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HISTÓRIA

CONTEMPORÂNEA

Autor
Dennison de Oliveira

2009
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© 2007 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor
dos direitos autorais.

O48 Oliveira, Dennison de. / História Contemporânea. / Dennison


de Oliveira. — Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2009.
104 p.

ISBN: 978-85-7638-747-3

1. História contemporânea. 2. Relações internacionais. 3. Glo-


balização. 4. Economia I. Título.

CDD 909.8

Todos os direitos reservados.


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Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 • Batel
80730-200 • Curitiba • PR
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Sumário
Introdução: o mundo ao ­alvorecer do século XX | 9
A predominância da Europa | 9
Os EUA, a Alemanha e o Japão como potências emergentes | 10
A Segunda Revolução Industrial | 11
O imperialismo | 12
As forças da tradição e da transformação | 14

Primeira Guerra Mundial | 17


A política de alianças e as causas imediatas da guerra | 17
O impasse militar: a guerra de trincheiras | 18
As novas tecnologias e a guerra no ar e no mar | 19
O desfecho da guerra | 20
Conseqüências do conflito | 21

Revoluções socialistas e movimento operário | 25


Os vários socialismos e suas origens | 25
O movimento operário | 26
A Revolução Russa | 28
Outras revoluções socialistas | 29
A social-democracia | 30

Modelos econômicos: o ­desenvolvimento do ­capitalismo | 33


O taylorismo e o fordismo | 33
A urbanização | 35
A divisão internacional do trabalho | 37
A crise de 1929 e as relações internacionais | 37

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Modelos econômicos: o ­desenvolvimento do ­comunismo | 41
A nova sociedade socialista | 41
A planificação e seus objetivos | 42
A industrialização, urbanização e educação | 43
A coletivização e o fim da propriedade privada | 44
Economia, política e sociedade sob a ordem comunista | 45

Segunda Guerra Mundial | 47


A ascensão do nazifascismo e do militarismo japonês | 47
A mundialização do conflito | 48
As novas tecnologias: a guerra no ar e no mar | 50
O desfecho da guerra | 51
Conseqüências do conflito | 53

Guerra Fria e bipolarização | 57


Origens da Guerra Fria | 57
A bipolarização e as superpotências | 58
As guerras localizadas e a bipolarização | 60
A Guerra Fria, a descolonização e o Terceiro Mundo | 61
O fim da Guerra Fria | 63

Socialismo: seus limites e possibilidades | 65


A economia planificada e seus êxitos | 65
As limitações do planejamento centralizado e suas manifestações | 66
As reações do autoritarismo soviético | 68
A era da “estagnação” | 69
O fim do socialismo | 70

Capitalismo: suas crises e superações | 73


O estado do bem estar social (welfare state) e o keynesianismo | 73
O fordismo como projeto de sociedade | 75
As tensões e contradições do fordismo e do welfare state | 76
Os excluídos do sistema e suas manifestações | 77
O declínio e crise do fordismo e do keynesianismo | 78

Neoliberalismo, globalização e mundialização do capital no final do século XX | 81


O choque do petróleo e suas implicações | 81
A nova sociedade capitalista: a “acumulação flexível” | 82
O “Estado mínimo” | 83
O neoliberalismo e suas bases sociais e culturais de apoio | 84
O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85

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Terrorismo, guerras e conflitos | 87
Historicidade do terrorismo | 87
A questão palestina e o terrorismo | 88
As guerras árabe-israelenses | 89
Os grupos terroristas nos países do Primeiro Mundo | 90
As guerras no Iraque e Afeganistão | 91

Economia e sociedade no século XXI | 95


O fim da política | 95
Os EUA como única super potência | 96
A ascensão da China | 97
O aquecimento global e os problemas ambientais | 98
A questão demográfica | 99

Referências | 101

Anotações | 103

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Apresentação
Prezados alunos,

Este livro refere-se à História Geral e abrange os séculos XX e XXI. Nele, estão
contidos os principais eventos, tendências e instituições que mais influência
exerceram sobre a conformação da sociedade na qual vivemos. Por se tratar
de uma síntese, espera-se que ele sirva como material de introdução ao estudo
da História Contemporânea e também como guia para aprofundamento dos
assuntos aqui tratados.

Pretende-se que o texto de cada capítulo seja inteligível em si mesmo.


Contudo, é indispensável não perder de vista que tanto o viver social quanto
o tempo histórico são um todo contínuo e indivisível e, se o dividimos
formalmente, é apenas para fins de estudo. O leitor deve atentar para as
diferentes durações dos fenômenos históricos e sociológicos aqui descritos, as
quais recorrentemente transcendem o conteúdo abarcado em cada capítulo.

Além disso, é indispensável não perder de vista que a disciplina de História


exige um constante exercício de erudição. É necessário, tanto quanto possível
e, na medida dos interesses de cada um, ler as obras completas, confrontar
os originais com as diferentes leituras que deles são feitas e tentar se manter
atualizado com os contínuos avanços da ciência da História. Como qualquer
outro campo do conhecimento, a História está em constante evolução no que
se refere à elaboração de novas interpretações e à descoberta de novas fontes
e registros.

Mais do que um conjunto de informações e conteúdos, a História é um


método de entendimento e interpretação da realidade. A História não é e nem
pretende ser apenas e tão-somente o estudo do que já se passou, ou o estudo do

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passado. O que se pretende com este livro é contribuir para que o leitor desenvolva
uma forma de pensar historicamente o processo de constituição da sociedade na
qual vive e, desta forma, possa aperfeiçoar o entendimento dos fenômenos que lhe
são contemporâneos.

Dennison de Oliveira

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Capitalismo:
suas crises e superações
O estado do bem estar social (welfare state)
e o keynesianismo
A superação da crise de 1929 dependeu de uma série de transformações tanto na natureza quan-
to no papel do Estado. A institucionalização de um padrão permanente de intervenção – e não mais
apenas transitório, como aquele da época das guerras mundiais – demandou a criação ou transforma-
ção das instituições estatais numa amplitude e profundidade sem precedentes. Simultaneamente, as
empresas e os sindicatos passavam por transformações igualmente importantes. Os poderes de “orga-
nização” do mercado por parte dos trustes, cartéis e monopólios passaram para uma nova fase, pautada
agora por uma atuação ainda mais intensa do capital financeiro. Os sindicatos finalmente foram reco-
nhecidos como representantes jurídicos dos seus filiados e, em seu nome, firmavam acordos cujo cum-
primento poderia ser garantido judicialmente.
A ocorrência simultânea dessas transformações no Estado, nas empresas e nos sindicatos não
foi nem rápida e nem isenta de problemas e, aparentemente só foi resolvida após a Segunda Guerra
Mundial. Desde 1936, com a publicação do influente livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro
por John Maynard Keynes, já se dispunha de uma formulação teórica para a adoção de políticas públi-
cas contra a crise. Claro que a partir do ano seguinte à mundialização da crise, praticamente todos os
países estavam experimentando, em algum grau, políticas para estimular a retomada da demanda, do
consumo e da produção. Embora generalizada, a simples percepção de que algum novo padrão de in-
tervenção do Estado sobre a economia deveria ser estabelecido não bastava, por si só, para lograr sua
implementação. Para tanto, uma considerável soma de interesses estabelecidos na iniciativa privada –
que seriam atingidos por um eventual aumento do poder do Estado ou dos sindicatos – teriam de se
submeter às novas regras e, aparentemente, foi apenas com a eclosão da guerra que tal sujeição veio a

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74 | História Contemporânea

se verificar. Para além dos interesses estabelecidos, receosos de qualquer restrição aos direitos que de-
tinham sobre suas propriedades, deve-se levar em conta também o papel desempenhado pela ideolo-
gia liberal a qual, mesmo diante das evidências da crise de 1929, continuava a entender a intervenção
do Estado na economia como uma afronta à lógica das leis de mercado.
Por trás das origens da crise estava um enorme descompasso entre a produção, tornada cada vez
maior pelos ganhos de produtividade, e o consumo, este cada vez mais restrito pelos baixos níveis sala-
riais e o desemprego em massa. Finalmente, havia se compreendido a lógica de Ford, segundo quem à
produção de massa deveria corresponder um consumo de massa. Demandas históricas da classe operá-
ria como descanso remunerado e salário-mínimo deveriam se tornar – como também defendia Ford –
universais, a fim de sustentar o nível de consumo que agora se fazia necessário. A tentativa pessoal de
Ford no sentido de convencer seus pares, os industriais da era da produção em massa, a agir assim, foi
infrutífera. Somente leis federais votadas pelo Congresso dos EUA a partir de 1932, já sob o impacto ma-
nifesto da crise, é que deram ao Estado o poder de impor um salário-mínimo e reconhecer aos sindica-
tos o direito de representar seus filiados.
Tais iniciativas encontram similares por todo mundo àquela época, como a lei promulgada
na França limitando a jornada de trabalho em quarenta horas semanais, ou mesmo no Brasil, com a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) de 1942. Mas foi a eclosão da Segunda Guerra Mundial que pos-
sibilitou ao Estado obter, como no conflito anterior, poderes praticamente ilimitados para regulamentar
a economia, fixar margens de lucro e salários, impor metas e prazos para produção e distribuição e até
administrar diretamente o processo produtivo.
Simultaneamente, ao longo dos anos 1930 e 1940, sucessivos governos europeus vão adotando
políticas inspiradas no programa da socialdemocracia. Estas políticas se caracterizavam pela universa-
lização de acesso dos cidadãos aos serviços públicos, numa base pública e gratuita. Entendia-se estas
políticas tanto como uma etapa no caminho rumo ao socialismo, quanto condição indispensável para
o exercício da cidadania política. Ao garantir um mínimo de bem-estar social a todos, o Estado (wel-
fare state) capacitava os indivíduos a agirem politicamente de forma livre, sem os constrangimentos
típicos da dependência pessoal que é uma dimensão inerente aos indivíduos que padecem de insufici-
ência crônica de recursos para sua própria manutenção. Serviços de educação, saúde, previdência so-
cial, transporte coletivo etc. foram nacionalizados no todo ou em parte, tornando-se acessíveis a todos
e caracterizando-se como uma forma de salário social, ou indireto, aos cidadãos.
Ao mesmo tempo em que o Estado assumia, sob inspiração socialdemocrata, esses papéis dis-
tributivos, exercia também uma função vital para o bom funcionamento da economia, ao executar as
políticas anti-cíclicas, tal qual propostas por Keynes. Defendia Keynes que usando das políticas fiscal
(através da fixação do nível dos impostos) e monetária (regulando o montante de papel-moeda em cir-
culação) poderia o Estado evitar os piores extremos das variações dos ciclos de crescimento e reces-
são que se alternavam nas economias capitalistas. Um crescimento muito acelerado, o qual geralmente
pressiona os índices de inflação, poderia ser contido com taxas de juros e impostos mais altos; inversa-
mente, o crescimento insuficiente para a geração de empregos, poderia ser estimulado com taxas de
juros e impostos mais baixos.
O resultado final dessas transformações foi a constituição de uma espécie de pacto social entre o
Estado, a empresa e o sindicato. Caberia ao Estado promover políticas que garantissem um crescimento
estável e continuado, tanto através das políticas anti-cíclicas, quanto através da manutenção do Estado
do bem-estar social e a correspondente distribuição de renda. Às empresas, caberia sustentar o inves-
timento na produção em massa, gerando ao mesmo tempo empregos e mantendo a renda da classe

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Capitalismo: suas crises e superações | 75

trabalhadora, como condição da sustentação do consumo de massa. Dos sindicatos, finalmente, era es-
perado que renunciassem à ação revolucionária e, em troca da estabilidade no emprego de seus filiados
e eventual participação nos ganhos de produtividade, sustentassem e elevassem a produção e a distri-
buição de mercadorias em massa.

O fordismo como projeto de sociedade


O modelo de sociedade concebido por Ford previa abundância de bens de consumo, desde que
estes pudessem ser produzidos em massa e, o que era igualmente importante, consumidos em massa.
Embora jamais tenha perdido de vista a importância do mercado de exportação, Ford entendia que era o
mercado interno que deveria ser o responsável por absorver o essencial do que era produzido em série.
No limite, os operários deveriam ser capazes de comprar o que produziam, daí o interesse das fábricas em
produzir o mais rápido e barato possível e garantir um mínimo de remuneração aos seus funcionários.
A imposição do salário-mínimo e do descanso remunerado enquanto política pública permitiu
finalmente a concretização desses ideais, embora deixasse diversos problemas ainda sem solução. Por
exemplo: considerável esforço psicológico deveria ser exercido sobre os trabalhadores para que eles
dedicassem seu tempo livre e renda disponível para destinar seu dinheiro para o consumo dos bens
produzidos em massa, e não para serem dissipados em estabelecimentos de prestação de serviços tra-
dicionalmente associados à cultura operária como o bar, o cassino ou o prostíbulo.
Quando estas objeções puderam ser superadas, finalmente se logrou um tipo de sociedade de con-
sumo de massa, cuja característica mais notável no que diz respeito à estética, é o caráter dominante do
modernismo. A busca por produtos mais baratos, que pudessem ser fabricados mais rapidamente, acabou
por impor uma extrema simplificação e padronização, características centrais da estética modernista. No
que dizia respeito ao ramo de atividade de Ford, isso levou durante anos à fabricação de um mesmo tipo
de automóvel, simples, despojado e “standarizado”, isto é, fabricado sempre da mesma forma, com pouca
ou nenhuma consideração pelo gosto do consumidor. A invariabilidade da forma e aparência dos produ-
tos fabricados em massa chegava ao extremo de não se prever cores diferentes. O próprio Ford teria dito
que o consumidor poderia comprar carros da cor que quisesse, desde que fosse preta.
De forma equivalente, esta estética foi aplicada à cidades em processo acelerado de expansão (ou
reconstrução, como foi no caso da Europa devastada pela Segunda Guerra Mundial) resultando na ar-
quitetura e no urbanismo modernos. Imposições relacionadas com o déficit habitacional demandavam
a produção, o mais rápido e barato possível, de grande número de unidades habitacionais. Essas, geral-
mente destinadas a um público de baixa renda, acabavam por assumir todas a mesma forma. Fachadas
simples, sem símbolos ou elementos de decoração, prédios feitos exclusivamente com ângulos retos,
extrema economia na execução dos interiores, simplicidade de produção etc. levaram à construção-re-
lâmpago de conjuntos habitacionais, numa base de produção totalmente fordista.
Ao par com esta arquitetura, surgiu um urbanismo modernista o qual visava simplificar ao máxi-
mo a gestão dos problemas urbanos, dos quais um dos mais urgentes era oferecer soluções para a cir-
culação dos automóveis particulares – logicamente já então produzidos também em massa. Surgem aí
os projetos urbanísticos dominados por numerosas e enormes pistas expressas, destinadas a absorver
o fluxo crescente de veículos automotores, em detrimento dos espaços e vias destinadas aos pedestres.
A necessidade de garantir o fluxo do processo produtivo levou à criação de espaços especializados em

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76 | História Contemporânea

determinadas funções urbanas. Ganha novo fôlego o zoneamento funcional, segundo o qual para cada
região da cidade haverá usos possíveis, permitidos ou proibidos. As cidades foram a partir daí divididas
em zonas residenciais, industriais, comerciais e administrativas que tanto revelavam quanto impunham
uma vocação potencial de cada uma delas.

As tensões e contradições do fordismo e do welfare state


Os esforços combinados do fordismo, do keynesianismo e do welfare state foram em boa medida
responsáveis pelo mais longo e sustentado período de crescimento da história do capitalismo. De fato,
entre 1945 e 1975, os países avançados do mundo ocidental viveram tamanha fase de prosperidade e
bem-estar que muitos se referem a este período como “os trinta anos gloriosos”. Contudo, várias ten-
dências conspiravam para abalar os fundamentos do pacto social fordista, fazendo com que por volta
do final deste período, as mesmas tensões, conflitos e contradições que ele combatia, retornassem com
intensidade ainda maior.
Os problemas começaram quando voltou a se manifestar a queda da demanda, explicitada na
saturação dos mercados internos das nações mais desenvolvidas. Dez anos depois do fim da Segunda
Guerra Mundial, o esforço de reconstrução da Europa estava encerrado, como também já estava con-
cluído o abastecimento dos mercados internos daqueles países da maior parte dos bens de consumo
duráveis, como automóveis, aparelhos de TV etc. Conseqüentemente, para essas nações, entre as quais
também devemos incluir o Japão, já recuperado do conflito, a busca de mercados externos para ab-
sorver seus excedentes tinha de começar imediatamente. À medida que mais e mais produtores riva-
lizavam entre si no mercado mundial, ia caindo o preço de seus produtos e, conseqüentemente, sua
margem de lucro. O problema foi agravado pela industrialização de uma série de países periféricos na
América Latina e na Ásia. No mínimo, isso ajudou a derrubar a demanda pelos produtos industrializados
numa base fordista de produção. No limite, levou ao surgimento de novos rivais no mercado mundial,
para toda uma série de produtos, como foi o caso da Coréia, Brasil etc.
Com a demanda cada vez menor, os lucros também diminuíam cada vez mais, levando o Estado
a reduzir progressivamente o volume de arrecadação de impostos. Com menos recursos arrecadados,
começaram a surgir dificuldades para manter as políticas anti-cíclicas e o próprio Estado do bem-estar
social. Uma tentativa por parte do Estado de superar tanto a queda da demanda interna quanto a redu-
ção no volume de impostos arrecadados foi a colocação de mais papel-moeda em circulação. A fabri-
cação de mais dinheiro permitia ao Estado aumentar seu consumo da produção interna (por exemplo,
com o Programa Espacial norte americano, a Guerra do Vietnã, a “guerra contra a pobreza” etc.) e com-
pensar o declínio na arrecadação de impostos, mas ao custo de provocar uma inflação de preços cada
vez maior.
Como resposta a estas questões, um número substancial de empresas dos países desenvolvidos
começou a transferir seu processo produtivo para países da periferia, onde inexistia ou era pouco res-
peitado o pacto fordista. De fato, as filiais das empresas multinacionais preferiam instalar unidades em
países como Brasil e Filipinas porque ali os níveis salariais eram muito mais baixos, livrando-se desta for-
ma dos onerosos acordos coletivos de trabalho firmado com os sindicatos no país-sede. Reforçavam
desta maneira a tendência à queda de lucros nos seus países de origem, pela concorrência que lhes fa-
ziam a partir das nações em processo de industrialização.

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Capitalismo: suas crises e superações | 77

Tudo isso levou os países centrais do capitalismo a índices de crescimento cada vez menores, dé-
ficit público crescente, inflação em alta, enfim, todos fatores de declínio da eficácia do pacto social for-
dista em garantir a estabilidade e crescimento econômico. Por volta de 1965, estes problemas já estarão
se manifestando de forma incontornável, compondo uma crise geral do sistema diante da impossibi-
lidade de serem revistos os compromissos assumidos com os sindicatos (através da manutenção dos
empregos relativamente privilegiados do fordismo), e com a sociedade civil (manutenção das políticas
redistributivas do Estado de bem-estar social) o que levará à uma onda de greves operárias, protestos
estudantis e populares que se tornarão típicos do fim dos anos 1960.

Os excluídos do sistema e suas manifestações


O fordismo e o keynesianismo foram capazes de promover uma expansão fenomenal do merca-
do de bens de consumo. Ao longo da sua vigência, crescentes massas populares se tornaram capazes
de consumir as mercadorias produzidas em massa. Automóveis, eletrodomésticos, vestuário, calçados
etc. se tornaram, enfim, bens de uso corrente para a maior parte da população.
Em geral, os acordos entre as grandes empresas monopolistas e os sindicatos de trabalhadores
nunca abarcaram uma maioria dos membros da classe operária, ou dos candidatos a ela pertencerem.
De fato, a maior parte dos filiados aos sindicatos era composta de membros masculinos e de cor branca.
Em princípio, mulheres e negros não eram aceitos como filiados aos sindicatos de forma que o trabalho
relativamente privilegiado, o qual previa estabilidade no emprego e participação nos ganhos de produ-
tividade, resultado do pacto social fordista, atingia uma minoria de trabalhadores.
Isso explica a força que ganhou na década de 1960, nos EUA, o Movimento Feminista e o Movimento
dos Direitos Civis dos negros. Ao longo da década, estes dois setores excluídos do pacto social fordista
vão sucessivamente promover greves, passeatas e manifestações de massa, nas quais eram reivindica-
das o mesmo tratamento – e nível salarial – de que já gozavam os integrantes dos grandes sindicatos.
No caso dos negros, também os direitos políticos eram reivindicados, uma vez que em vários estados
da federação norte-americana eles não dispunham dos mesmos direitos de uso do espaço e dos servi-
ços públicos que os outros cidadãos. De fato, em particular nos estados do sul, restaurantes, lanchone-
tes, banheiros, ônibus e cinemas eram rigidamente segregados, estabelecendo-se direitos de uso destes
equipamentos em função da cor da pele do usuário (se branco ou “não-branco”). Adicionalmente, o fato
das juntas eleitorais serem manipuladas pelos interessados na segregação racial, significava que apenas
uma minoria de negros conseguia se alistar como eleitor. Então, também a busca do direito do voto en-
tre os negros aparecia como manifestação da exclusão deles do pacto social vigente.
Finalmente, a rejeição ao fordismo enquanto padronização tanto estética quanto do estilo de
vida, também se verificou na segunda metade dos anos 1960. Estilos alternativos de vida, em boa medi-
da baseados em orientações religiosas não-ocidentais, recusavam o consumismo e/ou a padronização
dos bens de consumo, pregando um estilo de vida frugal, distante das implicações nocivas ao meio-am-
biente e à saúde individual. O caso mais vivível que exemplifica essas reações contrárias às imposições
estéticas do fordismo certamente foi o movimento hippie. Para os hippies, as formas de se vestir, calçar
e cortar (ou não) os cabelos, deveriam ser entendidas como resultado de opções derivadas da liberda-
de de escolha pessoal, ser afirmação da individualidade de cada um, e não resultado de padrões aceitos
como “normais”, “socialmente aceitáveis” ou, pior ainda, de imposições da “última moda”.

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O declínio e crise do fordismo e do keynesianismo


No início dos anos 1970, os países desenvolvidos viviam a assim chamada “estagflação”: uma com-
binação de índices de crescimento cada vez menores com taxas crescentes de inflação. Sucessivas ten-
tativas foram feitas, e isso por governos de diversas inclinações ideológicas, no sentido de se conter a
crise. Por um lado, tentava-se reduzir os benefícios trabalhistas a fim de diminuir custos e aumentar a lu-
cratividade das empresas, base da arrecadação da maior parte dos impostos. Por outro, se buscava uma
redução do gasto social, a fim de conter o déficit público, reduzir a emissão de papel- moeda e baixar a
inflação. Nenhuma dessas políticas deixou de enfrentar intensos e geralmente bem sucedidos protes-
tos trabalhistas e populares.
Da parte das empresas, às voltas com a concorrência cada vez maior de produtores por todo
mundo em desenvolvimento, um outro objetivo era mudar o foco da produção em massa voltada para
atender um público homogêneo e indiferenciado para uma produção de escopo, destinada a atender
nichos específicos de mercado que ainda não estivessem saturados. Isso implicava em menos compro-
missos com investimentos caros e de longo tempo de maturação, como até então era norma na pro-
dução em massa vigente no fordismo. Também as empresas buscavam cada vez mais se evadir dos
comprometimentos com os acordos coletivos de trabalho que haviam firmado com os grandes sindica-
tos. Para tanto, apelavam para a terceirização e sub-contratação e, eventualmente, para a mão-de-obra
empregada de maneira informal, a qual não era reconhecida pelo pacto social fordista.
Enquanto a economia crescia – embora cada vez menos – e o Estado podia bancar amplamente
a seguridade social no qual o seguro-desemprego ocupava lugar essencial, a correlação de forças favo-
receu os movimentos trabalhistas e populares na manutenção do essencial das políticas do Estado do
bem-estar-social e do próprio pacto social fordista. Será necessária uma recessão em escala mundial,
como aquela detonada pelo Choque do Petróleo, em 1973, o qual encareceu substancialmente o preço
do produto, para inverter essa correlação. A partir da disseminação da crise por todo mundo, assiste-se
à explosão do desemprego, tornada para muitos permanente, o que enfraquece de forma decisiva o po-
der da classe operária. Será somente num quadro de recessão econômica que os patrões conseguirão,
através do recurso ao crescente exército industrial de reserva, impor seus termos aos trabalhadores e le-
var a uma revisão dos compromissos que haviam assumido na origem do pacto social fordista.

Atividades
1. Estabeleça a relação entre as políticas fiscal e monetária e o nível de crescimento econômico.

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2. Pesquise e compare as diferentes trajetórias das indústrias de automóveis Ford (EUA) e Rolls
Royce (GB).

3. Interprete a relação entre a taxa de crescimento econômico e o poder de barganha da classe ope-
rária.

Dicas de estudo
No Brasil do início dos anos 1990, no decorrer de uma intensa e sem precedentes transformação
nos processos produtivos decorrentes da abertura do mercado interno à concorrência estrangeira, reto-
mou-se a idéia de um pacto social envolvendo os sindicatos, as empresas e o Estado. Estabeleça um pa-
ralelo entre essa experiência histórica e o fordismo-keynesianismo a partir da leitura do seguinte texto:
Câmaras Setoriais: histórico e acordos firmados – 1991/95, de Patrícia Anderson. Editora IPEA, 1999.
Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_
obra=4293>. Acesso em: 24 maio 2007.

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80 | História Contemporânea

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