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A Parte Autora é maior de 65 anos, conforme comprova o documento de identidade anexo a essa
inicial.
No tocante ao núcleo familiar, cabe ressaltar que residem com a Parte Autora seu cônjuge, que é
aposentado por idade e recebe um salário mínimo, e mais 3 (três) filhos.
Por não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, a Parte
Autora requereu ao INSS, em 00.00.0000, o Benefício de Proteção Continuada, tendo o mesmo sido
indeferido pela Autarquia-Ré, sob a alegação de que a renda per capita da família é superior a 1/4 do
salário mínimo vigente. Cabe destacar que o/a requerente está inscrita no Cadastro Único de Programas
Sociais do Governo Federal – CadÚnico.
Buscando a correção de tamanha injustiça, recorre, a Parte Autora, à via judicial competente.
O benefício assistencial, na forma de prestação continuada, está previsto no art. 203, inc. V, da
Constituição Federal de 1988, in verbis:
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição a
seguridade social, e tem por objetivos:
[...]
V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal a pessoa portadora de deficiência e ao idoso que
comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme
dispuser a lei.
Sua regulamentação se deu por meio da Lei n. 8.742, de 07.12.1993 (Lei Orgânica da Assistência
Social), que exige, além da comprovação da idade ou da deficiência, que a renda familiar mensal per capita
seja igual ou inferior a 1/4 do salário mínimo (redação dada pela Lei n. 14.176/2021).
Assim, por possuir mais de 65 anos, a Parte Autora cumpre o primeiro requisito para a concessão do
benefício pretendido.
Quanto ao segundo requisito, ou seja, a renda familiar per capita igual ou inferior a 1/4 de SM, cabe-
nos ressaltar que a Parte também o cumpre, posto que a única renda proveniente do núcleo familiar é
auferida pelo cônjuge ou companheiro(a), pessoa idosa e cujo benefício de aposentadoria é de 1 (um)
salário mínimo.
Já é pacífico na jurisprudência que a renda mínima auferida por outro membro familiar não será
considerada para efeito do cálculo da renda familiar per capita.
Vejamos os ditames da Lei n. 10.741/2003 – Estatuto do Idoso:
Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 anos, que não possuam meios para prover sua subsistência nem de tê-la
provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário mínimo, nos termos da Lei
Orgânica da Assistência Social – LOAS.
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será
computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a LOAS.
O legislador, ao estabelecer a exceção para o cálculo da renda per capita, teve como objetivo
preservar a renda mínima auferida pelo idoso, ou seja, assegurar que o minguado benefício (de um
salário mínimo) não fosse considerado para efeito do cálculo da renda familiar per capita.
Desse modo, é possível estender, por analogia, tal raciocínio aos demais benefícios de renda mínima,
como é o caso do benefício recebido pelo esposo da Parte Autora, ainda que não fosse aquele previsto na
LOAS, na medida em que ambos se destinam à manutenção e à sobrevivência de pessoa idosa, porquanto
seria ilógico fazer a distinção apenas porque concedidos com base em suportes fáticos distintos.
Não pode, portanto, o valor recebido mensalmente pelo cônjuge ou companheiro(a) da Parte, maior de
65 anos, entrar no cálculo do benefício assistencial requerido, como entende a jurisprudência pátria:
STJ – REPETITIVO TEMA 640: “Aplica-se o parágrafo único do artigo 34 do Estatuto do Idoso (Lei n.
10.741/03), por analogia, a pedido de benefício assistencial feito por pessoa com deficiência a fim de que
benefício previdenciário recebido por idoso, no valor de um salário mínimo, não seja computado no cálculo
da renda per capita prevista no artigo 20, § 3.º, da Lei n. 8.742/93.”
Assim, uma vez excluída a renda no valor de um salário mínimo, não resta ao grupo familiar qualquer
rendimento que possa prover a subsistência do mesmo, sendo indispensável o deferimento do benefício
assistencial ora requerido para que se garanta a subsistência mínima, tanto da segurada, como de seus
filhos, ambos menores.
Vale lembrar que o STF, em julgamento da Repercussão Geral – Tema 27, fixou a seguinte tese: “É
inconstitucional o § 3.º, do art. 20, da Lei 8.742/1993, que estabelece a renda familiar mensal per capita
inferior a um quarto do salário mínimo como requisito obrigatório para concessão do benefício assistencial
de prestação continuada previsto no artigo 203, V, da Constituição” (Leading Case: RE 567985, Tribunal
Pleno, DJe 03.10.2013).
O STF, também, reputou inconstitucional o parágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso por
violar o princípio da isonomia, ao abrir exceção para o recebimento de dois benefícios assistenciais de
idoso, mas não permitir a percepção conjunta de benefício de idoso com o de deficiente ou de qualquer
outro previdenciário. A tese fixada em Repercussão Geral Tema n. 312, foi a seguinte: “É
inconstitucional, por omissão parcial, o parágrafo único do art. 34 da Lei 10.741/2003 (Estatuto do
Idoso)” (Leading Case: RE 580963, Tribunal Pleno, DJe 14.11.2013).
Por último e com base em precedentes jurisprudenciais mencionados, houve avanço legislativo com a
Lei n. 13.982/2020, que introduziu o § 14 no art. 20 da LOAS, para estabelecer que:
§ 14. O benefício de prestação continuada ou o benefício previdenciário no valor de até 1 (um) salário
mínimo concedido a idoso acima de 65 (sessenta e cinco) anos de idade ou pessoa com deficiência não será
computado, para fins de concessão do benefício de prestação continuada a outro idoso ou pessoa com
deficiência da mesma família, no cálculo da renda a que se refere o § 3º deste artigo.
Essa inclusão soluciona importante questão, reduzindo-se a judicialização desnecessária de novas
demandas para exclusão de renda de idosos e de deficientes de um mesmo grupo familiar.
Dessa forma, não resta dúvida de que a Parte Autora faz jus à concessão do Benefício Assistencial, em
razão da mesma preencher todos os requisitos legais que ensejam tal concessão.
Resta clara a violação aos ditames constitucionais e legislação federal, <ADEQUAR AO CASO
CONCRETO, LEMBRANDO DE INCLUIR LEGISLAÇÃO FEDERAL TAMBÉM, MESMO PARA
AÇÕES DE JUIZADOS, TENDO EM VISTA A ATUAL POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DE
IRDR>.