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Alunas: Helena Kich, Lídia Ritter e Rafaela Oliboni

EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL REGIONAL DA


QUARTA REGIÃO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

APELAÇÃO CÍVEL Nº: xxx


RECORRENTE: Ministério Público Federal
RECORRIDO: Mariana

MARIANA, já devidamente qualificada nos autos, representada


por sua procuradora constituída (procuração em anexo), vem
respeitosamente, perante Vossa Excelência, observando o
disposto no art. 1.030 do Código de Processo Civil, apresentar

CONTRARRAZÕES AO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL contra


decisão proferida pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região,
com base nos fatos e fundamentos jurídicos que passarão a
serem expostos na peça de razões em anexo.

Nos termos do art. 1.030 do Código de Processo Civil, o prazo para


apresentar contrarrazões ao recurso extraordinário é de 15 (quinze) dias, não sendo
exigido o preparo para tanto. Portanto, as contrarrazões ao recurso deverão ser
recebidas com razões de estilo.

Requer não seja admitido o recurso extraordinário interposto e, na remota


hipótese de sua admissão, a remessa das presentes contrarrazões ao Supremo
Tribunal Federal para sua apreciação.
Termos que pede deferimento

Local xxx, 05 de junho de 2023.

Advogada
OAB/UF nº xxx
AO EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL DE FEDERAL

APELAÇÃO CÍVEL Nº: xxx


RECORRENTE: Ministério Público Federal
RECORRIDO: Mariana

ORIGEM: Tribunal Regional Federal da 4° Região


COLENDA TURMA
INCLÍCITOS JULGADORES

1. SÍNTESE DOS FATOS

O Ministério Público Federal ajuizou ação contra Mariana, motorista


concursada da União Federal, lotada em Porto Alegre, visando à sua condenação
pela prática de ato de improbidade administrativa. A acusação foi a de que Mariana
teria utilizado o veículo funcional para fins particulares.
Mariana alegou, em sua defesa, que os fatos que lhe foram imputados não
eram verdadeiros.
A demanda foi julgada improcedente. O juiz sentenciante afirmou, para
tanto, que “o Ministério Público Federal não logrou demonstrar, de forma cabal, o
desvio de conduta atribuído à servidora pública”. O Ministério Público Federal
recorreu ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que manteve a sentença, por
seus próprios fundamentos.
Tempestivamente, o Ministério Público Federal interpôs recurso especial, com
base no art. 105, III, a, da Constituição do Brasil. Alegou que o acórdão recorrido
negou vigência ao art. 9º, IV, da Lei n. 8.429/92. Afirma que há prova abundante de
que Mariana utilizava automóveis públicos para realizar atividades particulares.
Além disso, o Ministério Público Federal interpôs, simultaneamente, recurso
extraordinário, com base no art. 102, III, a, da Constituição do Brasil. A alegação é a
de que, ao deixar de aplicar o disposto da Lei n.º 8.429/92 ao caso, o acórdão violou
o princípio da legalidade, regente da administração pública, previsto no art. 37 da
Constituição do Brasil.
Deste modo, por meio das razões que serão expostas na sequência,
percebe-se que o recurso extraordinário interposto não deverá sequer ser admitido,
em razão da ausência de prequestionamento e reexame da matéria fática
probatória, bem como inobservância da Súmula 279, 282 e 356, do Supremo
Tribunal Federal. Na hipótese remota de sua admissão, o recurso deve ser
desprovido conforme se demonstrará a seguir.

2. QUESTÕES PRELIMINARES

O recurso extraordinário interposto pelo recorrente não preencheu os


requisitos essenciais para análise do mérito. Por esse motivo, não deverá ser
admitido pelas razões expostas na sequência.

2.1 AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO: ÓBICE AS SÚMULAS 282 E


356 DO STF

Inicialmente, destaca-se que o prequestionamento representa uma exigência


implícita da própria Constituição, sendo compreendido como a necessidade de que
a matéria impugnada pelo recurso extraordinário já tenha sido objeto de decisão
pelas instâncias inferiores, reforçando a função constitucional do Supremo Tribunal
Federal.
Assim, o prequestionamento caracteriza-se como o questionamento prévio
realizado pelo órgão julgador a quo, sobre uma questão constitucional que será
objeto do recurso excepcional, visando esgotar as instâncias jurisdicionais inferiores
e permitir que os Tribunais Superiores analisem apenas questões previamente
decididas.
Portanto, para que o recurso extraordinário seja admitido, é necessário que a
questão constitucional já tenha sido apreciada pelo Tribunal de origem. Nesse
sentido, cabe ao recorrente demonstrar nas suas razões recursais a causa
constitucional ou federal que pretende ver examinada pelo Supremo Tribunal
Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça. É incumbência do recorrente apontar
na decisão recorrida a questão constitucional ou federal que entende ter sido tratada
de forma equivocada. Essa exigência é conhecida como prequestionamento, uma
atividade voltada ao enfrentamento, pelo órgão prolator da decisão recorrida, de
determinada questão.
No presente caso, o recurso foi interposto com base no art. 102, inciso III,
alínea "a", da Constituição Federal, alegando-se a suposta violação do art. 37, § 6º,
da mesma Constituição.
No entanto, observa-se que a matéria constitucional discutida no recurso
extraordinário não foi analisada pelo juízo de origem, nem tampouco foi objeto de
discussão em embargos de declaração, não cumprindo, assim, o requisito de
prequestionamento, conforme estabelecido na Súmula 356 do STF, que dispõe que:

Súmula 356. O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos
embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por
faltar o requisito do prequestionamento.

Desta forma, aplicável, na hipótese, o entendimento jurisprudencial vertido na


súmula 282 do Supremo Tribunal Federal, da qual dispõe que:

Súmula 282. É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada,


na decisão recorrida, a questão federal suscitada.

Além disso, o prequestionamento pressupõe o debate e a decisão prévia pelo


colegiado, ou seja, emissão de juízo sobre o tema, apta a configurar uma causa
decidida pelas instâncias ordinárias, não bastando para tanto apenas a arguição da
matéria pela parte recorrente.
Salienta-se que a falta de prequestionamento explícito insurge motivo para o
não conhecimento do recurso, conforme orientação pacífica deste Supremo Tribunal
Federal. Vejamos:
EMENTA AGRAVO INTERNO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO
COM AGRAVO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO DO
DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL SUPOSTAMENTE VIOLADO.
INADMISSIBILIDADE DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO ANTE O
PRESCRITO NOS ENUNCIADOS N. 282 E 356 DA SÚMULA DO
SUPREMO. 1. É inadmissível recurso extraordinário quando a
matéria constitucional articulada não foi debatida na origem, ante a
ausência do necessário prequestionamento. Incidência dos
enunciados n. 282 e 356 da Súmula do Supremo. 2. Agravo interno
desprovido.
(ARE 1385975 AgR, Relator(a): NUNES MARQUES, Segunda Turma,
julgado em 03/11/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-227 DIVULG
10-11-2022 PUBLIC 11-11-2022)
Diante do exposto, o recurso extraordinário não deve ser admitido, tendo em
vista que ausente o prequestionamento da matéria, conforme Súmulas 282 e 356,
ambas deste Supremo Tribunal Federal.

2.2 REEXAME DA MATÉRIA FÁTICA PROBATÓRIA: ÓBICE DA SÚMULA


279 DO STF

Conforme consta do verbete da Súmula 279 do STF, sendo o Recurso


Extraordinário via recursal para a análise de direito estrito, é nele vedada
expressamente a pretensão ao simples reexame da prova e dos fatos: “Para
simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário”.
No caso em questão, ao analisar as razões apresentadas pelo recorrente,
constata-se que o recurso envolve a necessidade de reexaminar a matéria fática e
probatória, não havendo qualquer questão de direito em sua argumentação recursal.
A pretensão, embora alegue violação constitucional, na verdade evidencia a
necessidade de reanálise da matéria fática e probatória, uma vez que seu pedido
contrapõe a decisão recorrida que se baseou justamente na insuficiência de provas.
Essa revisão por meio do Recurso Extraordinário é expressamente proibida
por esta Corte Superior, conforme estabelece a Súmula 279 do STF.
Além disso, mesmo que a alegação do recorrente pareça estar relacionada a
uma questão jurídica, para verificar a suposta violação da Constituição Federal,
seria necessária uma nova análise de todos os elementos fáticos e probatórios
presentes nos autos.
Trata-se, portanto, de uma questão que exigiria um exame aprofundado das
provas, o qual já foi realizado em primeira instância e em sede de apelação, sendo
inviável por meio do recurso extraordinário. Dessa forma, considerando que o
presente caso envolve não apenas uma questão de direito, mas requer o efetivo
reexame das questões fáticas e probatórias, a decisão de inadmissão do recurso
extraordinário se mantém de acordo com o impedimento estabelecido na Súmula
279 do Supremo Tribunal Federal.
Portanto, o recurso especial não deve ser admitido, uma vez que contém
uma alegação que exigiria o reexame dos fatos e das provas, incidindo assim o
óbice estabelecido na Súmula 279 do STF.
3. RAZÕES PARA A REFORMA DA DECISÃO

No caso em análise, o juiz sentenciante afirmou que “o Ministério Público


Federal não logrou demonstrar, de forma cabal, o desvio de conduta atribuído à
servidora pública” . O Tribunal Regional Federal da 4° Região manteve a sentença
proferida pelo juiz, tendo decidido de forma correta e em concordância com a
jurisprudência atual.

Não há, nos autos, provas suficientes de que Mariana teria utilizado o veículo
funcional para fins particulares. O Ministério Público Federal alegou que a Recorrida
violou o art. 9°, inciso IV, da Lei n. 8429/92, que dispõe:

“Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importando em


enriquecimento ilícito auferir, mediante a prática de ato doloso, qualquer
tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo,
de mandato, de função, de emprego ou de atividade nas entidades
referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:

IV - utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem móvel, de


propriedade ou à disposição de qualquer das entidades referidas no art. 1º
desta Lei, bem como o trabalho de servidores, de empregados ou de
terceiros contratados por essas entidades;

Nesse sentido, o Ministério Público Federal deve comprovar o enriquecimento


ilícito, isto é, o suposto benefício patrimonial indevido que Mariana teria recebido e o
dolo em realizar tal atividade, conforme o Tema 1199 do STF: “É necessária a
comprovação de responsabilidade subjetiva para a tipificação dos atos de
improbidade administrativa, exigindo-se - nos artigos 9º, 10 e 11 da LIA - a presença
do elemento subjetivo - dolo”.

Outrossim, o Ministério Público Federal alega que, ao deixar de aplicar o


disposto na Lei n.º 8.429/92 ao caso, o acórdão violou o princípio da legalidade,
regente da administração pública, previsto no art. 37 da Constituição do Brasil:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes


da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte.

Essa alegação não prospera, visto que se trata de violação à norma


infraconstitucional, ou seja, não há afronta direta à Constituição Federal. Logo, o
órgão acusatório federal questionou a aplicação da Lei n.º 8.429/92, não havendo
decisão que contrariasse diretamente dispositivo constitucional. Assim, há um
contencioso de mera legalidade e o recurso extraordinário sequer seria cabível ao
caso, conforme art. 102, III, “a” da Carta Magna.

A ausência de violação direta e frontal à Carta Magna fez com que o recurso
extraordinário interposto pelo órgão acusatório federal visasse ao reexame
fático-probatório, violando a Súmula 279 do Supremo Tribunal Federal. Desse
modo, houve violação reflexa à Constituição Federal e, portanto, não cabe o referido
recurso no caso sub litis, conforme a seguinte Ementa do STF:

EMENTA. Agravo regimental no recurso extraordinário. Coisa julgada.


Legislação infraconstitucional. Ofensa reflexa. Impossibilidade.
Precedentes. 1. Inadmissível, em recurso extraordinário, a análise de
ofensa reflexa à Constituição e o exame da legislação infraconstitucional. 2.
A afronta aos princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do
contraditório, dos limites da coisa julgada e da prestação jurisdicional,
quando depende, para ser reconhecida como tal, da análise de normas
infraconstitucionais, configura apenas ofensa indireta ou reflexa à
Constituição da República. 3. Agravo regimental não provido. (A G .REG.
NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 593.660 CEARÁ, Relator Min. Dias
Toffoli, 2012).

DIANTE DO EXPOSTO, caso admitido o recurso extraordinário, o acórdão


recorrido, proferido pelo Tribunal Federal da 4° Região, deve ser mantido, sendo
negado provimento ao recurso pelas razões acima expostas.

4. REQUERIMENTOS

Ante o exposto, requer:

I) Não seja admitido o recurso extraordinário interposto pela parte recorrente,


em razão da ausência de prequestionamento e reexame da matéria fática
probatória, bem como inobservância da Súmula 279, 282 e 356, do Supremo
Tribunal Federal;

II) Na remota hipótese de admissão do recurso, requer que esse seja negado
provimento, mantendo-se a decisão recorrida;

III) A condenação do recorrente ao pagamento de honorários recursais, nos


termos do art. 85, § 11º, do Código de Processo Civil.
Termos que pede deferimento.

Local xxx, 06 de junho de 2023.

Advogada
OAB/UF nºxxx
DOCUMENTAÇÃO ANEXADA:
Procuração
Comprovante de custas
Petição de apresentação
dirigida a PRESIDENCIA DO TRIBUNAL REGIONAL DA 4 REGIÃO
numero do processo
identificação do recorrente MPF
identificação da parte recorrida servidora publica mariana

Ato processual de oferecer ou de apresentar contrarrazões

PEÇA DE RESPOSTA

Dirigida ao Supremo Tribunal Federal


repetir os elementos de identificação do recurso
Vocativo - eminentes

Síntese do RE

Acompanhada da resistência ao final


SEM RAZÃO CONTUDO

CABIMENTO
MATERIA PRELIMINAR
1) REEXAME FATICO PROBATORIO (SUM. 279)
ausencia de questao constuituicional a ser discutida. Ela não é a verdadeira
razao pela qual o MP recorre
2) prequestionamento (sumula 282 STF / 356 STF)

MÉRITO
não houve afronta a CF

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