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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA VARA DE CACHOEIRAS DE


MACACU - RJ

Processo nº: 0000063-23.2019.8.19.0012

CLÁUDIO CORREA DAS DORES, telefone (21)96781-


8567, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, que move em face de
BANCO BRADESCO S/A, irresignado com a sentença de fls. 485/488, vem, na
presença de V.Exa., pela Defensora Pública infra-assinada, com fulcro no
artigo 1.009 do CPC e seguintes interpor

RECURSO DE APELAÇÃO

anexando suas Razões do Apelo para remessa e apreciação pelo Tribunal


Regional Federal da Segunda Região.

Termos em que, pede deferimento.

Cachoeiras de Macacu, 10 de setembro de 2020.

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Nathalia Milione de Freitas Lima
Defensora Pública
Mat. 949.565-6

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– RAZÕES DO APELANTE –

Processo nº: 0000063-23.2019.8.19.0012

ORIGEM: 1ª VARA DA COMARCA DE CACHOEIRAS DE MACACU

APELANTE: CLÁUDIO CORREA DAS DORES

APELADO: BANCO BRADESCO S/A

EGRÉGIA CÂMARA,
COLENDO TRIBUNAL,

I. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Inicialmente, o Apelante REAFIRMA, sob as penas da lei,


não possuir recursos financeiros para arcar com as custas processuais e
honorários advocatícios, razão pela qual faz jus à Gratuidade de Justiça de
forma integral, indicando a Defensoria Pública para patrocínio de seus
interesses, que se utilizará das prerrogativas legais da intimação pessoal e do
prazo em dobro.

II. DA TEMPESTIVIDADE

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Ressalte-se que o presente recurso é tempestivo, uma
vez que a Defensoria Pública tem a prerrogativa da intimação pessoal, tendo
sido intimada tacitamente no dia 08/09/2021. Assim, o recurso está sendo
interposto dentro do prazo, notadamente considerando o prazo em dobro para
a Defensoria Pública, prerrogativa funcional garantida pelo art. 128, I da LC
80/94 e pelo CPC em art. 186, bem como considerando a contagem dos
prazos processuais em dias úteis consagrada pelo artigo 219 do NCPC.

III. DA DECISÃO RECORRIDA E BREVE SÍNTESE PROCESSUAL

Trata-se de demanda anulatória de negócio jurídico


cumulada com pedido indenizatório por danos morais proposta pelo ora
Apelante em face do Apelado pois em 2005 contratou com a instituição
financeira empréstimo no valor de R$ 4.007,98 (quatro mil e sete reais e
noventa e oito centavos) e não conseguiu adimplir o pagamento e, em 2010, a
dívida prescreveu.

Porém, em 2018, o Apelante conseguiu um emprego na


Prefeitura desta Comarca e precisou abrir conta-salário no Banco Apelado para
recebimento de seus proventos, momento em que o gerente do banco
condicionou a abertura da referida conta à assinatura de uma confissão de
dívida nº 339508719, no valor de R$ 3.903,42 (três mil novecentos e três reais
e quarenta e dois centavos).

Em sede de sentença, o MM. Juízo a quo julgou


improcedente o pedido ao argumento de que o Apelante não trouxe a prova
necessária para que se possa declarar a prescrição do débito originário, além

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de não ter comprovado vício no consentimento de vontade ao assinar a
confissão de dívida.

Compulsando aos autos, é possível perceber que a r.


sentença merece reforma, conforme será demonstrado a seguir.

IV. DA NECESSIDADE DE REFORMA DA SENTENÇA A QUO

a) DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. OBRIGATORIEDADE DA


INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DE MOSTRAR O CONTRATO.

Inicialmente, se faz necessário mencionar o disposto na


Súmula 297 do Superior Tribunal de Justiça, que diz:

“O Código de Defesa do Consumidor é


aplicável às instituições financeiras.”

Considerando o disposto na Súmula supra, cumpre


salientar que a presente demanda versa sobre evidente relação de consumo,

        Todavia, cumpre salientar, que a


presente demanda versa sobre evidente relação de consumo, e mais, versa
sobre responsabilidade civil por vício do produto, e para tal hipótese, o
CDC prevê, em seu artigo 6º, VIII, a inversão do ônus da prova, ope legis,
ou seja, a própria Lei inverte o ônus da prova, cabendo então ao fornecedor

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do produto provar que não houve defeito na sua prestação, ficando o
consumidor desincumbido deste ônus.

Narra a autora em sua petição inicial que, em virtude de


ser portadora de Tetraparesia Espática (CID G82.4), com termo inicial em
dezembro de 2016, requereu o benefício previdenciário de auxilio doença, eis
que impossibilitada de exercer atividade laborativa. O benefício previdenciário
foi indeferido administrativamente ao argumento de que a incapacidade da
apelante era anterior ao início/reinício das contribuições para a Previdência
Social.

Inconformada, propôs a Apelante a presente demanda


com o fito de ver concedido o benefício previdenciário de auxílio doença ou
deferida a aposentadoria por invalidez, caso constatada a incapacidade
permanente.

Realizada a perícia judicial (fls. 179/183), restou verificado


pelo perito que havia incapacidade laborativa total e permanente, estando
a periciada incapaz de exercer atividade omniprofissional, não sendo
elegível à reabilitação profissional.

Entretanto, o juízo a quo entendeu que, embora


comprovada a existência da doença incapacitante, não faria jus a apelante ao
benefício previdenciário por perda da qualidade de segurada.

Ocorre que, tal interpretação não é a que vem sendo


seguida pelos nossos Tribunais.

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Do exame dos autos resta claro que a Apelante se tornou
incapaz para o trabalho em decorrência da doença, que teve seu marco inicial
assinalado em laudo pericial em 13/12/2016.

Cumpre esclarecer, ainda, que, conforme documento


anexado às fls. 109 a Apelante figura como segurada, na modalidade
contribuinte individual, durante o período de 01/10/2016 a 28/02/2017.

Corolário lógico, se a doença teve seu marco inicial


cravado pela perícia judicial em 13/12/2016 e a Apelante contribuiu para o
INSS como contribuinte individual neste período, à época do surgimento da
doença, era a mesma segurada da Previdência Social.

Destarte, no momento do surgimento da incapacidade, a


Apelante preenchia todos os requisitos para a concessão do benefício, não
havendo que se falar em perda da qualidade de segurada, eis que tal
verificação deve se dar quando do surgimento da incapacidade, e não quando
do requerimento do Benefício na via administrativa.

Neste sentido, assim já julgou o TRF da terceira região,


consoante aresto abaixo transcrito:

“PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL.


CONCESSÃO DE AUXÍLIO-DOENÇA OU
APOSENTADORIA POR INVALIDEZ.
SEGURADO PORTADOR DE
MIOCARDIOPATIA CHAGÁSICA COM
ARRITMIA VENTRICULAR. INCAPACIDADE
EVIDENCIADA QUANDO DA CESSAÇÃO DA
ATIVIDADE RURAL. PERDA DA QUALIDADE

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DE SEGURADO NA DATA DO
REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO.
IRRELEVÂNCIA. PREENCHIMENTO DOS
REQUISITOS PARA CONCESSÃO DO
BENEFÍCIO NO MOMENTO DO
SURGIMENTO DA INCAPACIDADE.
RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E
PROVIDO. 1. A posterior perda da qualidade
de segurado especial, no presente caso, não
deve interferir no reconhecimento do direito
ao benefício auxílio-doença, pois
incontroverso nos autos que o segurado
possuía a qualidade de segurado à época do
surgimento da incapacidade para o trabalho.
2. Recurso especial conhecido e provido, para
reconhecer ao recorrente o direito ao auxílio-
doença, a partir do requerimento
administrativo, o qual poderá ser convertido
em aposentadoria por invalidez, quando das
avaliações periódicas de acompanhamento da
incapacidade por parte da Autarquia
previdenciária. Condeno, ainda, o INSS no
pagamento do ônus sucumbencial, fixando os
honorários advocatícios em 10% sobre o valor
da condenação.” ( STJ – REsp: 1405173 SP
2013/0310402-5, Relator: Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, Data de Julgamento:
20/05/2014, T2 – SEGUNDA TURMA, Data de
Publicação: DJe 26/05/2014).

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Destarte, tendo sido verificada a incapacidade total e
permanente da Apelante, bem como sua qualidade de segurada e
preenchimento dos requisitos no momento do surgimento da incapacidade,
merece reforma a sentença para conceder a Apelante o benefício
previdenciário.

Assim, pede-se a V.Exas. que, constatada por perícia


judicial a incapacidade total e permanente da Apelante, seja-lhe concedido o
benefício de aposentadoria por invalidez, uma vez que não houve perda da
qualidade de segurada, pelos motivos acima expostos.

DO PREQUESTIONAMENTO

Caso a Colenda Câmara entenda por negar provimento ao


agravo, mantendo a r. decisão recorrida, deverá analisar expressamente no v.
acórdão a violação ao disposto no artigo 6° da CRFB e artigos 42 e 59 da lei
8.213/91, possibilitando a interposição de Recurso Especial ou Extraordinário.

DA CONCLUSÃO

À luz das precedentes considerações espera e confia a


Apelante, nos preclaros conhecimentos de V.Exas., para que seja conhecido e
provido o presente Recurso, a fim de reformar a sentença recorrida para julgar
procedente o pedido e conceder o benefício de aposentadoria por invalidez à
Apelante, com pagamento retroativo até a data do requerimento administrativo,
corrigido a partir da data em que cada parcela deveria ter sido paga, com
incidência de juros moratórios desde a citação.

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Neste termos, Pede deferimento.

Cachoeiras de Macacu, 25 de junho de 2020

Nathalia Milione de Freitas Lima


Defensora Pública
Mat. 949.565-6

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