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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL ADJUNTO

À VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE TEÓFILO OTONI/MG

Autos nº: 1009446-96.2023.4.06.3816

TALITA VITÓRIA MARQUES DA SILVA, já


qualificada eletronicamente, vem, tempestivamente,
por seus procuradores ao final subscritos,
inconformado, data vênia, com a r. sentença de
retro, interpor RECURSO INOMINADO, conforme
razões anexas, a fim de que este Egrégio Tribunal o
conheça e a ele dê provimento como medida de
Direito e de Justiça.

Requer seja o recurso recebido em seu duplo efeito, e uma vez admitido, seja
regularmente processado, intimando-se o Recorrido e remetendo- se os autos a
Egrégia Turma Recursal, onde, certamente, será conhecido e provido para reforma da
r. decisão.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Almenara/MG, 04 de outubro de 2023.

Maria D’Ajuda dos Anjos Fernandes Lima


OAB/MG 179.840

Bernardo Santos Ferraz Tullio Magalhães Medeiros


OAB/MG 180.964 OAB/MG 208.516
À EGRÉGIA TURMA RECURSAL DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DE MINAS
GERAIS

RECURSO INOMINADO

Recorrente: TALITA VITÓRIA MARQUES DA SILVA


Recorrido: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL (INSS)
Processo: 1009446-96.2023.4.06.3816
Origem: JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA CÍVEL E
CRIMINAL DA COMARCA DE TEÓFILO OTONI/MG

Colenda Turma,
Eméritos Julgadores.

RAZÕES RECURSAIS

1. DOS PRESSUPOSTOS RECURSAIS

Conforme se extrai dos autos, o presente recurso preenche todos os


requisitos de admissibilidade, nos termos do artigo 42 da Lei 9.099/ 95 e, estando a
Recorrente sob o pálio da justiça gratuita, não há que se falar em preparo.

2. BREVE RELATO

A respeitável decisão recorrida merece ser reformada em relação à


improcedência do pedido inicial. Senão vejamos:

A Recorrente ajuizou o presente processo visando à concessão de Benefício


Assistencial à Pessoa com Deficiência, indeferido sob o argumento de de que não
atendia às exigências legais da deficiência para acesso ao BPC-LOAS.

Foi proferida sentença com análise do mérito (art. 487, I, CPC/15), julgando
improcedente o pedido inicial, não sendo constatado a incapacidade laboral de longo
prazo ou deficiência.
Com fito de instrução do feito, realizou-se apenas perícia médica,
desmerecendo o N. Julgador a quo da Perícia sócio econômica, que também é
essencial à averiguação das barreiras, Deficiência e impedimento de longo
prazo, conforme adiante será detalhadamente fundamentado.

Desta forma, não resta alternativa a Recorrente senão a interposição do


presente, visando a anulação da sentença, a fim de julgar procedente todos os
pedidos da exordial ou que seja reaberta a instrução processual e realizada sócio
econômica para averiguação do grau de Deficiência e impedimentos de longo prazo,
de acordo com o conceito de Deficiência pelos fundamentos a seguir delineados, e,
caso necessário, nova perícia médica com especialista nas patologias portadas pelo
Recorrente.

3. DAS RAZÕES DE MODIFICAÇÃO DA SENTENÇA

Do conceito de pessoa com deficiência

Conforme narrado anteriormente, entendeu o N. Julgador que apesar de


constatada a Incapacidade e não Deficiência no laudo pericial, não restou
demonstrado o “requisito do impedimento de longo prazo” e, consequentemente, o
direito da Recorrente ao benefício pretendido restou prejudicado. Em sentença, quanto
ao que interessa ao presente recurso, o Magistrado a quo assim asseverou:

SENTENÇA

Dispensado o relatório, por aplicação subsidiária do artigo 38 da Lei


nº 9.099/95, conforme artigo 1º da Lei nº 10.259/2001.
Trata-se de ação ajuizada em face do Instituto Nacional de Seguro
Social (INSS), pleiteando a concessão de benefício assistencial, por
ser o autor incapaz e economicamente hipossuficiente.
O benefício assistencial de amparo ao deficiente físico, previsto na
Lei nº 8.742/93, decorre do dever que tem o Estado de prestar
assistência social aos necessitados, em respeito à dignidade do
cidadão. Para fazer jus ao pagamento do benefício não é necessário
que o requerente seja filiado ao Sistema Previdenciário, bastando que
implemente as condições exigidas na citada lei. Conforme ditames
legais, o benefício, no valor de um salário mínimo mensal, é devido à
pessoa deficiente e ao idoso que comprove não possuir meios de
prover à própria subsistência e nem de tê-la provida por sua família,
conforme o art. 20, da Lei nº 8.742/93.
In casu, quanto à alegada deficiência da parte autora, o perito judicial
no laudo por ele apresentado em Juízo, atesta
que inexiste incapacidade para o trabalho por mais de 2 (dois) anos.
Com efeito, o expert foi contundente em afirmar a ausência de
doença incapacitante de longa duração.
Assim, tendo em vista não houve implemento do requisito legal de
deficiência e, em razão da concomitância existente entre os
pressupostos, a parte requerente não faz jus ao benefício pleiteado.
Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido, nos termos do
art. 487, I do CPC.

Ora, a perícia médica evidenciou que a Requerente apresenta Epilepsia –


CID10 G40, atestando que não foi verificada a incapacidade.

Todavia, através da vasta documentação anexada aos autos é possível


perceber que a parte recorrente sofre com tais patologias desde 2021 e que não
há quadro de melhora em tão curto prazo, realizando acompanhamento médico
junto à rede pública municipal, que se comprova através dos laudos médico
anexos.

E no que consta a lei 8.742/93:

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um


salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65
(sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios
de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua
família. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
(...) § 2o. Para efeito de concessão deste benefício, considera-se
pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo
de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em
interação com diversas barreiras, podem obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas. (Redação dada pela Lei nº
12.470, de 2011)
(...) § 10. Considera-se impedimento de longo prazo, para os fins do
§ 2o deste artigo, aquele que produza efeitos pelo prazo mínimo de
2 (dois) anos. (Incluído pela Lei nº 12.470, de 2011) (grifou-se).

Assim, demonstra-se que a doença/deficiência/incapacidade apresentada


pela parte recorrente perdura por tempo muito superior ao previsto em lei (dois anos),
eis que desde 2021, até o atual momento a parte autora encontra-se incapacitada,
sendo incontroverso o preenchimento do critério impedimentos de longo prazo e,
consequentemente, denota a equivocada decisão.
Se observarmos o caso notamos que desde 2021 a parte Recorrente
vem lutando com suas patologias sem qualquer perspectiva de melhora, não
sendo possível concluir que a incapacidade não existia no ato da perícia.

Ao instruir o feito com a Perícia médica, na qual a aferição de longo prazo


deve ser complementada também por assistente social na perícia socioeconômica,
além de verificado estado inestimável de Miserabilidade e vulnerabilidade social,
restará demonstrada a satisfação de todos os requisitos necessários para a concessão
do benefício pleiteado, conforme se demonstrará a seguir.

Assim, no presente processo foi realizada apenas a perícia médica que


avaliou e constatou somente a incapacidade, alegando não ser de longo prazo (02
anos), não sendo realizada perícia socioeconômica conjunta à médica, que também é
imprescindível a avaliar o grau de Deficiência e impedimento de longo prazo,
para confirmar se o Autor se enquadra ou não no conceito de Deficiência para acesso
ao BPC/LOAS.

EXCELÊNCIAS, DIVERSOS CASOS SEMELHANTES JÁ FORAM E ESTÃO


SENDO MATÉRIA DE RECURSOS NESTE MESMO TRIBUNAL E RECONHECIDO
PELAS TURMAS RECURSAIS DESSA SJMG, VEJAMOS:

ACÓRDÃO

PROCESSO: 1006002-64.2021.4.01.3816

PROCESSO REFERÊNCIA: 1006002-64.2021.4.01.3816

CLASSE: RECURSO INOMINADO CÍVEL (460)

POLO ATIVO: ROBERTO BARBOSA RIBEIRO

REPRESENTANTES POLO ATIVO: TULLIO MAGALHAES


MEDEIROS - MG208516-A, MARIA D AJUDA DOS ANJOS -
MG179840-A e BERNARDO SANTOS FERRAZ - MG180964-A
POLO PASSIVO:INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL -
INSS
EMENTA
PREVIDENCIÁRIO. LOAS. DEFICIENTE. INCAPACIDADE
TEMPORÁRIA E TOTAL ATESTADA PELA PERÍCIA MÉDICA
OFICIAL. CONTEXTO PELA EXISTÊNCIA DE IMPEDIMENTO DE
LONGO PRAZO. DEFICIÊNCIA CONFIGURADA PARA FINS DO
BENEFÍCIO BUSCADO. SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
SOCIAL DEMONSTRADA. REQUISITOS PREENCHIDOS. PEDIDO
JULGADO PROCEDENTE. RECURSO PROVIDO.
Trata-se de recurso inominado interposto pela parte autora contra
sentença que julgou improcedente o pedido inicial de
concessão do benefício assistencial ao deficiente sob o
fundamento de que não restou comprovado no caso que autor
era acometido por impedimento de longo prazo.
1. Conforme dispõe o §2º, art.20, da Lei n. 8742/93, para efeito
de concessão do benefício assistencial ao deficiente, “(...)
considera-se pessoa com deficiência aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, os quais em interação com diversas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva
nasociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas. (Redação dada pela Lei nº 12.470, de 2011)
2. Sobre impedimento de longo prazo, assim dispõe
o art. 3º, §3º do Decreto 6.214/07: “Considera-se impedimento de
longo prazo aquele que produza efeitos pelo prazo mínimo de
dois anos”. (Grifo nosso)
3. Na ocasião da perícia médica realizada em 10/2021 (ID
202347047), o perito do Juízo atestou que o autor, “ajudante de
pedreiro”, “analfabeto”, que se encontrava com 39 anos de idade
naquela oportunidade é portador de “Cervicalgia; Distrofias
hereditárias da retina; Sequelas de fratura decoluna vertebral. CID:
M54.2; H35.5; T91.1”, se encontrando incapacitado de forma
temporária e total. Questionado sobre a data estimada do início da
incapacidade, o perito oficial respondeu: “05/11/2019, data da
queda da escada.” Verifica-se que apesar de ter negado a existência
de impedimento de longo prazo (resposta ao quesito n. 23 b),
consignou o expert que "no momento não há possibilidade de
reabilitação profissional" firmando, ao final, "O periciando
apresenta incapacidade total e temporária, deverá ser reavaliado
em seis meses.” (Destacamos).
4. Verifica-se que no caso em exame, diferentemente do
asseverado na sentença recorrida, restou comprovado que a
deficiência do autor, apesar de parcial, é de longo prazo, uma
vez que, em conjunto com outras barreiras (baixa escolaridade,
tipo de profissão), obstrui a participação do autor de forma
plena e efetiva na sociedade pelo período superior a 02 (dois)
anos. Nota-se que o interstício entre a data para reavaliação
sugerida pelo expert (6 meses após a perícia, ou seja, 04/2022) e
a DII fixada também pelo perito oficial (11/2019) supera o prazo
previsto na legislação de regência, conforme explanado no item 3
supracitado (11/2019 - 04/2022).
5. Por fim, cumpre salientar que a TNU já firmou o entendimento
constante na Súmula n. 48, no sentido de que “A incapacidade não
precisa ser permanente para fins de concessão do benefício
assistencial de prestação continuada”.
6. Isso posto, preenchido o requisito da deficiência para fins do
Amparo buscado.
7. Com relação à questão da miserabilidade/ vulnerabilidade
social, vejamos.
8. Primeiramente, cumpre ressaltar que o STF, no julgamento do
580.963/PR, rel. Min. GILMAR MENDES, declarou a
inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 34,
parágrafo único, da Lei nº. 10.741/03, restando estabelecido que
qualquer benefício, seja assistencial ou previdenciário, não excedente
a um salário mínimo, já concedido a qualquer membro da família
idoso ou deficiente, não será computado para fins de cálculo da renda
per capita familiar a que alude a Lei Orgânica da Assistência Social.
9. Assentou-se, ainda, a ocorrência de “processo de
inconstitucionalização” do critério objetivo de renda per capita familiar
inferior a ¼ do salário mínimo (§ 3º do art. 20 da Lei nº. 8.742/93)
“decorrente de notórias mudanças fáticas (políticas, econômicas e
sociais) e jurídicas (sucessivas modificações legislativas nos
patamares econômicos utilizados como critérios de concessão de
outros benefícios assistenciais por parte do Estado brasileiro).”
10. Assim, a despeito da relevância desse parâmetro de renda, tal
critério mostra-se insuficiente para aferir a necessidade do benefício
assistencial no caso concreto.
11. Na mesma linha, a jurisprudência mais atualizada da TNU,
citando-se, dentre vários, o julgamento do PEDILEF
50106164720134047112, rel. Juiz Federal DOUGLAS CAMARINHA
GONZALES, DOU de 05.02.2016, em que parcialmente provido o
pedido para “reafirmar o entendimento de que há a necessidade de
valoração das provas produzidas nos autos para a aferição da
miserabilidade mesmo quando a renda per capita seja superior a ¼
do salário mínimo, posto não ser este o critério único para aferição da
miserabilidade”.

Portanto, idêntico à Sentença recorrida, é o caso da Autora, o que pede


desde já que essa N. Turma Recursal não se adstrinja totalmente ao laudo pericial, no
sentido de que não há deficiência, pois se confirmada a incapacidade, mesmo que
temporária, conforme TNU, Súmula 48, não é óbice para a concessão do benefício
assistencial ao deficiente.

Vejam-se que conforme documentos médicos anexos, a Requerente sofre


com tais patologias desde 2021, sendo que no interstício entre a data em que se
instalou a doença (impedimento), até a data da perícia, supera muito mais de 02 anos.

Logo, tem-se comprovado o preenchimento de todos os requisitos atinentes


ao benefício postulado. Eis que, não somente a parte apresente grave moléstia que a
incapacite para o labor (nos termos da legislação inerente à matéria), impedindo a
convivência plena e efetiva no meio social em igualdade de condições com as demais
pessoas, também vive em estado de profunda e lastimável miséria, tornando
imperativa a concessão do benefício em apreço.

Ora, os atestados médicos apresentados são suficientes para afastar a


conclusão equivocada do laudo pericial, porquanto a doença do Recorrente lhe causa
sim incapacidade laborativa e por longo prazo, preenchendo todos os requisitos que
autorizam a concessão do benefício.

Portanto, sem fundamentação a prova pericial.

Ademais, a conclusão do perito se deve ao fato de uma análise superficial e


equivocada ao vasto material probatório juntado aos autos, assim como pela
incompatibilidade incompreensível do Laudo Pericial com os Laudos médicos e
prontuários de evolução e tratamentos médicos apresentados. Referidas
documentações médicas confirmam de forma categórica a relação entre as patologias
e a incapacidade do autor.

Assim, pela manifesta incompatibilidade e omissão da conclusão pericial e


com a vasta produção probatória dos exames, Prontuários e laudos juntados no
processo, requer a desconsideração da conclusão pericial.

PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. BENEFÍCIO POR


INCAPACIDADE. PROVA PERICIAL CONTRADITÓRIA E
INCOMPLETA. REFAZIMENTO. Apresentando-se a perícia em
contradição com o conjunto probatório, além de necessitar ser
esclarecida acerca de aspectos importantes para eventual concessão
de benefício, e sendo a prova essencial nos processos em que se
discute a existência ou persistência da incapacidade para o trabalho,
deve ser refeita, anulando-se a sentença. (TRF-4 - AC:
50720957120174049999 5072095-71.2017.4.04.9999, Relator: OSNI
CARDOSO FILHO, Data de Julgamento: 19/06/2018, QUINTA
TURMA)

Motivos que devem conduzir à nulidade da conclusão pericial.

Salienta ainda, Excelências, que o Recorrente demonstra vastamente nos


documentos médicos acostados nos autos que não tem condições de laborar de
maneira total e permanente.
O art. 20 da Lei 8.742/1993 determina que:

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um


salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65
(sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios
de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família.

§ 6º A concessão do benefício ficará sujeita à avaliação da deficiência


e do grau de impedimento de que trata o § 2o, composta por avaliação
médica e avaliação social realizadas por médicos peritos e por
assistentes sociais do Instituto Nacional de Seguro Social - INSS.

Assim, não deveria o d. Magistrado a quo julgar o feito sem oportunizar o


autor a servir-se dos meios de prova que entende indispensáveis, qual seja, a
realização da avaliação social, caracterizando assim, cerceamento de defesa.

Apesar de constatada a incapacidade desde 2021, conforme se observa do


trecho supratranscrito e dos destaques feitos por este Recorrente, a sentença atacada
considerou ausente a deficiência porque ausente o suposto “requisito da
incapacidade de longo prazo ou deficiência”. Veja-se que toda a fundamentação
pertinente à análise do requisito gira em torno da análise de ser este capaz para o
trabalho/vida independente de longo prazo ou deficiência.

Ora, tal decisão mostra-se manifestamente dissonante da legislação em vigor,


uma vez que o direito ao benefício assistencial de prestação continuada se configura
quando há a presença simultânea de dois requisitos: (1) ser pessoa com deficiência ou
idosa; e (2) não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida
por sua família (art. 20, caput, da Lei nº 8.742/1993). Daí se depreende que a
incapacidade não é um requisito.

Conforme a nova redação dada ao § 2º do art. 20 da LOAS, introduzida pelo


Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), o conceito de pessoa com
deficiência deixou de se relacionar com a incapacidade para o trabalho e para a vida
independente e passou a guardar estreita correlação com IMPEDIMENTOS DE
LONGO PRAZO QUE, EM INTERAÇÃO COM BARREIRA(S), OBSTRUEM A
PARTICIPAÇÃO PLENA NA SOCIEDADE EM IGUALDADE DE CONDIÇÕES COM
AS DEMAIS PESSOAS. Senão, veja-se:

REDAÇÃO ORIGINAL:
§ 2º Para efeitos de concessão deste benefício, a pessoa portadora
de deficiência é aquela incapacitada para o trabalho e para a vida
independente.

NOVA REDAÇÃO:

§ 2oPara efeito de concessão do benefício de prestação continuada,


considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento
de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em
igualdade de condições com as demais pessoas.

Logo, não mais se conceitua a deficiência que enseja o acesso ao BPC-


LOAS como aquela que incapacita a pessoa para a vida independente e para o
trabalho, e sim aquela que ocasiona algum tipo de impedimento, que, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade, em igualdade de condições com as demais pessoas. Em
momento algum a norma condiciona o recebimento do benefício à demonstração da
incapacidade para o trabalho!

De fato, não se pode confundir deficiência (artigo 20, § 2º da LOAS) com


incapacidade laborativa, exigindo, para a configuração do direito, a
demonstração da “invalidez de longo prazo”. Isto, pois a consequência prática
deste equívoco é a denegação do benefício assistencial a um número expressivo
de pessoas que têm deficiência e vivem em condições de absoluta penúria e
segregação social, comprometendo as condições materiais básicas para seu
sustento.

Nesse sentido, cumpre salientar que o novo conceito de pessoa com


deficiência foi primeiramente estabelecido pelo art. 1º da Convenção Internacional
sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, constitucionalizado pelo Brasil ao seguir
o rito do art. 5º, §3º da Constituição Federal (incorporado em nosso ordenamento
jurídico com força de EMENDA CONSTITUCIONAL), com a consequente
promulgação do Decreto nº 6.949/09. Diante disto, a recente mudança de paradigma
na conceituação da pessoa com deficiência possui força de Emenda Constitucional,
com aplicação imediata, de maneira que todo o ordenamento infraconstitucional
conflitante com o novo conceito deve ser assistido como incompatível em termos de
compatibilidade constitucional!
Por óbvio, Nobres Julgadores, o atual e constitucional conceito de
deficiência não exclui do acesso ao benefício aquelas pessoas que, embora com
deficiência, logram êxito em trabalhar ou suportar as adversidades impostas em
seu dia a dia. Tanto é assim que a Lei Orgânica da Assistência Social não veda que
os beneficiários de BPC exerçam atividade remunerada – apenas prevê a suspensão
do benefício durante a vigência do contrato de trabalho, por estar temporariamente
ausente o requisito econômico:

Art. 21-A. O benefício de prestação continuada será suspenso pelo


órgão concedente quando a pessoa com deficiência exercer
atividade remunerada, inclusive na condição de microempreendedor
individual.

§ 1o Extinta a relação trabalhista ou a atividade empreendedora


de que trata o caput deste artigo e, quando for o caso, encerrado o
prazo de pagamento do seguro-desemprego e não tendo o
beneficiário adquirido direito a qualquer benefício previdenciário,
poderá ser requerida a continuidade do pagamento do benefício
suspenso, sem necessidade de realização de perícia médica ou
reavaliação da deficiência e do grau de incapacidade para esse fim,
respeitado o período de revisão previsto no caput do art. 21.

Como se vê, uma vez extinto o contrato de trabalho e cessadas as fontes


de sustento da pessoa com deficiência, o benefício suspenso poderá ser
continuado SEM NECESSIDADE DE REAVALIAÇÃO DA DEFICIÊNCIA. Isso porque
NÃO SE PRESUME QUE APRESENTAR CAPACIDADE PARA O TRABALHO
INDIQUE O FIM DA CONDIÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA, já que
CAPACIDADE LABORATIVA E DEFICIÊNCIA NÃO SÃO CONCEITOS
EXCLUDENTES.

Em outras palavras, é plenamente possível que uma pessoa com


deficiência apresente condições laborais.

Nesse contexto, o Decreto nº 6.214/2007, que regulamentou o benefício de


prestação continuada, estabeleceu os parâmetros a serem utilizados para a avaliação
do “requisito de deficiência” – não de incapacidade. Perceba-se:

Art. 16. A concessão do benefício à pessoa com deficiência


ficará sujeita à avaliação da deficiência e do grau de
impedimento, com base nos princípios da Classificação
Internacional de Funcionalidades, Incapacidade e Saúde - CIF,
estabelecida pela Resolução da Organização Mundial da Saúde
no 54.21, aprovada pela 54a Assembleia Mundial da Saúde, em 22 de
maio de 2001.
§ 1o A avaliação da deficiência e do grau de impedimento será
realizada por meio de avaliação social e avaliação médica.
§ 2oA avaliação social considerará os fatores ambientais, sociais e
pessoais, a avaliação médica considerará as deficiências nas funções
e nas estruturas do corpo, e ambas considerarão a limitação do
desempenho de atividades e a restrição da participação social,
segundo suas especificidades.
[...]
§ 5o A avaliação da deficiência e do grau de impedimento tem por
objetivo:
I - comprovar a existência de impedimentos de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial; e
II - aferir o grau de restrição para a participação plena e efetiva da
pessoa com deficiência na sociedade, decorrente da interação dos
impedimentos a que se refere o inciso I com barreiras diversas.
(grifamos)

Portanto, a partir da análise do dispositivo acima, verifica-se que a própria


norma regulamentadora do benefício em questão preleciona que o critério a ser
observado – quanto à deficiência – é o grau de restrição para a participação plena e
efetiva da pessoa com deficiência na sociedade, não fazendo qualquer referência à
incapacidade para o trabalho ou para a vida independente.

E, no caso, tem-se que a Recorrente foi diagnosticada com epilepsia, o


que dificulta o seu acesso ao emprego, pois são várias as limitações e barreiras
no presente caso, além da condição social, idade e escolaridade.

Vejamos a decisão recente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região sobre a


concessão de benefício assistencial em caso semelhante:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO, OBSCURIDADE OU


CONTRADIÇÃO. CORREÇÃO DE ERRO MATERIAL.
INEXISTÊNCIA. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. IMPEDIMENTOS DE
LONGO PRAZO. COMPROVAÇÃO. RECURSO ESPECIAL.
RETORNO PARA REEXAME DO CASO CONCRETO. 1. Cabem
embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: a)
esclarecer obscuridade ou eliminar contradição; b) suprir omissão de
ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou
a requerimento; c) corrigir erro material (CPC/2015, art. 1.022, incisos
I a III). Em hipóteses excepcionais, entretanto, admite-se atribuir-lhes
efeitos infringentes. 2. Não se enquadrando em qualquer das
hipóteses de cabimento legalmente previstas, devem ser rejeitados os
declaratórios. 3. O direito ao benefício assistencial previsto no art.
203, V, da Constituição Federal e no art. 20 da Lei 8.742/93 (LOAS)
pressupõe o preenchimento de dois requisitos: a) condição de pessoa
com deficiência ou idosa e b) condição socioeconômica que indique
miserabilidade; ou seja, a falta de meios para prover a própria
subsistência ou de tê-la provida por sua família. 4. A autarquia
apontou a existência de omissão e obscuridade no julgado, uma vez
que concedido o benefício assistencial a pessoa sem incapacidade,
conforme conclusão do exame médico pericial. 5. Não obstante a
importância da prova técnica, o julgador não fica adstrito ao laudo
pericial. Os termos "limitação" e "incapacidade", conquanto sejam
tecnicamente diversos, indicam impedimento laboral e devem ser
analisados sob a perspectiva das atividades inerentes à função do
segurado. 6. A limitação física imposta pela doença apresentada
(epilepsia), conjugada com as condições pessoais do autor,
como escolaridade e histórico laboral, além do estigma gerado
pela patologia, autoriza a concessão do benefício assistencial
pleiteado. 7. Agregados elementos à fundamentação constante do
voto, relativa à incapacidade da parte autora, sendo mantido o
resultado do julgado. (TRF4, AC 0014687-18.2014.404.9999,
QUINTA TURMA, Relator ROGER RAUPP RIOS, D.E. 31/08/2016)

No voto do supra referido julgado, o Desembargador Relator acertadamente


desconsiderou a capacidade laborativa da parte Autora apontada no laudo pericial e
entendeu que as condições pessoais (em especial, a epilepsia), dificultavam a
colocação da Requerente no mercado de trabalho.

Embora o laudo médico tenha apontado a ieexistência de incapacidade,


percebe-se que se tratam de patologias graves que impede de exercer atividades
laborativas. Daí se nota claramente que gera um estigma, o que limita a inserção
no mercado laboral, já tão concorrido entre os mais qualificados e sem
limitações do ponto de vista de saúde.

Ora, o mesmo entendimento deveria ter sido aplicado no presente feito!

Primeiramente, porque a capacidade laborativa não afasta a condição de


pessoa com deficiência; em segundo lugar, porque a Recorrente
comprovadamente apresenta INCAPACIDADE DE LONGA DURAÇÃO, que
dificulta exacerbadamente a sua inserção no mercado de trabalho.

Neste sentido, percebe-se que o legislador foi minucioso ao estabelecer, no art.


3º, inciso IV do referido diploma, a conceituação das diferentes espécies de barreiras
que podem atravancar a participação em igualdade de condições da pessoa com
deficiência, note-se:

Art. 3o Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se:


IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou
comportamento que limite ou impeça a participação social da
pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus
direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de
expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à
compreensão, à circulação com segurança, entre outros,
classificadas em:
a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços
públicos e privados abertos ao público ou de uso coletivo;
b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios públicos e
privados;
c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios de
transportes;
d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer entrave,
obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a
expressão ou o recebimento de mensagens e de informações por
intermédio de sistemas de comunicação e de tecnologia da
informação;
e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que
impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com
deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as
demais pessoas;
f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o acesso da
pessoa com deficiência às tecnologias; (grifos nossos)

Dentre as diversas modalidades de barreiras listadas na legislação


supratranscrita, tem-se que a atitudinal é uma das mais difíceis de serem superadas,
tendo em vista que se refere ao comportamento de terceiros, os quais, por
preconceitos ou desinformação, acabam impondo entraves na vida das pessoas com
deficiência.

Assim, pessoas COMO A RECORRENTE, notoriamente estigmatizadas


acabam por ter obstruída a sua participação plena e efetiva na sociedade em
igualdade de condições com as demais pessoas, enquadrando-se perfeitamente
no conceito do art. 20, § 2º, da LOAS:

§ 2o Para efeito de concessão do benefício de prestação continuada,


considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento
de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o
qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições
com as demais pessoas.

Dessa forma, é nítida a condição de pessoa com deficiência do Recorrente,


nos termos do conceito de Deficiência trazidos na Lei Previdenciária, fazendo jus à
percepção do benefício assistencial pleiteado.
Vejam-se, em que pese não haver controvérsia da Incapacidade de longo
prazo/Deficiência, mesmo assim o expert insistiu em concluir que “não foi verificada
a incapacidade”, entendendo se referir somente à incapacidade.

Com a devida vênia, Vs. Excelências hão de observar entre os vários recursos
interpostos, inclusive reconhecendo a satisfação do requisito, que tem havido várias
contradições nos laudos periciais do peritos médicos desta Subseção em relação ao
conceito de Deficiência para acesso ao BPC/LOAS, prejudicando com isso diversas
pessoas que perdem acesso ao benefício pleiteado por falta de informação médica
deste conceito, pois não se trata apenas de analisar doença, incapacidade para o
trabalho, e sim, as barreiras que impactam diretamente na vida social dos
requerentes que buscam o benefício justamente por não conseguir se inserir na
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas, conforme é
cediço por essa Colenda Turma.

Ora, Excelências, é cediço da dificuldade de se inserir uma pessoa com a


Deficiência do Recorrente no mercado de trabalho, além das condições sociais, de
extrema vulnerabilidade social, como no presente caso.

PORTANTO EXCELÊNCIAS, CONFORME PRÓPRIO LAUDO PERICIAL, A


RECORRENTE FOI CONSIDERADO INCAPAZ, NÃO RESTANDO DÚVIDAS,
PORTANTO, QUE SE ENQUADRA NO CONCEITO DE DEFICIÊNCIA E
IMPEDIMENTO DE LONGO PRAZO PARA ACESSO AO BPC, PODENDO ESTA
SER VERIFICADA TAMBÉM POR MEIO DE PERÍCIA SÓCIO-ECONÔMICA, o que
não ocorreu, cerceando assim o seu direito de defesa.

Logo, tem-se comprovado o preenchimento de todos os requisitos atinentes ao


benefício postulado. Eis que a parte além de apresentar Deficiência física desde
2016, impedindo a convivência plena e efetiva no meio social em igualdade de
condições com as demais pessoas, também vive em estado de profunda e
lastimável miséria, tornando imperativa a concessão do benefício em apreço.
3.1 Da perícia realizada em desrespeito aos moldes legais e do livre
convencimento do julgador.

Não fosse todo o exposto suficiente para atestar a condição de pessoa com
deficiência do Recorrente, atestada pelo próprio expert em laudo pericial, é de se
salientar que a perícia médica realizada para instruir o presente feito não se ateve ao
novo conceito de pessoa com deficiência, tampouco aos critérios da Classificação
Internacional de Funcionalidades, Incapacidade e Saúde – CIF, esta o método
científico eleito pelo direito brasileiro para analisar o direito à percepção do BPC
(art. 16, Decreto nº 6.214/2007).

Da análise do laudo médico pericial produzido nos autos, o que se observa é


que o expert baseou suas conclusões somente na incapacidade laborativa de forma
total, porém, alheio aos critérios da CIF conforme adiante explanado.

Outrossim, a análise do laudo médico pericial em sua integralidade revela que


o mesmo utilizou UNICAMENTE CRITÉRIOS MÉDICOS, ignorando o teor do art. 16, §
2º, do Regulamento do Benefício de Prestação Continuada, que dispõe que a
avaliação médica deve considerar “A LIMITAÇÃO DO DESEMPENHO DE
ATIVIDADES E A RESTRIÇÃO DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL, SEGUNDO SUAS
ESPECIFICIDADES”.

Em que pese insurgência do Autor quanto a estes aspectos, o Exmo.


Magistrado a quo se adstringiu apenas ao laudo pericial, entendendo
desnecessária a realização da perícia sócio econômica para a complementação da
perícia médica, indeferindo os quesitos complementares elaborados pela parte
Autora na Petição inicial, os quais visavam à necessária confrontação entre os
resultados médicos obtidos e as condições psicossociais do Recorrente, para que às
conclusões da perícia médica se aproximassem dos padrões estabelecidos pela CIF.

Veja-se que a Turma Nacional de Uniformização já decidiu que para a


concessão do benefício assistencial DEVEM ser observados os princípios da
Classificação Internacional de Funcionalidades, Incapacidade e Saúde (CIF):
INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO – PREVIDENCIÁRIO –
ASSISTÊNCIA SOCIAL – CONCESSÃO DE BENEFÍCIO DE
PRESTAÇÃO CONTINUADA (LOAS) – INCAPACIDADE PARCIAL E
DEFINITIVA – PORTADORA DE LÚPUS ERITEMATOSO
SISTÊMICO – DOENÇA AUTO IMUNE – NECESSIDADE DE
AVERIGUAR AS CONDIÇÕES SOCIAIS PARA CONCLUSÃO DA
(IN)CAPACIDADE – RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO. Trata-se de agravo contra inadmissão de incidente de
uniformização nacional, suscitado pela parte autora, em face de
acórdão de Turma Recursal do Juizado Especial Federal da Seção
Judiciária de Pernambuco. Inadmitido o incidente pela Turma de
origem, foi requerida, tempestivamente, a submissão da
admissibilidade à Presidência desta Turma Nacional nos termos do
art. 7º, VI do RI/TNU. A matéria ventilada e a ser verificada no
presente caso é a possibilidade de se conceder o benefício
assistencial previsto na Lei Orgânica da Assistência Social em casos
de incapacidade parcial e definitiva, considerando as condições
pessoais e sócio-econômicas do beneficiário. A parte autora
encontra-se com 35 anos, é portadora de lúpus eritematoso
sistêmico, uma doença auto imune, tem o ensino fundamental
incompleto, é lavadeira sem nunca ter trabalhado com carteira
assinada e, atualmente, quando sente poucas dores, faz
pequenos serviços como tal. Depende, para a sobrevivência, da
pensão alimentícia dos dois filhos menores e do Bolsa Família. O
“prognóstico é pessimista para a cura”. Ainda de acordo com o
perito, “no momento a pericianda é portadora de incapacidade parcial
definitiva. Pode exercer atividades que não exijam longas
caminhadas, exposição ao sol e elevação de peso. Levando em
consideração o relativo nível de escolaridade, necessita de programa
de reabilitação profissional”. Não houve perícia social nem
realização de audiência para a colheita de provas testemunhais.
Na contestação, o INSS se manifesta pela improcedência do pedido
declinado na exordial, pois “sendo a parte autora apenas
parcialmente incapaz, resta descaracterizado um dos requisitos do
amparo assistencial”. A Sentença de improcedência de 1º grau foi
mantida pela Turma Recursal, sob o argumento de que a parte
autora não se enquadra no conceito legal de pessoa portadora
de deficiência para efeitos da obtenção de benefício assistencial:
“...entendo que a incapacidade parcial da autora não a afasta do
mercado de trabalho, eis que existem atividades que podem ser por
ela exercidas”, segundo o Magistrado sentenciante. Sustenta o
Recorrente que “a patologia da autora é suficiente para torná-la
incapaz de prover seu sustento dignamente”. Foram apresentadas as
contrarrazões pela inadmissão. É o relatório. [...] Ao adentrar no
mérito, imperioso perquirir, em um primeiro instante, o que seja
incapacidade no habitat da legislação. Efetivando o estudo pelo
critério da interpretação sistemática, conclui-se que a
incapacidade não pode ser avaliada exclusivamente à luz da
metodologia científica. Fatores pessoais e sociais devem ser
levados em consideração, outrossim. Há que se perscrutar,
considerando que a incapacidade laborativa impossibilita,
impreterivelmente, a mantença de uma vida independente, se há
a possibilidade real de reinserção do trabalhador no mercado de
trabalho, no caso concreto. Deve ser balizada, para tanto, a
ocupação efetivamente disponível para o autor, levando-se em
conta, além da doença que lhe acometeu, a idade, o grau de
instrução, bem como, a época e local em que vive . Como se trata
do benefício da Lei Orgânica da Assistência Social, vejamos o que a
Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, estabelece: Art. 20. O
benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo
mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e
cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a
própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. § 2o Para
efeito de concessão deste benefício, considera-se pessoa com
deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em
interação com diversas barreiras, podem obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas. § 3o Considera-se incapaz de
prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família
cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-
mínimo A Lei n. 7.853/88, que dispõe sobre a Política Nacional
para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, foi
regulamentada pelo Decreto n. 3.298, que prescreve: Art. 3o Para
os efeitos deste Decreto, considera-se: III - incapacidade – uma
redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com
necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos
especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa
receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar
pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida. Art.
4o É considerada pessoa portadora de deficiência a que se
enquadra nas seguintes categorias: I - deficiência física -
alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo
humano, acarretando o comprometimento da função física,
apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia,
monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia,
triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência
de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade
congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que
não produzam dificuldades para o desempenho de funções; (Grifos
nossos) No que concerne à definição de incapacidade para se
fazer jus ao benefício em questão, o Decreto nº. 6.214, de
26/09/07, ao regulamentá-lo, firma, no seus artigos 4º e 16, o que é
incapacidade e o grau a ser considerado, in verbis: Art. 4o Para os
fins do reconhecimento do direito ao benefício, considera-se: III -
incapacidade: fenômeno multidimensional que abrange limitação
do desempenho de atividade e restrição da participação, com redução
efetiva e acentuada da capacidade de inclusão social, em
correspondência à interação entre a pessoa com deficiência e seu
ambiente físico e social; .... Art. 16. A concessão do benefício à
pessoa com deficiência ficará sujeita à avaliação da deficiência e
do grau de incapacidade, com base nos princípios da
Classificação Internacional de Funcionalidades, Incapacidade e
Saúde - CIF, estabelecida pela Resolução da Organização
Mundial da Saúde no 54.21, aprovada pela 54ª Assembléia
Mundial da Saúde, em 22 de maio de 2001. § 1o A avaliação da
deficiência e do grau de incapacidade será composta de
avaliação médica e social. § 2o A avaliação médica da deficiência
e do grau de incapacidade considerará as deficiências nas
funções e nas estruturas do corpo, e a avaliação social
considerará os fatores ambientais, sociais e pessoais, e ambas
considerarão a limitação do desempenho de atividades e a restrição
da participação social, segundo suas especificidades; (Grifos nossos)
O entendimento perfilhado por esta Corte, outrossim, é no
sentido de que o magistrado, ao analisar as provas dos autos
sobre as quais formará sua convicção, e deparando-se com
laudos que atestem incapacidade parcial, deve levar em
consideração as condições pessoais da parte requerente para a
concessão de benefício assistencial. Malgrado não ser a
incapacidade total e definitiva, pode ser considerada como tal
quando assim o permitirem as circunstâncias sócio-econômicas
do beneficiário, ou na medida em que este não possuir
condições financeiras de custear tratamento especializado, ou,
mesmo, se sua reinserção no seu ambiente de trabalho restar
impossibilitado. Mesmo porque o critério de totalidade não fora
adotado pelo § 2º, do art. 20, da Lei 8.742/93, e um dos pressupostos
para a manutenção do benefício assistencial é a avaliação periódica a
cada dois anos. A parcialidade da incapacidade, portanto, não é
óbice à sua concessão A respeito: PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO
REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA
INADMISSÃO DE RECURSO ESPECIAL. APOSENTADORIA POR
INVALIDEZ. LAUDO PERICIAL CONCLUSIVO PELA
INCAPACIDADE PARCIAL DO SEGURADO. NÃO VINCULAÇÃO.
CIRCUNSTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA, PROFISSIONAL E
CULTURAL FAVORÁVEL À CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. 1. Os
pleitos previdenciários possuem relevante valor social de proteção ao
Trabalhador Rural Segurado da Previdência Social, devendo ser,
portanto, julgados sob tal orientação exegética. 2. Para a concessão
de aposentadoria por invalidez devem ser considerados outros
aspectos relevantes, além dos elencados no art. 42 da Lei
8.213/91, tais como, a condição sócio-econômica, profissional e
cultural do segurado. 3. Embora tenha o laudo pericial concluído
pela incapacidade parcial do segurado, à prova o Magistrado não
fica vinculado pericial, podendo decidir contrário a ela quando
houver nos autos outros elementos que assim o convençam, como no
presente caso. 4. Em face das limitações impostas pela avançada
idade, bem como pelo baixo grau de escolaridade, seria utopia
defender a inserção do segurado no concorrido mercado de
trabalho, para iniciar uma nova atividade profissional, motivo pelo
faz jus à concessão de aposentadoria por invalidez. 5. Agravo
Regimental do INSS desprovido. (STJ – 5ª Turma - AgRg n° 1011387
– rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO - DJE de 25/05/2009 –
grifos nossos) Perfazendo a análise, a súmula 47 desta Corte, in
verbis: Uma vez reconhecida a incapacidade parcial para o
trabalho, o juiz deve analisar as condições pessoais e sociais do
segurado para a concessão de aposentadoria por invalidez. E,
como já dito, não obstante não estar inteiramente dependente de
outrem para se vestir, se alimentar, se locomover e realizar as
demais tarefas cotidianas, encontrando-se sem capacidade uma
pessoa de manter o próprio sustento por meio de atividade laborativa,
maquinalmente torna-se impossibilitada de manter uma vida
independente sem qualquer amparo ou caridade. Neste sentido, a
Súmula 29 desta E. TNU parece estar. Confira-se: “Para os efeitos do
art. 20, § 2º, da Lei n. 8.742, de 1993, incapacidade para a vida
independente não é só aquela que impede as atividades mais
elementares da pessoa, mas também a impossibilita de prover ao
próprio sustento” A incapacidade, em suma, como estabelecido
no Decreto n. 6.214, de 26/09/2007, é um fenômeno
multidimensional, que abrange limitação do desempenho de
atividade e restrição da participação, com redução efetiva e
acentuada da capacidade de inclusão social, em
correspondência à interação entre a pessoa com deficiência e
seu ambiente físico e social e, por isso mesmo, deve ser vista de
forma ampla, abrangendo o mundo em que vive o deficiente. Ou
seja, não necessita decorrer, exclusivamente, de alguma regra
específica que indique esta ou aquela patologia, mas pode ser assim
reconhecida com lastro em análise mais ampla, atinente às
condições sócio-econômicas, profissionais, culturais e locais do
interessado, a inviabilizar a vida laboral e independente. Uma vez
constatada a incapacidade parcial, destarte, devem ser analisadas as
condições pessoais do segurado, para fins de aferir se tal
incapacidade é total, especificamente para o exercício de suas
atividades habituais. Verifico que o Acórdão impugnado confirmou
a sentença pelos seus próprios fundamentos, que, por sua vez,
limitou-se a reafirmar as conclusões do perito judicial,
abandonando a apreciação das condições pessoais e sócio
econômicas do Autor. Desta forma, deve ser anulado, de ofício, o
Acórdão em referência para que sejam apreciadas as condições
pessoais da parte suscitante e realizado novo julgamento, de
acordo com a Questão de Ordem nº 20, a seguir transcrita: “Se a
Turma Nacional decidir que o incidente de uniformização deva ser
conhecido e provido no que toca a matéria de direito e se tal
conclusão importar na necessidade de exame de provas sobre
matéria de fato, que foram requeridas e não produzidas, ou foram
produzidas e não apreciadas pelas instâncias inferiores, a sentença
ou acórdão da Turma Recursal deverá ser anulado para que tais
provas sejam produzidas ou apreciadas, ficando o juiz de 1º grau
e a respectiva Turma Recursal vinculados ao entendimento da
Turma Nacional sobre a matéria de direito.”(Aprovada na 6ª
Sessão Ordinária da Turma Nacional de Uniformização, do dia
14.08.2006). DJ DATA:11/09/2006 PG:00595 Pelo exposto,
CONHEÇO do incidente de uniformização nacional suscitado
pela parte autora e DOU-LHE PARCIAL PROVIMENTO, para
anular o Acórdão impugnado e determinar o retorno dos autos à
Turma Recursal de origem com a finalidade de promover a
adequação do julgado com o entendimento da TNU, no sentido de
se realizar novo julgamento, procedendo à análise das condições
pessoais e sociais do beneficiário para constatação da
incapacidade para fins de concessão de benefício assistencial .
(TNU, PEDILEF 05344825220094058300, Relator JUIZ FEDERAL
WILSON JOSÉ WITZEL, DOU 23/01/2015 PÁGINAS 68/160, sem
grifos no original). Destaques nosso.

Nesse sentido, para além da questão afeta à observância do CIF por


ocasião da perícia médica, giza-se que também deveria ter sido feita a avaliação
da deficiência da Parte Autora com fundamento no Índice De Funcionalidade
Brasileiro Aplicado Para Fins De Classificação E Concessão Da Aposentadoria
Da Pessoa Com Deficiência (IF-BRA). O referido índice foi introduzido pela Portaria
Interministerial AGU/MPS/MF/SEDH/MP Nº 1 DE 27.01.2014, e visa fornecer o
método a ser utilizado a fim de se avaliar a deficiência do segurado. E saliente-
se que o próprio INSS já se adequou aos parâmetros do IF-BRA e do CIF na
concessão administrativa dos BPC.

Em suma: o já utilizado CID-10 – segundo a definição da OMS – visa


proporcionar um diagnóstico de doenças, perturbações ou outras condições de
saúde, que devem ser complementadas pela CIF, que efetua a relação das doenças
com a funcionalidade, e que não engloba apenas questões ligadas à saúde, mas
também fatores socioeconômicos, e que juntas as informações sobre diagnóstico e
sobre a funcionalidade e seus respectivos fatores socioeconômicos fornecem, na
visão de Bittencourt, uma imagem mais ampla e mais significativa da saúde das
pessoas na hora das tomadas de decisão. E neste sentido, o CID-10 e o CIF devem
ser averiguados por intermédio do íter procedimental do IF-BRA, pois é o método
científico escolhido pelo direito brasileiro para analisar os fatores clínicos e
sociais dos que necessitam do BPC.

Nesse aspecto, em que pese a sapiência do ilustre perito judicial, denota-se


que a Recorrente NÃO foi examinada à luz do novo conceito de deficiência, o
qual não se confunde com incapacidade laboral, tampouco pela metodologia do CIF e
do IF-BRA, conforme prescrito pela legislação vigente.

Determina o art. 20 da Lei 8.742/1993 determina que:

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um


salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65
(sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios
de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família.
§ 6º A concessão do benefício ficará sujeita à avaliação da
deficiência e do grau de impedimento de que trata o § 2o, composta
por avaliação médica e avaliação social realizadas por médicos
peritos e por assistentes sociais do Instituto Nacional de Seguro
Social - INSS.

Assim, não deveria o d. Magistrado a quo julgar o feito sem oportunizar o


autor a servir-se dos meios de prova que entenderem indispensáveis, qual seja,
a realização da avaliação social, caracterizando assim, cerceamento de defesa.
Repisa-se Eméritos Julgadores que o sistema normativo pátrio utiliza o
princípio do livre convencimento motivado do juiz, o que significa dizer que o
julgador não está preso ao formalismo da lei nem adstrito ao laudo pericial
produzido nos autos, devendo o analisar o caso concreto, levando em conta sua
livre convicção pessoal.

A esse respeito ainda, o Superior Tribunal de Justiça também considera que o


julgador não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar sua convicção com outros
elementos de prova constantes dos autos (STJ, 1ª Turma, AgRg nos ED no Ag
865.657/SP, rel. Min. Deise Arruda, j. 02/08/2007, DJ 10/09/2007, p. 201).

Nessa toada, a Turma Nacional de Uniformização adota a possibilidade de


valoração de outros elementos de prova dos autos para fins de concessão de
benefício por incapacidade laboral. Veja-se:

DIREITO PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. PEDIDO DE


UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI FEDERAL.
PRETENSÃO DE RESTABELECIMENTO DE APOSENTADORIA
POR INVALIDEZ. CARACTERIZAÇÃO DE INCAPACIDADE
PERMANENTE. LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO.
AUSÊNCIA DE TARIFAÇÃO OU HIERARQUIA ENTRE ESPÉCIES
PROBATÓRIAS. NECESSIDADE DE VALORAÇÃO DE TODOS OS
ELEMENTOS DE PROVA. INCIDENTE PARCIALMENTE PROVIDO
PARA NOVO JULGAMENTO PELA TURMA RECURSAL DE
ORIGEM. (PUIL Nº 0535032-83.2019.4.05.8013/AL, Rel. p/acórdão
MARCELLO ENES FIGUEIRA, juntado aos autos em 29/04/2021).
(grifado)
PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA. APOSENTADORIA POR
INVALIDEZ. JUIZ NÃO ESTÁ ADSTRITO ÀS CONCLUSÕES DO
LAUDO PERICIAL. 1. São quatro os requisitos para a concessão
desses benefícios por incapacidade: (a) qualidade de segurado do
requerente (artigo 15 da LBPS); (b) cumprimento da carência de 12
contribuições mensais prevista no artigo 25, I, da Lei 8.213/91 e art.
24, parágrafo único, da LBPS; (c) superveniência de moléstia
incapacitante para o desenvolvimento de atividade laboral que
garanta a subsistência; e (d) caráter permanente da incapacidade
(para o caso da aposentadoria por invalidez) ou temporário (para o
caso do auxílio-doença). 2. O juízo não está adstrito às
conclusões do laudo médico pericial, nos termos do artigo 479
do CPC, podendo discordar, fundamentadamente, das
conclusões do perito em razão dos demais elementos
probatórios coligidos aos autos. 3. É devido o benefício desde a
data da citação, porquanto não há, nos autos, elementos que
permitam retroagir a existência da incapacidade à data da cessação
de benefício anterior. (TRF4, AC 5025181-12.2018.4.04.9999,
TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR DE SC, Relator JOÃO
BATISTA LAZZARI, juntado aos autos em 08/06/2020) (grifado).
Destaques nosso.

Dessa forma, tendo em vista a contradição no laudo pericial ao afirmar que a


Recorrente é portadora de epilepsia, “porém não existe impedimento, apenas
limitação, considerando a sua inadequação em relação à forma prescrita em lei, bem
como o princípio do livre convencimento do julgador, aliado às situações
pessoais do Recorrente – em especial a patologia estigmatizante que lhe acomete –
deve-se concluir que o Autor é pessoa com deficiência, conforme o art. 20, § 2º da
LOAS.

Assim, diante das peculiaridades do presente caso, é imperiosa a


concessão do benefício pleiteado, eis que a condição social e econômica
evidenciada em sede administrativa foi claramente no sentido da incapacidade
de promover a subsistência da família com dignidade, sendo incontroverso tal
requisito, além de ter sido plenamente demonstrada a condição de pessoa com
deficiência da Recorrente nos exatos termos da qual a Lei conceitua.

Portanto, data vênia, tem-se equivocada a decisão prolatada pelo Magistrado


de primeiro grau, eis que a situação fática evidenciada autoriza a concessão do
Benefício de Prestação Continuada à Demandante.

Ante o narrado, resta fartamente demonstrado o preenchimento de todos os


requisitos necessários para a concessão do Benefício Assistencial pleiteado, nos
termos da fundamentação retro.
4. DO PEDIDO

Em face do exposto, REQUER o PROVIMENTO do presente recurso, e,


consequentemente, a reforma da r. Sentença, para que seja reconhecido por livre
convencimento desta Colenda Turma Recursal o direito do Recorrente, sendo
concedido o Benefício de Prestação Continuada em seu favor desde a DER
(22/03/2023).

Subsidiariamente, caso não seja este o entendimento de Vs. Excelências


REQUER a anulação da sentença com a reabertura da instrução processual para
fins de diligenciar a realização de perícia sócio econômica para averiguação da
Deficiência e impedimento de longo prazo, conforme artigo 20, da lei previdenciária
e seguindo os parâmetros e procedimentos estabelecidos pela Lei nº 13.146/15 e o
Decreto nº 6.214/07, além do Índice de Funcionalidade Brasileiro aplicado para fins de
Classificação e Concessão da Aposentadoria da Pessoa com Deficiência (IF-BRA) e
da Classificação Internacional de Funcionalidades, Incapacidade e Saúde (CIF), e, se
for o caso, nova perícia médica nos mesmos moldes acima, caso Vs. Excelências
assim entendam necessária.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Almenara/MG, 04 de outubro de 2023.

Caio Gobira Farias


OAB/MG 202.303

Bernardo Santos Ferraz Tullio Magalhães Medeiros


OAB/MG 180.964 OAB/MG 208.516

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