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Prática de Administrativo

CASO 01: AÇÃO CONCESSÃO BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DE PRESTAÇÃO


CONTINUADA
Você foi procurado por MARCOS DO VAL, catador de papel, que no dia 10/05/22 foi
atropelado por um ônibus na Av. Paraná/BH, evento que culminou na perda da visão de
seu olho esquerdo e 95% do direito, conforme laudo médico que lhe foi mostrado, o que
o colocou na condição de deficiente físico visual, ficando incapacitado para o exercício
das atividades da vida diária e do trabalho. MARCOS DO VAL informou-lhe ter
requerido administrativamente o benefício assistencial junto ao INSS em 20/10/22, que
lhe foi negado sob o argumento de não se enquadrar no conceito de deficiente previsto no
art. 20, § 2º, da Lei 8.742/93.
MARCOS DO VAL é casado com MARIA DO VAL, que percebe o salário de
R$1.302,00 como empregada doméstica, tendo o casal 05 filhos menores. Faça a peça
processual contra o INSS requerendo o benefício assistencial para MARCOS DO VAL,
requerendo, inclusive, tutela antecipada para o imediato pagamento do benefício,
considerando que você ajuizará a ação em 20/02/23.
FUNDAMENTAÇÃO: Art. 203, V, da C.F., art. 20, §§ 2º, 3º, 14 e 15 da Lei 8.742/93
(Lei de Organização da Assistência Social-LOAS), art. 34 e 71 da Lei 10.741/03 (Estatuto
da Pessoa Idosa – se for o caso), art. 9º, VII e art. 40 Lei 13.146/15 (Estatuto da Pessoa
com Deficiência), arts. 98/102, arts. 291/293 e 300 do CPC/2015.

Observações
 Juizado especial Federal: 60 salários-mínimos
 Lei 10.259, art. 3°.
 Art. 291, 293 CPC.

Lei 10.259 – Art. 3°, p. 3°.


CPC – 291, 292
Exmo. Sr. Dr. Juiz Federal da Vara do Juizado Especial Federal de Belo Horizonte –
Seção Judiciária de MG.
Ou
Ao Juízo da Vara do Juizado Especial Federal de Belo Horizonte – Seção Judiciária
de MG.
Marcos do Val, brasileiro, casado, catador de papel, CPF... identidade..., residente na
Rua.., n°.., bairro..., cidade..., Estado..., CEP..., E-mail, vem, respeitosamente, perante V.
Exa., por seu advogado abaixo assinado, conforme procuração anexa propor AÇÃO DE
CONCESSÃO DE BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DE PRESTAÇÃO
CONTINUADA, COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA CONTRA INSS –
INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL, autarquia federal, CNPJ..., com
sede na Rua..., n°..., bairro..., Estado..., CEP..., e-mail, pelos fatos e fundamentos a seguir
expostos:

I. DOS FATOS
No dia 10/05/2022 o autor estava andando pelas ruas do Centro de Belo Horizonte,
quando, ao atravessar a avenida Paraná, foi atropelado por um ônibus, acidente que lhe
causou várias lesões, culminando na perda da visão do olho esquerdo e 95% da visão do
olho direito, colocando-o na condição de deficiente visual, conforme atesta laudo médico
anexo.
O autor exercia a atividade de catador de papel e, após o acidente, não mais consegue
fazê-lo, sobrevindo com a renda de R$ 1.302,00 (MIL TREZENTOS E DOIS REAIS),
percebida pela sua esposa, Maria do Val, no seu labor de empregada doméstica, quantia
insuficiente para o sustento do casal e cinco filhos menores, impossibilitando0o de arcar
com aluguel, luz, água e alimentação.
No dia 20/10/2022 o autor requereu administrativamente o benefício assistencial de
prestação continuada junto à agência do INSS, tendo este por sua vez indeferido seu
pleito, sobre o argumento de que o autor não se enquadra no conceito de deficiente
regulado pelo artigo 20, p. 2° da Lei 8.742/93.
Dessa forma, o autor não teve outra alternativa senão buscar a tutela jurisdicional para
garantir o seu direito ao recebimento do benefício assistencial de prestação continuada,
direito previsto na Constituição e legislação extravagante.

II. DO DIREITO
A CF/88 garante o direito do idoso e/ou a pessoa com deficiência receber mensalmente o
benefício assistencial de prestação continuada, no valor de um salário-mínimo, exigindo
de ambos a prova de não conseguir se sustentar ou que a família não consiga fazê-lo, nos
termos do artigo 203, inciso V, o que foi regulamentado pela Lei 8742/93, no seu artigo
20, §§ 2° e 3°.
Constituição Federal

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora
de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Lei 8.742/93

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-


mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco)
anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção nem de tê-la provida por sua família.

§ 2o Para efeito de concessão do benefício de prestação continuada, considera-


se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma
ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade
em igualdade de condições com as demais pessoas.

§ 3º Observados os demais critérios de elegibilidade definidos nesta Lei, terão


direito ao benefício financeiro de que trata o caput deste artigo a pessoa com
deficiência ou a pessoa idosa com renda familiar mensal per capita igual ou
inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo.

Tratando-se de pessoa com deficiência, aplica-se também a Lei 13.146/15, Estatuto da


Pessoa com Deficiência, que assegura a toda pessoa com deficiência o direito ao
recebimento mensal de um salário mínimo, a título de benefício assistencial de prestação
continuada, exigindo também a demonstração da incapacidade financeira de sustento
próprio e que a família não consiga mantê-lo, inclusive, a referida lei, também garante o
direito da prioridade processual, em todos os atos e diligências, conforme artigo 9, inciso,
VII e artigo 40.

Lei 13.146/15

Art. 9º A pessoa com deficiência tem direito a receber atendimento prioritário,


sobretudo com a finalidade de:
VII - tramitação processual e procedimentos judiciais e administrativos em que
for parte ou interessada, em todos os atos e diligências.

Art. 40. É assegurado à pessoa com deficiência que não possua meios para
prover sua subsistência nem de tê-la provida por sua família o benefício mensal
de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de
1993.

O autor sofreu várias lesões no atropelamento, que culminou na perda da visão do olho
esquerdo e 95% da visão do olho direito, ficando na condição de deficiente visual que lhe
trás impedimento para o trabalho de forma permanente, visto que tem natureza física e
sensorial que, em interação e participação na sociedade o impede de isonomia de
condições com as demais pessoas, conforme laudo médico anexo.
Portanto, não prospera o indeferimento do pedido administrativo efetivado pelo autor
junto ao INSS, pois a sua deficiência visual se enquadra no conceito de deficiência
disciplinado pelo artigo 20, §2° da Lei 8.742/93.

Quanto ao requisito socioeconômico, este também restou preenchido, pois a renda total
da unidade familiar do autor, composta de 07 (sete) indivíduos, casal e sete filhos
menores, é de R$ 1.302,00 (mil trezentos e dois reais), o que demonstra uma renda per
capta de R$ 182,00 (cento e oitenta e dois reais), quantia inferior à ¼ do salário mínimo
disciplinado pelo artigo 20, §3° da Lei 8.742/93.

Dessa forma, restou demonstrado os requisitos exigidos por lei para a concessão do
benefício assistencial de prestação continuada ao autor.

Nossos Tribunais, em casos análogos, vêm decidindo pela concessão do benefício


assistencial de prestação continuada, conforme acórdãos abaixo colacionados:

PROCESSO
AREsp 255422
RELATOR(A)
Ministro HUMBERTO MARTINS
DATA DA PUBLICAÇÃO
26/11/2012
DECISÃO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 255.422 - SP (2012/0239724-4)
DECISÃO
Vistos.
Cuida-se de agravo interposto por JANDIRA DE MELLO RAMOS contra
decisão que obstou a subida de recurso especial em demanda na qual se discute
benefício assistencial.
Extrai-se dos autos que o agravante interpôs recurso especial, com fundamento
no art. 105, III, "a" e "c", da Constituição Federal, contra acórdão do Tribunal
Regional Federal da 3ª Região que deu parcial provimento à remessa oficial e
ao recurso de apelação do agravante nos termos da seguinte ementa (fl. 233, e-
STJ):
"PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO LEGAL. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL.
ART. 203, V, DA CF. ARTS. 20, § 3º E 38, DA LEI Nº 8742/93.
- Decisão monocrática que está escorada em jurisprudência do C. STF, sendo
perfeitamente cabível na espécie, nos termos do art. 557, § 1º-A, do CPC.
- A inconstitucionalidade do parágrafo 3º do artigo 20 da mencionada Lei nº
8.742/93 for arguida na ADIN nº 1.232/DF que, pela maioria de votos do
Plenário do Supremo Tribunal Federal, restou julgada improcedente. Deflui-se
que o estabelecimento do estado de penúria de idoso ou deficiente é objetivo
sendo menor de ¼ de um salário mínimo, que não é o caso dos autos.
- Agravo legal não provido."
No recurso especial, o agravante alega violação dos arts. 20, § 3º, e 34,
parágrafo único, da Lei n. 8.742/92.
Sustenta, em síntese, que "o acórdão recorrido, com a devida vênia, aplicou
dispositivo inadequado à solução do caso (artigo 20 da Lei n. 8.743/93),
olvidando-se de confrontá-lo com os princípios da seguridade social
norteadores da relação estabelecida entre as partes, notadamente na aplicação
da lei mais benéfica ao segurado:
artigo 34, parágrafo único, da Lei n. 10.741/03 (Estatuto do Idoso)" (fl. 261, e-
STJ).
Sem contrarrazões ao recurso especial (fl. 284, e-STJ).
Sobreveio o juízo de admissibilidade negativo na instância de origem (fls.
286/287, e-STJ), sob o fundamento de que a parte não exauriu a instância
ordinária, uma vez que o acórdão que julgou o agravo regimental foi por
maioria.
Sustenta a agravante que o voto vencido apenas se pronunciou sobre matéria
processual e não sobre o mérito da apelação.
Não apresentada contraminuta do agravo (fl. 296, e-STJ).
É, no essencial, o relatório.
A decisão de inadmissibilidade do recurso especial merece reforma.
Com efeito, não consta dos autos o voto vencido proferido no agravo
regimental. Todavia, verifica-se pela leitura do acórdão que o voto vencido do
Desembargador Federal Newton de Lucca tratava apenas de questão
processual, conforme se lê no acórdão (fl. 233, e-STJ):
"(...) vencido o Desembargador Federal Newton De Lucca, que lhe dava
provimento para que o recurso tivesse seguimento, com a inclusão do feito em
pauta para julgamento, com fulcro no artigo 557, § 1º, do CPC, nos termos do
relatório e voto da Sra. Desembargadora (...)" Sendo assim, a ausência de
interposição dos embargos infringentes na origem sobre essa questão
processual não veda a admissão do recurso especial.
A propósito:
"PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA.
ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ N.º 08/2008. EMBARGOS
INFRINGENTES. ART. 530 DO CPC. DISCUSSÃO SOBRE
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CABIMENTO.
1. O art. 530 do CPC condiciona o cabimento dos embargos infringentes a que
exista sentença de mérito reformada por acórdão não unânime, e não que o
objeto da divergência seja o próprio mérito tratado na sentença reformada.
2. Se o dispositivo não restringiu o cabimento do recurso apenas à questão de
fundo ou à matéria central da lide, não pode o aplicador do direito interpretar
a norma a ponto de criar uma restrição nela não prevista. Precedentes.
3. Ademais, o arbitramento dos honorários não é questão meramente
processual, porque tem reflexos imediatos no direito substantivo da parte e de
seu advogado. Doutrina de CHIOVENDA.
4. Os honorários advocatícios, não obstante disciplinados pelo direito
processual, decorrem de pedido expresso, ou implícito, de uma parte contra o
seu oponente no processo e, portanto, formam um capítulo de mérito da
sentença, embora acessório e dependente.
5. No direito brasileiro, os honorários de qualquer espécie, inclusive os de
sucumbência, pertencem ao advogado. O contrato, a decisão e a sentença que
os estabelecem são títulos executivos.
Nesse sentido, a Corte Especial do STJ fez editar a Súmula 306, com o seguinte
enunciado: "Os honorários advocatícios devem ser compensados quando
houver sucumbência recíproca, assegurado o direito autônomo do advogado à
execução do saldo sem excluir a legitimidade da própria parte". Portanto, os
honorários constituem direito autônomo do causídico, que inclusive poderá
executá-los nos próprios autos ou em ação distinta.
6. O capítulo da sentença que trata dos honorários, ao disciplinar uma relação
autônoma, titularizada pelo causídico, é de mérito, embora dependente e
acessório, de modo que poderá ser discutido por meio de embargos
infringentes se a sentença vier a ser reformada, por maioria de votos, no
julgamento da apelação.
7. Assim, seja porque o art. 530 do CPC não faz restrição quanto à natureza da
matéria objeto dos embargos infringentes - apenas exige que a sentença de
mérito tenha sido reformada em grau de apelação por maioria de votos -, seja
porque o capítulo da sentença que trata dos honorários é de mérito, embora
acessório e dependente, devem ser admitidos os embargos infringentes para
discutir verba de sucumbência.
8. A ausência de interposição dos embargos infringentes na origem sobre a
condenação em honorários advocatícios não veda a admissão do recurso
especial, a menos que o apelo verse exclusivamente sobre a verba de
sucumbência, caso em que não será conhecido por preclusão e falta de
exaurimento de instância.
9. Recurso especial provido. Acórdão sujeito ao art. 543-C do CPC e à
Resolução STJ n.º 08/2008."
(REsp 1113175/DF, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, CORTE ESPECIAL,
julgado em 24/05/2012, DJe 07/08/2012.)
Passo à análise do recurso especial.
Insurge-se a recorrente quanto à reforma da sentença que havia concedido o
benefício assistencial. Aduz que o benefício assistencial não deve ser
computado para fins de apuração da renda familiar, nos termos do art. 34,
parágrafo único, da Lei 8.742/92.
DA POSSIBILIDADE DE AFERIÇÃO DA MISERABILIDADE, POR
OUTROS MEIOS QUE NÃO APENAS A RENDA FAMILIAR PER
CAPITA Esta Corte Superior firmou o entendimento no sentido de que é
permitida a concessão do benefício a segurados que comprovem, a despeito da
renda, outros meios caracterizadores da condição de hipossuficiência, o que
ocorreu na hipótese dos autos.
Nesse sentido:
"PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. CONDIÇÃO DE
HIPOSSUFICIÊNCIA. CARACTERIZAÇÃO POR OUTROS MEIOS DE
PROVA, AINDA QUE A RENDA PER CAPITA EXCEDA 1/4 DO
SALÁRIO-MÍNIMO. PRECEDENTES.
RECURSO ESPECIAL. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N.º 07 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA.
1. Conforme entendimento firmado no julgamento do REsp n.º 1.112.557/MG,
de relatoria do Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, o critério previsto no
artigo 20, § 3.º, da Lei n.º 8.742/1993, deve ser interpretado como limite
mínimo, não sendo suficiente, desse modo, por si só, para impedir
a concessão do benefício assistencial.
2. Permite-se, nessa linha, a concessão do benefício a segurados que
comprovem, a despeito da renda, outros meios caracterizados da condição de
hipossuficiência.
3. A comprovação, na instância ordinária, da situação de miserabilidade,
impede a revisão do julgado o enunciado n.º 07 desta Corte.
4. Agravo regimental ao qual se nega provimento."
(AgRg no Ag 1.394.664/SP, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado
em 24.4.2012, DJe 3.5.2012.)
"AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. BENEFÍCIO DE
PRESTAÇÃO CONTINUADA. LOAS. ASSISTÊNCIA SOCIAL.
PREVISÃO CONSTITUCIONAL.
AFERIÇÃO DA CONDIÇÃO ECONÔMICA POR OUTROS MEIOS
LEGÍTIMOS.
VIABILIDADE. PRECEDENTES. PROVA. REEXAME.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N.º 7/STJ. INCIDÊNCIA.
1. Este Superior Tribunal de Justiça pacificou entendimento no sentido de que
o critério de aferição da renda mensal previsto no § 3.º do art. 20 da Lei n.º
8.742/93 deverá ser observado como um mínimo, não excluindo a
possibilidade de o julgador, ao analisar o caso concreto, lançar mão de outros
elementos probatórios que afirmem a condição de miserabilidade da parte e de
sua família.
2. 'A limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser considerada
a única forma de se comprovar que a pessoa não possui outros meios para
prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, pois é apenas
um elemento objetivo para se aferir a necessidade, ou seja, presume-se
absolutamente a miserabilidade quando comprovada a renda per capita inferior
a 1/4 do salário mínimo.' (REsp 1.112.557/MG, Rel. Min. NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 20/11/2009).
3. 'Em respeito aos princípios da igualdade e da razoabilidade, deve ser
excluído do cálculo da renda familiar per capita qualquer benefício de valor
mínimo recebido por maior de 65 anos, independentemente se assistencial ou
previdenciário, aplicando-se, analogicamente, o disposto no parágrafo único
do art. 34 do Estatuto do Idoso.' (Pet 2.203/PE, Rel. Min. MARIA THEREZA
DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 11/10/2011).
4. Agravo regimental a que se nega provimento."
(AgRg no Ag 1.394.595/SP, Rel. Min. Og Fernandes, Sexta Turma, julgado
em 10.4.2012, DJe 9.5.2012.)
Como visto acima, a matéria tratada neste ponto cuida dos meios de aferição
da condição de hipossuficiência econômica do idoso, ou do portador de
deficiência, para fins de concessão do benefício assistencial, bem como dos
efeitos da ADI n. 1.232-1.
A referida questão foi tratada no julgamento do REsp 1.112.557/MG,
submetido ao procedimento dos recursos repetitivos, estabelecido pela Lei n.
11.672/2008, em acórdão assim ementado:
"RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. ART. 105, III, ALÍNEA C DA CF.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL.
POSSIBILIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DA CONDIÇÃO DE
MISERABILIDADE DO BENEFICIÁRIO POR OUTROS MEIOS DE
PROVA, QUANDO A RENDA PER CAPITA DO NÚCLEO FAMILIAR
FOR SUPERIOR A 1/4 DO SALÁRIO MÍNIMO. RECURSO ESPECIAL
PROVIDO.
[...] 5. A limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser
considerada a única forma de se comprovar que a pessoa não possui outros
meios para prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família,
pois é apenas um elemento objetivo para se aferir a necessidade, ou seja,
presume-se absolutamente a miserabilidade quando comprovada a renda per
capita inferior a 1/4 do salário mínimo. 6. Além disso, em âmbito judicial vige
o princípio do livre convencimento motivado do Juiz (art. 131 do CPC) e não
o sistema de tarifação legal de provas, motivo pelo qual essa delimitação do
valor da renda familiar per capita não deve ser tida como único meio de prova
da condição de miserabilidade do beneficiado. De fato, não se pode admitir a
vinculação do Magistrado a determinado elemento probatório, sob pena de
cercear o seu direito de julgar. 7. Recurso Especial provido."
(REsp 1.112.557/MG, Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Terceira Seção, DJe
20/11/2009.)
No referido julgamento, foi decidido que é possível, com fundamento em
outros elementos que não apenas a renda familiar per capita inferior a 1/4 do
salário mínimo, demonstrar a condição de miserabilidade do beneficiado.
DO CÁLCULO PER CAPITA PARA A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO
SOCIAL Com relação à aplicação do art. 34, parágrafo único, da Lei 8.742/92,
a jurisprudência desta Corte firmou entendimento no sentido de que deve ser
excluído do cálculo familiar per capita qualquer benefício de valor mínimo
recebido por maior de sessenta e cinco anos, independentemente, se se trata de
benefício social ou previdenciário, aplicando-se, analogicamente, o disposto
no parágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso.
Neste sentido:
"INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA.
BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. RENDA MENSAL PER CAPITA
FAMILIAR. EXCLUSÃO DE BENEFÍCIO DE VALOR MÍNIMO
PERCEBIDO POR MAIOR DE 65 ANOS. ART. 34, PARÁGRAFO ÚNICO,
LEI Nº 10.741/2003. APLICAÇÃO ANALÓGICA.
1. A finalidade da Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), ao excluir da renda
do núcleo familiar o valor do benefício assistencial percebido pelo idoso, foi
protegê-lo, destinando essa verba exclusivamente à sua subsistência.
2. Nessa linha de raciocínio, também o benefício previdenciário no valor de
um salário mínimo recebido por maior de 65 anos deve ser afastado para fins
de apuração da renda mensal per capita objetivando a concessão de benefício
de prestação continuada.
3. O entendimento de que somente o benefício assistencial não é considerado
no cômputo da renda mensal per capita desprestigia o segurado que contribuiu
para a Previdência Social e, por isso, faz jus a uma aposentadoria de valor
mínimo, na medida em que este tem de compartilhar esse valor com seu grupo
familiar.
4. Em respeito aos princípios da igualdade e da razoabilidade, deve ser
excluído do cálculo da renda familiar per capita qualquer benefício de valor
mínimo recebido por maior de 65 anos, independentemente se assistencial ou
previdenciário, aplicando-se, analogicamente, o disposto no parágrafo único
do art. 34 do Estatuto do Idoso.
5. Incidente de uniformização a que se nega provimento."
(Pet 7.203/PE, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Terceira Seção, DJe
11.10.2011.)
No mesmo sentido, ainda, as seguintes decisões: Agravo de Instrumento
1.396.976/SP, Rel. Min. Gilson Dipp, DJe 24.2.2012, e Recurso Especial
1.261.109/SC, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe 6.2.2012.
Tendo a autora demonstrado que faz uso de medicamentos não fornecidos pelo
SUS, sua idade avançada, bem como seu estado grave de saúde, merece
provimento o recurso especial, para restabelecer a sentença de primeiro grau.
Ante o exposto, com fundamento no art. 544, § 4º, inciso II, alínea "c", do CPC,
conheço do agravo e dou provimento ao recurso especial para restabelecer a
sentença.
Publique-se. Intimem-se.
Brasília (DF), 22 de novembro de 2012.
MINISTRO HUMBERTO MARTINS Relator

III. DA NECESSIDADE DE CONCESSÃO DA TUTELA ANTECIPADA

A Lei processual civil prevê a possibilidade de o magistrado deferir tutelas provisórias de


urgência, antecipada ou cautelar, exigindo para tanto a demonstração, no caso concreto,
da probabilidade do direito e do perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, nos
termos no artigo 300.

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo
de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

A probabilidade do direito está evidenciada na deficiência visual do autor, bem como na


sua renda per capta inferior à ¼ do salário mínimo, requisitos exigidos pelo artigo 20,
§§2° e 3° da Lei 8.742/93.

O perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo está no comprometimento do


sustento do autor e sua família, pois um salário mínimo é insuficiente para o pagamento
de aluguel, luz, água, vestuário, medicamentos e alimentação, e caso não seja deferido de
pronto o benefício assistencial de prestação continuada ao autor, a sua subsistência está
comprometida.

Portanto, demonstrados os requisitos exigidos pelo artigo 300 do CPC para a concessão
da tutela antecipada, deve o réu ser compelido a pagar de pronto o benefício de prestação
continuada ao autor.

IV. DOS PEDIDOS


Diante do exposto requer a V. Exa.

a. Seja deferida a tutela antecipada, initio litis, para determinar o réu a conceder ao
autor o benefício assistencial de prestação continuada, sob pena de multa diária
para o caso de descumprimento da ordem, em valor a ser arbitrado por V. Exa.
b. Seja citado o réu para, querendo, no prazo legal, apresentar contestação, sob pena
de revelia e confissão;
c. Seja deferida à assistência judiciária, nos termos no artigo 98 do CPC.
d. Seja deferida a prioridade processual ao autor, nos termos do artigo 1.048, inciso
I do CPC, combinado com artigo 9°, inciso VII da Lei 13.146/15;
e. Seja designada a audiência de conciliação;
f. Seja intimado o Ministério Público Federal para todos os atos e termos do
processo;
g. Seja julgado procedente o pedido para condenar o réu à conceder ao autor o
benefício assistencial de prestação continuada, desde o requerimento
administrativo, ocorrido em 20/10/2022, acrescido de juros e correção monetária,
tornando definitiva a tutela antecipada porventura deferida;
h. Seja o réu condenado ao pagamento das custas e honorários advocatícios, caso o
processo atinja a via recursal;

Protesta provar o alegado por todos os meios de provas admitidas no direito.

Dá-se à causa o valor de R$ 20.832,00 (vinte mil oitocentos e trinta e dois reais).

Nestes Termos pede-se deferimento.

BELO HORIZONTE, 20 de fevereiro de 2023.

ADVOGADO...
OAB...

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