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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO

Ref.: Recurso Extraordinário Cível nº. 77665-66.2222.8.09.0001/2

MARIA DE TAL (“Recorrida”), já devidamente qualificada

nos autos do presente Recurso Extraordinário Cível em destaque, vem, com o


devido respeito à presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu patrono
que ora assina, alicerçada no art. 1.030, caput, do Código de Processo Civil, para
apresentar, tempestivamente, na quinzena legal, as presentes

CONTRARRAZÕES AO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

no qual figura como recorrente a FAZENDA PÚBLICA DO MUNICÍPIO


( “Recorrente” ), em face do acórdão que demora às fls. 117/132, onde as
fundamenta com as Razões ora acostadas.

I – EXAME DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL

(Juízo a quo)

( a ) “Negativa de seguimento” deste Recurso Extraordinário

1. Pretensão de exame de matéria infraconstitucional – STF, Súmula 284

Afirma a Recorrente que, não obstante tenha opostos


recurso de Embargos de Declaração, há omissão no acórdão recorrido.

1
Destarte, sugere que esse proceder representaria ofensa à
dispositivos constitucionais, mormente quanto ao direito à prestação jurisdicional.
Sustenta, desse modo, que houvera afronta ao quanto disposto no art. 93, inc. IX,
da Constituição Federal.

É dizer, para a aquela, não se observou a devida motivação


no decisum enfrentado. Argumenta, ainda, sob o ângulo da pretensa violação de
regras da Carta Política, que o órgão jurisdicional de piso negara a almejada
prestação jurisdicional.

Abraça, igualmente, a ideia de que existira descumprimento


às diretrizes pautadas nos incisos XXXV, XXXVI, LIV e LV, do art. 5, da Carta
Maior.

Sem merecer delongas, o STF já sedimentou entendimento


no sentido de ser inviável a apreciação, em sede de Recurso Extraordinário, de
matérias que, pretensamente, violariam de modo indireto ou reflexo a preceitos
constitucionais.

Em conta disso, o anseio recursal não encontra abrigo no


que rege o art. 102 da Constituição Federal. Por esse ângulo, examinar-se o tema
em vertente demanda, seguramente, o exame prévio de norma infraconstitucional,
máxime com enfoque à Legislação Adjetiva Civil. E isso, lógico, escapa da função
jurisdicional dessa Corte Constitucional.

Com efeito, urge transcrever o contexto da seguinte Súmula


deste Supremo Tribunal Federal, verbo ad verbum:

Súmula 636/STF

Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio


constitucional da legalidade, quando a sua verificação pressuponha rever

2
a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela decisão
recorrida.

Por mero desvelo da Recorrida, impende citar arestos com


esse propósito, ad litteram:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. AÇÃO


CIVIL PÚBLICA. DESMATAMENTO. DANOS AMBIENTAIS. ÁREA
LOCALIZADA ENTRE DUAS ÁREAS PROTEGIDAS PELO PLANO
URBANÍSTICO DA REGIÃO OCEÂNICA DE NITERÓI. PROMOÇÃO DE
POLÍTICAS PÚBLICAS. OMISSÃO DO MUNICÍPIO. PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE. VIOLAÇÃO. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA
REFLEXA. INVIABILIDADE DO REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-
PROBATÓRIO ENGENDRADO NOS AUTOS. INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO
Nº 279 DA SÚMULA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO
INTERNO DESPROVIDO.

1. O recurso extraordinário é instrumento de impugnação de decisão


judicial inadequado para a valoração e exame minucioso do acervo
fático- probatório engendrado nos autos, bem como para a análise de
matéria infraconstitucional, ainda que por alegada contrariedade ao
princípio constitucional da legalidade (Súmula nº 636 do STF).
Precedentes: RE 1.238.165-AGR, Primeira Turma, Rel. Min. Roberto
Barroso, DJe de 13/2/2020; RE 1.170.253-ED, Primeira Turma, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, DJe de 13/2/19; RE 1.075.013-AGR, Segunda
Turma, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 15/2/2018, ARE 1.237.888-AGR,
Tribunal Pleno, DJe de 03/03/2020; ARE 1.210.759-AGR, Segunda Turma,
Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 05/09/2019; ARE 1.110.829-AGR,
Primeira Turma, Rel. Min. Rosa Weber, DJe de 25/09/2018. 2. O agravo

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interno interposto sob a égide da nova Lei Processual que se revelar
manifestamente improcedente conduz à aplicação da multa prevista no
artigo 1.021, § 4º, da Lei nº 13.105/2015. 3. Agravo interno DESPROVIDO,
com a aplicação da multa de 5% (cinco por cento) sobre o valor
atualizado da causa (artigo 1.021, § 4º, do CPC/2015), caso seja unânime
a votação. 4. Honorários advocatícios majorados ao máximo legal em
desfavor da parte recorrente, caso as instâncias de origem os tenham
fixado, nos termos do artigo 85, § 11, do Código de Processo Civil,
observados os limites dos §§ 2º e 3º e a eventual concessão de justiça
gratuita. (STF; Ag-RE-AgR 1.317.845; RJ; Tribunal Pleno; Rel. Min.
Presidente; DJE 01/07/2021; Pág. 77)

Lado outro, semelhantemente já restou definido que, nesses


casos, não há repercussão geral, o que se depreende dos arestos abaixo
indicados:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.


INTERPOSIÇÃO EM 17.2.2021. DISPENSA DISCRIMINATÓRIA.
CONFIGURAÇÃO. NECESSIDADE DE ANÁLISE PRÉVIA DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. OFENSA REFLEXA. SÚMULA Nº 279 DO
STF. TEMAS 660 E 339 DA SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL.
EXISTÊNCIA DE ÓBICES QUE IMPEDEM A ANÁLISE DA QUESTÃO DE
FUNDO. SUPOSTA OFENSA AO ART. 97 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
INOCORRÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

1. Eventual divergência ao entendimento adotado pelo Tribunal a quo,


em relação à configuração de situação discriminatória, demandaria o
reexame de fatos e provas constantes dos autos, da vedação contida na
Súmula nº 279 do STF. 2. Esta Corte já assentou a inexistência da
repercussão geral quando a alegada ofensa aos princípios do devido

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processo legal, da ampla defesa, do contraditório, da legalidade e dos
limites da coisa julgada é debatida sob a ótica infraconstitucional (ARE-RG
748.371, da relatoria do Min. Gilmar Mendes, DJe 1º.08.2013, Tema 660
da sistemática da repercussão geral). 3. Ao julgar o AI-QO-RG 791.292, da
relatoria do Ministro Gilmar Mendes, DJe de 13.08.2010, o Plenário desta
Corte assentou a repercussão geral do tema 339 referente à negativa de
prestação jurisdicional por ausência de fundamentação e reafirmou a
jurisprudência segundo a qual o art. 93, IX, da Constituição Federal exige
que o acórdão ou decisão sejam fundamentados, ainda que
sucintamente, sem determinar, contudo, o exame pormenorizado de
cada uma das alegações ou provas, nem que sejam corretos os
fundamentos da decisão. 4. O Tribunal de origem não ofendeu ao art. 97
da Constituição, tampouco à Súmula Vinculante 10, uma vez que não há
que se exigir reserva de plenário para a mera interpretação e aplicação
das normas jurídicas que emergem do próprio exercício da jurisdição,
sendo necessária para a caracterização da violação à cláusula de reserva
de plenário que a decisão de órgão fracionário fundamente-se na
incompatibilidade entre a norma legal e o Texto Constitucional, o que
não se verificou no caso concreto. 5. Agravo regimental a que se nega
provimento. (STF; Ag-RE-AgR 1.297.838; PR; Segunda Turma; Rel. Min.
Edson Fachin; DJE 06/07/2021; Pág. 98)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.


CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. CUSTAS PARA EXPEDIÇÃO DO
PRECATÓRIO. LEI Nº 6.149/1970, DO ESTADO DO PARANÁ. NECESSIDADE
DE REEXAME DE NORMAS INFRACONSTITUCIONAIS LOCAIS. INCIDÊNCIA
DA SÚMULA Nº 280/STF. DEMONSTRAÇÃO DE REPERCUSSÃO GERAL.
FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DO ART. 5º, LIV
E LV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E DA SÚMULA VINCULANTE 10.

5
INOVAÇÃO DE FUNDAMENTO EM AGRAVO REGIMENTAL.
IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

I. A mera alegação, nas razões do recurso extraordinário, de existência de


repercussão geral das questões constitucionais discutidas, desprovida de
fundamentação adequada que demonstre seu efetivo preenchimento,
não satisfaz a exigência prevista no art. 1.035, § 2º, do novo Código de
Processo Civil. II. É inadmissível o recurso extraordinário quando sua
análise implica a revisão da interpretação de normas infraconstitucionais
locais que fundamentam o acórdão recorrido. Incidência da Súmula nº
280/STF. III. Consoante a jurisprudência desta Corte, é incabível a
inovação de fundamento em agravo regimental. lV. Agravo regimental a
que se nega provimento. (STF; Ag-RE-AgR 1.311.548; PR; Segunda Turma;
Rel. Min. Ricardo Lewandowski; DJE 05/07/2021; Pág. 81)

Repercussão geral também não há, tocante ao tema


ventilado da “reserva do possível”. Veja-se:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.


ATENDIMENTO DOMICILIAR. HOME CARE. PACIENTE COM QUADRO
NEUROLÓGICO DEGENERATIVO E PROGRESSIVO. COMPROVADA
NECESSIDADE. SUPOSTA AFRONTA AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA.
REEXAME DE FATOS E PROVAS E DE LEGISLAÇÃO LOCAL. SÚMULAS NºS
279 E 280 DO STF. ART. 196 DA CF. DIREITO À SAÚDE. PRINCÍPIO DA
SEPARAÇÃO DE PODERES. RESERVA DO POSSÍVEL. AFRONTA.
INOCORRÊNCIA. PRECEDENTES. ALTO CUSTO DO MEDICAMENTO.
AUSÊNCIA DE DISCUSSÃO PARA FINS DE APLICAÇÃO DO TEMA 6 DA
REPERCUSSÃO GERAL. 1. O acórdão recorrido, na hipótese, não destoa da
jurisprudência desta Corte, quanto à inocorrência de violação ao
princípio da separação dos poderes, eis que o julgamento, pelo Poder

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Judiciário, da legalidade dos atos dos demais poderes, não representa
ofensa ao referido postulado da separação dos poderes, especialmente
em se tratando de políticas públicas nas questões envolvendo o direito
constitucional à saúde. 2. Eventual divergência em relação ao
entendimento adotado pelo juízo a quo, no que tange à suposta ofensa
ao postulado da isonomia e à necessidade ou não do tratamento médico
home care demandaria o reexame de fatos e provas constantes dos autos
e a análise da legislação local aplicável à espécie (Lei Complementar
Estadual 30/2001), o que inviabiliza o processamento do apelo extremo,
tendo em vista a vedação contida nas Súmulas nºs 279 e 280 do STF. 3. A
questão relativa ao alto custo do medicamento não foi objeto de
discussão no acórdão recorrido para fins de aplicação do Tema 6 da
repercussão geral, cujo paradigma é o RE 566.471-RG, de relatoria do
Min. Marco Aurélio. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.
Mantida a decisão agravada quanto aos honorários advocatícios, eis que
majorados nos limites do art. 85, §§ 2º e 3º, do CPC. (STF; ARE-AgR
1.272.488; PE; Segunda Turma; Rel. Min. Edson Fachin; DJE 27/04/2021;
Pág. 86)

2. Reexame de matéria fática-probatória – Inviabilidade – STF, Súmula 279

Lado outro, a decisão de piso impôs astreintes no importe


diário de R$ 500,00 (quinhentos reais), sobremaneira reconhecendo a magnitude
do propósito a que decisão visava, na hipótese, bens destinados à vida e à saúde
da Recorrida.

Além disso, determinara a prestação do devido atendimento


à saúde e à vida dessa.

Contudo, não obstante o valor tenha obedecido aos


princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, a Recorrente, por meio deste

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recurso, almeja revolver quadrante fático. Pretendo, com isso, minorar o valor das
astreintes impostas e, da mesma forma, rechaçar a determinação judicial de piso.

Assevera, além do mais, que a conservação do acórdão


enfrentado pode implicar desequilíbrio econômico-financeiro do ente Estatal,
Recorrente, na hipótese, tendo em vista o efeito multiplicador. Afirma que outros
cidadãos, procurando os mesmos direitos, poderiam ocasionar graves reflexos
financeiros, com extremados danos ao Erário público, prejudicando, assim, toda a
coletiva que igualmente precisam desses benefícios.

Sem qualquer dificuldade, nesse passo, nota-se que há


inadequada pretensão de reexame de provas/fatos por meio deste Recurso
Extraordinário.

Urge destacar, mais, que o STF já tem entendimento


consagrado de que é defeso, nesta fase recursal, revolver o conjunto probatório,
verbis:

STF, Súmula 279 – Para simples reexame de prova não cabe


recurso extraordinário.

De outro importe, aquela Corte reconhecera, decisão essa


que serve a este caso por semelhança, inexistir repercussão geral nas
controvérsias acerca da aplicação de multa por litigância de má-fé, nos casos de
interposição de recursos com manifesto propósito protelatório, por ser tema cunho
infraconstitucional. (RE 633.360, Rel. Min. Cezar Peluzo, DJe de 31/8/2011, Tema
401)

Com esse enfoque, de bom alvitre evidenciar julgados


atinentes ao caso sub examine:

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AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.
INTERPOSIÇÃO EM 17.2.2021. DISPENSA DISCRIMINATÓRIA.
CONFIGURAÇÃO. NECESSIDADE DE ANÁLISE PRÉVIA DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. OFENSA REFLEXA. SÚMULA Nº 279 DO
STF. TEMAS 660 E 339 DA SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL.
EXISTÊNCIA DE ÓBICES QUE IMPEDEM A ANÁLISE DA QUESTÃO DE
FUNDO. SUPOSTA OFENSA AO ART. 97 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
INOCORRÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

1. Eventual divergência ao entendimento adotado pelo Tribunal a quo,


em relação à configuração de situação discriminatória, demandaria o
reexame de fatos e provas constantes dos autos, da vedação contida na
Súmula nº 279 do STF. 2. Esta Corte já assentou a inexistência da
repercussão geral quando a alegada ofensa aos princípios do devido
processo legal, da ampla defesa, do contraditório, da legalidade e dos
limites da coisa julgada é debatida sob a ótica infraconstitucional (ARE-RG
748.371, da relatoria do Min. Gilmar Mendes, DJe 1º.08.2013, Tema 660
da sistemática da repercussão geral). 3. Ao julgar o AI-QO-RG 791.292, da
relatoria do Ministro Gilmar Mendes, DJe de 13.08.2010, o Plenário desta
Corte assentou a repercussão geral do tema 339 referente à negativa de
prestação jurisdicional por ausência de fundamentação e reafirmou a
jurisprudência segundo a qual o art. 93, IX, da Constituição Federal exige
que o acórdão ou decisão sejam fundamentados, ainda que
sucintamente, sem determinar, contudo, o exame pormenorizado de
cada uma das alegações ou provas, nem que sejam corretos os
fundamentos da decisão. 4. O Tribunal de origem não ofendeu ao art. 97
da Constituição, tampouco à Súmula Vinculante 10, uma vez que não há
que se exigir reserva de plenário para a mera interpretação e aplicação
das normas jurídicas que emergem do próprio exercício da jurisdição,
sendo necessária para a caracterização da violação à cláusula de reserva

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de plenário que a decisão de órgão fracionário fundamente-se na
incompatibilidade entre a norma legal e o Texto Constitucional, o que
não se verificou no caso concreto. 5. Agravo regimental a que se nega
provimento. (STF; Ag-RE-AgR 1.297.838; PR; Segunda Turma; Rel. Min.
Edson Fachin; DJE 06/07/2021; Pág. 98)

3. Há matéria levada a efeito que se mostra ausente de prequestionamento – STF,


Súmulas 282, 283 e 356

Infere-se que a Recorrente trouxe à baila, somente nesta


oportunidade processual, o tema de que “o pedido em espécie encontra farto
respaldo na Constituição Federal. A Seguridade Social, prevista na CF,
compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e
da sociedade. (CF, art. 195) Todas destinadas aos direitos à saúde, à previdência
e à assistência social. (CF, art. 194). Desse modo, a decisão enfrentada projeta
uma obrigação unicamente do Município o que, certamente, afronta os dispositivos
constitucionais retro evidenciados. “

É sabido por todos que prequestionar certa matéria é levá-la


à discussão prévia para, assim, pode suscitar os temas nos chamados recursos
extraordinários. Afinal, são recursos de revisão e, desse modo, não há que se falar
em revisão daquilo que antes não fora decidido.

Nos respeitáveis dizeres de Humberto Theodoro Júnior,


quanto à necessidade de prequestionamento da matéria , como requisito de
admissibilidade dos recursos extraordinários, esse leciona que:

(b) A existência de questã o federal constitucional, i.e., uma


controvérsia em torno da aplicaçã o da Constituiçã o da Repú blica. A
questã o apreciá vel pela via do recurso extraordiná rio somente pode
ser uma questã o de direito, i.e., um ponto controvertido que envolva
diretamente a interpretaçã o e aplicaçã o da lei. Se o que se debate sã o

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os fatos (e sua veracidade), tem-se a questã o de fato que é prejudicial
à questã o de direito e que nã o pode ser renovada por meio do
extraordiná rio.18 A questã o federal, para justificar o cabimento do
recurso extraordiná rio, nã o exige prévia suscitaçã o pela parte, mas
deve já figurar no decisó rio recorrido; i.e., deve ter sido anteriormente
enfrentada pelo tribunal a quo. Nesse sentido, fala-se em
prequestionamento como requisito de admissibilidade do
extraordiná rio. É , aliá s, o que se extrai da regra constitucional que
exige, para ser conhecido esse recurso, verse ele sobre “causa
decidida”, na instâ ncia de origem. ” (THEODORO Jr., Humberto. Curso
de Direito Processual Civil [livro eletrô nico]. 47ª Ed. Rio de Janeiro:
Forense, 11/2015, vol. III. Epub. ISBN 978-85-309-6825-0)

É necessário não perder de vista o pensamento consolidado


perante o Egrégio Supremo Tribunal Federal:

STF, Súmula nº 283 - É inadmissível o recurso extraordinário,


quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento
suficiente e o recurso não abrange todos eles.

STF, Súmula nº 356 - O ponto omisso da decisão, sobre o qual não


foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de
recurso extraordinário, por faltar o requisito do
prequestionamento.

É altamente ilustrativo transcrever este julgado:

SEGUNDOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO


COM AGRAVO. RECEBIMENTO DOS EMBARGOS COMO AGRAVO

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REGIMENTAL. ART. 1.024, § 3º, DO CPC/2015. PRESSUPOSTOS DE
ADMISSIBILIDADE DE RECURSO DE COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DE
ORIGEM. APLICAÇÃO DOS TEMAS 181 E 660 DA REPERCUSSÃO GERAL.
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.

Incidência das Súmulas nºs 282 e 356/STF. Agravo a que se nega


provimento, com aplicação de multa. I - I o Supremo Tribunal Federal já
decidiu pela inexistência de repercussão geral da questão relativa ao
cabimento de recursos da competência de outros tribunais, por não se
tratar de matéria constitucional (tema 181 - re 598.365-rg/MG, de
relatoria do ministro ayres britto). II - esta corte já definiu que a violação
dos princípios do contraditório, da ampla defesa, dos limites da coisa
julgada e do devido processo legal, quando implicarem em exame de
legislação infraconstitucional, é matéria sem repercussão geral (tema 660
- are 748.371-rg/MT, de relatoria do ministro gilmar Mendes). III -
ausência de prequestionamento dos arts. 22, VI e 48, XII, da Constituição
Federal. Incidência da Súmula nº 282/STF. Ademais, se os embargos
declaratórios não foram opostos com a finalidade de suprir a omissão, é
inviável o recurso, nos termos da Súmula nº 356/STF. lV - embargos de
declaração recebidos como agravo regimental, a que se nega
provimento, com aplicação de multa (art. 1.021, § 4º, do CPC/2015). (STF;
ARE-ED 1.288.600; SP; Segunda Turma; Rel. Min. Ricardo Lewandowski;
DJE 14/06/2021; Pág. 73)

4. A decisão recorrida revela fundamentos de ordem constitucional e infraconstitucional


– Ausência do devido Recurso Especial

Observamos que o acórdão combatido se sustentou em


fundamentos de ordem constitucional e infraconstitucional. Por esse ângulo, fazia-

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se necessária a interposição, concomitante ao Recurso Extraordinário, do
competente Recurso Especial (CPC, art. 1.029, caput).

Vejamos, dentre outros argumentos infraconstitucionais


revelados, a seguinte passagem do acórdão em espécie:

“...o SUS é descentralizado e hierarquizado, possuindo cada ente federativo


suas competências dentro da área da saúde, citando a Lei nº 8.080/90.
Nada obstante, todos os entes federativos respondem solidariamente pelo
conjunto de ações e serviços de assistência e proteção à saúde no âmbito
de sua atuação. ”

Atento a essa diretriz, salutar as lições de José Miguel


Garcia Medina:

“VII. Decisão baseada em duplo fundamento. Interposição


simultânea de recursos extraordinário e especial. Tendo a decisã o
recorrida fundamentos constitucional e federal-infraconstitucional,
qualquer um deles suficiente para manutençã o da decisã o, é
imprescindível a interposiçã o simultâ nea de recursos extraordiná rio e
especial... “ (MEDINA, José Miguel Garcia. Novo Código de Processo
Civil comentado: . . . – Sã o Paulo: RT, 2015, p. 1.432)

Nesse diapasão, confiram-se:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.


DIREITO TRIBUTÁRIO. CONSELHO REGIONAL DE CLASSE. COBRANÇA DE
ANUIDADE. FILIAL. QUESTÃO CONSTITUCIONAL SURGIDA NO DECISUM

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DO TRIBUNAL LOCAL. IMPUGNAÇÃO DE DECISÃO DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. PRECEDENTES.

1. A violação constitucional supostamente ocorrida no julgamento


efetuado pelo tribunal local deve ser impugnada mediante recurso
extraordinário interposto simultaneamente ao Recurso Especial, sob
pena de preclusão. 2. Agravo regimental não provido, com imposição de
multa de 1% (um por cento) do valor atualizado da causa (art. 1.021, § 4º,
do CPC). 3. Havendo prévia fixação de honorários advocatícios pelas
instâncias de origem, seu valor monetário será majorado em 10% (dez
por cento) em desfavor da parte recorrente, nos termos do art. 85, § 11,
do Código de Processo Civil, observados os limites dos §§ 2º e 3º do
referido artigo e a eventual concessão de justiça gratuita. (STF; ARE-AgR
1.248.291; SC; Tribunal Pleno; Rel. Min. Presidente; Julg. 08/06/2020; DJE
06/07/2020; Pág. 32)

5. O tema em debate é consolidado nos Tribunais Superiores

Sem qualquer esforço se percebe que o recurso almeja


enfrentar tema que, de modo contrário, no qual já existem inúmeros precedentes
nas Cortes Superiores.

Convém ressaltar, antes de tudo, o significado da expressão


“precedentes”, o que fazemos à luz do magistério de Luiz Guilherme Marinoni,
verbo ad verbum:

“Além de ressignificar a jurisprudência e as sú mulas, o novo Có digo


introduz o conceito de precedentes. Os precedentes nã o sã o
equivalentes à s decisõ es judiciais. Eles sã o razões generalizáveis que
podem ser identificadas a partir das decisõ es judiciais. O precedente é
formado a partir da decisã o judiciais. E porque tem como matéria-

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prima a decisão, o precedente trabalha essencialmente sobre fatos
jurídicos relevantes e compõem o caso examinado pela jurisdição e que
determinaram a prolaçã o da decisã o da maneira como foi prolatada.
Os precedentes sã o razõ es generalizadas que podem ser extraídas da
justificação das decisões. Por essa razã o, operam necessariamente
dentro da moldura dos casos dos quais decorrem. Os precedentes
emanam exclusivamente das Cortes Supremas e sã o sempre
obrigatórios – isto é, vinculantes. “ (MARINONI, Luiz Guilherme;
ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. O novo processo civil
[livro eletrô nico]. – Sã o Paulo: RT, 2015. Epub. ISBN 978-85-203-
6024-8)

(itá licos do texto original)

Desse modo, urge evidenciar alguns precedentes firmados


nos Tribunais Superiores, os quais, como antes afirmado, impossibilitam o
seguimento deste recurso, in verbis:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.


AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. DIREITO À SAÚDE. ART. 196 DA CF. TEMA
793 DA REPERCUSSÃO GERAL. PARTE FINAL. REGRAS DE REPARTIÇÃO DE
COMPETÊNCIA. INCLUSÃO DA UNIÃO NA LIDE. REMESSA DOS AUTOS À
JUSTIÇA FEDERAL. PRECEDENTES.

1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE


855.178-RG, Rel. Ministro Luiz Fux, DJe 16.3.2015 (Tema 793),
reconheceu a existência de repercussão geral da controvérsia
constitucional referente à responsabilidade solidária dos entes federados
em matéria de saúde e reafirmou a jurisprudência pertinente ao tema. 2.

15
No julgamento dos embargos de declaração, ocorrido em 23.05.2019, no
citado RE 855.178-RG, de que fui redator para o acórdão, DJe 16.04.2020,
esta Corte fixou a seguinte tese: "Os entes da federação, em decorrência
da competência comum, são solidariamente responsáveis nas demandas
prestacionais na área da saúde, e diante dos critérios constitucionais de
descentralização e hierarquização, compete à autoridade judicial
direcionar o cumprimento conforme as regras de repartição de
competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus
financeiro". 3. Observância pela instância de origem da parte final do
Tema 793 da repercussão geral. 4. Agravo regimental a que se nega
provimento. Inaplicável o art. 85 § 11, do CPC, por se tratar de recurso
oriundo de ação civil pública. (STF; Ag-RE-AgR 1.298.325; PR; Segunda
Turma; Rel. Min. Edson Fachin; DJE 11/06/2021; Pág. 100)

Do exposto, é inconteste que os fundamentos, revelados


pela Recorrente, são demasiadamente infundados e, outrossim, enfrentam
precedentes das Cortes Superiores, máxime do Supremo Tribunal Federal.

É de concluir-se, destarte, quanto ao exame de


admissibilidade, seja NEGADO SEGUIMENTO AO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO, uma vez que não atende aos pressupostos recursais
respeitantes aos recursos extraordinários . É dizer, numa visão teleológica e
sistemática, ofende o quanto reza o art. 926, § 2° c/c art. 1.030, inc. I, ‘a”, um e
outro do CPC.

Respeitosamente, pede deferimento.

Cidade, 00 de dezembro de 0000.

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Beltrano de Tal
Advogado – OAB/PP 112233

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CONTRARRAZÕES AO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Recorrente: Fazenda Pública do Município

Recorrida: Maria de Tal

EGRÉGIO PRESENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

PRECLARO MINISTRO-RELATOR

1 – EXAME DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL

( juízo ad quem )

O Recurso Extraordinário em comento não se atentou ao


cumprimento dos pressupostos recursais.

A Recorrida, pois, adota e ratifica todos os fundamentos


avocados da peça de interposição das Contrarrazões, cujas linhas se direcionaram
a evidenciar, ao juízo a quo, dos motivos do não recebimento do recurso.

Não há razões para transcrever todos os fundamentos antes


lançados, maiormente em respeito ao princípio do aproveitamento dos atos
processuais.

Com efeito, espera-se que esta Egrégia Corte, sobretudo à


luz do § 1°, art. 21, do RISTF, NEGUE SEGUIMENTO ao Recurso Extraordinário
em ensejo.

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2 – CONSIDERAÇÕES DO PROCESSADO

2.1. O objeto da ação de debate

A querela em ensejo diz respeito à propositura de Ação de


Obrigação de Fazer, cujo âmago visa à obtenção de provimento judicial de sorte a
alcançar tratamento home care.

Os pedidos foram julgados procedentes.

Inconformada com isso, a Recorrente apelara da sentença.

O Tribunal de piso, contudo, negou provimento à apelação,


máxime nesse tocante, mantendo a condenação de obrigação de fazer, sobretudo
o valor das astreintes.

A Recorrente opôs embargos de declaração, porém


improcedentes.

Não satisfeita com a condenação que lhe fora imposta,


interpôs o presente Recurso Extraordinário, com suporte no art. 102, inc. III, letra
“a”, da Constituição Federal, almejando, no plano de fundo, a improcedência dos
pedidos formulados.

Argumenta, no âmago, em síntese:

( i ) que não é possível, por ser ente público, conceder-se tutela


antecipada nos moldes almejados, bem assim o montante que lhe é
imputado;

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( ii ) defendeu ainda que não lhe competir o fornecimento do
tratamento perseguido na querela;
( iii ) embora que fossem verdadeiros os fatos narrados, a
persecução de tratamento domiciliar, com altos custos, fere o
princípio da reserva do possível;
( iv ) pediu, por fim, a inversão do ônus de sucumbência.

3 – MÉRITO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

3.1. Quanto à legitimidade passiva

No que diz respeito ao fornecimento de fármacos e/ou


insumos, às pessoas necessitadas, cabível pedi-los a qualquer dos Entes Públicos.
É dizer, esses são solidariamente responsáveis pela disponibilidade do direito
fundamental à saúde. (CF, art. 196) Inexiste obrigação isolada de um deles. (CF,
art. 23, inc. II), como assim defende a Recorrente.

Com esse enfoque, é altamente ilustrativo transcrever as


lições de Alexandre de Moraes:

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e
de outros agravos e ao acesso universal e igualitário a ações e serviços
para sua promoção, proteção e recuperação (CF, art. 196), sendo de
relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder
Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização
e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou por meio de
terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado (CF,
art. 197). (MORAES, Alexandre de. Direito constitucional [livro

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eletrônico]. 32ª Ed. São Paulo: Atlas, 03/2016. Epub. ISBN 978-85-970-
0569-1)

Ainda que os procedimentos prescritos não estejam


previstos nas listas do Município, é dever desse fornecê-lo. Basta, assim, a
constatação de sua necessidade e o atestado emitido pelo médico que acompanha
o tratamento da autora, como, de fato, assim o fora feito.

Por esse ângulo, eventual deliberação, a respeito da


repartição da responsabilidade, isso compete unicamente aos Entes federativos.
Por esse modo, descabe limitar o particular ao seu direito à saúde, garantido
constitucionalmente. Em verdade, é direito de todos, e dever do Estado, promover
os atos indispensáveis à concretização do direito à saúde, tais como fornecimento
de medicamentos, acompanhamento médico e cirúrgico, quando não possuir o
cidadão meios próprios para adquiri-los.

Dessarte, uma vez promanado constitucionalmente o dever


de proteção à saúde, não pode a legislação infraconstitucional se sobrepor a ele.
Por isso, os atos normativos expedidos pelo SUS para sua organização,
estabelecendo internamente a competência dos entes federados para o
fornecimento de remédios, não são oponíveis aos direitos assegurados na
Constituição, pedra angular do ordenamento jurídico.

3.2. Quanto ao princípio da reserva do possível

Na espécie, não se refuta, há colisão de princípios e direitos


constitucionais. Contudo, certo é que as necessidades individuais prevalecem
sobre qualquer outro inscrito na Carta Política .

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Os direitos do indivíduo, provenientes da Constituição, tais
como à saúde e à vida (CF, art. 1°, inc. II, art. 5°, caput e art. 196), predominam
sobre os direitos atinentes à coletividade. É dizer, esses, que visam à política
social e econômica do Estado, embora conflitem, cedem àqueles. Assim, as
carências, orçamentárias/financeiras, não são justificativas suficientes que
impeçam o pleito em liça.

Desse modo, é elementar o argumento à objeção, com


alicerce na tese da reserva do possível, ante às obrigações fundamentais de todo
e qualquer cidadão, as quais insculpidas na Carta Política. Não há motivos para se
impor essa submissão à parte necessitada, sobremaneira quando, no caso,
reclama bem inerente à vida e à saúde. Nem mesmo a qualquer disciplina
administrativa.

Destarte, o direito à saúde, insistimos, não está sujeito a


quaisquer condições do ente estatal. Ao contrário disso, vincula-se ao dever,
imposto ao Estado, de prestar absoluta assistência médica e farmacêutica aos que
delas necessitam.

Por outro bordo, tal matéria já fora alvo de decisão proferida


pelo Egrégio Supremo Tribunal Federal na ADPF nr. 45, em voto da lavra do
Ministro Celso de Mello, cujo trecho de importância ora transcrevemos, o qual
consta da ementa objeto do Recurso Extraordinário n° 961512, verbo ad verbum:

“Ao julgar a ADPF 45/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, proferi decisão
assim ementada (Informativo/STF nº 345/2004):

(...)

Cumpre advertir, desse modo, que a cláusula da “reserva do possível”,


ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamente aferível, não pode

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ser invocada, pelo Estado, com a finalidade de exonerar-se, dolosamente,
do cumprimento de suas obrigações constitucionais, notadamente
quando dessa conduta governamental negativa puder resultar nulificação
ou, até mesmo, aniquilação de direitos constitucionais impregnados de
um sentido de essencial fundamentalidade.

( ... ) (STF; RE 961512; Rel. Min. Celso de Mello; DJE 27/06/2016; Pág.
153)

Com o mesmo enfoque, convém ressalvar o magistério de


Irene Patrícia Nohara:

“9.2.2 - Controle judicial das políticas públicas: reserva do


possível e mínimo existencial

Quando se menciona que determinados direitos sociais sã o


justiciá veis, isto é, sã o pleiteá veis no Judiciá rio, caso nã o sejam
assegurados pelos demais Poderes, é comum que seja apresentado o
argumento da reserva do possível.

Trata-se de indagaçã o relacionada com os custos orçamentá rios para


a efetiva garantia dos direitos sociais. A terminologia originou-se na
Alemanha, onde se discutia o que razoavelmente as pessoas podem
esperar da sociedade, tendo sido empregada em decisã o judicial na
qual o Tribunal Constitucional alemã o denegou a ampliaçã o do
nú mero de vagas nas universidades pú blicas alemã s.

O Tribunal Constitucional alemã o nã o acolheu a obrigaçã o de o Estado


oferecer uma quantidade suficiente a atender todos os estudantes de
vagas em universidades pú blicas. Contudo, no Brasil, a reserva do
possível acompanhou a indagaçã o sobre se haveria reservas

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orçamentá rias e financeiras suficientes para garantir a efetivaçã o de
direitos sociais, dado que possuem cará ter prestacional.

Geralmente ela é contrastada com a noçã o de mínimo existencial, que


acolhe o fundamento da dignidade da pessoa humana.

( ... )

Ressalte-se, pois, que, segundo adverte Celso Antô nio Bandeira de


Mello, “a existência dos chamados conceitos vagos, fluidos ou
imprecisos nas regras concernentes à Justiça Social nã o é impediente
a que o Judiciá rio lhes reconheça, in concreto, o â mbito significativo”.
Concorda-se com tal afirmativa, pois o reconhecimento do direito irá
depender, a nosso ver, nã o apenas do grau de aplicabilidade da
norma, mas também das circunstâ ncias do caso concreto, que pode
levar o intérprete à situaçã o de vinculaçã o em vez da
discricionariedade, sendo ainda interpretaçã o contemporâ nea que se
garanta má xima efetividade aos direitos fundamentais, conforme será
visto a seguir. (NOHARA, Irene Patrícia. Direito administrativo [livro
eletrô nico]. 6ª Ed. Sã o Paulo: Atlas, 03/2016. Epub. ISBN 978-85-970-
0567-7)

É altamente ilustrativo, ainda, transcrever o seguinte aresto,


originário do STF:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.


ATENDIMENTO DOMICILIAR. HOME CARE. PACIENTE COM QUADRO
NEUROLÓGICO DEGENERATIVO E PROGRESSIVO. COMPROVADA
NECESSIDADE. SUPOSTA AFRONTA AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA.
REEXAME DE FATOS E PROVAS E DE LEGISLAÇÃO LOCAL. SÚMULAS NºS
279 E 280 DO STF. ART. 196 DA CF. DIREITO À SAÚDE. PRINCÍPIO DA

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SEPARAÇÃO DE PODERES. RESERVA DO POSSÍVEL. AFRONTA.
INOCORRÊNCIA. PRECEDENTES. ALTO CUSTO DO MEDICAMENTO.
AUSÊNCIA DE DISCUSSÃO PARA FINS DE APLICAÇÃO DO TEMA 6 DA
REPERCUSSÃO GERAL.

1. O acórdão recorrido, na hipótese, não destoa da jurisprudência desta


Corte, quanto à inocorrência de violação ao princípio da separação dos
poderes, eis que o julgamento, pelo Poder Judiciário, da legalidade dos
atos dos demais poderes, não representa ofensa ao referido postulado
da separação dos poderes, especialmente em se tratando de políticas
públicas nas questões envolvendo o direito constitucional à saúde. 2.
Eventual divergência em relação ao entendimento adotado pelo juízo a
quo, no que tange à suposta ofensa ao postulado da isonomia e à
necessidade ou não do tratamento médico home care demandaria o
reexame de fatos e provas constantes dos autos e a análise da legislação
local aplicável à espécie (Lei Complementar Estadual 30/2001), o que
inviabiliza o processamento do apelo extremo, tendo em vista a vedação
contida nas Súmulas nºs 279 e 280 do STF. 3. A questão relativa ao alto
custo do medicamento não foi objeto de discussão no acórdão recorrido
para fins de aplicação do Tema 6 da repercussão geral, cujo paradigma é
o RE 566.471-RG, de relatoria do Min. Marco Aurélio. 4. Agravo
regimental a que se nega provimento. Mantida a decisão agravada
quanto aos honorários advocatícios, eis que majorados nos limites do art.
85, §§ 2º e 3º, do CPC. (STF; ARE-AgR 1.272.488; PE; Segunda Turma; Rel.
Min. Edson Fachin; DJE 27/04/2021; Pág. 86)

Assim sendo, cabe ao Juiz-Estado ponderar, no caso


concreto, a colisão entre os bens jurídicos antagônicos. Por isso, deve distanciar
toda e qualquer premissa direcionada à proteção de recursos financeiros do
Estado.

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Acrescente-se que, a ausência de previsão orçamentária,
para o fornecimento dos procedimentos médicos, não é empecilho a prevalecer
frente à ordem constitucionalmente, estatuída de priorização da saúde. Eventual
deliberação a respeito da repartição de responsabilidade, compete unicamente aos
entes federativos, a ser realizada em momento oportuno, tendo em vista a
solidariedade existente entre todos eles.

É oportuno pontuar que, para além disso, ainda que o


tratamento médico requerido não faça parte da lista de procedimentos fornecidos
pelo SUS, é dever do Estado. É o suficiente, para a constatação de sua
necessidade, o atestado emitido pelo médico que acompanha o tratamento da
parte autora.

Ex positis, admitir-se a tese sustentada pela Recorrente é,


indiscutivelmente, ir de encontro Princípio da Prevalência do Mínimo Existencial .

IV – EM CONCLUSÃO

Em suma, tem-se que a decisão guerreada não


merece ser recorrida e reformada, motivo qual, por conta disso, postula-se que:

( a ) não seja conhecido o Recurso Extraordinário em debate, tendo-se em conta


que não obedece aos pressupostos recursais extrínsecos e intrínsecos;

( b ) não sendo esse o entendimento, o que se diz apenas por argumentar, espera-
se que seja NEGADO PROVIMENTO ao RE, mantendo-se, na íntegra, a
decisão proferida pelo Tribunal local, maiormente quando inexiste qualquer
mácula às normas constitucionais;

( c ) pede-se, ainda, a majoração dos honorários sucumbência (CPC, art. 85, 11).

Respeitosamente, pede deferimento.

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De Cidade para Brasília (DF), 00 de dezembro de 0000.

Beltrano de Tal
Advogado – OAB/PP 112233

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