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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO

DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE RECIFE –


PERNAMBUCO

MARIO LEONARDO DA COSTA FARFAN , brasileiro, casado, inscrito no


Cadastro Nacional de Pessoas Físicas sob o nº 149.530.211-34, portador da
cédula de identidade nº. 409631, MAER/RJ, residente e domiciliado a Rua
Paes Cabral, nº 752, Cordeiro, CEP 50630-179, Recife - PE, vem,
respeitosamente, perante Vossa Excelência, através do seu Advogado abaixo
assinado, procuração anexa, indicando-o para as intimações que se fizerem
necessárias, propor a presente

AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO DE VIDA C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS

Em face de METROPOLITAN LIFE SEGUROS E PREVIDÊNCIA PRIVADA


S/A - METLIFE, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no Cadastro
Nacional de Pessoas Jurídicas sob o nº 02.102.498/0001-29, com filial em
Empresarial Cícero Dias - Rua Padre Carapuceiro, nº 858, 7º Andar, Sala 701,
Boa Viagem, Recife - PE, 51020-280, pelos fatos e fundamentos expostos.

1. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Primordialmente, requer-se a concessão dos benefícios da gratuidade da


justiça, uma vez que o demandante não tem condições de arcar com nenhum
tipo de pagamento de custos processuais e honorários advocatícios, sob pena
de implicar em prejuízo próprio e de sua família, já que atualmente percebe
apenas o benefício do INSS, o qual é utilizado para arcar com todos os custos
de seu lar, sua família e dos tratamentos médicos que precisa se submeter em
decorrência da invalidez que se encontra acometido, nos termos do Art. 5º,
LXXIV, da Constituição da República, da Lei nº 1.060/50, bem como nos
artigos 82 e 98 do Novo Código de Processo Civil, conforme declaração de
hipossuficiência anexa.

2. DAS INTIMAÇÕES EXCLUSIVAS

Em observância ao art. 272, §5º, do Código de Processo Civil, requer-se que


toda e qualquer intimação nos presentes autos seja feita única e
exclusivamente em nome do patrono subscrito, Wallace da Silva, OAB/PE nº
41.598, sob pena de nulidade.

3. DOS FATOS

O autor contratou, desde fevereiro de 2000, um seguro de vida em grupo, por


meio da estipulante LATAM Airlines Brasil, conforme anexo, perante a parte ré,
a qual possui as seguintes coberturas:

Ocorre que, em 22/06/2022, o autor foi comunicado pelo Instituto Nacional de


Seguridade Social – INSS, sobre a concessão de sua aposentadoria por
Invalidez, uma vez que se encontra total e permanentemente inválido por estar
acometido de Insuficiência Renal Grave (CID 10 N18), restando incapacitado
de exercer suas atividades habituais.
Uma vez ciente da concessão do benefício previdenciário e diante da cobertura
na supracitada apólice securitária para “Invalidez por Doença – Funcional”, a
parte autora, em 03/08/2022, comunicou a ocorrência do sinistro à parte
ré, solicitando o pagamento da indenização securitária.

Em 09/09/2022, todavia, a seguradora indevidamente negou o pagamento


de indenização, sob o argumento de que o pedido se encontrava
prescrito, uma vez que já havia decorrido o prazo de mais de 1 ano desde
o início do tratamento de hemodiálise.

Destarte, considerando que o autor se encontra total e permanente inválido em


decorrência de doença para o exercício de suas atividades habituais, bem
como a não configuração de prescrição no caso em epígrafe, outra alternativa
não resta se não a propositura da presente ação para fins de resguardar seu
direito, conforme será demonstrado a seguir.

3. DO MÉRITO

3.1. Negativa de Indenização Securitária indevida. Não configuração de


prescrição.

O art. 206, §1º, II, b, do Código Civil prevê que prescreve em um ano a
pretensão do segurado contra o segurador.

O Superior Tribunal de Justiça, por sua vez, editou as Súmulas 229 e 278, as
quais prescrevem sobre a suspensão do prazo prescricional em caso de
solicitação administrativa de indenização securitária e o termo inicial para
contagem do prazo. Veja-se:

Súmula 229. STJ. O pedido do pagamento de indenização à


seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado
tenha ciência da decisão.
Súmula 278. STJ. O termo inicial do prazo prescricional, na
ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência
inequívoca da incapacidade laboral.

Nos casos, então, de seguro de vida, quando se trata de cobertura por


invalidez, o termo inicial do prazo prescricional é a partir da ciência
inequívoca de que a invalidez autoral é de caráter permanente e
irreversível, ou seja, a partir da ciência de concessão da aposentadoria de
invalidez pelo INSS.

Isso porque, enquanto o segurado estiver em gozo apenas de auxílio-


doença, evidentemente que a invalidez é considerada de cunho
temporário, sendo indevido o pagamento de indenização securitária, a qual
exige o caráter permanente da invalidez.

Assim, só é possível pleitear o pagamento da indenização securitária no


momento que o INSS comunica ao segurado sobre a concessão da
aposentadoria por invalidez, visto que é a partir de tal marco que o segurado
adquire o direito ao pagamento da cobertura securitária.

Nesse sentido, em casos análogos, os quais a METLIFE inclusive figurou


nos polos passivos da ação, o Egrégio Tribunal de Justiça de
Pernambuco reconheceu que o termo inicial do prazo prescricional para
pleitear pagamento de indenização securitária é contado a partir da
ciência de concessão de aposentadoria previdenciária pelo INSS, visto que
é a partir de tal marco que se há ciência inequívoca da invalidez definitiva.
Veja-se:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE


INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. PRELIMINAR DE NULIDADE POR
AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO REJEITADA. PRELIMINAR DE
NULIDADE POR CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA
ACOLHIDA. RECURSO PROVIDO. SENTENÇA ANULADA. Preliminar
de nulidade por ausência de fundamentação rejeitada, pois, embora o
magistrado sentenciante não tenha indicado expressamente quais os
dias de início e término do prazo prescricional aplicável à hipótese,
concluiu pela ocorrência da prescrição por entender que a constatação
da lesão ocorreu em 2010 e a parte autora somente ajuizou a ação
após 7 anos, ultrapassando o limite de 1 ano indicado na Súmula 101 e
278 do STJ. Estando a parte autora/apelante atualmente em gozo
do auxílio-doença, não há como concluir pela ciência inequívoca
do grau da sua incapacidade, circunstância esta que exigiria a
realização de perícia médica judicial, conforme requerido pela
seguradora ré/apelada e ratificada pela autora/apelante. Assim,
considerando que a pretensão autoral não está prescrita, a não
designação de perícia médica judicial caracterizou o cerceamento do
direito de defesa da parte autora/apelante, razão pela qual deve ser
anulada a sentença recorrida. Preliminar de nulidade por cerceamento
do direito de defesa acolhida. Art. 126. O proprietário de veículo
irrecuperável, ou destinado à desmontagem, deverá requerer a baixa
do registro, no prazo e forma estabelecidos pelo Contran, vedada a
remontagem do veículo sobre o mesmo chassi de forma a manter o
registro anterior. Parágrafo único. A obrigação de que trata este artigo é
da companhia seguradora ou do adquirente do veículo destinado à
desmontagem, quando estes sucederem ao proprietário. (APELAÇÃO
CÍVEL 0048561-28.2017.8.17.2001, Rel. STENIO JOSE DE SOUSA
NEIVA COELHO, Gabinete do Des. Stênio José de Sousa Neiva
Coêlho (Processos Vinculados - 2ª CC), julgado em 19/04/2021, DJe )
(grifou-se)

EMENTA – INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. PRAZO PRESCRICIONAL


ANUAL PARA O EXERCÍCIO DA PRETENSÃO. AVISO DE SINISTRO.
AJUIZAMENTO DA DEMANDA DENTRO DO PRAZO LEGAL
CONTADO A PARTIR DA NEGATIVA. PRESCRIÇÃO.
INOCORRÊNCIA. RECURSO PROVIDO COM O RETORNO DOS
AUTOS AO JUÍZO DE ORIGEM PARA O PROSSEGUIMENTO DO
FEITO. De acordo com o preconizado no Art. 206, § 1º, II, “b”, do
Código Civil, prescreve em 1 (um) ano a pretensão do segurado contra
o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo da ciência do
fato gerador da pretensão. No mesmo sentido, é o enunciado da
Súmula 101 do STJ, segundo o qual, “A ação de indenização do
segurado em grupo contra a seguradora prescreve em um ano”. De
acordo com a Súmula 278 do STJ, “O termo inicial do prazo
prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve
ciência inequívoca da incapacidade laboral”. O autor havia promovido
ação acidentária visando a concessão de aposentadoria por
invalidez acidentária ou auxílio acidente, sendo o feito julgado
parcialmente procedente, para condenar o INSS ao pagamento de
abono anual, bem como de auxílio-acidente mensal, tendo a
autarquia previdenciária recorrido do decisum, o qual foi mantido
em grau recursal, com acórdão publicado no dia 28/08/2018, e
trânsito em julgado no dia 26/11/2018, sendo esta a data da ciência
inequívoca do segurado de sua condição incapacitante, pois só a
partir de então a sentença fez coisa julgada, tornando-se imutável
e indiscutível a questão. Por outro lado, há de ser considerado que,
de acordo com o enunciado da Súmula nº 229 do STJ, “O pedido do
pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de
prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão”. Considerando
que a própria seguradora informa na contestação que o aviso de
sinistro se deu em 11/08/2016, ficando o prazo prescricional suspenso
até o dia 12/09/2016, data em que se deu a negativa, tendo sido a ação
distribuída em 15/08/2017, portanto, antes do prazo prescricional anual,
cujo termo final se daria em 12/09/2017, não se há falar em prescrição
ocorrida na espécie. Vistos, relatados e discutidos estes autos de
Apelação Cível nº 0001435-73.2017.8.17.2100, em que são partes as
acima nominadas, acordam os Desembargadores que compõem a
Segunda Câmara Cível deste Tribunal, à unanimidade de votos, em dar
provimento ao recurso, para afastar a prescrição reconhecida na
sentença e determinar a remessa dos autos ao juízo de origem para
que seja dado prosseguimento ao feito, na conformidade do voto do
Relator e do termo de julgamento que integram o presente aresto.
(APELAÇÃO CÍVEL 0001435-73.2017.8.17.2100, Rel. ALBERTO
NOGUEIRA VIRGINIO, Gabinete do Des. Alberto Nogueira Virgínio,
julgado em 27/09/2021)

DIREITO CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE


COBRANÇA DE SEGURO DE VIDA EM GRUPO. SENTENÇA QUE
EXTINGUIU O PROCESSO POR PRESCRIÇÃO. PRAZO ANUAL.
ART. 106, §1º, II, "A", DO CC/2002. TERMO INICIAL (A QUO).
CIÊNCIA INEQUÍVOCA DA INVALIDEZ. SÚMULA STJ Nº 278.
INVALIDEZ PERMANENTE POR ACIDENTE DE TRABALHO.
CIÊNCIA INEQUÍVOCA A PARTIR DA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO
PELO INSS. INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA DEVIDA. CORREÇÃO
MONETÁRIA A PARTIR DA DATA DA CONTRATAÇÃO DA APÓLICE.
SÚMULA STJ Nº 632. JUROS DE MORA A PARTIR DA CITAÇÃO.
ART. 405 DO CC/2002. ÔNUS SUCUMBENCIAL INVERTIDO.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS FIXADOS EM 15% (QUINZE POR
CENTO) DO VALOR DA CONDENAÇÃO. RECURSO PROVIDO.
DECISÃO UNÃNIME.1. Prescreve em um ano a pretensão do segurado
contra o segurador, contado o prazo da ciência do fato gerador da
pretensão. Art. 106, §1º, II, "a", do código civil de 2002.2. SÚMULA STJ
nº 278. O termo inicial do prazo prescricional, na ação de
indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca
da incapacidade laboral.3. O prazo prescricional ânuo para
interposição de ação de indenização securitária deve ser contado a
partir da ciência inequívoca da invalidez pelo segurado. Súmula STJ nº
278.4. O conhecimento inequívoco do fato gerador da pretensão de
indenização atinente ao seguro por invalidez permanente, ocorre,
em regra, com o laudo médico, indicada causa, natureza e
extensão da lesão, podendo a ciência restar configurada a partir
da concessão da aposentadoria por invalidez pelo INSS, como no
caso. Precedentes.5. Súmula STJ nº 632: "Nos contratos de seguros
regidos pelo Código Civil a correção monetária sobre indenização
securitária incide a partir da contratação até o efetivo pagamento".6.
Contam-se os juros de mora desde a citação inicial. Art. 405 do Código
Civil de 2002.7. Ônus sucumbencial invertido. Honorários advocatícios
arbitrados em 15% (quinze por cento) do valor da condenação. art. 85,
§2º, do Código de Processo Civil.8. Recurso de apelação PROVIDO.
Decisão unânime. (Apelação Cível 538449-80030095-
40.2015.8.17.0001, Rel. Eurico de Barros Correia Filho, 4ª Câmara
Cível, julgado em 19/11/2020, DJe 22/01/2021)

Evidente, portanto, que ao contrário do alegado pela seguradora na carta de


negativa de indenização securitária, o termo inicial do prazo prescricional,
nesse caso, só se inicia a partir da concessão de aposentadoria por
invalidez permanente e não do início da hemodiálise, já que, neste último
caso, a invalidez ainda era considerada pela autarquia federal como de
cunho temporário.

Assim, para melhor visualização, necessário observar a linha de tempo abaixo:

Ora, como já demonstrado anteriormente, entre fevereiro de 2021 até junho de


2022, o INSS estava pagando ao autor auxílio-doença, uma vez que seu
entendimento era de que a incapacidade era de cunho temporária. Apenas em
22/06/2022, então, é que a supracitada autarquia comunicou à parte autora
a concessão da aposentadoria, senão veja-se:

Desse modo, é a partir de 22/06/2022 (data da ciência inequívoca da


incapacidade definitiva), que se inicia o prazo prescricional para pleitear
indenização securitária no processo em epígrafe. Assim, contando-se o
prazo de 01 ano, o autor teria até 21/06/2023 para solicitar
administrativamente o pagamento da cobertura prevista em apólice.
A abertura de sinistro, todavia, ocorreu em 03/08/2022, suspendendo o
prazo prescricional, conforme Súmula 229, do STJ, senão veja-se:

Por sua vez, a negativa da indenização securitária se encontra datada de


09/09/2022. Veja-se:

Desta forma, diante do lapso temporal transcorrido entre a ciência da incapacidade


laboral definitiva e entre a negativa securitária e a distribuição da presente ação,
evidente que indevida a recusa da seguradora, já que a solicitação foi feita
tempestivamente. Logo, se torna imprescindível o julgamento procedente da presente
ação.
3.2. Autor acometido de Invalidez por Doença - Funcional. Cobertura
prevista na apólice. Indenização securitária devida.

Como já esclarecido anteriormente, a parte autora se encontra acometido de


Insuficiência Renal Grave (CID 10 N18), necessitando realizar
procedimento de hemodiálise três vezes na semana e se encontrando
totalmente incapacitado de exercer suas atividades habituais.

Assim, trata-se de doença crônica, a qual atinge os rins, de modo que o mal
funcionamento de tal órgão vital prejudica todo o organismo do segurado, se
tornando insuficiente o processo de filtração do sangue e remoção dos
resíduos tóxicos presentes no sistema.

Logo, diante da gravidade da doença, o autor se encontra totalmente


inválido para o exercício de suas atividades funcionais e habituais.

Prova disso é que o próprio INSS reconhece tal condição, de modo que a
conclusão pela concessão da aposentadoria demonstra cabalmente que a
invalidez autoral é de cunho total e permanente.

De outra senda, analisando as coberturas da apólice contratada perante a


parte ré, verifica-se que há prevista a cobertura para “Invalidez por
Doença – Funcional”, no importe de R$ 243.950,41.

Desta forma, o Código Civil prevê, em seu artigo 757, que “pelo contrato de
seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir
interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos
predeterminados.”

Ademais, o artigo 765, do Código Civil dispõe que, “O segurado e o segurador


são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais
estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias
e declarações a ele concernentes.”
Na lição de Nelson Nery Jr., “A boa-fé objetiva é cláusula geral, ao mesmo
tempo em que se consubstancia em fonte de direito e obrigações, isto é, fonte
jurígena assim como a lei e outras fontes. É fonte jurígena porque impõe
comportamento aos contratantes, de agir com correção segundo os usos e
costumes. Com isso, a norma do CC 765 classifica-se, também, como regra de
conduta”.

A boa-fé objetiva impõe ao contratante um padrão de conduta, de modo que


deve agir como um ser humano reto, vale dizer, com probidade, honestidade e
lealdade. Assim, reputa-se celebrado o contrato com todos esses atributos que
decorrem da boa-fé objetiva.

Por todo o exposto, considerando que o autor se encontra acometido de


invalidez por doença funcional, estando definitivamente aposentado pelo INSS,
bem como a cobertura prevista na apólice contratada, evidente que a presente
ação deve ser julgada procedente para condenar a parte ré ao pagamento de
indenização securitária.

3.3. Imprescindibilidade da inversão do ônus da prova

Cumpre destacar ainda que, no caso em epígrafe, há uma clara relação de


consumo e assim sujeita ao Código de Defesa do Consumidor. Isso porque, a
parte autora enquadra-se na descrição do artigo 2º do CDC como
consumidora, tendo em vista que é destinatário final dos serviços da
seguradora no contrato de seguro, in verbis:

“Artigo 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou


utiliza produto ou serviço como destinatário final”.

Do outro lado, a seguradora Ré é prestadora desses serviços, adequando-se


ao conceito de fornecedor descrito no artigo 3º do CDC:
“Artigo 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição, ou comercialização de produtos ou prestação
de serviços.”

Enfim, tem-se a definição de serviço, na qual se encontra inclusa a atividade


securitária, conforme literalidade do art. 3º, § 2º do CDC:

“Artigo 3º, §2º. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de


consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária,
financeira, de crédito e SECURITÁRIA, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhista.”

Assim, configurada a relação de consumo e com base no art. 6º, VIII,


imprescindível que haja a devida inversão do ônus da prova, devendo à
seguradora ser imputada o ônus de comprovar que a parte autora não faz jus
ao recebimento da indenização securitária ora pleiteada.

3.4. Configuração de danos morais. Necessidade de condenação da Ré


pela prática de danos extrapatrimoniais.

Como demonstrado acima, a seguradora indevidamente negou o pagamento


de indenização securitária, sob o errôneo argumento de que estaria
caracterizada a prescrição no caso em epígrafe.

Assim, diante do ato ilícito praticado pela parte ré, é imprescindível que haja a
devida condenação em danos morais causados à parte autora.

Nesse sentido, o art. 186, do Código Civil assevera que:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Ademais, o art. 14 do CDC assegura que o fornecedor responde objetivamente
pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação do serviço.

Assim, em casos análogos, os Tribunais Pátrios entendem que em caso de


negativa securitária, como no caso em epígrafe, a qual inclusive se
fundou em fato inexistente, evidente que não há mero descumprimento
contratual, mas clara abusividade da seguradora. Isso porque, agindo de
má-fé, a seguradora se utiliza de qualquer justificativa sem fundamento
para se eximir do seu dever de realizar o pagamento da indenização. Veja-
se:

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL - APELAÇÃO CÍVEL - CONTRATO DE


SEGURO - NEGATIVA DE INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA
DECORRENTE DE INVALIDEZ TOTAL PERMANENTE POR
ACIDENTE DE FORMA INTEGRAL - DESNECESSIDADE DE PERÍCIA
MÉDICA - EXISTÊNCIA DE PARECER DO IML - DOCUMENTO HÁBIL
PARA CONSTATAR A INVALIDEZ - APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR - APELO A QUE SE NEGA
PROVIMENTO.1. Constam nos autos laudos emitidos por equipe
médica do Instituto de Medicina Legal pela Secretaria de Defesa Social
e pela Junta Militar de Saúde (fls. 15, 17 e 21/23), que representa um
documento de fé pública, que o acidente automobilístico culminou em
debilidade permanente do segurado, com sequelas, gerando, inclusive,
incapacidade permanente para o trabalho sendo recomendado que o
apelado requeresse sua reforma para a inatividade da corporação
militar por "incapacidade física definitiva", hipótese que afasta a
necessidade de realização de perícia médica.2. Ademais, como bem
analisou o magistrado a quo, em nenhum momento, a Apelante
comprovou que, nas apólices contratadas havia a previsão da
graduação para casos de debilidades parciais, não podendo
estabelecer percentuais na ocasião de ocorrência do sinistro.3. Sem
falar que em nenhum momento, a Apelante comprovou que, nas
apólices contratadas havia a previsão da graduação para casos de
debilidades parciais, não podendo estabelecer percentuais na ocasião
de ocorrência do sinistro. 4. O contrato de seguro é regido pelas
normas do Código de Defesa do Consumidor, sendo vedada, portanto,
interpretação prejudicial acerca do conceito de invalidez permanente
total por acidente, não podendo assim ser considerado apenas casos
de estado vegetativo do segurado.5. Diante das considerações acima
expostas, quanto ao valor a ser pago, não se vislumbra outro senão o
estipulado em sentença, pois de acordo com as apólices constante às
fls. 11/12, se vê claramente estabelecido para a hipótese de invalidez
permanente por acidente o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) e não
R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais) conforme defende a
recorrente, não restando maiores dúvidas de que a empresa ré está
inadimplente em R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais). 6. No tocante a
indenização por danos morais, também não vislumbro razão para
alteração do entendimento firmado na sentença em vergaste, pois
penso que a recusa do pagamento do seguro, sem qualquer
respaldo contratual, gerou, de fato, dano moral indenizável. Com
efeito, o recorrido experimentou transtornos na sua rotina diária, tendo
em vista a situação aflitiva em que se encontra após ter sofrido um
acidente de tamanha gravidade que o impossibilitou de exercer sua
atividade de policial militar, ficado indevidamente sem o dinheiro da
indenização. Além disso, há que se destacar a insegurança gerada na
contratação de um seguro e o sentimento de vulnerabilidade e
exposição causado pela negativa da apelante.7. Sendo assim,
entendeu o Colegiado que o valor de R$ 6.000,00 (seis mil reais) fixado
pelo juiz de primeiro grau atende aos critérios de proporcionalidade e
razoabilidade, bem como também se adéqua ao efeito pedagógico a
que se visa na aplicação deste tipo de condenação, razão pela qual
deve ser preservado em sua integralidade.8. Recurso desprovido por
unanimidade dos votos. (Apelação Cível 513237-20006260-
46.2012.8.17.0480, Rel. Humberto Costa Vasconcelos Júnior, 1ª
Câmara Regional de Caruaru - 1ª Turma, julgado em 17/10/2018, DJe
22/10/2018)

Frise-se ainda que a seguradora ré é empresa multinacional, estando há


muito tempo no mercado e com ampla assistência jurídica. Portanto,
evidente que tem plena ciência de qual é o correto termo inicial para a
ocorrência de prescrição no caso em epígrafe.

Prefere, todavia, agir de má-fé e negar o pagamento de indenização


securitária para segurado que já realiza o pagamento do prêmio há mais
de 22 anos e que agora – além de todos os custos com tratamentos
médicos –, sobrevive apenas com o valor do benefício previdenciário
pago pelo INSS.

Desse modo, é notório o dano moral sofrido pela parte autora decorrente do
constrangimento grave que lhe foi causado diante da má-fé da empresa ré,
devendo esta ser responsabilizada a pagar indenização no importe de R$
10.000,00.

3.4. Reembolso das mensalidades pagas após a ocorrência do sinistro

Além de agir de má-fé ao realizar a indevida negativa da indenização


securitária após a solicitação pelo segurado, verifica-se ainda que a seguradora
ainda vem mensalmente realizando a cobrança dos valores dos prêmios do
seguro.

Ocorre que, uma vez configurado o quadro de invalidez que enseja o direito à
indenização securitária em 22/06/2022 e a comunicação do sinistro em
03/08/2022, deveria ter ocorrido o pagamento da indenização. Com o
respectivo pagamento, deveria ter ocorrido também o cancelamento da
apólice pelo esgotamento da cobertura.

Ao revés de tal fato, além de negar ilicitamente o pagamento da indenização, a


seguradora segue indevidamente realizando a cobrança das
mensalidades relativa ao prêmio, conforme o e-mail anexo enviado pela
estipulante relativo ao boleto de cobrança em dezembro/22.

Assim, considerando que o segurado ainda realizou o pagamento das


mensalidades em julho a outubro de 2022 no importe de R$ 410,80 e em
novembro de 2022 no importe de R$ 574,54, evidente que tais valores devem
ser reembolsados, já que não existe prêmio sem a correspondente cobertura
securitária.

Nesse sentido, o parágrafo único do art. 42, Código de Defesa do Consumidor


estabelece que “O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à
repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso,
acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano
justificável.”

Logo, considerando que a cobrança realizada pelas rés se trata de evidente


cobrança indevida, imprescindível que haja a devolução em dobro de tais
valores.

4. DOS PEDIDOS

Por todo exposto, requer-se que o Douto Juízo se digne a:

(a) Deferir os benefícios da assistência judiciária gratuita, conforme artigos


98 e seguintes do Código de Processo Civil;
(b) Citar da parte ré para, querendo, contestar os termos da presente ação,
sob pena de revelia;
(c) Realizar a inversão do ônus da prova, de acordo com o art. 6º, VIII, do
CDC, imputando à seguradora ré o ônus de comprovar que a parte
autora não faz jus ao recebimento da indenização securitária ora
pleiteada;
(d) Ao final, que haja o julgamento procedente da presente demanda,
condenando a requerida a realizar o pagamento de indenização
securitária no importe de R$ 243.950,41 pela cobertura de Invalidez
Doença – Funcional, acrescidos de correção monetária e juros
moratórios, conforme art. 772, do CC, desde a abertura do sinistro;
(e) Condenar a parte ré a indenização por danos morais no importe de R$
10.000,00, acrescidos de correção monetária e juros moratórios desde
a negativa securitária;
(f) Condenar ainda a requerida a realizar a devolução dos valores do
prêmio cobrados indevidamente após a ocorrência do sinistro, no
importe de R$ 2.217,74, devendo tais valores serem devolvidos em
dobro (R$ 4.435,48), sem prejuízo do acréscimo de correção monetária
e juros moratórios desde o efeito prejuízo;
(g) Condenar a demandada em custas e honorários sucumbências, estes
no patamar de 20% sobre o valor da condenação, conforme art. 85, §3º,
I, CPC;
(h) Que toda e qualquer intimação nos presentes autos seja feita única e
exclusivamente em nome do patrono subscrito, Wallace da Silva,
OAB/PE nº 41.598, sob pena de nulidade.

Protesta provar o alegado por todos os meios de provas admitidos, em especial


por meio de prova documental.

Dá-se a causa o valor de R$ 258.385,89 (duzentos e cinquenta e oito mil,


trezentos e oitenta e cinco reais e oitenta e nove centavos).

Nestes termos,
Pede deferimento.

Recife, 04 de janeiro de 2023.

Wallace da Silva
OAB/PE nº 41.598

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