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DIVERSIDADE

ÉTNICO-CULTURAL
ORIENTAÇÕES DE ESTUDO
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado
e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica
e atuação profissional, veja a seguir algumas
recomendações básicas:

PROGRAMAÇÃO
Determine um horário
fixo para estudar

SAÚDE FÍSICA E MENTAL CONCENTRAÇÃO


Não se esqueça de descansar, Mantenha o foco! Evite se
alimentar-se e hidratar-se distrair com as redes sociais

ORGANIZAÇÃO COMUNICAÇÃO
Conserve seu material e local Mantenha contato com seus colegas
de estudos sempre organizados e tutores para trocar ideias!

ABSORÇÃO EMPENHO
Aproveite as indicações de Seja original!
Material Complementar Nunca plagie trabalhos

Participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar


a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores.
Condição Humana e
Diversidade das Culturas
em Tempos de Globalização
Responsável pelo Conteúdo
Prof. Dr. Rodrigo Medina Zagni

Revisão Textual Revisão Técnica


Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Prof.ª Dr.ª Vivian Fiori

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Evidenciar as formas de globalização no mundo atual;
• Destacar as influências na cultura a partir da globalização.

SUMÁRIO
• Individualismo e Globalização............................................................................................................................... 4
• Globalização Tecnológica....................................................................................................................................... 5
• Globalização e Política........................................................................................................................................... 5
• Globalização e Diversidade Cultural....................................................................................................................... 7
• Dimensão Econômica da Globalização................................................................................................................... 8
• Globalização e Sociedade....................................................................................................................................... 8
• A Mais Dura Crítica à Globalização......................................................................................................................... 9
• Intolerância em Sociedades Globais....................................................................................................................... 10
UNIDADE
Condição Humana e Diversidade das Culturas em Tempos de Globalização

Individualismo e Globalização
Nesta Unidade trataremos das influências do processo de globalização na cultura, nas socie-
dades, na economia que, de maneira integrada, interferem nas condições humanas.

Figura 1 – Eric Hobsbawm


Fonte: Reprodução

#ParaTodosVerem. Eric Hobsbawn. Fotografia em preto e branco de um homem, ele usa


óculos e tem cabelos grisalhos, a imagem é frontal de cabeça e ombro. Fim da descrição.

O historiador inglês Eric Hobsbawm (1917-2012) afirmava que, com a globalização, surgiu
uma espécie de dissolidarização de classes, constituída pelo que classificou como “valores de
um individualismo associal absoluto”. Com isso, Hobsbawm (1995) problematizou um novo
ciclo sistêmico do capitalismo, caracterizado pelo fenômeno da circulação global de capital, de
modo a lançar luzes em seus sintomas sociais, na forma de indivíduos egocentrados.
As novas necessidades de manutenção do frágil e já consolidado modo de produção molda-
ram inéditas relações sociais, em uma espécie de isolamento em que os indivíduos se alienam
da condição de classe, ou seja, de pertencerem a grupos de interesses comuns.

O movimento trabalhista teve força quando havia condições de desenvolvi-


mento, quando sindicatos e partidos podiam levar suas reivindicações a Es-
tados capazes de fazer concessões. Tudo isso terminou por conta da transfor-
mação nos modelos de produção. Como foram reduzidos em número, também
passou a ser menor a sua ação política. Há uma diferença também no tipo da
população trabalhadora, por causa, especialmente, dos progressos da educação
em massa. Uma das coisas que eram características do movimento operário no
passado era a boa qualidade de seus líderes, que eram cultivados e mantidos
pelos sindicatos. Hoje, os mais inteligentes vão para a universidade sem com-
promisso de voltar, e viram outras coisas. Podem continuar a ser de esquerda,
mas já não são mais operários. Isso faz diferença. (HOBSBAWM, 1995)

Como, então, poderíamos definir globalização sem nos prendermos somente aos aspectos
econômicos superestruturais e à frágil ideia de “aldeia global”, buscando como paradigma o
exercício de Hobsbawm em aproximar a distante retórica sobre globalização do cotidiano de
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Condição Humana e Diversidade das Culturas em Tempos de Globalização

uma sociedade que privilegia o consumo de massa de tudo o que é amoedável pelo capital, in-
cluindo desejos, pessoas, ideias e sentimentos?

Figura 2 – Fredric Jameson


Fonte: Wikimedia Commons

#ParaTodosVerem. Eric Fredric Jameson. Fotografia colorida de um homem, ele usa


óculos, camisa roxa, terno e gravata marrons, tem cabelos grisalhos, é um pouco calvo.
A imagem é frontal de cabeça e ombro. Fim da descrição.

Definiremos globalização a partir dos estudos do crítico literário e político marxista Fredric
Jameson (1934-), tratando dos cinco níveis que a caracterizariam para demonstrar a coesão e
articular políticas de resistência à globalização e seus efeitos negativos. São os níveis tecnológi-
co, político, cultural, econômico e social.

Globalização Tecnológica
Sintetizando a metodologia de Fredric Jameson no estudo Globalização e estratégia polí-
tica, o autor elege, como dissemos, cinco níveis a partir dos quais discorre sobre os resultados
de sua análise.
O primeiro nível é o tecnológico e, logo de início, o termo já evidencia um dos principais
antagonismos do conceito de globalização, que supõe a totalidade de algo.
A Revolução da Informática e as novas tecnologias de informação, apesar de terem se cons-
tituído de forma irreversível na produção e organização industriais e comercialização de pro-
dutos, não atingem a totalidade da população mundial, em sua grande maioria excluída não
apenas do dialeto digital, mas do próprio mercado de consumo para esses produtos.
A exclusão digital produzida no bojo de um sistema que se pretende totalizante, assiste ainda
à formação de um exército de analfabetos digitais, cada vez mais excluídos das relações de pro-
dução mecanizadas e de acesso restrito à mão de obra extremamente especializada.

Globalização e Política
Da tecnologia para a política, Jameson dedica parte de seu estudo ao papel desempenhado
pelo Estado-nação que, segundo alguns teóricos, teria dado lugar às corporações transnacionais
– conhecidas na década de 1970 apenas como multinacionais.
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O neoliberalismo – ou a doutrina de livre mercado – defendido para que referidas corpora-


ções pudessem operar circulando capitais em âmbito global, ilusoriamente faz pensar em um
distanciamento do Estado nas medidas econômicas para a autorregulação do mercado.
Por outro lado, o Estado passou a ser um agente fundamental nesse sistema, a partir da ins-
tituição de mecanismos legais e medidas intervencionistas que contraditoriamente garantem a
“autogestão” das economias, requerendo, para tanto, uma efetiva intervenção governamental e
um Estado centralizador.
Outro antagonismo é o papel nacionalista visivelmente exercido pelos povos e governos
europeus e o estadunidense. Ao passo do frágil discurso de “aldeia global”, temos a ascensão
de partidos políticos de extrema direita, ligados muitas vezes a grupos religiosos intolerantes,
políticas racistas e xenófobas, na maior parte da Europa e também no Novo Mundo.

Figura 3
Fonte: Acervo do Conteudista
Durante discurso pronunciado no campo histórico do Rütli, durante feriado na-
cional, Samuel Schmid, atual presidente da Confederação Helvética e ministro da
Defesa, é vaiado e insultado por setecentos neonazistas.

#ParaTodosVerem. Fotografia colorida de cinco jovens brancos, três com camisetas


pretas e dois com camisetas vermelhas, todos têm o cabelo raspado, os dois jovens
da frente estão com os braços levantados e parecem gritar algo. Ao redor dos jovens,
estão bandeiras vermelhas. Fim da descrição.

Há um evidente descompasso entre o discurso de aceitação da diversidade cultural em um


mundo “cada vez menor” e o comportamento de povos europeus, notadamente cultos, tais
como franceses, ingleses e alemães, repudiando publicamente africanos, hindus e latino-ame-
ricanos; ou estadunidenses, que levantam barreiras físicas e legais para impedir a imigração de
mexicanos, os quais comumente morrem nas fronteiras.
Na Alemanha, os neonazistas do Nationaldemokratische Partei Deutschlands (NPD), lide-
rados por Peter Marx – jurista e secretário geral do grupo parlamentar do NPD –, conquistaram
doze cadeiras no Parlamento Regional do Estado da Saxônia, o Landtag, em Dresden, denun-
ciando a assustadora aceitação de 9,2% dos eleitores, ou seja, 19.087 almas, aos preceitos da
causa nazista que se pensava adormecidos.
No discurso político do partido inclui-se a atribuição do desemprego que atinge boa par-
te dos jovens alemães aos imigrantes, ao contrário do que qualquer estatística racional possa
concluir em relação à proporção entre a força de trabalho estrangeira e a alemã naquele Estado.

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Figura 4 – Jean Marie Le Pen


Fonte: Reprodução

#ParaTodosVerem. Jean Marie Le Pen. Fotografia colorida de um idoso branco, calvo e


usando óculos, terno e gravata. Na imagem é frontal de cabeça e ombro. Fim da descrição.

Em 2002, quando foram divulgados os resultados do primeiro turno da eleição presidencial


francesa, o mundo “prendeu a respiração” com o sucesso de Jean-Marie Le Pen, da Frente Na-
cional francesa, grupo político de extrema direita com intrínsecas relações com a NPD. O mes-
mo ocorreu na Áustria, com a eleição de um primeiro-ministro neonazista.
Na Inglaterra, basta que jogadores latino-americanos ou africanos toquem na bola, em par-
tidas de futebol, para que hooligans imitem grunhidos aludidos a macacos – o mesmo fenôme-
no ocorre na Espanha.

Globalização e Diversidade Cultural


O discurso pró-globalização nos Estados Unidos constitui-se cuidadosamente sobre uma
base “politicamente correta”, fundamentalmente em relação às diferenças étnicas, pregando
uma aceitação que, de início, sabe-se frágil em um país que tem profundas tradições racistas.
Outro ponto central no discurso pró-globalização é o papel das unidades caracterizadas
como Estados-nações e seu ficcional desaparecimento.
Para Eric Hobsbawm (1995) as economias nacionais seriam “unidades mais velhas”, defini-
das por políticas territoriais de Estado, que estariam reduzidas às complicações decorrentes de
atividades transnacionais. Nos argumentos de Fredric Jameson (2001) percebemos que essas
unidades políticas são desestruturadas pela ideia e políticas neoliberais em virtude das neces-
sidades do grande capital para a promoção de um estágio de comercialização mundial, com a
formação de gigantescos blocos econômicos.
Na prática, o que vemos é o enfraquecimento desses governos, alimentando a hegemonia de
Estados centrais nessa nova ordem econômica, estabelecida por meio de comércios agressivos.
Ao invés de desaparecerem os limites nacionais, os Estados-nações são paulatinamente subor-
dinados a Estados centrais.
Como explicar o desaparecimento da ideia de nação com o ressurgimento do nacionalismo
politicamente à direita dos movimentos sociais? Como coexistir a concepção de aceitação das
diversidades étnicas e culturais com as graves condutas de intolerância religiosa, perseguição a
homossexuais, negros e latino-americanos em diversas realidades nacionais.
Enquanto o discurso neoliberal, na periferia do sistema capitalista, defende a abertura de
suas fronteiras fiscais e de seus mercados para a penetração de seus produtos e tecnologias, no
centro do sistema vigora o nacionalismo econômico.
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A hegemonia política de Estados centrais no sistema capitalista caminha ao passo do chamado


imperialismo cultural, ascendente principalmente após o término da Segunda Guerra Mundial,
com os tratados de concessão para emissoras televisivas norte-americanas e de garantia de merca-
do para produções cinematográficas hollywoodianas, em acordos firmados com diversos países.
As indústrias culturais locais de entretenimento dificilmente irão suplantar
Hollywood com uma forma global bem-sucedida no mundo inteiro, em espe-
cial devido ao fato de que o próprio sistema americano sempre incorpora ele-
mentos exóticos do estrangeiro, um pouco de cultura samurai, outro de música
sul-africana, o cinema de John Woo, comida tailandesa, e assim por diante.
(JAMESON, 2001)

A globalização cultural, lê-se no discurso de Jameson (2001), atua como tentativa de unifor-
mizar o mundo a um modelo de cultura de massa, no campo televisivo, musical, comportamen-
tal, gastronômico, da indumentária e em todos os outros.
Não se trataria de uma tentativa ingênua de tomada de mercados, evidenciando que a cul-
tura, na Era do capital, constitui produto, é amoedável e, portanto, caminha ao passo da eco-
nomia; mas a destruição de culturas locais onde se estabelece. Implica no desaparecimento de
restaurantes típicos onde se fixam os fast foods; no desestímulo à produção cinematográfica de
países antes tradicionais nesse ramo.

Dimensão Econômica da Globalização


Para tratarmos da dimensão econômica da globalização, segundo Fredric Jameson (2001),
temos que retomar o princípio de que não houve o desaparecimento dos Estados-nações diante
das corporações transnacionais, afinal: o autor nos mostra que há uma notória cumplicidade
entre ambos e os discursos em torno de sua inexistência mascaram seus interesses individuais,
com o uso da fantasia criada pela ideia da globalização que, grosso modo, pode ser definida
como um novo ciclo sistêmico no modo de produção vigente, no qual há necessidades de circu-
lação global de capital, cuja acumulação primitiva tem novo lugar nas megacorporações.
O Estado tem o papel de garantir a quebra de barreiras para seu livre fluxo. Não se trata de
um movimento natural: há um grande interesse das corporações em se estabelecer em países
pobres, alimentando-se de miseráveis e desesperados como mão de obra barata e semiescrava,
de isenções fiscais e concessões de governos corruptos e de multidões de desempregados nos
locais de onde migraram. O mesmo ciclo se desencadearia novamente quando as mesmas cor-
porações abandonassem esses novos locais, já não mais tão pobres com a criação de um merca-
do consumidor a partir da instituição de mão de obra assalariada, seguindo em busca de novos
miseráveis que aceitassem uma espécie de “escravidão voluntária”.
Para Fredric Jameson (2001), da mesma forma que, em nível cultural, o estabelecimento
econômico em áreas de exploração e a transferência de operações para locais mais baratos mi-
nariam as economias e destruiriam os mercados nacionais, evidenciando um dos vários as-
pectos perigosos da globalização, como a especulação destrutiva de moedas estrangeiras e a
dependência econômica de países subdesenvolvidos, submissos às políticas econômicas dos
países do Primeiro Mundo, em troca de empréstimos e investimentos. No mundo economica-
mente globalizado, nesses termos, transferências instantâneas de capital poderiam empobrecer,
da noite para o dia, regiões inteiras.

Globalização e Sociedade
O último nível caracterizado por Fredric Jameson em sua análise sobre a globalização é o so-
cial e, neste aspecto, a destruição do que se convencionou como tecido cotidiano faz-se evidente
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com o distanciamento do indivíduo do conceito de grupo e classe. Os padrões de unidades


nucleares de família e clã cederam à sociedade moderna impessoal de consumo que, em seus
próprios dizeres, “individualiza e atomiza”, negando o zõom politikòs de Aristóteles.

Figura 5
Fonte: Getty Images

#ParaTodosVerem. Fotografia colorida de um homem empurrando um carrinho de


supermercado na rua de uma cidade. Ele representa um homem brasileiro durante a
coleta de lixo reciclável, principalmente latas. Fim da descrição.

Para Fredric Jameson trata-se do elemento-chave que desencadearia toda a configuração de


nossa sociedade, explicando-a melhor do que os conceitos de base moralista de “individualismo
corrosivo” ou “materialismo consumista”.

A Mais Dura Crítica à Globalização


John Peter Berger (1926-), crítico de arte, romancista, pintor e escritor inglês, prefaciando
a obra Fahrenheit 11 de setembro, do cineasta estadunidense Michael Francis Moore (1954-),
caracterizou o papel dos Estados Unidos sob o governo George W. Bush (1946-), em relação à
globalização e às megacorporações, como uma “quadrilha” que teria tomado de assalto – pela
fraude eleitoral denunciada no filme – a Casa Branca e o Pentágono “[...] para que o poder dos
Estados Unidos dali em diante estivesse a serviço, prioritariamente, dos interesses globais das
grandes empresas” (MOORE, 2004).
A afirmação parece dura pelas adjetivações que traz; porém, sintetiza os interesses que le-
varam à formação de um grupo político a serviço das megacorporações, que teria conduzido o
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poder da nação economicamente mais desenvolvida e que se pretenderia a “polícia do mundo”,


nos dizeres de Jameson, dando o tom de uma globalização extremadamente violenta, na defesa
de um modelo de mundo, o que possibilitaria dizer de uma espécie de “globalitarismo”.
Sua percepção é a de que a globalização se caracterizaria como um embuste que mascararia
uma nova fase do capital, no interesse das megacorporações aliadas aos Estados-nações mais
ricos e industrializados do sistema capitalista, subordinados aos Estados Unidos que, de for-
ma predatória, alimentar-se-ia das economias dos países pobres, da mão de obra semiescrava,
aculturando povos inteiros no escopo de aliciar o consentimento unânime a todo e qualquer
intervencionismo para o estabelecimento e manutenção de um modelo de hegemonia político-
-econômica, que prescindiria da dominação cultural.

Intolerância em Sociedades Globais


Como vimos até aqui, o que nos constitui essencialmente são as diferenças. O imperativo,
para a construção de uma sociedade tolerante é, portanto, a aceitação do outro, do diverso.
É impensável, nesses termos, que sociedades plurais, como a brasileira, convivam com gra-
ves problemas de intolerância exatamente ao diverso. Nos grandes centros urbanos, em cidades
consideradas como globais, grupos religiosos profanam imagens e símbolos rituais de outras
religiões, o racismo velado ou desvelado circulando como “enlatados culturais”, condutas de
violência contra homossexuais – dos espancamentos ao assassínio –, o trato dos estrangeiros
como inferiores e uma série de outros exemplos revelam que as sociedades que se dizem plane-
tárias convivem mal com a diversidade.

Figura 6 – Erich Fromm (1900-1980) foi um Psicólogo Alemão


Fonte: Reprodução

#ParaTodosVerem. Ericj Fromn (1900 - 1980) foi um psicólogo alemão. Fotografia em


branco e preto de um homem sentado e escrevendo. No fundo da imagem tem vários
livros. O homem está usando uma camisa clara e um paletó escuro, utiliza óculos, está
um pouco calvo e o cabelo é preto. Fim da descrição.

Podemos afirmar, sob vários aspectos, que ao invés de valores de tolerância à diversidade,
estamos na vigência de uma cultura de ódio expresso, vazado nos mais variados âmbitos da vida
social, o que nos impõe uma imensa e urgente tarefa a fazer: construir uma contracultura da to-
lerância para reafirmar o homem, os próprios valores humanísticos, no seio de uma sociedade
planetária que desumaniza, valorando o “ser” pelo “ter”, como nos disse o psicanalista e escritor
alemão Erich Fromm.
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Nos casos de guerras ideológicas, religiosas e étnicas, a intolerância chega a ultrapassar os


limites da irracionalidade com relação a indivíduos ou grupos específicos.
Apesar de as guerras serem extremamente racionalizadas, de os morticínios na modernida-
de serem perpetrados com o recurso fundamental da técnica e de a intolerância ter se desenvol-
vido, como nos disse o escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano Humberto Eco
(1932-), de tipo selvagem para categórico, não podemos deixar de verificar que os argumentos
sobre os quais tentam se ancorar condutas de intolerância em alguma base de cientificidade, fa-
zem-no construindo ou se reapropriando de pseudociências, criadas em essência para legitimar
seculares preconceitos ou ideias de superioridade civilizacional.
Infelizmente, os exemplos de intolerância concreta em sociedades que se apresentam como glo-
bais são vários. A modernidade pode ser caracterizada, primordialmente, por essas ocorrências.

Figura 7
Fonte: Wikimedia Commons

#ParaTodosVerem. Fotografia em preto e branco que representa pessoas sendo execu-


tadas, as quais caem mortas em uma vala comum. Um homem magro em destaque
sentado próximo da vala aguarda a sua execução, atrás dele está um soltado em pé
apontando a arma para sua cabeça. No fundo da imagem vários soldados observando
a cena. Fim da descrição.

Os nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial, ao perpetrarem o abominável: o Holocaus-


to; os conflitos étnico-nacionalistas na África; as sistemáticas tentativas de “limpeza étnica” nos
Bálcãs; e o “barril de pólvora” que se tornou o Oriente Médio, entre tantos outros exemplos.
Temos graves questões humanitárias em jogo, que não devem ser preteridas em relação às
ideologias, convicções religiosas ou pertenças étnicas. O homem universal e seus direitos ina-
lienáveis devem ser o cerne das reflexões sobre a política, não apenas um dos elementos com-
ponentes de um sistema mecânico-funcionalista.
Nesse contexto conturbado por ocorrências de ódio expresso em uma sociedade que propa-
gandeia valores universais e totalizantes, seria possível estabelecer uma cultura de paz em favor
da tolerância? Sociedades fragmentadas por diferentes grupos sociais, como é o caso, por exem-
plo, dos países que constituem a América Latina, experimentariam qual tipo de globalização?
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O modelo de desenvolvimento, ou de progresso que adotou a civilização ocidental, entende


tal progresso como puramente técnico, como o meio capaz de promover o progresso humano.
Em verdade, a própria ideia de progresso deve ser repensada para incorporar uma gama
muito mais variada de relações, para além dos processos produtivos. É preciso, então, pensar
o progresso em termos totalizantes e meios para sua consecução, que abarque o homem e suas
aspirações, não meras modernizações abstratas: é preciso repensar o homem para repensar a
própria ideia de civilização, tendo como horizonte o mundo que queremos.

Figura 8
Fonte: freepalestinemovement.org

#ParaTodosVerem. Gravura colorida que representa uma situação de ataque. Homem


correndo com um tanque de guerra logo atrás. Fim da descrição.

Atualmente, os exemplos mais latentes de intolerância no mundo globalizado são as cons-


tantes epidemias de fome em países periféricos do sistema capitalista; o reinventado imperialis-
mo e o velho discurso civilizador dos países ricos; a ascensão de uma direita ultrarreacionária
como força política na Europa; o conflito israelense-palestino; a retórica de negação iraniana
em relação ao Holocausto judeu durante a Segunda Guerra Mundial; a ascensão do terrorismo
como ameaça global; os novos/velhos terrorismos de Estado; os conflitos étnico-nacionalistas
na África; golpes militares; a hiperexploração de trabalhadores pobres em vários lugares do
mundo; o trabalho infantil e a pedofilia; a pena de morte nos Estados Unidos e em tantos outros
países; o estupro legalizado no matrimônio afegão; o fundamentalismo em qualquer religião; a
ideia de que matar pode ter um propósito divino, entre tantos outros exemplos possíveis.

Figura 9
Fonte: memoriasdaditadura.org.br

#ParaTodosVerem. Imagem em preto em branco de um homem com os olhos e boca


tampados por mãos que saem do desenho, assim ele não vê nada e não fala nada. Fim
da descrição.
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Obviamente, pensar a tolerância em sociedades duais, em formações sociais eivadas de contra-


dições e com gravíssimos problemas de subdesenvolvimento e dependência, é uma tarefa muito
mais difícil, mas que faz muito mais sentido. Isso porque temos, na América Latina, uma das mais
violentas histórias de conflitos civilizacionais, desde a colonização; a hecatombe que vitimou civi-
lizações antiquíssimas; a escravidão; as guerras de independência – excluindo-se daí a experiência
lusófona –; o ciclo de civilização e barbárie; o caudilhismo; o populismo; as ditaduras; as revolu-
ções sociais; a organização dos setores subalternos, oprimidos, como forças políticas etc.
A América Latina é complexa, apaixonante e pode ter ainda muito que ensinar aos povos da
Terra em termos de multiculturalismo, hibridismo, aceitação das diferenças e consecutivas su-
perações operadas pelos “de baixo” que tantas vezes “assaltaram o céu”, termo muito adequado,
embora originalmente utilizado em outro contexto, do filósofo alemão Karl Marx (1818-1883),
referindo-se ao efêmero – mas significativo – sucesso da Comuna de Paris, em 1871.
Seria preciso, portanto, para os novos tempos de circulação mundializada do capital, ou
como queira, de globalização, repensar o homem na adversidade e frente os desafios a serem
superados pelas novas/velhas sociedades.
Entendendo a intolerância como um dos maiores desafios a serem superados em um con-
texto de multiculturalismo, devemos observar sua ocorrência também no plano político, como
o recurso a meios excessivamente coercitivos para a garantia, pela força ou ameaça do uso da
força, de apenas uma interpretação de mundo, o que leva à ideia de civilidade ou cidadania
como a adoção de comportamentos de obediência plena e irreflexiva.
Seria preciso repensar o indivíduo de forma plena, exatamente como aquele que deve tomar
as rédeas do destino em suas mãos, o agente de sua própria história – e não aquele que anula a
si, as suas particularidades, aquilo que o constitui como único, em nome de uma ideologia que
uniformize corações e mentes e que o torne estupidamente obediente, como gado.

Figura 10 – Milton Santos


Fonte: memoriasdaditadura.org.br

#ParaTodosVerem. Fotografia do rosto de um homem negro olhando para o lado es-


querdo. Ele sorri com a mão fechada próxima da boca. Usa óculos, camiseta de cor
neutra. Fim da descrição.

Essa obediência não se manifesta apenas em relação aos Estados; mas à própria sociedade de con-
sumo de massa na difusão de seus valores. Podemos utilizar, para a análise desse aspecto, o concei-
to de globalitarismo, cunhado pelo geógrafo brasileiro Milton Santos (1926-2001), quem entendia o
consumo de massa como o “fundamentalismo” dos novos tempos. Não seriam as ideologias políticas
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Condição Humana e Diversidade das Culturas em Tempos de Globalização

os controladores desse “não admirável mundo novo”: o que nos uniformiza, padroniza e nos torna
subservientes seriam os valores partilhados por essa sociedade materialista, difundidos pelas megacor-
porações, que nos submeteriam à ditadura da aparência, que entenderiam indivíduos, valorizando-os
e lhes atribuindo a própria existência social em relação ao repertório de bens tridimensionais que con-
seguissem concentrar no tempo efêmero de sua existência.
A ideologia vigente não seria política, totalitarista; mas do consumo acrítico, sem sentido e
nocivo ao próprio Planeta, igualmente fundamentalista.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Mundialização e Cultura
ORTIZ, R. Mundialização e cultura. São Paulo: Brasiliense, 1996.

Por uma outra Globalização: Do Pensamento Único à Consciência Universal


SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. São
Paulo: Record, 2005.

Filmes
Encontro com Milton Santos
Encontro com Milton Santos, ou o mundo global visto do lado de cá (89 min., 2007). Documentário
feito a partir da entrevista de Milton Santos sobre a globalização.
https://youtu.be/oP9WeauOvWc
Entre os Muros da Escola
Entre os muros da escola. François Marin (François Bégaudeau) trabalha como professor de Língua
Francesa em uma escola de Ensino Médio, localizada na periferia de Paris, onde há um choque de
culturas, já que há franceses e outros imigrantes provenientes de diferentes países.
https://youtu.be/SIdal2w1K1U
Hotel Ruanda (2004)
Hotel Ruanda (2004). Em 1994, um conflito político em Ruanda levou à morte de quase um milhão
de pessoas em apenas cem dias. Sem apoio dos demais países, os ruandenses tiveram de buscar saídas
em seu próprio cotidiano para sobreviver. Uma das quais foi oferecida por Paul Rusesabagina (Don
Cheadle), que era gerente do hotel Milles Collines, localizado na capital do País. Paul abrigou no hotel
mais de 1.200 pessoas durante o conflito.
https://youtu.be/3wf8prFBpIM

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Condição Humana e Diversidade das Culturas em Tempos de Globalização

Referências
ARRIGHI, G.; SILVER, B. J. Caos e governabilidade no moderno sistema mundial. Rio de
Janeiro: Contraponto; UFRJ, [20--?].
HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX, 1914-1991. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.
JAMESON, F. A cultura do dinheiro. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
MOORE, M. O livro oficial do filme Fahrenheit 11 de setembro. São Paulo: Francis, 2004.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000.
SANTOS, M. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico informacional.
São Paulo: Hucitec, 1994.
SEGATO, R. L. Formações de diversidade: nação e opções religiosas no contexto da globa-
lização. In: Jornada sobre Alternativas Religiosas na América Latina, 6., 6-8 nov. 1996, Porto
Alegre, RS.
VOLTAIRE. Cartas filosóficas. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
WERNECK, J. Da diáspora globalizada: notas sobre os afrodescendentes no Brasil e o início
do século XXI. 2003. Paper (Curso A Teoria Crítica da Cultura Hoje: Alguns Caminhos Possí-
veis) – Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.

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