poder simular fora da plataforma este
mesmo mecanismo de funcionamento, de tal forma que foi possível enganar o
recorrente e tirar proveito econômico.
Ora, Nobres Julgadores, tamanho conhecimento do mecanismo de
funcionamento da plataforma Mercado Livre não seria possível se as próprias rés
tivessem recusado acesso ao fraudador, após gerenciar com maior cuidado e segurança
o referido acesso à plataforma.

Parece inquestionável o fato de que se os dados cadastrais utilizados pelos


fraudadores estelionatários são falsos, o sistema eletrônico utilizado pelo Mercado Livre
padece de certa fragilidade quanto à segurança ofertada aos seus usuários, pois permite
a entrada de pessoas inescrupulosas na comunidade de usuários.

Dessa forma, é possível se afirmar que a falha na prestação do serviço se


inicia com a livre entrada do fraudador mal intencionado no sistema, viabilizada
pela deficiência do sistema cadastral, e se aperfeiçoa após o envio pelo vendedor,
do produto anunciado, restando caracterizado o nexo causal entre o dano e a falha
de segurança do serviço oferecido pelo recorrido.

A sentença atacada é sucinta ao afirmar a necessidade de prova técnica pericial


para verificar se houve fraude interna e violação do dever de segurança do réu com os
dados do autor. Entretanto, tal prova técnica se mostra desnecessária uma vez que,
logicamente, o fraudador não poderia ter praticado o ato criminoso sem conhecer o
mecanismo de funcionamento da plataforma da ré, o que só poderia ser possível tendo
acesso a mesma.

Com intuito de demonstrar os fatos constitutivos do seu direito o recorrente


juntou vasta prova documental por ocasião do ajuizamento da demanda. Tais provas
demonstram de forma inequívoca que o fraudador não só teve acesso ao sistema da
plataforma Mercado Livre, como assumiu falsamente os dados de outra
consumidora lesada para lesar o recorrente.

Abaixo, é possível observar como o fraudador, após ter acessado a plataforma da


primeira ré, se faz passar por uma consumidora usuária da plataforma Mercado Livre:
(Documento anexo em ítem 21927784 - Pág. 14)

Como afirmado acima, a prova técnica pericial que o juízo a quo afirma ser
necessária é perfeitamente dispensável a vista da prova documental acostada aos autos
pelo recorrente. Com base no print destacado em ítem 21927784 - Pág. 14 fica evidente
que o fraudador teve acesso a plataforma Mercado Livre e colheu dados de
consumidores para praticar o estelionato que vitimou o recorrente vendedor.

A partir de uma busca mais cuidadosa a respeito do golpe sofrido, o recorrente


teve a oportunidade de identificar a consumidora que teve seus dados usurpados pelo
fraudador e descobriu inclusive que a mesma ajuizou ação indenizatória em face das rés
em razão de golpe sofrido ao tentar efetuar a venda de produto junto às rés, conforme se
extrai de documento anexado em ítem 21929525.

Com base nos fatos narrados e na documentação apresentada pelo recorrente,


resta comprovado que (1) o recorrente foi vitima de fraude ao tentar negociar utilizando
a plataforma Mercado Livre; (2) o fraudador se valeu de dados constantes na plataforma
Mercado Livre, usurpando dados de uma consumidora chamada Suzana e
encaminhando tais informações ao recorrente para assegurar que a mesma (na verdade o
fraudador) era usuária cadastrada na plataforma; (3) as rés falharam com o dever de
ofertar segurança aos usuários na prestação dos serviços ao permitir o acesso por
pessoas inescrupulosas e mal intencionadas à plataforma “Mercado Livre”; (4) não é
necessária qualquer prova técnica pericial para demonstrar a falha na prestação
do serviço pelas rés, uma vez que a prova documental anexada aos autos são
suficientes para tal finalidade.

É importante ressaltar ainda que o sistema eletrônico desenvolvido pelo


Mercado Livre explora mercado novo, com uso de novas tecnologias, dentro de um
ambiente novo, isto é, o ambiente virtual. Dessa forma, as especificidades necessárias
para tal negociação podem não ser amplamente dominadas pelo homem-médio, tal
como ocorreu com o recorrente.

Nesse sentido, ocorre que muitos usuários tomam conhecimento do conteúdo do


site, mas nem sempre são capazes de decifrá-lo ou de operar com segurança e
desenvoltura as ferramentas colocadas à sua disposição, não sendo razoável exigir que
todos os usuários estejam perfeitamente adaptados à particularidades do sistema de
dados desenvolvidos pelo fornecedor, cabendo a este os deveres de orientar e conferir
segurança aos usuários para a sua perfeita utilização.

Por fim, verifica-se que a desnecessidade de prova técnica pericial para


julgamento do caso em análise pode ser observada no julgamento do Recurso
Inominado nº 0111224-42.2017.8.19.0001, onde houve julgamento de caso similar pela
quarta turma recursal, para reformar a sentença de primeiro grau e condenar as
recorridas ao pagamento de danos materiais e morais em razão da quebra do dever de
segurança aos seus usuários.

Recorrente/AUTOR:
Recorrida/RÉ:

VOTO
Trata-se de recurso interposto pelo autor, contra sentença que julgou
improcedentes os pedidos de indenização por danos materiais no valor de R$
1.570,58 e de indenização por danos morais, sob o argumento de que os e-
mails trocados pelo autor e comprador não foram realizados dentro da
plataforma das rés.

Gratuidade de justiça concedida ao autor às fls. 425.

Nas contrarrazões as rés repisam sua defesa e pugnam pela manutenção da


sentença.
Na inicial o autor alega que, em abril de 2017, publicou um anúncio no site da
Mercado Livre, visando à venda de um celular iPhone 6 pelo valor de
R$1.500,00. Como de praxe, com um dos interessados, Marcelo, houve a troca
de e-mails e a confirmação da compra. Após, foram recebidos três e-mails
da Mercado Livre informando a venda, a aprovação do pagamento, a
conclusão da venda e o pedido de envio dos dados bancários. O produto e
os acessórios foram enviados via Sedex 10 no valor de R$ 70,58. Em
22/04/17, o autor contatou o comprador via email, solicitando a confirmação
do recebimento ao Mercado Livre, visando à liberação do valor, porém
respostas não foram obtidas. O autor contatou o Mercado livre a respeito do
ocorrido e, após alguns trâmites, foi informado que se tratava de fraude e
que deveria registrar oficialmente a ocorrência. O autor reclama que a
Mercado Livre lhe transferiu a responsabilidade e o ônus da solução para a
fraude ocorrida na venda de produto que a empresa deveria intermediar e não
lhe ofereceu qualquer suporte. Requereu indenização por danos materiais no
valor de R$ 1570,58 e indenização por danos morais no valor de R$ 4.500,00.

A fim de comprovar suas alegações, o autor juntou os documentos de fls.25 a


95.

Em defesa, as rés alegaram, em síntese, que os e-mails recebidos pelo autor


não foram enviados por elas e que não houve repasse do valor porque nada foi
recebido. No mais, alegam que o autor agiu sem cautela e, se tivesse agido
como expressamente orienta, identificaria a tentativa de fraude, já que a
negociação não ocorreu em sua conta.

É O RELATÓRIO. DECIDO.
Trata-se de relação jurídica de consumo, uma vez que presentes os requisitos
subjetivos (consumidor e fornecedor - artigos 2º e 3º da Lei 8.078/90), bem
como os requisitos objetivos (produto e serviço - §§ 1º e 2º do artigo 3º da Lei
8.078/90).

Assim, aplico a legislação consumerista e inverto o ônus da prova, nos termos


do artigo 6º, VIII do CDC, uma vez que a verossimilhança das alegações
autorais é perfeitamente extraída pelos documentos acostados aos autos.

As rés oferecem serviço em que seus contratantes buscam, principalmente, a


segurança, evitando a ocorrência de fraudes em transações efetuadas pela
internet entre pessoas desconhecidas. Tal serviço consiste em receber o
pagamento do comprador e liberar o pagamento para o vendedor, após o
recebimento do produto objeto da transação. As rés auferem lucros com essa
atividade.

In casu o autor efetuou a entrega do produto e foi ludibriado por e-mail


enviado por fraudador, cujo os dados utilizados para fraude foram extraídos do
site da Mercado Livre.

A parte ré, em sua peça de bloqueio, informa que o e-mail recebido pelo autor
é falso.

Porém, note-se que nos e-mails enviados (fls. 43 a 47) constam todo o
histórico da venda do produto.

O autor não possui conhecimento técnico para distinguir a fraude.

Os referidos documentos possuem o logotipo da "Mercado Livre" e nada ali


aponta para irregularidade.

Entendo que o autor foi diligente sim e não deve ser responsabilizado pela
fraude perpetrada por terceiros, que se utilizaram de anúncio veiculado
no site denominado "Mercado Livre" para obterem vantagens.
Ademais, a responsabilidade das rés, que é objetiva, está regida pela Teoria do
Risco do Empreendimento, consagradora da imprescindível noção de que o
risco é o aval moral do lucro, cabendo a quem se disponha a exercer alguma
atividade no mercado de consumo o dever de responder pelos eventuais vícios
ou defeitos dos bens e serviços fornecidos, independentemente de culpa.

Assim sendo, não há dúvidas que a compra foi feita através do Mercado Livre,
de propriedade do EBAZAR, restando evidenciada a falha na prestação do
serviço, pela qual as rés deverão responder objetivamente, nos termos do
artigo 14 do CDC, e solidariamente (artigos 7º, parágrafo único, e 25, § 1º, da
Lei 8.078/90) pelos danos materiais e morais ocasionados ao autor.

No tocante ao pedido de compensação por danos morais, entendo que a


situação vivenciada pelo autor lhe causou sentimento de angustia, impotência e
quebra de confiança nas rés e não podem ser considerados como mero
aborrecimento da vida cotidiana.

Quantum indenizatório que arbitro em R$2.000,00 (dois mil reais), de acordo


com o princípio da proporcionalidade e razoabilidade, bem como pela natureza
do serviço contratado.

Isto posto, VOTO no sentido de conhecer do recurso e dar-lhe provimento


para reformar a sentença e julgar procedentes os pedidos e condenar as
rés, solidariamente, ao pagamento de R$ 1.570,58 (um mil, quinhentos e
setenta reais e cinquenta e oito centavos) a título de danos materiais,
acrescidos de correção monetária a partir da data do ocorrido, e ao
pagamento de R$ 2.000,00 (dois mil reais) a título de danos morais,
acrescidos de correção monetária a contar desta decisão. Aos valores
deverão ser acrescidos, ainda, de juros legais, a contar da citação.
Sem ônus por se tratar de recurso com êxito.
(grifo nosso)

V. CONCUSÃO

Diante dos fatos e direitos expostos, o recorrente requer:

a) que o presente recurso inominado seja recebido, conhecido e processado, gerando a


reforma da sentença ora atacada para (1) determinar o retorno dos autos e o julgamento
da demanda pelo juízo a quo ou (2) que a demanda seja julgada procedente diretamente
por esta Douta Turma Recursal, uma vez que a causa já se encontra madura para
julgamento;

b) que os benefícios de Gratuidade da Justiça sejam deferidos, do contrário que haja a


intimação da recorrente para recolher o devido preparo no prazo que será estabelecido;

c) que o recorrido seja condenado a realizar o pagamento das custas processuais e os


honorários advocatícios, conforme prevê o art. 55 da Lei 9.099/95, sendo fixados os
honorários advocatícios no valor máximo permitido por lei.

Nestes termos, pede deferimento.

Niterói, 23 de novembro de 2022.

OAB/RJ

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