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A GEOPOLÍTICA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

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Sumário
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................................... 2

1. O QUE É MEIO AMBIENTE? ........................................................................... 3

2. ALGUNS PARADIGMAS DA CIÊNCIA AMBIENTAL ....................................... 5

2.1-Desenvolvimento Sustentado .......................................................................... 5


2.2-Participação Social .......................................................................................... 7
3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL POPULAR ............................................................. 9

4. ENSINAR E APRENDER EM ADUCAÇÃO AMBIENTAL .............................. 12

5. A EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILERA ........................ 18

6. O DESPERTAR GEOPOLÍTICO DA CONTRADIÇÃO DESENVOLVIMENTO X


MEIO AMBIENTE .............................................................................................................. 22

6.1-Os questionamentos ambientais do conceito de desenvolvimento ............... 26


7. REFERÊNCIAS:............................................................................................. 31

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em


atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com
isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em
nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no
desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de
promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem
patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras
normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável


e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética.
Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de
cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do
serviço oferecido.

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1. O QUE É MEIO AMBIENTE?

Figura: 1

Para esta pergunta poderemos obter as mais diferentes e variadas respostas, que
indicam às representações sociais, o conhecimento científico, as experiências vividas
histórica e individualmente com o meio natural. Para a realização da educação ambiental
popular, é importante termos um conceito que oriente as diferentes práticas. Assim,
definimos meio ambiente como o lugar determinado ou percebido onde os elementos
naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações implicam
processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de
transformação do meio natural e construído.

Nesta definição de meio ambiente fica implícito que:

1 - Ele é "determinado": - quando se trata de delimitar as fronteiras e os momentos


específicos que permitem um conhecimento mais aprofundado. Ele é "percebido" quando

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cada indivíduo o limita em função de suas representações sociais, conhecimento e
experiências cotidianas.

2 - As relações dinâmicas e interativas indicam que o meio ambiente está em


constante mutação, como resultado da dialética entre o homem e o meio natural.

3 - Isto implica um processo de criação que estabelece e indica os sinais de uma


cultura que se manifesta na arquitetura, nas expressões artísticas e literárias, na tecnologia,
etc.

4 - Em transformando o meio, o homem é transformado por ele. Todo processo de


transformação implica uma história e refletem as necessidades, a distribuição, a exploração
e o acesso aos recursos de uma sociedade.

A definição de meio ambiente acima exige um aprofundamento teórico que conta


com a contribuição de diferentes ciências que se aglutinam no que se convencionou chamar
de Ciência Ambiental. Tem se tornado cada vez mais claro e consensual que a Ciência
Ambiental só se realizará através da perspectiva interdisciplinar.

A problemática ambiental não pode se reduzir só aos aspectos geográficos e


biológicos, de um lado, ou só aos aspectos econômicos e sociais, de outro. Nenhum deles,
isolado, possibilitará o aprofundamento do conhecimento sobre essa problemática. À
Ciência Ambiental cabe o privilégio de realizar a síntese entre as ciências naturais e as
ciências humanas, lançando novos paradigmas de estudo onde não se "naturalizarão" os
fatores sociais e nem se "socializarão" os fatores naturais. Diferentes áreas de estudo de
disciplinas diversas podem contribuir para o desenvolvimento da Ciência Ambiental dentro
da ideia de interdisciplinaridade.

No entanto, esta ideia enfrenta algumas dificuldades para se concretizar, tanto em


nível teórico como em nível prático. Se, atualmente, temos cada vez mais trabalhos teóricos
que se baseiam no conhecimento acumulado nas diferentes ciências (incluindo as exatas),
podemos ainda notar a dificuldade para muitos autores se lançarem nas ciências que não
dominam com a mesma profundidade atingida nas suas especialidades. Esses autores
não ousam trilhar por ciências onde não terão o mesmo reconhecimento de seus pares e
ainda serem alvos fáceis de críticas dos especialistas dessas outras ciências.

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Devemos também considerar o extremo corporativismo ainda presente nos meios
acadêmicos e científicos, que impede a troca de experiências e informações entre cientistas
de especialidades diferentes e supostamente antagônicas.

A Ciência Ambiental exige dos atores envolvidos conhecimento aprofundado,


espírito curioso e modéstia diante do desconhecido. Na sua fase atual, que é de busca da
síntese e da perspectiva interdisciplinar, é fundamental a troca de conhecimentos de
origens científicas diversas, possibilitando dar algumas respostas às complexas questões
que fazem parte do seu quadro teórico.

2. ALGUNS PARADIGMAS DA CIÊNCIA AMBIENTAL

Figura: 2

2.1-Desenvolvimento Sustentado

Observamos que nos últimos anos o conceito de desenvolvimento sustentado tem


substituído na literatura especializada os conceitos de desenvolvimento alternativo e
ecodesenvolvimento. Porém, esses conceitos são originados da Conferência de Estocolmo
de 1972, sendo que o de desenvolvimento alternativo lhe é anterior. A partir dessa
Conferência, o ecodesenvolvimento foi o conceito mais fundido na literatura especializada,
até, principalmente, a publicação do Report Brundtland em 1987.

Pearce et alii (1989) observam que existem diferentes definições de


desenvolvimento sustentado que ilustram as diferentes perspectivas apresentadas,

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sobretudo na segunda metade da década de 80, na literatura anglo-saxônica. À
parte esta questão de conceitualização, o que nos parece importante enfatizar é que
atualmente as propostas de desenvolvimento econômico que não levam em consideração
os fatores ambientais estão condenadas ao esquecimento.

As recentes mudanças no cenário político internacional têm mostrado que tanto sob
o capitalismo como sob o socialismo a questão ambiental tem um peso político muito
grande que interessa tanto a uns quanto a outros. Motivo pelo qual a ideia de
desenvolvimento sustentado tem estado presente nos debates e acordos internacionais.
Porém, ela não se apresenta de forma homogênea, como já foi assinalado por Pearce et
alii (1989).

Nas sociedades capitalistas periféricas, a ideia de desenvolvimento sustentado não


pode se restringir à preservação de recursos naturais, visando o abastecimento de matérias
primas às gerações futuras, como tem sido enfatizado nos países de capitalismo avançado.
Elementos básicos das necessidades humanas e intimamente dependentes da
problemática ambiental, como transportes, saúde, moradia, alimentação e educação, estão
longe de terem sido resolvidos.

Nos pontos comuns e divergentes entre sociedades capitalistas desenvolvidas e


periféricas, podemos considerar que, para a realização do desenvolvimento sustentado em
nível global, é de fundamental importância o estabelecimento de uma nova ordem
econômica e ecológica, onde países dos hemisférios Norte e Sul possam dialogar em
igualdade de condições. Porém, esse diálogo (se ocorrer) não será sem dificuldades, pois
a falta de homogeneidade dos países do Terceiro Mundo e a passividade frente ao poderio
econômico (e militar) dos países do Norte são duas dificuldades evidentes.

Em face disso, qualquer que seja o conceito de desenvolvimento, dificilmente pode


garantir, pacificamente, às gerações futuras de qualquer parte do globo, o patrimônio
natural e cultural comum da humanidade.

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2.2-Participação Social

Os movimentos ecológicos surgidos nas sociedades capitalistas desenvolvidas nos


anos 70 se caracterizam inicialmente por uma crítica ao modelo de sociedade industrial.

A esse início "contra cultural", foram se aglutinando tanto os movimentos


preservacionistas de espécies animais e vegetais, com os movimentos pacifistas e
antinucleares.

O surgimento e a evolução desses movimentos devem ser vistos dentro do contexto


da participação civil em sociedades democráticas. A organização de grupos e a posterior
constituição de "partidos verdes" só se tornaram possíveis graças à crescente mobilização
da população frente a decisões do Estado. Nos países onde a democracia é incipiente, a
organização da população se faz com resultados menos satisfatórios, mas não menos
combativos. É importante assinalar que a visão de Estado e da participação da sociedade
civil nas diferentes ideologias políticas, que se posicionam nos países da América Latina,
influi na prática de organizações civis frente à questão ambiental.

Se o que aparece com mais frequência é a ideia de autonomia frente ao Estado, no


entanto ela apresenta conotações ideológicas muito diferentes. Num primeiro momento,
tivemos a influência das ideias autonomistas surgidas nos anos 60, onde se caracteriza a
perspectiva crítica ao Estado centralizador e autoritário, às suas opções de
desenvolvimento e de saque ao meio ambiente com as suas consequências sociais.

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Figura: 3

No entanto, esta posição mais crítica foi perdendo terreno nos últimos anos a favor
de tendências que, embora contrárias à interferência do Estado, se posicionam e atuam no
terreno das ideias neo-liberalizantes.

A participação da população nas questões ambientais tem basicamente se


destacada nos grandes centros urbanos, mas também fora deles, aglutinando diferentes
camadas sociais em torno de questões específicas. Inúmeras entidades ecológicas e /ou
ambientalistas surgiram no continente nos últimos anos, porém com penetração mais
localizada, e muitas delas atreladas a interesses econômicos e políticos nem sempre muito
claros. Podemos considerar que essa quantidade de novas organizações ocorre devido ao
processo de democratização. A atuação de cada um desses movimentos e a sua
continuidade ficará por conta daqueles que: apresentarem respostas aos graves problemas
ambientais, puderem discuti-las democraticamente e tiverem meios econômicos e técnicos
para viabilizá-las. Várias propostas de participação têm sido colocadas à sociedade, porém
só a autonomia dos movimentos sociais frente ao Estado, ao s partidos políticos, meios de

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comunicação de massa, monopólios econômicos e seitas religiosas poderá garantir o seu
potencial crítico ao modelo de desenvolvimento, favorecendo a consolidação da
democracia no continente. Isso não ocorrerá, no entanto, sem o desenvolvimento da
consciência de cidadania, possível através da educação popular ambiental.

3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL POPULAR

Figura: 4

Depois da reunião do "Clube de Roma" em 1968 e da "Conferência das Nações


Unidas sobre o Meio Ambiente Humano" em Estocolmo em 1972, a problemática ambiental
passou a ser analisada na sua dimensão planetária. Nesta última conferência, uma das
resoluções indicadas no seu relatório final apontava para a necessidade de se realizarem
projetos de educação ambiental.

Em 1977, a UNESCO realizou em Tbilisi, URSS, a primeira Conferência Mundial de


Educação Ambiental, após a realização de inúmeras outras a nível regional, nos diferentes
continentes. Em1987, em Moscou, foi realizada a segunda Conferência Mundial que
reafirmou os objetivos da educação ambiental indicados em Tbilisi.

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Surgidos do consenso internacional, os objetivos da educação ambiental são:

1 - Consciência: Ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem uma


consciência e uma sensibilidade acerca do meio ambiente e dos problemas a ele
associados.

2 - Conhecimento: Ajudar os grupos sociais e os indivíduos a ganharem uma grande


variedade de experiências.

3 - Atividades: Ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem um conjunto


de valores e sentimentos de preocupação com o ambiente e motivação para participarem
ativamente na sua proteção e melhoramento.

4 - Competência: Ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem


competências para resolver problemas ambientais.

5 - Participação: Propiciar aos grupos sociais e aos indivíduos uma oportunidade


de se envolverem ativamente, em todos os níveis, na resolução de problemas relacionados
com o ambiente (UNESCO, 1977, p.15).

Esses elementos fundamentam experiências diversas em educação ambiental a


nível escolar e extraescolar.

Nesta perspectiva de educação popular se incluem os objetivos da educação


ambiental, só que a primeira tem uma tradição pedagógica e política voltada para o avanço
das camadas populares. Avanço este que inclui melhores condições de vida, democracia
e cidadania. A opção política explícita da educação popular não se encontra facilmente nos
projetos de educação ambiental que têm sido realizados no Brasil, em particular. Um estudo
mais aprofundado sobre isso na América Latina é necessário ser feito. São também poucas
as opções e projetos de educação ambiental para as camadas populares, embora esta
necessidade e reivindicação já tenham sido a pontadas em trabalhos que se situam nos
limites da educação realizada em escolas públicas de São Paulo (Reigota, 1987 e 1990).

A educação ambiental popular, no entanto, deverá ser realizada prioritariamente com


os movimentos sociais, associações e organizações ecológicas, de mulheres, de
camponeses, operários, de jovens, etc., procurando fornecer um salto qualitativo nas suas
reivindicações políticas, econômicas e ecológicas.

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Figura: 5

A sua realização possibilitará recuperar o potencial crítico dos movimentos


ecológicos, que têm se caracterizado pelo conservadorismo, tecnocracismo, elitismo, entre
outros "ismos", assim como propiciar a participação social nas questões ambientais das
principais vítimas do modelo de desenvolvimento econômico, que ignora as suas
consequências sociais e ecológicas.

A educação ambiental popular terá certamente um papel importante nos próximos


anos, já que muito resta a fazer nos planos teórico e prático para atingirmos uma melhor
qualidade de vida, a democracia e a cidadania. O papel que a América Latina tem e terá
nos próximos anos, no debate internacional sobre o meio ambiente, será de importância
fundamental para estabelecimento de uma nova ordem econômica e ecológica
internacional.

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4. ENSINAR E APRENDER EM ADUCAÇÃO AMBIENTAL

Figura: 6

A principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir para a


formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na realidade socioambiental de
um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e
global. Para isso é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se
proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e aprendizagem
de procedimentos. E esse é um grande desafio para a educação. Gestos de solidariedade,
hábitos de higiene pessoal e dos diversos ambientes, participação em pequenas
negociações são exemplos de aprendizagem que podem ocorrer na escola.

Assim, a grande tarefa da escola é proporcionar um ambiente escolar saudável e


coerente com aquilo que ela pretende que seus alunos aprendam, para que possa, de fato,
contribuir para a formação da identidade como cidadãos conscientes de suas
responsabilidades com o meio ambiente.

Por outro lado, cabe à escola também garantir situações em que os alunos possam
colocar em prática sua capacidade de atuação. O fornecimento das informações, a
explicitação e discussão das regras e normas da escola, a promoção de atividades que
possibilitem uma participação concreta dos alunos, desde a definição do objetivo, dos
caminhos a seguir para atingi-los, da opção pelos materiais didáticos a serem usados,

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dentro das possibilidades da escola, são condições para a construção de um ambiente
democrático e para o desenvolvimento da capacidade de intervenção na realidade.

Entretanto, não se pode esquecer que a escola não é o único agente educativo e
que os padrões de comportamento da família e as informações veiculadas pela mídia
exercem especial influência sobre os adolescentes e jovens.

Figura: 7

No que se refere à área ambiental, há muitas informações, valores e procedimentos


aprendidos pelo que se faz e se diz em casa. Esses conhecimentos poderão ser trazidos e
debatidos nos trabalhos da escola, para que se estabeleçam as relações entre esses dois
universos no reconhecimento dos valores expressos por comportamentos, técnicas,
manifestações artísticas e culturais.

Além disso, o rádio, a TV e a imprensa constituem uma fonte de informações sobre


o Meio Ambiente para a maioria das pessoas, sendo, portanto, inegável sua importância no
desencadeamento dos debates que podem gerar transformações e soluções efetivas dos
problemas locais. No entanto, muitas vezes, as questões ambientais são abordadas de
forma superficial ou equivocadas pelos diferentes meios de comunicação. Notícias de TV
e de rádio, de jornais e revistas, programas especiais tratando de questões relacionadas
ao meio ambiente têm sido cada vez mais frequentes.

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Paralelamente, existe o discurso veiculado pelos mesmos meios de comunicação
quando propõem uma ideia de desenvolvimento que não raro entra em conflito com a ideia
de respeito ao meio ambiente. São propostos e estimulados por meio do incentivo ao
consumismo, desperdício, violência, egoísmo, desrespeito, preconceito, irresponsabilidade
e tantas outras atitudes questionáveis dentro de uma perspectiva de melhoria de qualidade
de vida.

Por isso, é imprescindível os educadores relativizarem essas mensagens, ao mostrar


que elas traduzem um posicionamento diante da realidade e que é possível haver outros.

Figura: 8

Desenvolver essa postura crítica é muito importante para os alunos, pois isso lhes
permite reavaliar essas mesmas informações, percebendo os vários determinantes da
leitura, os valores a elas associados e aqueles trazidos de casa. Isso os ajuda a agir com
visão mais ampla e, portanto, mais segura ante a realidade que vivem.

Para tanto, os professores precisam conhecer o assunto e buscar com os alunos


mais informações, enquanto desenvolvem suas atividades: pesquisando em livros e
levantando dados, conversando com os colegas das outras disciplinas, ou convidando
pessoas da comunidade (professores especializados, técnicos de governo, lideranças,

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médicos, agrônomos, moradores tradicionais que conhecem a história do lugar etc.) para
fornecer informações, dar pequenas entrevistas ou participar das aulas na escola.

Ou melhor, deve-se recorrer às mais diversas fontes: dos livros, tradicionalmente


utilizados, até a história oral dos habitantes da região. Essa heterogeneidade de fontes é
importante até como medida de checagem da precisão das informações, mostrando ainda
a diversidade de interpretações dos fatos.

Temas da atualidade, em contínuo desenvolvimento, exigem uma permanente


atualização; e fazê-lo junto com os alunos é uma excelente oportunidade para que eles
vivenciem o desenvolvimento de procedimentos elementares de pesquisa e construam, na
prática, formas de sistematização da informação, medidas, considerações quantitativas,
apresentação e discussão de resultados etc. O papel dos professores como orientadores
desse processo são de fundamental importância.

Figura: 9

Essa vivência permite aos alunos perceber que a construção e a produção dos
conhecimentos são contínuas e que, para entender as questões ambientais, há
necessidade de atualização constante.

Como esse campo temático é relativamente novo no ambiente escolar, os


professores podem priorizar sua própria formação/informação à medida que as
necessidades se configurem. Pesquisar sozinho ou junto com os alunos, aprofundar seu

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conhecimento com relação à temática ambiental será necessário aos professores, por, pelo
menos, três motivos:

►Para tê-lo disponível ao abordar assuntos gerais ou específicos de cada disciplina,


vendo-os não só do modo analítico tradicional, parte por parte, mas nas inter-relações com
outras áreas, compondo um todo mais amplo; muitas vezes é possível encontrar
informações valiosas em documentos oficiais.

►Para ter maior facilidade em identificar e discutir os aspectos éticos (valores e


atitudes envolvidos) e apreciar os estéticos (percepção e reconhecimento do que agrada à
visão, à audição, ao paladar, ao tato; de harmonias, simetrias e outros) presentes nos
objetos ou paisagens observadas, nas formas de expressão cultural etc.

►Para obter novas informações sobre a dimensão local do ambiente, já que há


transformações constantes seja qual for à dimensão ou amplitude. Isso pode ser de extrema
valia, se, associado a informações de outras localidades, puder compor informações mais
globais sobre a região.

Figura: 10

O acesso a novas informações permite repensar a prática. É nesse fazer e refazer


que é possível enxergar a riqueza de informações, conhecimentos e situações de

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aprendizagem geradas por iniciativa dos próprios professores. Afinal, eles também estão
em processo de construção de saberes e de ações no ambiente, como qualquer cidadão.
Sistematizar e problematizar suas vivências, e práticas, à luz de novas informações
contribui para o reconhecimento da importância do trabalho de cada um, permitindo assim
a construção de um projeto consciente de educação ambiental.

Ou seja, as atividades de educação ambiental dos professores são aqui


consideradas no âmbito do aprimoramento de sua cidadania, e não como algo inédito de
que eles ainda não estejam participando. Afinal, a própria inserção do indivíduo na
sociedade implica algum tipo de participação, de direitos e deveres com relação ao
ambiente.

Reconhece-se aqui a necessidade de capacitação permanente do quadro de


professores, da melhoria das condições salariais e de trabalho, assim como a elaboração
e divulgação de materiais de apoio. Sem essas medidas, a qualidade desejada fica apenas
no campo das intenções.

Da mesma forma, a estrutura da escola, a ação dos outros integrantes do espaço


escolar deve contribuir na construção das condições necessárias à desejada formação mais
atuante e participativa do cidadão.

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5. A EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILERA

Figura: 11

Apesar de já existirem algumas regras sobre a utilização e extração de árvores, foi


na década de 30 que surgiram as primeiras normas específicas de bens ambientais, tal
como o Código Florestal (Decreto 23.793/34), Código de Águas (Decreto 24.643/34 – ainda
hoje com dispositivos em vigor), a disciplina sobre a Caça (Decreto 24.645/34), o
regulamento sobre patrimônio cultural (Decreto-lei 25/37).

Na década de 60, foi editado o novo Código Florestal, que ainda hoje se encontra
em vigor (Lei 4.771/65) e a Lei de Proteção à Fauna (Lei 5.197/1967). Na década seguinte,
alguns Estados instituíram seus sistemas de combate à poluição, como é o caso do Rio de
Janeiro que editou o Decreto-lei 134/75, instituindo o Sistema de Licenciamento de
Atividades Poluidoras.

Não havia, contudo, a proteção do meio ambiente de modo integral e como um


sistema, tal como ficaria evidente a necessidade e cuja conscientização aumentava a partir
da Conferência de Estocolmo. No entanto, foi com a edição da Lei Federal 6.938 /81 que o
Direito Ambiental brasileiro alcança o patamar que hoje se encontra.

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Esta Lei, conhecida como a Lei da Polícia Nacional de Meio Ambiente, traz o meio
ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” e inaugura
uma nova fase no direito ambiental: o do tratamento ao meio ambiente como um macro-
bem.

Além disso, a Lei tem como mérito o estabelecimento de um regime de


responsabilidade civil por danos ambientais em que não se verifica a culpa do causador do
dano – responsabilidade civil objetiva; uniformiza o licenciamento ambiental para todo o
território nacional; estabelece os conceitos de poluidor e de degradação ambiental; constitui
o SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente).

Em seguida, contribuindo para a efetividade do direito ambiental, foi editada a Lei


7.345/85, que disciplina a ação civil pública por danos causados ao meio ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
Esta Lei trata de um dos instrumentos judiciais mais utilizados para a proteção do meio
ambiente ecologicamente equilibrado, que pode ser utilizado pelo Ministério Público, União,
Estados, Municípios e associações civis.

Figura: 12

Em contribuição ao avanço do direito ambiental, foi promulgado, em 1988, um dos


textos constitucionais mais avançados do planeta: a Constituição da República Federativa
do Brasil. As disposições constitucionais sobre o meio ambiente estão dispersas em todo o

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texto, disposto em diversos títulos e capítulos. O dispositivo de mais destaque, no entanto,
é o artigo 225, que estabelece:

Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e
à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para os presentes e futuras gerações.

§ 1º – Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo


ecológico das espécies e ecossistemas;

II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar


as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus


componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente


causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade;

V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e


substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a


conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoque a extinção de espécies ou submetam os animais
a crueldade.

§ 2º – Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio


ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público
competente, na forma da lei.

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§ 3º – As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

§ 4º – A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal


Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, a sua utilização far-se-á, na
forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente,
inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

§ 5º – São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por


ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

§ 6º – As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida
em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

Figura: 13

Dentre as importantes leis sobre proteção do meio ambiente, mencione-se ainda:

► Lei 4.717/1965: ação popular;

► Lei 6.766/1979: parcelamento do solo urbano;

► Lei 7.661/1988: Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro;

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► Lei 8.723/1993: emissão de poluentes por veículos automotores;

► Lei 9.055/1995: utilização do asbesto/amianto;

► Lei 9.433/1997: Política Nacional de Recursos Hídricos;

► Lei 9.605/1998: crimes ambientais;

► Lei 9.795/1999: Política Nacional de Educação Ambiental;

►Lei 9.985/2000: institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação;

► Lei 10.257/2001: Estatuto da Cidade;

► Lei 10.650/2003: acesso público aos dados e informações do SISNAMA;

► Lei 11.105/2005: biossegurança;

► Lei 11.284/2006: institui o Sistema Florestal Brasileiro e cria o Fundo Nacional de


Desenvolvimento Florestal;

► Lei 11.428/2006: utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata


Atlântica;

►Lei 11.445/2007: saneamento básico.

6. O DESPERTAR GEOPOLÍTICO DA CONTRADIÇÃO


DESENVOLVIMENTO X MEIO AMBIENTE

Etimologicamente, “des + envolver” significa retirar o que oculta, o que envolve; uma
forma de conhecer algo que está envolvido, romper o que está oculto (Pizzi 2005). Segundo
Jovino Pizzi (2005), no período medieval, o desenvolvimento vinculava-se a algo cíclico,
com um começo, apogeu e declínio. Na perspectiva científica positivista, passou a designar
um progresso sistemático, com um constante ideal de superação. A racionalidade moderna
passou a definir desenvolvimento como crescer, aumentar, incrementar, ou seja, como
sinônimo de amadurecimento, de avanço, de prosperidade. Após a Segunda Guerra
Mundial, quando Harry Truman popularizou o termo subdesenvolvimento, a concepção de
desenvolvimento igualou-se à de progresso material, um estágio a ser atingido por todos
os países do mundo (Pizzi 2005).

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Apresentamos, então, uma questão central em nossas reflexões: Por que esse
sentido hegemônico de desenvolvimento recebeu questionamentos ambientais? Ainda que
saibamos que “o desenvolvimento não poderá nunca ser o objeto de uma definição
satisfatória para todos, isto é, para todos os países, todas as experiências, todas as
exigências” (Sinaceur 1981, 11), essa questão permite realizar uma reflexão, com
referencial teórico e metodológico crítico, sobre o potencial e a inexorável capacidade
sedutora do desenvolvimento na sociedade capitalista.

Para Carlos Walter Porto-Gonçalves (1992, 11), o conceito de desenvolvimento


“revela-se como um fim em si mesmo, o que significa sair/dominar a natureza, e também
os homens”, algo próximo ao que apontou Sinaceur (1981, 11), ao afirmar que o
“desenvolvimento é ao mesmo tempo a ação de desenvolver e o que daí resulta”.

Celso Furtado (2000) ensina que o desenvolvimento tem sido utilizado em dois
sentidos ambíguos na contemporaneidade: como a eficácia da acumulação e da técnica de
um sistema social e como o grau de satisfação das necessidades humanas. Segundo o
autor, ainda que a tendência inicial dos intelectuais fosse compreender o avanço das
técnicas como um meio de contornar a escassez – como se a invenção de máquinas fosse
sempre com o objetivo de superação das dificuldades e satisfação de necessidades
humanas –, a constante renovação técnica (e a conquista de novas tecnologias) acaba
condicionada aos interesses dominantes. Destarte, Furtado (2000, 14) afirma que “o
progresso técnico é um conjunto de transformações sociais que possibilitam a persistência
do processo de acumulação, e, por conseguinte a reprodução da sociedade capitalista”.
Para ele, por viabilizar a acumulação, o progresso técnico está a serviço da realização deste
projeto, e significa, ideologicamente, a “assimilação das novas formas de vida possibilitadas
por um nível mais alto de acumulação” (Furtado 2000, 27).

A tecnologia, que é uma força produtiva par excellence (Dias 1999, 24), traz
embutida “consequências inevitáveis de desqualificação e perda de controle imediato dos
trabalhadores sobre o processo de trabalho” (Carvalho 1987, 31). As máquinas
fortaleceram ainda mais os capitalistas (Antunes 1980, 10), já que o lugar da tecnologia
torna-se também o lugar da servidão, e o potencial libertador da técnica revela-se ao
avesso, com a instrumentalização do homem (Araújo 2.000, 135). Estamos de acordo com
Gilvan Hansen (1999, 151), quando este aponta que a tecnologia, ao mesmo tempo em
que “carrega elementos aniquiladores das relações de produção nos moldes do
desenvolvimento como nós a conhecemos”, traz consigo “potenciais emancipatórios

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capazes de favorecer o desenvolvimento da interação social e promover, paradoxalmente,
a humanização das relações de produção”. A técnica visa possibilitar a expansão
continuada dos gastos de consumo dos grupos de rendas altas e médias (Furtado 2000);
seja incorporando-se diretamente ao saber do homem, seja sob a forma de instrumentos,
as técnicas somente se transmitem mediante um processo de acumulação e funcionam
como instrumento de dominação de classe. Não se mostra muito plausível apostar no
progresso técnico como moderador do trade-off entre a economia e o meio ambiente
(Miranda et al. 1999, 68). Jacques Ellul (196 8) nos proporciona uma leitura da técnica além
da identificação técnica máquina e nos mostra, como Babini (1972), que a técnica é o ato
em si. Segundo Jacques Ellul (1968, 101), “a técnica é o melhor meio de fazer alguma
coisa”; isso porque, segundo o autor, a técnica é um meio, “um modo único que não é
entregue à nossa livre escolha, porque nada tiraremos da máquina ou da organização se
não nos servirmos dela como devemos”, ou seja, “é, por si mesma, um modo de agir,
exatamente um uso”. Com tal definição, Ellul – que, para Mc Fetridge et al. (1992) trata
com hostilidade a tecnologia – nos mostra que a técnica é uma construção social da
coletividade, que condiciona e é condicionante das ações humanas e, por que não, da
produção do espaço geográfico (Claval 1979, Santos 2002).

A técnica é a invenção ligada à ação, e, na civilização industrial-moderna-ocidental,


a criação técnica canaliza o gênio inventivo (Furtado, 2000). Não é por outro motivo que
Sinaceur (1981: 17) afirma que “o desenvolvimento é o Ocidente reproduzindo a si próprio”.

Assim, a técnica ideologicamente faz a sociedade moderna crer em um triunfalismo


civilizatório do modo de vida ocidental. Afinal, a contemporaneidade encontra mensagens
otimistas na superação dos limites e das misérias do tempo atual, com a resolução dos
problemas contemporâneos através da emersão de um “tempo novo”, uma “nova vida”, um
“novo homem”, uma “nova sociedade”, uma “nova era” (Rodrigues 2003, 35). E a técnica,
através de seu constante progresso, será a responsável pela reconstrução constante do
desenvolvimento. Por sinal, o desenvolvimento das máquinas e instrumentos que
possibilitam o trabalho industrial nos mostra até que ponto a totalidade do conhecimento
social e da ciência se transformou numa força produtiva imediata (Doria 1974). A noção de
desenvolvimento é um paradoxo de nosso tempo: a vontade do progresso convivendo com
a desconfiança face ao mesmo (Sinaceur 1981).

Henri Lefebvre (2009, 8) afirma que, no modo de produção capitalista, o progresso


econômico é “um desenvolvimento das forças produtivas, mas a preço de ruínas, falências

24
e a miséria resultante para os operários, ou seja, por meio de contradições múltiplas”. Sob
a égide do sistema capitalista, o desenvolvimento significa o aumento na formação de
capital e introdução de inovações tecnológicas (Biato et al. 1973), mas ideologicamente
se constitui como um sinônimo de modernização e progresso (Scotto, Carvalho e
Guimarães 2007), mitos para a ilusão necessária de que somente com o sistema
capitalista obtêm-se um crescimento econômico e tecnológico para toda a sociedade.
Fazemos coro com Eric Hobsbawm (1985, 17), quando este afirma que o progresso “é
observável na crescente emancipação do homem relativamente à natureza e no seu
domínio cada vez maior sobre a mesma”.

O geógrafo Massimo Quaini (1979) acrescenta que tal desenvolvimento das forças
produtivas se espraia de maneira progressiva, integrando vários lugares e regiões, e
criando um sistema de interdependências funcionais, econômicas e geográficas. Aliás,
desde os seus primórdios, o capitalismo mostrou com clareza a sua face territorial,
marcadamente com o processo de privatização das terras através do “cercamento dos
campos” (enclosures), determinante no fim do mundo feudal (Cf. Dobb 1973, Huberman
1969, Hunt e Sherman 1978), que transformou em capital os meios de subsistência (Codo
1985) e dissociou o trabalhador dos meios de produção (Marx 1980) e da própria natureza
(Foster e Clark 2006).

De acordo com os argumentos relacionados, podemos sintetizar que o


desenvolvimento, sob a égide do sistema capitalista, significa:

a) domínio sobre a natureza, e, por conseguinte, sobre o território, através da


subserviência das riquezas naturais aos ritmos da produção econômica;

b) progresso econômico, entendido aqui como acumulação de capital a ser obtido,


especificamente, através da opressão de classe e exploração da força de trabalho,
ocultados ideologicamente;

c) modernização técnica, que compreende a evolução massiva da maquinização do


processo produtivo, que geograficamente implica em um processo de tecnificação e
espacial;

d) hegemonia econômica na perspectiva do sistema-mundo, na medida em que o


desenvolvimento é um modelo a ser atingido pelos países que compõem a periferia
econômica mundial; e por fim;

25
e) uma ideologia extremamente potente, capaz de indicar um futuro próspero a ser
construído através da reprodução do modelo então vigente. É com esse alicerce conceitual
que a justaposição desenvolvimento + sustentável será paulatinamente construída no
âmago da geopolítica e da economia.

6.1-Os questionamentos ambientais do conceito de desenvolvimento

Ao mesmo tempo em que podemos afirmar que o desenvolvimento das forças


produtivas não foi imposto por nenhuma necessidade histórica (Furtado 2000), e que, dessa
forma, priorizou o aumento na acumulação de capital, torna-se possível perceber que o
conceito de desenvolvimento se fundou “no processo de invenção cultural no qual o homem
é o agente transformador do mundo, e por isso traduz potencialidades humanas em um
sentido positivo” (Furtado 2000, 7). Segundo Celso Furtado (2000), no momento
subsequente a Segunda Grande Guerra, iniciou-se uma profunda reflexão sobre o modelo
de desenvolvimento, envolvendo a tomada de consciência do atraso econômico em que
vive a grande maioria da humanidade. Com essa proposta, houve a participação ativa da
ONU (Organização das Nações Unidas), suas comissões regionais e agências
especializadas, no processo de reflexão sobre o desenvolvimento, com o consequente
desmantelamento das estruturas coloniais e emergências de novas formas de hegemonia
internacional fundadas no controle da tecnologia e da informação e na manipulação
ideológica (Furtado 2000).

Ainda que o período pós-guerra seja identificado com uma “Era de Ouro” (Hobsbawm
2000), para os países centrais (especialmente para os Estados Unidos), pelo grande
desenvolvimento econômico e pela produção concentrada de riqueza, não há dúvidas sobre
a emersão de um verdadeiro “vazio” teórico, analítico e doutrinal que transpôs diferentes
classes, Estados e regiões da economia-mundo (Perroux 1981). Ocorreu a complexificação
dos problemas da agenda global com a degradação socioambiental e os riscos sistêmicos
de crise financeira de processos especulativos e de fraudes (Bocayuva 2007). Em 1950,
por exemplo, o consumo mundial de energia era dez vezes maior que o de um século antes
(Lopes 1987), o que claramente instituía novas exigências energéticas e produtivas. Os
problemas da agenda do desenvolvimento se tornaram questões efetivamente globais – e
o próprio desenvolvimento-modernização acabou sendo colocado em xeque (Almeida

26
2002) –, exigindo um enorme esforço de reconstrução de estruturas, organizações e
movimentos de porte mundial.

Assim, a década de 60 é a responsável pela emersão do movimento ecológico/


ambientalista, organizado de forma autônoma e independente, sem uma referência
classista imediata (Dias 2003-Ortiz 1996). Esse movimento imprime um caráter
questionador do modo de vida, sobretudo em relação à “destruição do meio ambiente”, e
acaba englobando questões diversas, como o desmatamento, o uso de agrotóxicos, a
extinção das espécies, e até mesmo, a crítica ao american way-of-life. Quando desponta
na década de 1960, o movimento ambientalista possui um caráter então radical, pois
identifica “como seus inimigos a voracidade do lucro, o gigantismo industrialista, a
centralização do poder de estado, a apropriação privada e descontrolada dos recursos
naturais e o complexo industrial-militar” (Minc 1985,09). Afinal, a influência americana
difunde-se pelo mundo, de forma que o sonho americano se transformara em sonho
mundial, baseado nos altos índices de consumo (Taylor 1997). Não era possível manter o
nível de consumo e a promessa do padrão de desenvolvimento dos subúrbios norte-
americanos para todos os países do globo.

É importante alentar que, evidentemente, os problemas de ordem ambiental não


nascem no Pós-Guerra, mas que, desde a Idade Média, há registros de destruição
ambiental. Jean Gimpel (1977) nos aponta os graves desmatamentos europeus do período,
com alguns dados factuais: em 1330, as florestas da França cobriam 13 milhões de
hectares, ou seja, apenas 1 milhão de hectares a menos que em nossa época; na
Inglaterra, em 1170, a construção do castelo de Windsor exigiu o corte de uma floresta
inteira, sacrificando 3.0 04 robles (espécie floresta l comum na vertente atlântica da
Europa), e mais 940 robles dos bosques de Combe Park e Pamber. O autor ainda
atesta que, durante o século XIII, no Norte da França, a madeira já era tão rara e cara que
se alugavam caixões para os óbitos dos mais pobres, para que após velório fossem
enterrados diretamente em suas covas.

É já na sociedade medieval que progressivamente se substitui o trabalho manual


pelo trabalho das máquinas, dando origem a uma verdadeira revolução industrial (Babini
1972, Gimpel 1977), em um processo tão lento que não evitará as dificuldades de
adaptação social da economia agrária para a economia industrial durante a Revolução
Industrial Inglesa do Século XVIII (Henderson 1979).

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Jean Gimpel (1977) atesta também em sua obra que, já no século XIII, ocorrem
protestos contra a destruição de florestas na Europa: houve interdição de serrarias
hidráulicas em Colmars, França, enquanto na comuna de Montagu Lotto, Itália, exigiu-se
que cada proprietário de terras plantasse 10 árvores por ano. Por fim, a Inglaterra
importava, já nesse período, madeira da Escandinávia. Protestos semelhantes ocorriam
no medievo em relação à queima do carvão (hulha). Segundo o mesmo autor, nos últimos
anos do século XIII, Londres obteve o triste privilégio de ser a primeira cidade do mundo a
sofrer reconhecidamente a poluição atmosférica, gerando proclamações reais de proibição
do uso do carvão nos fornos de cal sob pena de multa. A poluição da água também era
naquele período um grave problema, com o rio Sena afetado por matadouros e curtumes.
Esse “novo” movimento ecológico/ambiental que emerge na década de 1960 traz consigo
uma crítica à sociedade tecnológico-industrial (particularmente, contra empreendimentos
extremamente controversos ambientalmente, como as centrais nucleares), tanto capitalista
quanto socialista, e é em parte fruto das agitações estudantis de 1968, nos Estados Unidos
e na Europa (Diegues 1996).

Contudo, o movimento ambientalista desse período – Montibeller-Filho (2008) fala


em “revolução ambiental norte -americana” – faz repercutir um antigo debate que, em
termos teóricos, havia nos Estados Unidos já no século XIX. Naquele momento, duas
visões de proteção do mundo natural se enfrentavam, sintetizadas pelo arquétipo do
embate entre as ideias do engenheiro florestal Gifford Pinchot (fundador do Serviço
Florestal dos EUA, em 1905), que articulou as bases teóricas do conservacionismo; e do
naturalista John Muir (escocês, radicado nos Estados Unidos), que propugnou, sob
influência de Thoreau, Marsh, Darwin e Haeckel (este último, criador da noção de ecologia),
as bases do preservacionismo (Diegues 1996).

Os preservacionistas são aqueles que lutam pela criação dos Parques Nacionais,
onde é possível “reverenciar a Natureza num sentido de apreciação estética e espiritual da
vida selvagem” (Diegues, 1996, 30), protegida da industrialização, da urbanização e de
qualquer intervenção do homem. O preservacionismo aposta na intocabilidade dos
sistemas naturais, o “culto ao silvestre” (Martínez-Alier 2007), com a implantação de
reservas ecológicas e defendendo a não retirada das populações que nelas vivem, desde
ribeirinhos até indígenas (Ribeiro 2005). Já os conservacionistas atentam para a
necessidade de uso adequado e criterioso dos recursos naturais, de forma racional, para

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se evitar o desperdício, e para que a utilização desses recursos seja em benefício da
maioria dos cidadãos (Diegues, 1996).

Trata-se de uma proposta de uso adequado da natureza enquanto recurso (Ribeiro


2005), baseado em uma apropriação metódica deles (Diegues, 1996), algo próximo ao que
Joan Martinez-Alier (2007) denominou de “evangelho da ecoeficiência”. Diferentemente do
preservacionismo, que pressupõe a proteção integral de “áreas naturais” para apreciação
estético-contemplativa, o conservacionismo impõe um valor de troca com as riquezas
naturais, regulando sua utilização por meio de leis mercadológicas de oferta e demanda, e
investindo na natureza como reserva monetária de médio e longo retorno. O uso racional
corresponde então à adequação das reservas de combustível natural às necessidades do
capital, na busca pelo equilíbrio que evite o desperdício dessa valiosa mercadoria.
Concordamos com Dinizar F. Becker (2002, 59), quando este afirma que “racionalizar”
passou a significar, no modo de produção capitalista, menos tempo, estoques, trabalho,
energia, custos, entre outros. Para esse autor, racionalizar é acima de tudo e levar a
produtividade, potencializar a valorização dessas escalada produtiva e viabilizar a
financeirização da riqueza. Antônio Carlos Diegues (1996, 29) acrescenta que as ideias
conservacionistas foram precursoras da hoje instituída concepção de desenvolvimento
sustentável, pois Gifford Pinchot, nos Estados Unidos do século XIX, “agia dentro de um
contexto de transformação da natureza em mercadoria”.

Dessa forma, não se questionava a apropriação capitalista da natureza, mas sim, o


ritmo veloz dessa apropriação. Theodore Roosevelt, presidente norte-americano no período
de 1901 a 1909, e bastante influenciado pelas ideias liberais de Gifford Pinchot, afirmava
que as riquezas de uma nação estão nos recursos naturais disponíveis em seu território e
no controle dos mesmos em outros países (EIR 2001). Montibeller-Filho (2008), por meio
do estudo da obra de Leis e D'Amato (1995), divide historicamente o movimento
ambientalista da segunda metade do século XX em cinco decênios, assim considerados:

a) na década de 1950, emerge o ambientalismo dos cientistas, com a inclusão da


temática ambiental em breves relatórios e documentos da UNESCO;

b) na década de 1.960, surge o ambientalismo das ONGs (e dos movimentos


sociais), com uma nova estrutura, dotada de ideias prolixas e, em geral, bastante atuantes;

29
c) na década de 1970, ocorre a institucionalização do ambientalismo, com a
Conferência de Estocolmo, em 1972, e a gerência definitiva, por parte da ONU, das
questões intrínsecas à problemática ambiental;

d) nos anos de 1980, têm-se a era do fortalecimento dos Partidos Verdes e a


constituição da Comissão Brundtland, que definirá a concepção de Desenvolvimento
Sustentável como agenda do novo século;

e) por fim, na década de 1990, as empresas passam a adotar o desenvolvimento


sustentável em suas estruturas produtivas e mercadológicas, numa espécie de
empreendedorismo verde. Apesar de controverso, é possível perceber nesse esforço de
periodização a consolidação da temática ambiental e seus braços mais sólidos,
particularmente através da análise das ONGs e dos Partidos Verdes. A obra Máfia Verde
(Eir 2001) aponta a origem elitizada das ONGs (Organizações Não Governamentais,
expressão cunhada pela Fundação da Comunidade Britânica–Commonwealth Foudation)
nos anos de 1960, cujo aparato provém de uma imensa estrutura constituída de mais
de 1.000 fundações familiares oligárquicas da América do Norte e da Europa, além
de doações de empresas privadas dos países desenvolvidos.

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