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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DO JUIZADO

ESPECIAL FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA CÍVEL E CRIMINAL DA


COMARCA DE TEÓFILO OTONI/MG

LIGIA DOS ANJOS, brasileira, solteira, portadora da Carteira de Identidade nº


MG-16.045.023 SSP/MG, inscrita no CPF sob o nº 471.899.835-20, residente e
domiciliada na Rua Lívio Frois Otoni, nº 477, bairro Santo Antônio, município de
Almenara/MG, CEP 39.900-000, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, por intermédio de seus procuradores in fine assinado (procuração anexa),
ajuizar a presente

AÇÃO PREVIDENCIÁRIA COMINATÓRIA DE AUXÍLIO-DOENÇA C/C PEDIDO DE


TUTELA DE URGÊNCIA

em face de INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, pessoa


jurídica de direito público interno, com endereço na Rua José Souza Neves, nº 75, em
Teófilo Otoni/MG, CEP 39803-137, pelos fatos e fundamentos a seguir delineados.

1. DA JUSTIÇA GRATUITA

Ab initio, é válido esclarecer que a Requerente é pessoa simples e não está


auferindo nenhuma renda devido a sua incapacidade laborativa, razão pela qual não
possui condições de arcar com as custas e despesas processuais sem o sacrifício do
próprio sustento e o de sua família.

Para tanto, faz-se juntada da declaração de hipossuficiência econômica.


Portanto, o beneplácito dos benefícios da justiça gratuita à Requerente é
medida que se impõe.

2. DOS FATOS E FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Inicialmente, mister se faz assinalar que a Requerente portadora de dor


lombar intensa com irradiação para membro inferior de caráter crônico (CID10-
M545 e M544), conforme ressonância magnética da coluna lombar que demonstra
abalamento discal posterior L2 a S1 com compressão de saco dural, sendo necessário
realizar tratamento médico, bem como a utilização de vários medicamentos, conforme
relatório médico em anexo, o que a deixa incapaz de desenvolver suas atividades
laborativas habitualmente.

Ademais, a Requerente carreia aos autos documentos que comprovam que a


doença surgiu desde 2013, conforme prontuários e relatórios médicos, não havendo
qualquer melhora.

Ressalta-se que a Requerente exercia suas funções como vendedora, com


atividades para o próprio sustento, e mesmo realizando tratamento, não readquiriu
condições laborativas, em que pese seus esforços e dedicação para recuperar.

Esclarece que em virtude do seu quadro de saúde, a Requerente, já passou


por vários tratamentos, sendo que ainda sofre com as sequelas e inconstância
habitual, com recomendação de afastamento das atividades profissionais.

Vale salientar que a Requerente, inclusive, faz uso de medicamentos fortes, e


qualquer atividade agrava seu estado de saúde, vez que possui algumas limitações.

Outrossim, conforme se extrai da documentação apresentada, a Requerente se


dirigiu à agencia mais próxima do INSS, a fim de pleitear benefício por incapacidade
em 24/08/2017, entretanto, o teve indevidamente negado sob o argumento de que a
perícia médica concluiu pela não existência de incapacidade para o trabalho ou
atividade habitual.
Novamente, em 22/10/2018 a Requerente pleiteou novamente o benefício em
questão, e o mesmo foi indeferimento sob o mesmo argumento, qual seja, a não
constatação da incapacidade laborativa.

Por fim, em sua última tentativa, a Requerente, em 25/06/2021 solicitou o


benefício de auxílio doença junto ao INSS, todavia, foi novamente indeferido sob o
argumento de não existência de incapacidade para o trabalho ou atividade
habitual.

Ademais, os diagnósticos feitos pelos peritos médicos do INSS foram


realizados de forma superficial e, inobstante o conhecimento destes profissionais, não
é crível que uma mera análise superficial da pessoa periciada dê elementos
suficientes para fins de deferimento ou indeferimento do benefício postulado.

Frisa-se que a Requerente não possui qualquer melhora em seu quadro


clínico, sentindo diversas dores e não possuindo condições de exercer mais as suas
funções laborativas, conforme relatório médico.

Como consequência da manutenção do quadro médico da Requerente,


afigura-se como detentora do direito do auxilio doença já que não possui condições de
desempenhar atividades laborativas, uma vez que apresenta dor intensa aos
pequenos esforços e não possui outros meios de manter a sua subsistência e de sua
família.

Não obstante, a Requerente não tem conseguido trabalhar ou exercer suas


atividades habituais, uma vez que até a presente data não obteve qualquer melhora
em seu quadro clínico.

Ademais, imperioso destacar que a Requerente não está recebendo nenhum


tipo de benefício da Previdência Social, nem de qualquer outro regime previdenciário.

Infelizmente, Douto Juiz, o indeferimento em tela é corriqueiro nas maiorias das


decisões do Requerido, que se vale da máxima de que ninguém é obrigado a fazer
prova contra si mesmo, levando ao extremo em desfavor da sociedade carente,
trabalhadora, que quando mais necessita de auxílio estatal, é brutalmente desvirtuada
e esquecida, embora estejam os seus direitos previstos nas leis substantivas.
O direito da Requerente encontra total guarida na nossa Carta Magna, em seu
art. 201, que assim preleciona:

“Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime


geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados
critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá,
nos termos da lei, a:

I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade


avançada; (...)”

Vejamos o art. artigo 71 do Decreto 3.048 de 1999:

Art. 71. O auxílio-doença será devido ao segurado que, após


cumprida, quando for o caso, a carência exigida, ficar incapacitado
para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de
quinze dias consecutivos.

§ 2º Será devido auxílio-doença, independentemente de carência,


aos segurados obrigatório e facultativo, quando sofrerem acidente de
qualquer natureza. Grifo nosso.

No caso em comento, os indeferimentos se deram unicamente e


exclusivamente em decorrência da não comprovação de incapacidade laborativa,
portanto é o que é debatido neste processo.

Desta forma, não há que se falar em falta de qualidade de segurada da


Requerente, uma vez que possui a carência de contribuições necessárias para a
percepção do benefício em questão, conforme observa-se no CNIS (doc. j).

Assim, injusto e afrontoso à sua dignidade foi o indeferimento do benefício


auxílio-doença quando a Requerente se encontrava incapacitada para o trabalho.

A propósito, caso a Requerente não consiga se reabilitar, faz-se imperioso que


a ela seja concedida a aposentadoria por invalidez, vez que as lesões a tornou
incapacitada para exercer atividades físicas e laborativas.
Sabe-se, Excelência, que a pretensão da Requerente está amparada pelos
dispositivos legais, da Lei nº 8.213/91, verbis:

“Art. 42. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for
o caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, estando ou
não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e
insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe
garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta
condição. (...)”

Art. 43. A aposentadoria por invalidez será devida a partir do dia


imediato ao da cessação do auxílio-doença, ressalvado o disposto
nos §§ 1º, 2º e 3º deste artigo. (...)”

Deveras, restam preenchidos todos os requisitos que autorizam a concessão


do benefício de auxílio-doença ou eventual aposentadoria por invalidez, fixando a DIB
em 24/08/2018 (DER), haja vista não se encontrar em condições para o labor e
insuscetível de reabilitação para o exercício de atividade que o garanta a subsistência.

Todavia, na remota eventualidade de se não reconhecer a incapacidade desde


o primeiro requerimento administrativo, requer seja reafirmada a DER para o momento
em que a Requerente adquirir direito ao benefício de auxílio doença, concedendo-se o
benefício a partir da data da aquisição do direito, nos termos do art. 690 da IN
77/2015:

Art. 690. Se durante a análise do requerimento for verificado que na


DER o segurado não satisfazia os requisitos para o reconhecimento
do direito, mas que os implementou em momento posterior, deverá o
servidor informar ao interessado sobre a possibilidade de reafirmação
da DER, exigindo-se para sua efetivação a expressa concordância
por escrito.

Parágrafo único. O disposto no caput aplica-se a todas as situações


que resultem em benefício mais vantajoso ao interessado.

Esse entendimento foi acolhido pela Turma Regional de Uniformização da 4ª


Região, no julgamento do Incidente de Uniformização JEF Nº 5003501-
33.2012.404.7104/RS, de relatoria do Juiz Federal André Luís Medeiros Jung:

PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO DE AUXÍLIO DOENÇA.


COMPROVAÇÃO DO INÍCIO DA INCAPACIDADE EM DATA
POSTERIOR À DER. FIXAÇÃO DA DIB NA DER, NA DATA DO
AJUIZAMENTO DA AÇÃO OU NA DII. REAFIRMAÇÃO DA DER.
INSTRUÇÃO NORMATIVA INSS/PRES Nº 45/2010.
1. Comprovado o início da incapacidade laborativa em data
posterior ao requerimento administrativo (DER), cabe fixar a data
de início do benefício (DIB) de auxílio-doença a partir do
surgimento da incapacidade (DII), considerando que, nessa data,
todos os requisitos legais para gozo do benefício estavam
presentes e considerando os termos da Instrução Normativa
INSS/PRES nº 45/2010.
2. Incidente conhecido e parcialmente provido.

Nesse precedente, foi acolhido voto do relator pela concessão do auxílio-


doença a partir da data de início da incapacidade (DII).

Nessa linha, há que se considerar que a reafirmação judicial da DER encontra


guarida no art. 493 do CPC/2015, que determina a análise de fatos constitutivos,
modificativos ou extintivos do direito após a propositura da ação.

Aliás, a matéria em questão prescinde de maiores discussões, eis que o


Superior Tribunal de Justiça ao julgar o Tema Repetitivo nº 995 pacificou a matéria,
reconhecendo a possibilidade de Reafirmação da DER até a segunda instância:

É possível a reafirmação da DER (Data de Entrada do Requerimento)


para o momento em que implementados os requisitos para a
concessão do benefício, mesmo que isso se dê no interstício entre o
ajuizamento da ação e a entrega da prestação jurisdicional nas
instâncias ordinárias, nos termos dos arts. 493 e 933 do CPC/2015,
observada a causa de pedir.

Assim, é imperiosa a reafirmação da DER.

3. DA TUTELA DE URGÊNCIA

A concessão da tutela antecedente de urgência é medida que se impõe,


mormente em razão da novel disposição dos artigos 300 e seguintes do NCPC, haja
vista a existência de elementos que evidenciam a probabilidade do direito, além, é
claro, da existência de inequívoco risco ao resultado útil do processo e o latente perigo
de dano.
Consoante o teor da presente inicial, o benefício perquirido tem caráter de
verba alimentar, e aliado à condição de incapacidade laborativa da Requerente,
verifica-se a presença dos requisitos para concessão do mesmo, no entanto, o
indeferimento do benefício em tela associado ao interstício necessário à prolação de
decisão final apenas dificultará a consecução do seu direito.

Registre-se que as provas acostadas, laudo emitido por médico, demonstram a


plausibilidade das alegações da Autora.

Ademais, além do prejuízo decorrente do indeferimento e do interstício


necessário à prolação de decisão final, há ainda que mencionar os riscos a que será
submetido a Requerente, eis que necessita urgentemente ter seu direito antecipado
para prover suas necessidades básicas, garantindo o mínimo existencial para sua
vivência em dignidade.

Desta feita, vislumbra-se de forma translúcida a presença dos requisitos para


concessão da tutela de urgência em epígrafe no caso sub examine, razão pela qual
este Juízo está autorizado a concedê-la.

4. DOS PEDIDOS

Diante o exposto, REQUER a Vossa Excelência, seja(m):

a) Concedida a TUTELA DE URGÊNCIA, inaudita altera pars, para


cominar ao Requerido a obrigação de implantar, imediatamente, o benefício de auxílio-
doença em favor da Requerente, sob pena de multa diária a ser estipulada por este í.
Juízo;

b) CITADO o Requerido, na pessoa do respectivo representante legal,


para contestar, querendo, a presente, sob pena de sujeitar-se aos efeitos da revelia;

c) No final, confirmando-se a tutela antecedente concedida, e JULGADO


PROCEDENTE o pedido para:
I - cominar ao Requerido a implantar o auxílio-doença em favor da Requerente
até que a mesma se reabilite para as suas atividades habituais ou, caso for, seja ela
aposentada por invalidez;

II – condenar o Requerido ao pagamento das parcelas não pagas


indevidamente desde a data do requerimento administrativo realizado aos 24/08/2017,
devidamente atualizadas;

III - na remota eventualidade de se não reconhecer a incapacidade desde o


primeiro requerimento administrativo, requer seja reafirmada a DER para o momento
em que a Requerente adquirir direito ao benefício de auxílio doença, concedendo-se o
benefício a partir da data da aquisição do direito, nos termos do art. 690 da IN
77/2015.

d) Condenar o Requerido nas custas processuais, honorários advocatícios e


demais cominações legais;

e) Atendendo ao disposto no artigo 319, VII do CPC/15, informa que não tem
interesse na realização de audiência de conciliação, uma vez que é prática costumeira
do Requerido o não comparecimento;

f) A concessão dos benefícios da Assistência Judiciária, nos termos da Lei nº


1.060/50, por ser a Requerente pobre no sentido legal.

Requer, também, a produção das provas por todos os meios admitidos em


direito, especialmente a oitiva de testemunhas, juntada de novos documentos e, em
especial a prova pericial.

A parte autora adere ao Juízo 100% digital.

Atribui-se à causa o valor de R$ 72.720,00 (setenta e dois mil setecentos e


vinte reais).
Termos em que,
Pede deferimento.

Almenara/MG, 17 de maio de 2022.

Maria D’Ajuda dos Anjos Fernandes Lima


OAB/MG 179.840

Bernardo Santos Ferraz Tullio Magalhães Medeiros


OAB/MG 180.964 OAB/MG 208.516

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