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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

Órgão 1ª Turma Cível

Processo N. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CÍVEL 0712109-35.2020.8.07.0001

LUIZ INACIO LULA DA SILVA,MARCOS CLAUDIO LULA DA SILVA,FABIO


APELANTE(S)
LUIS LULA DA SILVA e LUIS CLAUDIO LULA DA SILVA

APELADO(S) EDUARDO NANTES BOLSONARO


Relator Desembargador RÔMULO DE ARAÚJO MENDES

Acórdão Nº 1386878

EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO CIVIL. DIREITO


PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZAÇÃO C/C OBRIGAÇÃO DE
FAZER. DANOS MORAIS INDIRETOS. AUSÊNCIA DE IMPUTAÇÃO DE ATO ILÍCITO OU
IMORAL. INFORMAÇÃO FALSA. NÃO DEMOSTRADA. OMISSÃO. INEXISTENTE.
REDISCUSSÃO DA MATÉRIA. INCABÍVEL. MULTA. ART. 1.026, §2º, CPC. RECURSO
PROTELATÓRIO. NÃO CONFIGURADO. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
ACÓRDÃO MANTIDO.

1. Inexistem as omissões apontadas, pois o acórdão embargado analisou de forma clara a questão e os
argumentos de maneira dirimida e fundamentada nos preceitos legais.

2. O acórdão embargado concluiu de forma clara e coerente que não restou caracterizada ofensa nem
demonstrada a intensão de ferir o direito de personalidade da falecida, o que acarreta na improcedência do
pedido de reparação por danos morais.

2.1. O julgador não tem obrigação de analisar todas as teses e fundamentos trazidos pelas partes, bastando
a exposição das razões de forma a permitir a compreensão do que foi decidido, ainda que de forma
sucinta. Precedentes.

3. O exercício regular do direito de petição não configura intuito protelatório apto a ensejar a aplicação da
multa do §2º do artigo 1.026 do CPC.

4. Pretensão de reexame da causa foge à estreita via dos embargos declaratórios. Ausentes os vícios
previstos no art. 1.022 do CPC, necessária a rejeição dos Embargos de Declaração.

5. Recurso conhecido e não provido. Acórdão mantido.

Número do documento: 21112614275534000000030006760


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ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 1ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
dos Territórios, RÔMULO DE ARAÚJO MENDES - Relator, DIVA LUCY DE FARIA PEREIRA - 1º
Vogal e CARMEN BITTENCOURT - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador TEÓFILO
CAETANO, em proferir a seguinte decisão: CONHECER DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO E
NEGAR-LHES PROVIMENTO. DECISÃO UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas
taquigráficas.

Brasília (DF), 24 de Novembro de 2021

Desembargador RÔMULO DE ARAÚJO MENDES


Relator

RELATÓRIO

Trata-se de Embargos de Declaração opostos por LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA e OUTROS em
face do acórdão nº 1370180 (ID 29079959), que conheceu e negou provimento à apelação interposta,
ementado nos seguintes termos:

APELAÇÃO CIVIL. DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO CIVIL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL.


AÇÃO INDENIZAÇÃO C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER. DANOS MORAIS INDIRETOS. PUBLICAÇÃO
EM REDE SOCIAL. COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS. DIREITO À LIBERDADE DE
EXPRESSÃO E DE PERSONALIDADE. PONDERAÇÃO DO JULGADOR. AUSÊNCIA DE
IMPUTAÇÃO DE ATO ILÍCITO OU IMORAL. INFORMAÇÃO FALSA. NÃO DEMONSTRADA. LIVRE
MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO. DEVER DE INDENIZAR. INEXISTENTE. RECURSO
CONHECIDO E NÃO PROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.

1. O direito à livre manifestação de pensamento não é absoluto, deve estar em harmonia com os outros
princípios constitucionais, quais sejam, a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da
imagem das pessoas.

1.1. Diante do conflito de direitos fundamentais (direito à livre expressão e direito à personalidade, cabe
ao magistrado utilizar o princípio da proporcionalidade e ponderar os interesses em conflito, fazendo
prevalecer aquele que for mais justo ao caso.

2. De acordo com entendimento exarado pelo Supremo Tribunal Federal, "o direito fundamental à
liberdade de expressão não se direciona somente a proteger as opiniões supostamente verdadeiras,

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admiráveis ou convencionais, mas também aquelas que são duvidosas, exageradas, condenáveis,
satíricas, humorísticas, bem como as não compartilhadas pelas maiorias. Ressalte-se que, mesmo as
declarações errôneas, estão sob a guarda dessa garantia constitucional." (ADI 4451, Relator(a):
ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 21/06/2018, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-044 DIVULG 01-03-2019 PUBLIC 06-03-2019).

3. In casu, o comentário postado na rede social deixa um tom de dúvida acerca de esclarecimentos
requisitados pelo Juízo em que tramita o processo de inventário da falecida, e não desbordam o exercido
do direito da liberdade de expressão, nem demonstram a intensão de ferir o direito de personalidade da
de cujus, mostrando-se descabida a pretensão reparatória por danos morais.

4. Recurso conhecido e não provido. Sentença mantida.

(Acórdão 1370180, 0712109352008070001, Relator: ROMULO DE ARAUJO MENDES, 1ª Turma


Cível, data de julgamento: 8/9/2021, publicado no DJE: 21/9/2021. Pág.: Sem Página Cadastrada)

Os embargantes alegam que o julgado padece do vício de omissão.

Afirmam que o julgado foi omisso, uma vez que não observou o dolo do réu em divulgar notícia falsa,
pois mesmo após os esclarecimentos prestados ao Juízo inventariante o réu não realizou qualquer
publicação adicional elucidando que o valor dos investimentos da falecida era de R$ 26.000,00 (vinte e
seis mil reais) e não R$ 256.000.000,00 (duzentos e cinquenta e seis milhões), como havia anteriormente
publicado.

Aduzem que o acórdão deixou de analisar o caso sobre o enfoque do entendimento exarado pelo STJ, no
sentido de que gera dano moral indenizável a publicação de notícia falsa que expõe a vida íntima e
particular dos envolvidos.

Apontam, ainda, que o julgado deixou de reconhecer o recente entendimento exarado pelo STF no
inquérito das fake news, de que inexiste direito à publicação de notícias falsas sob o pretexto da liberdade
de expressão.

Rogam que os embargos de declaração sejam conhecidos e providos para sanar os vícios esposados, com
atribuição de efeitos infringentes.

Intimado à vista do pedido de efeito infringente, o embargado apresentou resposta no ID 29787897,


combatendo os fundamentos do recurso, pugnando pela rejeição dos presentes embargos e pela
condenação dos embargantes à multa do artigo 1.026 do CPC, em razão do caráter expressamente
protelatório do recurso.

É o relatório.

VOTOS

O Senhor Desembargador RÔMULO DE ARAÚJO MENDES - Relator

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Conheço dos embargos, porquanto presentes seus pressupostos de admissibilidade.

O Código de Processo Civil prevê:

Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para:

I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;

II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a
requerimento;

III - corrigir erro material.

Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que:

I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de


assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento;

II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1o.

Os embargos só são cabíveis caso haja obscuridade, contradição, omissão e erro material.

Elpídio Donizetti, ao tratar dos embargos de declaração, elucida o que é omissão e contradição:

(...)

Ocorre contradição quando o julgado apresenta proposições inconciliáveis, tornando incerto o


provimento jurisdicional... há omissão nos casos em que determinada questão ou ponto controvertido
deveria ser apreciado pelo órgão julgador mas não foi.

(DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 10ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Júris,
2008. Pág. 502.)

Os embargantes defendem a ocorrência de omissões no julgado, destacando que o julgado deixou de


observar o dolo do embargado em macular a honra da falecida, pois após os esclarecimentos prestados ao
Juízo inventariante, não realizou qualquer publicação elucidando os fatos (i); não analisou o apelo sob o
entendimento exarado pelo STJ, no sentido de que a publicação de notícia falsa que exponha a vida
íntima e particular dos envolvidos gera dano moral indenizável (ii) e deixou de aplicar o recente
entendimento exarado pelo STF no inquérito das fake news, de que inexiste direito à publicação de
notícias falsas sob o pretexto da liberdade de expressão.

Inicialmente, cabe ressaltar que a omissão, para fins de provimento de Embargos Declaratórios, ocorre
quando a decisão não se pronuncia sobre ponto que deveria se pronunciar para resolver a lide, deixando
de analisar, expressamente questão de relevo apresentada nos autos. Assim, não se reconhecem vícios no
julgado quando o magistrado não acolhe o argumento defendido pelas partes ou, ainda, quando não os
responde, um a um. Ou seja, o julgador não está obrigado a responder todas as alegações das partes

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quando já tenha encontrado motivo suficiente para fundar sua decisão, não se obrigando, ademais, a se
ater aos fundamentos indicados por elas, bastando que apresente os motivos pelos quais concede ou nega
uma pretensão, pois o deixando claro o posicionamento ao qual se filia, conforme se deu na espécie.

Inexistem omissões a serem sanadas, pois o provimento jurisdicional analisou todos os quesitos trazidos
à baila, construindo o fundamento jurídico para concluir que a publicação postada pelo embargado na
rede social twitter não gera dano moral indenizável, pois não houve demonstração de que as informações
publicadas eram falsas, mormente em cotejo com a cronologia dos fatos, conforme entendimento
exarado no acórdão, cujo trechos transcrevo:

Em síntese, os apelantes (cônjuge supérstite e herdeiros) alegam que o apelado pretendeu ofender a
honra, imagem e memória da de cujus, ao afirmar que era proprietária de R$ 256.000.000,00 (duzentos
e cinquenta e seis milhões de reais) em investimentos, enquanto, na verdade, restou demonstrado que os
valores investidos eram de apenas R$ 26.284,74 (vinte e seis mil duzentos e oitenta e quatro reais e
setenta e quatro centavos).

Afirmam que a liberdade de expressão é um direito que deve ser utilizado com responsabilidade, e que o
ordenamento jurídico não protege as afirmações falsas realizadas com a intensão de ofender outrem.

Ressaltam que a sentença entendeu que o apelado não imputou ato ilícito ou imoral à falecida, contudo,
afirmam que o objeto da inicial se referiu à publicação de afirmação falsa, com a clara intensão de
colocar em dúvida integridade e idoneidade da de cujus, devendo ser reformada para condenar o
apelado ao pagamento de indenização por danos morais.

Assim, cinge-se a controvérsia em verificar se a postagem realizada na rede social do apelado foi capaz
de ofender a imagem de pessoa já falecida e gerar dano moral indenizável.

(...)

Nessa linha, verifica-se que o que está em questão é a colisão entre dois princípios fundamentais: a
liberdade de expressão e o direito de personalidade.

O Ministro Gilmar Ferreira Mendes, em seu Curso de Direito Constitucional (2.ed. – São Paulo:
Saraiva. 2008, pp.359-376.), ensina que a “Constituição consagra liberdades variadas e procura
garanti-las por meio de diversas normas” e continua “o Estado Democrático se justifica, também, como
instância de solução de conflitos entre pretensões colidentes resultantes dessas liberdades.”

Assim, diante do conflito entre os direitos constitucionais, cabe ao magistrado se utilizar do princípio da
proporcionalidade e ponderar os interesses em conflito e dar prevalência aquele que for mais justo ao
caso.

No caso dos autos, a postagem contra a qual se insurgem os apelantes consta do ID 25419337, pág. 5,
que está dividida em dois conteúdos.

No primeiro constou a expressão “Os R$ 256 MILHÕES de Dona Marisa...” seguida de um emoji
(pictograma) que representa o sentimento de dúvida. Já a segunda parte se refere a um retweet
(reprodução de publicação realizada por outra pessoa), em que consta matéria publicada por outro
usuário da rede social informando que o juízo em que tramita o inventário e partilha da falecida
determinou o esclarecimento das CDBs informadas pela B3.

Da leitura dos autos, percebe-se que a segunda informação constante da publicação não é falsa, pois
consta dos autos do inventário (ID 25417987), e afirmado pelos próprios apelantes, que aquele Juízo
requereu tal providência, e, conforme registrado na sentença recorrida, “a mera multiplicação dos
números apresentados nos autos do inventário levaria sim ao resultado dos duzentos e cinquenta e seis
milhões de reais”.

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Assim, não merece maiores delongas a segunda parte da publicação, visto que não há notícia falsa e
nem imputações que desabonem a honra da de cujus.

Com efeito, verifica-se que a grande insurgência recursal é quanto à primeira expressão (Os R$ 256
MILHÕES de Dona Marisa...).

Contudo, entendo que tal expressão não foi capaz de gerar transtornos capazes de ofender o direito de
personalidade da falecida, mormente sua honra, memória e dignidade.

Inicialmente, registre-se que a expressão publicada não imputou nenhum ato ilícito ao desabonador à de
cujus.

Quanto à alegação de que a afirmação era falsa, necessário destacar que no dia da publicação
(10/04/2020) ainda não havia sido prestado o esclarecimento requisitado pelo Juízo do inventário.
Àquele Juízo requisitou as informações em 06/04/2020 (ID 25417987), que foram prestadas em
15/04/2020 (ID 25417990).

Assim, verifica-se que no dia da publicação questionada, o apelado não poderia ter a certeza do valor
que estava sendo verificado nos autos do inventário. Ou seja, o apelado não sabia se a falecida
realmente possuía o valor de duzentos e cinquenta e seis milhões.

Ademais, conforme registrado na sentença, a expressão sequer é uma oração completa, uma vez que
inexiste verbo. Além disso, conforme bem demonstrado tanto pelos apelantes quanto pelo apelado, a
leitura da expressão publicada pode ter várias interpretações e sentidos, portanto, não há como definir
com certeza a intenção de imputar a propriedade do valor à falecida, com a intenção de ofender a sua
imagem.

Da leitura da publicação, corroboro com entendimento do Juízo a quo, de que a frase, em verdade, teve
a intenção de expressar dúvida.

Contudo, a simples publicação de opinião duvidosa não é capaz de extrapolar o direito de expressão,
conforme já se manifestou o Supremo Tribunal Federal. Confira-se:

LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO DE IDEIAS. VALORES ESTRUTURANTES DO


SISTEMA DEMOCRÁTICO. INCONSTITUCIONALIDADE DE DISPOSITIVOS NORMATIVOS QUE
ESTABELECEM PREVIA INGERÊNCIA ESTATAL NO DIREITO DE CRITICAR DURANTE O
PROCESSO ELEITORAL. PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL AS MANIFESTAÇÕES DE OPINIÕES
DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A LIBERDADE DE CRIAÇÃO HUMORISTICA.

1. A Democracia não existirá e a livre participação política não florescerá onde a liberdade de
expressão for ceifada, pois esta constitui condição essencial ao pluralismo de ideias, que por sua vez é
um valor estruturante para o salutar funcionamento do sistema democrático.

2. A livre discussão, a ampla participação política e o princípio democrático estão interligados com a
liberdade de expressão, tendo por objeto não somente a proteção de pensamentos e ideias, mas também
opiniões, crenças, realização de juízo de valor e críticas a agentes públicos, no sentido de garantir a
real participação dos cidadãos na vida coletiva.

3. São inconstitucionais os dispositivos legais que tenham a nítida finalidade de controlar ou mesmo
aniquilar a força do pensamento crítico, indispensável ao regime democrático. Impossibilidade de
restrição, subordinação ou forçosa adequação programática da liberdade de expressão a mandamentos
normativos cerceadores durante o período eleitoral.

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4. Tanto a liberdade de expressão quanto a participação política em uma Democracia representativa
somente se fortalecem em um ambiente de total visibilidade e possibilidade de exposição crítica das
mais variadas opiniões sobre os governantes.

5. O direito fundamental à liberdade de expressão não se direciona somente a proteger as opiniões


supostamente verdadeiras, admiráveis ou convencionais, mas também aquelas que são duvidosas,
exageradas, condenáveis, satíricas, humorísticas, bem como as não compartilhadas pelas maiorias.
Ressalte-se que, mesmo as declarações errôneas, estão sob a guarda dessa garantia constitucional.

6. Ação procedente para declarar a inconstitucionalidade dos incisos II e III (na parte impugnada) do
artigo 45 da Lei 9.504/1997, bem como, por arrastamento, dos parágrafos 4º e 5º do referido artigo.

(ADI 4451, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 21/06/2018,


PROCESSO ELETRÔNICO DJe-044 DIVULG 01-03-2019 PUBLIC 06-03-2019) (destaquei)

Nesse contexto, resta evidenciado que a publicação realizada pelo apelado não foi capaz de gerar
transtornos capazes de ferir a honra ou imagem da de cujus, visto que não houve a imputação de
qualquer ato ilícito ou mesmo afirmação falsa, tratando-se, na verdade, de opinião duvidosa, que deve
ser protegida pelo direito fundamental à liberdade de expressão.

Ressalte-se que embora o Código de Processo Civil tenha estabelecido um sistema de precedentes que
vinculam o Poder Judiciário, para que seja estabelecida a obrigatoriedade de sua aplicação, tais decisões
devem decorrer de alguma das situações previstas no artigo 927 do Codex, que assim dispõe:

Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:

I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;

II - os enunciados de súmula vinculante;

III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e


em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;

IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior


Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;

V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.

Ausentes quaisquer precedentes vinculantes que se assemelhem ao caso em análise, não cabe a aplicação
da jurisprudência invocada pelos embargantes em seu recurso de apelação.

Fica evidente que os embargantes pretendem, na verdade, o reexame da contenda, o que é defeso na
estreita via dos embargos de declaração.

Nesse sentido:

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. INOCORRÊNCIA.
REDISCUSSÃO DA MATÉRIA APRECIADA. IMPOSSIBILIDADE. PRÉ-QUESTIONAMENTO.
NECESSIDADE DE DEFEITO NO JULGADO. ACÓRDÃO MANTIDO.

1 - "Omissão" é a ausência de abordagem sobre questão debatida nos autos e necessária para a
formação do silogismo.

2 - Examinada a controvérsia recursal em sua plenitude, de forma clara, coerente e logicamente


fundamentada, não há falar em vício que autorize a integração do acórdão, nos termos do artigo 1.022
do Código de Processo Civil.

3 - Os Embargos de Declaração, mesmo que para a finalidade de pré-questionamento, devem


lastrear-se em alguma das hipóteses de vícios do julgado elencadas no artigo 1022 do Código de
Processo Civil, não se prestando ao reexame da causa, porquanto limitados a sanar os referidos
defeitos. Embargos de Declaração rejeitados.

(Acórdão 1320169, 07018035320208070018, Relator: ANGELO PASSARELI, 5ª Turma Cível, data de


julgamento: 24/2/2021, publicado no PJe: 9/3/2021. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS E MATERIAIS. INFILTRAÇÕES PROVENIENTES DA UNIDADE SUPERIOR. SENTENÇA
PARCIALMENTE REFORMADA. REDISTRIBUIÇÃO DOS HONORÁRIOS. OMISSÃO NÃO
CARACTERIZADA. MERO INCONFORMISMO. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.

1.Os embargos de declaração possuem seus limites desenhados a partir do desígnio de integrar a
decisão atacada diante da existência de vícios de omissão, obscuridade e contradição ou, ainda, para
correção de eventual erro material.

2. A discordância em torno da inteligência do julgado revela mero inconformismo da parte e não


caracteriza vício integrativo (omissão, contradição, obscuridade) apto a ser deduzido na via estreita dos
embargos de declaração.

3. Embargos de declaração conhecidos e não providos.

(Acórdão n.1084961, 20150111249485APC, Relator: SIMONE LUCINDO 1ª TURMA CÍVEL, Data de


Julgamento: 21/03/2018, publicado no DJE: 03/04/2018. Pág.: 270-285)

Por fim, o embargado pleiteia a condenação dos embargantes por utilização dos embargos de declaração
com intuito protelatório.

O Código de Processo Civil prevê:

Art. 1.026. Os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo e interrompem o prazo para a
interposição de recurso.

(...)

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§2º Quando manifestamente protelatórios os embargos de declaração, o juiz ou o tribunal, em o decisão
fundamentada, condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente a dois por cento
sobre o valor atualizado da causa.

A ausência, na decisão embargada, dos vícios constantes do artigo 1.022 do CPC não induz,
automaticamente, à imposição de multa.

In casu, os embargantes não descumpriram nenhum de seus deveres, pois o exercício regular do direito
de petição não configura intuito protelatório ou má-fé, não havendo que se falar em aplicação de multa.

Nesse sentido, já se posicionou o Tribunal:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL DE COMPRA E VENDA DE


IMÓVEL RURAL. VALOR DA CAUSA. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO OPORTUNA. PRECLUSÃO.
INADIMPLEMENTO DA ADQUIRENTE. RESCISÃO MANTIDA. MULTA. ARTIGO 1026 DO CPC.
AUSÊNCIA DE CARÁTER PROTELATÓRIO OU DE REITERAÇÃO. AFASTAMENTO. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS PARA FIXAÇÃO POR EQUIDADE (§ 8º DO ART.
85 DO CPC). BASE DE CÁLCULO SOBRE O VALOR ATUALIZADO DA CAUSA. CONFIRMAÇÃO.
SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.

(...)

5 - Tendo a Ré, com os embargos de declaração interpostos contra a sentença, apenas buscado
esclarecer pontos do decisum, sem que tal recurso tenha o nítido caráter protelatório (art. 1026, § 3º,
CPC) ou se trate de reiteração de embargos protelatórios (art. 1026, § 2º, CPC) ou, até mesmo, de ter a
parte agido com má-fé em seu proceder, para o que seria necessária a comprovação do dolo processual
da parte, impõe-se a extirpação da multa imposta à Recorrente. Apelação Cível parcialmente provida.
Maioria qualificada.

(Acórdão 1298134, 07130562620198070001, Relator: HECTOR VALVERDE, Relator Designado:


ANGELO PASSARELI 5ª Turma Cível, data de julgamento: 11/11/2020, publicado no DJE: 7/12/2020.
Pág.: Sem Página Cadastrada)

Ante o exposto, CONHEÇO e NEGO PROVIMENTO aos embargos de declaração opostos, mantendo
incólume o acórdão impugnado.

É como voto.

A Senhora Desembargadora DIVA LUCY DE FARIA PEREIRA - 1º Vogal


Com o relator
A Senhora Desembargadora CARMEN BITTENCOURT - 2º Vogal
Com o relator

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DECISÃO

CONHECER DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO E NEGAR-LHES PROVIMENTO. DECISÃO


UNÂNIME

Número do documento: 21112614275534000000030006760


https://pje2i.tjdft.jus.br:443/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=21112614275534000000030006760
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